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O MUSEU COMUNITÁRIO ENQUANTO ELEMENTO ARTICULADOR ENTRE

O PASSADO E O PRESENTE: CONTRIBUIÇÕES E PERSPECTIVAS PARA


O ENSINO DE HISTÓRIA

Helena Flor de Lima¹

German Adolfo Ocampo Sterling²

RESUMO

A temática deste estudo gira em torno do museu comunitário e suas


possibilidades metodológicas na guarda e análise de fontes orais e da cultura
material para o ensino de história. Compreender o museu enquanto um espaço
articulador entre o passado e o presente amplia as condições existentes para o
ensino e aprendizagem de história. O ensino da história não se restringe a uma
reprodução dos fatos em ordem cronológica e linear, com ênfase apenas em
mitos fundadores ou em fatos históricos, desconsiderando-se as diversas
relações e contradições pelas quais o homem vivencia em sociedade. Não há
como ensinar história sem que o aluno se veja inserido nela e perceba as
influências da mesma na formação de sua identidade sociocultural. O ensino
implica em levar o aluno a perceber-se enquanto ser histórico e social que,
embora não determinado, sofre influências de seu meio e nele pode intervir.
Dentro do ensino de História o trabalho com a museologia se constitui como
fundamental por contribuir com o diálogo entre o passado e o presente. O museu
é um espaço que comporta fontes inesgotáveis de discussões e que possibilitam
a compreensão de fatos históricos e culturais. Assim esse trabalho se justifica
pela possibilidade educativa que o museu oferece. Fica ainda evidente, o
interesse e a participação dos alunos, para que o processo de efetivação do
projeto Museu Comunitário saísse do papel e se tornasse realidade.

Palavras-chave: museu; memória; história oral; patrimônio.

¹Docente no Colégio Estadual Santa Tereza do Oeste, professora PDE 2016/2017.


²Professor Mestre Orientador adjunto na UNIOESTE, Campus Marechal Cândido Rondon.
O ensino da história não se restringe a uma reprodução dos fatos em
ordem cronológica e linear, com ênfase apenas em fatos históricos, mas
temos que considerar as diversas relações e contradições pelas quais o
homem vivencia em sociedade. Não há como ensinar história sem que o aluno
se veja inserido e participando nela e ao mesmo tempo perceba as influências
da mesma na formação de sua identidade sociocultural.
Deste modo, considera-se que “o sujeito histórico está em constante
construção e que os homens são os agentes fundamentais do movimento
histórico e o realizam por meio do trabalho” (SEED, 2008, p. 259). A História
estuda as práticas humanas no tempo e no espaço situado, mesmo que em
suas ações o homem nem sempre esteja consciente de seus atos.
Por muito tempo o Ensino da História foi reduzido a uma reprodução
sucessiva de fatos e acontecimentos, com privilégios a História Oficial. Nesta
vertente educativa, o conhecimento histórico era tido como a memorização de
“uma sucessão de fatos na ordem de causa e consequência” (PARANÁ, 2008,
p. 47).
Considera-se que, na atualidade, “o conhecimento histórico possui formas
diferentes de explicar seu objeto de investigação, a partir das experiências dos
sujeitos e do contexto em que vivem” (PARANÁ, 2008, p. 47-48). Em outras
palavras, cabe ao Ensino de História a formação do pensamento crítico dos
alunos por meio da consciência histórica, ou seja, da sua compreensão nas
múltiplas temporalidades e perspectivas históricas construídas pela
humanidade, com primazia dos diferentes sujeitos, incluído aí os sujeitos
comuns, no tempo e no espaço.
Assim, o ensino de história na atualidade implica em levar o aluno a
perceber-se enquanto ser histórico e social que, sofre influências de seu meio
e nele pode intervir, dialeticamente. A história não é feita somente de
acontecimentos que se destacam na vida dos homens e seu ensino, portanto,
não deve reduzir-se a memorização de tais conteúdos.
Ao verificar a necessidade de preservação cultural histórica no município
de Santa Tereza do Oeste no espaço de memória, percebeu-se a importância
de desenvolver um trabalho sobre o tema. Assim, este trabalho se justificou
pela possibilidade educativa que os museus, como centros e salvaguarda das
memórias, oferecem ao Ensino da História, em especial a História Local.
Trata-se assim de compreender o museu enquanto um espaço articulador
entre o passado e o presente. Para tanto foi elencado alguns conceitos os quais
dialogam teoricamente com a dimensão educativa que o museu oferece a
disciplina de História, promoveu-se também a aprendizagem dos alunos dentro
deste espaço somando as práticas realizadas em sala de aula e as
possibilidades interdisciplinares que foram desenvolvidas.
Pela importância que os museus possuem na produção dos
conhecimentos históricos e culturais, sua constituição, organização e
funcionamento devem ser pesquisados e refletidos no ensino da história.
Dentro do ensino de História o trabalho com a museologia se constitui
como fundamental por contribuir com o diálogo entre o passado e o presente.
O museu é um espaço que comporta fontes inesgotáveis de discussões que
possibilitam a compreensão de fatos históricos e culturais.

