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POLLAK, Michael. Memória e Identidade Social. In: Estudos Históricos. Rio de Janeiro, v.

5,
n. 10, p. 200-212, 1992.

Discute o problema da ligação entre memória e identidade social.


Mobiliza como teóricos:
Femand Braudel (identidade)
Pierre Nora (memoria politica)

História oral (história de vida)


Método: entrevistas
Problema: interpretar o material obtido

Maurice Halbwacbs - memoria como um fenômeno construído coletivamente


“Maurice Halbwacbs, nos anos 2(}'30,já havia sublinhado que a memória deve ser entendida
também, ou sobretudo, como um fenôme-
00 coletivo e social, ou seja, como um
fenômeno construído coletivamente e submetido a flutuações, transformações, mudanças
constantes.” p.201

Para o autor, a despeito de seu aspecto flutuante, a história oral mantem “pontos
imutáveis”
“devemos lembrar
também que na maioria das memórias
existem marcos ou pontos relativamente
invariantes, imutáveis.” p. 201

elementos constitutivos da memória, individual ou coletiva:


1- acontecimentos
a) vividos pessoalmente;
b) “acontecimentos que eu chamaria de "vividos por tabela", ou seja,
acontecimentos vividos pelo grupo ou pela coletividade à qual a pessoa se
sente pertencer” (se consolidou no imaginário) ou “memória herdada”
2- pessoas, personagens (contemporâneos ou conhecidos também por tabela);
3- Lugares (vivenciados ou herdados)
Outros acréscimos a esses elementos constitutivos da memória, feitos pelo autor:
1- “projeção ou transferências de outros eventos”.
2- vestígios datados da memória
“vestígios datados da memória, ou seja,
aquilo que fica gravado como data precisa
de um acontecimento”
Essas datas da vida privada e da vida pública, segundo o autor, podem se confundir
ou conflitar, dependendo de como foram priorizadas pelos indivíduos

Tais elementos, levam a conclusão que:


A memória é seletiva, motivo pelo qual é sistematizada dentro de uma
organização.
- Organização:
- organização em função das preocupa
ções pessoais e políticas do momento p.204
Essa organização (intencional ou intencional) leva ao entendimento de que a
memoria é um “fenômeno construído”
Em função dessa necessidade, organiza-se a memoria nacional, geradora de
conflitos, visto que determina “que datas e que acontecimentos vão ser gravados na
memória de um povo.” p.204

Memoria como construção da identidade


Elementos constitutivos:
1- unidade física (fronteiras físicas e fronteiras de pertencimento ao grupo
2- continuidade dentro do tempo
3- sentimento de coerência, ou seja, de que os diferentes elementos que formam
um indivíduo são efetivamente unificados.

Isto posto, o autor conclui que:


“Podemos portando dizer que a mem6ria é
um elemento constituinte do sentimento de
identidade,” p.204
“A construção da identidade é
um fenômeno que se produz em referencia
aos outros, em referência aos critérios de
aceitabilidade, de admissibilidade, de credibitidade, e que se faz por meio da negociação
direta com outros.”
“a memória e a identidade são
valores disputados em conllitos sociais e
intergrupais, e particulannente em conflitos que opõem grupos políticos diversos” p.205

trabalho de enquadramento da memória p.206


nessa perspectiva, para o autor:
“uma história
social da história seria a análise desse trabalho de enquadramento da memória.”

- Enquadramento da memória
- trabalho da própria memoria em si
“cada vez que uma memória está relativamente constituí¬ da, ela efetua um trabalho
de manutenção, de coerência, de unidade, de continuidade, da organização”

Identidade coletiva
“todos os investimentos que um grupo deve fazer ao longo do tempo, todo o trabalho
necessário para dar a cada membro do grupo - quer se trate de falDl1ia ou de nação
- o sentimento de unidade, de continuidade e de coerência.” p.207

“Se a memória é socialmente construída,


é óbvio que toda documentação também o
é. Para uúm não há diferença fundamental
entre fonte escrita e fonte oral” p.107

O problema da subjetividade e das fontes

CONSIDERAÇÕES DO PROF.
O tempo presente é permeado pelo tempo vivido
Que memoria nossos antepassados tem de seu tempo vivido
Historia e a escrita sobre o tempo, ou a própria passagem do tempo. Tem sentido
polissêmico.
Memoria – ato ou fenômeno de lembrar algo relacionado ao tempo. Neste sentido
possui relação com a história.
Toda memoria, enquanto fonte, é subjetiva no sentido de que ela foi construída a
partir de determinados interesses.

