Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
EDITORIAL
Dezembro
Junho dede
2018
2016 1
Editorial
Paula Hilgert de Souza (UFGD). O texto aborda como, no atual cenário polí-
tico, alguns princípios básicos assegurados pela Lei nº 9394-96, as Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, estão sendo atacados pelo “Movimento Escola
sem Partido”. Além de propor a necessidade de desfazer equívocos básicos nas
formulações dos militantes conservadores sobre a temática de gênero, a autora
aponta a necessidade de reflexões a respeito das potencialidades do professor
na construção de uma educação não engessada por propostas políticas unila-
terais. Em sua perspectiva é momento de resistir e superar as negligências que
o ensino de História tem reservado a essa temática em sala de aula.
Em “História Antiga no ensino fundamental: Um estudo sobre a os mitos
gregos antigos e a consciência histórica”, Guilherme Moerbeck (Uerj) apre-
senta os resultados de uma pesquisa empírica, baseada em uma instigante ex-
periência pedagógica desenvolvida com alunos do 6º ano do ensino público do
município de Duque de Caxias (RJ). A experiência, centrada na produção es-
crita, revela como ao entrarem em contato com as narrativas míticas, presentes
nos currículos dos 6os anos do Ensino Fundamental, os estudantes desenvol-
vem a criação de um universo de alteridades, possibilidades de identificação e
leituras novas sobre a realidade do presente.
Num momento em que o país define novas expectativas de futuro, fica
claro, nas pesquisas e práticas aqui apresentadas, como o ensino de História
pelo alargamento da crítica integra, no currículo escolar, um espaço de resis-
tência onde é permitido pensar novos futuros possíveis, e desenvolver lutas
comprometidas com a superação das desigualdades e o respeito à diversidade.
Nossa revista permanecerá como caixa de ressonância dessas múltiplas vozes,
de pesquisadores e docentes, que através de suas investigações, reflexões e ex-
periências apostam nessas lutas.
Por fim, lamentamos profundamente o atraso na publicação deste núme-
ro. Estamos envidando todos os esforços para recuperar o tempo perdido e
manter sua periodicidade.
Boa Leitura!
Junho de 2018 3
Ê
S SI
DO
APRESENTAÇÃO
Ensino de História,
Direitos Humanos e Temas Sensíveis
History Teaching, Human Rights and Sensitive Issues
Juliana Alves de Andrade*
Carmem Zeli de Vargas Gil**
Juliana Pirola Balestra***
* Docente da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Recife, PE, Brasil. julia-
nadeandradee@hotmail.com
** Docente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Porto Alegre, RS,
Brasil. carmemz.gil@gmail.com
*** Docente da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), Instituto
Latino-Americano de Arte, Cultura e História (Ilaach). Foz do Iguaçu, PR, Brasil. juliana.
balestra@unila.edu.br
Junho de 2018 5
Apresentação • Dossiê
6 Revista
RevistaHistória
HistóriaHoje,
Hoje,vol.
vol.7,5,nº
nº13
9
Apresentação • Dossiê
Dezembro
Junho dede
2018
2016 7
Apresentação • Dossiê
para a reflexão. Não adianta ficar chocado, só; com bolo no estômago, só. É pre-
ciso transformar o conhecimento em trabalho de reflexão: como foi possível che-
garmos a esse ponto? Podemos dizer que as violações de direitos humanos e os
horrores estão restritos a esse tema estudado? (Alberti, 2014, p.3)
Junho de 2018 9
Apresentação • Dossiê
chega como algo natural depois das ditaduras, fruto só de acordos e consensos,
mas como uma conquista que só se efetiva quando a sociedade luta para alcan-
çá-la. Conhecer esse processo permite, portanto, manter-se vigilante em sua
defesa permanente. A pesquisa foi realizada em quatro cidades chilenas (La
Serena, Valparaíso, Santiago e Concepción) e contou com a participação de
mais de 600 estudantes, os quais destacaram a participação de atores sociais,
mais que políticos, nessa história.
O artigo de Marisa Pineau, “África en Argentina. Enseñando historia afri-
cana en las universidades argentinas”, questiona a prerrogativa da Argentina
como um país formado por descendentes europeus, invisibilizando a popula-
ção afrodescendente na história nacional e no imaginário social. A partir da
experiência desenvolvida na Universidad de Buenos Aires, a autora desenvolve
sua reflexão sobre os limites e possibilidades do ensino da história da África
nas universidades argentinas, com ênfase em interculturalidade, direitos hu-
manos e relações étnico raciais.
As reflexões propostas por Carmem Zeli de Vargas Gil e Jonas Camargo
em “Ensino de história e temas sensíveis: abordagens teórico-metodológicas”,
por sua vez, retomam a definição conceitual de temas sensíveis e traçam algu-
mas reflexões sobre a sua abordagem no cotidiano escolar. Quais são os temas
sensíveis? Para quem são sensíveis? Com que fins abordá-los em aulas de
História? São sensíveis em si ou se tornam, dependendo do encaminhamento
do professor e das necessidades dos alunos? Essas e tantas outras questões são
instigadas pelos autores a partir de inquietações compartilhadas em múltiplas
vozes que destacam a abordagem da última ditadura civil-militar no Brasil e o
racismo associado à migração de senegaleses para o Brasil.
O artigo de Humberto Miranda, “Aulas de História e direitos da criança
e do adolescente: entre possibilidades e desafios”, situa o Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA) no seu momento de construção e tensiona o “sujeito
universal” que nele está presente. Ele nos instiga a pensar as infâncias e os
direitos humanos na perspectiva da história ensinada, convidando-nos a re-
fletir sobre as questões que envolvem os sujeitos protegidos pelo ECA como
questões socialmente vivas nas aulas de História.
Ao final, a emocionante entrevista realizada com Vera Carnovale, “A dor
dos outros como tema das aulas de história”, nos inspira a assumir com mais
Junho de 2018 11
Apresentação • Dossiê
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval M. de. Fazer defeitos nas memórias: para que ser-
vem o ensino e a escrita da história? In: GONÇALVES, Márcia de A. Qual o valor
da história hoje? Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2012.
BUTLER, Judith. Quadros de Guerra: quando a vida é passível de luto?. Trad. Sérgio
Tadeu de N. Lamarão e Arnaldo M. da Cunha; rev. de trad. Marina Vargas; rev.
técnica Carla Rodrigues. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.
RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. São Paulo: Ed. 34, 2005.
Junho de 2018 13
Ê
S SI
DO
Resumo Abstract
Este artigo aborda temas socialmente This article discusses socially controver-
controversos e sensíveis no âmbito do sial subjects and sensitive themes in the
ensino de história. As questões social- context of History teaching. Socially
mente vivas se constituem na contempo- keen questions are built nowadays on
raneidade em objetos privilegiados dos History curricula’s privileged objects,
currículos de história, em função, por according to social demands of identity
um lado, das demandas sociais de grupos groups, such as minorities, and move-
identitários e, de outro, dos movimentos ments that seek to restrict the freedom
que buscam interferir na liberdade de en- to teach and the right to learn, which are
sinar e no direito de aprender, direitos guaranteed by the Brazilian Federal
assegurados na Constituição Federal de Constitution of 1988. This study aims to
1988. O artigo quer construir a categoria analyze the category of living past as a
de passado vivo como elemento central central element in History teaching cur-
na constituição de currículos de ensino ricula establishment, thus, we made a
de história e, para isso, vale-se de um du- double movement: productivity of re-
plo movimento: a produtividade dos siduality and remnant concepts, and the
conceitos de residualidade e remanes- connection of History teaching with the
cência, e a decidida conexão da prática field of education about human rights.
docente em história com o campo da We conclude by discussing some school
educação em direitos humanos. Ao final, situations that faced these issues.
discutem-se algumas cenas escolares on- Keywords: residuality; remaining forms;
de tais questões foram enfrentadas. sensitive education.
Palavras-chave: residualidade; remanes-
cência; educação em temas sensíveis.
Revista
Revista História Hoje,História Hoje,
v. 7, nº 13, vol. 7,- 2018
p. 14-33 nº 13
Ensino de História: passados vivose educação em questões sensíveis
Junho de 2018 15
Nilton Mullet Pereira e Fernando Seffner
Junho de 2018 17
Nilton Mullet Pereira e Fernando Seffner
Junho de 2018 19
Nilton Mullet Pereira e Fernando Seffner
tal forma que este nos permita abrirmo-nos a uma experiência alheia, nova,
inusitada, que nos desloca do presente e nos leva ao futuro. Esse outro elemen-
to que não é do pertencimento, mas sim do estranhamento, também é frutífero
para o ensino de história e para a vida, porque nos leva a pensar o passado
tendo um uso que permite problematizar o presente e pensar experiências
ainda impensáveis neste momento. Pensar o passado como diferença é poder
pensar o impensável, que é aquilo que, justamente, nos faz dar o salto no pre-
sente para pensar novos mundos possíveis.
Eis, portanto, duas urgências no ensino de história para os direitos huma-
nos: se, por um lado, compreendemos que não se pode organizar um currículo,
uma aula de história que dê conta dos temas desestruturantes da vida dos jo-
vens e da sociedade brasileira nos tempos atuais – que lhes permita compreen-
der o que é o presente e se orientar no presente, construir uma identidade, criar
referenciais –, por outro lado é necessário para a aprendizagem histórica outro
salto, que é pensar a diferença na forma da alteridade. Ou seja, “aprendo sobre
mim mesmo na relação com o outro, mas, sobretudo, aprendo com o outro a
experiência que nunca tive”, e é isso o que permite a movimentação no tempo
em direção ao futuro para novas experiências.
Com base nessa dupla preocupação, que nos parece estar resumida no
campo dos direitos humanos e da aprendizagem histórica na forma da abor-
dagem das questões sensíveis, procuramos pensar duas questões interiores a
essa dupla preocupação. A primeira consiste em pensar que os temas sensíveis
indicam outra maneira de construir a temporalidade. Se pensamos um tema
sensível ancorado na ideia de que o passado é exterior ao presente, não estamos
colocando elementos da sensação para discutir o tema sensível. Em nossa con-
cepção, um tema sensível vive do paradoxo temporal: o passado convive com
o presente; um passado que não passa; um presente que não deixa de ser pas-
sado. Um tema sensível não pode ser analisado do ponto de vista cronológico,
evolucionista, progressivista, como pensaram os iluministas ou como pensou
o eurocentrismo. Para refletir sobre o nazismo é preciso se dar conta de que
ele não é algo do passado, que deve ser estudado com distanciamento, do ponto
de vista metodológico, teórico, que nos coloque numa situação de leitores de
algo que nos é alienado, exteriorizado. O nazismo é algo que nos indica um
paradoxo temporal: ele é, ao mesmo tempo, passado e presente. Os seus efeitos
se estendem no presente e, infelizmente, se estenderão, ainda, ao futuro. O
Junho de 2018 21
Nilton Mullet Pereira e Fernando Seffner
racismo decorrente da escravidão das pessoas negras no Brasil não é algo que
passou: é algo que não passa, não cessa de multiplicar os seus efeitos. Temos
aí o paradoxo temporal: ninguém poderá, simplesmente, ensinar a cronologia
da escravidão sem pensar que a escravidão não é outra coisa senão o elemento
ao qual está ligado o processo de colonialidade e estão ligados os processos de
racismo e discriminação que existem em nossa sociedade.
Faz toda a diferença dar-se conta de que “quando penso um tema sensível,
tenho que me abrir; tenho que estar em abertura; tenho que estar despersona-
lizado de todas as determinações que o conhecimento europeu, desde
Descartes, tem instituído para mim. Tenho que abandonar tanto o racionalis-
mo quanto o empirismo; e, sobretudo, tenho que abandonar a ideia da crono-
logia como se fosse algo natural do pensamento histórico”. O mais importante
que a história nos ensina é que não há nada que seja “da natureza”; nada que
possa ser universal; nada que possa se colocar como uma narrativa que abranja
todas as outras narrativas. Logo, o tempo cronológico não é outra coisa senão
uma criação – e uma criação perversa; é uma espécie de colonialidade do tem-
po (Quijano, 2005),2 de tal modo que pensamos no interior dessa maneira de
dar conta do tempo no nosso dia a dia, na nossa vida e na nossa relação com
o passado. Não é uma coisa simples de se romper, uma vez que continuamos
ainda colonizados. Supor que há uma essência na história, que seja pensá-la
do ponto de vista cronológico, é trair a própria história. Afinal, ela indica que
não há uma narrativa universal, não há uma única forma de pensar o tempo.
A experiência do tempo dos indígenas Guarani é absolutamente incomensu-
rável se partirmos dessa temporalidade europeia, eurocentrada.
A segunda questão que nos auxilia a pensar os temas sensíveis é “apren-
dizagem e experiência”. Estamos propondo que a aprendizagem de um tema
sensível só pode ter sentido se for uma aprendizagem da experiência (Bondía,
2002). Quando aprendemos alguma coisa, do ponto de vista da filosofia ante-
rior a Descartes, aprendemos para nos transformarmos com aquilo que apren-
demos (Foucault, 2004). A aprendizagem não é vista como um mero acúmulo
de qualquer coisa, nem de conceitos, nem de informações. A aprendizagem
implica uma transformação subjetiva. E é isso que compreendemos aqui como
aprendizagem. Podemos pensar o tema do genocídio indígena no Brasil. É
possível apenas dizer que existiu o genocídio no Brasil e discutir as causas
desses processos, dar-lhes datas, informações, fazer levantamentos de
Junho de 2018 23
Nilton Mullet Pereira e Fernando Seffner
Junho de 2018 25
Nilton Mullet Pereira e Fernando Seffner
e loiro. Ninguém faz pergunta nenhuma, todos tentam ficar em silêncio; pro-
cedendo assim, querem ajudar o estagiário, nota-se que têm simpatia por ele,
mas não conseguem estabelecer um diálogo. Ele se esforça para que os alunos
participem, está muito nervoso, e eu tenho uma parcela importante de culpa
nisso, pois estou aqui como supervisor do estágio. Me apresentei à classe de
alunos dizendo claramente que estava ali para avaliar o trabalho docente do
estagiário, não tenho como dizer outra coisa, é essa a minha tarefa. Solicitei a
colaboração dos alunos e alunas para o sucesso da aula e sentei no fundo, como
sempre, com o bloco de anotações na frente. Sempre que escrevo algo no bloco,
percebo que os alunos e alunas olham com curiosidade. Já estou contando os
minutos para que toque a sineta, embora sabendo que terei de voltar outro dia,
pois, com um desempenho assim não há como me dar por satisfeito com o
trabalho do estagiário. A tarde está perdida. Aí acontece algo que muda tudo.
Uma sirene estridente de polícia se escuta ao longe, vai crescendo, captura a
atenção de todo mundo, logo já vemos a viatura policial da brigada militar
passando em frente à escola. Nos damos conta de que são duas viaturas, na
realidade. Elas reduzem muito a velocidade, a tal obra do outro lado da rua está
cercada por montes de saibro, difícil passar pela frente da escola, penso que
mesmo o meu carro deve estar atrapalhando o trânsito, pois deixei meio atra-
vessado entre calçada e rua. As sirenes não permitem que se escute mais nada,
todo mundo olha, crianças se levantam das cadeiras. A coisa passa, a situação
volta ao que estava antes. E uma aluna afirma – ou pergunta – com voz muito
audível: “estão perseguindo um negro, que nem lá, onde o professor estava fa-
lando, não é?”. Imediatamente a sala fica inundada de observações feitas por
outros alunos, nem consigo anotar tudo, pois são muitas falas ao mesmo tempo,
mas se escutam afirmações como: “Quando entro no supermercado X (grande
rede em Porto Alegre), sempre o fiscal fica me seguindo”. “Na padaria lá na
faixa os outros pegam o pão no balcão e vão pagar no caixa. Quando sou eu,
eles levam o pão ao caixa, eu pago, e só depois eles me entregam o pão”. “A
minha mãe e eu fomos no crediário, e ela deixou a bolsa na cadeira, enquanto
ia beber água no bebedouro, e quando voltou e pegou a bolsa de novo, o guarda
veio perguntar se a bolsa era dela mesmo”. “Eu disse pra minha tia que eu nem
quero mesmo tênis novo no Natal, porque negrão com tênis novo é roubada
na certa, é muita explicação o tempo todo”. A agitação sobe de tom quando
uma aluna diz em voz bem alta “e tem aquela professora querida que falou um
dia que para ser empregada doméstica a gente nem precisava estudar muito, no
nosso caso, emprego era mais importante do que estudo”. O passado ligado à
raça e à escravidão não passou; bastou uma sirene, e ele invadiu a sala. Para meu
espanto, o estagiário se anima, bate palmas, pede atenção, parece que o ligaram
na corrente de 220 volts. Traça uma linha de caneta vermelha dividindo o qua-
dro branco (a única coisa moderna que há nessa sala) e, enquanto escreve, vai
dizendo aos alunos “aqui desse lado, a gente vai fazer uma lista de coisas como
eram antes, antigamente, no tempo da escravidão; e aqui desse outro lado, a
gente vai escrever como é hoje, todo mundo tem que copiar tudo, e depois a
gente vai fazer um debate”. Percebo que a tarde foi salva pela sirene da polícia.
Mais surpreso fico quando os alunos listam os elementos “de antigamente” com
precisão, ou seja, eles haviam escutado e guardado na memória, talvez apenas
não soubessem o que fazer com aquilo. Quando a lista “das coisas de hoje”
começa a ser feita, uma aluna sugere que se faça como em alguns exercícios do
livro, ligue a coluna da direita com a da esquerda. Todo mundo ri e concorda,
os alunos agora estão também conduzindo a aula, o poder se repartiu entre
docente e discentes. A afirmação de antigamente, “trabalhavam e não ganha-
vam salário”, fica ligada por uma seta com a afirmação de hoje, “trabalham e
ganham o salário mais baixo do mercado”. Fazem-se conexões ligadas a local
de moradia, religião, maus tratos, preconceito. Verdade seja dita, tudo é feito
de modo um tanto aligeirado, mas há agora um vigor na sala, um envolvimento,
que contrasta nitidamente com o momento anterior. E assim a aula segue, até
que a sineta da troca de períodos interrompe tudo e os alunos correm para fora.
Alguém falou que a ventania da chuva já dá para ver ao longe, o desejo de qual-
quer pessoa sensata numa tarde dessas é que a chuva comece logo. Um menino
se aproxima de mim e diz com o ar mais zombeteiro que se possa imaginar: “a
gente acha o nosso professor muito massa, mas ele precisa de um empurrão
toda hora, é sempre assim, mas ele é mais legal que a nossa professora. Ela, nem
adianta empurrar mais, ela não anda”. O menino nem espera eu comentar al-
guma coisa, sai empurrando os outros meninos a sua frente, aos gritos de “em-
purra gente, empurra gente”.
Junho de 2018 27
Nilton Mullet Pereira e Fernando Seffner
Junho de 2018 29
Nilton Mullet Pereira e Fernando Seffner
REFERÊNCIAS
Junho de 2018 31
Nilton Mullet Pereira e Fernando Seffner
NOTAS
1
Tal estrutura pode ser conhecida no sítio web mantido pela Rede Direitos Humanos, or-
ganização não governamental que atua em estreita sintonia com as políticas públicas da
área. Disponível em: https://goo.gl/Yr17UJ; acesso em: 25 dez. 2017.
2
QUIJANO (2005) elaborou a ideia de colonialidade do poder, com respeito aos processos
de constituição histórica das relações de desigualdade baseada na raça, estabelecidas pelos
europeus desde o processo de colonialismo.
3
Entrevista sobre a Teoria da Residualidade, com Roberto Pontes, concedida a Rubenita
Moreira (5 e 14 jun. 2006), e lida na Jornada da Residualidade, em 13 de julho de 2006 na
Universidade Federal do Ceará (UFC). O professor Pontes faz parte do Grupo de Estudos
de Residualidade Literária e Cultural (Gerlic), que atua desde 1991 no Curso de Letras/
Departamento de Literatura da UFC.
4
“Por ‘residualidades medievais’ ou ‘reminiscências medievais’ devem-se entender justa-
mente as formas de apropriação dos vestígios do que um dia pertenceu ao medievo, altera-
dos e/ou transformados no decurso do tempo. Nesta categoria encontram-se, por exemplo,
as festas, os costumes populares, as tradições orais de cunho folclórico que remontam aos
séculos anteriores ao XV e que preservam algo ainda do momento em que foram criados,
mesmo tendo sofrido acréscimos, adaptações, alterações. Festas como a de Corpus Christi,
as Folias de Reis e a Festa do Divino Espírito Santo, o Natal, e mesmo o Carnaval, foram um
dia ‘medievais’ e persistem, mas não da mesma forma, nem desempenhando os mesmos
papéis na Europa ou em outras partes do mundo para onde foram levadas” (MACEDO,
2011, p.13).
5
Sobre a misoginia medieval, ver BLOCH (1995).
