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Resenha do Filme:
“NARRADORES DE JAVÉ”
NITERÓI
2013
1
1. INTRODUÇÃO
2. APRESENTAÇÃO DO FILME
3. ANÁLISE:
2
DIEGUES, Carlos. Disponível em: HTTP: //cinema.terra.com.br. Acesso: 24/05/2013 às 22h46min.
3
O filme coloca em discussão primeiramente o valor da memória, da história oral e de
patrimônio histórico para as sociedades. Por isso, cabe aqui, conceituarmos “memória” que é
um tema divergente entre muitos autores que se colocam a discutir.
Para Maurice Halbwachs, nos anos 1920-30, diz que memória deve ser entendida também
ou, sobretudo, como um fenômeno coletivo e social, ou seja, como um fenômeno construído
coletivamente e submetido a flutuações, transformações, mudanças constantes. 3
Halbwachs vai mais adiante dizendo que a esses acontecimentos vividos por tabela vêm
se juntar todos os eventos que não se situam dentro do espaço-tempo de uma pessoa ou de um
grupo.4
A memória tem seus fragmentos e/ou divisões que podem caracterizá-la. Nesse sentido,
(Pollak: 1992) subdividi defendendo que memória são lugares de comemoração, que é
seletiva, um fenômeno construído, um elemento constituinte do sentimento de identidade. De
forma resumida pode-se dizer, segundo Pollak que, na memória mais pública, nos aspectos
mais públicos da pessoa, pode haver lugares de apoio da memória, que são os lugares de
comemoração. Os monumentos aos mortos, por exemplo, podem servir de base a uma
relembrança de um período que a pessoa viveu por ela mesma.
A memória é em parte, herdada, e não se refere apenas à vida física da pessoa. A
memória também sofre flutuações que são função do momento em que ela é articulada, em
que ela está sendo expressa. As preocupações do momento constituem um elemento de
estruturação da memória.
Também expõe a questão memória acreditando que a sua organização em função das
preocupações pessoais e políticas do momento mostra que a memória é um fenômeno
construído. E tal construção, se tem em nível individual, ou seja, os modos de construção
podem tanto ser conscientes como inconscientes. O que a memória individual grava, recalca,
exclui, relembra, é evidentemente o resultado de um verdadeiro trabalho de organização.
No caso de Narradores de Javé, se constrói através da relação conflituosa de interesses
pessoais, (como é o caso de Sonja e também coletivamente; os moradores de javé) e os
interesses do Estado.
E para concluirmos o pensamento de Pollak, a memória é um elemento constituinte do
sentimento de identidade, tanto individual como coletiva, na medida em que ela é também um
3
Ibidem. POLLAK, Michael. p. 200-212.
4
Ibidem.
4
fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa
ou de um grupo em sua reconstrução de si.5
Nesse conceito defendido por Pollak vimos que a cidade do filme analisado em questão,
adotou tal sentimento onde os indivíduos dessa cidade (o vale de Javé) possuíam
individualmente e coletivamente que ficou marcado na memória de cada um que fortalecia o
vínculo em sua cidade. Esse vínculo está entrelaçado com o fenômeno construído, agindo
como um processo de construção das fortes relações humanas ligadas a terra.
Porém, (LE GOFF: 1990) também acredita nesses vínculos marcados das relações sociais
por um diferente viés. Para ele,
Essa “conservação das informações" tem vieses diferentes entre ou sob o olhar de
alguns autores. Exemplo disso, como cita Pollak pautado nas teorias de Émile Durkheim cita
que a ênfase é dada à força quase institucional dessa memória coletiva, à duração, à
continuidade e à estabilidade. Também para Halbwachs, longe de ver nessa memória coletiva
uma coerção, uma forma específica de dominação ou violência simbólica, acentua as funções
positivas desempenhadas pela memória comum, de reforçar a coesão social, não pela coerção,
mas pela adesão afetiva ao grupo, onde o termo que utiliza de "comunidade afetiva" mostra
um pouco disso.
Essa ação coletiva de afetividade e sentimentos da qual enfatizo, é de muitas formas
transplantada e petrificada para resgate e reflexões da memória. Assim, o patrimônio histórico
está diretamente entrelaçado com sentimentos instituídos pela memória coletiva por uma ação
psíquica e de relação social.
