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Entenda por que os conflitos religiosos devem acabar

Os conflitos gerados por pretextos religiosos são grandes problemas da nossa sociedade. Não é
exclusividade dos dias atuais as guerras em nome da religião. Desde as civilizações mais antigas, esses
conflitos têm causado inúmeras mortes e dividido os povos ao redor do mundo. Com o aumento das
tensões políticas e das crises econômicas mundiais, os conflitos religiosos ficaram ainda mais
efervescentes, ameaçando inclusive a sobrevivência da humanidade.

A complexidade desses conflitos é enorme. Os motivos que levam às guerras não são apenas a
intolerância religiosa, mas questões culturais, políticas, raciais e financeiras. Nesse emaranhado, fica
difícil de entender de fato o que acontece nesses conflitos e quais os impactos que eles causam.

O assunto é mais urgente do que nunca, visto que foi tema da redação do Enem de 2016. Conheça no
post de hoje alguns conflitos com base na intolerância religiosa e entenda suas consequências para a
humanidade.

Principais conflitos religiosos mundiais


Afeganistão
Há centenas de anos que o território do Afeganistão sofre com guerras por motivações religiosas.
Atualmente, o conflito maior é entre o Regime do Talibã, formado por fundamentalistas muçulmanos, e a
Aliança do Norte, formado por pessoas que querem combater muçulmanos radicais.

Nigéria
O continente africano é marcado por uma diversificação cultural ampla. São vários povos com tradições e
religiões específicas. Isso faz com que o território nigeriano seja alvo constante de disputas entre esses
diversos povos, que recebem apoio e incentivo de empresas de armamento que querem lucrar com os
conflitos. As principais disputas se dão entre os cristãos do país e os seguidores do Islamismo.

Iraque
Mesmo após a retirada das tropas americanas do solo iraquiano, os conflitos internos do país não
cessaram. As organizações se dividem entre xiitas e sunitas, que são seitas distintas dentro do
Islamismo. Os conflitos armados das milícias do país matam centenas de pessoas anualmente.

Israel – Palestina
O conflito religioso mais emblemático do mundo acontece entre Israel e Palestina. A guerra é fruto da
disputa pela Terra Prometida, onde hoje é Jerusalém. Nenhum dos dois Estados abre mão de ter o
controle sobre o território. Acontece que a guerra, além de religiosa, movimenta muito dinheiro e está
estritamente relacionada a interesses geopolíticos de nações do mundo todo.

Sudão
A tensão entre muçulmanos e não-muçulmanos no Sudão já se prolonga em uma Guerra Civil de mais de
50 anos. Essa é uma das piores crises humanitárias do mundo, que já levou milhares de pessoas ao
óbito.

Gerações que não conhecem a vida sem guerra


Por mais que as consequências das guerras e dos conflitos possam parecer claras, é difícil conseguir
vislumbrar de fato o impacto dessas questões na vida dos moradores desses territórios.

É difícil para nós brasileiros entender o que é crescer em um ambiente de guerra e não conhecer outra
possibilidade. Ou seja, não conhecer a paz. Os conflitos armados na Síria, no Afeganistão e entre
Israel/Palestina já duram anos e existem gerações que não conhecem uma realidade para além da
guerra.

Imagine agora a consequência disso na vida dessas gerações. A vida é muito efêmera, pode acabar a
qualquer momento devido a um ataque, mesmo que você não seja parte ativa de nenhuma das partes do
conflito. Esse ambiente cria um estado de tensão e ansiedade constante, sem falar na tristeza e na
desesperança.

Além disso, essas são gerações que estão lidando com perdas frequentemente. São incontáveis vidas
perdidas diariamente. Famílias destruídas e amizades interrompidas são realidades, infelizmente,
comuns.

Aumento da intolerância
As consequências dos conflitos não são só mortes e perdas, mas também o aumento da intolerância, do
preconceito e da violência simbólica.

Em um primeiro momento, a intolerância se instala no âmbito dessas guerras. Isso quer dizer que a
guerra divide os povos de um território, cria rupturas e rivalidades. Os adversários se atacam física e
simbolicamente, julgando e tentando destruir a tradição e a crença do outro. É como se uma pessoa não
pudesse viver com uma religião enquanto outra vivesse com uma crença distinta.