Junho de 2018 33
Ê
S SI
DO
Resumo Abstract
Este texto visa apresentar reflexões sobre This text aims to present reflections on
as experiências vivenciadas por docentes History teachers experiences concern-
de história envolvendo o ato de apren- ing human rights principles learned and
der e ensinar os princípios dos direitos taught in Brazilian universities, espe-
humanos nas universidades brasileiras, cially in times of uncertainty and in-
sobretudo em tempos de incertezas e creasing social inequality. We present
crescente desigualdade social. Compar- two formative experiences carried out
tilhamos duas experiências formativas in 2017 in Higher Education Institu-
realizadas ao longo de 2017 em Institui- tions (IES) located in the cities of Recife
ções de Ensino Superior (IES) situadas and São Paulo. Our objective is to prob-
nas cidades de Recife e São Paulo. Nosso lematize the extent to which the experi-
objetivo é problematizar em que medida ences lived in IES dialogue with the pro-
as práticas vivenciadas nas IES dialogam posals announced by the legal
com as proposições anunciadas pelos provisions that guide the pedagogical
dispositivos legais e normativos do cam- practice from the perspective of human
po da educação em direitos humanos, rights education, as well as to present
bem como apresentar as referências que the references that support the work ac-
amparam o trabalho realizado no curso complished in the undergraduate course
de licenciatura em História na UFRPE e in History at UFRPE (Pernambuco) and
na disciplina de direitos humanos de in the discipline of Human Rights at
universidades paulistanas. universities in the city of São Paulo.
Palavras-chave: História; ensino; direi- Keywords: History; teaching; human
tos humanos. rights.
como alguém que não se respeita, que não respeita os seus próprios direitos, que
às vezes nem os conhece e que não sabe defendê-los, poderia ensinar outro al-
guém sobre o exercício de algum direito ou sobre qualquer outro conteúdo de
forma crítica e emancipadora? Ou como alguém que está desacostumado a ser
Junho de 2018 35
Eduardo Silveira Netto Nunes e Juliana Alves de Andrade
ético pode agir socialmente com justiça? Ou, ainda, como um professor que se
deixa vencer pela rotina, por mais dura que possa ser, pode contribuir para a
formação de sujeitos que exerçam plenamente a sua cidadania e saibam defender
os seus direitos civis, sociais e políticos? (Padilha, 2008, p.169)
Junho de 2018 37
Eduardo Silveira Netto Nunes e Juliana Alves de Andrade
Junho de 2018 39
Eduardo Silveira Netto Nunes e Juliana Alves de Andrade
somente depois da Declaração Universal (de 1948) é que podemos ter certeza
histórica de que a humanidade – toda a humanidade – partilha alguns valores
comuns; e podemos, finalmente, crer na universalidade dos valores, no sentido
em que universal significa não algo dado objetivamente, mas algo subjetivamente
acolhido pelo universo dos homens. Esse universalismo foi uma lenta conquista.
(Bobbio, 1992, p.28)
os direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos históricos,
ou seja, nascidos em certas circunstâncias, caracterizados por lutas em defesa de
novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de modo gradual, não todos
de uma vez por todas ... (o desafio é criar as condições para a) mais ampla e es-
crupulosa realização dos direitos proclamados. (Bobbio, 1992, p.23)
dignidade humana. Esses direitos não são bens duráveis; ao contrário, são bens
frágeis que precisam atenção, proteção e cuidado. Os direitos humanos forta-
lecem uma busca por construir novas relações e novas histórias sociais, pau-
tadas pela afirmação concreta de dimensões materiais da vida individual e
coletiva agasalhadas no repertório e na amplitude dos direitos humanos.
Assim sendo, pensar na educação em direitos humanos no Brasil é, sim,
relacionar-se com pautas dignas no campo “universal”, mas, sobretudo, é tam-
bém ter consciência do território, das dinâmicas sócio-históricas, das violên-
cias e das lutas que constituem e constituíram as múltiplas realidades nacionais
e das “gentes” que aqui constroem e vivem suas experiências. Nesse sentido,
tomar como referência na educação em direitos humanos o contexto, a histó-
ria, a vida cotidiana, os conflitos e as práticas que envolvem nossa formação,
é fator premente na construção de uma sociedade mais justa e democrática.
Tanto que esses aspectos foram “recomendados”, explicitamente no parecer
que subsidiou a aprovação no Brasil das Diretrizes Nacionais para a Educação
em Direitos Humanos:
A Educação em Direitos Humanos tem por escopo principal uma formação éti-
ca, crítica e política. A primeira se refere à formação de atitudes orientadas por
valores humanizadores, como a dignidade da pessoa, a liberdade, a igualdade, a
justiça, a paz, a reciprocidade entre povos e culturas, servindo de parâmetro éti-
co-político para a reflexão dos modos de ser e agir individual, coletivo e institu-
cional.
A formação crítica diz respeito ao exercício de juízos reflexivos sobre as relações
entre os contextos sociais, culturais, econômicos e políticos, promovendo práticas
institucionais coerentes com os Direitos Humanos.
Junho de 2018 41
Eduardo Silveira Netto Nunes e Juliana Alves de Andrade
Junho de 2018 43
Eduardo Silveira Netto Nunes e Juliana Alves de Andrade
Junho de 2018 45
Eduardo Silveira Netto Nunes e Juliana Alves de Andrade
Junho de 2018 47
Eduardo Silveira Netto Nunes e Juliana Alves de Andrade
Junho de 2018 49
Eduardo Silveira Netto Nunes e Juliana Alves de Andrade
Junho de 2018 51
Eduardo Silveira Netto Nunes e Juliana Alves de Andrade
Junho de 2018 53
Eduardo Silveira Netto Nunes e Juliana Alves de Andrade
Junho de 2018 55
Eduardo Silveira Netto Nunes e Juliana Alves de Andrade
Considerações finais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Junho de 2018 57
Eduardo Silveira Netto Nunes e Juliana Alves de Andrade
PADILHA, Paulo Roberto. Educação em direitos humanos sob a ótica dos ensinamen-
tos de Paulo Freire. Revista Múltiplas Leituras, v.1, n.2, p.23-35, jul./dez. 2008.
SACAVINO, Susana. Educação em direitos humanos: pedagogias desde o Sul. In:
NEVES, Kátia F.; MENEZES, Caroline G. F. de (Org.) Educação em Direitos
Humanos: memória e cidadania: curso intensivo. São Paulo: Memorial da
Resistência de São Paulo; Pinacoteca do Estado, 2013. p.87-108. Disponível em:
http://memorialdaresistenciasp.org.br/memorial/Upload/file/acao-educativa-
programa-do-curso/publicacao_curso_intensivo_de_educacao_em_direitos_
humanos_2013.pdf; acesso em: 22 set. 2017.
SAID, Edward W. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. Trad. Tomás
Rosa Bueno. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
SILVA, Aida Maria M. (Org.) Educação Superior: espaço de formação em direitos hu-
manos. São Paulo: Cortez, 2013.
UFRPE lança disciplina obrigatória para discutir questões étnicas. G1 PE, Recife, nov.
2013. Disponível em: http://g1.globo.com/educação; acesso em: 10 jan. 2018.
UNESCO. Plan de Acción del Programa Mundial para la Educación en Derechos
Humanos, primera etapa (2005-2007). New York & Genebra, 2006. Disponível em:
http://www.ohchr.org/Documents/Publications/PActionEducationsp.pdf; acesso
em: 16 set. 2017.
WALLERSTEIN, Immanuel. O universalismo europeu: a retórica do poder. São Paulo:
Boitempo, 2007.
ZEICHNER, Kenneth M. Formação de Professores para a justiça social em tempos de
incerteza e desigualdades crescentes. In: DINIZ-PEREIRA, Júlio Emílio (Org.)
Justiça Social: desafios para a formação de professores. Belo Horizonte: Autêntica,
2008. p.11-35.
NOTAS
1
É importante entender que a “pedagogia desde o sul” dialoga com toda uma reflexão des-
colonizadora, não ocidentalizante, contra-hegemônica que frutificou desde as lutas de des-
colonização na África nas décadas de 1950 a 1970, e na América Latina, nas décadas de
1970 e 1980 (ao ponto de pensadores como Enrique Dussel afirmarem, para o caso da
América Latina, existir uma “filosofia” engendrada de sua história social, política e econô-
mica, e que constitui visões de mundo próprias não expressivas mimeticamente de parâme-
tros ocidentais) (CERUTI GULDBERG, 2006), e que hoje são conscientemente enunciadas.
O sul aqui é entendido como um próprio, tal como o norte é um “próprio”, o sul entretanto
negligenciado como território, histórias e dinâmicas próprias e não “deformações” ou “má
aplicação” do modelo de civilização do norte – se é que ele existe com essa consistência!
(ver sobre isso LANDER, 2005). O movimento do Fórum Social Mundial, desde 2001,
sintetizava e promovia esse novo olhar para um “Outro mundo possível”, no qual o “sul do
mundo” passava a se afirmar como consciência e prática (ver MINÀ, 2003). Dussel propõe
que se integre no campo filosófico uma nova forma de perceber a contemporaneidade e
que seria “o projeto transmoderno”, como uma “correalização do impossível para a
Modernidade; ou seja, é correalização de solidariedade, que chamamos de analéptica, de:
Centro/Periferia, Homem/Mulher, diversas raças, diversas etnias, diversas classes,
Humanidade/Terra, Cultura Ocidental/Culturas do mundo periférico ex-colonial etc.; não
por pura negação, mas por incorporação partindo da Alteridade” (DUSSEL, 2005, p.66).
Junho de 2018 59
Ê
S SI
DO
Resumen Abstract
Este trabajo se acerca a la historia argen- This article while approaching to recent
tina reciente en las aulas para analizar la history in the classroom to analyse the
práctica docente cotidiana. Presenta un daily teaching practices. It will present a
estudio de caso de un docente del co- case study of a History teacher from
nurbano bonaerense que trabaja en una Buenos Aires outskirts, who works in a
institución escolar que alienta el trata- school that encourages the public treat-
miento de la última dictadura, que tiene ment of the last dictatorship, who has
formación actualizada y que utiliza va- updated knowledge, and possess (and
riados recursos. En esas condiciones, dares to use) various resources. So, what
¿qué materiales trabaja?, ¿qué textos in- materials does this teacher select? What
troduce?, ¿qué lecturas propone? Este texts does he choose? What readings
artículo presenta una serie de respuestas does he propose? This paper will pres-
a los interrogantes anteriores y se pro- ent a series of answers to the previous
pone subrayar: i) la naturaleza producti- questions and will propose to empha-
va e inventiva de la práctica docente; ii) size: i) the productive and inventive na-
la importancia de la materialidad en la ture of teaching practices; ii) the impor-
enseñanza; iii) la potencia de diferentes tance of materiality in history teaching;
materiales, textos y lecturas que posibi- iii) the power of different materials,
litan el trabajo con diversos lenguajes, texts and readings that make possible to
memorias y debates. work with different languages, repre-
Palabras clave: Historia argentina re- sentations and debates.
ciente; dictadura (1976-1983); prácticas; Keywords: Argentina recent history;
enseñanza; materialidad. dictatorship (1976-1983); practices;
teaching; materiality.
Junho de 2018 61
Paula González
Junho de 2018 63
Paula González
e Hilda Lanza (1993). En ella, las autoras se propusieron analizar cómo se con-
forman las prácticas docentes a través de una aproximación a “los ámbitos que
constituyen el discurso de los profesores de historia del nivel medio” (Finocchio;
Lanza, 1993, p.97). A través del análisis de entrevistas a profesores y observa-
ciones de clases en dos escuelas estatales de la Ciudad de Buenos Aires, las
autoras delimitaron “los espacios a los que acude el docente de historia con el
fin de tomar conceptos que le permitan armar su propio discurso y de encontrar
su fuente de legitimación” (Finocchio; Lanza, 1993, p.102). De ese modo, seña-
laron la incidencia – no excluyente pero sí significativa – de: la formación do-
cente, entendida como el proceso de aprendizaje de contenidos científicos
referidos a la historia y de contenidos pedagógicodidácticos que le permiten
reproducir o construir nuevas formas de enseñar; la propuesta oficial, que eng-
loba los proyectos, circulares, resoluciones, decretos y programas referidos a
qué, cómo y cuándo enseñar; la conciencia de la historia, definida como la es-
tructura de pensamiento mediante la cual el sujeto interpreta la historia como
orientadora de sus prácticas sociales a través del tiempo; la concepción de la
historia, entendida como el modelo historiográfico al que se adhiere y las con-
secuentes opciones teóricas y metodológicas que el mismo comprende; el uni-
verso de los textos escolares; el campo bibliográfico propio, es decir, el conjunto
de lecturas más o menos sistemáticas realizadas y manifestadas por los docentes
que pueden penetrar o no en la cotidianeidad escolar; las exclusiones, concebi-
das como las omisiones o rechazos significativos; el saber hacer que se consti-
tuye en la relación de los ámbitos anteriormente mencionados y que, a través
de la práctica rutinaria, moldea la tarea en la cotidianeidad del aula.
Sin desconocer aportes más recientes en esta línea,5 retomo las dimensio-
nes propuestas por Finocchio y Lanza (1993) y sumo otros elementos para
pensar las prácticas docentes sobre todo en relación con el tratamiento de la
historia argentina reciente (es decir, en un nuevo contexto educativo y frente
a un contenido sensible).
Así, y a modo de balance, propongo considerar: i) el contexto con diversos
espacios, tiempos y sedimentaciones, es decir, el socio-histórico – con sus repre-
sentaciones, imaginarios, memorias en conflicto, referencias etc. –, el escolar
– con su cultura y sus disciplinas escolares como marco de realización – el
institucional – con las diversas “atmósferas de transmisión” de rechazo, aliento,
omisión o rutina frente a la historia reciente; y el áulico, con sus coordenadas
de tiempo y espacio y con los sujetos que construyen ese cotidiano; ii) la
Junho de 2018 65
Paula González
Historia de 6o año en una escuela privada laica del conurbano bonaerense entre
mayo y junio de 2017. Además de las observaciones, mantuve varias charlas
antes y después de las clases; realicé una entrevista en profundidad al término
de las observaciones, y compartimos una nueva charla posterior con las trans-
cripciones de clases para comentar algunos aspectos puntuales. Asimismo, el
profesor me facilitó su planificación, varias carpetas de sus estudiantes y diver-
sos materiales de clases (trabajos prácticos, guías de lectura, evaluaciones etc.).
Dicho esto, es menester señalar que se trata de un docente que tiene for-
mación de posgrado stricto sensu y continúa formándose; tiene mucho interés
por la historia argentina reciente; posee saberes y consumos sobre el lenguaje
audiovisual; le gusta su tarea de profesor; tiene una vasta experiencia en su
oficio (dieciocho años de antigüedad); tiene buen vínculo con los estudiantes;
trabaja en una institución que no limita su trabajo docente en torno a la his-
toria reciente; tiene condiciones materiales – tanto personales como institu-
cionales – que favorecen un uso intensivo de recursos visuales y audiovisuales
(una TV en el aula a la cual conecta su computadora portátil). Además, el curso
en el cual observé su tarea estaba compuesto por veintidós estudiantes, con
buen clima y disposición hacia la materia (sin mostrar problemas de conviven-
cia, disciplina, disposición para el trabajo o comprensión lectora).
Visto en perspectiva, se trata de un caso con condiciones que no son ge-
neralizadas en el contexto de la provincia de Buenos Aires. Más aún, pueden
ser consideradas como ideales. No obstante, y como dije, no es el afán hacer
generalizaciones a partir de este caso. Lo tomo, precisamente, para poder se-
ñalar algunos rasgos de la enseñanza de la historia desde las posibilidades y no
desde los problemas, para poder pensar la enseñanza de la historia reciente
cuando no está determinada por la falta de formación docente, por una atmós-
fera de transmisión adversa, por la ausencia de materiales u otros problemas,
tensiones y limitaciones. Como dije, sobre esto, ya se ha escrito bastante y me
interesa ir por otro camino y preguntar: cuando las condiciones favorecen el
trabajo del docente sobre la última dictadura: ¿qué materiales trabaja?, ¿qué
textos introduce?, ¿qué lecturas propone?
Desde luego, estas preguntas son apenas un recorte de todo lo que es
posible pensar en torno a las prácticas de enseñanza en las aulas. No obstante,
su elección no es fortuita ya que jerarquiza una dimensión usualmente menos
atendida – tanto en la investigación como en la formación docente –, esto es,
la materialidad en la enseñanza.8 Y es que no es posible pensar el mundo
Junho de 2018 67
Paula González
educativo sin la cultura material, es decir, sin los objetos y materiales así como
los saberes, prácticas y vínculos que proponen o potencian (Finocchio, 2016a).
Por lo dicho, opté concentrarme en los materiales, los textos y las lecturas
en el análisis. Tal opción se funda también en que, en la secuencia de clases
observadas, resultó notoria la centralidad y potencia de esa tríada, no solo por
la multiplicidad de los materiales, la variedad de textos leídos (no solo escritos)
y la significatividad de las lecturas propuestas sino porque todo ello fue de la
mano y permitió una práctica relevante y significativa.
Para graficar lo central de ese aspecto en la práctica del docente observado
se incluye el Cuadro 1. En él, se muestra la secuencia de clases desde mi mirada.
Es decir, no se trata de la planificación del profesor sino de mi lectura sobre
las clases que tuve la oportunidad de Antes de abocarme al análisis de la prác-
tica desde la materialidad, cabe indicar dos cuestiones de este caso.
Por un lado, es interesante subrayar que el docente toma en cuenta el
diseño curricular (expuesto en el apartado 2) pero realiza su propia selección
y secuenciación de contenidos. Su práctica muestra, entonces, lo inventivo y
productivo de la práctica docente: pondera temas, descarta otros, dedica tiem-
pos, profundiza aspectos según sus criterios, su contexto de trabajo, sus estu-
diantes y lo que cree que deben aprender, sus lecturas, su biografía, su
formación, sus lecturas, sus intereses, su saber hacer etc.
Por otra parte, es significativo señalar que lo potente y diferente de esta
secuencia de clases no está en las actividades o estrategias: si se observa el
cuadro, las mismas no presentan gran variedad e incluso podrían ser tildadas
de “tradicionales” (guía de preguntas, explicación, diálogo). Tal cuestión re-
sulta importante para tener en cuenta los límites de ciertas miradas sobre las
prácticas docentes (en historia u otras disciplinas escolares) que se concentran
en el “qué” se enseña y “cómo” y desatienden “con qué” se enseña y “para qué”
determinados contenidos. En este sentido, la mirada sobre los materiales, tex-
tos y lecturas da como resultado una práctica muy diferente si se compara con
las actividades solamente.
Ahora bien, de todo lo trabajado en la secuencia de clases (como se expone
en el cuadro anterior), voy a detenerme en los materiales, textos y lecturas de la
primera clase de la secuencia didáctica (y del conjunto de clases observadas): la
dedicada al golpe de Estado del 24 de marzo de 1976 y la instauración de la últi-
ma dictadura. Y lo haré narrando la clase, reproducciones extractos de transcrip-
ciones y sumando notas de observación y de la entrevista y las charlas mantenidas
con el docente.
Junho de 2018 69
Paula González
Bien, entonces, no vamos a escribir nada ¿sí? sino que simplemente lo vamos a ver.
Yo les puse unas preguntas guía porque es con diez minutos pero como que hay
mucha información en ese video... Por eso lo traje porque me parece interesante
en principio para verlo. Ahora vemos cuáles son las preguntas. Lo único que tienen
que hacer es tenerlas en la cabeza ¿sí? ahora las leemos entre todos, las tienen en la
cabeza y van mirando el video con estas preguntas pero no anoten nada porque
cuando anoten una cosa se pierden la que sigue. Si llegáramos a tener problema y
lo tenemos que ver por segunda vez, lo vemos por segunda vez, no hay problema
porque dura nueve_diez minutitos ¿sí?
Luego de señalar cómo van a ver el video, comenta qué van a ver (se trata
del film “La república perdida 2”),14 presentando el documental, el contexto de
producción y los directores:
P – Ahora ¿qué es lo que vamos a ver concretamente? Vamos a ver un
fragmento de una película muy famosa en su momento ¿sí?, que es un do-
cumental que se llama “La República perdida 2”, que es del año 1986. La
fecha es MUY importante, ahora yo les voy a decir por qué. Existe una
República perdida 1. Esa República perdida 1 se filmó en los últimos
Junho de 2018 71
Paula González
los desafíos que tenía Perón al asumir la tercera presidencia?” Hay cosas
que ya sabemos, que dijimos por acá, pero quiero que vean QUÉ dice el
video, no lo que saben ustedes. Vamos a comparar con lo que nosotros
sabemos, cuánto hay ahí de lo que nosotros pusimos y cuánto no. Segundo
“¿Cómo la muestra a Isabel Perón?” digamos ¿sí? Van a hablar de Isabel
Perón en algún momento, fíjense cómo la muestran. “¿Qué plantea sobre
las organizaciones armadas y sobre el ejército?” ¿Cómo los muestran o
cómo los presentan a las organizaciones armadas y cómo presenta el video
al Ejército? “¿Qué sector es mostrado como el permanente desestabilizador
y generador de los golpes de Estado?”, ¿sí?, hay un grupo que va a aparecer
ahí, que para esta película siempre va a ser el enemigo constante a lo largo
de la historia argentina ... Y “¿A qué políticos rescata?”, vamos a ver, de
repente ahí dice este es buen político, este, este … se van a sorprender.
“¿Cuál es la situación del país en cuanto a la violencia?”, ¿sí?, ¿qué valor
le dan en el video, ya van a ver, a la violencia política, esta idea de la vio-
lencia armada y “qué relación tiene esa violencia con el golpe de Estado”
¿ok?. Son varias cosas. Bueno, vayan leyendo mientras yo pongo la com-
putadora y el video. Fíjense, pero no escriban nada, si no, lo vemos de
vuelta, igual después lo charlamos entre todos …
Así, el docente presenta la guía de preguntas (que luego contestarán por
escrito) para que los estudiantes sepan qué van a ver y para qué lo van a ver.
