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Considerações sobre Memória e História com auxílio de Camila

Bruno Groppo

Processos autoritários do século XX - pensando sobre história e memória entrelaçada


com a Alemanha Nazista - existem pessoas em relação colaboracional direta com o
autoritarismo e os massacres dos regimes ditatoriais do século xx. No entanto, temos também
as resistências. Assim, existe uma zona cinzenta, um entremeio: inúmeros tons de cinza que
mesclam colaboracionismo e resistência. A convivência pela aceitação de maneira pacífica
por conta daqueles que não são atingidos, além de diferentes graus de colaboração por meio
da não adesão mas preferência por esse regime do que um regime comunista, por exemplo.
Ademais, lembremos do medo, importante elemento para adesão nessa sociedade.
É necessário analisar de uma maneira nuançada, não ter uma visão maniqueísta que divide tais
questões de colaboração e resistência, dada a complexificação da sociedade. Diferentes formas de
resistência, quem dita e quem recebe as ordens. Pensemos, portanto, os percalços dessa sociedade, e
como lidar com tais questões posteriormente. Pensar a sociedade pós regimes de exceção, sua forma
de encará-los é uma questão a se pensar. Nesse ínterim, podemos destacar os silenciamentos e
diferentes reações na memória coletiva (Halbwachs) e da Memória Enquadrada (Henry Rousso)
ambos conceitos articulados por Pollak num texto intitulado de memória, esquecimento e silêncio.

POLLAK

Para esse autor, assim como Halbwachs as memórias são CONSTRUÍDAS - nenhuma é
natural, elas são frutos das nossas escolhas. Assim, escolhemos também o que será esquecido. As
memórias, assim, estão associadas à construção de poder articuladas pelos grupos dominantes que
escolhem o que irá prevalecer, ser duradouro.
A exemplo disso temos que no que concerne ao Holocausto terá uma memória construída a
posteriori com a ideia de política de extermínio. No entanto, a construção de memória que se tem
sobre o mesmo evento, sob uma perspectiva nazista, ainda sobre a Segunda Guerra Mundial é de que
os nazistas estão cuidando da Alemanha. Ou seja, a memória construída a partir da perspectiva de
quem está no poder.
A exemplo da pesquisa recente de monografia de Camila Feitosa, historiadora recém formada
na casa que fez uma monografia a respeito das Abuelas da Praça de Mayo: a “memória oficial” diria
que não haveria extermínio ou apropriação das crianças, ao passo que o processo de redemocratização
trouxe a tona um processo de reconstrução da memória que diz justamente ao contrário. Perceba que
isso conflui com a perspectiva que Pollak nos mostra que existem memórias que estão no subterrâneo,
as chamadas memórias proibidas que, ao lado das “indizíveis” e da “vergonhosa” são "zelosamente
guardadas nas estruturas informais de comunicação e sociabilidade” (p. 6)
e ainda:
“Por conseguinte, existem nas lembranças de uns e de outros zonas de
sombra, silêncios, "não-ditos". As fronteiras desses silêncios e "não-ditos" com o
esquecimento definitivo e o reprimido inconsciente não são evidentemente estanques
e estão em perpétuo deslocamento. Essa tipologia de discursos, de silêncios, e
também de alusões e metáforas, é moldada pela angústia de não encontrar uma
escuta, de ser punido por aquilo que se diz, ou, ao menos, de se expor a
mal-entendidos” ( p. 6).
O que se lembra está sempre atrelado também ao que pode ser esquecido. Pensando
talvez a questão que concerne a minha própria pesquisa: nas reedições das publicações de
Lênin na União Soviética, a burocracia stalinista ocupou-se de excluir as partes nas quais o
revolucionário se aproximava teoricamente dos pensamentos de Trotsky. Isso teria servido
para a construção de uma memória de que os trotskistas nada tem a ver com o leninismo.
A ideia é deixar de lado alguns assuntos para que outros ganhem proporção e debate
público. Pollak fala que essas construções fazem parte da sociedade ao longo da história, nós
teremos momentos ora de silêncio ora de memórias soterradas que vêm à tona. Seja pela
atuação política, que aqueles que não tem são colocados de lado, ao passo que os vencedores
constroem as memórias nacionais, restando aos vencidos as memórias subterrâneas.
Memórias de grupos não ouvidos.

lembrar de POLLAK, Michael. Memória e identidade social. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 5,
n. 10, p. 200-212, 1992

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