SLIDE
Mitologia Grega nas artes:
Mnemosin – Deusa da memoria (mulher segurando uma vela)
Saturno (Cronos) – separa a terra do universo, instaurando o tempo (cronologia).
Cronos devorando seu filho, representando o tempo que a tudo devora.

Zeus – Filho de Saturno preservado por Gaia, vai travar seu pai. Demarca a terceira
geração de deuses e instaura o tempo dos homens.
Clio – A musa da história. Filha de Zeus e Mnemozin. Tenta salvar as coisas do
mundo contra o tempo. Tenta vencer o tempo.
Os historiadores seriam, nessa perspectiva, sacerdotes de Clio, nessa tentativa de
lembrar, registrar a historia e, portanto, vencer o tempo.

Rio Lete – Rio do esquecimento. Divide o mundo dos mortais e o Aedes, mundo dos
mortos.
Quadro “o tempo subtrai a verdade dos ataques da discórdia e da inveja”
Quadro – “O tempo mostra as ruinas que leva consigo e deixa descobrir as obras de
arte.”
Quadro “O tempo conduz a verdade em direção aos degraus...”
Quadro “tempo cortando as asas do cupido”
Quadro – “A persistência da memória”

As obras mostram a relação complexa entre a memoria e a historia.


O tempo se coloca como historia, mas como também como elemento da memória.

DISCUSSÕES SOBRE O TEXTO:


-O que lembramos?
- Por que lembramos o que lembramos?
A memoria ocorre na dimensão consciente (individual) e por meio inconsciente
(coletivamente). Este ultima origina a comemoração (lembrar coletivamente).
- Como lembramos?
Nesse sentido a memoria é seletiva e socialmente construída.

A relação entre História e Memória;


A História Oral;

Caracteristicas do fenômeno da memoria


- acontecimentos vividos por tabela (memoria herdada)
- Lembramos a partir dos acontecimentos
- A memoria pode ser uma projeção
- está ligada a nossa experiencia (vida privada, vida pública)
- A memoria é seletiva (individual, coletiva, do passado e do presente)
- Parte constituinte da identidade individual coletiva;
- a memoria e a identidade são fenômenos construídos;
- Há um trabalho de enquadramento de memoria e do trabalho da memoria em si;
Exemplo: álbum da família, nome da rua e bairros, nome de monumentos, livro
didático
- Memórias assentadas (memoria pacificada) x crise da memória.
Ex: guerra da Ucrânia, conflito em função da origem da Ucrânia. Ate 2014 eram
parceiras com uma origem em comum, havendo naquele momento uma ruptura,
disputada.

DOCUMENTÁRIO: “Com quantas Ave Marias se faz uma Santa?”


1) Que características do fenômeno da memória é possível identificar no
audiovisual?
A história se deu na década de 40 do século XX. Os/as entrevistados/as relatam
memorias dos pais e dos avós - Memoria herdada
Milagres alcançados pelas entrevistadas – memoria individual.
Diversos milagres experenciados da “Santa Menina”, resultando na edificação da
capela – memória vivenciada coletivamente.
A igreja rejeitou a Menina Santa por muito tempo, o que fez a comunidade buscar
por milagres como meio de validar a santa – memoria disputada.
A igreja modificou o nome da santa que passou a se chamar Nossa Senhora das
Graças - enquadramento de memoria
Celebração anual da festa a Nossa Senhora das Graças - identidade coletiva

2) Você sabe de história semelhante a essa retratada no audiovisual? Conte?

Memoria herdada

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