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A
memória é um património chvili, 2016, pp. 101-102)
que transcende o momento de É preciso que o presente simbó-
seu registo e transita entre os lico recorra ao passado recorda-
tempos, não apenas do passa- do, consoante os enlaces daquilo
do para o presente, mas também de que se recorda ou se esquece nos
um presente para um futuro. É nes- quadros sociais da memória[1].
te sentido que nesta reflexão propo- Desenvolvidos no âmbito de mi-
mos olhar para a memória. Como crocosmos sociais (família, esco-
um património individual e coleti- la, comunidade) que dialogam e
vo, um bem intangível que coloca se ampliam na medida em que as
em diálogo o passado e o presente relações humanas evoluem no seio Valorizar o passado
ao mesmo tempo que nos projeta de uma sociedade. Toda a carga individual ou coletivo e sua
para o futuro. subjetiva dessas relações influen- memória é igualmente agregar
Este ritual de transferências mne- cia diretamente na construção de novos e mais duradouros
mónicas permite-nos entender que memórias individuais e coletivas significados ao presente vivido
o presente e as suas experiências (Halbwachs, 1997), como também
e futuro desejado.
possuem uma estreita relação de nos processos sociais e dinâmicos
dependência ao conhecimento que de recordação e esquecimento.
temos do passado (Connerton, O que se recorda e o que se es-
1993). O que nos serve como pon- quece, constitui parte do conjun-
to de partida à afirmação de que a to patrimonial mnésico de uma
memória é um património indivi- comunidade, das famílias e, por
dual e coletivo que transita entre fim, dos indivíduos. Intangíveis e
tempos, invocando a necessidade não pouco importantes, as recor-
de se valorizar o passado para se dações preenchem os espaços de
entender o presente e se projetar nossa própria identidade indivi-
o futuro. dual e coletiva (Candau, 2014). O
Valorizar o passado individual ou mero exercício de recordar e par-
coletivo e sua memória é igual- tilhar as recordações por meio das
mente agregar novos e mais dura- narrativas da memória, permite
douros significados ao presente vi- ao grupo social que se identifique
vido e futuro desejado. Isso porque com o passado narrado, encontre
[1] Cf.: Halbwachs,
tudo na nossa vida gira, conscien- seus marcos memoriais e nele sus- M. (1994). Les cadres
te ou inconscientemente, em torno tente sua própria história (Catro- sociaux de la mémoire.
dessa máxima de valorização e ga, 2011). Paris: Albin Michel.
Figura 3.
Recorte do artigo “Um Doloroso Quadro” –
Cardeal Saraiva, 18-02-1915.
Fonte · AMPL.
Figura 4.
Recorte do artigo “Sessão Solene” – Cardeal
Saraiva, 05-04-1930.
Fonte · AMPL.
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