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CONTEMPORÂNEA
Introdução
A classificação de grupos de estudiosos em escolas de pensamento teve
um grande papel na consolidação da sociologia como um campo de
pesquisa. Os estudos realizados pelos integrantes de cada uma dessas
escolas apresentam ao menos um ponto de convergência, o que dá
relativa unidade aos trabalhos produzidos.
Neste capítulo, você vai estudar a fundação da escola de Frankfurt, na
Alemanha, e da escola de Chicago, nos Estados Unidos. Também vai co-
nhecer o contexto histórico do surgimento de cada uma delas e os temas
que fizeram parte da agenda dos seus pesquisadores mais importantes.
Escola de Frankfurt
A escola de Frankfurt surgiu a partir de uma articulação entre pesquisadores
judeus alemães que criticavam o positivismo na década de 1920. A influência da
obra de Karl Marx consistia em um ponto em comum entre os seus membros,
que se opunham ao marxismo oficial da União Soviética. Para os autores da
escola de Frankfurt, as esperanças de que uma revolução proletária acontecesse
foram se diluindo. Nas décadas seguintes, o foco passou a ser a construção
de um conhecimento emancipatório que levaria à felicidade (WALTZ, 2006).
2 A escola de Frankfurt e a escola de Chicago
Essa escola, diz Freitag (2004), compreende tanto uma linha epistemoló-
gica da teoria social como um agrupamento de intelectuais. Tal corrente de
pensamento possui três eixos de produção:
Com o passar dos anos, temas como a produção cultural, as relações entre
arte e capitalismo e os meios de comunicação na sociedade passaram a integrar a
agenda de pesquisa do grupo de Frankfurt. Alguns dos seus principais membros
foram Max Horkheimer (1895–1973), Theodor W. Adorno (1903–1969), Herbert
Marcuse (1898–1979), Walter Benjamin (1892–1940) e Erich Fromm (1900–1980).
Adorno e Horkheimer produziram estudos sobre a razão, a ciência e a
produção cultural na sociedade contemporânea. Já Walter Benjamin estudou
a arte e as condições técnicas nos bastidores de sua produção, com destaque
para o cinema em seu artigo A obra de arte na era de sua reprodutibilidade
técnica (publicado em 1936). Herbert Marcuse ganhou destaque com o livro
Eros e Civilização (versão final publicada em 1955), que teve um enorme
impacto na geração de 1968, na França. Já Erich Fromm articulou em sua
obra o paradigma marxista à psicanálise.
Como você pode perceber, uma das principais características dessa escola é
a sua interdisciplinaridade. Seus intelectuais, a partir de áreas do conhecimento
como sociologia, filosofia, ciência política, economia, comunicação e artes,
refletiam e buscavam uma forma de construir uma sociedade emancipada.
A abordagem ecológica
O sociólogo Robert Park (1987) compreendia a cidade como um organismo
social. Em suas pesquisas, ele relacionou fenômenos sociais às áreas urbanas,
afirmando que pessoas com culturas semelhantes se agrupam em áreas es-
pecíficas da cidade. Essa abordagem teórica é chamada de ecologia humana.
Para a ecologia humana, o estilo de vida dos indivíduos é determinado pelo
seu habitat social: o local onde vivem e suas relações sociais. O comportamento
humano estaria relacionado, portanto, à posição que os indivíduos ocupam no
meio social urbano. Assim, a investigação do lugar ocupado no interior na vida
urbana e as relações estabelecidas nesses contextos revelariam a influência
do habitat social no modo de vida das pessoas.
Os comportamentos desviantes, nessa perspectiva, são resultado do meio
social do qual o indivíduo faz parte. Essa visão foi a base para a criação da
ecologia criminal, um corrente que vê a cidade composta por zonas, cada uma
com um padrão homogêneo de situações.
8 A escola de Frankfurt e a escola de Chicago
A abordagem organizacional
Outra linha de interpretação da vida urbana produzida pela escola de Chicago
foi a abordagem organizacional. Tendo como foco os padrões de comporta-
mento social, Louis Wirth destacava a chegada de migrantes (da zona rural
ou de outros países) e afirmava que o modo de vida trazido por eles nunca
desaparecia por completo.
Desse modo, a vida urbana e as ações dos indivíduos não seriam definidas
pelo tamanho e pela localidade de suas unidades residenciais, mas pelos seus
hábitos (que não mudam por completo, ainda que os sujeitos passem a morar em
outros lugares). Nesse sentido, aponta Wirth (1987), residir numa área urbana não
é sinônimo de ter um modo de vida urbano. O urbanismo seria um conjunto de
padrões de comportamento que podem ser encontrados em indivíduos que habitam
grandes cidades e estabelecem vínculos e relações nesse contexto heterogêneo.
De modo geral, a escola de Chicago combinou teoria e pesquisa de campo
em seus estudos sobre a vida nos grandes centros urbanos. A cidade é vista
por mapeamentos em que os centros e subcentros, as periferias e as relações
de subordinação entre eles são destacadas. O centro é descrito como o lugar
que detém autoridade econômica, política e cultural. Assim, quanto mais
longe dele uma localidade fica, mais ela é carente econômica e culturalmente.
Conhecendo a história da escola de Chicago, você pode compreender
que a vida social é impactada pelas distâncias espaciais e pela mobilidade
dos indivíduos no espaço urbano. Essa constatação deu origem à sociologia
urbana e a um conjunto de estudos que buscaram analisar cientificamente as
transformações do seu tempo.
No caso da sociologia, uma ciência que nasceu na Europa e que foi se con-
solidando em outras regiões do mundo, foram estabelecidos alguns cânones que
são base da disciplina, mas que nem por isso são isentos de críticas. Essas tensões
dentro do campo científico revelam que a própria ideia de escolas de pensamento é
uma construção social, com diferentes interpretações e sujeita às relações de poder.
Leituras recomendadas
ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
ADORNO, T. W. A indústria cultural. In: COHN, G. (Org.). Sociologia. São Paulo: Ática, 1986.
BENJAMIN, W. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In: BENJAMIN,
W. et al. Textos escolhidos. São Paulo: Abril, 1983.
BRETAS, A. Do deserto de gelo da abstração ao filosofar concreto: correspondência
Adorno-Benjamin (1928-1940). Trans/Form/Ação, v. 36, n. 3, 2013.
CUIN, C.-H.; GRESLE, F.; BIGOTTE, M. História da sociologia. São Paulo: Ensaio, 1994.
MIGLIEVICH-RIBEIRO, A. Por uma razão decolonial desafios ético-político-epistemoló-
gicos à cosmovisão moderna. Civitas-Revista de Ciências Sociais, v. 14, n. 1, 2014.
NOBRE, M. A teoria crítica. São Paulo: Jorge Zahar, 2008.
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