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comunicação

YONA FRIEDMAN
perguntar

DEMOCRACIA
eu

direto

imagem

compreender

voz
pensar

transmitir
reagir
propriedade debate suficiente
influência
passagem

lei
feedback
junto agente
ver

26.06.2021
informação arquitetura 07.03.2022
conexão esperança
estrutura irregular

dentro sociedade rede


proteção cidade

Pictogramas
de Dicionário
(2014), de
Yona Friedman

necessário cidade espacial lugar natureza


Com a exposição Yona Friedman:
Friedman considerava a rua como um mu-
De­m o­c ra­c ia, o Memorial da Resis-
seu, uma plataforma pública aberta à
tên­ c ia de São Paulo compartilha
participação social. Nesse sentido, a
o legado de Yona Friedman (1923-
exposição é uma ação de compartilha-
-2020) em torno da comunicação, tema mento, com intervenções urbanas rea-
sobre o qual dedica grande parte lizadas em parceria com os coletivos
de sua produção na criação de uma Paulestinos e casadalapa, a disponibi-
linguagem universal e acessível sobre lização dos manuais aqui expostos para
a autonomia dos indivíduos, as ques- uso espontâneo do público e a pre-
tões sociais e os direitos humanos. sença da unicórnia, proposta concreta
de transformar territórios em enormes
Com curadoria da equipe do Memorial da museus a céu aberto. Além de um pro-
Resistência, a exposição é realizada grama de encontros públicos realiza-
em parceria com o Fonds de Dotation dos em parceria com o Sesc Bom Retiro.
Denise et Yona Friedman, Jean-Bap-
tiste Decavèle e com a colaboração Em uma reflexão ilustrada sobre a de-
do Centre National Édition Art Image mocracia e suas imperfeições, Fried-
(CNEAI) e de Sylvie Boulanger. man reflete sobre nossas formas de
organização social ao explicar con-
Ao propor outras formas de comuni- ceitos como leis, pobreza e economia,
apontando como podem reproduzir ações
cação, Friedman buscou encorajar as
de desigualdade e de injustiça e su-
pessoas a pensarem por si próprias
gerindo os meios para transformá-las.
e reverter o que considerava ser um
4 dos grandes problemas da política e 5
Ele enxergava no gesto de compreender
do planejamento da sociedade moderna:
uma possibilidade para o agir. Aqui,
o fato de elas basearem seus princí- interpretar a democracia se torna a
pios em ideias abstratas, tais como questão central: o que é? A quem ser-
mercado financeiro, sucesso, progresso ve?
e afastarem-se das reais necessidades
dos seus indivíduos. Em tempos de negacionismo sobre te-
mas que são postulados inegociáveis
Valendo-se de uma linguagem casual e para o Memorial da Resistência, a de-
facilmente transmissível, os quadri- fesa de Yona Friedman por formas de
nhos, ele defende o direito de com- transmissão de conhecimento abertas e
preender e de interpretar como parte participativas é essencial para pen-
dos direitos humanos. Na exposição, sarmos o papel da comunicação na luta
nosso olhar se volta para os manuais, pela valorização de princípios demo-
produzidos a partir dos anos 1970 em cráticos, pelo exercício da cidadania
parceria com instituições como a Unes- e pela educação em direitos humanos.
co, a Universidade das Nações Unidas
(UNU), além do então existente Conse-
Ana Pato
lho Internacional de Uniões Científi-
Coordenadora do Memorial
cas (ICSU), atual Conselho Interna-
da Resistência
cional de Ciência (ISC), e reeditados
Jochen Volz
nos anos 2000 pelo CNEAI. Os manuais
Diretor-geral da Associação
sintetizam sua intenção de tornar pú-
Pinacoteca Arte e Cultura (APAC)
blico e educar pelo conhecimento.
Primeiramente, devo advertir ao lei-
tor que este texto não é técnico nem
sobre arquitetura, ele é simplesmente
pessoal.

Embora ele não esteja aqui para confir-


mar, eu sei que meu pai estaria mui-
to feliz com a mostra no Memorial da
Resistência. Ele era apaixonado pelo
Brasil e por São Paulo, e o tema da
democracia era muito importante para
ele, como poderá ser visto ao longo da
exposição.

A relevância do local, o Memorial da


Resistência, também me comove de um
jeito especial, já que eu considerava
o meu pai um monumento vivo de resis-
tência, alguém que combateu a opres-
são de diferentes tipos durante toda a
sua vida, começando na sua juventude
na Hungria fascista durante a Segunda
Guerra Mundial.