A situação se agrava porque essa intolerância se espalha em nível global e pessoas de outros lugares
que não têm, a princípio, nada a ver com o conflito compram a briga. O exemplo claro é a intolerância dos
países europeus aos muçulmanos e demais povos árabes. O mesmo acontece nos Estados Unidos em
relação a esses povos.

E o Brasil não fica imune. Embora não sejam geradas grandes guerras, a intolerância aparece,
principalmente, quando o assunto é religiões de matriz africana. O preconceito em relação aos seus
praticantes culmina em violências físicas e simbólicas.

Acontece que são criados vários estereótipos sobre as religiões que aumentam essa intolerância. É a
partir daí que nascem o imaginário de que todo árabe é terrorista, que todo palestino é um homem-bomba
ou que Candomblé é coisa do demônio. Esses preconceitos só aceleram e contribuem para o
fortalecimento das violências entre os povos, principalmente em épocas de crises políticas e partidárias.

Conflitos são realmente gerados pela religião?


Por mais que a religião seja um dos motivos geradores dos conflitos, as guerras começam e se mantém
devido a outros fatores bem mais complicados.

O território asiático, principalmente o Oriente Médio, é rico em petróleo. Não é interessante que inúmeros
conflitos dessa região se prolonguem por anos e que sejam fomentados e abastecidos por governos e
empresas do mundo todo? Existem vários interesses, principalmente econômicos por trás dessas
guerras. O petróleo é um deles.

Outro ponto importante: a indústria bélica, ou seja, as empresas que fabricam armamentos, é a que mais
sai ganhando nessas histórias. Ao fornecer armas para diferentes organizações e milícias, essas
empresas acabam financiando e incentivando os conflitos.

As diferenças culturais, raciais e étnicas também influenciam muito no desenrolar desses conflitos. A
dificuldade de conviver e de respeitar os costumes e tradições de outros povos acaba endossando o
movimento de intolerância religiosa.
Assim, o que fica claro é que esses conflitos fazem parte de um jogo geopolítico que envolve interesses
políticos e econômicos mundiais, assim como uma dificuldade humana muito grande em tolerar e
respeitar as diferenças.

É importante lembrar que a maioria das religiões estão assentadas em dogmas e preceitos que prezam
pelo aprimoramento de cada um e de toda a sociedade. A fé deveria, portanto, ser utilizada como forma
de desenvolvimento harmônico da humanidade e não como pretexto de acabar com o outro.

O problema é que, enquanto em um nível individual, a gente não conseguir conviver com respeito,
sempre haverá organizações e instituições prontas para incentivar o conflito religioso. Movidos por
grandes interesses, governos e empresas acabam endossando nossa intolerância em relação às crenças
das outras pessoas, o que gera grandes e intermináveis guerras. E o que está em jogo nisso tudo é a
nossa sobrevivência enquanto humanidade.

7 Conflitos actuais causados por conflitos religiosos

Por Jessica Soares


Colaboração para a SUPERINTERESSANTE
Depois da II Guerra Mundial, a ONU adotou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que
colocava em pauta o “respeito universal e observância dos direitos humanos e liberdades
fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião”. O ideal foi reforçado em
1999, ano em que líderes budistas, protestantes, católicos, cristãos ortodoxos, judeus, muçulmanos e
de várias outras religiões se reuniram para assinar o Apelo Espiritual de Genebra. O documento
pedia aos líderes políticos e religiosos algo simples: a garantia de que a religião não fosse mais usada
para justificar a violência.
Passados muitos anos e outras muitas tentativas de garantir a liberdade religiosa, grande parte dos
conflitos que hoje acontecem no mundo ainda envolve crenças e doutrinas, que se misturam a uma
complexa rede de fatores políticos, econômicos, raciais e étnicos. De “A a T”, conheça sete conflitos
atuais que têm, entre suas motivações, a intolerância religiosa:

1. Afeganistão
Grupos em conflito: fundamentalistas radicais muçulmanos e não-muçulmanos
O Afeganistão é um campo de batalhas desde a época em que Alexandre, o Grande, passava por lá,
em meados de 300 a.C. Atualmente, dois grupos disputam o poder no país, em um conflito que se
desenrola há anos. De um lado está o Talibã, movimento fundamentalista islâmico que governou o
país entre 1996 e 2001. Do outro lado está a Aliança do Norte, organização político-militar que une
diversos grupos demográficos afegãos que buscam combater o Regime Talibã.