Lo interesante de la observación (y la transcripción aquí) es que permite acce-
der no solo a las consignas (que los estudiantes tienen en papel y se integrarán
a las carpetas) sino a las aclaraciones, los énfasis y las explicaciones que suma
el profesor en la presentación. En tal sentido, es notorio (y está resaltado ex
professo) que el docente está interesado en que los alumnos adviertan no sólo
lo qué dice el video sino también cómo lo dice, no separando forma de
contenido.
Luego de la visualización de los diez primeros minutos del film (que dura
en total 120 minutos), el profesor inicia un intercambio oral con los estudiantes
retomando las preguntas de la guía. De todas las preguntas, me interesa des-
tacar el intercambio en torno a la pregunta referida a la violencia política que
vale la pena reproducir en su extensión
Junho de 2018 73
Paula González
Junho de 2018 75
Paula González
por tanto, con culpa) y señaló que hubo víctimas tanto del sector militar (im-
pelidos a ejecutar las órdenes por el mandato de la “obediencia debida”) como
del lado de las organizaciones político-militares (donde los militantes de me-
nor grado actuaron engañados). Además de esas víctimas de ambos bandos,
toda la sociedad fue la víctima más inocente: primero, del fuego cruzado de los
“dos demonios” de derecha e izquierda y, después, del engaño de las Fuerzas
Armadas de las que sólo esperaban la pacificación del país y cometieron en
cambio una represión feroz y clandestina.16 En síntesis, ese relato clausuró un
debate necesario acerca de los consensos, conformidades y complicidades en
torno a la dictadura; inhibió la reflexión sobre la responsabilidad de las orga-
nizaciones armadas; obliteró la revisión de las actitudes de los partidos políti-
cos, la connivencia de los grupos empresarios, la colaboración o el silencio de
los medios de comunicación, la condescendencia de la cúpula eclesiástica; en
síntesis, la responsabilidad de la sociedad civil frente a la dictadura (lo que, por
supuesto, no significa hablar de una sociedad como toda culpable).
Además de la discusión de representaciones y memorias, ese pasaje de la
clase se cierra con una contundente manifestación de la posición ética y polí-
tica sobre el tema por parte del docente: no se puede equipar la violencia de las
organizaciones armadas y la violencia desde el Estado. No se puede hablar de
“dos demonios” homologables. Lo plantea primero a modo de pregunta
“¿Puede el Estado secuestrar, matar, torturar?”. Los estudiantes contestan que
no, y el docente ratifica esa respuesta: “No, obviamente, NO. Es decir, la res-
puesta nuestra es no”. No resulta fortuito que el docente aclare “la respuesta
nuestra es no” ya que está aludiendo a otras posiciones públicas que sí compa-
ran y homologan la violencia de “izquierda y derecha” y reclaman una “me-
moria completa”.17
Y esta lectura y discusión se entrelaza con un nuevo material, otro texto
y otra lectura. Más adelante en la clase, finalizado el comentario sobre los diez
minutos del video, el profesor propone trabajar un texto académico con afán
divulgativo: el capítulo “El tiempo del Proceso” de Hugo Quiroga, publicado
en 2005 en el libro Dictadura y democracia (1976-2001) de la colección “Nueva
Historia Argentina” de editorial Sudamericana.18 Indica que lo tienen en “nues-
tro manual”, esto es, un dossier de fotocopias con diversos materiales seleccio-
nados por el profesor para todo el año que cada estudiante tiene para trabajar
en clase.
¿Se entendió el video más o menos? Ahora, ésta es la visión de los 80, de media-
dos de los 80. Ahora nosotros vamos a trabajar con un libro, con un texto que
tenemos en nuestro manual. y que es algo más nuevo, es algo del 2005 ¿sí?
Entonces lo que yo quiero que veamos es ver ¿sí?, analizar, a ver si las causas del
golpe que nos dice y que vamos a trabajar en ese texto son iguales a las que están en
el video o algo ha cambiado desde el 86 hasta el 2005 ¿Está? Y también tenemos la
versión del 2017 porque el texto de Federico Lorenz ¿sí? era nuevo, era de este
año, era de marzo de este año. ¿Está? Entonces, paren un poquito porque yo les
traje el libro para mostrarles. En el capítulo que ustedes tienen, ahí yo les puse el
nombre, es el tiempo del Proceso, es de este libro que se llama Nueva historia
argentina, que está en el manual de ustedes … ¿Lo tienen todos? Bien ¿Cuál es la
idea? … la idea es contestar “¿cuál es la situación del país, según Quiroga, antes
del golpe de Estado?” Es decir, a ver qué pasa en comparación con el video. El se-
gundo “¿Qué actores aparecen en el texto y que no son nombrados por el video?
¿Cuál es su rol?” A ver si aparecen actores nuevos ¿sí? vinculados al golpe de
Estado que no están en el video, que nunca los nombraron, bueno, vean a ver si
aparece algo nuevo ahí ¿sí? Y por supuesto que algo va a aparecer y cuál es el rol
que le da Quiroga, cuál es su rol digamos ¿no? de estos nuevos grupos que apare-
cen ahí en el texto que en el video al parecer no aparecen. Bien. Tres “¿Cómo
buscaban legitimar o justificar el golpe de Estado las Fuerzas Armadas?” Lo que
dice acá de la sociedad inmadura que no está preparada para votar, vamos a ver
cómo lo justifica. Y “¿cuáles son las causas que generan el golpe de Estado según
Quiroga? ¿Qué diferencia pueden marcar con las del video?” A ver si hubo cambios
…
Junho de 2018 77
Paula González
En suma, lo que queda en evidencia – con apenas una parte de una clase
– es la potencia de los “textos” en distintos soportes, lenguajes y discursos y,
sobre todo, la apropiación que de ellos hace el docente. Tal centralidad se re-
pite, como se mostró en el cuadro, a lo largo de toda la secuencia que precisa-
mente abre como cierra: con un material audiovisual. Así entonces, distintos
soportes: pantalla y papel. Distintos lenguajes: el cinematográfico, el periodís-
tico y el académico. Las diversas lecturas: históricas, historiográficas, de sínte-
sis. Y la relevancia de las discusiones que propone el profesor sobre narrativas
realizadas en tres contextos y luchas por la memoria diferentes: 1986, 2005 y
2017 que permiten ser trabajadas a partir de los materiales, textos y lecturas
desplegados por ese docente.
A modo de cierre
REFERENCIAS
Junho de 2018 79
Paula González
NOTAS
1
Para un panorama de las investigaciones sobre la enseñanza de la historia en general y
sobre la enseñanza de la historia reciente en particular en Argentina, puede verse
FINOCCHIO (2016b) y GONZÁLEZ (2017).
2
El análisis del tratamiento de la última dictadura en los libros de textos escolares excede el
espacio de este artículo. Sobre esta cuestión, pueden verse los trabajos citados en la
introducción.
3
Disponible en: http://educacionymemoria.educ.ar/secundaria/wpcontent/uploa-
ds/2011/01/pensar_la_dictadura.pdf.
4
Sobre el discurso y las decisiones del actual gobierno en torno a la política de memoria,
verdad y justicia, pueden verse dos manifiestos de historiadores y académicos. “La demo-
cracia se construye con verdad y justicia”, Diario Página/12, 22 set. 2015; “Frente a la bana-
lización del terrorismo de Estado y los derechos humanos”, Diario Perfil, 4 abr. 2017.
5
Remito nuevamente a las investigaciones sobre esta cuestión reseñadas en GONZÁLEZ
(2017).
6
Retomo en esto último, el planteo de DE CERTEAU (2006).
7
Sobre investigación con estudio de caso, puede verse STAKE (1998). Sobre la narrativa en
la investigación sobre la enseñanza, MCEWAN & EGAN (2005).
8
Las investigaciones sobre materiales en la enseñanza de la historia en Argentina se han
concentrado sobre todo en sus contenidos (especialmente de los libros de textos escolares)
aunque trabajos más recientes han optado por indagar los usos y apropiaciones docentes
por ejemplo ROMERO, 2011; GOSPARINI, 2016.
9
Disponible en: https://www.youtube.com/watch?v=ymUFl-tA2WQ.
10
Algunas tapas de prensa del 24 de marzo de 1976 pueden verse en: https://www.educ.ar/
recursos/129452/clarin-26-de-marzo-de-1976 https://www.educ.ar/recursos/129451/
la-nacion-25-de-marzo-de-1976.
11
Disponible en: http://educacionymemoria.educ.ar/secundaria/fotos/dictadura-y-socie-
dad-2/attachment/2-3-viva-la-marina-la-plaza-de-galtieri/index.html.
12
http://www.telam.com.ar/notas/201504/100146-historia-mujeres-guerra-malvinas-ani-
versario-libro.html.
13
Disponible en: https://www.youtube.com/watch?v=Q-M88abLIiU&t=1100s.
14
Disponible en: https://www.youtube.com/watch?v=XILQViWtgwM&t=1075s.
Junho de 2018 81
Paula González
15
Disponible en: https://www.academia.edu/32056956/_Por_qu%C3%A9_vuelven_los
_70.
16
Sobre la teoría de los dos demonios, véase CERRUTI (2001); VEZZETTI (2002);
FRANCO (2015).
17
Remito nuevamente al contexto político señalado en la nota 4.
18
Dicha colección es una obra colectiva de trece tomos que va desde los pueblos originarios
y la conquista hasta 2001que tuvo por objetivo combinar un lenguaje divulgativo con la
rigurosidad y los aportes de la historiografía de los últimos años.
Resumo Abstract
O artigo apresenta os resultados de uma This article presents the results of a re-
pesquisa acerca da construção de memó- search on memories of the dictatorships
rias sobre as Ditaduras em duas das cida- in two cities amongst the most affected
des mais afetadas pela repressão na Amé- by repression in Latin America: São
rica Latina: São Paulo e Buenos Aires. A Paulo and Buenos Aires. The research
pesquisa foi realizada em 2013 e contou was conducted in 2013. In total, 116
com a participação de 101 jovens estu- young students have participated in the
dantes que cursavam o último ano da es- research. In both cities they were at-
colarização obrigatória do seu país em tending the last year of compulsory
escolas públicas de ambas as cidades. Os schooling in public schools. They did
jovens que participaram da pesquisa não not live the repression directly, but they
viveram diretamente esse passado, mas relate the past to make decisions in
lhe conferem diferentes sentidos na to- present, revealing how the public poli-
mada de decisões no presente, revelando cies of memory are incorporated in edu-
como as políticas públicas de memória cational places, as part of a historical
são incorporadas nos espaços educativos, consciousness.
como parte de uma consciência histórica. Keywords: dictatorship; History teach-
Palavras-chave: ditadura; ensino de his- ing; Latin America.
tória; América Latina.
Junho de 2018 85
Juliana Pirola da Conceição Balestra
Junho de 2018 87
Juliana Pirola da Conceição Balestra
A Operação estava dividida em duas fases principais: a primeira visava uma troca
sistemática de informações entre os serviços secretos de cada país sobre as pessoas
consideradas subversivas. Essas informações eram obtidas por meio de espionagem
para construção do banco de dados comum a todos os países membros do acordo. A
segunda fase visava prender e deportar os presos políticos para seus países de origem,
mas muitos terminaram sendo executados nos países onde foram encontrados.
Entre os casos mais conhecidos da Operação estão o assassinato do general chileno
Carlos Prats, na Argentina, o assassinato do ex-ministro do governo de Salvador
Allende, Orlando Letelier, nos Estados Unidos, e a tentativa de sequestro no Brasil
do casal de militantes políticos uruguaios, Universindo Rodríguez Díaz e Lilian Ce-
liberti.
Agora imagine que entre os moradores do prédio onde você mora vive um
estrangeiro de um país vizinho, que se mudou recentemente. Comentam
no prédio que ele corre o risco de ser preso e deportado por divulgar na
internet documentos considerados sigilosos do seu país de origem. Em
uma noite escura ele bate à sua porta pedindo ajuda e conta que está sendo
perseguido pela polícia.
O que você faria? O ajudaria a esconder-se ou tomaria outra atitude?
É necessário explicar a um amigo o que está acontecendo, mas ele não
conhece a história.
Como você contaria a ele toda a história, a situação em que você se encontra
e a decisão que pretende tomar?
Para ajudá-lo a entender sua decisão, você pode estabelecer relações com
outros acontecimentos históricos e acrescentar informações. Justifique a
sua resposta.
Junho de 2018 89
Juliana Pirola da Conceição Balestra
Junho de 2018 91
Juliana Pirola da Conceição Balestra
A maioria das respostas sugere que as decisões são tomadas com base
apenas na situação vivida no presente, sem a construção de perspectivas his-
tóricas de raciocínio. Em alguns casos, consideram-se apenas as relações entre
presente e futuro. Isso remete às conexões que se deslocam da interface entre
memória e história para a inter-relação entre memória e expectativa – “entre
o passado conhecido e o futuro desejado”, como aponta Jörn Rüsen (2014).
Segundo esse autor, a história, como narrativa, serve para dar sentido à passa-
gem do tempo e funciona como um meio de orientação e coerência nos afaze-
res do cotidiano, como uma consciência histórica. Para preencher essa função,
o pensamento histórico precisa seguir uma lógica específica, observada em três
planos (Rüsen, 2009, p.168-169):
Como a maioria dos jovens sequer usou o passado para tomar sua decisão
ou para justificá-la, talvez fosse possível concluir que a percepção da diferença
temporal foi generalizada, que o presente foi concebido como tão distante do
passado que nem foi possível estabelecer qualquer relação com ele. No entanto,
o que se observa é a negação das relações entre passado e presente, levando a
supor, como aponta Reinhart Koselleck (2006), que o passado não serve como
exemplo, dado o seu caráter irrepetível, e vive-se apenas para o futuro. Em
outros casos, a ênfase no presente o torna seu próprio horizonte, promovendo
um afastamento não só da experiência, mas também da expectativa, e com isso
o passado perde a sua capacidade de orientar o presente.
Junho de 2018 93
Juliana Pirola da Conceição Balestra
Junho de 2018 95
Juliana Pirola da Conceição Balestra
Junho de 2018 97
Juliana Pirola da Conceição Balestra
Junho de 2018 99
Juliana Pirola da Conceição Balestra
Para concluir
REFERÊNCIAS
RÜSEN, Jörn. Cultura faz sentido: orientações entre o ontem e o amanhã. Petrópolis:
Vozes, 2014.
_______. El desarrollo de la competencia narrativa en el aprendizaje histórico: una
hipótesis ontogenética relativa a la conciencia moral. Revista Propuesta Educativa,
Buenos Aires, v.4, n.7, p.27-36, oct. 1992.
SADER, Emir; JINKINGS, Ivana; MARTINS, Carlos Eduardo; NOBILE, Rodrigo
(Coord.) Latinoamericana: enciclopédia contemporânea da América Latina e do
Caribe. São Paulo: Boitempo, 2006.
SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. São Paulo:
Companhia das Letras, 2007.
NOTAS
1
A chamada “Doutrina de Segurança Nacional” tem suas raízes nos Estados Unidos, fora
do solo latino-americano, envolvida pelo contexto da Guerra Fria, quando Estados Unidos
e União Soviética disputavam a hegemonia política, econômica e militar ao redor do mun-
do após a Segunda Guerra Mundial. Entre os seus antecedentes está o reconhecimento de
que, em uma guerra, as batalhas não ocorrem apenas no front militar, mas também nos
campos cultural, econômico e social, na disputa por corações e mentes. Entre as décadas de
1960 e 1980, boa parte dos oficiais militares da América Latina entraram em contato com
essa Doutrina por meio da “Escola das Américas”, um instituto do Departamento de Defesa
dos Estados Unidos, à época situado no Panamá, onde eram instruídos a levar a cabo a
guerra interna contra o comunismo e a responder aos interesses vitais de suas nações: segu-
rança e desenvolvimento (Cf. MENDES, 2013).
2
Cf. Matéria do jornal O Globo (por Tatiana Farah, 30 mar. 2014). Disponível em: http://
oglobo.globo.com/brasil/marcha-que-festeja-50-anos-do-golpe-reune-150-pessoas-na-
-paulista-120368 19#ixzz3SlWi3Vxu; acesso em: 15 nov. 2014.
3
Descrição do perfil da comunidade “Volta Ditadura” na rede social Facebook, com milha-
res de seguidores. Disponível em: https://www.facebook.com/voltaditadura; acesso em: 5
set. 2015.
4
A pesquisa completa foi apresentada em 2015 ao Programa de Pós-Graduação em
Educação da Unicamp sob a forma de Tese de Doutorado, orientada pela profa. dra.
Ernesta Zamboni (BALESTRA, 2015). A descrição dos instrumentos de pesquisa e os da-
dos relativos à cidade de São Paulo, em sua especificidade, foram publicados anteriormente
(BALESTRA, 2015a), tomando-se como problemática central as relações com os imigran-
tes latino-americanos nas escolas de São Paulo.
5
A questão foi elaborada com base em um modelo produzido por Jörn Rüsen para investi-
gar os diferentes tipos de consciência histórica (RÜSEN, 1992).
6
Os instrumentos foram aplicados pelos professores de cada turma, no horário de suas
aulas, deixando claro que a participação no estudo era totalmente voluntária. Para a manu-
tenção do sigilo sobre a identidade dos estudantes e de seus professores, o nome das escolas
não será divulgado. É importante salientar que o número de escolas participantes de ne-
nhum modo pretende ser representativo do que acontece com a formação histórica em
cada uma das duas cidades e tem como fim apenas ilustrar as tendências gerais em um
universo tomado como referência.
7
A análise detalhada da dimensão nacional das políticas públicas de memória e ensino de
história das ditaduras no Brasil e na Argentina pode ser conferida em BALESTRA, 2016.
8
Em Fortaleza, o coletivo “Aparecidos Políticos” realiza intervenções urbanas e mapeou os
lugares que homenageiam ditadores, torturadores e apoiadores da ditadura. Em Recife, o
livro Recife Lugar de Memória apresenta rotas temáticas que revisitam locais da cidade em
diferentes períodos históricos, entre eles o da ditadura. Em Porto Alegre, as marcas do au-
toritarismo e da luta pela democracia estão em um panfleto on-line que localiza 40 lugares
que funcionaram como centros de detenção e tortura ou se tornaram símbolos da resistên-
cia da cidade.
9
Disponível em: http://jovenesymemoria.comisionporlamemoria.net; acesso em: 10 abr.
2015.
Resumen Abstract
They were more than three million
Fueron más de tres millones de chilenos Chileans who, by their vote, said “no”
los que, mediante su voto, dijeron “no” to the regime of Augusto Pinochet,
al régimen de Augusto Pinochet, po- ending the years of Dictatorship.
niendo fin a los años de Dictadura. Por Therefore, the Transition to Democra-
ello, la Transición a la Democracia es cy is one of the most controversial pro-
uno de los procesos más controversiales cesses in Chilean recent history, deter-
de la historia reciente chilena, determi- mining the relationships that are
nando las relaciones que se desarrollan currently developing. In the present
actualmente. En el presente artículo, se article, part of the results of a research
exponen parte de los resultados de una is exposed whose objective is to know
investigación cuyo objetivo es conocer the ideas of the Chilean secondary stu-
las ideas de los estudiantes de secundaria dents about the transitional process
chilena sobre el proceso transicional y and how their learning is developed in
cómo se desarrolla su aprendizaje en el the school world. The study of qualita-
mundo escolar. El estudio de carácter tive-quantitative character was made
cuali-cuantitativo se realizó a partir de from the discourses of Chilean high
los discursos de estudiantes de secunda- school students from educational cen-
ria chilena de centros educativos prove- ters from the most important cities of
nientes de 4 las ciudades más importan- the country (La Serena, Valparaíso,
tes del país (La Serena, Valparaíso, Santiago and Concepción). These ideas
La Transición nos sirve para educar en Democracia a nuestros jóvenes. Ella per-
mite enseñar que la Democracia no llega como algo natural después de la
Dictadura, como sale el sol tras la tormenta, sino que es una conquista que sólo
se produce cuando una sociedad lucha por conseguirla, superando todas las difi-
cultades, y permanece vigilante en su práctica cotidiana y en su defensa perma-
nente. (González Gallego, 2011, p.9)
Marco teórico
Por otra parte, diversos estudios historiográficos han establecido que las
transiciones democráticas en España y América Latina pueden haber compar-
tido algunas características básicas en cuanto a su desarrollo y proceso, debido
a que en el plano político consistieron en tres tareas fundamentales. Primero,
el desmantelamiento del antiguo Régimen autoritario a través del logro de
acuerdos entre nuevas fuerzas políticas y la nueva institucionalidad. Segundo,
la reconsideración del legado del pasado autoritario, referido al reconocimien-
to de las violaciones de los Derechos Humanos, por ejemplo, como un tema
propio de la agenda de la Transición, como el caso Chile. Tercero, como todo
nuevo sistema político, las nuevas instituciones democráticas requieren de le-
gitimación, ámbito relacionado con la defensa, respeto y promoción de los
derechos civiles y la libertad de todos los ciudadanos (Waisman et al., 2005).
En este aspecto, podemos entender que la construcción de una situación
intermedia, es decir el tránsito a la Democracia, supone un equilibrio en la
correlación de fuerzas entre los sostenedores del viejo régimen que se retiran
o se adaptan y los partidarios de la recuperación de la Democracia que logran
acceder a la dirección del Estado, luego de una negociación explícita o implícita
y de acreditar electoralmente su respaldo en la sociedad (Maira, 1999), como
sucedió en el caso chileno, a diferencia de otros procesos de Transición de
América Latina, como las Dictaduras de Nicaragua y Argentina que caen prin-
cipalmente por el desgaste del sistema autoritario (vía colapso), o el caso de
Brasil que tiene que ver con la propia voluntad del régimen de avanzar en un
proceso de Liberalización.