6 À época, leis raciais proibiam os ju- 7

deus de fazerem faculdade, e ele as-


sistia às aulas como ouvinte sem estar
matriculado, resistindo ao sistema
que proibia que jovens como ele se
instruíssem. Ao mesmo tempo, ele se
unia à resistência clandestina em Bu-
dapeste e usava suas habilidades natas
de desenho para falsificar documentos
de identidade e salvar refugiados ju-
deus, que assim conseguiam escapar da
Áustria e da Polônia, ambas ocupadas
pelos nazistas. Ele foi preso em ou-
tubro de 1944 pela Gestapo, depois de
ter sido denunciado por um informan-
te, e interrogado por dois meses sem
entregar sua rede de resistência. Ele
fugiu milagrosamente durante o trans-
porte para o pelotão de fuzilamento,
enquanto bombas russas caíam sobre Bu-
dapeste. Vinte anos depois do dia de
sua prisão pela Gestapo, em outubro
de 1964, meu pai deu uma palestra em
inglês - embora falasse alemão fluen-
temente, ele se recusava a falar a
língua depois da guerra - para um an- o avanço dessa busca pela arquitetura
fiteatro lotado na Academia de Arqui- para todos, ele expandiu sua pesquisa
tetura de Berlim. Quando ele revelou o para métodos de comunicação e socio-
significado da data, ele foi ovacionado logia, o que resultou na publicação,
de pé pelos alunos na plateia. Daquele em 1972, de seu livro “How to Live
dia em diante, ele voltou a falar ale- Amongst Others Without Being Chief and
mão. Foi uma validação enorme para ele Without Being Slave” (Como viver entre
e uma lição para mim, ainda criança, outras pessoas sem ser chefe e sem ser
de que a resistência leva a resolução escravo). A reação dos arquitetos do
e reconhecimento. mundo foi de ridicularizá-lo, porém,
50 anos depois, seu livro foi visto
No final da guerra, meu pai e os pais como a resposta à pergunta feita na
dele acabaram em um campo para pesso- Bienal de Arquitetura de Veneza 2021:
as desalojadas na Romênia, morando em “Como viveremos juntos?”
uma barraca, o que mudou totalmente o
olhar dele sobre a arquitetura. Viver Com muitos campos de interesse, meu
em um espaço temporário, fixo e prede- pai resistiu aos códigos sociais que
finido o inspirou a inventar sua Arqui- ditavam que temos apenas uma ocupa-
tetura Móvel, na qual os habitantes ção, uma identidade profissional. Para
tomam as decisões e são os designers alguns, ele era arquiteto. Para ou-
de seu próprio espaço intercambiável. tros, ele era o vencedor do Leão de
Sua visão completa sobre o papel do Ouro do Festival de Cinema de Veneza.
arquiteto na sociedade mudou por cau- Para outros, ele era um futurólogo,
sa da sua experiência no pós-guerra. prevendo as mudanças climáticas que
8 Ao criar sua nova visão arquitetônica, resultariam em revoltas da população. 9
ele também se tornou muito ativo na Para outros, ele era consultor da Or-
resistência ao sistema clássico do ar- ganização das Nações Unidas, com quem
quiteto como único ator decisivo sobre ele criou o Centro de Comunicação de
o espaço das outras pessoas. Conhecimento Científico para a Autos-
suficiência. E para muitos outros, ele
Suas ideias não eram bem-vindas pelo era um artista. Com todas as suas
establishment. Em 1962, depois da pu- buscas, ele se opôs às normas aceitas
blicação detalhada em uma revista pro- e sempre seguiu seu próprio caminho,
fissional francesa de sua proposta Ar- sem medo da oposição e frequentemen-
quitetura Móvel, a organização dos te guiado por sua curiosidade e força
arquitetos profissionais franceses lhe para compartilhar ideias.
enviaram uma ordem para que parasse de
se autointitular “arquiteto” sob ame- De fato, os traços comuns entre todas
aças de consequências legais caso ele as empreitadas do meu pai eram a in-
continuasse. Destemido, ele conti- venção, a inovação e uma abordagem vi-
nuou, mas não em publicações profissio- sionária para tornar o mundo um lugar
nais francesas, o que, paradoxalmen- melhor para todos democraticamente.
te, pode ter ajudado a espalhar suas
ideias pelo mundo. Marianne Friedman-Polonsky
Fonds de Dotation Denise
Meu pai resistiu à pressão do mundo da et Yona Friedman
arquitetura e persistiu em sua busca
por compartilhar sua visão arquitetô-
nica com todos democraticamente. Com
YONA FRIEDMAN 12