Após os atentados de 11 de setembro de 2001, a Aliança do Norte passou a receber o apoio dos
Estados Unidos, que invadiram o Afeganistão em busca do líder do Al-Qaeda, Osama Bin Laden,
estabelecendo uma nova república no país. Em 2011, americanos e aliados comemoraram a captura e
morte do líder do grupo fundamentalista islâmico responsável pelo ataque às Torres Gêmeas, mas
isso não acalmou os conflitos internos no país, que continua sendo palco de constantes ataques
talibãs.

2. Nigéria
Grupos em conflito: cristãos e muçulmanos
Não é apenas o rio Níger que divide o país africano: a população nigeriana, de aproximadamente 148
milhões de habitantes, está distribuída em mais de 250 grupos étnicos, que ocuparam diferentes
porções do país ao longo dos anos, motivando constantes disputas territoriais. Divididos
espacialmente e ideologicamente estão também os muçulmanos, que vivem no norte da Nigéria, e
cristãos, que habitam as porções centro e sul. Desde 2002, conflitos religiosos têm se acirrado no
país, motivados principalmente pela adoção da sharia, lei islâmica, como principal fonte de
legislação nos estados do norte. A violência no país já matou mais de 10 mil pessoas e deixou
milhares de refugiados.

3. Iraque
Grupos em conflito: xiitas e sunitas
Diferentes milícias, combatentes e motivações se misturam no conflito que tem lugar em território
iraquiano. Durante os anos de 2006 e 2008, a Guerra do Iraque incluía conflitos armados contra a
presença do exército dos Estados Unidos e também violências voltadas aos grupos étnicos do país.
Mas a retirada das tropas norte-americanas, em dezembro de 2011, não cessou a tensão interna.
Desde então, grupos militantes têm liderado uma série de ataques à maioria xiita do país. O governo
iraquiano estima que, entre 2004 e 2011, cerca de 70 mil pessoas tenham sido mortas.

4. Israel
Grupos em conflito: judeus e mulçumanos
Em 1947, a ONU aprovou a divisão da Palestina em um Estado judeu e outro árabe. Um ano depois,
Israel foi proclamado país. A oposição entre as nações árabes estourou uma guerra, que, com o
crescimento do território de Israel, deixou os palestinos sem Estado. Como tentativa de dar fim à
tensão, foi assinado em 1993 o Acordo de Oslo, que deu início às negociações para criação de um
futuro Estado Palestino. Tudo ia bem até chegar a hora de negociar sobre a situação da Cisjordânia e
da parte oriental de Jerusalém – das quais nem os palestinos nem os israelenses abrem mão.

Na Palestina, as eleições parlamentares de 2006 colocaram no poder o grupo fundamentalista


islâmico Hamas. O grupo é considerado uma organização terrorista pelas nações ocidentais e
fracassou em formar um governo ao lado do Fatah – partido que prega a reconciliação entre
palestinos e israelenses. O Hamas assumiu o poder da Faixa de Gaza. E o Fatah chegou ao da
Cisjordânia, em conflitos que se prolongaram até fevereiro de 2012, quando os dois grupos fecharam
um acordo para a formação de um governo. Mas segundo o site da Al Jazeera, rede de notícias do
Oriente Médio, a rixa continua. Eleições parlamentares e presidenciais serão conduzidas nos dois
territórios e a tensão internacional permanece pela possibilidade do Hamas voltar a vencer no
processo eleitoral.

5. Sudão
Grupos em conflito: muçulmanos e não-muçulmanos
A guerra civil no Sudão já se prolonga há mais de 46 anos. Estima-se que os conflitos, que misturam
motivações étnicas, raciais e religiosas, já tenham deixado mais de 1 milhão de sudaneses
refugiados. Em maio de 2006 o governo e o principal grupo rebelde, o Movimento de Libertação do
Sudão, assinaram o Acordo de Paz de Darfur, que previa o desarmamento das milícias árabes,
chamadas janjawid, e visava dar fim à guerra. No mesmo ano, no entanto, um novo grupo deu
continuidade àquela que foi chamada de “a pior crise humanitária do século” e considerada
genocídio pelo então secretário de estado norte-americano Colin Powell, em 2004.
6. Tailândia
Grupos em conflito: budistas e mulçumanos
Um movimento separatista provoca constantes e violentos ataques no sul da Tailândia e criou uma
atmosfera de suspeita e tensão entre muçulmanos e budistas. Apesar dos conflitos atingirem os dois
grupos, eles representam parcelas bastante desiguais do país: segundo dados do governo tailandês,
quase 90% da população do país é budista e cerca de 10% muçulmana.

