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INTRODUÇÃO

Ao analisar o mundo, é perceptível uma dialética entre o progresso e o


regresso, o grande avanço tecnológico e a desumanização, a liberdade e a
alienação. O bem e a maldade parecem caminhar juntos em nosso tempo.
Progresso e regresso se tornou a dialética do esclarecimento na
contemporaneidade. Pois, tornar o homem livre, era o intuito da revolução do
esclarecimento. Como Immanuel Kant mesmo afirmara que: “Esclarecimento
(Aufklärung) significa a saída do homem de sua minoridade, pela qual ele próprio é
responsável.” (KANT, 1985, p. 100). E o próprio homem é o autor e o culpado dessa
situação, impedindo em si a capacidade de iniciativa própria, se submete a
dependência do outro, e omite a capacidade cognitiva de uso da razão.
Max Horkheimer e Theodor Adorno são filósofos da chamada Teoria Critica 1,
fundada no período pós primeira Guerra Mundial, em fevereiro de 1923, com o
intuito inicial de impedir a vulgarização da teoria marxista, e alimentados pela
esperança de revolução social2. O que os autores na década de 1920 não
esperavam, era o surgimento de uma nova Guerra Mundial, acompanhada dos
regimes nazista, fascista, da regressão humana a um estado primitivo de barbárie.
No contexto de pós primeira e segunda Guerra Mundial ao invés de um
homem livre, autor e mestre da racionalidade (projeto do esclarecimento), existe o
homem autor da barbárie. Ao oposto de esclarecimento, a humanidade parece
retornar as trevas do estágio primitivo de homem. A razão que detinha o objetivo de
livrar o Homem das trevas, se torna a própria cegueira da humanidade por meio de
avanços tecnológicos usados para a destruição de povos inteiros, de manipulação
das consciências, de redução do próprio sujeito ao estado de objeto.
Este trabalho tem como objetivo geral apresentar de forma crítica a
problemática da razão sendo instrumentalizada, gerando a destruição do homem. E,
apresenta-se como o problema de pesquisa, descrever quais as consequências do

1
A denominação Instituto de Pesquisas Sociais, Escola de Frankfurt e Teoria Crítica, contém
algumas imprecisões históricas de modo que os comentadores mais importantes desses autores
utilizam ambos os termos. Ao decorrer do presente trabalho será utilizado as três formas.
2
Existe um elemento crítico a Marx que é, a saber, os motivos pelos quais a Alemanha, ao contrário
da Rússia não produziu a revolução esperada, uma vez que as condições materiais decretadas a
favor do marxismo como necessárias já haviam se manifestado àquela época.
12

avanço da razão sobre o processo cultural contemporâneo de Theodor Adorno e


Max Horkheimer.
Retomando os fatos históricos ocorridos no século XX, como o nazismo,
fascismo, as duas Guerras Mundiais, e outros fatos que reduziram a totalidade do
Homem.
Além de investigar sobre a instrumentalização da razão na
contemporaneidade. E assim, desenvolver possíveis conclusões a partir de Adorno e
Horkheimer para o fim da instrumentalização da razão.
Como metodologia para alcançar os objetivos deste estudo, optou-se por uma
pesquisa de abordagem qualitativa com caráter bibliográfica, com base nos
seguintes autores: Adorno e Horkheimer (1985).
Para tanto, se contextualiza a teoria crítica da Escola de Frankfurt no primeiro
capítulo, com especial ênfase no pensamento de Theodor Adorno e Max
Horkheimer; considerando sua importância para a construção da teoria crítica da
sociedade.
No capítulo segundo, se busca tratar sobre a razão instrumental nas
circunstâncias ocorridas no século XX, tomando por ponto de partida o declínio da
razão objetiva por meio da Revolução Iluminista do esclarecimento e,
posteriormente, tratando sobre a instrumentalização da razão para o progresso
cientifico e suas influências para o avanço do totalitarismo, e outras barbáries da
contemporaneidade que instrumentalizam a razão.
No terceiro capítulo será abordado a reconstrução da razão por meio da
educação para a emancipação do sujeito, a partir da obra “Educação e
Emancipação” de Theodor Adorno (1995), buscando assim uma possível
reconstrução da razão.
E, para compreender o pensamento de Adorno e Horkheimer é necessário
primeiramente contextualizar o pensamento teórico crítico da Escola de Frankfurt, na
qual pertenciam.
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CAPÍTULO I

OS FUNDAMENTOS DA ESCOLA DE FRANKFURT

O pensamento aguarda que, um dia, a lembrança do que foi perdido venha


despertá-lo e o transforme em ensinamento. (THEODOR ADORNO).
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1.1 ESCOLA DE FRANKFURT

Na década de 1920, o mundo tinha se deparado com o período entre duas


Guerras Mundiais. Nessa ocasião, surgiu a Escola de Pesquisa Social de Frankfurt,
na Alemanha, cujo intuito consistia em elaborar uma instrução teórica crítica à
sociedade.
Essa escola alemã deteve seu pensamento observando que, a era pós
iluminista foi um grande avanço e regresso racional para o mundo.
O avanço racional, tem o intuito de levar o homem ao esclarecimento, à
racionalidade, e fazê-lo agir pelo pensamento, e levá-lo a um estado de maturidade
e desprezar as tradições antigas e cegas, como era a moral cristã. “O
esclarecimento tem perseguido sempre o objetivo de livrar os homens do medo e de
investi-los na posição de senhores.” (ADORNO, 1985, p. 5).
Tornar o homem livre para pensar, para falar, para agir era a finalidade da
revolução do esclarecimento, colocando-o no centro, como medida de todas as
coisas, um autor e mestre dos seus pensamentos e não um submisso aos dogmas
do mito. “Dissolver os mitos e substituir a imaginação pelo saber.” (ADORNO, 1985,
p. 5), era a proposta da revolução da razão.
É incontestável que o progresso racional contribuiu para o surgimento das
novas tecnologias, o gradativo avanço da ciência, grande melhoria das civilizações,
mas, tal progresso deveria tornar o homem mais livre para ser homem.
Ao invés do estado plenamente humano, encontram-se diante do progresso
cientifico e tecnológico, guerras mundiais, instrumentalização do ser humano e a
cultura aniquilada pela indústria em massa, a ciência prisioneira da técnica
desumana, caos sociais, contribuindo, assim, para o dano da natureza humana.
Pertencentes a essa escola temos, os nomes de Karl Grunberg 3, Friedrich
Pollock, Max Horkheimer, Theodor Wiesengrund Adorno, Walter Benjamin, Kurt
Riezler, Herbert Marcuse, Erich Fromm, Oto Kirchheimer, Leo Lowenthal e outros.
Dentre esses pensadores, deteremos o foco deste trabalho em Max
Horkheimer e Theodor Adorno, principais expoentes teóricos da escola de Frankfurt.

3
Primeiro diretor do Instituto.
15

Neste primeiro capítulo, será tratado o contexto histórico do nascimento da


Escola de Frankfurt, e a importância do pensamento de Max Horkheimer e Theodor
Adorno para o nascimento da teoria crítica.

1.2 THEODOR LUDWIG WIESENGRUND-ADORNO

Theodor Ludwig Wiesengrund-Adorno, filósofo alemão, nasceu em Frankfurt


aos onze de setembro de 1903. Vindo de uma família judaico-cristã, seu pai, Oscar
Wiesengrund, de família judia, se dedicava à venda de vinhos, e sua mãe, Barbara,
Calvelli-Adorno, de família católica, era pianista e se dedicava ao canto litúrgico nas
igrejas italianas.
Influenciado por sua mãe, Barbara, Adorno, aos dezoito anos de idade passa
a estudar teoria musical com Alban Berg na Universidade de Frankfurt 4 dos anos de
1921 a 1923, e ali mesmo prossegue com os estudos de Filosofia com o
neokantiano Hans Cornelius, além de estudar Sociologia e Psicologia. É nesse
período que Adorno produz os seus primeiros tratados críticos sobre a música
contemporânea.
Em 1931, Adorno conclui sua tese na Universidade de Frankfurt, escrevendo
sobre a estética em Kierkegaard, orientado pelo professor Paul Tillich.
Após a conclusão a conclusão da Tese, Adorno passa a lecionar na
Universidade de Frankfurt.
Durante o período que estava na Inglaterra em 1937, Adorno se dedicou aos
trabalhos acadêmicos como professor na Universidade de Oxford – Merton College.
Nesse meio acadêmico, casa-se com a química Gretel Karplus.

1.2.1. Obras de Adorno

Em 1923, Adorno publica primeiramente a sua tese sobre “A estética em


Kierkegaard”. No início da Segunda Guerra Mundial escreve a obra “Fragmentos
sobre Wagner”, em 1939.

4
Fundada em 1914.
16

Em 1944, publica em conjunto com Horkheimer, a obra “Dialética do


Esclarecimento” a Magnum opus5 dos dois autores. Após permanecer cinco anos em
Oxford, Adorno “[...] transferiu-se para os Estados Unidos onde escreveu, em
conjunto com Horkheimer, a obra Dialética do Iluminismo (1947).” (ADORNO, 1996,
p. 6), por meio da obra dialética do esclarecimento (1985), - como foi traduzida para
o português - Adorno (1985) juntamente com Max Horkheimer (1985), respondem a
ânsia dos acadêmicos do mundo, uma teoria que explicasse o porquê de tanta
barbárie humana no período das luzes.
Em conjunto com Hanns Eisler, escreve, em 1947, a obra sobre a música
cinematográfica “Compor para os filmes”. Escreve em 1949 sobre a “Filosofia da
Nova Música”. Em 1950, publica a obre “A personalidade”. Em 1951, escreve
“Mínima Moralia: reflexões a partir da vida danificada”. No ano de 1956, Adorno
publica as obras intituladas “Dissonâncias e Para a Metacrítica da Teoria do
Conhecimento — Estudos sobre Husserl e as Antinomias Fenomenológicas”. Dez
anos depois, em 1966, Adorno publica a obra “Dialética Negativa”.
Theodor Adorno faleceu com 66 anos, em 1969, elaborando uma obra sobre
três estudos de Hegel, e deixando quase completa a obra Teoria Estética.

1.3 MAX HORKHEIMER

Nascido na cidade de Stuttgart, na Alemanha, em 14 de fevereiro de 1895,


Max Horkheimer era filho de Moritz Horkheimer e Sua mãe, Bebetta Horkheimer.
Horkheimer pertenceu a uma família judia ortodoxa, de posses, Seu pai, Moritz, se
dedicava ao trabalho como empresário de várias fábricas têxteis.
Com quinze anos de idade, no ano de 1910, Horkheimer saiu da escola para
trabalhar com o pai na indústria têxtil, e em pouco tempo se tornou gerente,
permanecendo na função até 1917 quando foi convocado para a Primeira Guerra
Mundial, mas, por motivos médicos, Horkheimer é afastado do serviço militar. (MAIA;
SILVA; BUENO, 2017).
É na empresa de seu pai que Horkheimer conheceu o economista Friedrich
Pollock, e se tornaram amigos por meio dos negócios. Moritz (pai de Horkheimer)
aconselhou o filho a acompanhar Pollock nos negócios. “Horkheimer aceitou o

5
Grande obra.
17

conselho do pai em questões como viagens prolongadas a Bruxelas e Londres, as


quais fez com Pollock em 1913 - 1914, para aprender francês e inglês.” (JAY, 2008,
p. 42).
Com Pollock, Horkheimer ganha experiência nos negócios, “[...] mas seus
interesses nunca foram exclusivamente os de um aspirante ao mundo dos
negócios.” (JAY, 2008, p. 42).
Na indústria de tecidos é que Horkheimer se tornou amigo de Rose Riekher,
secretária de seu pai, e com ela se casou em 1926 e viveram juntos até a morte de
Rose em 1969, esse casamento nunca foi aceito por Moritz, pai de Horkheimer.
Após ser descartado do serviço militar para a Primeira Guerra Mundial, em
1917, Horkheimer se matricula na universidade de Munique, na Alemanha.
Estudando em Munique, Horkheimer é preso injustamente, por ser semelhante a um
perturbador dramaturgo Ernst Toller.
Retornando da prisão injusta, Horkheimer decide dar mais um passo e se
muda para Frankfurt, onde inicia o estudo em psicologia e filosofia, sendo seu tutor
Hans Cornelius, um neokantiano renomado na filosofia alemã.
Estudando em Frankfurt, Horkheimer conhece o jovem Theodor Adorno em
1921, com o qual manteve longa amizade.
No início dos estudos em Frankfurt, Horkheimer tenta escrever uma
dissertação em psicologia com Theodor Adorno, mas a tentativa fracassou.
Mas, em 1925 Horkheimer escreve uma dissertação sobre “A crítica como
mediação entre a filosofia prática e teórica”, que é publicada oficialmente pela
Universidade de Frankfurt.
Em 1923, antes de Horkheimer publicar a primeira dissertação, ocorre na
Universidade de Frankfurt a Primeira Semana Marxista de Trabalho, ao qual alguns
intelectuais comparecem na Universidade de Frankfurt para debater questões
sociais e a vulgarização do marxismo.
No encontro dos intelectuais marxistas, Horkheimer reencontra o amigo
Friedrich Pollock junto a outros nomes de professores “[...] que buscavam chegar ao
marxismo ‘verdadeiro’ e ‘puro’.” (JAY, 2008, p. 41). Possivelmente Horkheimer não
participou ativamente dos debates e reuniões por ser ainda muito jovem, mas,
manteve contato direto com as ideias por meio de Pollock.
Após o encontro, Horkheimer prossegue os estudos para ser professor na
Universidade de Frankfurt, elaborando sua tese sobre “A crítica kantiana da
18

faculdade do julgar como ponte entre as filosofias teóricas e práticas”, em 1925.


Essa tese de Horkheimer contribuirá para a mudança das ideias dele, passando,
assim, da filosofia transcendental para uma filosofia mais social.

Entre 1925 e 1928, Horkheimer começa a se afastar da orientação da


filosofia transcendental de Cornelius e a tematizar filosoficamente as
questões que o inquietavam, como o papel da Teoria Marxista e a Filosofia
Social como força prática para alterar as condições materiais dos
trabalhadores. Essa elaboração irá culminar na proposição de que era
necessário aprofundar o diagnóstico do fracasso da revolução, e procurar
entender que mudanças nas condições materiais e subjetivas explicavam a
dificuldade da classe operária em agir segundo seus interesses. A
proposição da Teoria Crítica como materialismo interdisciplinar, que
caracterizou o primeiro momento do Instituto de Pesquisa Social em
Frankfurt, teve colaboração decisiva de Horkheimer a partir do momento,
em 1930, em que ele foi nomeado diretor. (MAIA; SILVA; BUENO, 2017, p.
11).

Essa mudança de Horkheimer, de uma filosofia teórica para uma filosofia


prática influenciará também as ideias filosóficas do recém-nascido instituto,
passando assim de uma práxis6 para outra.
Com o início de uma nova Guerra Mundial, o instituto se desconcerta, pois era
um fato não esperado pelos jovens teóricos. E diante da guerra, Horkheimer buscará
“Criticar toda forma de metafísica a fim de livrar de toda deformação moderna ‘a
insatisfação diante da ordem estabelecida sobre a terra’.” (MAIA; SILVA; BUENO,
2017, p. 12).
Após ter concluído os estudos para ser professor, Horkheimer é eleito diretor
do Instituto de Pesquisas Sociais, em 1930. Em meio ao ambiente social inseguro,
por que o partido nazista começa a ganhar força na Alemanha, Horkheimer publica o
primeiro número da revista do Instituto.