Os museus, como prática histórica, estão presentes desde


longa data nas sociedades. Embora os museus
contemporâneos sejam diferentes dos museus antigos, nos
atuais ainda estão presentes aspectos fundamentais pelos
quais a prática museológica se constitui numa prática política
e cultural (STERLING, 2011, p. 15).

O museu comunitário constitui-se então em uma instituição de


preservação da memória local. Ele é um espaço aberto às pessoas,
independentemente de sua condição socioeconômica e cultural. Priosti e Varines
(2007, p. 65), destacam que o que se espera de um museu comunitário, é
proteger e divulgar a memória de suas gentes, cuidar e comunicar o seu
patrimônio. O museu comunitário é um abrigo de relações, de encontros, de
partilha entre a vizinhança local, de preservação de memória e de história.
É fundamental que o aluno que visita um museu ou que participa da sua
organização compreenda este espaço como propício à preservação da memória
social, da história e da cultura da sua comunidade. “A ação museológica,
portanto, deve conduzir a uma produção de conhecimento e à construção de
uma nova prática social. [...] entendendo as ações da museologia (preservação,
pesquisa e comunicação) como ações comprometidas com o mundo” (SANTOS,
1998 apud RAMOS, 2004, p. 38). É preciso pensar nas diversas possibilidades
de mostrar ou construir a história nos objetos do museu, refletindo sobre as
práticas culturais, cotidianas, administrativas da comunidade local.
Para Ramos (2004), o espaço museológico é um lugar de processos
educacionais, de atividades educativas, que não pode ser negada. Deve ser um
espaço teoricamente fundamentado, de questionamentos, um convite para
reflexões. É necessário pensar em como, porque, por quais meios deve ocorrer
a inserção do museu, tendo em vista que é impossível descolar o museu da sala
de aula.
Deste modo, cada peça ou artefato existente em um museu preserva a
memória e a história de um povo, bem como evidencia a relação entre o homem
e o objeto, usado por meio do trabalho para a transformação da natureza e a
produção de bens e das suas práticas cotidianas para a satisfação das
necessidades materiais.
Ressalta-se a importância do museu enquanto espaço educativo que
colabora com a sensibilização de seus visitantes. Para tanto, faz-se necessário
a articulação do museu com outros espaços de convívio humano, como é o caso
da escola. A educação fomenta reflexões sobre o espaço museológico que não
podem ser desprezadas no ensino da história.

Um dos aspectos que norteiam as discussões sobre as relações


entre museu/escola é evidenciado pelo debate das
especificidades que regem a educação formal e a educação não
formal. Ou seja, entre as instituições de ensino e os museus
existem múltiplas formas de cooperação e de interação
baseados em casos e modelos diversos de ação educativa
propostas pelas duas instituições e, na medida em que o impacto
das ações educativas dos museus não é único e nem
homogêneo, é importante entender quais as possibilidades e
especificidades possíveis dessa ação educativa e qual a
inserção destas em outros meios que não o museológico
(COELHO, 2009, p. 5).

É fundamental a compreensão de que museu é lugar de memórias e a


compreensão destas passa pela educação museológica. Memória e história tem
uma relação intrínseca na constituição da humanidade. Por ser um elemento
individual e coletivo, “[...] a memória é um elemento constituinte do sentimento
de identidade, tanto individual como coletivo [...]” (POLLAK, 1992). Ela fomenta
sentimentos de pertencimento, de identificação, de relação entre o passado e o
presente, entre a história individual e coletiva, colaborando para a perpetuação
e para a manutenção de valores, tradições e sentimentos.