MANUAIS 30

ESPAÇOS CULTURAIS 50

A UNICÓRNIA 60

A EXPOSIÇÃO 66

CRÉDITOS 86
influência
Tais conceitos permaneceram presen-
YONA FRIEDMAN
Arquiteto, artista, sociólogo e an-
tes em toda sua produção e se torna-
tropólogo, Yona Friedman (1923-2020)
ram determinantes para a concepção do
nasceu em Budapeste, na Hungria, e
que viria a chamar de Cidade Espacial,
estudou arquitetura pela primeira vez
projeto de organização urbana altamen-
na Universidade de Tecnologia e Eco-
te inovador.
nomia de Budapeste, como ouvinte.
A partir dos anos 1960, então radi-
Judeu, chegou a ser preso e vivenciou
feedback cado em Paris, na França, passou a
a violência da guerra como refugiado,
desenvolver uma obra centrada na co-
mudando-se primeiro para Bucareste,
municação e na transmissão de ideias,
na Romênia, e depois para Israel. Foi
propondo em vídeos, em desenhos e em
lá que concluiu seus estudos univer-
publicações uma linguagem acessível e
sitários como aluno da Technion, em
democrática.
Haifa, cidade onde trabalhou como ar-
quiteto entre 1949 e 1957.
Pouquíssimos edifícios desenhados por
12 13
Friedman foram construídos, incluindo
Seus primeiros projetos foram uma
o Bergson High School, em Angers, na
resposta direta aos problemas demo- arquitetura França, em 1979, e o Museu de Tecnolo-
gráficos do pós-guerra e aos desafios
gia Simples, em Chennai, na Índia, em
da reconstrução. A partir de 1953,
1987, feito com materiais locais, como
passou a conceber os princípios do
o bambu.
que viria a chamar de “arquitetura
móvel”: estruturas participativas e
Desafiando classificações e categorias,
móveis baseadas em noções de flexibi-
seu trabalho se divide em publica-
lidade e de autoplanejamento, preven-
ções, em exposições e em projetos de-
do o mínimo de contato possível com o
dicados às pesquisas em áreas como
solo e possibilitando a fácil trans-
sociedade arquitetura, ecologia, política, sus-
formação, de acordo com o desejo dos
tentabilidade, linguagem e improvisa-
habitantes.
ção, disseminando um pensamento sobre
as mais variadas questões da vida em
sociedade.

cidade espacial
14 15

Yona Friedman em
seu apartamento
em Paris, sem data

[ao lado]
Fotomontagem
de Yona Friedman,
sem data
Manifesto A Arquitetura Móvel
[L’Architecture Mobile], 1958

Yona Friedman atendeu como partici-


pante não oficial o CIAM X (1956), dé-
cima edição do Congresso Internacio-
nal de Arquitetura Moderna, realizado
em Dubrovnik, na Croácia. Foi na oca-
sião que apresentou pela primeira vez
16 17
as ideias iniciais do seu seu mani-
festo da arquitetura móvel, distribu-
ído ao público dois anos mais tarde,
em 1958. Apesar de ter recebido pouco
interesse de seus colegas de congres-
so, Friedman seguiu desenvolvendo sua
teoria e pode vê-la se tornar grande
influência para movimentos arquitetô-
nicos do final do século XX.
18 19

Fotomontagens da Cidade Espacial


[Ville Spatiale], sem data

As ideias apresentadas por Yona Fried-


man em seu manifesto foram reunidas
no projeto Cidade Espacial, uma me-
gaestrutura de vários andares elevada
sobre cidades, preenchida e expandida
com unidades individuais pré-fabrica-
das, de acordo com a necessidade de
seus moradores.
20 21
22 23
24 25

Griboulli, 2021

Gribouilli, traduzido em português


como “rabisco”, é uma das estruturas
espaciais concebidas por Yona Fried-
man para uso livre e improvisado.
Pode ser construída por qualquer um
de forma intuitiva, a partir de ma-
teriais simples e sem nenhum tipo de
desenho técnico.
Filmes de animação
[Films d’animation], 1960-1963

Frames dos filmes Annalya Tou-Bari


e Por que o deserto é deserto?
[Pourquoi le désert est désert?]