É em meio a tumultos provocados por militantes nazistas e providências


preventivas que, em 1932, surge a primeira publicação da revista do
Instituto de Pesquisa Social sob a direção de Horkheimer, que também
durante essa época coordenou, junto com Erich Fromm, um estudo empírico
sobre os operários e empregados qualificados. (MAIA; SILVA; BUENO,
2017, p. 12).

Diante do conflito social na Alemanha, alguns teóricos marxistas ainda


traziam esperanças de que nasceria uma nova revolução. Mas, tal revolução
6
Esta mudança de práxis é tratada mais à frente neste trabalho.
19

esperada gerou um totalitarismo nazista. O povo alemão encontrou esperança no


partido nazista, tendo Adolf Hitler como nome de referência.
Horkheimer e o instituto não encontram possibilidades de prosseguir com o
Instituto se quisessem sobreviver. Isso devido à perseguição do partido nazista
contra os judeus.
Com a ascensão de Adolf Hitler ao poder como chanceler, em 1933,
Horkheimer é destituído do ofício de professor da Universidade de Frankfurt, e é
obrigado a fechar o instituto7. Ocorrendo impeachment dos professores da
Universidade de Frankfurt, Horkheimer com outros membros fogem para Genebra,
no mesmo ano.
Em 1934, Horkheimer com o grupo de professores fogem novamente, e desta
vez vão para Nova Iorque. Depois se mudam para Los Angeles. E em Los Angeles,
junto com Adorno e outros professores, Horkheimer escreve algumas obras, dentre
elas a “Dialética do Esclarecimento” (1985).
Retornando para a Alemanha em 1949, com Adorno e outros professores,
Horkheimer se dedica a reorganização do Instituto, e nesse período assume a
reitoria da Universidade de Frankfurt em 1950 até 1953.
Em 1959 Horkheimer é convidado para lecionar em Lugano na Suíça, onde
prossegue escrevendo. Em 7 de julho de 1973, Horkheimer morre aos 78 anos em
Nuremberg na Alemanha.

1.3.1 Obras de Horkheimer

A primeira obra de Horkheimer é a sua tese sobre “Modificações de forma na


zona insensível às cores da íris do olho”, produzida na área de Psicologia, porém,
não foi publicada. Auxiliado por Cornelius, Horkheimer passa a produzir na área de
Filosofia tratando sobre “Sobre a Antinomia da Faculdade Teológica do Julgar” em
1923, a partir da qual se torna doutor e assistente de seu orientador, Cornelius.
Em 1925, Horkheimer se torna professor na Universidade de Frankfurt, por
meio de um trabalho intitulado “A crítica kantiana da faculdade de julgar como ponte
entre as filosofias teórica e prática”.

7
O instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt e a Universidade de Frankfurt são ambientes distintos;
no primeiro, Horkheimer é o diretor, e no segundo ele leciona.
20

Em 1932, com muitas dificuldades devido a perseguição do partido nazista,


Horkheimer juntamente com Erich Fromm, publicam o primeiro número da revista do
Instituto de Pesquisas Sociais. Publicando também no mesmo período sobre
“História e Psicologia”, “Observações sobre Ciência e Crise”, “Sobre o Problema da
Verdade”, “Materialismo e Metafísica”, “Materialismo e Moral”, os dois artigos são
uma orientação crítica da Filosofia, impulsionando-a para a prática.
Após o impeachment dos professore, e a mudança do instituto
provisoriamente para os Estados Unidos, Horkheimer se dedica à publicação, um
deles é a grande obra “Estudos sobre a autoridade e família” de 1934.
Em 1937, Horkheimer publica a obra “Teoria Tradicional e Teoria Crítica”,
conhecida pela mudança na práxis do instituto.
Em 1947, Horkheimer publica um conjunto de conferências na Universidade
de Columbia, intitulando-a de “Eclipse da Razão”, sua principal obra.
E no mesmo ano de 1947, Adorno publica a “Dialética do Esclarecimento” em
conjunto com Horkheimer. Principal obra do instituto.

1.4 A ESCOLA DE FRANKFURT: PRINCIPAIS PENSADORES

No verão de 20 de maio de 1923, a Universidade de Frankfurt propõe A


Primeira Semana Marxista de Trabalho (EMA 8 sigla em alemão). No encontro
promovido e apoiado por Felix Weil.

Entre os participantes dessa seção de uma semana estiveram Georg


Lukacs, Karl Korsch, Richard Sorge, Friedrich Pollock, Karl August Wittfogel,
Bela Fogarasi, Karl Schmiickle, Konstantin Zetkin (o mais novo dos dois
filhos da famosa líder socialista Klara Zetkin), Hede Gumperz (então casada
com Julian Gumperz, editor da publicação comunista Rote Fahne, depois
com Gerhart Eisler e, mais tarde com Paul Massing), e diversas esposas,
inclusive Hedda Korsch, Rose Wittfogel, Christiane Sorge, e Kate Weil.
(JAY, 2008, p. 41 - 42).

8
Erste Marxistische Arbeitswoche.
21

Um escrito de Karl Korsch, foi motivo de debate nesta reunião 9, que tratava
sobre “Marxismo e Filosofia” (1923). No manuscrito de Karl Korsch o ponto central
era de salvar o marxismo da vulgaridade em que ele estava.
Os ideais de Felix Weil, Karl Korsch, Friedrich Pollock e outros intelectuais,
influenciaram Horkheimer e o jovem Adorno profundamente, como Horkheimer
afirma no prólogo do livro “Imaginação Dialética” (2008) de Martin Jay que:

Essa empreitada só logrou êxito porque, graças ao apoio de Hermann Weil


e a intervenção de seu filho Felix, um grupo de homens interessados na
teoria social e com formações acadêmicas diferentes veio a se reunir com a
convicção de que formular o negativo, em uma época de transição, era mais
importante do que construir carreiras acadêmicas. O que nos uniu foi a
abordagem crítica da sociedade existente. (JAY, 2008, p. 25).

O que os intelectuais desta Primeira Semana Marxista de Trabalho não


imaginavam, era que futuramente estouraria novamente uma Guerra mundial, e isto
acabou contribuindo para as conclusões do trabalho de crítica social, do recém-
nascido Instituto de Pesquisa Sociais10.
Vale ressaltar que nos anos anteriores o mundo já passava por sérias crises,
como a Primeira Guerra Mundial em 1914, o desmoronamento do regime imperial na
Alemanha em 1918 e posteriormente os movimentos operários.

Logo após a Primeira Guerra Mundial, os movimentos de direita começaram


a se organizar na Alemanha ao mesmo tempo que as forças de esquerda,
inspiradas pela vitória da Revolução Bolchevique na Rússia, passaram a
ameaçar de perto o poder do grande capital na Alemanha. Em 1933, porém,
a direita, concentrada no Partido Nacional Socialista, deu vitória a Hitler em
eleição direta, o que abriu caminho para a perseguição e destruição das
organizações dos trabalhadores e de seus partidos representativos.
(MATOS, 1993, p. 6).

9
Maior apoiador de Felix Weil, Karl Korsch buscava na obra “Marxismo e Filosofia “[...] compreender
por que os filósofos e historiadores burgueses, mesmo quando acreditavam dedicar-se à pesquisa
mais ‘imparcial’ da ‘verdade pura’, foram necessariamente conduzidos a negligenciar totalmente a
essência da filosofia contida no marxismo ou a formular sobre ela uma ideia muito incompleta e muito
falsa.” (KORSCH, 2008, p. 26).
10
Inicialmente a ideia dos intelectuais era de chama-lo de Instituto para o Marxismo, “[...] mas, foi
abandonada como provocadora demais, de modo que se buscou uma alternativa mais imaginativa
(não pela última vez na Escola de Frankfurt). O Ministério da Educação deu a sugestão de chama-lo
de Instituto Felix Weil de Pesquisas Sociais, mas, a ideia foi rejeitada por Felix, que desejava que o
Instituto fosse conhecido por suas contribuições para o Marxismo, não pelo dinheiro de seu fundador.
(JAY, 2008, p. 45).
22

A Alemanha influenciada por uma cultura iluminista, berço do esclarecimento


kantiano, de homens iluminados pela razão, passa a ser dominada por um regime
totalitário, que aprova mortes de pessoas de culturas diferentes, por meio de
discursos de ódio e preconceito.
Encontra-se neste período um grande conflito de contradição dialética. Onde
o homem iluminista é o mesmo homem agente do ódio, do nazismo.
As ideias kantianas de emancipação do sujeito parecem fracassar, diante de
tantas barbáries do século XX.
Parece que quanto mais racional se tornou o homem, mais cruel se deu o seu
ideal, a ponto de se lançar contra humanos inteiros, vistos com antipatia, isto é,
poloneses, negros (afro-germanos), judeus, ciganos, pessoas com deficiências
físicas ou mentais, etc.

A ascensão do nazismo, a segunda guerra, o ‘milagre econômico’ no pós


guerra e o stalinismo foram fatores que marcaram a teoria crítica da
sociedade, tal como está se desenvolveu anos 20 até meados dos anos 70.
Os autores que se vincularam a esse movimento intelectual, nascido em
1923, com a criação do instituto de pesquisas social, em Frankfurt, com
Horkheimer, Adorno, Benjamim, Marcuse, entre outros, não se satisfizeram
com as diversas analises que procuravam compreender a vitória do nazismo
e a derrota das esperanças revolucionarias. (MATOS, 1993, p. 6).

O intuito era o de perceber o porquê de tamanha luta do homem contra o


próprio homem. Analisar como que parte da sociedade Alemã aderiram a um regime
totalitário. A lógica de dominação parece ter escurecido a luz da razão. Mas por
que?
Em meio aos destroços de uma razão que buscava a emancipação do sujeito,
Max Horkheimer, Theodor W. Adorno, Herbert Marcuse, Friedrich Pollock, Erich
Fromm, Otto Kirchheimer, e Leo Löwenthal, procuraram analisar as falhas na
sociedade contemporânea vivida por eles.
Iniciando a abertura parcial do Instituto no início de 1922, Felix Weil não quer
governa-lo por inteiro, e sugere que o diretor do Instituto fosse um professor da
própria Universidade de Frankfurt, e assim foi escolhido Kurt Albert Gerlach.
Kurt Albert Gerlach, abre as portas do Instituto escrevendo a própria fundação
do Instituto de Pesquisas Sociais. Mas, aos 36 anos de vida, Gerlach morre no
mesmo ano atacado pela diabete.
23

A busca de um sucessor concentrou-se em um homem mais velho, que


pudesse funcionar como diretor interino até que um dos membros
fundadores mais jovens tivesse idade suficiente para chegar a cátedra na
universidade. [...], A escolha final do substituto de Gerlach recaiu sobre Carl
Grunberg, que foi convencido a deixar o cargo de catedrático de direito e
ciência política na Universidade de Viena, e se transferiu para Frankfurt.
(JAY, 2008, p. 46).

Grunberg, concordava com os ideais de Felix Weil e junto ao Ministério da


Educação por meio de um decreto iniciam sem imparcialidades o novo Instituto de
Pesquisas Sociais em 2 de fevereiro de 1923. A aprovação pelo Ministério da
Educação não era suficiente.
Era necessária uma estrutura física. Enquanto era construído o espaço oficial
para o funcionamento do instituto, foi necessário um lugar improvisado para os
inícios, e que coubesse os livros deixado como herança de Gerlach. “[...] como
lembrou Weil, ‘em meio a caixas de mudança abertas, repletas de livros, em mesas
improvisadas com tábuas, sob esqueletos gigantescos de uma baleia, um diplodoco
e um ictiossauro’.” (JAY, 2008, p. 46).
Em 1924, é concluído o prédio do novo instituto. Grunberg segue na direção
do instituto.
Com Grunberg na direção, alguns dos jovens que estavam no instituto nem
sempre concordavam com as ideias dele, sobretudo em relação ao uso do método
epistemológico indutivo11.
Quando Horkheimer conclui os estudos na Universidade de Frankfurt, é eleito
diretor do Instituto de Pesquisas Sociais em 1930.
Neste período havia uma insegurança social, pois, o partido nazista avançava
no poder da Alemanha gradativamente.
Quando Hitler assume como chanceler, decreta que todos os judeus saíssem
das universidades do território alemão.
Em 1933, houve o impeachment dos professores descendentes de judeus nas
escolas e universidades alemãs, estes professores foram obrigados a refugiar-se em
outros países, evitando assim o confronto com os nazistas, por isso “[...] com a
tomada do poder pelos nazistas, Adorno foi obrigado a refugiar-se na Inglaterra,
onde passou a lecionar na Universidade de Oxford.” (LOPARIC, 1996, p. 6).

11
Que tem por objetivo conclusões a partir de casos particulares, para se chegar a considerações
finais.
24

Nesse período, os professores compreendem que “[...] com o término da


guerra e a derrota do fascismo, emergira uma nova realidade social que exigia uma
nova resposta teórica” (JAY, 2008, p. 318).
Esta foi a busca primordial da escola de Frankfurt, durante e depois da
segunda guerra: produzir uma teoria crítica da sociedade.
“Horkheimer é apresentado como quem cunhou primeiramente o conceito de
teoria crítica, mencionando a revista e o instituto com os quais esteve envolvido,
bem como enfatizando os momentos históricos.” (SCHULZ, 2011, p. 5).

1.5 A TEORIA CRÍTICA

Ao retornar para a Alemanha, Adorno e Horkheimer percebem que existe algo


a se fazer para contribuir com um mundo mais esclarecido “[...] aqui podemos fazer
mais do que em qualquer outro lugar, tanto teoricamente, quanto praticamente.”
(ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 1).
O intuito do retorno de Adorno e Horkheimer à Alemanha era primeiramente
de reerguimento do Instituto para Pesquisa Social, para que a busca de conservar a
liberdade concreta fosse ao menos possibilitada pela teoria da própria escola de
Frankfurt.
No ressurgimento do Instituto de Pesquisa Social, após a segunda guerra
mundial, Adorno (1996) publica a obra “A personalidade autoritária” em 1950, com a
qual reinicia os trabalhos de análise crítica da sociedade.
Antes, o instituto era apenas um anexo da Universidade de Frankfurt, mas
com Max Horkheimer como diretor, o instituto recebeu importância maior no meio
acadêmico, “[...] assumindo uma fisionomia de escola, que elaborou o programa que
passou para a história das ideias com o nome de teoria crítica da sociedade.”
(REALE, 2006, p. 469).
Retornando do exílio forçado pelo regime nazista, parte considerável dos
professores que pertenciam ao grupo de pesquisas sociais passam a pertencer à
Escola de Frankfurt, não mais anexada a Universidade de Frankfurt, mas com
caráter independente.
25

Com a afastamento da universidade para um local independente na cidade de


Frankfurt, a escola não perdeu seu objetivo de analisar a sociedade por meio da
teoria crítica.
Com as publicações pós guerra, sobretudo a obra Dialética do
Esclarecimento de Adorno e Horkheimer, se nota uma radicalidade crítica de toda a
sociedade, e a forma radical de analisar os acontecimentos sociais gera um novo
movimento entre os teóricos da escola. E “Ao chamar de radical a crítica de
Horkheimer e Adorno, é preciso entender essa palavra em seu sentido etimológico
de chegar à raiz dos problemas.” (JAY, 2008, p. 320).
Horkheimer e Adorno tomam a frente do instituto, e assim contribuem para
que se torne um instituto independente, com auxílio de Walter Benjamim, Herbart
Marcuse, Erich Fromm, e outros teóricos.

1.5.1 A nova práxis teórica da escola de Frankfurt

Na tentativa de encontrar raiz dos problemas sociais, a escola de Frankfurt,


analisa a teoria de Marx, que na sua visão clássica e consagrada conclui que:

A história de todas as sociedades que existiram até hoje é a história da luta


de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo,
mestres e companheiros, [...] que terminou sempre com uma transformação
revolucionária de toda a sociedade, ou com um declínio comum das classes
em luta. (MARX; ENGELS, 2004, p. 45).