5
Ibidem. POLLAK, Michael. p. 200-212.
6
LE GOFF, Jacques. História e memória. Tradução Bernardo Leitão - (Coleção Repertórios) - Campinas, SP,
Editora da UNICAMP, 1990. p. 423.
7
POLLAK,Michael. Memória, Esquecimento, silêncio. Tradução é de Dora Rocha Flaksman. Estudos
Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n. 3, 1989, p. 3-15.
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Apesar das ideias defendidas, os autores de modo geral têm em comum a coletividade
e o processo de construção da memória. Processo que por sinal é compreendido de forma
ampla no pensamento com a aldeia de javé.
Entretanto, patrimônio histórico é preso a questões estatais que no Brasil é alvo de
grandes discussões. Maria Clementina Pereira Cunha num congresso8 levanta esse debate
chamando a atenção para o papel fundamental que possui a memória para a cidadania:
Carla Mühlhaus em um artigo para a revista nossa História questiona se essa forma
seria a melhor de proteger as principais expressões culturais do Brasil. Nesse mesmo artigo o
ex-presidente do IPHAN Glauco Campello afirma que “quem mantém a tradição é o povo”. Já
para o Historiador Joel Rufino dos Santos, “O Patrimônio cultural simbólico não é imaterial,
ele assenta no fenômeno físico do território. Isso tudo tem um lugar. O conceito de Patrimônio
Imaterial não é neutro nem inofensivo”. 10
Em 1988, a Constituição Federal também acertou o passo, segundo Carla Mühlhaus,
criando o artigo 216, que define o patrimônio cultural brasileiro como o conjunto de bens
culturais de natureza material e imaterial que se referem à ação, à memória e à identidade dos
grupos formadores da sociedade brasileira.
Por outro lado um evento que foi produzido pelo IPHAN, Lévi-Strauss, lembrou que
se globalização geral crescente interdependência econômica e intensificação dos
intercâmbios, pode também acelerar o desaparecimento de numerosas expressões culturais
como a oratura e outras formas de expressão que formam a identidade cultural dos povos. Daí
a necessidade urgente de protegê-los de alguma forma. Segundo a UNESCO patrimônio
8
Na obra Patrimônio Histórico e Cidadania: Uma Discussão Necessária, Maria Cunha expôs no Congresso
CONPRESP, algumas questões sobre a memória chamando a atenção para pontos que envolveram a conjuntura
política e econômica no momento de maior transformação e conflitos políticos em todo o mundo. A autora se
refere a inúmeros esforços de governantes para que a ação pública em torno dos patrimônios históricos seja mais
que uma burocracia estatal.
9
CUNHA, M. C. P. Patrimônio Histórico e Cidadania: Uma Discussão Necessária. In: Maria Clementina
Pereira Cunha. (Org.). O direito a memória. São Paulo: Secretaria Municipal de Cultura, 1992, v., p. 13.
10
Ibidem. MÜHLHAUS, Carla. [2004] ano 02; pp. 65-67.
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imaterial é fonte de identidade, na medida em que carrega a filosofia, os modos de vida e as
formas de pesar da vida comunitária.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A população de Javé tentou escrever sua história para se ajustar a uma Modernidade, a
qual não pertence, já que, neste caso, a diferença é vista como sinal de atraso e é usada para
legitimar o seu aniquilamento. Como não conseguem atender às exigências do “progresso” e
da civilização, desapareceriam.
Na era do capitalismo, o resgate da memória tem sido cada vez mais difícil de ser
mantido na sociedade urbana. Os valores culturais, lembranças, costumes tem se perdido nesta
“terrível” onda da globalização. Entretanto, consideramos que a memória, os patrimônios
históricos e as atividades culturais são de grande importância para afirmação de um povo,
como nação e principalmente para reflexão da história do tempo presente.
Seja a história escrita ou oral, as duas possuem considerável papel na sociedade. Tais
valores são os que nos une e nos fortalece. Entendemos que a história memória, na sua relação
muitas vezes de forma equivocada entendida como conflituosa com a história escrita, não
pode ser coloca em patamares por sua distinção metodológica.
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REFERÊNCIAS