Os primeiros anos da década de 1960


marcaram o interesse de Yona Fried-
man por linguagens como a animação e
o cinema. Com a sua esposa, a editora
de filmes Denise Charvein (1922-2007),
passou a produzir filmes baseados em
contos populares africanos e acompa-
nhados por gravações de músicas co-
26 27
lecionadas pela Unesco. Transmitindo
informações a partir de desenhos sim-
plificados e poucos diálogos, os tra-
balhos reuniram as bases para o que
viriam a se tornar os manuais, série
de publicações em quadrinhos desen-
volvidas por Friedman, a partir da
década seguinte. O sucesso desses fil-
mes rendeu a seus autores o Leão de
Ouro, no Festival de Cinema de Veneza
de 1962, por Annalya Tou-Bari, apre-
sentado na exposição. Encontrados e
restaurados pelo CNEAI anos mais tar-
de, doze dos filmes de animação foram
reunidos e disponibilizados em DVD.
Dicionário
[Dictionnaire], 2021

Yona Friedman era jovem quando pas-


sou a explorar a linguagem de seus
quadrinhos na forma de um dicionário
ilustrado, ideia que chegou a ser in-
terrompida ao longo dos anos e reto-
mada apenas em 2014, a convite do CNE-
AI, quando foi finalmente apresentada
28 ao público. Reunidos originalmente no 29
formato de uma mesa junto a maquetes
e outras publicações de Friedman, os
desenhos representam ideias centrais
na obra de Friedman, como linguagem,
sociedade, arquitetura e urbanis-
mo. No Memorial, o Dicionário tomou a
forma inédita de bandeiras hasteadas
pelo espaço, sugerindo outras possi-
bilidades de apresentar e comunicar
suas ideias.

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propriedade

Reivindicando a cada indivíduo a ca- no mundo. Os assuntos tratados são os


pacidade de decidir por si próprio, mais diversos: de tópicos de subsis-
Yona Friedman desenvolveu ao longo de tência e de autoplanejamento – como
sua produção uma linguagem em defesa habitação, gestão de água, cultivo de
do direito de compreender e de inter- alimentos e saneamento – a questões
pretar. Desenhos técnicos, plantas e em áreas como economia, pobreza, ri-
textos rebuscados deram lugar às co- queza, desigualdade e democracia.
lagens, aos croquis e aos quadrinhos,
MANUAIS

lei
constituindo uma obra voltada para a Editados em brochuras simples, fá-
comunicação em sua forma mais clara e ceis de serem traduzidas e reprodu-
universal. zidas, os manuais foram distribuídos
para mais de 30 países em parceria
Para Friedman, o direito de compre- com instituições como a Unesco e a
ender é parte indissociável dos di- Universidade das Nações Unidas (UNU).
reitos humanos. A seu ver, teorias
30 abstratas separadas da experiência do Mais recentemente, Friedman passou a 31
indivíduo se tornam objetos ideológi- adaptar seus conteúdos para curtas-
cos e de fácil manipulação. informação metragens, produzindo cerca de 200
filmes animados, muitos deles dispo-
Contra modelos excessivamente acadê- nibilizados na internet e chamados de
micos e conceituais, que acabam por Slide Shows.
alienar o sujeito, ele considera que
a transmissão de ideias implica ne- Em sua busca pela autonomia social,
cessariamente na presença das ima- Friedman encontrou nos manuais um
gens, uma linguagem imediata e que novo modo de comunicação capaz de en-
não se restringe a territórios. corajar o pensamento autônomo. En-
xergando no gesto de compreender uma
As publicações contam com ilustra- possibilidade para o agir, os manuais
proteção
ções simples e com o mínimo de tex- sintetizam sua intenção de tornar pú-
to, cabendo ao leitor interpretá-las blico, transmitir e educar pelo co-
em seus próprios termos, a partir de nhecimento.
sua experiência concreta e singular

necessário
Centro de Comunicação de Conhecimento
Científico para a Autossuficiência

Yona Friedman passou a desenvolver, a


partir dos anos 1970, os chamados ma-
nuais — publicações com desenhos sim-
ples e com o mínimo de texto. Abarcan-
do um programa de tópicos abrangentes
relativos às questões da vida cotidia-
na, ganharam o apoio de organizações
como a Unesco e foram amplamente dis-
32 tribuídos na década de 1980, por meio 33