Marx (1999), assegura que de fato a dialética histórica da sociedade é a


dialética da luta de classes, consistindo esse o grande impasse de todos os tempos.
Mas, a escola de Frankfurt, passa a intuir que as revoluções e lutas não são
meios de avanço social, mas freios. Em especifico, Walter Benjamim assegura que:

Marx dissera que as revoluções são locomotivas da história mundial. Mas


pode ser que as coisas se apresentem em outro modo. Talvez as
revoluções sejam o ato, realizado pela humanidade que viaja nesse trem, de
acionar o freio de emergência. (MATOS, 1993, p. 29).

Com as revoluções sucedidas em decorrência da primeira e segunda guerra


mundial, o mundo não parecia ir para frente, mas parecia estar retrocedendo para a
26

barbárie, com a luta dos trabalhadores entre si, e aderência de muitos trabalhadores
ao nazismo e outros regimes totalitários.
Não se tratava apenas de luta de classes simplesmente, mas, ao que parece,
existia algo mais além disso.
Analisando-se o momento de guerra é possível considerar o que Martin Jay
assegura “[...] as desalentadas esperanças de Horkheimer em um ensaio escrito
durante a guerra, ‘o estado autoritário’, logo deram lugar a um desânimo mais e mais
profundo quanto as possibilidades de mudanças significativas.” (JAY, 2008, p. 320).
No entanto, a Escola de Frankfurt, que inicialmente aderia ao marxismo
ortodoxo, cada vez mais se dava conta que eram incapazes de chegar a uma
conclusão por meio dessa práxis radical, isto é, a práxis marxista, a qual centralizava
toda a fonte de conflito na humanidade nos conflitos de classes.

Desiludida com a União Soviética, já nem sequer marginalmente otimista a


respeito das classes trabalhadoras do ocidente e estarrecida com o poder
integrador da cultura de massa, a escola de Frankfurt percorreu o último
trecho de sua longa marcha de distanciamento do marxismo ortodoxo. (JAY,
2008, p. 320).

À medida que iam progredindo na busca de analise radicais da sociedade


que, ao que parece, nada apontava para os conflitos de classes, o resultado para a
salvação social não parecia se resolver apenas com a consciência do trabalhador de
sua condição de explorado pela burguesia.
O movimento teórico da escola estava obtendo outro caminho, ia apontando
para uma linha nova com relação as reflexões da sociedade contemporânea,
surgindo assim uma nova práxis.

A expressão mais clara dessa mudança foi a substituição que o institut fez
do conflito entre classes, pedra angular de qualquer teoria verdadeiramente
marxista, por um novo motor da história. O foco passou a incidir sobre o
conflito maior entre o homem e a natureza, tanto externa, quanto
internamente – um conflito cuja origem remontava a uma época anterior ao
capitalismo e cuja continuação, ou até intensificação, parecia provável
depois que o capitalismo chegasse ao fim. (JAY, 2008, p. 321).

Por conseguinte, o novo movimento provocado pelos teóricos da escola de


Frankfurt, visava encontrar a raiz dos confrontos sociais, e julgar que a luta de
classes - como afirmava até então o marxismo ortodoxo - não contentava como
27

resposta a todos os questionamentos, e descobrir que o movimento pode ser a


práxis entre o homem e a natureza. Tal linha de pensamento parecia satisfazer
melhor como resposta aos conflitos sociais.
Por isso, Jay (2008) concluiu, baseando-se no que ocorreu no período de
mudança de práxis, que os conflitos entre as classes poderiam perdurar, caso o
capitalismo cessasse. No entanto, o ponto inicial do conflito, ao que parece, está
mais distante da contemporaneidade.
A nova práxis adotada por Adorno e Horkheimer (1985), remonta à origem
dos conflitos sociais, que não possuem origem em nosso tempo, mas, desde o
processo de relação entre homem e a natureza.
Compreendendo desta forma a origem dos conflitos sociais, Horkheimer
(2002) havia acenado na obra Eclipse da Razão sobre o conflito do homem em
relação a natureza, afirmando que:

O ser humano, no processo de sua emancipação, compartilha o destino do


resto do mundo. A dominação da natureza envolve a dominação do homem.
[...] Desde que a subjugação da natureza não é de fato transcendida ou
reconciliada, mas simplesmente reprimida. A resistência e a revolta que
emergem dessa repressão da natureza têm acossado a civilização desde os
seus começos, tanto na forma de rebeliões sociais – como nas insurreições
espontâneas do século XVI ou nos habitualmente organizados conflitos
raciais de nossos dias – como na forma de crime organizado e transtornos
mentais. (HORKHEIMER, 2002, p. 98 – 99).

O processo de relação entre homem e natureza é uma relação de dominação


segundo Horkheimer (2002). Nesse processo, o homem também é dominado, pois
ele mesmo é parte da natureza.
Neste sentido, Horkheimer percebe que desde as primitivas sociedades, o
homem já lutava pela sobrevivência, para se manter em paz, para a
autopreservação. Para que o homem primitivo adquirisse tranquilidade de vida, ele
se submetia aos padrões formulados pela maioria.
Reprimindo assim o seu intuito primeiro, de agir naturalmente, ele acaba por
reprimir os sentimentos do ego, para não prejudicar o seu viver, e assim ir mantendo
a sua autopreservação.
E é exatamente isso que ocorre nos anos 1930: os trabalhadores ao invés de
fazerem a revolução para atingir o estado de liberdade comum, acabam
acomodando-se com o sistema mantido pela burguesia.
28

Quanto a Marx, ao conceber as revoluções como locomotivas, como fatores


de evolução, só reconhece no progresso seu caráter identitário. Isso quer
dizer que identifica desenvolvimentos científicos e técnicos com progresso
da humanidade enquanto tal. Marx não reconhece as transgressões da
sociedade, suas periódicas recaídas na barbárie, tal como acontecerá mais
tarde sob os fascismos e totalitarismos. Essas regressões também estarão
presentes na forma contemporânea de sociedade de total administração,
segundo terminologia de Adorno e Horkheimer, ou sociedade
unidimensional como prefere Marcuse. (MATOS, 1993, p. 30).

Marx, e posteriormente o marxismo ortodoxo, não levaram em consideração a


aceitação do próprio homem diante da alienação. Focado na esperança de evolução
e revolução, Marx dá crédito ao avanço técnico e cientifico, propondo como fruto da
revolução o progresso.
Mas, para Adorno e Horkheimer, o totalitarismo nazista e fascista, juntamente
com as guerras mundiais também são frutos do progresso técnico e cientifico, tanto
que os progressos tecnológicos foram usados para a destruição e alienação do
homem.

Parece que enquanto o conhecimento técnico expande o horizonte da


atividade e do pensamento humano, a autonomia do homem enquanto
indivíduo, a sua capacidade de opor resistência ao crescente mecanismo de
manipulação de massas, o seu poder de imaginação e o seu juízo
independente sofreram aparentemente uma redução. O avanço dos
recursos técnicos de informação se acompanhada de um processo de
desumanização. Assim, o progresso ameaça anular o que supõe ser o seu
próprio objetivo: a ideia de homem. (HORKHEIMER, 2002, p. 10).

O que deveria trazer emancipação para o homem, - isto é, o progresso, - é


na verdade um meio de manipulação do próprio sujeito, no sentido de que o homem
não tem forças para a imaginação e para o juízo independente de tudo o que está ao
seu redor.
Parece quase impossível pensar uma filosofia pura sem as influências
alienantes do positivismo científico, isto no sentido de um conhecimento fundado só
por meio da experiencia, um dado cientifico.
O conceito de ideia, ao que parece, está ferido pelo progresso técnico, por
meio do qual ocorre a ascensão da experiencia, e a queda progressiva da filosofia.
“Existe hoje a ideia de que a sociedade nada perdeu com o declínio do pensamento
29

filosófico, pois um instrumento muito mais poderoso de conhecimento tomou o seu


lugar, a saber, o moderno pensamento cientifico.” (HORKHEIMER, 2002, p. 65).
A filosofia foi substituída por meio de um conhecimento mais real e mais
palpável aos olhos e toques humanos, conhecimento que tornou o homem mais
evoluído na produção tecnológica e cientifica. Porém, o que se percebe é que este
progresso cientifico e técnico, que deveria tornar o homem mais realizado, ao invés
disso, gerou regimes totalitários e guerras mundiais, que utilizam da ciência e das
tecnologias para a alienação social e para a destruição.

1.5.2 A dialética da história

A mudança da práxis marxista, que era a de luta de classes, para a práxis da


teoria crítica, a relação de homem e natureza, não significa uma ruptura com o
marxismo ou com o próprio Marx, mas, um acompanhamento ou atualização da
história da sociedade presente, e não uma repetição de ideias.
Adorno e Horkheimer no início da obra Dialética do Esclarecimento (1985),
afirmam que “[...] não nos agarramos sem modificações a tudo o que está dito no
livro. Isso seria incompatível com uma teoria que atribui à verdade um núcleo
temporal, em vez de opô-la ao movimento histórico como algo de imutável.”
(ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 9).
Sendo assim, o ponto de partida da teoria crítica é de fato a forma de pensar
de Marx, mantendo sempre um movimento dialético da realidade.
No entanto, a teoria crítica leva em consideração que as teorias criadas no
passado, por exemplo a teoria marxista ortodoxa, já não são tão válidas em sua
totalidade para hoje, isso porque a teoria não se resume em teses fixas, que se
eternizarão como absolutas, mas persegue um procedimento de acompanhamento
do processo histórico.
“Para alcançar uma compreensão adequada do momento presente, a Teoria
Crítica tem de ser capaz de entender como se configuram as lutas sociais
emancipatórias.” (NOBRE, 2012, p. 23).
O processo social vivido pelo pensador crítico é que determinará as
possibilidades de produção teórica, mesmo que seja possível uma retomada de
30

algumas reflexões do passado. Porém, elas já serão atualizadas por meio de uma
nova teoria, em um processo histórico atual vivido pelo pensador.

1.6 OBRA DIALÉTICA DO ESCLARESCIMENTO

Na obra Dialética do Esclarecimento (1985), Adorno e Horkheimer


questionam o processo racional da contemporaneidade, e indagam a seguinte
questão:

O que nós propuséramos era, de fato, nada menos do que descobrir por
que a humanidade, em vez de entrar em um estado verdadeiramente
humano, está se afundando em uma nova espécie de barbárie. (ADORNO;
HORKHEIMER, 1985, p. 2).

A barbárie, é para Adorno e Horkheimer (1985) a máxima expressão de


instrumentalização da razão, pois para que a barbárie se alastrasse, foram usados
meios racionais para a efetiva promoção da destruição, entende-se que, para o
progresso da destruição do homem, o nazismo, o fascismo e outros regimes
totalitários manipularam meios desenvolvidos pelo progresso técnico-cientifico para
a destruição do próprio homem.
Adorno e Horkheimer (1985), analisam que a ciência tem responsabilidade na
falência progressiva da razão, isto é, da cultura teórica, por meio da qual o homem
deveria estar na luz do esclarecimento, mas não se experimenta isso na realidade
contemporânea.

Subestimamos as dificuldades da exposição porque ainda tínhamos uma


excessiva confiança na consciência do momento presente. Embora
tivéssemos observado há muitos anos que, na atividade científica moderna,
o preço das grandes invenções é a ruína progressiva da cultura teórica,
acreditávamos de qualquer modo que podíamos nos dedicar a ela na
medida em que fosse possível limitar nosso desempenho à crítica ou ao
desenvolvimento de temáticas especializadas. Nosso desempenho devia
restringir-se, pelo menos tematicamente, às disciplinas tradicionais: à
sociologia, à psicologia e à teoria do conhecimento. (ADORNO;
HORKHEIMER, 1985, p. 2).

Conclui-se que Adorno e Horkheimer (1985), temiam produzirem alguma


teoria diante dos fracassos da sociedade. É de se notar que, para produzir uma
31

teoria da realidade Adorno e Horkheimer (1985) se apoiam em uma análise crítica,


isto é, uma teoria crítica da sociedade contemporânea, evitando assim as influencias
das ideologias reinantes no período vivido por eles.
Para não se alienarem em alguma ideologia que instrumentaliza a razão,
Adorno e Horkheimer pretenderam se apoiar nas disciplinas que favorecem uma
análise dialética da contemporaneidade, consequentemente a sociologia, psicologia
e a teoria do conhecimento.
Contemplando uma análise crítica de tudo o que ocorreu nos anos após a
revolução iluminista, não se pode tomar nota de tais fatos, tidos como barbáries para
Adorno (em especial as duas grandes guerras mundiais) como simples erro de
cálculo, ou incidente histórico, pois, o nazismo e o fascismo são ameaças não
somente para a liberdade humana, mas uma transgressão ao processo racional da
humanidade.
“Com o término da guerra e a derrota do fascismo, emergira uma nova
realidade social que exigia uma nova resposta teórica. Foi essa a tarefa que se
apresentou à escola de Frankfurt em sua última década nos Estados Unidos.” (JAY,
2008, p. 318).
É compreensível para os estudiosos das ciências humanas, que a escola de
Frankfurt tem como principal objetivo, a crítica social. Não somente os estudiosos,
mas os próprios professores e alunos se denominam como críticos sociais.
No entanto, vinte e dois anos após escrever a obra Dialética do
Esclarecimento (1985), em abril de 1969 Theodor Adorno e Max Horkheimer
respondem aos questionamentos sobre a origem da barbárie12, afirmando que “[...]
os conflitos do Terceiro Mundo, o crescimento do totalitarismo não são meros
incidentes históricos.” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 1).
Não foi meramente o acaso que trouxe para o século XX o totalitarismo
fascista, e o progresso de destruição nazista. Para os homens do esclarecimento é
impossível olhar para as duas grandes guerras mundiais e para o totalitarismo, como
algo que aconteceu simplesmente por acaso.
A obra “Dialética do Esclarecimento” além de analisar de forma pessimista a
sociedade, é uma busca de uma razão dialética. E não uma instrumentalização do
conhecimento. Essa busca por uma razão pura, “[...] não se detém nem mesmo

12
Na segunda edição da obra Dialética do Esclarecimento, eles escrevem novamente um prefácio, e
nesse prefácio se propõe a nada mudar na obra.
32

diante do progresso, exige-se hoje luta pelos últimos resíduos de liberdade.”


(ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 1). E com isso passa a surgir a teoria crítica de
forma mais sistematizada. Por meio da qual Adorno e Horkheimer buscará
compreender por que ao invés de esclarecimento, encontramos tantas barbáries no
século XX?
33

CAPÍTULO II

A RAZÃO INSTRUMENTAL E A CONTEMPORANEIDADE


O esclarecimento tem perseguido sempre o objetivo de livrar os homens do
medo e de investi-los na posição de senhores. (ADORNO E
HORKHEIMER).
34

2.1 A RAZÃO E O PROCESSO CONTEMPORÂNEO

O conceito de razão na sociedade contemporânea parece minimizar o próprio


conceito. Razão por vezes é entendido como a certeza sobre um conhecimento
específico. Dizer que o outro tem razão é o mesmo que dizer que o outro domina a
verdade sobre algum conhecimento. Ter razão parece se igualar a qualquer ideia
que o sujeito, em sua subjetividade, concorde, e não mais ligado a uma razão
objetiva.
O processo contemporâneo da razão é produzido pelo grande aceno à razão
subjetiva. E consequentemente o descarte da razão objetiva. “A razão como órgão
destinado a perceber a verdadeira natureza da realidade e determinar os princípios
que guiam a nossa vida começou a ser considerada obsoleta.” (HORKHEIMER,
2002, p. 26). Sendo a razão objetiva considerada ultrapassada, a própria razão sofre
redução, passa a deixar de ser analisada como uma realidade além da física, e se
transforma em realidade física.
Essa transformação da razão em razão subjetiva se dá sobretudo por meio do
avanço científico. O avanço científico contribuiu para que a razão se tornasse
realidade física. Nesse sentido, a razão não pertence a si mesma, mas é um
instrumento. “Tendo cedido em sua autonomia, a razão tornou-se um instrumento.”
(HORKHEIMER, 2002, p. 29).
A razão por meio do progresso científico se torna um instrumento da própria
ciência. A ciência passa a dominar a razão para chegar aos resultados sensíveis dos
experimentos empíricos. A razão não é mais utilizada para encontrar finalidades,
mas um meio, um instrumento. Isso explica o severo abandono da metafísica e da
razão objetiva.