Uno de los elementos que se deben tener en cuenta al clasificar una
Transición corresponden a las características del régimen político anterior; la
justificación de la crisis que conduce al quiebre de los regímenes no democrá-
ticos; la estrategia seguida en el proceso de cambio, y el nuevo régimen esta-
blecido (la literatura ha usado tradicionalmente los conceptos alternativos
pacto/colapso). Por ejemplo, en el caso español la tesis común responde a la
descripción de un régimen peculiar, personalista, salido de una guerra civil; así
la Transición no surge del colapso, sino de la necesidad de remplazar al jefe
del estado, lo que se une a aspectos sociales y económicos, y a la “política de
consenso” establecida entre Suárez y la oposición. De esta forma, se mantienen
las leyes políticas, pero con un calendario de reforma; la Constitución se al-
canzó por consenso sin presiones y el consenso se caracterizó por los pactos
Metodología
Como hemos visto, las respuestas de los estudiantes señalan como hechos
o acontecimientos sumamente relevantes del paso de la dictadura a la demo-
cracia la “Firma del Acuerdo Nacional para la Transición de la Plena
Democracia” [39,8%] y, aunque a más distancia la “Creación de la Concertación
de Partidos por la Democracia” [14,8%]. Ambas opciones nos indican una
valoración del pacto y de la negociación entre las distintas fuerzas políticas
para lograr el regreso de la democracia, lo cual resulta bastante sorprendente
si contemplamos que en la evaluación de cómo se produjo la Transición, la
mayoría de los alumnos la calificó como un proceso “violento” y sin embargo
ahora no dudan en destacar la importancia de estos acuerdos.
Efectivamente, el primer hecho significó, en la práctica, un paso impor-
tante de diálogo y acuerdo entre el gobierno militar y la oposición mediado
por la Iglesia Católica, al favorecer el encuentro de distintos líderes y represen-
tantes políticos que sentarán las bases para el retorno de la democracia. Para
“boinazo”, es decir el paseo por la Alameda de las boinas negras del Ejército
Nacional. Este episodio se origina a partir del sentimiento declarado por los
militares como “hostigamiento contra el Ejército” que habría ejercido el diario
La Nación. Más allá de los detalles, esta situación representó la fragilidad de
nuestro sistema democrático, la fuerte presencia de los militares en la vida
pública del país y la autoridad ejercida por Pinochet. Así las boinas negras
presentes en la Alameda, con rostros afilados y premunidos de corvos y lanza-
cohetes LAW, negaban esta idílica imagen de la gloriosa transición. El ejército
no se había modernizado tanto como se pensaba (Otano, 2006). A diferencia
de lo que el mismo Aylwin pensaba y que había expresado en el mensaje pre-
sidencial del 21 de mayo de 1993, donde reconocía con orgullo la trayectoria
que había seguido el país valorando la forma en que se había desarrollado el
paso hacia la normalidad democrática de forma pacífica,6 los militares mante-
nían cierto poder en el mundo civil y no estaban dispuestos a irse a sus cuar-
teles sin que les garantizaran tranquilidad. Por tanto, la importancia de este
episodio militar ocurrido en 1993 y que es recogida por un 1,1% de los encues-
tados, señala esta idea que a pesar del carácter pacífico de la recuperación
democrática, los militares mantenían una fuerza que no tenían problemas en
exponer, en caso que ellos lo consideraran necesario.
Por último, otro episodio significativo dentro de los primeros años de los
gobiernos en democracia es el referido a la detención del ex dictador en
Inglaterra, reconocido como hecho fundamental por una parte de nuestros
estudiantes [3,2%]. Efectivamente, cuando el día 16 de octubre de 1998
Pinochet fue detenido en Londres, un sentimiento colectivo de justicia recorrió
el mundo. La razón alegada para la solicitud de extradición era “por delito de
terrorismo, genocidio y tortura”. Así se produjo el hecho que más desbarató
el proceso ultra regulado de la Transición. La noticia de un Pinochet detenido
en Londres y posiblemente extraditado a Madrid reveló la fragilidad de los
supuestos y de los implícitos de la política chilena postdictadura. Para los sim-
patizantes del general la consecuencia más demoledora del proceso de Londres
fue el reconocimiento, por parte de su defensa, de las torturas y asesinatos
perpetrados durante el régimen militar. Esta forzada confesión pública marcó
silenciosamente un antes y un después en la opinión de los partidarios de la
dictadura. Ya nadie en adelante podía alegar ignorancia de tanta barbarie
(Otano, 2006). Por tanto, el arresto significó para muchas personas indecisas
Consideraciones finales
REFERENCIAS
NOTAS
1
Se recomienda revisar el artículo periodístico VENTURA, 2013.
2
Datos obtenidos del análisis de la tabulación cruzada entre la pregunta referida a ¿Cómo
consideras que se produjo el paso de la Dictadura a la democracia en nuestro país? y la de
Señala el hecho o acontecimiento que consideres más importante del paso de la Dictadura
a la democracia.
3
Datos obtenidos del análisis de la tabulación cruzada entre las preguntas referidas a
¿Cómo consideras que se produjo el paso de la Dictadura a la democracia en nuestro país?
/ Señala el hecho o acontecimiento que consideres más importante del paso de la Dictadura
a la democracia.
4
Datos obtenidos del análisis de la tabulación cruzada entre la pregunta referida a ¿Quiénes
de los siguientes actores o instituciones permitieron el paso de una Dictadura a una demo-
cracia en nuestro país? y la de Señala el hecho o acontecimiento que consideres más impor-
tante del paso de la Dictadura a la democracia.
5
La forma de distribución del poder que se conoce como “cuoteo”. Los detalles de esta ne-
gociación incluyen una cuidadosa división de carteras ministeriales entre sus partidos
constituyentes. Los subsecretarios han sido, en general, de un partido diferente (y usual-
mente de un sector ideológico distinto) que el del ministro. Si bien no existe un acuerdo
formal de tal arreglo, la institución informal de entrada de los partidos, extendida en la
toma de decisiones ministerial, ha proporcionado un incentivo para el mantenimiento de la
coalición. Lo que es más, a lo largo de los ministerios, y en particular en los ministerios
“políticos”, cada administración postautoritaria procuró proporcionar una representación
completa de los partidos políticos que integran la Concertación en personales de nivel su-
perior. Estos acuerdos caracterizan la mayor parte de la administración pública e incluso se
extienden a la distribución de los escaños de los candidatos legislativos. Las diferentes fac-
ciones partidistas, dentro de la coalición, también apelan al presidente para situar a una
serie de funcionarios de cada una de las facciones en posiciones de poder en toda la rama
ejecutiva y en otras áreas en las que el presidente realiza nominaciones.
6
“Debe ser motivo de legítima satisfacción para los chilenos, especialmente para los que
tenemos responsabilidades en la conducción de nuestra patria. La forma como ha
transcurrido la vida política, económica y social del país en este período. El tránsito del
largo lapso de régimen autoritario al funcionamiento normal de nuestra convivencia
democrática ha tenido lugar sin traumas ni quebrantos. Chile vive en paz. La gente goza de
libertad. El país progresa. Nuestra estabilidad política, nuestro crecimiento económico y
nuestro desarrollo social suscitan elogios en el exterior.” Citado en OTANO, 2006, p.259-
260. Versión original: Mensaje Presidencial Legislatura 326ª, Ordinaria, Sesión del
Congreso Pleno, en viernes 21 mayo 1993. Disponible en: http://www.camara.cl/camara/
media/docs/discursos/21mayo_1993.pdf.
7
Datos obtenidos del análisis de la tabulación cruzada entre las preguntas referidas a
¿Quiénes de los siguientes actores o instituciones permitieron el paso de una Dictadura a
una democracia en nuestro país? / Señala el hecho o acontecimiento que consideres más
importante del paso de la Dictadura a la democracia.
8
Datos obtenidos del análisis de la tabulación cruzada entre las preguntas referidas a
¿Cómo consideras que se produjo el paso de la Dictadura a la democracia en nuestro país?
/Señala el hecho o acontecimiento que consideres más importante del paso de la Dictadura
a la democracia.
9
Citado originalmente en El Mercurio, 31 dic. 1987.
Resumen Abstract
Todavía hoy la Argentina es vista por Argentina is still seen for many people
muchos (tanto a nivel doméstico como (at a domestic and international level) a
internacional) como un país de blancos, s white country, mostly populated by
poblado mayormente por descendientes people of European origin and not con-
de europeos y tomando en poca consi- sidering the participation of aboriginal
deración la participación de los pueblos people, African people and from other
originarios, africanos y de otras regio- parts of the world in the building of the
nes del mundo en la construcción del national state. At the Argentinean na-
estado nacional. Aún con este imagina- tional universities there is interest for
rio social extendido y con diferencias de the studies of African history from the
acuerdo a las coyunturas políticas inter- time of their independences and it is
nas, en las universidades nacionales ar- strong in the XXI century. Here we in-
gentinas hay un interés por los estudios tend to talk about the limits of lecturing
de historia de África que se remonta al African history in Argentina, from the
momento de sus independencias y que experiences developed at the Universi-
se ha consolidado en el siglo XXI. En es- dad de Buenos Aires, with emphasis in
te trabajo nos proponemos reflexionar interculturality, Human rights and ra-
sobre los alcances y los límites de en- cial matters.
señar historia de África en Argentina, a Keywords: Argentina; Africa; History;
partir de las experiencias desarrolladas lectures.
en la Universidad de Buenos Aires, po-
niendo especial énfasis en las discusio-
nes sobre interculturalidad, derechos
humanos y cuestiones raciales.
Palabras clave: Argentina; África; histo-
ria; enseñanza.
procesos destacados de la historia africana, por su lógica propia y por las co-
nexiones establecidas con otras sociedades.
El objetivo es adentrase en la historia africana desde una perspectiva cen-
trada en África y pensarla desde un punto de vista particular, que es desde
Argentina, un país sudamericano, que no está en el centro del mundo sino que
forma parte de lo que podemos llamar el Sur global, cuya sociedad también
pasó por la experiencia colonial en el pasado, por la búsqueda de la indepen-
dencia y por las dificultades de construcción de un estado nación y de una
economía viable. Esta situación permite autonomía epistemológica y difiere
de los países europeos, ya que aquí no está la carga – real y simbólica – de ser
un país colonizador ni de tener la necesidad de “traducir África” (Comaroff;
Comaroff, 2013, p.32).
Para lograr esa meta, la selección de los textos de lectura obligatoria para
su análisis individual y debate en las clases ocupa un lugar muy importante. Se
procura incorporar textos escritos en libros y revistas especializados por auto-
res africanos. Esto no significa que se dejen de leer publicaciones – clásicas y
contemporáneas – de otros orígenes, pero buscamos dar visibilidad a una va-
liosa producción académica que es ignorada en Argentina y en general en el
mundo hispano parlante.
En la primera de las materias, nos abocamos al estudio de la expansión
marítima europea, de la colonización de distintas partes del mundo y de las
descolonizaciones del siglo XX no como procesos inevitables, sino como con-
tingencias que deben ser analizadas en sus contextos particulares. Nos interesa
indagar en los modos en que se fue modelando el mundo desde el siglo XV
bajo un orden imperial y de jerarquía racial, en la cual Europa y los hombres
blancos se colocaron en la cima. Y también dar cuenta de que, no por un des-
tino predestinado e ineludible, sino por desarrollos históricos peculiares en las
colonias y en las metrópolis se llegó a los procesos de independencia.
Uno de los temas destacados del programa es el de la trata atlántica de
esclavos. Se subraya ahí la cuestión de los alcances de la esclavitud, la deses-
tructuración de las sociedades africanas, las consecuencias sociales y económi-
cas en las sociedades esclavistas y que se organizaron alrededor del trabajo
esclavo. El humanitarismo y las disputas por lograr la abolición de la esclavitud
en el siglo XIX y la memoria en las sociedades contemporáneas son otros de
los aspectos analizados.
REFERENCIAS
Resumo Abstract
O propósito deste artigo é apresentar The purpose of this article is to present
reflexões sobre o trabalho com temas some reflections on working with sensi-
sensíveis no contexto do ensino (disci- tive topics within teaching (History
plina de Estágio de Docência em Histó- teaching internship) and research (Pro-
ria) e da pesquisa (dissertação de Mes- fessional Masters in Teaching History
trado Profissional em Ensino de dissertation) contexts. The writing is pre-
História). Apresentamos a escrita na sented in the form of a dialogue written
forma de um diálogo a muitas mãos que by various people in an attempt to un-
busca compreender os sentidos atribuí- derstand the meanings attributed by the
dos pelos atores em relação ao processo actors-in-relation to the process experi-
vivido em aulas de História. Essa forma enced in History classes. This form of
de escrita se sustenta também na con- writing is also supported by the concep-
cepção de que a abordagem de temas tion that dealing with sensitive topics
sensíveis reivindica um registro o mais calls for a pluralistic register, allowing
plural possível, permitindo que diferen- different voices to present themselves in
tes vozes se apresentem no diálogo: a the dialogue: teachers, students, univer-
professora, o professor, alunos/as, aca- sity students and selected authors.
dêmicos/as e autores/as escolhidos/as. Keywords: sensitive issues; History clas-
Palavras-chave: temas sensíveis; aulas de ses; migrations; History teaching.
história; migrações; ensino de história.
* Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Porto Alegre, RS, Brasil. carmemz.
gil@gmail.com
** Mestre em História, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Porto Alegre, RS,
Brasil. camargo.jonas@gmail.com
Nota I
tempo suficiente para que outro aluno tomasse a palavra: “Não, cara, meu pai
diz justamente o contrário, que nessa época nada era permitido, nem mesmo
conversar na rua. Tudo era motivo para ser preso e torturado. Não dava pra
discordar do governo”. Agradecida, ela retomou a discussão:
sobre eles, mas, principalmente, porque não há ainda, na maioria dos casos, um
consenso da sociedade sobre o que dizer e como falar sobre esse passado. Em
muitos casos, os processos de memória, trauma e reparação ainda estão em cur-
so, e diferentes versões ainda estão em disputa – tanto na memória como na his-
tória. (Araujo et al., 2013, p.9)
Benoit Falaize (2014) afirma que, na França, há 20 anos, houve uma “vi-
rada memorial”, quando o ensino de questões sensíveis da História passou a
fazer parte dos debates escolares, públicos e políticos. A sociedade foi chamada
a examinar as omissões ou amnésias nacionais nos conteúdos de História, de
forma que o ensino de temas delicados passou a compor a nova agenda escolar,
na contramão da ordem escolar construída para consolidar a história
nacional.
No Brasil, alguns temas sensíveis seguem na esteira das lutas de diferentes
grupos em busca de legitimidade para suas histórias e memórias, questionando
a homogeneização que marca a ideia de nação. Junto a isso, os grupos buscam
ampliar a representação política, e a luta por direitos faz emergir demandas
identitárias. Ou seja, é uma luta que reivindica lembrar, manter viva uma me-
mória e reparar o silêncio e as simplificações na narrativa histórica. Assim, a
dita unidade nacional tem sido questionada – não sem resistência –, dando
visibilidade a uma sociedade que é multicultural. Tal fenômeno tem provocado
debates sobre o currículo da História ensinada de forma que se possa construir
materiais didáticos, rituais comemorativos e práticas curriculares na perspec-
tiva da justiça e dos direitos humanos.
Emergem, nesse contexto, novas abordagens e conteúdos que promovem
uma ruptura com o passado da História escolar, cuja função primeira no cur-
rículo era moral. Ao mesmo tempo, temos uma situação nova de constrangi-
mento aos professores que orientam suas aulas por demandas do tempo
presente. Acusados de doutrinadores, os professores se veem atacados por
diferentes segmentos sociais como a família, a mídia, as religiões e, também, o
Estado, embora saibamos que a educação voltada para o exercício da cidadania
ativa impõe, necessariamente, o estudo de temas sensíveis e controversos que
ultrapassam a mera inclusão dos problemas do tempo presente nas aulas de
História, conforme orientam os próprios documentos legais.
Sabemos, porém, que nem toda questão sensível para a sociedade ou assim
considerada pela historiografia o é, necessariamente, para os estudantes. Se
alguns temas são controversos pelo conteúdo que abordam, outros apenas o
são em função dos contextos em que são trabalhados, como a escola. Tal como
ocorreu com o comentário de um aluno (“Mas meu pai sempre diz que nessa
época era muito bom...”), ele gera uma controvérsia e se torna uma questão
delicada, seja porque contrapõe os saberes da disciplina, seja porque coloca ao
professor uma dificuldade na abordagem do conteúdo em função das reações
dos alunos. O que fazer nesse caso? Ignorar e seguir a aula tal como estava
previsto? Alguns professores escolhem esse caminho, até mesmo para ganhar
tempo e pensar sobre um encaminhamento adequado.
De certa forma, o comentário suspende a aula enquanto espaço de apre-
sentação dos acontecimentos e desloca o professor para um espaço de decisão:
como seguir a aula de forma a não ficar no relativismo, contrapondo diferentes
opiniões? Como abrir-se ao inesperado, acolher o debate e fugir do consenso
que exclui as dúvidas e as controvérsias? O comentário do aluno é, também,
uma pista para o professor sobre os sentidos construídos pelos alunos a res-
peito do conteúdo que está sendo abordado. Assim, parece que a dificuldade
do professor ao trabalhar com temas sensíveis se associa à compreensão dos
conteúdos e à sua própria postura. Temos, então, uma questão didática, pois
envolve tomar decisões políticas e pedagógicas, e consideramos que a relação
entre ambas é dialética, não de influência mútua.
Mével e Tutiaux-Guillon (2013) indicam três considerações importantes
sobre temas sensíveis nas aulas, visto que não se aborda tais temas com uma
aula expositiva ou a apresentação de alguns documentos. Isso demanda tempo,
estratégia pedagógica, escuta e sensibilidade. São elas:
Foi nesse percurso que seguiu a estagiária quando deparou com o comen-
tário do aluno a respeito das memórias de seu pai sobre a ditadura militar no
Brasil. O caminho escolhido pela estagiária foi o de retomar a análise docu-
mental, refletindo sobre a impossibilidade de se noticiar ou denunciar tais prá-
ticas criminosas do Estado, retomando aspectos da repressão para além das
torturas e prisões. Porém, ficam em aberto as interrogações de Benoit Falaize:
Como falar sobre as feridas aparentes ou simbólicas das populações feridas, sem
ignorar o frio (e necessário) distanciamento dos fatos e dos documentos por ve-
zes em contradição com as memórias tais como elas são transmitidas de geração
em geração e tais como podem expressar‐se em sala de aula? O conceito de “me-
mórias traumáticas” tem sentido? (Falaize, 2014, p.230)
Assim, os temas sensíveis são potentes para ensinar História, pois não
envolvem um ponto de vista universal e, nesse sentido, são desafiadores e re-
levantes. Mas não somente isso. Há outra dimensão de sua abordagem que se
soma à complexidade de seu tratamento em sala de aula: eles envolvem per-
tencimentos, identidades e prioridades em conflito, suscitam emoções.
questões de classe, gênero, raça, etnia, geração, constituídas por categorias que se
entrelaçam na vida social – pobres, mulheres, afrodescendentes, indígenas, pes-
soas com deficiência, as populações do campo, os de diferentes orientações se-
xuais, os sujeitos albergados, aqueles em situação de rua, em privação de
liberdade – todos que compõem a diversidade que é a sociedade brasileira.
(Brasil, 2013, p.16)
Outra recomendação dos autores é abordar “as emoções com assuntos me-
nos sensíveis (escravidão na Antiguidade, guerras de religião no século XVI, uma
catástrofe longínqua...) a fim de preparar estudantes e professor para a gestão
das emoções mais vivas”. Nesse sentido, o trabalho com temas sensíveis/questões
controversas demanda tempo, pois, nesse caso, é “também progredir nas con-
trovérsias que implicam menos os adolescentes (a escravidão antiga é necessária
à cidadania? As guerras de religião são apenas guerras sobre crenças? Essa catás-
trofe poderia ser evitada?) em direção a debates mais avançados”.
Assim, se no caso francês (Mével; Tutiaux-Guillon, 2013; Falaize, 2014) o
ensino de temas sensíveis e questões controversas se volta para pensar em
como falar sobre o horror do sistema de extermínio (como abordar a Shoah
na sala de aula?), no caso brasileiro é pertinente pensar também a pobreza e a
violência. Dito de outra forma, como ensinar em escolas controladas por mi-
lícias, escolas onde qualquer movimento diferente leva os alunos a automati-
camente se jogarem no chão, escolas com toque de recolher, escolas em que o
professor recém-chegado é consolado pelos alunos diante da violência do en-
torno e, finalmente, a escola como o espaço do medo?
A escola pública brasileira está inserida em um contexto sensível em fun-
ção da violência, das desigualdades sociais, das lutas pelo reconhecimento de
grupos invisibilizados na história nacional e, mais recentemente, dos ataques
à profissão docente com projetos reacionários que buscam “vigiar e punir” os
professores. Queremos, portanto, pensar os temas sensíveis com base em ques-
tões vivas para a sociedade, controvérsias na historiografia, temas constrange-
dores para determinados grupos sociais, difíceis no contexto da escola, que
possam, queremos crer, produzir esperança nas salas de aula. Não se trata
somente de outra forma de se aproximar dos conteúdos de História, mas de
considerar os sujeitos para os quais se ensina História e seus contextos de vida,
marcados pela violência e pela desigualdade social, além do contexto de quem
ensina, marcado pelas perseguições e pela desumanização.