das ações do Centro de Comunicação de


Conhecimento Científico para a Autos-
suficiência, fundado por Friedman sob a
égide da Universidade das Nações Uni-
das (UNU). Reproduzidos em milhares de
cópias, os manuais chegaram a países
da Ásia, da África e da América Lati-
na. Entre 2007 e 2009, foram reunidos
e publicados pelo CNEAI em uma série
de três volumes. Um centro de comunicação,
para fazer o quê?
MANUAIS DE EXEMPLO A CASA MEIO AMBIENTE
SOBRE OS TÓPICOS DO PROGRAMA 1984-1988
H.20. Talvez você precise de uma tecnolo- H.1. Já temos desertos suficientes,
ALIMENTAÇÃO gia simples não crie novos desertos
H.21. Quais os melhores materiais para F.34. É o seu próprio mundo que
F.1. Garantir a sobrevivência você? você está poluindo
F.5. Conservar o alimento pelo frio H.22. Por que este manual? F.35. Sobre as latrinas públicas
F.6. Cozinhar com o sol H.23. Fazer sua própria casa F.36. Não conviva com o lixo
F.7. Não deixe sua comida para os ratos H.24. Como você pode construir H.84. A natureza também pode
F.8. Transformar resíduos em alimentos e com que materiais? causar desastres
F.9. Cogumelos, um alimento mais rico H.25. É importante melhorar o telhado F.14. Transformar ervas daninhas em
F.10. Secar alimentos para o amanhã H.26. Métodos simples de construção riqueza
F.11. Um fogão que usa menos combustível de abóbadas H.36. Algumas palavras sobre
F.12. Você pode plantar seu combustível H.27. Transformar anéis em telhados enchentes e barragens
para cozinhar H.28. As árvores servem de abrigo
F.13. Gastar menos e se nutrir melhor H.29. Construir com gramíneas
F.33. A África precisa de uma política H.30. É possível encontrar materiais ADMINISTRAÇÃO DO TEMPO
alimentar de construção
H.32. Projetar a casa H.74. O valor do tempo
H.35. Uma estrutura em comum H.75. O tempo desintegrado
34
TERRA H.37. Como deixar a casa bonita H.76. O tempo das outras pessoas 35

H.77. Os objetos à sua espera


F.15. Transformar terras devolutas em H.78. Aprender a partilhar
terras de plantio FATORES SOCIAIS H.79. Quem administra o tempo de quem?
F.16. Recuperar a terra salgada
F.22. Três relatos sobre agricultura S.1. Pesquisa e necessidades humanas
S.2. O setor quaternário
S.3. Ao planejar o futuro,
ÁGUA pense no presente
S.6. O dinheiro gera pobreza
F.2. Água do céu S.7. Economia de troca × economia mon-
F.3. Irrigação gota a gota etária
F.17. Captar a água de reúso S.11. As duas vias do desenvolvimento
F.18. Armazenamento de água H.31. Planejar sua cidade
F.19. Exemplo de um elevador de água H.33. Viver com os outros
F.20. Água que vai para o Sol H.34. Público e privado
F.21. Plantar com menos água Tradução do sumário dos manuais do Centro
F.4. Lavar a água de Comunicação de Conhecimento Científico
F.37. Como as árvores podem crescer com para a Autossuficiência
pouca água (sem data)
36 37

[acima]
A Casa
Capas dos manuais Água
do Centro de
Comunicação de [ao lado]
Conhecimento Fatores Sociais
Científico para a Meio Ambiente
Autossuficiência. Administração
do tempo

Sem data
Mesmo após o fim das atividades do
Centro de Comunicação de Conhecimento
Científico para a Autossuficiência, em
meados da década de 1990, Yona Fried-
man seguiu desenvolvendo manuais até
seus últimos anos de vida. Em diálogo
com os temas tratados pelo Memorial,
três deles foram traduzidos para o
português, apresentados na exposição
e disponibilizados para download.

Em O direito de compreender, sem data


certa de publicação, Friedman reforça
sua defesa por uma linguagem simples
e facilmente transmissível, a do lei-
go, encorajando museus a empregá-la
para provocar no público o desejo de
compreender. O manual foi posterior-
mente reeditado pelo CNEAI e integra
38 a série de três publicações Manuels 39
(2007-2009).

Conceitos como desigualdade social,


economia e leis são abordados em De-
mocracia, publicação também editada
pelo CNEAI em 2011. Sua reflexão apon-
ta não apenas para as imperfeições
do regime político, como ainda su-
gere alternativas possíveis para sua
transformação.

No manual Museu de Passeio, de 2015, O direito de


Friedman apresenta suas ideias para compreender
um espaço cultural democrático, sem [Le droit de
edifícios e na rua, feito por e para comprendre],
todos. Nele, a exposição acontece no sem data
próprio espaço urbano, como um per- > link para
curso em meio à cidade. download

O direito de compreender
O direito de compreender
Compreender as coisas Declaração
dos Direitos é também um dos "direitos
permite saber do Homem
humanos"
se comportar

diante daquilo que


nos cerca. tão importante quanto

o direito à vida,
ão – GrrrrR
O direito de compreender
– Eu nou o direito ao trabalho,
o...

entest
nd é um direito essencial
ende

Pois compreender
as coisas é ser capaz
de dominá-las.
40 41
o direito à justiça,

além de muitos outros.

O próprio nome
da espécie humana
não é

o "homem que sabe"


quer dizer, aquele
que compreende ?
iguais todos iguais
os
tod
eu
eu mais
também?