Essa perspectiva que explora as relações entre memória e


história, ao romper com uma visão determinista que limita a
liberdade dos homens, coloca em evidência a construção dos
//atores de sua própria identidade e reequaciona as relações
entre passado e presente ao reconhecer, de forma inequívoca,
que o passado é construído segundo as necessidades do
presente, chamando a atenção para os usos políticos do
passado (ALBERTI, 1990, p. 16).

Assim, história e memória se complementam, se articulam, se


relacionam dialeticamente na constituição do ser humano, do ser histórico-social.

A memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta,


procura salvar o passado para servir o presente e o futuro.
Devemos trabalhar de forma que a memória coletiva sirva para
libertação e não para a servidão dos homens (LE GOFF, 1994,
p.477).

A memória é construída por valores e por interesses coletivos. Assim, no


estudo da história e da memória as fontes históricas desempenham um papel
fundamental, são elas os testemunhos materiais e imateriais da trajetória
histórica da humanidade. Dentre estas fontes históricas tem-se a história oral.

A história oral pode dar grande contribuição para o resgate da


memória nacional, mostrando-se um método bastante promissor
para a realização de pesquisa em diferentes áreas. É preciso
preservar a memória física e espacial, como também descobrir
e valorizar a memória do homem. A memória de um pode ser a
memória de muitos, possibilitando a evidência dos fatos
coletivos (THOMPSON, 2002, p.17).

A história oral se constitui em uma metodologia de pesquisa baseada em


relatos, entrevistas, diálogos com pessoas que testemunharam acontecimentos,
conjunturas, modos de vida ou aspectos da história contemporânea. “[...] a
História Oral é uma metodologia de pesquisa e de constituição de fontes para o
estudo da história contemporânea surgida em meados do século XX, após a
invenção do gravador à fita” (ALBERTI, 2005, p. 155).
Além das fontes históricas que se preservam em um museu é importante
acentuar o seu papel como local de preservação do “patrimônio” da comunidade.
“O patrimônio, sob suas diferentes formas, é o húmus para o desenvolvimento
local que só se faz com participação efetiva, ativa e consciente da comunidade
que detém esse patrimônio” (VARINE, 2012).
O patrimônio se constitui como um elemento que contribui para a
preservação e a manutenção da história e da memória. Ele tem uma
intencionalidade e contribui para a promoção do bem estar social, a participação
e a cidadania.
Deste modo, é possível afirmar que o patrimônio cultural é algo coletivo,
em torno do qual um grupo de pessoas se identificam, estabelecem relação, visto
que ele faz parte de sua vida, adquirindo sentido e significância.

Se o patrimônio cultural tem um sentido, se existe uma razão


inegável para preservá-lo e enriquecê-lo, devemos nos armar
para enfrentar a última batalha da nossa total descolonização.
Trata-se enfim de colocar nosso patrimônio cultural a serviço do
presente, e a educação patrimonial é uma proposta
metodológica na recuperação de conexões e tramas perdidos
(HORTA, 2000 p. 35).