Nota II
Sobre uma investigação em andamento…
desesperada por entender o que significaria para sua filha crescer numa socie-
dade racista, as dúvidas se acumularam e eu apenas respondi: “Isso não pode
acontecer. A senhora precisa ir na escola da sua filha e conversar com a direção
e a professora para que tomem uma atitude”. Conto isso à guisa de reflexão
sobre o racismo introjetado na sociedade brasileira, com o qual os professores
precisam aprender a lidar todos os dias. O fato de eu ser professor de História
me pôs diante de um evento que me provocou, incomodou, exigiu respostas e
fez perceber uma nova temática para a pesquisa sobre migrações atuais: o
racismo.
Seleciono dois aspectos da minha prática que me ajudam a pensar o lugar
do professor de História na construção teórica em torno dos temas sensíveis.
Primeiro, o fato de ser professor e pesquisador no momento em que a proble-
mática trazida pela minha entrevistada me foi colocada. Explico: o trabalho
que estava desenvolvendo buscava encontrar testemunhos de migrantes para
ensinar sobre os movimentos migratórios atuais e a presença do direito à mi-
gração e ao refúgio no Brasil. Essa condição de professor pesquisador me levou
à entrevista, e, como algo que me precede, a profissão, vista pelos olhos da
entrevistada, me colocava no lugar de possível detentor da explicação – espe-
rada por ela – do motivo pelo qual sua filha era chamada de escrava. A escra-
vidão é, sim, um tema da alçada dos professores de História, assim como
também o é a relação com jovens e crianças (no caso, a mãe também queria
uma orientação sobre como convencer sua filha a voltar para a escola); contu-
do, a maneira como a questão foi posta trouxe à tona outro aspecto: a presença
do racismo na história do Brasil.
O fato de ser professor e estar diariamente rodeado de estudantes, ter mi-
nhas rotinas estabelecidas e os currículos de cada série praticamente internali-
zados com suas sequências didáticas, cronologias e metodologias desenvolvidas
por mim, meus colegas de profissão, autores de livros didáticos e pesquisadores
das diferentes áreas criou uma espécie de óculos que, de alguma forma, vinham
determinando minha maneira de observar a prática e a docência. A condição de
pesquisador-professor alimentado por pressupostos da educação e da história
possibilita a mim uma percepção diferente dos elementos que compõem a sala
de aula antes naturalizados. Assim, o contato com os migrantes reorientou tanto
minha prática na sala de aula quanto a questão de pesquisa em desenvolvimento,
fazendo emergir o trabalho em torno das questões sensíveis. O que temos aqui,
As diferenças que existem de onde eles vieram e o Brasil são muitas e nos mais
diversos âmbitos, mas principalmente na cultura.
É a Natureza do ser humano ser diferente. Perante questões culturais, de crenças
e hereditariedade, existem milhões de divergências que tornam “as diferenças” um
assunto sensível.
Acreditamos que a mudança da África para o Brasil não foi um processo fácil, por
isso podemos tentar entender um pouco mais sobre a saída de lá e como se deu
isso, pensando também no choque de troca de sociedade ao chegar no Brasil.
Precisamos mudar a nossa visão plana do que são os habitantes/imigrantes do
Senegal e de todo o território africano. Aprender como variam suas culturas, me
parece ser o ponto chave do projeto, visto que abre nosso olhar às suas diferentes
realidades.
caso) coloca para a escola a possibilidade de, por um lado, responder à exigên-
cia feita pela lei do ensino de história da África e afro-brasileira, e, por outro,
preparar os jovens para compreender e responder efetivamente ao intento da
lei de migrações, ambas questões que têm relação com o papel do professor de
História. No entanto, não deixa de ser lamentável que o país precise de leis
para que o respeito a essas histórias seja construído.
Muitos de nós, brasileiros, fomos educados acreditando na democracia
racial e na mistura como uma força identitária presente em todos os brasileiros.
Fomos edificados como nação com base em um discurso em torno da mesti-
çagem e da “contribuição das três raças” para a “civilização brasileira”; contu-
do, vemos o país mergulhado no racismo e na xenofobia, um paradoxo, no
mínimo, curioso: ao mesmo tempo que se forjou como um país das misturas,
o Brasil é um país em que alunos estrangeiros são chamados de negros escravos
dentro de nossas escolas. E, nessa medida, estamos, sim, tratando da defesa dos
direitos humanos e abordando questões sensíveis. No contexto das Leis
10.639/2003 e 11.645/2008, os livros didáticos têm trazido, em seus textos,
elementos da história da África, mas essas histórias necessitam se encontrar
com os novos sujeitos que chegam às mais diversas partes do Brasil, sejam eles
senegaleses, haitianos, angolanos etc. Trabalhar racismo e migrações na pers-
pectiva desses sujeitos recém-chegados que hoje fazem parte de nossa cidade
e reivindicam um espaço de acolhimento e reconhecimento é, também, uma
das finalidades da História ensinada.
Nota III
Em aberto…
Sou cético quanto à ideia de ser um historiador engajado. Penso que escolher
tópicos só porque são os de “nossa época”, porque dizem respeito ao “hoje”, signi-
fica ter uma visão míope e provinciana da história; mesmo porque, o que parece
totalmente distante da atualidade pode se tornar, repentinamente, o seu foco.
Lembro-me vividamente que, em 1969, meus alunos em Roma estavam freneti-
camente interessados em um só evento que acontecera em Turim em 1920: a
ocupação das fábricas pelos operários. Não pensavam em mais nada. E eu, traba-
lhando nessa época sobre a feitiçaria e os benandanti, estava a milhões de anos-
-luz de todos eles. No entanto, pouco tempo depois – e isso eu gosto de recordar
abertamente – nas manifestações de rua, as feministas gritavam: “Tremate, tre-
mate, le stregue son tornate” (“Tremam, tremam, as feiticeiras voltaram”).
(Pallares-Burke, 2000, p.293)
REFERÊNCIAS
NOTAS
1
Agradecemos a leitura atenta da professora Caroline Pacievitch, cujas abordagens ajuda-
ram a qualificar este texto.
2
Lembrando que a autora fala do contexto da França, onde a liberdade dos professores é
relativa, visto que os currículos são inspecionados.
3
O relatado na Nota II ocorreu no início do trabalho de pesquisa para o Mestrado
Profissional em Ensino de História – ProfHistória. A pesquisa busca encontrar, nas
Resumo Abstract
O que faz uma criança ou um adolescen- What makes a child or adolescent be-
te se tornar “sujeito de direitos”? Qual a come a “subject of rights”? What is the
relação do Ensino de História com os di- relation of History Teaching with the
reitos humanos desses agentes sociais? human rights of these social agents?
Com base nessas perguntas, pretende-se Based on these questions, we intend to
problematizar a relação do saber históri- problematize the relationship between
co escolar com os direitos humanos de the school’s historical knowledge and
crianças e adolescentes, buscando ques- the human rights of children and ado-
tionar as possibilidades e os desafios vi- lescents, trying to problematize the pos-
venciados nas aulas de história frente às sibilities and the challenges experienced
novas formas de entender as culturas in- in history classes in the face of new ways
fantis. A partir da promulgação do Esta- of understanding children’s cultures.
tuto da Criança e do Adolescente, a so- Since the enactment of the Statute of the
ciedade brasileira firmou um novo Child and the Adolescent, Brazilian so-
compromisso político com a forma de ciety has established a new political
pensar as infâncias, o qual deve ser vi- commitment with the way of thinking
venciado nos espaços sociais onde esses about childhood, and this commitment
meninos e meninas circulam. O Ensino should be experienced in the social
de História se relaciona diretamente com spaces where boys and girls circulate.
essa questão, e sua prática nos permite The History Teaching is directly related
efetivar o princípio reconhecido pelo Es- to this question, and from its practice we
tatuto de conceber esses agentes sociais can accomplish the principle recognized
como “sujeitos de direitos”. by the Statute to conceive these social
Palavras-chave: história; infância; ensino. agents as “subjects of rights”.
Keywords: History; childhood; teaching.
A cultura menorista não era praticada apenas por aqueles que seguiam o
Código de Menores, os juízes ou profissionais que atuavam no Sistema de
Justiça e de Segurança, mas também por diferentes pessoas que atuavam no
campo da saúde, da assistência social e da educação. Nas regulações fabricadas
por nossa sociedade disciplinar e de controle.
Percebo ainda que, além de estar presente nas diferentes ações punitivas
praticadas contra nossos adolescentes que cumprem medidas socioeducativas,
o menorismo permeia as tentativas de objetivação de meninos e meninas nos
espaços formativos (escola e sala de aula, família e comunidade). O menorismo
encontra-se nas práticas autoritárias que não permitem a organização política
de crianças e adolescentes nas escolas, como grêmios e diretórios; nas imposi-
ções produzidas no cotidiano familiar ou comunitário; nas diferentes formas
de negar a participação cidadã de meninos e meninas.
A historiografia da infância e da juventude sinaliza que, ao longo do sé-
culo XX, muitas propostas políticas colocaram o tema da assistência aos me-
ninos e meninas no centro do debate. Tais estudos afirmam que a lógica
punitivista estabelecida pelo Código de Menores foi teoricamente questionada
com base nos movimentos em defesa dos direitos humanos, vivenciado a partir
do final da década de 1970. À luz da lei, no Brasil, a primeira legislação que
reconheceu crianças e adolescentes como “sujeitos de direitos” foi a
Constituição Federativa do Brasil, promulgada em 1988.
A Constituição reproduziu o movimento político responsável pela fabri-
cação de “outra” sensibilidade ética em relação ao universo infanto-adolescen-
te,2 servindo como parâmetro para pensar as diferentes governamentalidades
sobre eles. Esse reconhecimento legal foi fruto do movimento que se articulou
nas ruas e nas praças, desdobramento da Campanha Criança Constituinte, que,
por sua vez, deu base ao Artigo 227 da Constituição de 1988, fazendo reconhe-
cer esses agentes sociais como sujeitos de direitos.
A Campanha foi organizada por entidades e organismos governamentais
que questionavam as legislações e as políticas vigentes e fez surgir, com base
em articulação dos movimentos sociais e setores governamentais mais pro-
gressistas, o Estatuto da Criança e do Adolescente. Acredito que o Estatuto em
si não representa um “avanço” ou um “progresso”, mas um marco histórico
na mudança de concepção sobre a legislação e a política voltadas para meninos
e meninas, sem, no entanto, uma conquista vivenciada por agentes sociais que
Esse processo contou com a participação das próprias crianças e dos ado-
lescentes que, por meio do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua,
ocuparam a Explanada dos Ministérios, na Capital Federal, em defesa do fim do
Código de Menores. Foi no período da redemocratização que assistimos à atua-
ção dos movimentos sociais, nos quais “novos protagonistas” entraram em cena
e, com eles, a luta em defesa do “direito a ter direitos” (Miranda, 2015).
Contudo, ao realizar uma leitura crítica do Estatuto, é preciso entender o
processo de sua produção com base no tempo histórico. Os novos estudos
sociais da criança sinalizam que, mesmo representando um marco histórico
da legislação pró-infância, o dispositivo carrega consigo uma ideia de “sujeito
universal” fortemente marcado pela concepção liberal dos direitos humanos,
que, por sua vez, busca universalizar a ideia de criança e adolescente. Segundo
Schuch: “A imagem da ‘criança universal’ aparece com a internacionalização
de sua atenção, personagem que passa a guiar as legislações e normativas in-
ternacionais, marcadamente liberais, embora a expansão dessa influência tenha
se dado em um momento histórico de presença de uma ideologia modernista
no Brasil” (Schuch, 2009, p.127).
Esse princípio universalista já estava presente na Convencional dos
Direitos da Criança e do Adolescente, de 1989, que serviu como base para a
produção do Estatuto. De acordo com Castro,
Por mais que o direito positivo ocidental tenha recentemente manifestado a preo-
cupação com a criança, vista como um sujeito de direitos, através da Convenção
Internacional dos Direitos da Criança (1989), problematiza-se também sua racio-
nalidade universalizante. Os 181 países signatários dessa Convenção se conforma-
ram a uma visão de criança e de sociedade, passando por cima de situações
culturais particulares que fazem da infância e dos valores a ela atribuídos algo
diferente do que quer a visão dos países centrais. (Castro, 2002, p.51)
as outras pessoas. Assim, a sala de aula pode permitir que meninos e meninas
conheçam o passado para melhor entender o presente, passo fundamental para
que as pessoas se tornem sujeitos da história.
De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica, o Ensino
de História deve estar preocupado com a promoção da “consciência política
e histórica”. Ao estabelecer uma série de diretrizes baseadas nos princípios
do “fortalecimento de identidades e de direitos”, a primeira a ser elencada
foi “a igualdade básica de pessoa humana como sujeito de direitos” (Brasil,
2013, p.484).
Para que os princípios da educação em direitos humanos presentes nas
Diretrizes sejam vividos, é necessário (re)pensar o espaço sala de aula ainda
marcado pela rigidez disciplinar e pela relação verticalizada. Segundo os estu-
dos de Henry Giroux e Anthony Penna, é preciso pensar o conhecimento es-
colar e sua conexão com as relações sociais e a vida na sala de aula. Para esses
pesquisadores, tal espaço exerce função importante, uma vez que “trabalhar
em sala de aula significa aprender a viver em agrupamentos” (Giroux; Penna,
1997, p.61). E como esse debate pode contribuir com a discussão sobre a rela-
ção entre aula de História e os direitos da criança e dos adolescentes?
Geralmente, o debate sobre os direitos humanos de crianças e adolescen-
tes chega à sala de aula por meio da leitura do Estatuto da Criança e do
Adolescente, que vem sendo tratado como mais um dispositivo legal a estabe-
lecer parâmetros ou diretrizes para o Ensino de História. O Estatuto se encon-
tra presente nas próprias Diretrizes Curriculares da Educação Básica, na Base
Nacional Comum, nos editais do Programa Nacional do Livro Didático
(PNLD). Contudo, é importante saber como ele chega à aula de História, para
além de fundamentar documentos ou de transversalizar conteúdos, saber co-
mo o sentimento de que esses meninos e meninas são sujeitos de direitos é
vivenciado nas relações humanas construídas no espaço escolar.
Há três desafios centrais para os professores de História que se encontram
abertos à possibilidade de vivenciar os direitos da criança e do adolescente em
sua sala de aula. Buscando conexões com o que já foi debatido, tentarei pro-
vocar uma reflexão crítica em relação a esses desafios, compreendidos como
desafios para o professor e a professora: 1) (re)pensar as concepções tradicio-
nais do “ser criança” e do “ser adolescente”; 2) concebê-los como sujeitos de
direitos; 3) reconhecer as diferentes infâncias.
O desencanto é uma perda das imagens que provocam nossa docência, a educa-
ção e as escolas. Colocamos a pergunta: que olhares projetamos sobre os alunos?
Com que imagens os representamos? Que imagens carregamos da infância, ado-
lescência e juventude? Os(as) alunos(as) “que não são mais os mesmos” cabem
nessas imagens? Não nos incomodam exatamente porque quebraram essas ima-
gens? Vivenciar essas inseguranças pode ser positivamente amedrontador.
(Arroyo, 2014, p.35)
Considerações finais
REFERÊNCIAS
NOTAS
1
Além da Redução da Maioridade Penal, que “coloca como causa problema da criminali-
dade no Brasil os/as adolescentes de 16 a 18 anos que cometem ato infracional”, outras
propostas conservadoras tramitam na Câmara Federal ou no Senado brasileiro em Projetos
de Leis ou Projetos de Emendas Constitucionais, apresentados por parlamentares. As pro-
postas foram apresentadas por deputados ou senadores oriundos de partidos conservado-
res. A Redução da Maioridade Penal, oficializada como Projeto de Emenda Constitucional
171, é de autoria do deputado Benedito Domingos, do Partido Progressista do Distrito
Federal, no ano de 1993, e objetiva alterar a redação do art. 228 da Constituição Federal,
Repaso mi escolaridad:
siguió su relato; sí sé, en cambio, que, atenta, escuché algunos nombres por
primera vez: Yrigoyen, Uriburu, Frondizi y, por supuesto, Perón. También
recuerdo a “Isabelita” y a Salvador Allende. Pero lo que me resultó más reve-
lador en aquel momento fue la dinámica que motorizaba su narrar: aquella que
enfrentaba a un ellos (“los militares”) con un nosotros (“el pueblo”) en una
pulseada que, al parecer, venía de largo rato.
Hoy, siendo ya historiadora, reconozco en la narrativa de mi padre las mar-
cas de la Argentina transicional; y, por supuesto, que no es aquella respuesta la
misma que yo ofrecería para explicar ese pasado. Pero esa noche, cuando volvi-
mos a casa, yo estaba feliz: creía entenderlo todo. Su respuesta me había ofrecido
un mapa complejo pero esclarecedor y, también, las coordenadas para saber
dónde estaba bien y dónde estaba mal posicionarse en él. En resumidas cuentas,
aquella tarde, la historia me había explicado la política; la historia me había
ofrecido un sentido para “ordenar”, “leer” y entender el presente que vivía.
Pasarían pocos meses para que yo ingresara a la escuela secundaria pri-
mero, y me internara, después, en una temprana, fugaz e intensa militancia en
al Federación Juvenil Comunista (entre los 13 y los 16 años). De las clases de
Historia del colegio, recuerdo poco y nada. Lamento decirlo pero es la pura
verdad: la enseñanza impartida en aquel entonces en la mayoría de los colegios
públicos, era aquella atiborrada de información fáctica, lineal, carente de in-
terrogantes o problemas y, por ende, carente de sentido. De modo que no fue
la instrucción allí recibida lo que me llevó a estudiar historia por aquellos años,
sino mi experiencia de militancia. Fue ésta una experiencia sumamente for-
mativa, en muchos sentidos. Por rudimentarios que puedan haber sido los
resultados en aquel entonces, lo cierto es que allí aprendí a leer textos políticos,
a debatir y a argumentar en política, a estudiar teoría (en realidad estudiaba
una versión muy esquemática y empobrecida del marxismo pero eso no es
sustantivo para lo que trato de decir aquí); y la historia estaba indefectiblemen-
te presente en esos textos, en esos debates, en aquella teoría. De modo que diría
que cuando finalmente decidí estudiar Historia, fue por algo así como una
pasión por la política; y esa pasión no provino de mi formación escolar sino
del “afuera”: un poco de la mesa familiar y otro poco de la militancia.
El ingreso a la Universidad representó para mí un cambio para el cual no
encuentro aún adjetivos. Fue algo así como cuando se corre el telón del escena-
rio. El descubrimiento de un mundo. Diría que desde la primera clase, la pasión
por la política quedó desplazada, sin que yo lo advirtiera siquiera, por la pasión
por el saber, por la avidez de conocimiento. Nuevamente me veo obligada a
contextualizar. Yo realicé el ciclo básico de ingreso en 1989 e ingresé a la Facultad
en 1990. Por aquel entonces, hacía rato que había abandonado la militancia en
la FJC (desencantada ya no recuerdo bien de qué), y exactamente dos años des-
pués de lo que hiciera, caían el Muro de Berlín y los socialismos reales. Hoy, suelo
decir que esas caídas dejaron sin faro y sin lenguaje a millones de hombres y
mujeres en el mundo entero… quizás, sin tanto dramatismo, algo de eso me haya
pasado a mí en aquel momento: si el lenguaje de la política estaba cooptado por
el del neoliberalismo, si la pregunta por el poder quedaba reducida a una cues-
tión de administración de gastos del Estado, si el fundamento inalienable de toda
política ya no era la emancipación del hombre – como lo había sido para mí hasta
entonces y como lo sigue siendo hasta hoy – sino el mercado o la ganancia del
capital… pues entonces, nada había de convocante para mí en ese mundo. A la
inversa de lo que había sucedido siete años antes, mi nueva etapa de formación
– y de pasión – trascurriría, ahora, intramuros.
Los años de mi formación universitaria coincidieron con la consolidación
de la llamada “profesionalización del campo”; y, aunque la historiografia re-
sultante fuera acusada por aquel entonces de aspirar a un divorcio absoluto
entre la historia y la política, debo decir, sin duda alguna, que yo me sentí – y
me siento – privilegiada por los profesores que tuve. Hasta el día de hoy, re-
cuerdo mi propio deslumbramiento en las clases teóricas de Luis A. Romero,
de Enrique Tándeter, de Hilda Sábato, de Gastón Burucúa, de Oscar Terán, de
José Sazbón, de Ricardo Graziano… para mí fue, realmente, una revolución
copernicana. Yo venía con un know how político – y en infinita menor medida,
histórico – matrizado por mi militancia (insisto, por una militancia que incluso
hoy en día reivindico fundamentalmente por su valor formativo). Pero yo
venía con certezas y me encontré con dudas e interrogantes; yo venía conven-
cida de que existía La Verdad, así, con mayúsculas, y me encontré con que
había interpretación, debate, problema; yo venía con esquemas explicativos
unilineales, y me encontré no sólo con la multicausalidad, más importante aún,
con la variedad de enfoques y abordajes. Yo no sabía que había debates dentro
del marxismo, mucho menos que esos debates se disputaban la interpretación/
explicación de un fenómeno histórico; yo no sabía que había escuelas histo-
riográficas ni que un mismo fenómeno podía ser explicado desde múltiples
libro de los setenta se editaba por entonces, bibliografía que, dicho sea de paso,
era básicamente testimonial. Con un poco con vergüenza, fui a hablar con
Tándeter para insinuarle que dudaba acerca de mi interés historiográfico, que
no sabía si me interesaba más el mundo indígena o el de los años setenta. Con
la sabiduría y la generosidad que lo caracterizaba, me respondió simplemente:
“Vera, la pasión garantiza el éxito. No te imagino estudiando nahuatl pero sí
con los cachetes colorados discutiendo de política de acá para allá. Dedicate a
los setenta…pero no te distraigas, concentrate y estudiá”. No sé si supe o pude
hacerle caso en la última parte de su consejo, pero estaré siempre agradecida
por aquellas palabras que fueron las que finalmente me impulsaron a sumer-
girme en ese mundo fascinante de la investigación, en una clave que reunía mi
pasión por la política (entendida ésta como intervención en los asuntos públi-
cos) y mi pasión por el conocimiento histórico.