Os grandes sistemas filosóficos, como os de Platão e Aristóteles, a


escolástica e o idealismo alemão baseavam-se numa teoria objetiva da
razão. Ela visava desenvolver um sistema global ou uma hierarquia de
todos os entes, incluídos o homem e seus objetivos. [...] Esse conceito de
razão não excluía nunca o conceito de razão subjetiva, mas a considerava
expressão parcial, limitada, de uma racionalidade da qual se deduziam os
critérios de todas as coisas e de toda existência. A ênfase era dada mais
aos fins do que aos meios. A mais alta ambição desse tipo de pensamento
era reconciliar a ordem objetiva do ‘razoável’, tal como a filosofia o
concebia, com a existência humana, incluindo o interesse individual e a
autoconservação. (WIGGERSHAUS, 2002, p. 376).
35

Na filosofia que se fundava na razão objetiva, não havia desprezo da razão


subjetiva, pois a ideia universal precisa chegar a cada indivíduo em sua
particularidade, e a ideia particular necessita chegar à ideia universal, para que essa
ideia seja considerada uma verdade objetiva.
Mas, na filosofia platônica, aristotélica, patrística e escolástica a razão
subjetiva procurava chegar à verdade, buscava a essência das coisas. “A ênfase era
dada mais aos fins do que aos meios.” (WIGGERSHAUS, 2002, p. 376).
Já na razão subjetiva o objetivo não é mais de buscar a essência das coisas,
mas é um meio para alcançar um resultado empírico. Ou seja, a razão se tornou
instrumento e não um fim em si mesmo.

[...] quando nos referimos à racionalidade da sociedade contemporânea, é


bom indagar a respeito de que razão estamos falando. A razão que serve
para o desenvolvimento da técnica é a razão instrumental, bem diferente da
razão vital, por meio da qual o homem se torna capaz de compreender
criticamente a situação em que vive. [...] O homem contemporâneo sabe o
que fazer e como fazer, mas perdeu de vista o para que fazer. (ARANHA,
1994, p. 43).

A Razão Instrumental se tornou o instrumento do progresso científico. A


ciência, por meio da técnica, obteve avanços extraordinários. Desde o século XVIII
até hoje o progresso científico deu ao homem mais poder. A busca de poder por
meio da razão, isto é, do esclarecimento, foi uma proposta dada pelo Iluminismo.
“Poder e conhecimento são sinônimos.” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 29).
Neste capítulo será tratado sobre a razão instrumental nas circunstâncias
ocorridas no século XX, tomando por ponto de partida o declínio da razão objetiva
por meio da Revolução Iluminista do esclarecimento e, posteriormente, será tratado
sobre a instrumentalização da razão para o progresso cientifico e suas influências
para o avanço do totalitarismo, e outras barbáries da contemporaneidade que
instrumentalizam a razão.
36

2.2 REVOLUÇÃO DO ESCLARECIMENTO: PROGRESSO E DECLÍNIO DA RAZÃO

A busca pelo poder através do conhecimento foi um dos objetivos da


revolução iluminista13 no século XVIII, que traspassa até a atualidade. Os Iluministas
tinham por objetivo extinguir pensamentos que não seguissem padrões racionais
sensíveis, portanto, aquilo que era próprio das tradições antigas: a religião,
mitologias, simbologias e superstições.
O objetivo da emancipação do sujeito por meio do esclarecimento não
começa com a revolução iluminista, mas nasce anteriormente a ela. Francis Bacon e
Renê Descartes já buscavam a libertação do pensamento metafísico para o
pensamento empírico. Bacon e Descartes têm influência nessa revolução porque
propuseram os meios racionais de emancipação do homem em relação às forças da
natureza e aos dogmas estabelecidos por autoridades alheias ao domínio da pura
razão. (SILVA, 1997, p. 1).
A luta entre o homem e a natureza nasce muito antes da filosofia clássica. Já
no período pré-socrático buscou-se explicar os fenômenos naturais por meio de
mitos. Isso devido ao medo de tais fenômenos que havia no homem.
O processo histórico do homem parece sempre ter “[...] o objetivo de livrar os
homens do medo e de investi-los na posição de senhores.” (ADORNO;
HORKHEIMER, 1985, p. 19), isso não comporta somente os rituais e fábulas pré-
socráticas, mas perpassa todo o processo histórico que comporta desde os rituais
míticos até os novos experimentos científicos.
O que Bacon, Descartes e a Revolução do Esclarecimento objetivaram era
levar o homem ao esclarecimento, à racionalidade, e fazê-lo agir pelo pensamento,
elevá-lo a um estado de maturidade, e desprezar as tradições antigas que cegavam
o homem, e não o levavam ao esclarecimento14.
No intuito de livrar o homem do medo e torná-lo senhor, ocorrem revoluções,
sobretudo com relação a um novo processo de racionalização da humanidade,
dentre elas a Revolução Francesa no século XVIII e a Revolução Industrial dos
131
Não se referindo somente à Revolução Iluminista, mas a todo o Processo de Racionalização na
contemporaneidade.
14
Para o português, a obra Dialética do Iluminismo (Dialektik der Aufklärung) foi traduzida como
Dialética do Esclarecimento. Portanto, Esclarecimento, Iluminismo e Ilustração são sinônimos. “Em
primeiro lugar, como não poderia deixar de ser, por uma questão de maior fidelidade: a expressão
Esclarecimento traduz com perfeição não apenas o significado histórico-filosófico, mas também o
sentido mais amplo que o termo encontra em Adorno e Horkheimer, bem como o significado corrente
de Aufklärung na linguagem ordinária.” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 7).
37

séculos XVIII e XIX. Essas Revoluções objetivaram a emancipação do sujeito, do


medo, da dominação e manipulação. E conduzindo a humanidade ao
esclarecimento, levando-a para a luz da racionalidade.

2.3 O ESCLARECIMENTO

Em se tratando da Revolução do Esclarecimento, é necessário entender que


o conceito de Esclarecimento, tratado por Adorno e Horkheimer, é um
esclarecimento relacionado ao processo de racionalização da humanidade, que tem
seus primórdios já nas teorias de Bacon e Descartes, e que tem seu ápice na
revolução iluminista. Tendo também entre seus patronos o filósofo Immanuel Kant.
Kant define o processo de esclarecimento da humanidade como a melhor opção
para livrar o homem do estado de manipulado pelas ideologias.

É a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A


menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a
direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade
se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de
decisão e coragem de servir de si mesmo sem a direção de outrem. (KANT,
2008, p. 63).

O estado de menoridade é permitido pelo próprio indivíduo, ou seja, é o


próprio indivíduo que se permite ser orientado por outro. Ser menor é se deixar
manipular por ideologias, que no período de Kant eram as ideias do estado
monárquico, e o poder religioso, e etc. Esses meios pareciam tornar os homens
incapazes de pensar por si mesmos. O homem é um medíocre para Kant, e precisa
de coragem para servir a si mesmo e não aos outros.
Kant percebe que existe uma necessidade imediata de abandonar tudo aquilo
que impede o indivíduo de pensar - de per si – por si mesmo.
Uma das bases da revolução do esclarecimento são as ideias kantianas do
esclarecimento. Tais revoluções mantinham o objetivo de levar o homem ao
esclarecimento, à racionalidade, e fazê-lo agir pelo pensamento, elevá-lo a um
estado de maturidade, e desprezar as tradições antigas. “O esclarecimento tem
perseguido sempre o objetivo de livrar os homens do medo e de investi-los na
posição de senhores.” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 5).
38

Tornar o homem livre para pensar, para falar, para agir era o intuito da
revolução do esclarecimento, colocando-o no centro, como medida de todas as
coisas, um autor e mestre dos seus pensamentos e não um submisso aos dogmas e
mitos antigos. O objetivo da Revolução Iluminista era o de dissolver os mitos e
substituir a imaginação pelo saber (ADORNO; HORKHEIMER, 1985). Antes, o motor
do pensamento humano era a busca pela verdade.

2.4 CRÍTICA AS INSTRUMENTALIZAÇÕES

Na crítica à Revolução Iluminista na obra “Dialética do Esclarecimento”15


(1985), Adorno e Horkheimer questionam o Iluminismo, procurando “[...] descobrir
por que a humanidade, em vez de entrar em um estado verdadeiramente humano,
está se submergindo em uma nova espécie de barbárie.” (ADORNO;
HORKHEIMER, 1985, p. 2).
Nos anos de 1940, Adorno e Horkheimer já se dedicavam à escrita das obras
Dialética do Esclarecimento (1985), Eclipse da Razão (2002) e A Função Social da
Filosofia (1939).
A busca de respostas para tanta destruição em uma sociedade guiada pela
luz da razão é um dos objetivos da teoria crítica da Escola de Frankfurt, sobretudo
Adorno e Horkheimer. Ambos analisaram que a revolução do esclarecimento
objetivou elevar o sujeito a um estado verdadeiramente humano, mas, esse estado
não foi alcançado. Ao invés de uma elevação do homem para o estado de paz,
percebe-se, por meio das realidades contemporâneas, um retrocesso do homem à
barbárie.

2.4.1 A razão instrumentalizada pela ciência

A razão no processo contemporâneo se tornou uma razão usada para o


progresso científico, e, consequentemente, para a destruição do outro, como ocorreu

15
Adorno foi obrigado a se refugiar na Inglaterra, onde passou a lecionar na Universidade Oxford, ali
permanecendo até 1938. Nesse ano, transferiu-se para os Estados Unidos, onde escreveria, em
colaboração com Horkheimer, a obra Dialética do Iluminismo (1947). (ADORNO, 1996, p. 6).
39

na Primeira e Segunda Guerras Mundiais e tantas outras barbáries que se


sucedidas a estas.
A ciência se tornou sinônimo de razão, uma vertente do avanço tecnológico
na contemporaneidade. A ciência usou da razão para progredir nos conhecimentos.
Com o objetivo de dar resultados confiáveis ao homem, ocorre grande
progresso na ciência nos anos 1900, a fim de livrar o homem do medo e da
manipulação.
Esse progresso científico se torna meio de industrialização. Os resultados da
ciência por meio da razão se tornam material econômico: o rádio, a televisão, o
avião, o desenvolvimento atômico, e tantos outros progressos da ciência.
O progresso da ciência teve por objetivo o saber, e, a partir do saber, adquirir
poder. Como afirmara Francis Bacon, o pai da ciência moderna: “saber é poder”. É à
sua dissolução que pode agora decorrer o saber com que Bacon vê a superioridade
dos homens. Mas, em face dessa possibilidade, o esclarecimento se converte, a
serviço do presente, na total mistificação das massas (ADORNO; HORKHEIMER,
1985). Esse saber que concede ao homem o poder se tornou meio de manipulação
para o próprio homem, pois esse saber trouxe não somente progresso, mas
regresso a um estado de manipulação.

O saber que é poder não conhece barreira alguma, nem na escravização da


criatura, nem na complacência em face dos senhores do mundo. Do mesmo
modo que está a serviço de todos os fins da economia burguesa na fábrica
e no campo de batalha, assim também está à disposição dos empresários,
não importa sua origem. Os reis não controlam a técnica mais diretamente
do que os comerciantes: ela é tão democrática quanto o sistema econômico
com o qual se desenvolve. A técnica é a essência desse saber, que não
visa conceitos e imagens, nem o prazer do discernimento, mas o método, a
utilização do trabalho de outros, o capital. (ADORNO; HORKHEIMER, 1985,
p. 20).

A ciência, em busca do saber, trocou as barreiras da ética e da moral pela


busca do saber. Para a busca do saber a ciência é capaz de destruir a natureza, não
somente ela, mas até o próprio homem. Ou seja, a ciência, em prol do progresso
cientifico é capaz de manipular ou destruir a própria razão, o homem.
A razão, como instrumento da ciência, auxiliou no avanço tecnológico, e esse
avanço instrumentalizou a razão para chegar a um resultado cientifico. Os
resultados da ciência são considerados verdadeiros, e essas verdades se tornam
40

totalitárias, pois seus resultados são perceptíveis em repetidas experiências, sem


chances de refutação.
Por meio de tais observações, o sujeito acredita que “[...] a partir do momento
em que ele pode se desenvolver sem a interferência da coerção externa, nada mais
pode segurá-lo.” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 21). E isso explica o por que a
ciência avança progressivamente sem o auxílio de algo que possa segurá-la. Não há
nada que impeça a ciência de avançar em seu desenvolvimento.
Principal crítica de Adorno e Horkheimer à ciência, é por ela ter sido usada
para o progresso e o regresso da civilização. Ao mesmo tempo que se encontram
avanços no aspecto cientifico, encontra-se também a destruição do próprio homem
por meio do desenvolvimento cientifico, como ocorreu na primeira e segunda
Guerras Mundiais, no regime nazista e fascista, na manipulação das massas pelos
meios de comunicação e da indústria cultural.
A razão, quando foi usada para algum fim, não é mais uma razão pura com
um fim em si mesma, mas, uma razão instrumentalizada.
Na contemporaneidade encontra-se o avanço dessa razão instrumental em
vários campos, como na ciência, politica, educação, meios de comunicação, cultura
e etc.
O objetivo da Revolução da razão não era o de se chegar a uma
instrumentalização dela mesma, mas levar o homem ao estado de autonomia, que a
humanidade deveria entrar em estado de paz; mas, ao invés disso, encontram-se os
destroços da Primeira (1914-1918) e da Segunda Guerras Mundiais (1939-1945),
encontram-se regimes totalitários como o nazismo e o fascismo.

[...] a terra totalmente esclarecida resplandece sob o signo de uma


calamidade triunfal. O programa do esclarecimento era o desencantamento
do mundo. Sua meta era dissolver os mitos e substituir a imaginação pelo
saber. (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 5).

Na busca do esclarecimento do mundo, ocorre uma imposição da razão a


todos os homens, por meio das ideias de emancipação do homem daquilo que o
manipulavam nos períodos anteriores. Essa imposição por uma reforma da razão se
tornou um totalitarismo, por meio do qual havia uma garantia de emancipação do
sujeito. Acreditava-se que com o avanço cientifico não haveria mais ilusões.
41

Era assim que já se comportava virtualmente o dogma da reforma;


seguramente, essa era a figura da filosofia kantiana. Desde então, o
Esclarecimento progrediu de maneira irresistível e a própria subjetividade foi
arrastada para o interior do processo de desmitologização. Com isso, a
chance de salvação caiu a um valor limítrofe. Paradoxalmente, sua
esperança cedeu ao seu abandono, a uma secularização sem reservas e ao
mesmo tempo autorreflexiva. (ADORNO, 2009, p. 90).