42 43

democracia
Democracia
[Démocratie],
2011
> link para
download
o mos
Nós s o as eu ho
o pov M u e n
so e t er
qu pod
o

44
lei 45

A democracia moderna
se baseia em dois princípios
Assim mesmo, atenção!!!

46 47

Os piores ditadores
foram legitimamente eleitos
48 49
[páginas
anteriores]
Museu de Passeio
[Musée
Promenade], 2015
> link para
download

Slide Shows
Filmes, 2010-2011

Informação
[Information]
50 Leis [Laws] 51
Pobreza [Pauvreté]
Coisas Para
Você Mesmo Usar
[Things To Use For
Yourself]
Estação Utopia
[Utopia Station]

Frame do filme
Informação
[Information]

Assista aos filmes


clicando aqui.
ESPAÇOS CULTURAIS Entendendo os museus como metáforas
para pensar a cidade, Yona Fried-
man desenvolveu uma série de propos-
tas para espaços culturais produzidos passagem
com estruturas efêmeras, adaptáveis
e construídas coletivamente, a par-
tir de instruções simples e materiais É dele também a proposta do Museu dos
reutilizados, como papelão, acrílico, Grafites, onde folhas plásticas esti-
arame e madeira. cadas em estruturas efêmeras podem
receber intervenções gráficas de qual-
Para ele, importavam menos os edifí- quer visitante.
cios e mais os objetos a serem apre-
sentados, motivo que o levou a eleger Prescindindo de espaços construídos,
a rua como lugar público e democrá- ver desenhou para a Île Seguin, nos arre-
tico para criar espaços colaborativos dores de Paris, um Museu ao Ar Livre,
de intervenção na cidade. em que padrões e imagens desenhadas
em grande escala ocupariam a própria
Friedman era crítico às instituições paisagem.
que ofereciam respostas prontas aos
52 53
seus visitantes e, em seu lugar, pro- No projeto Museu de Passeio, a expo-
pôs museus construídos pelas e para sição acontece ao andar pelo espaço
as pessoas. Seu primeiro projeto do dentro
urbano. A defesa em construir menos
tipo foi o Museu de Tecnologia Sim- também o levou a criar as chamadas
ples, erguido na cidade indiana de iconóstases, estruturas de fácil manu-
Chennai, por moradores locais, a par- seio, concebidas a partir de diferen-
tir das técnicas e das instruções in- tes materiais para servirem como su-
cluídas nos manuais do Centro de Co- portes de objetos expostos. Sua versão
municação de Conhecimento Científico em metal foi utilizada no que chamou
para a Autossuficiência. de Museu sem Edifício, um projeto de
espaço público aberto para exposições,
Nos anos seguintes, continuou desen- debates, encontros e discussões de no-
estrutura irregular
volvendo projetos que transferiram ao vas ideias.
indivíduo o protagonismo, como é o
caso do Museu de Rua, que propõe, a
cada edição, que o público local exi-
ba em caixas de acrílico ou de pape-
lão objetos que gostariam de expor
aos seus vizinhos.

acesso
54 55
ESCOLHEM-SE UMAS POUCAS ÁRVORES
OU POSTES
EM UMA RUA
OU EM UMA PRAÇA PÚBLICA

ENTRE ELAS, ESTENDEM-SE


TELAS
FEITAS DE PLÁSTICO FLEXÍVEL
TRANSPARENTE
FORMANDO, ASSIM,
UMA ESPÉCIE DE LABIRINTO
56 57

DEPOIS, CONVIDA-SE O PÚBLICO


A PINTAR GRAFITES
NESSAS TELAS

QUANDO AS TELAS ESTIVEREM


TODAS GRAFITADAS,
INSTALAM-SE TELAS NOVAS

E AS ANTIGAS SÃO CONSERVADAS


EM UM ARQUIVO
[na página anterior]
Museu dos Grafites
Museu de
[Graffiti Museum],
Tecnologia Simples
sem data,
[Museum of Simple
fotomontagens
Technology], 1987,
e croqui de
em Chennai (antiga
Yona Friedman
Madras), Índia
58 59

[no alto da página]