Por isso, a escola pode trabalhar a educação patrimonial dando voz ao


passado, a memória. Torna-se fundamental que o aluno reconheça e
compreenda os símbolos, locais, artefatos de preservação da memória. É
extremamente importante romper com a visão elitista do ensino da história, a
qual considera apenas bens e valores das classes dominantes.
Portanto, a educação patrimonial possibilita romper com a história feita
de mitos e valores culturais das classes dominantes e dar voz e vez as classes
dominadas. Ela se constitui efetivamente como “fator de desenvolvimento
intelectual e psicológico, afetivo e cognitivo, ativando os processos mentais
superiores e enriquecendo a memória individual e seus mecanismos de registro
e recuperação” (HORTA, 2000, p. 30).
Assim sendo de fundamental importância para que o aluno possa
aprender e também transmitir os conhecimentos adquiridos para sua família,
demais alunos e comunidade. O projeto visou estimular por meio do diálogo o
interesse e o envolvimento da comunidade escolar sobre a importância da
valorização da memória local; catalogar e caracterizar de maneira geral as peças
colecionadas no museu, descrevendo-as; elaborando breves descritivos das
peças mais relevantes; produzindo fontes orais para a compreensão da história
do município de Santa Tereza do Oeste – PR; incentivando a valorização do
patrimônio histórico cultural do município; propiciando a Educação Patrimonial
na comunidade de Santa Tereza do Oeste.
Ao iniciar o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, se fez
necessário escolher uma linha de estudo e apresentar uma intenção de
pesquisa. Diante disso, buscou-se estudar a Biblioteca Cidadã Professora Dilce
da Silva a qual dedicou sem fins lucrativos com a preservação da memória local,
realizando diversos trabalhos (filmagens), de acontecimentos relacionados com
a história de nossa comunidade e também a importância do resgate e
valorização do espaço de memória presente nesse local com objetos, fotos e
documentos colecionados e doados por um pioneiro.
No início do ano letivo de 2016, foi apresentado a intenção de pesquisa à
direção, equipe pedagógica e professores do Colégio Estadual Santa Tereza do
Oeste, no decorrer desse mesmo ano se delimitou algumas ações e selecionou-
se alguns autores sendo feito um breve estudo sobre os mesmos, os quais foram
fundamentais para a elaboração do Projeto de Intervenção Pedagógica.
Neste mesmo ano também foi elaborado a Produção Didático-Pedagógica
na escola a partir da qual foram pensadas as ações, atividades, escolhas de
materiais, bibliografias, que levassem o aluno a entender a vida no município em
diferentes temporalidades. A turma selecionada foi a do 1º ano do ensino médio
do Colégio Estadual Santa Tereza do Oeste da cidade de Santa Tereza do Oeste
- Paraná, a escolha da turma se deu considerando o Planejamento e o PTD
(plano de trabalho docente) da turma, onde observou-se que o conteúdo a ser
aplicado, a maior parte se destina a este nível.
Dando sequência, no ano letivo de 2017, o projeto foi apresentado para a
equipe de direção, coordenação e professores da escola na semana pedagógica
do inicio do ano letivo. Após, o mesmo foi exposto aos alunos, explicando os
objetivos do projeto e a metodologia a ser utilizada durante a execução, foram
convidados os alunos a participarem e desenvolverem ações educativas que
viessem a colaborar com a valorização e preservação da memória local.
Na Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica foram
trabalhadas umas oficinas com uma carga horaria de 32 horas em paralelo as
aulas de História e aos trabalhos em grupos realizados no contra turno.
objetivando o desenvolvimento de atividades que promovessem o diálogo entre
os educandos, para que os mesmos tivessem conhecimento científico e
condições de intervir e atuar no espaço de memória, promovendo mudanças
significativas neste espaço, o qual passou a ser organizado e frequentado pelos
alunos e comunidade.
Neste sentido para efetivar os objetivos previstos no projeto de
intervenção pedagógica na escola, foi estudado alguns autores os quais
fundamentaram alguns conceitos chaves para compreensão da temática
estudada.
Na primeira oficina, objetivando um contato maior sobre a intenção do
projeto Museu, foi direcionado aos alunos para a apreciação o documentário
Museu da Maré, que apresenta o tempo de resistências dos moradores da favela
da Maré para enfrentar as difíceis batalhas, sejam elas pelas ações da natureza
ou pelos entraves da vida. Em cada tempo e lugar, vivenciamos as fragilidades
humanas, nesses espaços de lutas, a busca pela sobrevivência é que mantém
cada um dos membros da comunidade em pé, reorganizando e transformando-
se, construindo e reconstruindo-se, prevalecendo a dignidade e a cidadania de
cada integrante que ali vive. Ao compreender essa contextualização inicial, foi
apresentado aos alunos mais um recorte da narrativa:
“O tempo da resistência, as lutas travadas diariamente pela
população da Maré como formas de resistências: a repressão da
polícia, aos preconceitos, resistir aos desânimos, aos
sofrimentos, as privações e as duras condições de vida
enfrentadas pelos moradores da favela”.
(https://www.youtube.com/watch?v=TVHrrtM9UD0)