Com a reforma da razão ocorre um paradoxo, no sentido de que a razão se


tornou o próprio mito. Antes o que cegava o homem eram os mitos medievais, que,
para a Revolução Iluminista, era o estado monárquico e a Igreja. Mas o que se
percebe na pós-revolução é que a própria razão se tornou a escuridão, uma nova
cegueira.
Como ocorreu isso? O objetivo central da revolução do esclarecimento era
esclarecer o homem, mas esse esclarecer se tornou acessível a alguns apenas. É
possível analisar que para ter acesso a razão não bastava pensar por si mesmo,
mas obter provas empíricas do pensamento. O meio considerado racional por
excelência era o método cientifico, pelo fato de os resultados serem comprovados
logicamente, sem a possibilidade de refutação.
Portanto, a ciência se tornou sinônimo de razão, uma vertente do avanço
tecnológico na contemporaneidade. A ciência usou da razão para progredir nos
conhecimentos.

2.4.2 A razão instrumentalizada pelo totalitarismo

Adorno e Horkheimer (1985), ao tratar sobre o totalitarismo, abordam as


diversas formas de dominação totalitária. Dentre elas, o totalitarismo do próprio
esclarecimento, afirmando que, “[...] o esclarecimento é totalitário como qualquer
outro sistema.” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 37). Considerando que a
revolução do esclarecimento tinha por objetivo acabar com a mitologia e substitui-la
pelo saber. E neste sentido, a própria revolução se tornou um mito pois: “O
esclarecimento comporta-se com as coisas como o ditador se comporta com os
homens. Este conhece-os na medida em que pode manipulá-los.” (ADORNO;
HORKHEIMER, 1985, p. 23). O totalitarismo do esclarecimento, segundo Adorno e
Horkheimer, é fonte de manipulação da sociedade; é possível dar credito a essa
teoria quando se analisa o processo feito pela humanidade para se esclarecer.
42

Começando com uma destruição, isto é, o abandono da metafísica e de seus


simpatizantes, a filosofia escolástica, as religiões, e a razão objetiva.

[...], quando nos referimos à racionalidade da sociedade contemporânea, é


bom indagar a respeito de que razão estamos falando. A razão que serve
para o desenvolvimento da técnica é a razão instrumental, bem diferente da
razão vital, por meio da qual o homem se torna capaz de compreender
criticamente a situação em que vive. [...] O homem contemporâneo sabe o
que fazer e como fazer, mas perdeu de vista o para que fazer. (ARANHA,
1997, p. 43).

A mudança da razão objetiva para a razão instrumental se dá sobretudo no


processo contemporâneo. Por meio do qual o objetivo do homem é se livrar da
manipulação metafisica, e voltar o olhar sobre si e sobre a realidade. “O homem de
ciência conhece as coisas na medida em que pode fazê-las.” (ADORNO;
HORKHEIMER, 1985, p. 23). O conhecimento parece congelado em somente dar
razão àquilo que se conhece fazendo, mas não sabe o por que fazer.

A agonia com que defrontamos em nosso trabalho revela-se assim como o


primeiro objeto a investigar: a autodestruição do esclarecimento. Não
alimentamos dúvida nenhuma – e nisso reside nossa petitio principii – de
que a liberdade na sociedade é inseparável do pensamento esclarecedor.
Contudo, acreditamos ter reconhecido com a mesma clareza que o próprio
conceito desse pensamento, tanto quanto as formas históricas concretas, as
instituições da sociedade com as quais está entrelaçado, contém o germe
para a regressão que hoje tem lugar por toda parte. (ADORNO;
HORKHEIMER, 1985, p. 13).

O objetivo do esclarecimento era o de esclarecer a humanidade, e esse é de


fato o dever do esclarecimento. Mas, o próprio esclarecimento parece não cumprir o
dever de sua essência na contemporaneidade, e ao invés de luzes, encontramos no
mundo, que deveria ser esclarecido, guerras, regimes totalitários como o nazismo e
o fascismo. O questionamento a ser feito é: como que homens, que deveriam ser
esclarecidos, homens da luz da razão, caíram em duas Guerras Mundiais - que é o
mais lastimável sinal da barbárie? E por que surgiu o regime nazista, a ideologia
totalitária fascista? Por que Adolf Hitler, Benito Amilcare Andrea Mussolini foram
apoiados pela massa?

[..], a terra totalmente esclarecida resplandece sob o signo de uma


calamidade triunfal. O programa do esclarecimento era o desencantamento
43

do mundo. Sua meta era dissolver os mitos e substituir a imaginação pelo


saber. (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 5).

A busca pelo saber tornou o próprio saber um totalitarismo. Hitler buscou o


saber, era homem esclarecido: os nazistas escolheram o partido por acreditarem na
razão, de uma terra renovada, livre do que a impedia de progredir. Se para o
progresso da humanidade esclarecida fosse necessário matar judeus, negros,
poloneses e outros povos, nada o impediam, pois, acreditavam estar fazendo o bem
para o próprio homem.

A horda, cujo nome sem dúvida está presente na organização da Juventude


Hitleriana, não é nenhuma recaída na antiga barbárie, mas o triunfo da
igualdade repressiva, a realização pelos iguais da igualdade do direito à
injustiça. O mito de fancaria dos fascistas evidencia-se como o autêntico mito
da antiguidade, na medida em que o mito autêntico conseguiu enxergar a
retribuição, enquanto o falso cobrava-a cegamente de suas vítimas. [...] Tal
foi o rumo tomado pela civilização europeia. (ADORNO; HORKHEIMER,
1985, p. 9).

O totalitarismo nazista tornou-se um dos fracassos da própria razão, usada


para matar. A razão estava na propaganda do partido nazista para espalhar
manipulação. Estava também presente a razão nos desenvolvimentos científicos, de
bombas, aviões, campos de concentração, e tantos outros desenvolvimentos do
progresso que contribuíram para a regressão da humanidade a barbárie, ao
totalitarismo.

Finalmente, precisamos ter em mente que, para o totalitarismo, as massas


não são seres humanos auto-determinados, que racionalmente decidem seu
próprio destino e, portanto, devem ser interpelados como sujeitos racionais,
mas ao invés são meros objetos de medidas administrativas, que, acima de
tudo, devem ser ensinados a se auto-anular e a obedecer ordens.
(ADORNO, 1975, p. 1).

O totalitarismo não nasceu após a revolução do esclarecimento, mas


acompanha o homem desde os inícios de sua história. O grande problema em
cheque do trabalho de Adorno e Horkheimer é de afirmar que objetivo da revolução
foi fracassado, com a queda novamente naquilo que se combatia. A revolução do
esclarecimento buscava substituir o totalitarismo do dogmatismo metafisico pelo
saber racional (ADORNO; HORKHEIMER, 1985). O totalitarismo é uma das
44

explosões do fracasso da racionalidade no processo contemporâneo. Tal explosão


se dá por meio das barbáries ocorridas, como as guerras, o nazismo, e o fascismo.

A barbárie, para Adorno e Horkheimer, é o retorno a uma natureza que foi


pisoteada e brutalizada por uma civilização tecnocrática. Os instintos
reprimidos no eu e no corpo político por uma razão calculadora explodem,
mas ao fazê-lo expressam um ressentimento destrutivo contra a civilização.
O fascismo é uma dessas manifestações. (TIBURI, 1995, p. 47).

A repressão do eu e da civilização se deu por meio do forte avanço


tecnológico, e da incapacidade que o homem sente diante da grandiosidade de tais
avanços. Essa repressão anula mais uma vez a racionalidade que deveria
emancipar a humanidade. O esclarecimento em si mesmo está carregado de
contradições entre liberdade e duas guerras, o saber e a regressão a um regime
totalitário. Se o obscuro antes era o dogmatismo, agora a própria razão parece
obscurecer a humanidade.

Os conflitos no Terceiro Mundo, o crescimento renovado do totalitarismo


não são meros incidentes históricos, assim como tampouco o foi, segundo a
‘Dialéctica’, o fascismo em sua época. O pensamento crítico, que não se
detém nem mesmo diante do progresso, exige hoje que se tome partido
pelos últimos resíduos de liberdade, pelas tendências ainda existentes a
uma humanidade real, ainda que pareçam impotentes em face da grande
marcha da história. (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 9).

Desencantar o mundo moveu a racionalidade desde Francis Bacon até


nossos dias, mas, ao analisar a realidade vivida na contemporaneidade, isto é, no
século XX, o que vemos é um desencantamento do mundo por meio do totalitarismo
estatal. Não somente ele, mas, o totalitarismo se manifesta nos novos meios de
manipulação social, chegando assim a nos afetar pelos meios de comunicação
social. Não podemos tratar isso como puro acaso, pois existe esse poder que nos
domina, seja pelo estado, seja pela cultura de massa. Instrumentalizando-nos por
meio da razão, no qual o indivíduo acredita estar se esclarecendo, enquanto na
verdade está sendo manipulado por uma razão instrumental.
45

2.4.3 A razão instrumentalizada para a indústria cultural

Outro campo em que a razão instrumental se destaca, e a indústria cultural


por meio da qual ocorre a manipulação das massas. O termo indústria cultural surge
com Adorno e Horkheimer na obra “Dialética do Esclarecimento” (1985).
A indústria cultural é o termo que designa o meio da iluminação que manipula
a massa, ou seja, a cultura é semelhante a uma fábrica que produz padronizando os
seus produtos para proporcionar aos consumidores a ideia de que estão sendo
beneficiados, enquanto, na verdade, o que ocorre é a padronização em massa do
particular ao universal, isso em relação aos desejos individuais e universais.

Adorno e Horkheimer começam por constatar que o declínio da religião não


levou ao caos cultural, como temia, pois, o cinema, o rádio e revistas se
constituíram num sucedâneo para ela. [...] Formam o que nossos autores
chamam de ‘indústria cultural’ e definem como ‘falsa identidade do universal
e do particular’, ou seja, a aparência de que o indivíduo e o todo se
encontram reconciliados quando, na verdade, tal sistema é um poderoso
instrumento para – simultaneamente – gerar lucros e exercer um tipo de
controle social. (DUARTE, 2002, p. 38).

Nesse sentido, a revolução racional no processo contemporâneo retornou


àquilo que se combatia, o estado de barbárie, ao totalitarismo e a manipulação. O
objetivo central de tal manipulação é o de cumprir os desejos do público alvo, para
que assim se possa exercer sobre ela o controle social.
Meio de indústria cultural, se tornaram as ideias de prazer, prazer que trouxe
ao homem a ilusão de racionalizado e não manipulado pela propaganda do gozo.
Nesse sentido parece que “[...] a característica principal do esclarecimento é tornar
os fins práticos mais próximos pelo fim longínquo, i.e., acreditar que a realização
plena da razão instrumental é o ápice do desenvolvimento humano, nada mais
havendo a ser atingido.” (DUARTE, 2002, p. 38).

Os dominadores apresentam o gozo como algo racional, como tributo à


natureza não inteiramente domada; ao mesmo tempo procuram torná-lo
inócuo para seu uso e conservá-lo na cultura superior; e finalmente, na
impossibilidade de eliminá-lo totalmente, tentam dosá-lo para os dominados.
O gozo torna-se objeto da manipulação até desaparecer inteiramente nos
divertimentos organizados. (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 101).
46

Antes de manipular completamente o telespectador do prazer, os


dominadores elaboram ideias de que, o meio do qual recebe as ideias de prazer, é
um meio que lhe concede racionalidade.
A ideia impregnada na indústria cultural é de pôr no sujeito a ideia de
necessidade daquilo que não de que não há necessidade em tê-lo. Além disso há
elaboração da ideia de hierarquização dos produtos, separando-os por níveis de
qualidades por meio da propaganda. Distinções que se fazem, por exemplo, entre
filmes A ou B, ou entre as histórias publicadas em revistas de diferentes preços não
tem não tem nada a ver propriamente com seu conteúdo, mas com a classificação,
organização e computação estatística dos consumidores. (DUARTE, 2002).

[...] a indústria cultural, ao aspirar à integração vertical de seus


consumidores, não apenas adapta seus produtos ao consumo das massas,
mas, em larga medida, determina o próprio consumo. Interessada nos
homens apenas enquanto consumidores ou empregados, a indústria cultural
reduz a humanidade, em seu conjunto, assim como cada um de seus
elementos, às condições que representam seus interesses. A indústria
cultural traz em seu bojo todos os elementos característicos do mundo
industrial moderno e nele exerce um papel específico, qual seja, o de
portadora da ideologia dominante, a qual outorga sentido a todo o sistema.
(ADORNO, 1996, p. 7 - 8).

O foco da indústria cultural está em padronizar os produtos para que os


consumidores possam ter acesso a esses produtos de forma imediata. Diante disso,
o grande problema não está somente na reprodução imediata, mas o fato de os
consumidores não serem vistos como pessoa humana em sua singularidade, mas
um objeto do próprio consumo.
Outra falha na indústria cultural está na imposição de comportamentos, e
chama a atenção de Adorno e Horkheimer, o fato de que o linguagem da indústria
cultural é tecnicamente dependente, mas suas finas ilusões se diferem da sutileza
de uma obra de arte (especialmente de vanguarda), primeiramente pelo fato de ela
estar a serviço da verdade, o oposto das mercadorias culturais, que se interessam
apenas em interesses de mercadoria (DUARTE, 2002).
A razão, que é o próprio homem, se torna instrumentalizada novamente por
meio da indústria cultural. Tirando do homem a capacidade de pensar, dando a ele
informações instrumentais, cultura instrumental.
47

O cinema e o rádio não precisam mais se apresentar como cultura. “A


verdade de que não passam de um negócio, eles a utilizam como uma ideologia
destinada a legitimar o lixo que propositalmente produzem.” (ADORNO;
HORKHEIMER, 1985, p. 114).
Diante da industrialização da cultura, o próprio sujeito se tornou alvo de
industrialização. A cultura não é mais fruto de contemplação da beleza singular,
mas, mercadoria pluralizada. O objetivo de tal indústria não é o de esclarecer o
homem, mas de manipulá-lo para o consumo irreflexivo. Fazendo de tudo para que o
questionamento não surja na mente do sujeito.

2.4.4 A razão instrumentalizada para destruição do outro

A razão instrumental tratada por Adorno e Horkheimer é aquela que foi


utilizada para desenvolver a bomba atômica, as câmaras de gás, fábricas de
mísseis, a eugenia16, o rádio, a televisão e outros meios que contribuíram tanto para
progresso, como para a destruição do homem.
Máxima expressão de destruição do homem pela ciência no período vivido
por Adorno e Horkheimer é o regime nazista. Por meio desse regime houve um
grande progresso da ciência por meio das experiências.

Trancafiados em enfermarias e laboratórios nazistas, seres vivos passavam


por atrocidades inimagináveis. Taxados de Lebensunwertes Leben (vidas
indignas de serem vividas), eles eram mantidos em água gelada, obrigados
a ingerir gás mostarda, usados como ‘viveiros’ de bactérias, fuzilados com
balas envenenadas, queimados com bombas incendiárias, amputados sem
necessidade e torturados em câmaras de baixa pressão. Diante de tanto
horror, é inevitável a pergunta: por que médicos fizeram isso? (REZENDE,
2019, p. 1).

Dentre tais barbáries, havia a eugenia. A eugenia (higiene racial) nasce como
doutrina científica em 1912 em um congresso de ciências, na Inglaterra, a fim de
elaborar uma teoria para purificar a humanidade das raças menos desenvolvidas, e
favorecer o desenvolvimento da raça nórdica. Posteriormente, essas ideias chegam
à Alemanha.

16
Doutrina da higiene racial, nascida com Alexander Graham Bell e, Leonard Darwin o filho de
Charles Darwin. (REZENDE, 2019, s/p).
48

A nova ciência se espalhou rapidamente para os EUA, onde mais de 100 mil
pessoas foram esterilizadas, no período de 1907 a 1960, com base nela.
Naquela época, a eugenia não era vista como uma maluquice, mas como
uma ciência respeitável, praticada internacionalmente. (REZENDE, 2019, p.
1).

