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As lutas de resistência no Oriente Médio

Estive na semana passada participando do 2º Encontro Internacional de Política Social


e 9º Encontro Nacional de Política Social na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em
Vitória (ES). A programação dos encontros foi muito intensa e decorreu sobre as
manifestações de grupos e movimentos sociais que estão explodindo por todo o mundo
capitalista, tomando as ruas, praças e derrubando vários governos, em particular no Oriente
Médio.
Através dos conferencistas pudemos tomar contato com a realidade de vários países
da Europa, Oriente Médios e América Latina e o rebatimento desses acontecimentos na
realidade brasileira e nas políticas sociais.
Além das análises sobre a crise e as lutas de resistência na Grécia e Espanha, a situação
do México e o problema do Narco-Estado naquele país, também tomamos conhecimentos das
políticas no Equador, Argentina, Chile e Brasil. Porém, a mesa que mais chamou a atenção foi
sobre a situação alarmante das lutas por resistência no Oriente Médio. Majed Nehmé, sírio
erradicado na França e editor da Revista Afrique-Asie e Eman Khamas, jornalista iraquiana,
fundadora do Observatório Internacional contra a Ocupação do Iraque, nos trouxeram a
realidade da guerra civil e a crise política no Orienta Médio como uma tragédia humanitária.
Ambos comentaram sobre as notícias que a imprensa internacional deixou de noticiar.
As falas foram ilustradas com imagens fortíssimas que impressionaram a todos os presentes no
evento. Para se ter uma ideia do tamanho da crise no Oriente Médio, em 1992 um dólar
correspondia a quatro dinares, já em 2000, a equivalência era de um dólar para dois mil
dinares. Milhares de iraquianos perderam seus empregos e passaram a fazer “bicos” para
sobreviverem. O Iraque hoje, segundo dados da ONU, tem uma população aproximada de
trinta milhões de iraquianos, sendo que desses, dez milhões vivem na pobreza.
Há décadas o Oriente Médio sofre com as guerras internas, invasões externas e todo
tipo de violência, cujas principais vítimas foram, e continuam sendo, a população civil dos
países dessa região, principalmente mulheres e crianças.
Por trás desses conflitos, encontram-se os interesses das grandes potências, em
particular os Estados Unidos, e das elites autoritárias que governam essas nações. Não é por
acaso que o levante popular conhecido como “Primavera Árabe”, desde 2011, fez milhões de
pessoas irem às ruas para lutar por liberdade política e por uma verdadeira democratização
desses regimes, sujeitos durante decênios pela bota militar estrangeira e local.
Atualmente os níveis de violência, segundo os relatos dos dois expositores, tem
superado o período ditatorial de Sadam Russen, sendo que a Forças Militares Norte-
Americanas tem sido os principais responsáveis. Para eles, depois da invasão dos Estados
Unidos no Oriente Médio houve um retrocesso nas conquistas e avanços daqueles povos com
relação a democracia e a liberdade, sobretudo, para as mulheres, trazendo um cenário de
desolação e brutalidade. Além do mais, o governo iraquiano, depois da ocupação, tem sido
considerado um dos mais corruptos do mundo, impondo uma política fascista e de
discriminação.
Nos últimos anos há manifestações pacíficas todas as semanas, sendo fortemente
reprimidas pelas forças militares. O número de refugiados sírios têm aumentado no Brasil: de
38 em 2012 para 284 em 2013. Em setembro do ano passado, o Brasil foi o primeiro país das
Américas a oferecer asilo humanitário especial aos sírios.
Há apenas cinco anos atrás, o Iraque e o Afeganistão eram os únicos países que se
mantinham em guerra civil, decorrentes dos ataques e da derrubada de seus governos pelos
países capitalistas mais desenvolvidos, em retaliação aos ataques de 11 de setembro de 2001.
Além destes dois, apenas o Irã encontrava-se em situação instável, também decorrente das
retaliações políticas e econômicas dos Estados Unidos. Todos os demais países da região do
Oriente Médio estavam em uma situação de estabilidade. Atualmente, praticamente todos os
países encontram-se em uma situação instável, caótica ou em guerra civil.
A violência que tem tomado estes países tem dois motivos muito claros: o petróleo e o
fundamentalismo religioso. O líder dos curdos iraquianos, Masoud Barzani, pediu mais
armamentos para a comunidade internacional e justificou que “não estavam combatendo uma
organização terrorista, mas sim um Estado terrorista”.
O interessante é notar que a indústria bélica norte-americana lucra muito com toda
esta barbárie. Nos últimos três anos, mais de cem mil pessoas morreram como resultado da
guerra civil que ocorre na Síria, onde se enfrentam grupos insurgentes e as forças
representativas do Presidente Bashar al-Assad.
Diante dessa batalha sangrenta, em várias partes do mundo uma rede de solidariedade
tem se formado através das Redes Sociais ou das assistências humanitárias às vítimas desse
massacre. Mas, ainda é muito pouco para deter o famigerado desejo de ganância daqueles que
detém o controle político e econômico do mundo.
Hoje apenas 1% da população mundial detém 68% da renda do mundo, enquanto que
quase a metade da população mundial vive com 3% à 4% da riqueza mundial socialmente
produzida. Fica difícil pensar como este 1% da população mundial vive tranquilamente em
berço esplêndido...

Renato Tadeu Veroneze


Assistente Social
E-mail: rtveroneze@hotmail.com

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