O filme foi apresentado aos alunos com o objetivo de demonstrar a


organização do museu e como aquela comunidade luta pela preservação da
memória da favela da Maré, além de demonstrar as ações voltadas para o
registro e divulgação da história.
Para realizar a exposição, o Museu da Maré utiliza como metodologia o
tempo cíclico e temático no qual o passado, o presente e o futuro se encontram.
Os próprios moradores são os responsáveis por definir o que é importante ser
exposto.
São diversas as atividades desenvolvidas no Museu da Maré, entre elas
a narração de histórias, roda de memória, capoeira, teatro, e exposições, que
são organizadas através de um calendário com 12 tempos, o qual busca registrar
os acontecimentos e vivências da comunidade da Maré. Após a exibição do
mesmo, foi promovido um debate buscando envolver os alunos, onde estes
apontaram que quem desenvolveu o museu, foi um grupo de jovens
pertencentes a Maré, que o construíram m o intuito de envolver e preservar a
memória daquela comunidade, e que para torna-se realidade a comunidade
precisou se unir e apresentar resistência demostrando a importância da
construção desse espaço, que com a ajuda das pessoas que viviam ali foi
possível desenvolver diversas atividades, resgatar a memória através de objetos
doados pelas famílias.
Diante do exposto, foi levantado também um questionamento para os
alunos: O que esse documentário “Museu da Maré” pode contribuir para o nosso
projeto “Museu Comunitário”? Foi a partir deste questionamento que os alunos
apontaram diversas possibilidades do que é possível realizar em nossa cidade
de Santa Tereza do Oeste, basta ter uma ideia, um projeto fundamentado,
pessoas com vontade de realizar, o empenho e a colaboração da comunidade
para dar o inicio e o projeto sair do papel e tornar-se realidade. Os alunos
produziram um texto síntese com alguns apontamentos após o documentário,
relatando o que consideraram de mais interessante “O museu da Maré é um
grande baú de memórias para aquela comunidade,” também escreveram que “é
um local de preservação da memória comunitária onde os moradores ajudam a
preservar, colaborando, fornecendo informações e objetos para ampliar o
acervo”.
Na segunda oficina, foi apresentado aos alunos palavras chaves com
imagens utilizando recursos áudio visuais, para construção conceitual de
memória, história, patrimônio, fontes orais e museu. Nessa sequência, os alunos
em grupo produziram cartazes abordando cada conceito trabalhado,
demonstrando a aprendizagem e o conhecimento adquirido, pelos vários
recursos utilizados durante o processo de ensino. A produção dos alunos foi
exposta no saguão da escola, para a apreciação dos demais estudantes.
Na terceira oficina estava previsto uma entrevista com o pioneiro do
município que fez doação dos bens materiais presentes no espaço de memória
do município, porém, não foi possível realizar a entrevista, pois este veio a
falecer. Então, organizou-se uma roda de memória com outros pioneiros, que
trouxeram sua contribuição e conhecimento para a realização deste estudo.
Momento este em que os alunos tiveram a oportunidade de organizar o encontro
com os pioneiros e elaborar questões as quais tinham curiosidade. Assim
observou-se o interesse e a curiosidade, ora demonstravam surpresas, pois
muitos não tinham conhecimento da forma como era a vida dos primeiros
moradores, as dificuldades que encontravam de acesso a saúde, tinham que se
deslocar para outros lugares em busca de atendimento, o transporte era a cavalo
e carroça, era comum as famílias se reunirem para conversar sobre várias
coisas, enquanto isso as crianças se divertiam com brincadeiras diversificadas,
atualmente nada disso se observa, a internet, o celular, os jogos virtuais e a
televisão, roubaram o seu lugar.
Na quarta oficina, buscou-se conhecer a história da professora Dilce da
Silva, nome dado à biblioteca cidadã do município. Através de entrevista
realizada com seus familiares foi relatado que ela tinha um sonho, de fazer um
histórico de Santa Tereza do Oeste através de suas filmagens, fotografias e por
escrito; e era por esse motivo que todo e qualquer evento que ocorria na cidade
ela estava presente, registrando tudo, através de imagens de tais
acontecimentos. Dos trabalhos que ela realizou, o mais marcante para a família,
foi na comemoração dos 500 anos do descobrimento do Brasil, que trouxe
indígenas para demonstrar a importância da história e cultura indígena na
formação do povo brasileiro, como também aos alunos era necessário esse
contato direto. Também foi apresentado um teatro, de muita relevância para a
família e comunidade presente no evento.
Na quinta oficina, foi realizado uma visita ao espaço de
memória localizado na Biblioteca Cidadã Dilce da Silva do Município de Santa
Tereza do Oeste, onde os alunos observaram os tipos de documentos e objetos
expostos no local, e avaliaram a organização do museu. Em diálogo com os