A eugenia foi defendida e organizada em 1908 quando foi fundado o Instituto


Eugenics Society em Londres, primeira organização a defender essas ideias de
forma ostensiva. Um de seus líderes era Leonard Darwin (1850-1943), oitavo dos
dez filhos de Charles Darwin. Essas ideias chegam a muitos países, como Estados
Unidos, Japão, Canadá, Dinamarca, Suécia, Noruega, Finlândia, França,
Tchecoslováquia, Hungria, Áustria, Bélgica, Suíça, União Soviética, Brasil,
Argentina, Peru e Alemanha (GOLDIN, 1998).
Durante a Segunda Guerra Mundial, a eugenia se tornou uma arma política,
usada pelo nazismo na Alemanha. Por meio do poder totalitário, a ideia de uma
higiene racial é exaltada a ponto de condenar à morte todos os que não eram
pertencentes à raça nórdica. Mortos por tal barbárie foram judeus, ciganos,
poloneses, pessoas com deficiências, cristãos, pessoas de religiões não cristãs,
maçons, negros e tantos outros. Foram mortos por tal barbárie em prol da melhor
qualidade genética.
O número dos considerados impuros e condenados à morte chegou a mais
de Seis milhões, sendo a maioria judeus. “Para os fascistas, os judeus não são uma
minoria, mas a antirraça, o princípio negativo enquanto tal; de sua exterminação
dependeria a felicidade do mundo.” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 157).
Para o nazismo e o fascismo, a morte dessas pessoas parecia depender o
esclarecimento do mundo. E para a ciência era algo permitido, pois havia evidência
cientifica de que esse processo era para o bem da humanidade. E assim começam a
surgir as atrocidades cientificas em prol do saber e do poder.
É questionável o caminho traçado pelo homem para alcançar a liberdade e se
livrar dos mitos antigos, e de tudo aquilo que impedia alguém de ser livre. O
homem “[...] jamais foi imune à tentação de confundir a liberdade com a busca da
autoconservação. [...] A suspensão do conceito abriu caminho à mentira.”
(ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 51). A razão em meio a tudo isso parece matar
a si mesma. A luta para se libertar da manipulação se torna uma luta por
49

autoconservação. A conservação para se manter no poder. No caso da Alemanha,


Adolf Hitler era o homem esclarecido que trazia para o povo alemão a esperança de
mudar o mundo para melhor e mais racional.

O problema maior é julgar-se esclarecido sem sê-lo, sem dar-se conta da


falsidade de sua própria condição. Assim como o desenvolvimento científico
não conduz necessariamente à emancipação, por se encontrar vinculado a
uma determinada formação social, também acontece com o
desenvolvimento no plano educacional. Como pôde um país tão culto e
educado como a Alemanha de Goethe desembocar na barbárie nazista de
Hitler? (ADORNO, 1995, p. 15).

O nazismo se tornou o exemplo do afastamento do homem da razão objetiva


para a razão instrumental. Em Hitler, a racionalidade era evidente em seus
discursos, era convincente. Hitler tinha razão. Mussolini, com o fascismo italiano
tinha razão. A ciência era dotada de razão; por meio do desenvolvimento
tecnológico era possível perceber tal progresso.

A razão está no controle de toda a barbárie. A crise atual da razão consiste


basicamente no fato de que até certo ponto o pensamento ou se tornou
incapaz de conceber tal objetividade em si ou começou a negá-la como
ilusão. (HORKHEIMER, 2002, p. 17).

A grande discursão da contemporaneidade era o do abandono ou não da


razão objetiva. Por vezes a consideraram como mitológica e dogmática. Por isso se
apostou na razão subjetiva e se descartou progressivamente a objetiva. Mas, o que
é a razão subjetiva hoje se não mitológica e dogmática? No sentido de que, as
ideias produzidas para serem públicas são em si mesmas carregadas de ideias
(ideologias) que não são em prol da subjetividade, mas da massificação, ou seja, de
uma razão que dogmatiza a massa.
Essa razão detém em si força para dogmatizar a massa, e é uma das armas
que pode ser usada pelo poder político para manipular. Meio especifico para a
propagação do dogmatismo contemporâneo é a Educação, por meio da qual se
podem difundir ideologias formadas para que possam surgir guerras, regimes
totalitários, mortes do próprio homem, morte da razão, racismos, eugenias, fake
News, alienação política, etc.
50

Diante de barbáries que ocorreram no século XX, o que se pode fazer para
que a barbárie não se repita? O que fazer para que Auschwitz não se repita?
51

CAPÍTULO III

EDUCAÇÃO PARA EMANCIPAÇÃO DO SUJEITO: UMA POSSÍVEL


RECONSTRUÇÃO DA RAZÃO

A educação não é necessariamente ura fator de emancipação. [...], mas é


um espaço privilegiado para tal. (THEODOR ADORNO).
52

3.1 A EDUCAÇÃO APÓS AUSCHWITZ E A REELABORAÇÃO DA RAZÃO

As barbáries que foram tratadas anteriormente não cessaram com passar do


tempo. Após o nazismo e o fascismo, continuaram a surgir formas de totalitarismos,
morte de povos inteiros, manipulação dos sujeitos. A razão, instrumentalizada,
prosseguiu avançando com o nome de progresso, e não com o fim em si mesma.
Tais barbáries podem exercer sobre o processo contemporâneo influência de
regressão na própria civilização.
Adorno (1995), ao tratar sobre a educação, relata que é preciso reelaborar o
presente prejudicado pelo imperativo de regressão existente no século XX. O medo
de Adorno era que Auschwitz repetisse. E ele ressalta que, a Alemanha é o protótipo
da sociedade moderna. Como pôde um país tão esclarecido e educado como era a
Alemanha de Goethe17 cair na barbárie nazista de Hitler? (ADORNO, 1995). A
barbárie é o impedimento por excelência da atuação dos indivíduos como sujeitos da
própria história.
Caminho tradicional para a autonomia, a educação, pode conduzir ao
contrário da emancipação, à barbárie. O nazismo constituiria o exemplo acabado
desse componente de dominação da educação, resultado necessário e não
acidental do processo de desenvolvimento da sociedade em suas bases materiais
(ADORNO, 1995).
Adorno encontra uma possibilidade de reversão da barbárie: a educação.
Mas, existe na educação um paradoxo de emancipação e manipulação. Ela pode ser
utilizada para as duas formas.
A educação pode contribuir para a desbarbarização do mundo, tem o poder
de romper nos homens o instinto de agressividade primitiva, “[...] no entanto, não
assume uma tal tarefa ou simplesmente não contribui para sua realização, então seu
lugar precisa ser repensado.” (TIBURI, 2003, p. 125).
O primeiro passo a ser dado é repensar a razão, e a transmissão dela pela
educação. Para repensar o processo de formação racional dos indivíduos, será
necessário a aplicação de um novo sistema, que desmascare as ideologias, e tudo
que impede a emancipação do sujeito.

17
Grande nome da literatura do Sacro Império Romano Germânico.
53

Com as ideologias totalitárias ainda presentes na atualidade, parece que a


forma nazista de propagar a ideologia se tornou modelo para hoje, sobre tudo por
meio da indústria cultural. Disfarçados, agem nos meios que formam as
consciências, propondo ideias de raças melhores e mais evoluídas, ou redução da
própria condição humana a uma coisa nas mãos do desenvolvimento progressista.
Tais ideologias de coisificação do homem fazem prosseguir – de forma protótipo - a
barbárie milenar. Nesse sentido, Adorno (1995) constata que o nazismo parece mais
viver, do que ser apenas uma barbárie isolada no século XX.

O nazismo sobrevive, e continuamos sem saber se o faz apenas como


fantasma daquilo que foi tão monstruoso a ponto de não sucumbir à própria
morte, ou se a disposição pelo indizível continua presente nos homens bem
como nas condições que os cercam. (ADORNO, 1995, p. 11).

A ideia totalitária, como foi o nazismo, não está no fim. E isso não é
meramente um ressurgimento do neonazismo, mas uma perspectiva da
continuidade da ideia nazista. A tendência contemporânea parece tornar as
barbáries do passado mais distantes do que são, e, ao mesmo tempo aproximá-la
de forma transmutada. “Em toda a história até agora, o humano só floresceu sobre a
barbárie que a humanidade justamente oculta.” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p.
76 - 77).
O conceito de barbárie em Adorno e Horkheimer não está ligado somente ao
nazismo, mas a todas as ações do homem que vão contra a civilização, isto é, que
vão contra a evolução dos cidadãos, por meio da cultura industrializada, da política,
da moral etc. Em outras palavras, aquele que age desumanamente, cruelmente,
contra a própria humanidade é um bárbaro.
A barbárie se apresenta de forma clara ao exibir a civilização contemporânea,
capaz do mais alto desenvolvimento tecnológico, e, ao mesmo tempo, as pessoas
se encontrarem atrasadas, de um modo peculiarmente deformada em relação a sua
própria civilização.

O mundo moderno é, ao mesmo tempo, poderoso e fraco, capaz do melhor


e do pior, colocando-se em face da liberdade e da escravidão, do progresso
e da involução, da fraternidade ao ódio. O ser humano tem consciência de
que lhe compete orientar as forças que ele mesmo suscitou, mas que
podem oprimir da mesma forma que servir. Por isso, questiona-se.
(CONCÍLIO VATICANO II, 2007, p. 476).
54

O progresso tecnológico não dissolveu a barbárie, pois, encontramos ainda


uma civilização contra a própria civilização, por meio de uma agressividade primitiva,
“[...], um ódio primitivo ou, na terminologia culta, um impulso de destruição que
contribui para aumentar ainda mais o perigo de que toda essa civilização venha a
explodir.” (ADORNO, 1995, p. 155). Desse modo, Adorno insiste que “[...]
desbarbarizar tornou-se a questão mais urgente.” (ADORNO, 1995, p.155).
Sabemos que houve duas guerras mundiais, (entre países civilizados contra
países civilizados, como Alemanha, França, Inglaterra, Estados Unidos, Japão e
outros), houve nazismo, fascismo. Ouvimos e estudamos que grupos populacionais
inteiros foram mortos, que desastres atômicos foram testados em Hiroshima e
Nagasaki. Alguns desses fatos são pouco o nada tratados em reflexões cotidianas,
como as guerras que ocorrem há anos no Afeganistão, Iraque, Líbano, Georgia,
Israel, Congo, Uganda, Camarões, Azerbaijão, Turquia e tantas outras barbáries que
perpetuam a agressividade primitiva humana, impedindo o seu progresso.
Conhecer a existência de todos esses fatos que ocorreram no passado e
ainda hoje, pelo menos de forma teórica, não é suficiente, pois podemos atribuir a
barbárie a um simples acidente, “[...] por mais difícil que seja compreender que
existem pessoas que não se envergonham de usar um argumento como o de que
teriam sido assassinados apenas cinco milhões de judeus, e não seis.” (ADORNO,
1995, p. 31). Além de conhecê-los, faz-se necessário perceber os frutos desses
fatos na realidade atual.
Em meio os efeitos de todas as barbáries que acompanham o processo
cultural nos séculos XX e XXI, existe esperança de uma razão que dissolva os mitos,
e substitua a imaginação pelo saber?
Neste capítulo será abordado, a reconstrução da razão por meio da educação
para a emancipação do sujeito, a partir da obra “Educação e Emancipação” de
Theodor Adorno (1995), buscando uma possível reconstrução da razão.

3.2 OBJETIVIDADE E SUBJETIVIDADE DA RAZÃO

Nos capítulos anteriores, encontramos um pessimismo melancólico de


Horkheimer e Adorno (1985), sobretudo em relação à instrumentalização da razão
para destruir o próprio objetivo da razão: esclarecer o homem. Tal pessimismo é
55

compreensível, pois ambos passaram pelas barbáries, sofreram a agressividade


primitiva que havia na Alemanha em que viviam.
Em suas teorias18, é perceptível o desencantamento do mundo, e,
aparentemente, sem solução. A razão parece estar eclipsada, ou morta, como
afirmou Horkheimer em seu livro “Eclipse da Razão” (2002). O sujeito parece ser
liberado do processo de esclarecimento da humanidade, como o foi de fato por meio
das barbáries.
Para uma possível reconstrução da razão na realidade atual, é necessário
retomar o processo feito por Horkheimer, de “[...] indagar desde dentro o conceito de
racionalidade subjacente em nossa cultura industrial contemporânea, a fim de
descobrir se esse conceito não contém falhas que, [...], o tornam vicioso.”
(HORKHEIMER, 2002, p. 9). O processo racional, ocorrido desde a revolução do
esclarecimento até os dias de hoje, afeta igualmente o processo educacional, pois a
razão é objeto principal da educação.
Tal processo se dá na mudança do próprio conceito de racionalidade: de
objetiva para subjetiva. “Por mais ingênua e superficial que possa parecer essa
definição da razão, ela é importante para uma mudança profunda de concepção
verificada no pensamento ocidental.” (HORKHEIMER, 2002, p. 14).
As duas formas de concepção racional caminharam juntas até o processo de
modernização do conceito. Na era em que a metafísica era aceita como fonte de
racionalidade objetiva, a razão subjetiva não era menos importante do que a
objetiva.

A relação entre esses dois conceitos de razão não é simplesmente de


oposição. Historicamente, ambos os aspectos (subjetivo e objetivo) da razão
estiveram presentes desde o princípio e a predominância do primeiro sobre
o último se realizou no decorrer de um longo processo. (HORKHEIMER,
2002, p. 16).

A razão desde sempre esteve relacionada como capacidade própria do


sujeito, isto é, a capacidade de pensar do ser humano. Os conceitos que se
tornaram objetivos sobre a razão partiram da capacidade subjetiva de pensar de
alguém, que posteriormente se objetivou pela maioria.

18
“[...] a nossa filosofia é uma só.” (HORKHEIMER, 2002, p. 11).
56

Quando se trata da razão subjetiva, trata-se daquela razão que é capaz de


calcular e coordenar os meios como fins. Já a razão objetiva está ligada à
organização da sociedade e propor ideias sobre o destino humano, ou seja, em
busca de fins últimos. Mas, quando uma começou a se sobrepor a outra, a razão
passou a ser instrumento, e não mais uma razão com o fim em si mesma
(HORKHEIMER, 2002).
Esse conflito entre a razão objetiva e subjetiva nos alcança até a atualidade,
sobretudo no ambiente social pelos meios de comunicação, meios de formação, e
outros meios capazes de formar ou deformar a razão que tem o fim em si mesma.

3.3 EDUCAÇÃO PARA CRÍTICA À INSTRUMENTALIZAÇÃO DO SUJEITO

A instrumentalização da razão está relacionada à instrumentalização do


sujeito, que é o portador da razão. Meios práticos da manifestação e
desenvolvimento da razão está na formação do sujeito por meio da educação.
Dentre os meios de formação social está presente a educação. A educação
sofre igualmente uma instrumentalização. A instrumentalização da educação se dá
por meio da formação ideológica. Mas que ideologia? A formação educacional na
atualidade se vincula ao objetivo de formar as consciências para o mercado de
trabalho, e não para uma formação crítica.

A educação já não diz respeito meramente à formação da própria


consciência de si, ao aperfeiçoamento moral, à conscientização. É preciso
escapar das armadilhas de um enfoque ‘subjetivista’ da subjetividade na
sociedade capitalista burguesa. A ‘consciência’ já não seria apreendida
como constituída no plano das representações, sejam ideias oriundas da
percepção ou da imaginação, ou da razão moral. A consciência já não seria
‘de’, mas ela ‘é’. Seria apreendida como sendo experiência objetiva na
interação social e na relação com a natureza, ou seja, no âmbito do trabalho
social. (ADORNO, 1995, p. 16).

