Historicos, Rio de Janeiro. vol. 2, n. 3, 1989, p. 3 - 15
O texto analisado é uma produção de Michael Pollak acerca dos processos em
que a memória coletiva é condicionada, essa produção reune fontes durkheiminianas e uma análise de Maurice Hallbawachs acerca da memória coletiva. Vale destacar que a obra reforça a disparidade que há entre a memória individual e memória coletiva, levando em consideração conflitos que tiveram grandes dimenções e que geraram impactos históricos que resultaram no processo de transformção da memória individual para uma memória coletiva, ou até mesmo uma memória nacional. A memória coletiva passa por diversos processos no seu período de vitalização, ao observar classes minoritarias e que foram submetidas a conflitos históricos, a lembrança dessas classes passa por um processo de esquecimento e silenciamento, visando fortalecer uma memória nacional ou “oficial” que busque privilegiar o Estado e em determinados momentos por priorizar a memória individual dessas classes. Observar o Stalinismo e perceber a transformação que houve é um exercício fundamental de reparação com as memórias subterrâneas, aquelas que foram condicionadas a serem esquecidas. Vítimas do terror salinista eram obrigadas a lidarem com estátuas espalhadas em lugares que traziam a lembrança daquele que foi chave principal de seu sofrimento, porém devido ao movimento que buscava dar voz as vítimas do stalinismo, a memória destes foi liberta gerando um rompimento na memória coletiva de que “Stalin era o pai dos podres” e assim validando o discurso daqueles que tiveram suas recordações “esquecidas” e dando total espaço a essas vítimas. Há também uma abordagem acerca das vítimas do nazismo, uma situação oposta que expõe o silêncio das mesmas com o intuito de encontrarem um modo de viver após o impacto do periodo nazista na vida dos judeus. Durante o período nazista muitos judeus chegaram a negociar com comunidades nazistas com o desejo de obterem um melhor tratamento e diminuir o nível de danos que lhes eram causados. Diante dessa situação muitos acabavam cooperando com os nazistas e após esse período os mesmos preferiram silenciar essa memória com o desejo de buscarem um modo de sobreviver sem sentirem tanta culpa e dor, sendo que muitos desses pouparam seus filhos com o intuito de não darem continuidade a essa lembrança. Outro exemplo abordado foi o recrutamento forçado dos alsacianos, homens foram adicionados do exército alemão em diferentes formações no início da Segunda Guerra Mundial, em meio a essa situação muitos morreram e só regresarram após um longo tempo. Após o término da guerra houve uma revolta entre esses homens e a morte de algumas vítimas gerou uma revolta na memória desses indivíduos, com isso não se é preservado o fator de que estes foram obrigados a ir para a guerra, sendo condicionados a serem reconhecidos pelo êxito ou não da sua agência no campo de batalha. Os três exemplos abordados por Pollak expõem a memória dessas classes minoritárias e a oposição que há entre essas memórias coletivas que acabam sendo preservadas pelo Estado e pela sociedade. Esses grupos tem em seu exercício o fato social de preservarem a memória mantendo-a viva depois de muitos séculos. São memórias indizíveis que são guardadas e preservadas por essas classes e passadas de geração em geração, por meio da estrutura familiar e grupos sociais que passaram pela mesma situação. Observar essa circunstância caracteriza-se um fato intrigante, pois na prática é preciso preservar a memória coletiva e conciliá-la com a memória subterrânea, afim de priorizá-la, mantendo-a intacta até determinado momento, onde a mesma possa se tornar vital e capaz de sair desse casúlo que a aprisiona e vir a ter o seu impacto na sociedade. A memória coletiva passa por um processo onde a mesma é percebida e analisada em seu processo de enquadro, a mesma é constituida por um amontoado de memórias e no trabalho de enquadramento há a forte contribuição da história.Os meios que ajudam e dão norte para este enquadramento são os museus, bibliotecas, monumentos, vestigios arqueologicos que solidificam a memória; É preciso levar em conta as lembranças, que é importante para auxilio da captação da memória,a produção de filmes também é um instrumento importante para revitalização da memória, sendo um poderoso meio de abordar questões que não foram alvo de atenção, trazendo a sensibilibidade das emoções e impede o esquecimento de períodos e memórias. Ao perceber o processo de enquadramento, a narrativa e memória individual se torna uma árdua tarefa, principalmente em casos de Guerras Civis, onde tem-se a vitória e a derrota e apartir desse momento histórico, as pessoas lidam com suas lembranças antigas que expõe suas dores e que acabam sendo silenciadas pela motivação de uma integração, ou pelo fato de não serem enquadradas na memória coletiva.Essa problemática deixa evidente a construção de uma narrativa acerca da memoria antiga e do discurso de continuidade da vida de um sujeito, organizar esse amontoado de lembranças e concilia-lo com o cursor da vida é um exercicio um tanto dificil, com a possibilidade de silência-lo existe uma “desassociação” dessa memória, a mesma não é enquadrada e os próprios sujeitos preferem não se interligar com estas memórias. Os aspectos apresentados pelo autor partem do principio de que a memória coletiva em sua construção tem particularidades individuais que de forma intrínseca interagem com as memória individual e subterrânea de um sujeito, e essa lembrança subterrânea perpassa por areás profundas e conflitantes que condicionam o sujeito a silência-la em muitas circunstâncias.