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RESUMO
1 INTRODUÇÃO
Ser professor não é uma tarefa simples. Ensinar História significa fazer escolhas,
posicionando-se por meio de dimensões teóricas, epistemológicas e políticas. Na base dessa
discussão, encontram-se os Direitos Humanos, o cumprimento da Constituição, da tolerância
e respeito para com o próximo, da justiça e do dever de memória para com as vítimas das
ditaduras na América Latina no século XX. A escolha mais adequada e consciente para
ensinar esse assunto representa um enorme desafio aos professores.
O acesso nas redes de internet, canais de informações e à própria memória, fazem com
que as ditaduras civil-militares na América Latina estejam presentes em debates que surgem
quando o conteúdo é exposto ou mesmo quando fazemos alusão ao período em questão em
outros debates.
A escritora e crítica literária argentina Beatriz Sarlo (2007), faz referência à memória
quando defende o questionamento e a problematização sobre o passado para que se chegue ao
seu conhecimento, uma vez que a memória ou o testemunho sempre querem ser acreditados.
Ela aponta:
Não se deve basear na memória uma epistemologia ingênua cujas pretensões seriam
rejeitadas em qualquer outro caso. Não há equivalência entre o direito de lembrar e a
afirmação de uma verdade de lembrança; tampouco o dever de memória obriga a
aceitar essa equivalência. (SARLO, 2007, p. 44)
Dessa forma, observamos que o caráter seletivo da memória implica numa adição,
bem como numa subtração do que vai ser lembrado em um dado momento social e político, a
fim de atender a determinados interesses. A memória pode ser um instrumento de luta pelas
vítimas de guerras e de regimes autoritários contra a hegemonia do esquecimento de grupos.
A principal reflexão que não se pode esquecer é a seguinte: não esquecer o passado, por mais
doloroso que ele seja, precisamos elaborar uma produção de sentidos, a partir da História e da
memória que aciona esse passado.
A maneira como o Brasil lida com as ditaduras na América Latina do século XX nas
políticas públicas para o ensino de História reflete diretamente em como se escolheu lembrar
desse passado. Contudo, também não podemos esquecer que a escola enquanto corpo político,
esteve imersa nos conflitos internos durante os regimes ditatoriais e, portanto, também foi
vítima dos crimes cometidos contra os direitos humanos e do esquecimento.
Durante esse processo, pesou a forma como se deram as transições para regimes
democráticos e a ideia de anistia como esquecimento no Brasil contribuiu para a consolidação
de práticas educativas que reprimem, menosprezam ou silenciam sobre essa época. Até então,
a reflexão sobre esse passado no ensino de História ou a construção de memórias sobre o
período entre as novas gerações ainda não havia se tornado propriamente um problema no
Brasil. Mas, quando pessoas que não viveram a fase adulta no período se reúnem em
manifestações públicas para pedir a “volta” da ditadura, o reflexo do descaso começa a
assustar. Mesmo que essas manifestações não contem com adesões expressivas, elas refletem
o desconhecimento sobre o passado e abrem espaço todo tipo de manipulação.
Não foi o intuito deste trabalho solucionar o problema em questão, ou apontar a
maneira de como se deve ensinar sobre a história das ditaduras da América Latina. Contudo, é
possível apresentar alguns caminhos interessantes a serem percorridos. O primeiro trata-se da
necessidade de recuperar as narrativas em primeira pessoa que podem contribuir para a
construção de memórias mais sensíveis sobre esse passado, produzir identidades e gerar
empatias. Neste sentido, destaca-se a importância de narrativas não só sobre a repressão, mas
também sobre as resistências e a militância política durante o momento histórico, de modo
que seja possível diferenciar uma da outra e compreender os diferentes projetos de futuro que
estavam em jogo. Desse modo, fica mais fácil analisar o que era considerado subversivo e os
grupos envolvidos e atingidos por suas ideias. Ademais, é de suma importância que se
discuta não só o que se passou, mas também como foi relatado pelos atores políticos e sociais,
abrindo caminhos para outras versões e interpretações sobre o passado. Porque é só ao
colocar em diálogo tais dimensões da história que se entende as diferentes representações
sobre as Ditaduras Militares na América Latina no século XX.
4 REFERÊNCIAS
SARLO, Beatriz. Tempo passado. Cultura da memória e guinada subjetiva. São Paulo: Cia
das Letras, Belo Horizonte: UFMG, 2007.
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. História, Memória e as disputas pela representação do passado
recente. Patrimônio e Memória, Assis, v. 9, n. 1, p. 56-70, jan./jun. 2013.
CIAMPI, H.; CABRINI, C. Ensino de história: histórias e vivências. In: CERRI, L. F. (org.).
O ensino de história e a ditadura militar. 2. ed. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 2003.
REVISAR ditadura nos livros de história exigiria novo currículo e novas evidências, dizem
especialistas. 4 abr. 2022. Disponível em:
https://g1.globo.com/educacao/noticia/2019/04/09/revisar-ditadura-nos-livros-de-historia-exig
iria-novo-curriculo-e-novas-evidencias-dizem-especialistas.ghtml. Acesso em: 5 ago. 2022.