A formação educacional após Auschwitz não está mais voltada a uma


objetividade da formação de uma consciência crítica, mas uma instrumentalização
da própria educação, para fins econômicos. A escolha por um campo do
esclarecimento já não é mais em função de formar uma consciência crítica, mas um
preparo para o mercado de trabalho.
57

O problema de o indivíduo escolher uma formação para o mercado de


trabalho não é o agravante, mas a gravidade é o fato de ele formar a consciência
somente para o mercado de trabalho não acompanhado de uma formação crítica.
Ou seja, na consciência do indivíduo não haverá uma formação, mas uma
semiformação da consciência crítica. E nesse sentido, o homem renuncia à
capacidade crítica em nome do progresso industrial.

3.3.1 Educação para elaborar o passado e criticar o presente prejudicado

Mesmo a educação sendo meio de manipulação das consciências, também


existe nela também o poder emancipatório, embora não sendo esse o objetivo
essencial da mesma. Na verdade, o objetivo é exatamente o contrário: a
necessidade da crítica permanente (ADORNO, 1995). A falta da crítica permanente
na sociedade contemporânea contribui para a manipulação das consciências, de
forma que o indivíduo se limitará a uma semiformação em função do progresso
industrial.
A partir disso, Adorno (1995) convida o mundo a uma reconstrução do
passado. Para o autor, Auschwitz é uma metáfora do passado, pois esse campo de
concentração usado na segunda Guerra Mundial, tornou-se um sintoma e metáfora
do mundo ocidental. Após Auschwitz, parece impossível fazer filosofia, pois a mão
humana fracassou, colocou a terra em estado de morte, não somente morte dos
judeus e dos menos favorecidos, mas da própria capacidade de raciocínio (TIBURI,
2003).
A barbárie sempre acompanhou o homem em seu trajeto histórico. Desde as
guerras para as expansões imperiais, até as guerras que ocorrem hoje no oriente,
são expressões da capacidade do homem em anular o outro, por vezes causado por
uma formação carregada de preconceitos – de semiformação.
É preciso reconstruir o passado como um todo. Não no sentido de refazer,
mas não permitir que a barbárie se perpetue. É possível constatar que sempre
houve guerras, mas não ao nível daquelas que se aproximaram de nós hoje (I e II
Guerra Mundial). E tais guerras provam que somos fracassados nos objetivos
racionais de emancipação do sujeito.
58

O esclarecimento tem perseguido sempre o objetivo de livrar os homens do


medo e de investi-los na posição de senhores. Mas a terra totalmente
esclarecida resplandece sob o signo de uma calamidade triunfal. O
programa do esclarecimento era o desencantamento do mundo. Sua meta
era dissolver os mitos e substituir a imaginação pelo saber (ADORNO;
HORKHEIMER, 1985, p. 19).
Ainda sentimos medo, medo de uma pandemia, medo de um totalitarismo
estatal, não confiamos no senhorio cientifico, não confiamos nas propostas dadas
pelos meios de comunicação social. O medo ainda nos persegue, medo não
somente do presente, mas do passado bárbaro, e de um futuro instrumental. “Após
Auschwitz, é preciso elaborar o passado e criticar o presente prejudicado, evitando
que este perdure e, assim, que aquele se repita.” (ADORNO, 1995, p. 11). Adorno
“[...] alerta os educadores em relação ao deslumbramento geral, e em particular o
relativo à educação, que ameaça o conteúdo ético do processo formativo em função
de sua determinação social. (ADORNO, 1995, p. 11)19.
A emancipação do sujeito deveria ser um dos elementos da educação, e não
a ideologia. Nesse sentido é preciso emancipar primeiramente a própria educação,
que é instrumentalizada por determinações ideológicas políticas.

3.4 EDUCAÇÃO PRA QUÊ?

O objetivo da educação para a emancipação do sujeito é o de desbarbarizar o


mundo. A educação precisa, com urgência impedir o avanço da agressividade
primitiva, que não acabou com o fim dos campos de concentração em Auschwitz. A
barbárie traspassa o tempo, está em nossas escolas, em nosso trabalho, está nas
ruas, mora nas consciências daqueles que estão com poder nas mãos.

Então pergunto se não existem situações em que sem violência não é


possível. [...] Eu diria que é preciso haver clareza de que até hoje ainda não
despertou nas pessoas a vergonha acerca da rudeza existente no princípio
da cultura. E que somente quando formos exitosos no despertar desta
vergonha, de maneira que qualquer pessoa se torne incapaz de tolerar
brutalidades dos outros, só então será possível falar do resto. (ADORNO,
1995, p. 165 - 166).

O primeiro passo a despertar naqueles que estão na escola é a indignação


com a brutalidade. Não deixar o mal se tornar amigo do cotidiano novamente. É
19
Citação do livro Educação e Emancipação (1995). Nesse livro há textos de um diálogo entre Adorno
e Becker, e alguns comentários de Wofgag Leo Maar.
59

preciso desmascarar o mal e oferecer condições para o bem possa viver nas mentes
dos estudantes.
É preciso deixar os estudantes de se manterem passivos diante das barbáries
que ocorrem (fake news, bullying, racismo, roubo, agressão, xenofobia e tantas
outras), pois, “[...], essa passividade aparente inofensiva constitui ela própria,
provavelmente, apenas uma forma da barbárie, na medida em que está pronta para
contemplar o horror e se omitir no momento decisivo.” (ADORNO, 1995, p. 164). A
educação pode ser a salvação da razão, da ciência, da política, e do próprio homem.

Mas não se deve esquecer que a chave da transformação decisiva reside


na sociedade e em sua relação com a escola. Contudo, neste plano, a
escola não é apenas objeto. A minha geração vivenciou o retrocesso da
humanidade à barbárie, em seu sentido literal, indescritível e verdadeiro.
Esta é uma situação em que se revela o fracasso de todas aquelas
configurações para as quais vale a escola. Enquanto a sociedade gerar a
barbárie a partir de si mesma, a escola tem apenas condições mínimas de
resistir a isto. Mas se a barbárie, a terrível sombra sobre a nossa existência,
é justamente o contrário da formação cultural, então a desbarbarização das
pessoas individualmente é muito importante. A desbarbarização da
humanidade é o pressuposto imediato da sobrevivência. Este deve ser o
objetivo da escola, por mais restritos que sejam seu alcance e suas
possibilidades. E para isto ela precisa libertar-se dos tabus, sob cuja
pressão se reproduz a barbárie. (ADORNO, 1995, p. 116 - 117).

A escola não pode lutar sozinha em prol da desbarbarização do mundo. É


preciso igualmente um apoio da própria sociedade. Pois, com a sociedade contra a
educação é impossível criar um espirito de emancipação.

Penso sobretudo em dois problemas difíceis que é preciso levar em conta


quando se trata de emancipação. Em primeiro lugar, a própria organização
do mundo em que vivemos é a ideologia dominante – hoje muito pouco
parecida com uma determinada visão de mundo ou teoria –, ou seja, a
organização do mundo converteu-se a si mesma imediatamente em sua
própria ideologia. Ela exerce uma pressão tão intensa sobre as pessoas que
supera toda educação. [...] No referente ao segundo problema [...],
emancipação significa o mesmo que conscientização, racionalidade [...] A
educação seria impotente se ignorasse a adaptação e não preparasse os
homens para se orientarem no mundo. Porém seria questionável igualmente
se ficasse nisto, produzindo nada além de well adjusted people, (grifo do
autor) em conseqüência do que a situação existente se impõe no que tem
de pior. (ADORNO, 1995, p. 143).

A organização mundial se constitui uma ideologia em si, ideologia de


mercado, de indústria cultural e massificação do homem. E tal ideologia dominante
60

está em todos os campos, é preciso ter sensibilidade critica afiada para não se
deixar influenciar por tais meios.
O dever da educação está em dar ao homem a possibilidade de elaborar um
pensamento crítico da sociedade. Pois, “[...] a educação seria impotente e ideológica
se ignorasse o objetivo de adaptação e não preparasse os homens para se
orientarem no mundo.” (ADORNO, 1995, p. 143).
É preciso ser astuto para não passar fome, pois, o mercado de trabalho exige
pessoas com padrão específico. A política exige pessoas com rótulo ideológico. A
ciência busca se livrar de uma ética objetiva. O mundo ainda exige consciências
instrumentalizadas, prontas e acabadas.

Sugiro neste ponto uma pequena reflexão histórica. A importância da


educação em relação à realidade muda historicamente. Mas se ocorre o que
eu assinalei há pouco — que a realidade se tornou tão poderosa que se
impõe desde o início aos homens —, de forma que este processo de
adaptação seria realizado hoje de um modo antes automático. A educação
por meio da família, na medida em que é consciente, por meio da escola, da
universidade teria neste momento de conformismo onipresente muito mais a
tarefa de fortalecer a resistência do que de fortalecer a adaptação.
(ADORNO, 1995, p. 144).

O poder da realidade sobre o sujeito se tornou forte demais, a ponto de, no


momento em que um conceito novo20 se faz presente, o sujeito automaticamente
busca se adaptar a ele. E essa adequação ao conceito novo e pronto, que chega
aos ouvidos daqueles que estão no processo educacional, é um conceito bárbaro.
Pois não foi um conceito fruto de uma reflexão crítica, mas imposto àqueles que tem
a capacidade de confrontar o conceito, mas se adaptam a ele.
De certa forma, o conceito se torna, assim, uma instrumentalização da
educação, não conduzindo o sujeito para a emancipação. Exemplo concreto é a
própria trajetória da filosofia, para Adorno “[...], a filosofia padece de uma enorme
ingenuidade: ‘saber quão pouco alcança o que é pensado e, no entanto, falar como
se o possuísse inteiramente.” (ADORNO, 2009 apud PUCCI, 2012, p. 5).

20
Quando tratado de conceito, é referido à crítica que Adorno faz a Hegel. Pois Hegel analisa que o
sujeito se adequa ao objeto, mas, Adorno afirma que essa ideia é falha, pois o sujeito não é capaz de
captar o objeto em sua plenitude. “Em contraposição a Hegel, o conceito, mesmo sendo uma
adequatio rei et intelectusi ‘, com dizia a filosofia tradicional, não consegue captar o objeto em sua
plenitude; ele é universal, abstrato, formal; o objeto por ele representado é particular, concreto,
histórico.” (PUCCI, 2012, p. 5).
61

O principal problema não está no conceito em relação ao objeto, mas a


anulação do sujeito, de forma que o sujeito se torna instrumentalizado pelo conceito,
“[...] pois o instrumental de intervenção da filosofia são os conceitos.” (PUCCI, 2012,
p. 5).
Analisando esse ponto, Adorno parte para a contraposição à dialética de
Hegel. Pois Hegel não leva em consideração que a dialética formada por ele anula o
sujeito. Daí, entrega nas mãos do conceito e do objeto todo o poder sobre o sujeito.
Ou seja, reduz o sujeito e sua capacidade de dialogar com o conceito formado e
pronto. “A dialética, na teimosia de seu momento negativo, é a tentativa de extinguir
o suposto poder autárquico do conceito, arrancando-lhe dos olhos as vendas.”
(ADORNO, 2009, p. 19).
Em um contexto educacional, o que Adorno clama é por um ressuscitar do
sujeito dentro do contexto educacional, para que assim possa ressurgir um novo
sujeito no processo histórico contemporâneo. Isso por meio de uma nova dialética,
não mais aquela dialética de adequação, mas uma dialética negativa.

3.5 O NÃO IDÊNTICO DO CONCEITO PELA DIALÉTICA NEGATIVA

Por meio de uma dialética negativa, o sujeito irá conceber a ideia do não
idêntico do conceito, para que assim o sujeito perceba que existe no conceito um
não conceitual. “A consciência levada a cabo pela dialética pode ser considerada
como a saída daquela ideologia sobre a qual o pensar humano se constituiu.”
(TIBURI, 1995, p. 69). Se a razão (o Homem, a Filosofia e Educação) quiser
sobreviver, será preciso a dialética, por meio da qual se identificará o não idêntico.
Por que o não idêntico?! A razão no processo histórico parece trair (como de
fato traiu), o objetivo de racionalizar21 o homem em prol do progresso do próprio
sujeito. A razão se mascarou por meio de sua onipotência esclarecedora, e assim se
afastou de seu objetivo. A ideia e o real deveriam caminhar juntos, serem claros
diante de uma exposição em sala de aula. Mas, “[...] a filosofia fracassou em seu
projeto explicativo sobre a realidade e formador de realidade por isso precisa
questionar seus pressupostos.” (TIBURI, 1995, p. 69). Pois, a filosofia sempre
21
“Sua meta era dissolver os mitos e substituir a imaginação pelo saber.” (ADORNO; HORKHEIMER,
1985, p. 19)
62

obteve como objeto a própria racionalidade, mas, essa racionalidade


monstruosamente foi causa de morte da própria razão, por meio da irracionalidade.
Por isso a razão precisa reconhecer que falhou em seu conceito.
No contexto da educação, quando o sujeito se depara com o conceito de
cultura, ele receberá informações de que a cultura parte da sensibilidade de
indivíduos autônomos que são capazes de interpretar e julgar o bem cultural que
analisa. E se expuser para o mesmo sujeito o conceito de indústria, será exposto
que o conceito de indústria se trata da circulação de mercadorias.
Mas, além de ser exposto o conceito de cultura e indústria, é preciso propor
uma dialética. A cultura que encontramos aqui em nossa realidade é de fato uma
cultura produzida com sensibilidade autônoma? Não! Pois em maior parte são
produzidas com o objetivo de mercantilização, que não levam em consideração a
sensibilidade. E a indústria é de fato meio de circulação somente de mercadoria?
Não! Para que tais criações culturais cheguem massificadamente ao sujeito em sua
subjetividade, é preciso conquistá-lo por vários meios, tornando assim o próprio
sujeito uma mercadoria da indústria e da cultura. Indústria cultural. Desta forma,
Adorno nomeia o duplo sentido. Existe o sentido ideal, e o sentido real.

Reprime-se essa predominância como uma especulação infundada, a fim de


que os indivíduos possam conservar, ante a suspeita de que as coisas não
seriam assim e de que eles viveriam sob o poder da fatalidade, a ilusão
lisonjeira de que suas representações entrementes padronizadas seriam a
verdade incondicionada no duplo sentido da palavra. (ADORNO, 2009, p.
250).

Acredita-se que o fato de não haver incentivo para uma dialética negativa no
processo educacional, deve-se ao risco de queda de toda a cortina, da qual por trás
se apresentarão claramente as falhas do sistema dos conceitos. Caindo a cortina
dos conceitos se perceberá, por exemplo que o conceito de felicidade, amor, arte, e
outros se tornaram reduzidos. E, neste sentido, “A educação para Adorno só tem
sentido quando orientada para a autorreflexão.” (LASTÓRIA et al, 2013, p. 8). Por
meio dessa reflexão será apontado as falhas dos conceitos.
A felicidade foi reduzida, pela indústria cultural à compra de determinado
produto, o amor se reduziu à libertinagem sexual, a liberdade foi reduzida à
capacidade de mudar de curso a qualquer momento, o trabalho se tornou sinônimo
63

de salário, a arte se tornou objeto de marketing, a escola se tornou preparo para o


mercado de trabalho, a fé se tornou sinônimo de bem estar.
Esses conceitos, por exemplo, estão congelados no processo
contemporâneo. Foram reduzidos, e não há uma ligação perfeita entre a razão
teórica e a razão prática.
O sujeito aprendendo a fazer a reflexão crítica, por meio da dialética negativa,
perceberá que as ideias de um mundo racionalizado, de prazer, felicidade são
objetos de ficção, que parecem cada vez mais longe da realização, pois sempre
estar por vir, há sempre algo novo para se comprar, e o prazer-ou-felicidade de
comprá-lo é momentâneo. Aí está, de forma concreta, o conceito ideal e o conceito
real (PUCCI, 2012).
O que se pode analisar é que o conceito pronto e totalitário abraça toda a
contemporaneidade. E do outro lado existe a carência da antítese que desvela a
contradição da ideia e do real na tese.

