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no Brasil e
nos Estados Unidos
ETHEL V. KOSMINSKY
ETHEL V. KOSMINSKY é professora de Sociologia
da Unesp – campus de
Marília – e diretora-
primeira secretária do
Ceru–USP.
O
inevitável desaparecimen- tatou já nos anos 20. A memória, quer indi-
to da geração de imigran- vidual quer coletiva, é constituída por acon-
tes judeus procedentes da tecimentos vividos pessoalmente e, em se-
Europa Oriental no Brasil gundo lugar, por acontecimentos expe-
e nos Estados Unidos, pa- renciados pelo grupo ou pela coletividade
íses onde se fixaram entre à qual a pessoa pertence.
1911 e 1948 e entre 1905 e
1922, respectivamente, leva-nos a uma in- “São acontecimentos dos quais a pessoa
dagação: o que as filhas desses imigrantes nem sempre participou mas que, no imagi-
conservam na memória das narrativas con- nário, tomaram tamanho relevo que, no fim
tadas pelos pais sobre a vida nos shtetln? das contas, é quase impossível que ela con-
Como as pequenas cidades são lembradas, siga saber se participou ou não. Se formos
mais de meio século depois do Holocausto, mais longe, a esses acontecimentos vividos
pela segunda geração de mulheres cuja por tabela vêm se juntar todos os eventos
experiência de vida foi construída nas ci- que não se situam dentro do espaço-tempo
Uma versão preliminar deste tra- dades de Nova York e de São Paulo? Em de uma pessoa ou de um grupo. É perfeita-
balho foi apresentada no 23o En-
contro Anual da Anpocs, no GT caso positivo, como essa memória é pre- mente possível que, por meio da socializa-
Migrações Internacionais, em ou-
tubro de 1999, e é parte da pes-
servada e institucionalizada? Em caso ne- ção política, ou da socialização histórica,
quisa “A Segunda Geração de gativo, quais as razões para o não cultivo ocorra um fenômeno de projeção ou de iden-
Mulheres Judias no Brasil e nos
Estados Unidos”. A coleta dos dessas recordações? São essas questões tificação com determinado passado, tão for-
dados foi possível graças à bolsa que procuraremos responder ao longo des- te que podemos falar numa memória quase
de pesquisa no exterior da Fapesp,
em 1998. te trabalho. herdada” (Pollack, 1992, p. 201).
e te
diretamente as entrevistadas dos Estados
Unidos e mais a existência de instituições
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que procuram preservar a língua e a cultura
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ídiche nesse país podem ter levado ao cres-
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cente interesse pela vida na Europa Orien-
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tal antes do genocídio. Assim, Bea procu-
e
rou conhecer pessoalmente o shtetl e os
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parentes afastados da família, que ainda
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vivem na região. Roberta demonstrou um
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interesse intelectual muito grande: “Agora
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eu estou em um momento da minha vida
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em que eu trouxe o que estava para trás
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para a frente, certamente que de um ponto
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de vista distante, quase que olhando para
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trás como uma estudante, mais do que da
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perspectiva da minha própria família”.
e
Instituições tais como Yivo, Workmen’s
Circle, Jewish Genealogical Society exer-
cem o papel de instrumentos de atualiza-
ção da memória da vida e da cultura das
e
pequenas cidadezinhas onde viveram os
judeus da Europa Oriental. A isso se acres-
centa a grande produção cultural norte-
americana sobre o assunto, através de li-
vros de pesquisa e de literatura, publica-
ções de modo geral, existência de museus,
atuando como veículos de persistência da
memória. O acesso à informação, desse
modo, é muito mais amplo do que no Bra-
sht
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