Y simplemente comencé a investigar. Ya me había decidido por la mili-
tancia revolucionaria y opté por la guerrilla porque era un tema del que todavía
se sabía poco. ¿Por qué el PRT-ERP1 y no Montoneros? Supongo que sencilla-
mente porque el lenguaje marxista me era más familiar que el vasto y hetero-
géneo universo del peronismo. Además mi mamá tenía un paciente que había
sido del PRT-ERP, un obrero metalúrgico que vivía en la ciudad de Rosario y
que estaba dispuesto a darme testimonio. Así que sencillamente, viajé 300 km
para tocarle el timbre, grabador bajo el brazo… y así empecé. Él me fue pre-
sentando a otros y esos otros a otros.
Un año después, el Programa de Historia Oral fue convocado por la
Asociación Memoria Abierta para la construcción de un Archivo Oral sobre
terrorismo de Estado. Ahí trabajé 8 años… Mi recorrido hasta aquí es, en gran
medida, el resultado de esos dos emprendimientos: el de mi investigación sobre
el PRT-ERP y el de mi experiencia en Memoria Abierta.
una sociedad más justa. Para ello, el foco de enseñanza se desplaza: de las
grandes fechas patrias y las biografías gloriosas a las estructuras y procesos
(económicos, sociales, políticos, culturales, etc.) protagonizados por sujetos
históricos colectivos, incluyendo o “recuperando” a los anteriormente negados:
clases subalternas, grupos étnicos marginados como indígenas y afro descen-
dientes, mujeres, niños, etc. La identidad nacional se propone ahora como
parte de una identidad ya no enfrentada sino más bien vinculada a la identidad
regional Latinoamérica.
Ahora bien, obviamente, estas prescripciones legales/curriculares tienen
un impacto muy desigual en las prácticas docentes, donde las más de las veces,
conviven, híbridamente, ambos paradigmas. A lo anterior debe añadírsele,
además, un propósito bastante extendido entre los docentes y que ha sido
señalado recientemente y con alarma por mi colega Ariel Denkberg: el de en-
señar “la verdadera historia” (enfrentada a otra “falsa”, que sería una suerte de
tergiversación o adulteración adrede de la verdad). Esta visión es visible en
docentes que transmiten a los alumnos una visión de la historia destinada a
denunciar a los “poderosos” (clases dominantes, estados centrales, etc.) y “re-
velar” la presencia de los dominados, de las de clases subalternas, la de los
países periféricos, etc. Esta visión comparte la mirada “moralista” del paradig-
ma “nacionalista” pero con ciertos cambios en el panteón. La resultante es una
narrativa unilineal, monocausal, que anula la multiperspectividad histórica,
desconoce la legitimidad de los debates historiográficos y en la que, las más de
las veces, la denuncia de tenor político suplanta el análisis crítico del pasado.
Así como escribe Susan Sontag en el libro Ante el dolor de los demás, sobre
las representaciones de la guerra y los efectos que ejercen sobre quién las ve;
en Los combatientes usted alerta para las representaciones de las llamadas
“guerras de izquierda” y los efectos que ellas ejercen en el presente, como una
suerte de trauma, que hace de su abordaje en el presente un tema muy sensi-
ble. Cuando el pasado se convierte en un tema sensible para la sociedad?
Podría decirse que aunque el pasado suele ser siempre terreno de disputa,
es cierto que determinados acontecimientos, fenómenos y procesos se tornan
particularmente conflictivos y “sensibles” en su tramitación colectiva o social.
En la actualidad, y para referirme sólo al terreno de la historia política pare-
cieran ser especialmente aquellos vinculados a experiencias de violencias
del cara a cara, todo esto se materializa de mil maneras: en los gestos, en las
miradas, en los susurros, en los silencios, en las lágrimas, en los pudores, en
las vergüenzas… y, también en las expectativas que la entrevista – y lo que haga
el historiador con ella – generan. Testimoniar no es fácil. Y cuando hay tanto
sufrimiento en la experiencia evocada se genera un vínculo muy especial, muy
fuerte, diría, entre entrevistador y entrevistado. Al menos así lo viví yo, como
un compromiso humano inquebrantable. Lo cual, por supuesto, me llenaba de
responsabilidad, de dudas, de temores. ¡Las veces que habré soñado que yo
comparecía ante un tribunal integrado por alguno de mis entrevistados! ¡Las
veces que me habré desvelado de madrugada pensando qué diría tal o cual de
lo que yo estaba escribiendo! ¿Se reconocerían en mis textos, en mis análisis?
¿Se debían reconocer?
Bueno, finalmente, quizás sin darme cuenta precisa, parece que opté por
escribir una historia de la militancia y no una historia para la militancia. Fue
la forma más honesta que pude para responder a aquel compromiso.
¿Cuáles son las implicaciones para el profesor al abrir la clase para tales
temas? ¿Cómo orientar al profesor para que no se crie una oposición entre
memoria e historia en el abordaje de temas sensibles?
Yo pienso, en principio, que el peor escenario posible respecto de los te-
mas controversiales del pasado es desechar su abordaje. Y lo señalo porque
suele ser una opción corriente: como es un tema problemático, mejor evite-
moslo. Por el contrario, yo creo que hay que arremangarse y, por difícil o de-
safiante que resulte, incorporarlos a la enseñanza. Ustedes en su pregunta han
utilizado una palabra clave: abrir. Creo que se trata precisamente de eso: de
abrir la clase a estos temas para tratarlos, para pensarlos, para debatirlos; para
desnaturalizar conceptos, valores, representaciones, etc. Pero cuidado, no a
partir de denuncias, sentencias o peroratas morales – que en poco y nada
contribuyen a un aprendizaje significativo – sino, de nuevo, a partir de una
didáctica polifónica que recupere la multiperspectiva de los sujetos históricos
y de los sujetos de conocimiento (es decir, de los analistas sociales); que dé
cuenta del carácter construido, interpretativo e inacabado del conocimiento
histórico; y en consecuencia, que aborde la diversidad de enfoques y debates
historiográficos en torno a estos temas, reconociendo explícitamente la legiti-
midad del disenso. Y ahora señalo esto último porque también corrientemente
se configura en la práctica de enseñanza de temáticas controversiales una si-
tuación que encuentro alarmante: que el aula se convierte en espacio de
adoctrinamiento.
El hecho de que el profesor tenga personalmente una posición determi-
nada o tome clara posición respecto de un tema o problema controversial; que
esa posición pueda ser eventualmente explicitada, no es equivalente a decir que
es correcto o legítimo convertir al aula en tribuna doctrinaria desde la cual el
profesor “baja línea” decreta verdades inapelables y dictamina cuál es una pos-
tura correcta y cuál no lo es. Si de la formación de ciudadanos críticos se trata,
debe garantizarse el acceso del alumno al conjunto de las miradas
(la llamada “teoría de los dos demonios” se alimentó, entre otras cosas, de
representaciones sociales sobre el conflicto armado de los años 70 y esas re-
presentaciones sociales, que echan raíces en experiencias colectivas, tuvieron
a aquellas acciones puntuales como referentes ineludibles).
Creo, entonces, que deben diseñarse secuencias didácticas que aborden este
tema, atendiendo al contexto internacional, regional y nacional de la violencia
revolucionaria, a sus sentidos, a sus objetivos, a las tradiciones religiosas, políticas
e ideológicas que nutrieron esa violencia, a los actores que la protagonizaron…
y también a sus prácticas, a sus acciones puntuales, incluyendo, insisto, los ajus-
ticimientos; a las simpatías y condenas que recibió, al porqué de esas simpatías
y el porqué de esas condenas; a los debates, incluso retrospectivos, que generó,
entre los propios actores y dentro del campo académico (¿es realmente la exis-
tencia de la guerrilla lo que explica el advenimiento del terror estatal? ¿qué lugar
le ocupo a la violencia revolucionaria en la trama que llevó al 76?).
Y por supuesto, un abordaje como el que propongo, exige incluir las ra-
zones por los cuales ninguno de aquellos hechos justifica el crimen de Estado;
las razones por las cuales la violencia revolucionaria no puede ser equiparada
ni política ni jurídica ni éticamente con la violencia ejercida desde el poder; las
razones por las cuales los delitos cometidos por las organizaciones armadas
han prescripto y los cometidos por el Estado, en cambio, son considerados de
lesa humanidad y por tanto son imprescriptibles e inamnistiables.
En fin, creo, sencillamente que el análisis crítico y la enseñanza de la his-
toria tienen mucho que aportar y los silencios muy poco…
Sé que no es fácil, insisto, y sé que estos abordajes exigen una cantera de
saberes y recursos que es muy injusto reclamárselos al docente sin más. En este
punto, creo que los historiadores hemos aportado mucho, pero creo que aún
estamos en deuda. Y finalmente creo también, que si no expulsamos a los si-
lenciamientos y a la autocensura de nuestras intervenciones públicas, difícil-
mente saldemos esa deuda, y difícilmente podamos cumplir con la razón de
ser de nuestro oficio: la construcción de sentidos.
¿Dicho eso, y para terminar, cómo las clases de Historia pueden contribuir
a una Educación en Derechos Humanos?
Toda narrativa histórica anida un legado implícito: su propia construcci-
ón parte de una serie de interrogantes y valores previos, determinado por un
REFERÊNCIAS
CARNOVALE, Vera. Los combatientes: historia del PRT-ERP. Siglo Veintiuno, 2011.
CARNOVALE, Vera; LARRAMENDY, Alina. Enseñar la historia reciente en la escue-
la: problemas y aportes para su abordaje. In: SIEDE, Isabelino (Coord.) Ciencias
Sociales en la escuela: criterios y propuestas para la enseñanza. Buenos Aires:
Aique, 2010. p.237-265.
SCHUJMAN, Gustavo; CLÉRICO, Laura; CARNOVALE, Vera. Derechos humanos y
ciudadanía. Buenos Aires: Aique, 2005.
NOTA
1
Partido Revolucionario de los Trabajadores (PRT). Su brazo armado fue el Ejército
Revolucionario del Pueblo (ERP).
Resumo Abstract
Na conjuntura política atual, em que a In the current political conjuncture,
garantia de um Estado laico encontra-se where the guarantee of a secular state is
ameaçada por interesses políticos de de- threatened by the political interests of
terminados grupos de legisladores, a certain groups of legislators, education
educação vem sendo cerceada de princí- has been curtailed by basic principles
pios básicos garantidos pela Lei de Dire- guaranteed by the Law of Guidelines
trizes e Bases (nº 9.394/96), tais como and Bases (9.394/96), such as freedom
liberdade de aprender, ensinar, pesqui- to learn, teach, research and dissemi-
sar e divulgar a cultura, o pensamento, a nate culture, thought, art and knowl-
arte e o saber; pluralismo de ideias e de edge; pluralism of ideas and pedagogical
concepções pedagógicas; respeito à li- conceptions; and respect for freedom
berdade e apreço à tolerância. O artigo and appreciation of tolerance. The arti-
discute o modo como esses três princí- cle discusses how these three principles
pios vêm sendo negligenciados por con- have been neglected by political-reli-
cepções político-religiosas mediante es- gious conceptions through political
tratégias políticas de determinados strategies of certain groups that nowa-
grupos que levantam hoje a bandeira de days raise the banner of an ideal propa-
um ideal propagado como “Escola Sem gated as “school without political par-
Partido”. Também reflete sobre o modo ty”. The article also discusses how the
como a crítica aos conteúdos escolares criticism of school content dealing with
que versam sobre a identidade de gêne- gender identity and sexuality is linked
ro e a sexualidade está atrelada aos obje- to the objectives of the “School without
tivos dos adeptos do Movimento Escola Political Party” Movement (MESP) sup-
Sem Partido (MESP). porters.
Palavras-chave: Movimento Escola Sem Keywords: “School without Political
Partido; doutrinação marxista; ideolo- Party” movement; Marxist indoctrina-
gia de gênero. tion; gender ideology.
* Doutoranda pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Dourados, MS, Brasil.
paulahilgert.ufgd@gmail.com
Fonte: http://www.planocritico.com/fora-de-plano-14-chega-de-
doutrinacao-marxista-basta-de-paulo-freire/
próprio ser (aluno) como comunicação. Freire (2014, p.173) aponta que negar
a intercomunicação é temer a liberdade. Assim, entende-se que refutar uma
educação com base no diálogo significa reduzir os alunos a meras coisas, sem
sentido na existência.
O filósofo e pedagogo Paulo Freire (1921-1997), expressão da pedagogia
crítica, estudado mundialmente, legou uma rica produção teórica que atual-
mente vem sendo alvo de determinados grupos sociopolíticos, apontado como
pai da “doutrinação marxista” nas escolas do Brasil. Qual seria, portanto, o real
perigo da teoria de Freire? Em 1968 – ano da primeira edição de Pedagogia do
oprimido – esse pensador escreveu que
críticos seremos se vivermos a plenitude da práxis ... se nossa ação involucra uma
crítica reflexão que, organizando cada vez o pensar, nos leva a superar um conhe-
cimento estritamente ingênuo da realidade. Este [pensamento] precisa alcançar
um nível superior, com que os homens cheguem à razão da realidade. Mas isso
exige um pensar constante que não pode ser negado às massas populares, se o
objetivo visado é a libertação. (Freire, 2014 p.176, grifos meus)
família. Na prática, toda família realiza a educação sexual de suas crianças e jo-
vens, mesmo aquelas que nunca falam abertamente sobre isso. O comportamen-
to dos pais entre si, na relação com os filhos, no tipo de “cuidados” recomendados,
nas expressões, gestos e proibições que estabelecem, são carregados dos valores
associados à sexualidade que a criança e o adolescente apreendem. O fato de a
família ter valores conservadores, liberais ou progressistas, professar alguma
crença religiosa ou não, e a forma como o faz, determina em grande parte a edu-
cação das crianças e jovens. Pode-se afirmar que é no espaço privado, portanto,
que a criança recebe com maior intensidade as noções a partir das quais vai cons-
truindo e expressando a sua sexualidade. Se as palavras, comportamentos e ações
dos pais configuram o primeiro e mais importante modelo da educação sexual
das crianças, muitos outros agentes sociais e milhares de estímulos farão parte
desse processo. Todas as pessoas com quem convivem – outras crianças, jovens e
adultos – ao expressarem sua sexualidade ensinam coisas, transmitem conceitos
e ideias, tabus, preconceitos e estereótipos que vão se incorporando à educação
sexual. A mídia, nas suas múltiplas manifestações, e com muita força, assume
relevante papel, ajudando a moldar visões e comportamentos. Ela veicula ima-
gens eróticas, que estimulam crianças e adolescentes, incrementando a ansiedade
e alimentando fantasias sexuais. Também informa, veicula campanhas educati-
vas, que nem sempre são dirigidas e adequadas a esse público. Muitas vezes tam-
bém moraliza e reforça preconceitos. Ao ser elaborada por crianças e
adolescentes, essa mescla de mensagens pode acabar produzindo conceitos e ex-
plicações tanto errôneos quanto fantasiosos. A sexualidade no espaço escolar não
se inscreve apenas em portas de banheiros, muros e paredes. Ela “invade” a esco-
la por meio das atitudes dos alunos em sala de aula e da convivência social entre
eles. Por vezes a escola realiza o pedido, impossível de ser atendido, de que os
alunos deixem sua sexualidade fora dela. (Brasil, 1998, p.291-292)
Para poder definir quais temas sociais deveriam ser selecionados como transver-
sais, a equipe responsável pela elaboração dos PCNs estabeleceu que o tema teria
que atender aos critérios de urgência social, abrangência nacional, possibilidade
de ensino e aprendizagem no ensino fundamental, favorecimento da compreen-
são da realidade e da participação social. A Educação Sexual pôde ser incluída,
então, por atender a todos os critérios acima. O fator mais decisivo para tal foi,
sem dúvida, a urgência social, o que é totalmente válido e fundamentado. Uma
coisa fica clara: se não fossem os problemas que a vivência da sexualidade traz
para a sociedade, ela não estaria entrando agora no currículo escolar. Ter sido
incluída por este critério pode interferir no sentido, para o professor, do ensino
das questões da sexualidade. (Figueiró, 2000, s.p.)
Chega de ficar em silêncio. Precisamos bradar aos quatro cantos que há um lindo
cavalo de madeira no pátio da escola. Ele é grande, suntuoso e nada se parece
com um espantalho produzido para estabelecer pânico social. Muito pelo contrá-
rio. Trata-se de um cavalo magnífico, feito para encantar desavisados professores,
coordenadores, gestores e reprogramar crianças. Um cavalo que traz sobre o dor-
so uma sela cuidadosamente trançada e multicolorida como símbolo das diferen-
tes culturas e da diversidade de gênero. Como um presente de grego, esse Cavalo
de Troia chega com nobres intenções: acabar com o preconceito contra os dife-
rentes, construir relações de gênero mais justas e ressignificar as práticas sociais
por meio da construção de uma cultura de paz ... Esse magnífico presente que
adentra à escola, símbolo da suposta defesa dos direitos humanos, trouxe em seu
interior “a maldita e mal dita” ideologia de gênero – expressão usada por um
professor de Goiânia (Thiago Cazarim). Mas como os soldados dentro do Cavalo
de Troia, essa ideologia se materializa em militantes armados em suas línguas feri-
nas prontas para acusar, difamar, desrespeitar e difundir o preconceito contra a fa-
mília tradicional e os religiosos cristãos. Eles estão prontos para agredir
verbalmente, e quiçá, fisicamente, quem não idolatra a estátua de madeira que
ameaça confundir as identidades de crianças indefesas e inocentes ... A quem dese-
jam enganar os ideólogos de gênero? E quem eles chamam para defendê-los?
Justamente Gramsci, Butler, Marx, Beauvoir? Exatamente os militantes assumi-
dos do ideário de gênero? O que é isso? Confissão ou delação premiada? E qual é
o prêmio? Destruir a família tradicional ou burguesa, um dos principais alvos
marxistas, proclamado no Manifesto Comunista. Desarmem-se dos subterfú-
gios. Assumam suas reais intenções ... podemos ver as claras intenções desse gru-
po de ideólogos: doutrinar as crianças a todas essas práticas sexuais. Não se trata
de discutir relações de gênero. Trata-se de erotizar crianças e estimular práticas
sexuais das mais diversas ainda na infância. (Ramos, 2016, s.p., grifos meus)
Fonte: https://liberdadeparaensinar.wordpress.com/tag/odio-aos-professores/
Fonte: https://liberdadeparaensinar.wordpress.com/tag/odio-aos-professores/
Fonte: https://liberdadeparaensinar.wordpress.com/tag/odio-aos-professores/
são visíveis ameaças. Percebe-se que não se denunciam nas imagens críticas às
teorias que sofrem seus ataques. A escola é tida como instituição corruptora.
O exercício que essas imagens propõem é a injúria aos trabalhadores da edu-
cação, bem como aos legítimos referenciais teóricos e aos movimentos sociais.
Ao ler as imagens, o professor Fernando Penna destaca que “os olhos das
professoras não aparecem, ocultos pelos seus óculos, reforçando a sua desu-
manização”, e acrescenta:
Estes movimentos afirmam que a “ideologia de gênero” teria como meta incenti-
var os alunos a abandonar a religião e incentivá-los a fazer sexo. Discutir gênero
em sala de aula não é isso. É problematizar a violência doméstica. É trazer para a
sala de aula a representação de famílias de diferentes configurações. É permitir
que as pessoas de diferentes orientações sexuais se percebam representadas, e
não silenciadas, no conhecimento produzido nas escolas. (Penna, 2015, s.p.)
Nos Parâmetros Curriculares para o ensino médio, a situação é talvez pior: a pa-
lavra gênero aparece uma única vez, na seção de História, em uma discussão so-
bre a cidadania no Brasil. Novamente, surge sem uma explicação do seu
significado e podendo ser substituída por sexo, mantendo-se o sentido do texto.
Entretanto, há, ao longo das recomendações, uma preocupação com a “pluralida-
de de sujeitos” e com as identidades individuais e coletivas, especificamente as de
grupos minoritários entendendo as mulheres como um destes grupos ... Se o
avanço no campo da história das mulheres e da história das relações de gênero
não se faz presente nos parâmetros curriculares, também muito pouco se faz nos
livros e materiais didáticos. (Moura, 2016, p.116)
O ensino de história foi e continua (hoje com mais força) afetado por essa
tendência que negligencia as referidas abordagens aqui discutidas, na medida
em que essas discussões, ao se alicerçarem sobre bases ideológicas, impedem
o avanço das temáticas de gênero no campo educacional, ferindo o direito à
diferença e o respeito ao outro, limitando a visão da plena democracia e che-
gando ao extremo de condená-la.