7. Tibete
Grupos em conflito: Partido Comunista da China e budistas
A regulação governamental aos monastérios budistas teve início quando o Partido Comunista da
China marchou rumo ao Tibete, assumindo o controle do território e anexando-o como província, em
1950. Mais de meio século se passou desde a violenta invasão, que matou milhares de tibetanos e
causou a destruição de quase seis mil templos, mas a perseguição religiosa permanece. Um protesto
pacífico iniciado por monges em 2008 deu início a uma série de protestos no território considerado
região autônoma da República Popular da China.

Entenda os principais conflitos religiosos do


mundo
Entenda a dinâmica, as raízes e as consequências de conflitos religiosos ao longo
do tempo
Atualmente, vários países vivem intensos conflitos religiosos. A ocupação do autoproclamado Estado
Islâmico no Iraque e Síria  foi um claro ataque contra as minorias cristãs de ambos os países.
Outro exemplo é a Nigéria, que desde 2002 sofre com ataques do grupo extremista islâmico Boko
Haram. O país, dividido em norte muçulmano e centro-sul cristão, é palco de um dos maiores conflitos
religiosos da atualidade.
Além disso, há também o conflito religioso no Cinturão Médio do país entre agricultores cristãos e
criadores de gado da etnia fulani , que são muçulmanos. Estes já causaram mais mortes de cristãos
que o próprio Boko Haram. Mas não é de hoje que conflitos religiosos assolam o mundo. As Cruzadas,
por exemplo, aconteceram do século 6 ao 8 e tinham como objetivo impor o cristianismo na Terra
Santa (Palestina).
Conflitos e tensões no mundo
Uma das acusações mais comuns feitas às religiões é que elas causam mais violência do que paz. Por
essa ótica, o mundo seria um lugar melhor sem elas e suas rixas. Há alguma verdade nisso. Os
conflitos religiosos atravessam continentes, épocas e ainda hoje influenciam a política, a economia e as
comunidades.
Debates históricos, guerras, lutas e disputas internas criaram os mapas contemporâneos do mundo e o
fizeram de modo que poucos se deram conta. Por exemplo, a União Européia "cristã" surgiu da
vivência das invasões muçulmanas nos séculos 14-17 e da ocupação de parte da Europa oriental pelo
islã até o século 20.
Os violentos conflitos no Iraque têm suas raízes na dissidência entre muçulmanos sunitas e xiitas, no
século 7, e lutas no Sudão, Etiópia e Nigéria remontam em certas áreas ao século 10.
Perseguição sem precedentes
A violência, contudo, não vem apenas do lado dos conflitos religiosos. Nos últimos 100 anos, as
principais religiões foram mais perseguidas do que em qualquer outro período histórico. E, na maioria
dos casos, trata-se não de religião perseguindo religião, mas de ideologia perseguindo religião.
Isso abrange desde as investidas da revolução socialista de 1924 no México contra o poder, as terras
e, por fim, o clero e os edifícios da Igreja Católica, até as agressões aos bahaístas no Irã, a partir da
década de 1970, passando pela repressão a todas as religiões na URSS, pelo extermínio dos judeus
no nazismo e pela agressão maciça a toda religiosidade na China da Revolução Cultural.
Infelizmente, as zonas de tensão se mantêm: na medida em que as religiões se recuperam da
perseguição, alguns reiniciam suas próprias perseguições. Entretanto, o tempo e a vivência dos últimos
100 anos, mais o impacto dos movimentos ecumênicos e multiconfessionais, começaram a mudar
muitos grupos religiosos, e, nesses casos, as velhas divisões e inimizades foram se desvanecendo.
Divisões históricas, várias delas com séculos de existência, criadas por diferenças na crença e na
prática religiosa, estão na origem de muitas das tensões e conflitos religiosos atuais. A tensa linha
divisória entre o islã e a cristandade na Europa oriental e no Cáucaso é ilustrada pela controversa
candidatura turca à União Européia. E a cisão entre católicos, luteranos e russo-ortodoxos ainda
repercute na Europa e na Rússia.
Algumas linhas divisórias, como o litoral suaíli (África oriental), se tornaram mais regiões de diferença
cultural que fontes de tensão. Já outros choques, muito antigos, como entre cristãos, hindus e
muçulmanos na Indonésia, ressurgiram onde, poucos anos atrás, essas comunidades viviam lado a
lado.
Ideologias X religião 
A religião é freqüentemente criticada com o argumento de que a maioria das guerras surge de conflitos
religiosos e tensões e discordâncias confessionais. Isso pode ter sido verdade nos séculos passados
(embora tal afirmação seja extremamente discutível), mas certamente não foi o caso nos últimos 100
anos, quando a religião é que se viu violentamente perseguida por ideologias temporais.
O comunismo, o fascismo, o socialismo e o nacionalismo, todos eles encararam a religião como a
maior ameaça ao projeto que tinham para criar novas sociedades. Em muitos casos a religião era um
importante acessório do regime que os revolucionários queriam derrubar. Em conseqüência, deu-se
uma investida sem precedentes contra edifícios religiosos, clérigos e fiéis.
Com o colapso daquelas ideologias e a recuperação de muitas religiões em várias partes do mundo,
tem ocorrido um grande aumento da violência, dos ataques e das guerras de motivação religiosa. O
marxismo afirmava que, com o advento do socialismo e do comunismo, "a religião definharia e
morreria". Na realidade, aconteceu o inverso: foram as ideologias que definharam, ainda que ao custo
de dezenas de milhões de vidas. A religião sobreviveu e constituiu muitas vezes a inspiração para os
movimentos de resistência que ajudaram a derrubar as ideologias.
Da Igreja Católica na Polônia aos budistas no Camboja, passando pelos muçulmanos na Ásia central e
pelos luteranos na Alemanha Oriental, ela permaneceu depois que os regimes coercitivos se foram. Em
muitos países, embora não tenha mais o mesmo papel que tinha antes de perseguições e mudanças
sociais tão vastas, a religião voltou ao centro do palco para tentar desempenhar de novo seu papel na
construção e manutenção de nações, povos e culturas.
Conflitos religiosos e a função da religião
na resolução de conflitos
Diana Bonar — PeaceFlow

