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FILOSOFIA

A Indústria Cultural: formação da subjetividade contemporânea.


FILOSOFIA
Adorno e Horkheimer, dois grandes expoentes da Escola de Frankfurt,
cunharam o termo “indústria cultural”, que remete a uma forma de fazer arte
em escala industrial.

Em 1923, pesquisadores alemães uniam-se para a criação do Instituto


de Pesquisa Social, que daria origem à famosa Escola de Frankfurt.
Essa escola se consolidou na união do instituto com a Universidade de
Frankfurt, em 1931, sob direção, na época, do filósofo e sociólogo Max
Horkheimer. Nesse período, surgia uma das principais bases do
pensamento do século XX, a Teoria Crítica, que se centraria na crítica
ao iluminismo, ao capitalismo e à Revolução Industrial, tendo como
principais referências o pensamento marxista, algumas ideias do
filósofo alemão Friedrich Nietzsche e a então recente psicanálise
de Sigmund Freud.

Nesse primeiro momento, os nomes que mais se destacaram, ficando


conhecidos como a primeira geração da Escola de Frankfurt,
foram Walter Benjamin, Erich Fromm, Herbert Marcuse, Max
Horkheimer e Theodor Adorno, sendo estes dois últimos os mais
lembrados. Durante o regime nazista na Alemanha, que se instalou
oficialmente em 1933, a perseguição aos judeus se acirrou. Nesse
contexto, Adorno e Horkheimer, bem como outros intelectuais semitas
alemães (como Marcuse e Hannah Arendt), buscaram refúgio fora da
Alemanha. No exílio, Adorno e Horkheimer escrevem, a quatro mãos,
a célebre obra Dialética do Esclarecimento, que condensa a maior
parte das ideias centrais da Teoria Crítica.
Barbárie e razão instrumental

Devido à origem judaica, o antissemitismo foi tema principal da


filosofia dos teóricos da Escola de Frankfurt. Durante o período
iluminista, o ideal intelectual da época afirmava que o avanço científico
e tecnológico levaria a um avanço social e moral. O que pode ser
observado no período pós-revolução industrial foi justamente o oposto:
duas grandes guerras, ascensão do totalitarismo na Europa pelos
regimes nazista (Alemanha), stalinista (União Soviética) e fascista
(Itália), miséria, má distribuição de renda e um mal-estar geral vivido
pela população. Adorno e Horkheimer perceberam que o ideal
iluminista havia fracassado.

É fato que a tecnologia havia se desenvolvido, que as técnicas haviam


sido aprimoradas e que a produção estava sendo feita a todo vapor. O
problema disso é que:

1. O capital gerado concentrava-se nas mãos de poucos;


2. Os governos totalitários tinham interesses na grande produção,
assim como os grandes produtores tinham interesses no poder
daqueles governos;
3. A aliança de governos totalitários, grandes produtores e alta
tecnologia criou uma indústria da morte, que beneficiava os
regimes totalitários (que precisava matar seus opositores em
massa gastando pouco) e os grandes produtores (que vendiam
armas e poderio bélico que possibilitava as mortes em massa).

Mais que bombas, armas e munição, foram criadas nesse contexto as


câmaras de gás, utilizadas largamente pelos nazistas entre 1942 e 1945.
A câmara de gás era um meio eficiente de eliminar dezenas ou até
centenas de vidas com pouco dinheiro. O pior de tudo: os inimigos
comuns eliminados eram, em sua maioria, judeus que lá estavam apenas
por sua origem semita. Esse fenômeno foi nomeado pelos
frankfurtianos de barbárie. Foi esse contexto de institucionalização da
barbárie contra vidas humanas que levantou o interesse de Adorno e
Horkheimer na escrita da Dialética do Esclarecimento.

O fenômeno do grande avanço técnico, tecnológico e racional da


humanidade, sem uma reflexão humana, teórica e crítica, que teria
desembocado na barbárie, resultou no que os frankfurtianos chamaram
de razão instrumental, isto é, a plena utilização técnica da razão sem
uma reflexão prévia, fazendo da capacidade racional um mero
instrumento para render lucros. Assim, para manter a ordem econômica
capitalista e a ideologia de que a sociedade estava avançando, seria
necessário um forte aliado: a mídia.
Naquela época, a mídia (palavra que significa meio, no caso, meio de
comunicação) era composta pelos jornais, pelo rádio e pelo cinema.
Como esses veículos de comunicação passavam adiante formas
de fazer artístico (música, filmes, pinturas, fotografias e textos) para o
público, a ideia primária foi ampliar o público, ou seja, disponibilizar o
acesso à grande massa da população. Mais que isso, seria necessário
criar conteúdos que fossem facilmente absorvidos por essa massa e
que a mantivessem satisfeita com aquela nova forma de lazer, pois,
assim, ela se sentiria mais motivada para trabalhar e não pensaria em se
rebelar contra o sistema capitalista. Surge, então, a indústria cultural.

Indústria cultural

A indústria cultural trata os espectadores como massa, anulando a sua


individualidade. Ela supõe que todos são iguais e querem a mesma
coisa. Essa indústria nivela por baixo as diferentes camadas intelectuais,
utilizando-se dos canais de comunicação e dos programas oferecidos
para passar a ideologia dominante adiante e manter as pessoas crentes
naquela ideologia e satisfeitas com a situação política e econômica em
que vivem.
Economia, política e estratégias governamentais fundem-se em uma
produção artística inautêntica, produzida irreflexivamente, utilizando-
se também da razão instrumental, pois esta cria a tecnologia que
permite a disseminação de informação. Informação e satisfação dos
desejos mais básicos tomam forma em fazeres artísticos de baixa
qualidade, que adentram os lares da massa da população, mantendo
todos conformados. Isso é a indústria cultural.

Prédio
do antigo Instituto de Pesquisa Social da Escola de Frankfurt que reuniu importantes sociólogos e filósofos

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