Museu ao Ar Livre Iconóstase #2
[no alto da página] (papelão e serigrafia)
[Musée a l’Air
Yona Friedman Libre], sem data [Iconostase
Museu de Rua
no Museu sem Fotomontagem de #2 (carton &
[Street Museum],
edifício [Musée Yona Friedman para serigraphy)], 2012-
2012-2013, no CNEAI
sans bâtiment], a Île Seguin, 2016, no CNEAI
em Chatou, França
2018, no CNEAI em nos arredores de em Chatou, França
Pantin, França Paris, França
Entre as propostas de Yona Friedman
debate
para transformar territórios em museus
sem edifício estão os “nazcagrams”,
assim chamados por ele em referência
aos geoglifos encontrados em Nazca, no
A UNICÓRNIA
Peru. Vistas de muito alto e esten-
didas por quilômetros de distância,
as imagens de grande escala ocupam a
Friedman é enfático ao afirmar que sua
paisagem como exposições ao ar livre. junto
personagem, apesar de ficcional, não é
utópica, pois expressa seu cansaço com
Esquematizados em croquis e em cola-
a estrutura social e política do es-
gens de Friedman, os desenhos remetem
tado moderno, que falha ao ignorar as
às figuras de animais e de seres mi-
reais necessidades de seus cidadãos e
tológicos como a unicórnia, uma das
que baseia suas ações em favor de con-
mais recorrentes e representativas
ceitos abstratos, como mercado finan-
personagens de sua obra: “Gosto de
conexão ceiro, sucesso e riqueza.
unicórnias: elas não existem, então
60 são pacíficas”. Amigáveis, graciosas e 61
Toda sua produção é direcionada para
sempre femininas, elas são as protag-
o homem da rua, para o cidadão comum.
onistas de uma série de contos narra-
Na rua, a unicórnia atua como uma
dos e ilustrados por ele, como o La
plataforma pública para o debate, que
licorne nage dans la merdemots (de
pode ser ativada, modificada e comple-
difícil tradução para o português por
mentada por quem a utiliza, e na qual
ser um trocadilho, poderia ser tra- cidade são discutidas questões relativas à
duzida como A unicórnia nada no mar
função do museu e a importância da
de palavras de merda).
participação social para a construção
de espaços mais democráticos.
A breve história narra como a cri-
atura se vê mergulhada em palavras
tão abstratas que perderam seu sen-
tido efetivo, a exemplo daquelas por
vezes utilizadas em discursos políti- lugar
cos. Em crítica às palavras vazias e
opacas, a unicórnia decide se manter
em silêncio desde então.

troca
A Unicórnia nada
no mar de palavras
62 63
de merda, 2021
Livre adaptação do
conto La licorne
nage dans la
merdemots pela
equipe do Memorial
da Resistência

[na página ao lado]

Ilustração de Yona
Friedman, sem data

[nas páginas
seguintes]

Ilustração de Yona
Friedman em A
Grande Licornerie
[La Grande
Licornerie], 2010,
livro de artista
64 65
66
A EXPOSIÇÃO

67
68 69
70 71
72 73
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76 77
78 79
Bandeira, 2021

Partindo da proposta de Friedman para


um museu sem edifício na cidade,
convidamos os coletivos casadalapa
e Paulestinos para realizar uma
80 81
série de intervenções urbanas em
nossa vizinhança. A primeira delas
aconteceu no próprio edifício do
Memorial da Resistência, com a
instalação de uma bandeira em tecido
feita a partir de um dos quadrinhos
de “Democracia”, de Yona Friedman.
82 83
CNEAI
O Centre National Édition Art Image
(CNEAI) é um centro nacional de ar-
te contemporânea que há vinte anos
convida artistas emergentes e renoma-
dos cuja arte se relaciona com ques-
tões sociais. Seus trabalhos refletem
sua sensibilidade em todas as áre-
as da atividade humana. Comprometi-
do com a criação de comunidades, o
MEMORIAL DA RESISTÊNCIA CNEAI fomenta a capacitação financeira
O Memorial da Resistência tem como e cultural dos artistas a partir da
missão a valorização e a preserva- colaboração e de práticas interdis-
ção das memórias da repressão e da ciplinares: publicações, design grá-
resistência políticas no Brasil re- fico, criações digitais, serviço so-
publicano, especialmente no período cial, escrita, música, produção, etc.
da ditadura civil-militar. Realizamos O CNEAI está comprometido com a pro-
este trabalho por meio da educação, moção da cultura além do mercado e
da pesquisa, além da organização de com o desenvolvimento de novos mode-
exposições temáticas. Nosso trabalho los de produção e transmissão de for-
84 é norteado pela defesa da cidadania, mas artísticas, em especial aquelas 85

da democracia e dos direitos humanos. que rompem categorias, atingindo to-


Entre 1940 e 1983, aqui funcionava dos os públicos em todas as fases do
o Departamento Estadual de Ordem Po- processo criativo (desde o encontro
lítica e Social de São Paulo (Deops- com artistas à exposições). O CNEAI
-SP), uma das polícias políticas mais está localizado na Cité internationa-
truculentas do país. Por isso, nos- le universitaire de Paris, Maison In-
sa sede tem enorme valor histórico e ternationale, o International Univer-
simbólico. sity Campus em Paris.