Jul 23, 2017 · 4 min read

Eu tenho entrado em contato com muitas discussões interessantes que abordam


a resolução de conflitos e estudos da paz em muitos níveis. Desde diálogos multi
atores em resolução de conflitos ambientais, elaborações de estratégias de não
violência e treinamentos sobre isso; sobre a importancia da cura de traumas na
construção da paz e a influência exercida pela crença de cada povo/nação em sua
forma de resolver conflitos.

Eu quero compartilhar o texto no link abaixo, porque levanta algumas questões


interessantes sobre as análises de conflitos. E mostra como religião e identidade
andam jutas. Às vezes, aquilo que parece ser um conflito por disputa de crenças,
na verdade é pela manutenção de uma identidade, que traz sentido e
acolhimento. Os principios da Comunicação Não-Violenta (CNV) ajudam a
compreender aquilo que está abaixo da superfície, e além dos rotulos. É muito
mais simples e superficial impor títulos de “extremismo” ou “fanatismo” como
forma de proteger a sua culutura, a se dispor a um diálogo que revele
necessidade por segurança, identidade e reconhecimento atreladas à paradigmas
tradicionais, vinculados a escritutas milenares, fato que torna ainda mais difícil
qualquer mudança de percepção por parte do “rotulado”. Por exemplo, o “mundo
muçulmado” percebe o “mundo ocidental” como individualista e teme que o
contato com essa cultura possa minar o sentido de grupo e coletividade cultivado
por séculos. A questão aqui não é uma disputa entre fieis à Cristo ou à Alah, mas
uma disputa por um modus operandi de cultura, que por sua vez, afeta toda uma
sociedade. Em um mundo cada vez mais globalizado, é um desafio manter raízes,
raízes essas que muitas vezes são o símbolo e ação de resistência contra uma
cultura dominante imperialista.