Os estudos de gênero vêm sendo escamoteados por essa expressão con-
servadora, tornando-se, a partir de determinados discursos, uma ameaça à
suas raízes apenas no campo pedagógico, mas na teia de relações que se estabele-
cem no campo social mais amplo do contexto histórico-social onde a escola está
inserida. (Corrêa, 1995, p.48-49)
REFERÊNCIAS
NOTAS
1
Séculos após a Reforma Protestante, que tornou reais os projetos de Igrejas cristãs como a
Luterana, Anglicana, Metodista, Presbiteriana e Batista, surge em 1901, nos Estados Unidos,
12
Os grifos em itálico são de PENNA, 2017. O mesmo autor analisa esses e outros memes
veiculados em texto cuja referência encontra-se ao final deste trabalho.
13
Observa-se que tanto a temática da sexualidade como a da ideologia de gênero estão
circunscritas nos projetos “Escola Sem Partido”.
Resumo Abstract
As narrativas míticas, entendidas aqui The mythical narratives, understood
como um conjunto de discursos que here as a set of discourses that lent intel-
emprestavam inteligibilidade, coerência ligibility, coherence and often cohesion
e muitas vezes coesão às culturas anti- to ancient cultures are present in the
gas, estão absolutamente presentes nos curricula of the 6th year of elementary
currículos do 6º ano do ensino funda- school. The main purpose of this paper
mental. O presente trabalho tem como is to unite the notion of historical con-
principal intuito unir a noção de cons- sciousness and the mythical narratives
ciência histórica e as narrativas míticas in an empirical research with the stu-
em uma pesquisa empírica com os alu- dents of the 6th year of a public school
nos do 6º ano do ensino público do mu- in the Duque de Caxias county, Rio de
nicípio de Duque de Caxias (RJ). Dessa Janeiro state. In this way, this paper en-
maneira, este paper vislumbra apresen- visages to present a set of results of a
tar um conjunto de resultados de uma pedagogical experience, in creating a
experiência pedagógica, ao criar um universe of alterities, but also of possi-
universo de alteridades, mas também de bilities of identification and new read-
possibilidades de identificação e novas ings of the world on the part of the stu-
leituras de mundo por parte dos alunos dents when they come in contact with
ao entrarem em contato com sociedades ancient cultures and societies.
pretéritas. Keywords: Ancient History; teaching of
Palavras-chave: História Antiga; ensino History; historical consciousness.
de história; consciência histórica.
passado e com a memória? Como lidar com alunos que trazem para a sala de
aula uma consciência histórica em parte formada pela grande tela hollywoo-
diana a partir de filmes como Hércules, última versão de 2014, ou Fúria de
Titãs, que teve um remake em 2010? Embora não se possa responder especifi-
camente a essas indagações aqui, elas são absolutamente legítimas a uma pes-
quisa aplicada. O que se quer enfatizar é que existe uma relação reflexiva entre
a vida cotidiana e a visão que se pode ter da produção científica, inclusive a
histórica.2 Que peso o ensino de História pode ter em relação às formas de se
dar sentido e orientar a ação no mundo?
Outro autor que merece nossa atenção é Luis Fernando Cerri, que em
2013 publicou um livro que tentava dar conta das relações entre a noção de
consciência histórica e o ensino de História. O fio condutor das reflexões de
Cerri é a questão da construção de uma identidade, pois, para ele, esta pressu-
põe a formação da consciência histórica. Nesse sentido, para Cerri, ideias,
valores, formas sociais e instituições fazem parte de um movimento contínuo
de inclusão e exclusão que é intrínseca à formação das identidades e da cons-
ciência histórica. Cerri afirma, outrossim, que a influência da opinião dos pro-
fessores sobre os alunos é superestimada, bem como a ideia controversa de que
o currículo oficial é crucial para a formação das opiniões dos alunos. Por fim,
o professor Cerri considera central responder qual a importância da identidade
para a constituição da consciência histórica, já que a família, a comunidade e
outras formações sociais são cruciais para unir as reflexões sobre passado,
presente e projeções de futuro. Há formas dogmáticas e não dogmáticas de
consciência histórica, por meio da razão dialógica o docente deveria atuar na
ponta de lança para que prevalecesse o melhor argumento.
Em língua portuguesa, há alguns trabalhos empreendidos por Isabel Barca
(2007) e Maria Auxiliadora Schmidt (Schmidt, 2012; 2016; Schmidt et al.,
2011). Alguns dos apontamentos de Barca acerca de sua metodologia de tra-
balho surgiram em artigo publicado em 2007, no qual a autora tencionava
compreender como os jovens se apropriavam da História escolar para orientar
a sua vida cotidiana. Mais do que descrever a metodologia da autora, tão so-
mente assinalo a relevância assumida pelos processos de identificação, como
uma opção consciente, para a mobilização de uma consciência histórica. Note-
se que, na metodologia de Barca, interessa saber qual o manejo pelos alunos
das ideias substantivas (relativas aos temas) de segunda ordem (relativas aos
Um mito como os da Grécia não é um dogma cuja forma deve ser fixada de uma
vez por todas de maneira rigorosa porque serve de fundamento a uma crença
obrigatória. O mito, como dissemos, é uma tela sobre a qual estão bordadas a
narração oral e a literatura escrita; e estão bordadas uma e outra com liberdade
suficiente para que as divergências nas tradições, nas inovações trazidas por cer-
tos autores não constituam escândalo nem problemas do ponto de vista da cons-
ciência religiosa. (Vernant, 1999, p.189-90)
diferença não é objetiva, não está na própria coisa, mas sim em nós, se subje-
tivamente nela vemos ou não uma ficção...” (Veyne, 1987, p.35-36). Para
Veyne, afinal, os programas de verdade são comparáveis entre si indistinta-
mente, existem esferas de verdade. A ficção não é oposta à verdade, mas um
subproduto dela. Existe uma analogia dos sistemas de verdade que nos permite
transitar entre a ficção e o mundo real.
O que era o mito, então? O mito é uma informação, um conhecimento
difuso veiculado pelas Musas, por meio de poetas. Não se trata, de maneira
alguma, de uma revelação dos deuses, mas de se repetir aquilo que é ampla-
mente sabido. Muito diferente das ideias de Vernant em Mito e sociedade na
Grécia Antiga e em As origens do pensamento grego, Veyne enfatiza que o mito
não era um modo de pensamento específico, mas uma informação (um ato de
fala) que dependia do reconhecimento e da autoridade do locutor/enunciador
(Veyne, 1987, p.37-38).
A oposição entre verdadeiro e falso surgiu com um novo quadro em que
era possível estabelecer novas formas de afirmação – da História e da Filosofia.
A incredulidade em relação ao mito adveio de duas esferas: a primeira, de in-
docilidade em relação à palavra de outrem, e a segunda, relacionada à consti-
tuição de centros profissionais de verdade. A História, por exemplo, estabelece
um interessante sistema que se relaciona com a verificação da informação. A
distribuição social do saber é assim transformada. O tempo mítico heterogêneo
começa a se tornar passado. O que Veyne reafirma aqui é que a crítica ao mito
vem da História e não da Filosofia, como pretendia Vernant. Os sofistas criti-
cavam especialmente a sociedade e a religião, não propriamente as narrativas
míticas (Veyne, 1987, p.49-51; Vernant, 2003, p.53-72).
que “para vivermos em um mundo melhor, temos que amar mais o próximo
e respeitar. Assim como Deus ensinou”.
Embora houvesse pouca ocorrência desse modus operandi híbrido, parece
interessante refletir um pouco sobre esse tipo de construção que não é dos mais
simples, em comparação com aqueles que optaram por tão somente amarrar
uma história do início ao fim politeísta ou monoteísta. E por que o viés discur-
sivo híbrido é mais complexo? Porque há a necessidade da escolha. Trata-se
de um percurso em que os alunos montaram um mundo politeísta para depois
optarem por um julgamento de tipo moral que punha os deuses numa posição
negativa em relação ao verdadeiro e único Deus. Embora pouco presente no
conjunto geral das redações produzidas, trata-se claramente de um discurso
cristalizado em práticas cotidianas, que estão muito além dos muros da escola
e daquilo que, eventualmente, o discurso docente poderia ensejar. Nessas re-
dações, o mundo da imaginação termina quando a verdade, que não é a cien-
tífica, se institui. E esta não é soerguida por dados ou mesmo por um discurso
concreto e materialista, mas por um discurso de caráter tradicional que reifica
verdades tornadas universais e reflete a vontade de Deus.
Alguns alunos deixaram de observar as orientações para a composição da
redação, como pode ser visto nos dados apresentados. Seis deles sequer fizeram
referência ao presente e futuro, tendo toda a sua narrativa focada no passado.
Outros cinco, ao contrário, optaram por simplesmente tecer uma narrativa
enfatizando os problemas atuais e imaginar o futuro. Em ambos os casos, ti-
vemos tanto realizações extraordinárias de mundos míticos, como alunos que
fizeram retratos duros de sua própria realidade. Se por um lado pode-se ver
isso como incompreensão das regras estabelecidas, por outro não se deveria
deixar de levar em conta a qualidade do que foi feito, dentro das próprias es-
colhas dos discentes. Isto significa dizer que houve redações que, embora ti-
vessem obedecido às regras do jogo, ficaram aquém, em suas construções
narrativas, daquelas que focaram em apenas uma das etapas apresentadas no
roteiro.
Avançando agora sobre os elementos reflexivos e qualitativos, primeira-
mente sobre o ponto “c”. As escolhas dos alunos foram as mais variadas e re-
fletem um mundo cheio de imaginação, que merece ser explorado pelos
docentes, em especial, nas áreas de humanas e línguas. Desde explosões, uma
espécie de Big Bang, que a tudo dá início, até o aparecimento de um demiurgo
criador, houve a mais diversa pletora de mundos possíveis. Destaco aqui ape-
nas aqueles que chamaram a atenção pelo esmero e criatividade.
Na redação 2, o início de tudo foi posto em uma bola de gelo, havendo até
mesmo um humano (Dabu) que pensava ser um deus. O mais interessante é
que o nosso pequeno autor imaginou duas espécies de seres humanos, uma
chamada de Homens de Cristal e outra de Caçadores de alimentos. Os primei-
ros se alimentavam de cristais, e os segundos eram onívoros. Um mundo fan-
tástico também surge na redação 6, na qual são representados gatos-lobisomens,
árvores pretas, azuis e de ouro. Animais híbridos são relatados na composição
17, que, aliás, trouxe desenhos desses mesmos animais. O tidrão era uma mis-
tura de tigre com dragão; o peixecob um peixe com formato de cobra; o passa-
vão era um pássaro que voava muito rápido, como um gavião, e cantava. O
mais inusitado, no entanto, era o jacarão, um mix de jacaré e tubarão feroz.
Entre guerras e tempos de paz, os discentes se puseram a imaginar mundos
fantásticos. Desenvolvimento da escrita, da imaginação e de um senso de au-
toria que foi percebido quando muitos dos alunos vieram até mim e pergun-
taram se tinha gostado das histórias apresentadas.
Por fim, elencamos aqui algumas reflexões dos alunos sobre o mundo em
que vivem e aquilo que eles projetam para o próprio futuro. Num primeiro
momento, os números apontam para este quadro: de um total de 28 redações,
oito discorreram sobre o presente e 16 sobre o futuro. Note-se que presente e
futuro devem ser pensados como complementares, até porque um futuro utó-
pico, valorado positivamente, é sempre o reflexo invertido do presente. Isso
fica muito claro nas redações que apresentarei a seguir.
Quando a ênfase recaiu sobre os problemas no presente, os temas recor-
rentes, em ordem decrescente, foram: violência, problemas ambientais, falta
de respeito [inclusive racismo], corrupção e falta de trabalho.
A violência aparece com diversos matizes. Desde a violência urbana ca-
racterizada pela presença de ladrões na comunidade, no entendimento um
pouco genérico de que o “mundo é um lugar perigoso”, e até mesmo mencio-
nando a violência contra a mulher. Segundo a redação 19, redigida por uma
aluna, o problema é assim colocado: “Meu mundo de coisa boa ia ter um
monte[.] Ia ser cheio de pessoas boa e respeito bondade e, de coisa ruins não
ia ter muita coisa ruim[.] Só menos crimes[,] menos estrupo[...]”. Os proble-
mas ambientais também são contumazes, pois enchentes, desmatamentos ou
Se eu pudesse fazer o meu mundo com certeza esse mundo teria que ser virado
de cabeça para baixo para que toda sujeira que nele est[á], caísse todas num abis-
mo e esse abismo se fechasse para que toda corrupção e maldade não retornasse
e a partir desse momento começaríamos tudo de novo. Faria um mundo só com
honestidade[,] paz e muito amor.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
NOTAS
1
Destaque no Prêmio Professores do Brasil 2017 – Ministério da Educação. O pós-doutora-
do foi desenvolvido na Fundação Getulio Vargas (FGV-Rio), sob a supervisão do professor
Américo Freire.
2
Especificamente sobre o ensino de história, concordo com as preocupações de Maria
Lima quando enfatiza que a produção da História escolar de franceses e alemães no final
do século XIX encaminhou uma disciplina que separava radicalmente o sujeito e o objeto
do conhecimento. Em um novo padrão epistemológico da História, são admitidos os pa-
drões considerados não racionais – tais como: morais, afetivos, estéticos e até ficcionais –
para se compreender a complexidade do real (cf. LIMA, 2014).
3
Em conjunto com o Instituto Ayrton Senna, no ano de 2007 desenvolvi um trabalho de
estudo por meio de projetos na Escola Municipal Professora Olga Teixeira de Oliveira.
4
Há muitos outros autores relevantes para a discussão do mito, da mitologia e de suas im-
plicações sociais e políticas, entre os quais Claude Calame, Marcel Detienne, Nicole Loraux
e Christiane Sourvinou-Inwood. Como se trata de um artigo cujos objetivos são muito
mais a reflexão e a operação da História grega antiga para o ensino básico, opta-se aqui pela
omissão dessas referências nos debates sobre o mito, que seriam relevantes a um debate
teórico mais aprofundado entre os próprios helenistas.
5
“Do início ao fim do século V a.C. os dramaturgos trágicos encenaram suas próprias ver-
sões das histórias heroicas e, quando essas eram extraídas do assunto da Ilíada, havia, ami-
úde, afastamentos radicais do enredo e das personagens.” Isto “veio a ocorrer quando,
dentro do interesse grego mais amplo pela lenda, um foco literário alternativo, de prestígio
quase idêntico, tornou-se disponível. A versão de Homero de uma dada história podia ago-
ra, de acordo com o ponto de vista individual, ser vista como autêntica, mas também como
fora de moda” (SNODGRASS, 2004, p.238).
6
Há muitas críticas pertinentes ao atual processo de inclusão de alunos com necessidades
especiais em turmas regulares sem o devido apoio técnico de pessoal especializado. Em
Duque de Caxias a tônica é quase sempre a mesma. Os professores especialistas, como é o
meu caso, pouco podem ou sabem fazer para realmente incluir esses alunos num processo
pedagógico que favoreça efetivamente o desenvolvimento do aprendizado.
7
Segundo dados do IBGE, o município de Duque de Caxias tinha em 2010 um IDH de
0,711 e uma população residente de 855.048 pessoas, dentre as quais 314.459 declararam-se
evangélicas e 299.971 católicos apostólicos romanos. Há apenas 19.178 pessoas de religião
espírita, segundo o censo. No trecho de 2 quilômetros que vai do centro de Xerém, a
Mantiquira, até a escola em que leciono, no bairro da Pedreira, há 12 congregações religio-
sas, desde Batistas e Presbiterianos até a Universal do Reino de Deus e a Igreja Paz e Vida.
Cf. www.cidades.ibge.gov.br.
8
As perguntas foram feitas apenas para que os alunos pudessem desenvolver uma leitura
atenta dos trechos mais relevantes, por isso mesmo não foram reproduzidas neste texto.
9
Preferiu-se aqui manter a escrita original sem qualquer tipo de correção, seja ortográfica
ou gramatical. Tudo o que está entre colchetes são meus acréscimos.
10
É relativamente comum que meninos – e até adultos – soltando pipa invadam a escola
para tomar uma posição privilegiada. Um perigo para eles e, também, para os discentes, o
que preocupa a comunidade escolar, em especial a direção.
Ainda que se atribua ao escritor paulista uma suposta timidez da formulação teó-
rica, entende-se que Oswald desenvolveu, a partir de leituras e opções políticas,
uma peculiar visão de mundo, uma original perspectiva de socialismo, e traba-
lhou por sua efetivação, em diferentes instituições, no partido político e no am-
plo cenário cultural paulistano e brasileiro ... O marxismo antropofágico, assim
denominado, é a síntese socialista de Oswald, que, ainda que tenha sido vivida no
período em que era membro do PCB, foi formulada antes (1928) e continuou
presente em suas reflexões após o rompimento com o Partido (1945). Cultura e
ação política, ambas em momentos diferentes da trajetória do escritor, são perce-
bidas para a interpretação de sua formulação filosófica. (Carreri, 2017, p.26)
REFERÊNCIAS
FERREIRA, Jorge Luiz. Prisioneiros do mito: cultura e imaginário político dos comu-
nistas no Brasil (1930-1956). Tese (Doutorado em História) – Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. São Paulo, 1996.
MORAES, Dênis de. O imaginário vigiado: a imprensa comunista e o realismo socia-
lista no Brasil (1947-1953). Rio de Janeiro: J. Olympio Ed., 1994.
_______. O Velho Graça: uma biografia de Graciliano Ramos. Rio de Janeiro: J.
Olympio Ed., 1993.
PALAMARTCHUK, Ana Paula. Os novos bárbaros: escritores e comunismo no Brasil
(1928-1948). Tese (Doutorado em História Social) – Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas (IFCH), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Campinas, 2003.
_______. Ser intelectual comunista...: escritores brasileiros e comunismo (1920-1945).
Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
(IFCH), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Campinas, 1997.
RICUPERO, Bernardo. Caio Prado Júnior e a nacionalização do marxismo. São Paulo:
Fapesp; Ed. 34, 2000.
RUBIM, Antonio Albino Canelas. Partido Comunista, cultura e política cultural. Tese
(Doutorado em Sociologia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
(FFLCH), Universidade de São Paulo (USP), 1986.
SIRINELLI, Jean-François. Os intelectuais. In: RÉMOND, René (Org.) Por uma histó-
ria política. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1996. p.231-270.
NOTAS
1
Para conhecer mais sobre a relação entre Graciliano Ramos e o PCB, sugerimos MORAES
(1993). Sobre Caio Prado Júnior e o PCB, consultar RICUPERO (2000).
2
Existem alguns estudos fundamentais para tratar da relação dos intelectuais com o PCB.
Dentre eles, destacamos os trabalhos de PALAMARTCHUK (1997; 2003) e a tese de RUBIM
(1986). Apesar de ocupado com período posterior, o trabalho de MORAES (1994) também
aborda a relação entre intelectuais e as diretrizes partidárias. Ainda para aprofundar o enten-
dimento da questão, notadamente no que se refere ao estudo da cultura e do imaginário dos
militantes comunistas brasileiros, o leitor pode consultar FERREIRA (1996).
Resumen Abstract
Este artículo presenta el análisis del This article presents the analysis of the
contenido de los discursos de los y las content of the speeches of the Chilean
estudiantes chilenas sobre la presencia y students on the presence and absence of
la ausencia de las mujeres en la en- women in the teaching of history. The
señanza de la historia. El análisis es rea- analysis is carried out from the theoret-
lizado desde la teoría de la didáctica de ical framework of the didactics of the
las ciencias sociales y la teoría queer. Los social sciences and queer theory. The
objetivos del estudio son comprender objectives of the study reflect on the
los espacios que existen en las aulas para possibilities that exist in classrooms to
incluir a las mujeres y su historia desde include women and their history from
las concepciones de los y las estudiantes. the conceptions of students. The re-
El diseño de la investigación es de tipo search design is qualitative with the
cualitativo con el método del estudio de case study method. Focal groups have
casos. Se han realizado grupos focales been held with different students from
con distintos estudiantes de escuelas de schools in Santiago de Chile. The stu-
Santiago de Chile. Los y las estudiantes dents affirm the inclusion of women
afirman que con la inclusión de las mu- and their history from critical perspec-
jeres y su historia desde perspectivas tives could generate empathy with the
críticas se podría generar empatía con inequalities in the struggle for social
las desigualdades en la lucha por las transformations.
transformaciones sociales. Keywords: inclusion; gender; didactics.
Palabras clave: inclusión; género; di
dáctica.
Mujeres e identidades
que la historia de las mujeres debe destacar las acciones que se han omitido e
invisibilizado sobre ellas, al contrario de solo destacar las grandes tareas que
han llevado a cabo. Esto se enmarca en distintas corrientes que buscan visibi-
lizar a las mujeres desde la represión, la discriminación y la desigualdad en que
han vivido (Butler, 2006). Scott (2008) plantea que lo anterior debería provocar
la construcción de nuevas periodizaciones y narrativas que relevaran la histo-
ricidad femenina como una manera de transformar las desigualdades por ra-
zones de género.
efecto, la formación del profesorado, así como las prácticas que realizan, no
consideran a las mujeres, sus acciones ni sus problemas (Marolla; Pagès, 2015).
Heimberg (2005) afirma que a través de la transformación de los discursos
y las prácticas se pueden fomentar valores y espacios de inclusión, de empatía
y de empoderamiento para las mujeres. Los discursos, agrega el autor, deben
posibilitar la identificación de las chicas con la historia que se está trabajando
y de esa manera el empoderamiento en la sociedad. Banks (2004), Crocco
(2006) y Fernández (2004), coinciden en afirmar que para establecer tales es-
pacios y transformar los discursos desde perspectivas de género, debe existir
un cambio en los enfoques bajo los cuales se ha construido la enseñanza y se
han realizado las prácticas en las aulas.