FONDS DE DOTATION DENISE


ET YONA FRIEDMAN
O Fonds de Dotation Denise et Yona
Friedman é a representante exclusiva
de Yona Friedman e seu trabalho. Seu
objetivo é garantir a preservação das
obras de Yona Friedman, garantindo o
acesso ao material para pesquisadores,
emprestando obras para exposições pú-
blicas e promovendo a publicação e a
divulgação pública.
GOVERNO DO ESTADO ASSOCIAÇÃO PINACOTECA MEMORIAL DA RESISTÊNCIA YONA FRIEDMAN:
DE SÃO PAULO ARTE E CULTURA DE SÃO PAULO DEMOCRACIA

JOÃO DORIA Diretor-geral Coordenadora Curadoria Expografia e Montagem


Governador do Estado Jochen Volz Ana Pato Ana Pato Gala Art Installation
de São Paulo
Diretor administrativo Coordenadora Coordenação artística Tradução
SÉRGIO SÁ LEITÃO e financeiro do programa educativo Marianne Friedman-Polonsky Daniel Garroux
Secretário do Estado Marcelo Costa Dantas Aureli Alves de Alcântara Jean-Baptiste Decavèle Marcelo Cipolla
de Cultura e Economia Sylvie Boulanger
Criativa Diretor de relações Educadores Revisão
institucionais Alessandra Santiago Assistência de curadoria Todotipo Editorial
CLÁUDIA PEDROSO Paulo Romani Vicelli da Silva, Aléxia Sayuri Carolina Faustini Junqueira
Secretária Executiva Hino, Ana Carolina Realização
do Estado de Cultura e Ramella Rey Ammon, Projeto Expográfico Associação Pinacoteca
Economia Criativa Daniel Augusto Bertho Anna Ferrari e equipe Arte e Cultura (APAC)
Gonzales, Marcus Isabella Rosa
FREDERICO MASCARENHAS Vinicius Freitas Alves Pedro Lins Apoio
Chefe de gabinete Consulat Général de
da Secretaria de Estado Programa de pesquisa Projeto gráfico e France à São Paulo
de Cultura e Economia Camila Alvarez Djurovic comunicação visual
Criativa Carolina Faustini Junqueira Lia Assumpção Parceria
Julia Cerqueira Gumieri janela estúdio Sesc São Paulo
Conselho de Orientação
Cultural do Memorial da Estagiário de comunicação Reprodução livre dos Agradecimentos:
Resistência de São Paulo Guilherme Dias desenhos e das pinturas Ana Luisa Sirota de
Antônio Visconti de Oliveira Atila Fragozo Azevedo, Benjamin
86 Carla Gibertoni Carneiro Ananda Giuliani Seroussi, Casa do Povo, 87

Lauro Pereira Ávila Julio Dojcsar Décio Hernandez Di Giorgi,


Marlon Weichert Silvana Marcondes Eda Schauer, Mônica
Paulo Vannuchi Machado, Nathalie Lacroix,
Renan Honório Quinalha Intervenção urbana Paula Signoreli, Perrine
Coletivos casadalapa Warmé-Janville, Pivô,
e Paulestinos Rafael Moretti, Telma
Balielo e Vanessa Ferrer.
Ação educativa
Equipe do Programa Reprodução dos trabalhos
Educativo cortesia do Fonds de
Dotation Denise et Yona
Produção Friedman e de Jean-
Angela Gennari Baptiste Decavèle, com
Guilherme Barros a colaboração do CNEAI
e de Sylvie Boulanger.
Produção gráfica
e tratamento de imagens Fotos da exposição
Lilia Góes [págs 24-25, 62, 66-79]
e da bandeira [pág 81]:
Comunicação Levi Fanan [acervo
Adriana Krohling Kunsch Memorial da Resistência]
Caio Raposo
Luiza Cerqueira Marinho

Assessoria de imprensa
Adelante Comunicação
Yona Friedman : democracia
[recurso eletrônico] / curadoria Ana Pato.
-- São Paulo : Memorial da
Resistência de São Paulo, 2021.

90 p.
ISBN 978-65-89070-10-8
Catálogo da exposição realizada no
Memorial da Resistência de São Paulo de
Realização
26 de junho de 2021 a 7 de março de 2022.

1. Democracia. 2. Arquitetura.
I.Memorial da Resistência de São Paulo.
II. Friedman, Yona, 1923-2019.

CDD 321
Secretaria de
Cultura e Economia Criativa
visita debate improvisação

trabalho junto falar

iconóstase conexão público

poder cidade mim

comida lugar água

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