Eu não defendo nenuma tática que busque atender às necessidades de forma


violenta , seja do povo/nação e do tempo que for. E defendo que é importante
tem em mente o que é um “processo de desumanização” e como é fácil ser
manipulado por esse processos, principalmente na presença de mídias de massa
parciais e que martelam diariamente os rótulos do “inimogo”. Pois saiba que é
uma tática de guerra desumanizar o seu oponente para diminuir a culpa em
exterminá-lo, e dizer: “afinal não eram humanos”. Esse processo foi conduzido
por Hitler contra os Judeus, entre Tutsi e Hutus na Ruanda e entre outros
inúmeros conflitos. Fique muito atent@ ao seu discurso e aos discursos que você
segue, porque acima de tudo esses rótulos desumanizam os “rotuladores”.

Obs. Esse processo é mostrado claramente no 5° Episódio da 3ª temporada de


Black Mirror, no Netflix.
O texto em questão é interessante porque aborda os conflitos religiosos em suas
diferentes facetas, ao mesmo tempo em que mostra a função da religião na
resolução de conflitos. Em muitas comunidades é @ líder religios@ que ainda
resguarda o poder de legitimidade para resolver disputas entre os morador@s,
com poder de influência positiva na resolução de disputas. Assim como países
majoritariamente budista tendem a se mostrar mais capazes de sustentar ações
de não violência, como a greve de fome, por exempo.

O texto também aborda a manipulação da mídia nessas questões e o lado


negativo que costuma ser exarcebado, como no parágrafo abaixo:

Fica claro como os rótulos “fundamentalista” ou “extremistas” encobertam


diferenças muito relevantes em relação à crenças, objetivos e táticas. E quanto
mais falharmos na conexão e comunicação, mais esteriótipos ganham força, e
mais poder ganha as manipulações de poder e política. E assim, mais o conflito
pode se torna real. E, por isso, é cada vez mais importante enxergamos às
necessidades encobertas por rótulos e julgamentos, observar que tipo de discurso
estamos proliferando e de que forma podemos contribuir com processos
pacíficos, simplesmente com a escolha da palavra, tom de voz e intenção, e claro
MUITA escuta de CONEXÃO.

Religião e Conflito
Por
Eric Brahm

Novembro de 2005
 

No início do século XXI, uma olhada casual nos assuntos mundiais sugeriria que a religião está no centro
de grande parte dos conflitos ao redor do mundo. Muitas vezes, a religião é uma questão controversa.
Onde a salvação eterna está em jogo, o compromisso pode ser difícil ou até pecaminoso. A religião
também é importante porque, como parte central da identidade de muitas pessoas, qualquer ameaça às
crenças é uma ameaça ao próprio ser. Essa é a principal motivação dos nacionalistas etno-religiosos.

No entanto, a relação entre religião e conflito é, de fato, complexa. Os construtores da paz motivados por
religiões têm desempenhado papéis importantes na abordagem de muitos conflitos em todo o mundo.
Esse aspecto da religião e do conflito é discutido no ensaio paralelo sobre religião e paz . Este ensaio
considera alguns dos meios pelos quais a religião pode ser uma fonte de conflito.

Religião e Conflito
Embora não necessariamente assim, existem alguns aspectos da religião que a tornam suscetível de ser
uma fonte latente de conflito. Todas as religiões têm seus dogmas aceitos, ou artigos de crença, que os
seguidores devem aceitar sem questionar. Isso pode levar à inflexibilidade e intolerância diante de outras
crenças. Afinal, se é a palavra de Deus, como alguém pode comprometê-la? Ao mesmo tempo, as
escrituras e os dogmas são frequentemente vagos e abertos à interpretação. Portanto, pode surgir conflito
sobre cuja interpretação é a correta, um conflito que, em última análise, não pode ser resolvido porque
não há árbitro. O vencedor geralmente é a interpretação que atrai mais seguidores. No entanto, esses
seguidores também devem estar motivados para a ação. Embora, quase invariavelmente, a maioria de
qualquer fé tenha visões moderadas, elas geralmente são mais complacentes, enquanto
os extremistas são motivados a levar a bom termo sua interpretação da vontade de Deus.

Extremistas religiosos podem contribuir para a escalada de conflitos . Eles vêem medidas radicais
necessárias para satisfazer os desejos de Deus. Fundamentalistas de qualquer religião tendem a adotar
uma visão maniqueísta do mundo. Se o mundo é uma luta entre o bem e o mal, é difícil justificar o
comprometimento com o diabo. Qualquer sinal de moderação pode ser criticado como se vender, mais
importante, abandonar a vontade de Deus.