alunos os funcionários da biblioteca relataram que a sala onde está guardado as
peças ainda é pequena, sendo necessário buscar um local maior para poder
organizar por categoria, catalogar e dar continuidade ao projeto. Partindo dessas
considerações os alunos organizaram um grupo e marcaram uma conversa com
o prefeito Municipal de Santa Tereza do Oeste, o senhor Elio Marciniak, o qual
atendeu aos alunos que explicaram a intenção do projeto e as dificuldades
percebidas para dar continuidade, o mesmo foi favorável ao projeto e ainda
cedeu um espaço maior para a organização do Museu Comunitário de Santa
Tereza do Oeste.
Na oficina seis foi organizado um passeio para a visitação de um Museu.
Conhecer a organização de um Museu em outro município, fez parte do roteiro
das práticas do projeto do PDE, pois a maioria dos alunos ainda não tiveram a
oportunidade nem de ir a outros municípios muito menos de entrar num museu.
Após a visitação ao Museu, observação e apreciação dos objetos, obras e
memórias expostas, realizou-se um debate com os alunos, fazendo um
contraponto com a organização do museu que fizeram a visita e do nosso espaço
de memória, bem como a conversa que tiveram com o prefeito.
Para aprofundamento de conhecimento e aprendizagem, foi realizado
pesquisas via internet de como se organiza um museu, para ter embasamento
teórico para a elaboração um plano de ação, visando a melhoria do espaço
museológico para uma exposição de inauguração do Museu Comunitário da
cidade. O Museu Comunitário vai receber o nome de Joaquim Mancilio Pereira,
pois foi o responsável pelo início da guarda e coleta das matérias que contempla
o acervo inicial do nosso Museu comunitário. Uma linda homenagem pela
história local, pela memória e identidade de seu povo.
Na sétima e oitava oficinas, os alunos catalogaram, colocando plaquinhas
com os nomes dos objetos, datas prováveis e uma breve descrição de como
eram utilizados antigamente. Após, organizaram a exposição das peças e
artefatos do museu, produziram também, dois painéis contando a história dos
pioneiros.
Na nona oficina, os alunos promoveram a divulgação e exposição para os
demais alunos da escola e comunidade distribuindo bilhetes pedindo
colaboração para tornar o sonho em realidade, bem como solicitaram se algum
membro da comunidade escolar em sua casa tivesse algum objeto, foto ou
documento para doar ao museu, colaborando assim para a ampliação do acervo
museológico.
E no último encontro, um momento importante, os participantes avaliaram
o projeto, apontando os limites e possibilidades de continuidade para os
próximos anos, fortalecendo assim, o vínculo museu-escola, fundamental para o
ensino da memória e da história local. Assim compreende-se que o
conhecimento perpassa os muros da escola, vai além da sala de aula, pois
envolvem a família e a comunidade, numa parceria que transcende o passado,
se perpetua no presente, projetando o futuro.
No ano de 2017, no mês de abril a junho os professores paranaenses
tiveram a oportunidade de participar do GTR (Grupo de Trabalho em Rede),
ofertado pela SEED, via plataforma moodle, sob a tutoria do Professor PDE. Para
a temática “O MUSEU COMUNITÁRIO ENQUANTO ELEMENTO
ARTICULADOR ENTRE O PASSADO E O PRESENTE: CONTRIBUIÇÕES E
PERSPECTIVAS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA”, houve 10 (dez) professores
inscritos no GTR e apenas 2 cursistas não concluíram. Durante esse período,
percebeu-se o quão importante que é a participação dos professores cursistas
no GTR, um ambiente virtual de interação, em que aprendemos e ensinamos,
numa troca reciproca de opiniões, sugestões e experiências, sendo que,
algumas foram acatadas para melhorar a implementação do projeto na escola.
Vale ressaltar, a importância da troca de experiências e mensagens entre
professor PDE e professor cursista.
A estrutura do GTR foi composta por três módulos, Módulo 1 -
Aprofundamento teórico, onde objetivou realizar o aprofundamento teórico sobre
o tema de pesquisa adotado pelo professor PDE. Módulo 2 - Projeto de
intervenção pedagógica na escola e produção didático- pedagógica, com o
objetivo de socializar o conteúdo das produções já elaboradas pelo professor
PDE (o projeto de intervenção pedagógica na escola e a produção didático-
pedagógica), além de possibilitar a reflexão a respeito dessas produções. E no
Módulo 3 - Implementação do projeto de intervenção pedagógica na escola, com
este planejou-se discutir as ações de implementação do projeto de intervenção
pedagógica na escola e a utilização da produção didático-pedagógica na escola,
evidenciando limites e possibilidades.
Os professores cursistas durante esse período contribuíram de forma
significativa compartilhando suas experiências através dos relatos e interações
nas atividades desenvolvidas. No Fórum da relação do projeto de intervenção
pedagógica com os desafios identificados pelo professor PDE em sua escola,
uma cursista aponta que,