Quando o campo de forças a que chamamos formação se congela em


categorias-fixas – sejam elas do espírito ou da natureza, de transcendência
ou de acomodação –, cada uma delas, isolada, se coloca em contradição
com seu sentido, fortalece a ideologia e promove uma formatação
regressiva. (ADORNO, 2010, p. 11).

A análise do que se pode fazer diante da realidade contemporânea é


promover nos debates sobre a formação educacional a proposta de uma dialética
nos ambientes educacionais. Tendo essa dialética por objetivo, promover o
florescimento nos estudantes e a capacidade de perceber a não identidade do
conceito e do real.
A importância da educação para a emancipação parece estar em desuso em
parte dos sistemas. Isso se evidencia por meio da formação para obter um diploma
ou para garantia no mercado de trabalho. Ou seja, a instrumentalização da razão se
dá igualmente nos ambientes da educação. E neste sentido, as reflexões em sala
de aula se tornam fruto de reflexões aceleradas, devido ao objetivo instrumental da
razão neste ambiente.
Neste sentido, o indivíduo, forçado pela indústria cultural, percebe apenas
traços comuns, universais, homogêneos em relação a tudo que é apresentado a ele
pelos meios de comunicação; e o indivíduo acaba acreditando que tudo o que é
64

apresentado a ele é correto, verdadeiro e bom, enquanto na verdade o que lhe


aparece é apenas uma miragem (PESSI, 2019).
Isso, talvez se deva às reflexões aceleradas em sala de aula, que impedem a
emancipação de todos, impedem de promover indivíduos com consciência de sua
realidade. Infelizmente existe a carência de capacitação crítica, em prol de uma
dialética negativa que conscientize o sujeito, para não se deixar tornar um objeto nas
mãos do mercado, mas uma pessoa com o fim em si mesma.

Segundo a orientação teórico-metodológica contida na Dialética do


Esclarecimento e na Dialética Negativa, para entender a sociedade, decifrar
seus enigmas, é preciso desenvolver a crítica imanente através da crítica
objetivada: buscar a dialética entre o idealizado e o realizado, dissecar o
percurso entre o proposto e o real (terminado). (VILELA, 2006, p. 15).

Estando com capacidade de consciência crítica, o sujeito contribuirá para o


surgimento da dinâmica de transformação de estrutura. Tirando assim o mercado do
centro da racionalidade (educação) e colocando o sujeito.
Não se pode traçar sobre os professores ou alunos uma generalização de
culpa. Pois estamos todos presos dentro de uma instrumentalização sistemática,
seja por meio da cultura de massa, ou ideologias totalitárias que reinam sobre o
mundo.

Os professores têm tanta dificuldade em acertar justamente porque sua


profissão lhes nega a separação entre seu trabalho objetivo — e seu
trabalho em seres humanos vivos é tão objetivo quanto o do médico, nisto
inteiramente análogo — e o plano afetivo pessoal, separação possível na
maioria das outras profissões. (ADORNO, 1995, p. 112).

Adorno ressalta a forma com que a educação é tratada na pessoa dos


professores, no sentido de que não existe muita diferença entre um professor que
cuida do crescimento racional de uma pessoa, de uma pessoa que trabalha em
outras áreas que trabalham com objetos. Parece que ambos são tratados como
objetos na realidade contemporânea.
O primeiro passo possível a ser dado é a conscientização da
instrumentalização do sujeito para fins econômicos, para que assim se possa gerar
uma gramatica de conflito. Não um conflito social como foi proposto por Karl Marx
(1999), mas pelo menos intelectual, de percepção da não identidade do conceito e
65

do real.22 Para que, por meio de tal conflito a sociedade possa caminhar para o
horizonte de administração total de sua racionalidade, impedindo, assim, o
ressurgimento da barbárie, como ocorreu no século XX.
Não é dever somente da educação salvar a razão da instrumentalização, mas
é um espaço privilegiado para tal, que deve contribuir para a desbarbarização do
mundo, mas para isso é necessário que os indivíduos se autoconscientizem da
necessidade de se opor e resistir aos imperativos do processo de socialização total
(FRANÇA, 2011).
É preciso resistência ao imperativo de conformidade existente em nossa
contemporaneidade, para que a educação possa se sustentar por meio de uma base
firme e convicta de emancipar os formandos.
O ponto crucial para que o conceito em sua não identidade fique ainda a
manipular as consciências, seria a instalação de discussões em prol da junção da
teoria e a prática. Segundo Adorno (2009), o conceito não idêntico deve ser
desnudado de suas máscaras, e refeito sua definição na teoria e na realidade.
Desta forma, podemos tratar o educar não meramente como um simples
adequar-se as ideologias impostas, mas educar em função de ajudar os indivíduos a
existir, a serem sujeitos, sem modelações, sem medo de lhes apresentar o mar de
boas opções, e os pontos onde poderá se afogar. O que se percebe, é que não é
suficiente a educação da sensibilidade, da racionalidade, do ser estético, do ser
moral, do ser intelectual (TIBURI, 2003). É preciso ir além, pois o homem não é
somente razão.
Podemos considerar modelo de percepção da não identidade do conceito na
prática, a obra “Dialética do Esclarecimento” (1985). Nessa obra, Adorno e
Horkheimer fazem o processo de não identidade do conceito, destacando que,
esclarecimento, indústria, cultura, razão, ciência, arte e outros conceitos, falham na
realidade.
Pois não há uma relação direta entre o saber teórico e o saber prático. “A
unidade entre teoria e prática não foi pensada como concessão à fraqueza do
pensamento que é um produto disforme da sociedade repressiva.” (ADORNO, 2009,
p. 176).
O convite a ser feito para a contemporaneidade é o de não se deixar vencer
pelo conformismo, a adequação que nos são propostas, prontas e acabadas, mas
22
Como foi dito acima no tópico 3.4 Educação para quê?
66

refletir, peneirar, criticar os conteúdos que chegam pelos meios de formação das
consciências.
Para que assim, a razão possa se tornar fonte de desbarbarização, passe de
instrumentalizada para emancipada. Hoje, as condições para tal emancipação
existem. “O que está faltando são homens que compreendam que são eles mesmos
as vítimas ou os executores da própria opressão.” (HORKHEIMER, 2002, p. 163).
Após o processo de construção de indivíduos capazes de reflexões críticas,
será possível trilhar um novo caminho, que poderá arrancar as forças da razão
instrumental que reduzem o homem a objeto.
A transformação do pensamento proposta por Adorno (2009), isto é, a lógica
da desintegração dada por meio de uma dialética negativa, atualiza o materialismo
histórico dialético, dando a ele um caráter novo, e não congelante. Um
estranhamento que nos oferece a teoria em relação a dialética idealista, não é a de
redução, mas retira dela a dominação conceitual, e obriga a oferecer uma resposta
que se iguale na teoria e na prática.
Na atualidade a Pandemia do Corona vírus, ofereceu à humanidade a
oportunidade para o confronto contra a instrumentalização do homem. “O Covid
tornou possível reconhecer, de forma global, que aquilo que está em crise é a nossa
forma de compreender a realidade e de nos relacionarmos entre nós.” (PAPA
FRANCISCO, 2020, p. 2).
A instrumentalização do homem por meio da cultura, ciência, e de outros,
parece estar sendo revelado ao homem hoje, por meio do fracasso dos poderes.
Mais uma vez a razão se apresenta instrumentalizada como arma cientifica,
econômica, política e a internet. Enquanto ocorrem discussões ideológicas, o
homem concreto continua a morrer.
Percebe-se que o fracasso da ciência sendo instrumentalizada como arma na
pandemia, é um fracasso de toda a humanidade. Pois, quem morre não é a ciência,
nem a economia, nem política, mas o próprio Homem.
Portanto, a reconstrução da razão, e de seu sentido hoje, pode ser oferecido
por meio de uma reflexão da desintegração do sujeito e do objeto. Por meio de tal
separação poderá se evidenciar o que há de errante entre a teoria e a prática. E
assim devolveremos à Filosofia a possibilidade do caráter uno entre o ideal e o real.
67

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho buscou traçar uma crítica a razão instrumentalizada para a


destruição do Homem, traçando um olhar para o homem, que instrumentalizado por
meio da razão, reduz as suas capacidades emancipatórias. O pensamento de
Theodor Adorno e Max Horkheimer, dois pensadores da escola de Frankfurt, nos
motivam a elaborar uma crítica permanente daquilo que chega as nossas
consciências, uma música, um filme, uma experiência científica, uma exposição em
contexto educacional, etc.
Uma crítica permanente em prol da emancipação do sujeito, a qual o sujeito
não se permitirá ser passional diante das manipulações, mas agir pelo pensamento.
Criticar não somente por criticar, mas para chegar ao esclarecimento, a visão total
do real.
Como modelo de crítica permanente destaca-se a obra “Dialética do
Esclarecimento” de Adorno e Horkheimer (1985). Nela, os dois autores traçam uma
análise crítica da contemporaneidade; percebendo que se buscava um estado de
paz, mas encontrava guerras; procurava-se esclarecimento, mas ainda
encontravam-se barbáries; lutavam pela razão, mas encontravam regressão
primitiva dos indivíduos.
O objetivo da Revolução do Esclarecimento era tornar o homem racional,
mas tal objetivo falhou. Prova disso tem-se a redução dos indivíduos a um objeto da
ciência, da indústria cultural, dos regimes totalitários, da destruição do próprio
homem, racismos, eugenias, fake news, alienação política e tantas outras barbáries
que restauram no homem o sinônimo de bárbaro.
A razão desde sempre esteve relacionada como capacidade própria do
sujeito, isto é, a capacidade de pensar do ser humano. Os conceitos que se
tornaram objetivos sobre a razão, partiram da capacidade subjetiva de pensar de
alguém, que posteriormente se objetivou pela maioria. Mas, na contemporaneidade,
percebe-se a redução da razão objetiva e a ascensão da razão subjetiva, enquanto
que as duas deveriam estar em estrita ligação.
Diante da razão subjetiva em ascensão, encontra-se a instrumentalização
dela para a manipulação dos sujeitos pelos meios de formação das consciências,
internet, televisão, rádio, meios de comunicações sociais, política, educação,
68

economia etc. E isto dificulta o processo emancipatório, pois as reflexões dadas por
estes meios podem não gerar consciência crítica nos sujeitos, mas apenas
adequação as ideias prontas.
Por meio das obras de Adorno e Horkheimer (1985, 1995, 2002), percebeu-
se que, para a razão afastar-se do eclipse formado pela dialética do esclarecimento,
isto é, dialética de progresso e regresso, é preciso reelaborar o presente que foi
prejudicado pelo imperativo de regressão existente no século XX, como foi as
Guerras Mundiais, nazismo, fascismo, e tantas outras barbáries.
Adorno não acredita que a educação possa salvar a própria razão, não
sendo este seu objetivo, mas é um campo privilegiado para tal. A educação pode
contribuir para a desbarbarização do mundo: ela tem o poder de romper nos homens
o instinto de agressividade primitiva, mas para tanto é necessário arrancar dela o
imperativo de conformidade existente em nossa contemporaneidade, para que a
educação possa sustentar-se por meio de uma base firme e convicta de emancipar
os formandos.
O método creditado por Adorno (1985) é a “Dialética Negativa” (2009), pela
qual poderá instalar-se no processo educacional a consciência crítica nos indivíduos.
No centro dessa dialética está a análise da não identidade do conceito, por meio do
qual os indivíduos poderão ter a capacidade de analisar de forma crítica as ideias
propostas com finalidades de manipular as consciências e possivelmente reduzir a
probabilidade das barbáries se repetirem na contemporaneidade.
Diante disso, não basta somente acusar as fontes ideológicas que
manipulam os indivíduos, mas é preciso se questionar, perceber se a humanidade
tem sido também agente da perpetuação da barbárie na contemporaneidade. Se
não tem sido os nazistas de hoje.
Existe a necessidade de perceber se cada indivíduo tem sido os autores da
instrumentalização da razão onde se vive, criando campos de concentração no
cotidiano, matando assim, seis milhões de sonhos por meio de preconceitos,
racismos, de bullying, fake News, indiferença com o outro, matando assim a razão.
Na atualidade, a percepção da não identidade do conceito que foi proposto
por Adorno e Horkheimer, se faz necessária em lugares em que a possibilidade de
emancipação foi substituída pela barbárie. Faz-se necessário antes de tudo, criar um
ambiente de emancipação por parte do estado, da família e da cultura. Sem a parte
do estado, da família e da cultura industrial contra a emancipação por meio da
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educação, dificilmente será posto fim ao drama de conflito presente em nossa


contemporaneidade.
É impossível imaginar o fim da razão instrumental quando a própria
educação sofre ameaças e perseguições por parte do estado, da família e da cultura
industrial. Existem ameaças de serem extintas disciplinas que podem proporcionar a
emancipação como a filosofia, sociologia e outras, e há falta de investimentos e
capacitações no ensino.
Outro ponto que impede o fim da instrumentalização da razão, é a infiltração
de ideologias totalitárias presentes nas fontes que poderiam proporcionar a
emancipação, como o estado e a educação. E isso contribui para a falta de diálogo
entre os sistemas, gerando assim novas barbáries como o bombardeio contra os
educadores em março de 2015 em Curitiba; e a revolução contra o Estado na
Tailândia, na qual jovens estudantes lutam pelo fim da monarquia e a reforma do
Estado, o que vem ocasionando um conflito social entre Estado, Educação e as
famílias do país.
A indústria cultural, com sua força, acaba atingindo a Educação por meio
das redes de manipulação das consciências, trazendo assim para a escola ideias de
generalização e manipulação, anulando a capacidade de reflexão crítica.
Percebe-se que na educação, no Estado, na cultura e na família, existem
falhas que dão continuidade a instrumentalização da razão para a destruição do
sujeito. Por isso, é necessária uma dialética sobre si mesmo, observando a não
identidade como propósito real de seus sistemas.
É preciso levar em consideração o papel da nossa sociedade no combate à
instrumentalização da razão para a aniquilação do sujeito. O principal fator de apoio
à barbárie é a escassez de uma dialética, de diálogo.
Contra a instrumentalização do sujeito não é suficiente o esclarecimento, pois
a razão sozinha em sua totalidade produziu mortes, guerras, totalitarismo, eugenias,
etc. A razão precisa estar acompanhada de um outro fator principal a favor do
próprio Homem, a sensibilidade, que parece não ter espaço no avanço técnico-
cientifico, e que gera sofrimento por sua escassez representativa nos homens.
A sensibilidade proporcionou a capacidade de filosofar nos homens, dizia
Aristóteles. (METAFÍSICA I, 982). No entanto, a insensibilidade é característica da
escassez de autoconsciência. Desprovidos de sensibilidade, corre-se o risco de
transformar a si e aos outros em instrumentos e não em ser.
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Com a sensibilidade, será possível o retorno de uma razão autêntica, capaz


de aceitar a consciência do outro, sem precisar pô-lo em um campo de
concentração, de expressar a sensibilidade em uma obra de arte sem se preocupar
com os efeitos da cultura industrial, e educar para a emancipação do outro.
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