Alguns grupos, como o Novo Direito Cristão da América e o Jama'at-i-Islami do Paquistão, operaram
amplamente por meios constitucionais, embora ainda busquem fins intolerantes. Em circunstâncias em
que meios moderados não produzem resultados, sejam eles sociais, políticos ou econômicos, a
população pode recorrer a interpretações extremas de soluções. Sem legítimomecanismos para os
grupos religiosos expressarem suas opiniões, é mais provável que eles recorram à violência. O Hizbullah
no Líbano e o Hamas na Palestina se envolveram em violência, mas também ganharam apoiadores
através do serviço social, quando o governo é visto como fazendo pouco pela população. Células judaicas
radicais em Israel e nacionalistas hindus e extremistas sikh na Índia são outros exemplos de movimentos
fundamentalistas impulsionados pela ameaça percebida à fé. O reavivamento religioso é poderoso, pois
pode proporcionar uma sensação de orgulho e propósito, mas em lugares como Sri Lanka e Sudão,
produziu uma forte forma de nacionalismo iliberal que periodicamente levou
à intolerância e discriminação.[1] Alguns grupos religiosos, como os partidos Kach e Kahane Chai em
Israel ou a Jihad Islâmica do Egito, consideram a violência um "dever". Quem clama por violência vê-se
como divinamente direcionado e, portanto, os obstáculos devem ser eliminados.

Muitas religiões também têm uma variedade significativa de evangelismo, que pode ser conflituosa. Os
crentes são chamados a espalhar a palavra de Deus e aumentar o número do rebanho. Por exemplo, o
esforço para impor o cristianismo aos povos sujeitos era uma parte importante do conflito em torno da
colonização européia. Da mesma forma, um grupo pode negar a outras religiões a oportunidade de
praticar sua fé. Em parte, isso se deve a um desejo de minimizar as crenças que o grupo dominante sente
ser inferior ou perigoso. A supressão do cristianismo na China e no Sudão são apenas dois exemplos
contemporâneos. No caso da China, não é um conflito entre religiões, mas o governo vê a religião como
um rival perigoso da lealdade dos cidadãos. Todos esses casos derivam da falta de respeito por outras
religiões.

Os fundamentalistas religiosos são principalmente motivados pelo descontentamento com a modernidade.


[3] Motivados pela marginalização da religião na sociedade moderna, eles agem para restaurar a fé em
um lugar central. Há uma necessidade de purificação da religião aos olhos dos fundamentalistas.
Recentemente, a globalização cultural se tornou em parte abreviada para essa tendência. A disseminação
do materialismo ocidental é frequentemente responsabilizada por aumentos no jogo, no alcoolismo e na
moral fraca em geral. A Al-Qaeda, por exemplo, afirma que é motivada por esse neo-imperialismo, bem
como pela presença de forças militares estrangeiras nas terras sagradas muçulmanas. A base liberal da
cultura ocidental também ameaça a tradição em priorizar o indivíduo sobre o grupo e questionar o papel
apropriado para as mulheres na sociedade. Claro,o crescimento da nova direita cristã nos Estados Unidos
indica que os ocidentais também sentem que está faltando alguma coisa na sociedade moderna. O
conflito sobre o aborto e o ensino da evolução nas escolas são apenas dois exemplos de questões em
que alguns grupos sentem que a tradição religiosa foi abandonada.

Os nacionalistas religiosos também podem produzir sentimentos extremistas. Os nacionalistas religiosos


tendem a ver suas tradições religiosas tão intimamente ligadas à sua nação ou à sua terra que qualquer
ameaça a uma delas é uma ameaça à própria existência. Portanto, os nacionalistas religiosos respondem
a ameaças à religião buscando uma entidade política na qual sua fé é privilegiada à custa de outros.
Nesses contextos, também é provável que símbolos religiosos sejam usados para encaminhar causas
étnicas ou nacionalistas. Esse foi o caso de católicos na Irlanda do Norte, da igreja ortodoxa sérvia na
Iugoslávia de Milosevic e de nacionalistas hindus na Índia.

