Comunicação e indústria cultural. O Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt.
Teorias da Comunicação. Dulce Mazer
A Escola de Frankfurt e seu conceito mais importante, o da indústria cultural,
segundo França e Simões (2016), constituem uma tradição sólida reconhecida e reconhecível de pensamento crítico que marca um viés de análise da comunicação e cultura na sociedade moderna. Uma sociologia crítica que alimentou vários campos de sentidos. A partir de uma realidade institucional, o Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, criado em 1924 na universidade de Frankfurt, uma escola é erigida sob a perspectiva da teoria crítica social por filósofos e sociólogos como Theodor Adorno, Max Horkheimer, Herbert Marcuse, Erich Fromm, Walter Benjamin e Jürgen Habermas (herdeiro). Interdisciplinar, a sociologia crítica ou filosofia social desenvolvida por eles abarcava questões da técnica e da tecnologia, o processo civilizador europeu no início do século, a arte, a política e a vida cotidiana (RÜDIGER, 2008). A derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial, a oposição ao partido social-democrata no poder desde a república de Weimar (1919), a crescente hegemonia stalinista o nascimento da União Soviética como uma potência socialista, bem como ascensão do nacional-socialismo, nos anos 1930, são o contexto de uma nova interpretação do marxismo (Marx) sob influência também da psicanálise (Freud). Financiado por Feliz Weil, o Instituto serviria ao estudo e aprofundamento do marxismo científico, segundo França e Simões (2016). Muito debatido na Europa, sobretudo após a Primeira Guerra Mundial, a implantação de um marxismo ortodoxo na esfera estatal era defendida por alguns intelectuais, enquanto outros buscavam propor reformas na lógica capitalista; enquanto havia ainda correntes de pensadores totalmente opostas ao socialismo, comunismo e ao marxismo. Em 1931 Max Horkheimer assume a direção do Instituto que, com isso, passa a ser um importante centro de estudos sobre a vida econômica, social e cultural, de crítica às relações sociais alienadas e alienantes, o que se configurou mais tarde como “a Teoria Crítica” (FRANÇA e SIMÕES, 2016). Vale destacar que os pensadores, além de uma orientação à esquerda, eram judeus e críticos do governo alemão. Em 1933, Hitler é nomeado chanceler e o Instituto é fechado pelo regime nazista, passando a ser sediado em Genebra, na Suiça. Acolhidos pela Universidade de Columbia, em 1938, praticamente todos os seus membros partiram para o exílio nos Estados Unidos (FRANÇA e SIMÕES, 2016), retornando à Alemanha no pós-guerra. Em 1944, no curso da Segunda Guerra Mundial, Horkheimer e Adorno colocaram foco no que chamaram de “indústria cultural”, ao publicarem sua “Dialética do Iluminismo” (RÜDIGER, 2008). Entre as ideias gerais de crítica aos poderes totalitaristas como o nazismo na Alemanha e o socialismo soviético, consumido no despotismo burocrático (RÜDIGER, 2008), os pensadores passam a criticar os regimes democráticos pautados também pelo liberalismo, uma vez que, para eles: Nas sociedades capitalistas avançadas, defenderam, a população é mobilizada a se engajar nas tarefas necessárias à manutenção do sistema econômico e social através do consumo estético massificado articulado pela indústria cultural (RÜDIGER, 2008, p. 133).
Na Dialética do Iluminismo, concebemos na modernidade que não apenas somos
seres livres, como podemos construir uma sociedade justa e de realização individual. No entanto, essa concepção é frágil, segundo os autores, e carrega as contradições sobre a autonomia da razão, diante da dominação tecnológica. O desenvolvimento industrial, através do progresso técnico e econômico, anula os indivíduos frente ao poder econômico, por um lado. Kracauer e Benjamin, por outro lado, buscaram conceber as experiências estéticas das novas tecnologias (cinema, rádio, artes gráficas) como possibilidades de transformação nos modos de produção e consumo da arte (RÜDIGER, 2008). Entre 1949 e 1969, Adorno assume a direção do Instituto novamente em Frankfurt.
Referências:
FRANÇA, Vera V; SIMÕES, Paula G. O estudo da Comunicação na europa. A Escola de
Frankfurt e o conceito de indústria cultural. In: ______; Curso básico de teorias da comunicação. Belo Horizonte: Autêntica, 2016. pp.111-131. RÜDIGER, Francisco. A Escola de Frankfurt. In: HOHFELDT, Antônio; MARTINO, Luiz C.; FRANÇA, Vera Veiga (org.). Teorias da comunicação: conceitos, escolas e tendências. Petrópolis‐RJ: Vozes, 2008. pp. 131-150.