[...]”faz-se necessário à articulação do museu com outros


espaços de convívio humano, como é o caso da escola. A
educação fomenta reflexões sobre o espaço museológico que
não podem ser desprezadas no ensino da história. Dessa forma
fica evidente a importância de se ensinar História através do
museu, bem como também reconhecer que, além das funções
de preservar, conservar, expor e pesquisar são instituições ao
serviço da sociedade e procuram através das ações educativas
tornarem-se elementos vivos dentro da dinâmica cultural das
cidades (participante do GTR).

Diante do exposto, percebe-se que o ensino de História vai além da sala


de aula e tem muito a ganhar quando se realiza um trabalho relacionado ao
museu, pois o mesmo tem muitos objetos e documentos que fomentam o
conhecimento real de outros tempos, fundamental para a compreensão do aluno
e comunidade em geral.
Nesse contexto contamos com a colaboração de outro cursista,
O Museu representa a memória de um povo, suas
particularidades, à linearidade da constituição de suas vivências
e a forma de respostas as suas necessidades, assim garantir um
espaço de memória é manter a cultura de um povoado ou de
uma nação para os próximos sujeitos que irão compor a
história... A forma mais significativa de ensinar história é o aluno
reconhecendo-se como sujeito ativo e percebendo a atuação de
seus antepassados nas mudanças provocadas na sociedade,
sejam elas: sociais, econômicas, culturais, religiosas e em todas
as instâncias em que as relações humanas existirem,
portanto relacionar passado e presente é poder perceber como
outros viveram e a importância de seu papel na sociedade
(participante do GTR).

Fica evidente a importância do museu para a História, onde as pessoas


se sentem inseridas no passado, construindo o presente, para valorizar a
memória para as gerações futuras.
Ao concluir o GTR, abre-se um leque de possibilidades a partir das
discussões do grupo, pode-se analisar de forma relevante que trabalhar em
educação nos conteúdos de História, buscando novos caminhos e metodologias
como este projeto, fornecendo aos alunos uma aprendizagem mais atrativa, com
novos significados, que permeiam o conhecimento empírico para a apropriação
do conhecimento científico.
A partir dos estudos, das ações realizadas e as atividades desenvolvidas
no decorrer do projeto, contribuíram para a sensibilização da comunidade
escolar no que tange a necessidade do conhecimento e preservação da memória
local, percebendo a importância da formação de um Museu Comunitário, na
cidade de Santa Tereza do Oeste - Paraná. Nesse contexto, o projeto
transcendeu os muros da escola que, além dos alunos, envolveu também a
comunidade que muito colaborou para que o Museu viesse se tornar um espaço
de resgate da memória e preservação das vivências de nossos pioneiros.
Ao trabalhar com museologia foi oportunizado ao aluno a pesquisa e
através dela conhecer sua história e a história local, inserindo-se na sociedade,
podendo intervir nela ativamente. Foi possível também, compreender a
participação dos alunos e o envolvimento da comunidade para efetivação da
proposta estabelecida no estudo, os quais não mediram esforços para que o
projeto fosse além do planejado. Pois o Museu é um espaço que contribui para
o ensino de história, possibilitando reconhecer que as memórias ali presentes
fizeram parte do dia-a-dia de outras pessoas, que a partir dessas outras tantas
se construirão.
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