Os retratos populares da religião frequentemente reforçam a visão de que a religião é conflitante. A mídia
global prestou atenção significativa à religião e ao conflito, mas não às maneiras pelas quais a religião
tem desempenhado um papel poderoso de pacificação. Essa ênfase excessiva no lado negativo da
religião e nas ações de extremistas religiosos gera medo e hostilidade inter-religiosos . Além disso, os
retratos da mídia sobre conflitos religiosos tendem a fazê-lo de maneira a confundir e não informar. Isso é
feito por meio da incompreensão de objetivos e alianças entre grupos, exacerbando a polarização . A
tendência de descuidar os termos "fundamentalista" e "extremista" oculta diferenças significativas em
crenças, objetivos e táticas.
Religião e conflito latente
Em praticamente todas as sociedades heterogêneas, a diferença religiosa serve como fonte de conflito
em potencial. Como os indivíduos geralmente ignoram outras crenças, há alguma tensão em potencial,
mas isso não significa necessariamente que resultará em conflito. A religião não é necessariamente
conflituosa, mas, como na etnia ou raça, a religião serve como uma maneira de distinguir o eu e o grupo
do outro. Freqüentemente, o grupo com menos poder, seja ele político ou econômico, tem mais
consciência da tensão do que dos privilegiados. Quando o grupo privilegiado é uma minoria, no entanto,
como os judeus historicamente estavam em grande parte da Europa, eles geralmente estão bem cientes
do conflito latente. Há etapas que podem ser tomadas nesse estágio para evitar
conflitos. Diálogo inter- religioso, discutido mais adiante, pode aumentar o entendimento. Os
intermediários podem ajudar a facilitar isso.

Religião e Escalada de Conflitos


Com a religião latentefonte de conflito, um evento acionador pode causar a escalada do conflito. Nesse
estágio de um conflito, queixas, objetivos e métodos geralmente mudam de maneira a dificultar a
resolução do conflito. O momento do conflito pode dar aos extremistas a vantagem. Em uma crise, os
membros do grupo podem ver os extremistas como aqueles que podem produzir o que parecem ser
ganhos, pelo menos no curto prazo. Em tais situações, as identidades de grupo são ainda mais
firmemente moldadas em relação ao outro grupo, reforçando assim a mensagem dos extremistas de que
a religião de uma pessoa é ameaçada por outra fé que é diametralmente oposta. Muitas vezes, as
queixas históricas são reformuladas como sendo de responsabilidade do inimigo atual. Como nesta fase
as táticas costumam se desvincular dos objetivos, interpretações radicais são cada vez mais
favorecidas.Depois que os mártires são sacrificados, torna-se cada vez mais difícil se comprometer,
porque suas vidas parecem ter sido perdidas em vão (veja o ensaio sobre o aprisionamento * para saber
mais sobre esse problema).

O que é para ser feito


Aos olhos de muitos, a religião é inerentemente conflituosa, mas isso não é necessariamente verdade.
Portanto, em parte, a solução é promover uma maior conscientização sobre a construção positiva
da paz e o papel reconciliador da religião em muitas situações de conflito. De maneira mais geral,
combater a ignorância pode percorrer um longo caminho. O diálogo inter-religioso seria benéfico em todos
os níveis das hierarquias religiosas e em todos os segmentos das comunidades religiosas. Onde silêncio
e mal - entendidossão comuns demais, aprender sobre outras religiões seria um poderoso passo à frente.
Ser educado sobre outras religiões não significa conversão, mas pode facilitar o entendimento e o
respeito por outras religiões. Comunicar com espírito de humildade e se envolver em autocrítica também
seria útil. [4]

[1] David Little, "Crença, etnia e nacionalismo" http://www.usip.org/religionpeace/rehr/belethnat.html .

[2] David Little, "Militância religiosa", em Managing Global Chaos, eds, Chester A. Crocker, Fen Osler
Hampson e Pamela Aall (Washington DC: USIP Press, 1996).

[3] R. Scott Appleby, "Religião, Transformação de Conflitos e Construção da Paz", em Paz Turbulenta: Os
Desafios de Gerenciar Conflitos Internacionais, eds, Chester A. Crocker, Fen Osler Hampson e Pamela
Aall (Washington DC: USIP Press, 2001).

[4] David Smock, Construindo confiança inter-religiosa em um clima de medo: um trílogo


abraâmico, http://www.usip.org/pubs/specialreports/sr99.pdf

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