Banks (2004) y Schmeichel (2011) comentan que la transformación de las
prácticas debe provocar que todos y todas aquellas que han sido marginadas
de la enseñanza de la historia y las ciencias sociales sean incluidos desde espa-
cios que fomentan la igualdad y las diferencias (Marolla, 2015). El fin es que
se pueda problematizar la ausencia de las mujeres, los trabajadores, las etnias,
entre otros grupos que han sido excluidos por quienes han detentado el poder
social, político y/o económico.
Metodología
El diseño de la investigación
procedencia: pública, pública con fondos del Estado y privada. Los y las parti-
cipantes de la investigación se resumen en la Tabla 1.
Es conveniente agregar que se consideró en la elección de los y las parti-
cipantes aspectos como las posibilidades para acceder a las escuelas, las rela-
ciones y la fluidez en la conversación que se podía establecer con los y las
estudiantes y el sitio geográfico donde se ubicaban las escuelas, entre otros
criterios a fin de asegurar la credibilidad, validez y pertinencia del estudio
(Simons, 2011; Rodríguez Gómez et al., 1999)
Resultados
Los grupos coinciden en que la historia es una disciplina que les ayuda
para tener conocimiento de temas culturales y sociales. Como dice Adriana del
grupo de David: “Sirve para tener cultura y saber de nuestros antepasados ...
si tú sabes muy poco de historia eres un ‘ignorante’” (Adriana, grupo de David,
2014). Amelia del grupo de Luis comenta que la historia es un conocimiento
que se puede usar diariamente. Es decir, asumen que podrían ser datos con
cierta “importancia” que dan cuenta de alguien que ha estudiado: “para saber
de nuestros antepasados...” (Amelia, grupo de Luis, 2014). Consideran que la
En general, los grupos de Luis, Paula y Marcos coinciden en que los temas
que se trabajan en las clases tienen relación con aspectos de la política, las guer-
ras, la filosofía y la economía. Solo el grupo de David afirma que han trabajado
(esporádicamente) temas no tradicionales. Han incluido aspectos de la vida co-
tidiana de hombres y mujeres, el trabajo, entre otros. Adriana comenta que se
están viendo temas relacionados al trabajo pero desde la presencia de las mujeres:
“a mí me tocó la de la mujer ... la inserción de la mujer al mundo laboral ... qué
hizo la mujer para tener los ‘beneficios’ que tuvo hoy en día” (Adriana, grupo de
David, 2014). Aunque lo anterior representa una innovación desde la didáctica
en relación a los temas que se trabajan tradicionalmente en las clases de historia,
no obstante, no son aspectos que se traten comúnmente.
Los grupos coinciden, en este sentido, que los personajes que se incluyen
en las clases de historia y ciencias sociales se presentan desde lo masculino.
Como dice Fany: “en sí vemos a los candidatos, a los presidentes, los minis-
tros...” (Fany, grupo de David, 2014), e Irma: “uno que otro actor político que
haya marcado en sí como relevancia. Que hicieron algo importante...” (Irma,
grupo de David, 2014). Reconocen que las mujeres son incluidas de manera
esporádica en una historia dominada por los hombres en temas de política, de
economía y de guerras. Afirman, por tanto, que la enseñanza de la historia se
realiza desde la relevancia de los hombres como personajes históricos, desta-
cando construcciones basadas en los prejuicios y los estereotipos por razones
de género. Como dice Camila: “el tema de la mujer se ve súper poco...” (Camila,
grupo de David, 2014).
mujer ... son cosas mínimas [sic], no ocupan más de ‘dos líneas’...” (Amelia,
grupo de Luis, 2014). Pato dice que los hombres han marginado a las mujeres
a posiciones de poca relevancia, en contraste a la importancia que se les otorga
a sus propias acciones: “se ven súper pocas mujeres ... los hombres quieren
tener el protagonismo ... yo creo que habría más igualdad entre hombres y
mujeres si también hubiese historia de mujeres ... obvio que no toda la historia
fue constituida por puros hombres...” (Pato, grupo de Luis, 2014).
Los grupos, además, afirman que la historia y la sociedad han construido
una imagen y un rol de las mujeres como objeto. Fabián dice que se ha relevado
a las mujeres por sus características físicas antes que por sus aportes intelectu-
ales y/o acciones políticas, económicas o sociales. En tales espacios, agrega, se
destacan los hombres por sobre las mujeres: “yo no opino que son invisibles.
La gente nos hace creer o nos muestra que son en cierto modo ‘invisibles’”
(Fabián, grupo de Marcos, 2014). De esta manera los grupos coinciden en que
desde la masculinidad se ha construido una imagen y un concepto de mujer
en una jerarquía inferior a lo que han realizado los hombres. De esa manera
se validan sus acciones y jerarquías dentro de las estructuras sociales.
Los grupos agregan que el machismo que existe en la sociedad es una de
las estructuras que impide que la inclusión de las mujeres se valore en impor-
tancia a las acciones que han realizado en la construcción de la historia. Los
chicos del grupo de Marcos reflexionan sobre que no se fomenta el respeto ni
la tolerancia, ya que se considera a la mujer de manera “inferior” en contraste
a los hombres. Como dice Arturo, la historia ha transmitido una imagen de las
mujeres y de sus acciones desde perspectivas inferiores, donde no se les da la
relevancia que han tenido. Eso es debido a que se les resta protagonismo, a fin
de otorgárselo a lo que realizaban los hombres. Lo anterior, para Arturo, ha
provocado que hoy existan distintas problemáticas de discriminación, de es-
tereotipos, de prejuicios y de violencia hacia las mujeres: “antes no tenía como
un pensamiento, o sea, era como un ‘ser inferior’, era como ‘algo aparte’, era
como un ‘objeto’ ... no hay ese respeto y tolerancia en la actualidad” (Arturo,
grupo de Marcos, 2014).
Los comentarios de Fabián y de Samuel del grupo de Marcos, agregan que
no son solo las mujeres quienes han sido invisibilizadas en gran parte de la
historia, sino que las diversidades de género son discriminadas en función de
lo que establecen los hombres. Por una parte, Fabián cuenta que: “porque yo
creo que se está viendo a la mujer o a otros tipos de sexualidad como algo
‘inferior’, como que muchas veces piensan que no importa si fue o no una
mujer...” (Fabián, grupo de Marcos, 2014). Samuel coincide con su compañero
y cuenta que los modelos pasivos y subordinados de las mujeres que se trans-
miten en las clases de historia, tienen relación con que los hombres buscan
validar sus acciones y su participación en la historia a través de la formación
de estereotipos y prejuicios sobre lo que han realizado ellas: “no lo enseñan
porque creen que la mujer es algo ‘inferior’ y no la toman como una persona
‘normal’, sino que, la historia la basan solamente en los hombres y las cosas
que hicieron las mujeres las dejan de lado solo porque son mujeres” (Samuel,
grupo de Marcos, 2014).
Amelia, quien es parte del grupo de Luis, dice que tales estructuras se
reflejan en los comportamientos cotidianos de los y las docentes: “hay algunos
profesores que tratan muy mal a las mujeres y las pueden hacer llorar a las
niñas en las pizarra pero a él le da lo mismo, porque es hombre y es profesor
... el profe [Luis] nos aprecia a todos por iguales, le da lo mismo el género, con
tal que uno le responda bien y le ponga atención ... mi pensamiento es que,
capaz que hay una mujer que revolucionó todo, que solo no la han puesto en
los libros” (Amelia, grupo de Luis, 2014).
Para los y las chicas de los distintos grupos, entre las ventajas que comen-
tan se producirían con la inclusión de las mujeres y su historia en la enseñanza,
se podrían fomentar valores como el respecto y la tolerancia hacia la diversidad
por razones de género. Tal trabajo debería producirse, agregan, desde el cues-
tionamiento de los modelos de género existentes. En efecto, las chicas del gru-
po de David plantean que debería enseñarse en igualdad sobre mujeres y
hombres. Para ellas la ventaja sería poder conocer quienes lucharon por los
derechos de las mujeres y de esa manera identificarse. Adriana coincide con
su compañera y cuenta que la inclusión en igualdad y desde la reflexión cola-
boraría en que: “una así puede ir creando su propia posición...” (Adriana, gru-
po de David, 2014). De esa manera se podrían generar empatía hacia las
desigualdades en que han vivido las mujeres.
Amelia afirma que si en la enseñanza se problematizan los discursos bajo
los cuales se incluye a las mujeres y su historia: “habrían muchos cambios.
Cambiaría la manera de pensar de la gente. Sería mejor la manera de pensar.
Porque a veces en los libros no aparece historia de mujeres ‘porque no era im-
portante’, pero quizás la mujer sí fue muy importante...” (Amelia, grupo de Luis).
Pato comenta que se podría avanzar en la reflexión sobre comportamientos que
persigan la igualdad de género en la sociedad: “Yo creo que habría más igualdad
entre hombres y mujeres si también hubiese historia de mujeres ... que no posi-
cione en primer plano a los hombres ... ellas tienen libertad de estar con quien
quieran, independiente de su género...” (Pato, grupo de Luis, 2014).
Del análisis del contenido de los discursos de los grupos focales se puede
plantear que la enseñanza de la historia y las ciencias sociales ha colaborado
Consideraciones finales
REFERENCIAS
CROCCO, Margareth Smith. Using Literature to Teach about Others: the case of
Shabanu. In: PARKER, Walter. Social Studies Today: Research and Practice. New
York: Routledge Taylor and Francis Group, 2010. p.175-182.
FERNÁNDEZ, Antonia. La construcción de identidad desde la perspectiva de Género.
Íber, n.47, p.33-44, 2006.
_______. Las mujeres como sujeto histórico: género y enseñanza de la historia.
Didáctica de las Ciencias Experimentales y Sociales, n.18, p.5-24, 2004.
FINLAY, Linda. Negotiating the swamp: the opportunity and challenge of reflexivity in
research practice. Qualitative Research, v.2, n.2, p.209-230, 2002.
FOUCAULT, Michel. Historia de la sexualidad 1: la voluntad del saber. Buenos Aires:
Siglo Veinteuno, 2008.
_______. Microfísica del poder. Madrid: La Piqueta, 1979.
GIROUX, Henry. Las políticas de educación y cultura. In: GIROUX, Henry;
MCLAREN, Peter. Sociedad, cultura y educación. Madrid: Niño y Dávila, 1998.
p.79-86.
_______. Pedagogía y política de la esperanza: teoría, cultura y enseñanza. Madrid:
Amorrortu, 2003.
HABERMAS, Jürgen. La lógica de las Ciencias Sociales. Madrid: Tecnos, 1988.
HEIMBERG, Charles. L’alterité et le multiculturalisme au coeur de l’histoire enseignée.
In: GARCÍA RUIZ, Carmen; GÓMEZ RODRÍGUEZ, Ernesto; JIMÉNEZ
MARTÍNEZ, María Dolores; LÓPEZ ANDRÉS, Jesús; MARTÍNEZ LÓPEZ, José
Miguel; MORENO BARÓ, Concepción (Eds.) Enseñar ciencias sociales en una so-
ciedad multicultural. Almería: Ed. Universidad de Almería, 2005. p.17-32.
HIDALGO, Encarna; DOLORES, Juliano; ROSET, Montserrat; CABA, Ángels.
Repensar la enseñanza de la geografía y la historia: una mirada desde el género.
Barcelona: Octaedro, 2003.
HUBBARD, Phil. Kissing is not a Universal Right: Sexuality, Law and the Scales of
Citizenship. Geoforum, n.49, p.224-232, 2013.
LATHER, Patti. Post-critical Pedagogies: A Feminist Reading. In: LUKE, Carmen;
GORE, Jennifer (Ed.) Feminisms and Critical Pedagogy. New York: Routledge,
1992.
LERNER, Gerda. The Majority Finds it Past: Placing Women in History. New York:
Oxford University Press, 1979.
LEVSTIK, Linda; BARTON, Keith. Doing history: Investigating with Children in
Elementary and Middle Schools. Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum Associates,
1997.
Resumo Abstract
Este artigo tem por objetivo ampliar as This article aims to expand the discus-
discussões sobre a chamada história lo- sions about the so-called local History,
cal como objeto de estudo e, também, as an object of study and as a conceptual
como categoria conceitual para o ensino category for the History teaching and
e/ou a historiografia. Almeja, por conse- for its research. Therefore, the article
guinte, problematizar alguns sentidos e aims to problematize some of the mean-
significados que são atribuídos à histó- ings and senses that are attributed to lo-
ria local e demonstrar alguns dos desa- cal History and to show some of the
fios que se apresentam para as diferen- challenges arisen for its different appro-
tes apropriações pelas quais tem sido priations.
mobilizada. Keywords: History; local History; con-
Palavras-chave: História; História local; ceptual contributions.
aportes conceituais.
Desafios
Por meio dessa leitura interpretativa a história local seria, portanto, uma
“pequena peça” de um organograma maior, e o professor ou pesquisador iria
apresentar em que dimensões ela corresponderia à história nacional. Em outras
palavras, ela seria uma consequência da “história não local”, um prolongamen-
to em dimensões reduzidas e, assim, teria de manter com a “história nacional”
uma relação de causa e efeito. Portanto, aquilo que ocorreu no âmbito nacional
provocou os efeitos e as consequências que determinaram, em dimensões mi-
cro, a configuração da história local.
Esses últimos significados atribuídos ao que se convencionou chamar de
história local parecem se encontrar presentes em todas as outras leituras inter-
pretativas mencionadas anteriormente. Assim, seja entendendo a história local
como uma história “pequena” ou como uma história “do entorno”, como uma
história “coesa e passível de ser estudada em sua totalidade”, uma história
como “consequência de outra história ‘maior’”, é recorrente a interpretação
que associa a história local a um espaço físico-geográfico, em uma relação de
determinação. Ela é, quase sempre, apresentada como determinada por essa
dimensão do espaço. É história local porque é “do bairro”, “da rua”, “da vila”,
“da escola”.
Eu gostaria de ressaltar, todavia, que essas interpretações acerca da cha-
mada história local nem sempre aparecem de maneira explícita, assim como
não estão presentes em todos os trabalhos de professores e/ou autores que
fazem uso da história local como objeto de ensino ou pesquisa. Há importantes
reflexões e relatos de experiência – apresentados em revistas e/ou congressos
– sobre a temática em tela, como demonstra a literatura especializada.
uma forma literária” (Samuel, 1990, p.221). Nesse sentido, os registros docu-
mentais que oferecem esses indícios são potenciais possibilidades de estudo
para se analisar parte do universo polissêmico constitutivo da chamada história
local. O autor chama a atenção para a possibilidade de trabalhos com os jornais
municipais, que seriam importante fonte para o trabalho.
Como meu objetivo é problematizar os desafios do uso da chamada his-
tória local, poderíamos ampliar as discussões e colocar em debate, por exem-
plo, a questão: o que se configura como jornal municipal? Pergunta
aparentemente simples e demasiado óbvia, até. Entretanto, todo periódico é
municipal, pois é produzido em algum município, salvo os jornais do Distrito
Federal. Os jornais Folha de S. Paulo, O Globo e o Diário de Pernambuco, por
exemplo, também são municipais, como o é O Correio Tocantins10 ou o Jornal
Vanguarda.11 Entretanto, as relações políticas e editorais daqueles, diferentes
destes últimos, em termos de produção, circulação, visibilidade e inserção nas
relações sociais, os fazem ultrapassar amplamente as fronteiras municipais.
Nessa dimensão, seria importante compreendermos com clareza o que se en-
tende por jornal municipal. Um periódico cuja circulação se restringe aos li-
mites fronteiriços do município? Uma questão a ser problematizada.
Raphael Samuel apresenta uma grande quantidade de documentos que
possibilitam o estudo do que nomeia como história local. Registros resultantes
de atividades de rádio locais, moedas antigas, cartões-postais e dos dias dos
namorados, cartas pessoais, livros de batismo das paróquias e livros de prêmios
da escola do bairro, para citar alguns exemplos. São registros que, sem dúvida,
oferecem possibilidades de estudo para uma variada gama de objetos.
Entretanto, são colocados em uma perspectiva segundo a qual o local se define,
prioritariamente, pela dimensão espacial de proximidade e tamanho. A rádio
é local por ter um alcance relativamente pequeno e residir no bairro ou na
cidade, também pequenos. O mesmo fundamento serve para pensar os demais
registros documentais apresentados.
Raphael Samuel, ao discutir a diversidade documental que pode alimentar
os estudos sobre a história local, faz referência à categoria de “documento local”.
Nessa dimensão, caberia questionar: o que seria um documento local e, por
extensão, o que seria um documento não local? Quais os princípios e as dimen-
sões que caracterizariam um documento para receber o estatuto de “local”?
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ALVES, Lynn R. G. Game over: jogos eletrônicos e violência. São Paulo: Futura, 2005.
ASSMAN, Hugo (Org.) Redes digitais e metamorfose do aprender. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2005.
BITTENCOURT, Circe Maria F. Ensino de história: fundamentos e métodos. São
Paulo: Cortez, 2009.
BOURDIN, Alain. A questão do local. Trad. Orlando dos Santos Reis. Rio de Janeiro:
DP&A, 2001.
CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Trad. Maria de Lourdes Menezes. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2007.
CHAVES, Elisgardenia Oliveira. Educação Patrimonial e ensino de História. História e
Ensino, Londrina, v.19, n.2, 2013. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/
index.php/histensino/article/download/16116/14144; acesso em: 1 jun. 2016.
CHARTIER, Roger. À beira da falésia: a história entre certezas e inquietudes. Porto
Alegre: Ed. UFRGS, 2002.
DELGADO, Lucilia de A. N.; FERREIRA, Marieta de M. História do tempo presente e
ensino de história. Revista História Hoje, São Paulo: Anpuh, v.2, n.4, 2013.
NOTAS
1
O Encontro ocorreu entre os dias 6 e 8 de março de 2017, no Instituto de Ciência e
Tecnologia do Pará, na cidade de Marabá. Deixo aqui expressos meus agradecimentos aos
organizadores do evento pelo convite: a professora Anna Carolina de Abreu Coelho e o
Grupo de Pesquisa “O local e o global: história, memória e natureza no sul e sudeste do Pará”.
2
Para uma reflexão envolvendo História, ensino e patrimônio, ver CHAVES, 2013;
MATTOZZI, 2008; PELEGRINI; FUNARI, 2008; HARTOG, 2006; ORIÁ, 1998; 2014.
3
Consultar: CHARTIER, 2002; GUIMARÃES, 2012; MORTATTI, 2014; LEOPOLDINO, 2015.
4
Para ampliar as discussões, ver: ALVES, 2005; ASSMAN, 2005; MATTA, 2006; SILVA,
2012.
5
Para expandir as discussões, consultar: GOMES; LUCA, 2013; DELGADO; FERREIRA,
2013; MAGALHÃES; GONTIJO, 2013; MIRANDA, 2013.
6
As referências acerca da história local encontram-se ao longo do texto e na bibliografia do
presente artigo.
7
Sirvo-me aqui das discussões promovidas pelo historiador Carlo Ginzburg acerca do cha-
mado “paradigma indiciário”. Para ampliar as discussões, consultar GINZBURG, 1990.
8
Também podemos encontrar essa linha de interpretação nas reflexões promovidas pelo
geógrafo Milton Santos. Para ele, o espaço é o efeito de um conjunto de múltiplas forças
resultantes das relações humanas no tempo. Nesse sentido, Santos argumenta que “todo
espaço social pode ser objeto de uma análise formal, estrutural e funcional” (SANTOS,
2009, p.55). Ou seja, a concepção conceitual de “espaço”, assim como de “local”, é uma
construção intelectual.
9
Não podemos incorrer, portanto, em afirmações apressadas como se houvesse comple-
mentaridade ou similaridade entre história local e micro-história. É oportuno enfatizar que
a micro-história surgiu, segundo Jacques Revel, “como uma resposta às limitações óbvias
daquelas interpretações da história social, que em sua busca de regularidade, dá proemi-
nência a indicadores supersimples” (REVEL apud LEVI, 2011, p.162). E, para Giovanni
Levi, a micro-história se caracteriza, fundamentalmente, pela “redução de escala, o debate
sobre a racionalidade, a pequena indicação como um paradigma científico, o papel do par-
ticular (não, entretanto, em oposição ao social), a atenção à capacidade receptiva e à narra-
tiva, uma definição específica de contexto e a rejeição do relativismo” (LEVI, 2011, p.162).
10
Jornal produzido na versão impressa e on-line, com sede na cidade de Marabá, Pará. O
jornal foi fundado em 1983 pelo jornalista Mascarenhas Carvalho da Luz, com circulação
quinzenal. Depois, passou a ser semanal e, atualmente, apresenta três edições por semana.
Sua versão on-line encontra-se disponível em: http://www.ctonline.com.br/?inicial; acesso
em: 2 mar. 2017.
11
Jornal produzido na versão impressa e on-line, com sede na cidade de Caruaru,
Pernambuco. O jornal Vanguarda foi fundado em 1932 por José Carlos Florêncio, com
quatro páginas cada exemplar e tiragem inicial de mil exemplares, e circulava pelas princi-
pais cidades do Agreste de Pernambuco e na capital, Recife. Sua versão on-line encontra-se
disponível em: http://www.jornalvanguarda.com.br/v2/index.php; acesso em: 2 mar. 2017.