O documento discute as virtudes e pecados do turismo. Entre os sete pecados estão a estrutura do turismo que concentra o tempo e distribui o espaço de forma inadequada, a dificuldade de conceituação e a propagação endêmica sem controle. As sete virtudes incluem estimular sonhos, oferecer novas oportunidades profissionais e revigorar áreas adormecidas.
O documento discute as virtudes e pecados do turismo. Entre os sete pecados estão a estrutura do turismo que concentra o tempo e distribui o espaço de forma inadequada, a dificuldade de conceituação e a propagação endêmica sem controle. As sete virtudes incluem estimular sonhos, oferecer novas oportunidades profissionais e revigorar áreas adormecidas.
O documento discute as virtudes e pecados do turismo. Entre os sete pecados estão a estrutura do turismo que concentra o tempo e distribui o espaço de forma inadequada, a dificuldade de conceituação e a propagação endêmica sem controle. As sete virtudes incluem estimular sonhos, oferecer novas oportunidades profissionais e revigorar áreas adormecidas.
Os primeiros estudiosos do fenômeno turístico já haviam pre nunciado que
esta notável atividade humana, característica do sécu lo vinte, nascera com duas deformações básicas: concentrava-se ex cessivamente no tempo e distribuía-se de modo pouco conveniente no espaço. Diziam que pouco se sabia acerca da sua capacidade socioeconômica, dos seus efeitos secundários, e fazer previsões so bre suas tendências futuras seria no mínimo arriscado. O tempo pas sou, o fenômeno evoluiu e, cada vez mais, especialistas dedicam seus esforços no sentido de tentar dimensionar o alcance dessa fantástica mola propulsora de benefícios e malefícios, tentando divisar os seus limites. Diríamos que o Turismo caracteriza-se por virtudes e pecados, cabendo à sociedade discernir a linha que separa e une as duas cate gorias. Na hipótese desse juízo de valor ser adequadamente estabe lecido, é possível abstrair-se do Turismo amplas respostas a inúme ras demandas de nossas comunidades, especialmente no que tange à geração de mais empregos, maior produção de bens e serviços, me lhor renda. Se, contrariamente, ocorrerem equívocos resultantes da desinformação, carência de análise criteriosa, descaso administrativo ou excesso de entusiasmo por parte dos novos agentes do processo em questão, corre-se o risco de expor o núcleo receptor a uma das mais perversas ações de sedução já registradas no cotidiano da histó ria. A atividade turística, quando enfatizada no discurso em busca de novos adeptos, é sempre revestida de excepcional carisına. De um modo geral, os seus propagadores, em função de políticas governa mentais ou em busca de novas parcerias para viabilizar novos em preendimentos, tendem a omitir as armadilhas e os engodos que o Turismo é capaz de reservar aos menos avisados. Conceituado como um sistema composto por um número ex pressivo de variáveis interdependentes, é também sujeito de um subsistema ambiental que estabelece decisiva subordinação sobre o seu desempenho. Entendido como processo, o Turismo tem no ser humano o objeto central de sua ação, e na satisfação psicossomática deste ser, os objetivos norteadores desta ação. A partir da satisfação psicossomática gerada é que se mensura o grau de eficiência do fazer turístico; a través dos resultados sociais, econômicos e financeiros apurados se avalia a eficácia dessa opera ção. Quando o turista e o agente prestador de serviços demonstram bilateralmente o seu contentamento ao fim de um determinado con trato social – que pode ser traduzido por uma viagem, traslado, hos pedagem, uma refeição, participação em um evento, acompanhamen to a passeios, ou outro -, pode-se afirmar que o Turismo atingiu o seu ideal: tornar prazerosa e lucrativa a relação entre visitantes e vi sitados, entre prestadores e tomadores de serviços. Para que essa harmonia de mercado seja plausível, entretanto, há vários fatores restritivos interagindo, uns disponibilizados de for ma inconsciente, outros de modo consciente, mas que, somados en tre si, impedem que o Turismo se apresente com a performance de sejada. Diríamos que esses fatores podem ser denominados os sete pecados capitais do Turismo.
OS SETE PECADOS DO TURISMO
O primeiro pecado que se pode imputar ao Turismo é a sua
característica estrutural. Fatores como tempo, espaço, volume e fragilidade fundamentam a sua gênese. Apesar de toda a força do marketing na determinação das motivações de viagens, o Turismo ainda utiliza o tempo de forma pouco racional, e provoca congestionamento no espaço, base de sua geração; extrapola em volume a cada nova projeção, invalidando planos e programas; sua fragilidade diante da carga e dos impactos provocados pela persecução da maximização de resultados torna-se cada vez mais evidente, tendendo à antropofagia - estudiosos afirmam que o Turismo matará o Turismo. O segundo pecado diz respeito à dificuldade em conceituar, de maneira clara e explícita, o que é o Turismo, como ele se vincula com as demais ciências sociais, como se estabelecem as suas interfaces com outras atividades inerentes à sociedade, como se alinha ao pro cesso produtivo tradicional da economia, aos setores e aos fatores que dinamizam essa economia; e, finalmente, como pode, na ponta de tal processo, configurar-se como um produto intangível, só consumível – no âmbito de todos os seus componentes – na base da sua geração. O que equivale a dizer que se trata de um produto intransportável, calcado na rigidez de sua fixação localizante, quase um paradoxo, se pensarmos que Turismo é sinônimo de mobilidade. O terceiro pecado do Turismo é que ele se propaga de modo endêmico, tipo virótico, impedindo as necessárias medidas de prevenção que poderiam garantir o controle de sua expansão. Especialmente quando a revelação de potencialidades atrativas é midiaticamente efetuada por ocasião da ocorrência de eventos esporádicos, em núcleos receptores de modesta infraestrutura, a situação tende a se tornar extremamente problemática. A partir do evento mal dimensionado, nada será como antes: os especuladores, alheios aos valores ambientais locais, logo se somarão aos nativos alienados, e desse consórcio se ressentiu a comunidade não conscientizada dos riscos do Turismo imprevidente. O quarto pecado do Turismo diz respeito à fábula do lobo escondido na pele do cordeiro, ou seja, quando ele assume o enganoso papel de ator responsável pela destruição das barreiras sociais - graças à sua capacidade de aproximação entre todas as camadas da população - reunindo ricos e pobres, velhos e jovens, brancos e pretos, etc. É necessário que se analise com honestidade esta aproximação, e que se avalie até onde ela não é movida meramente por relações de interesse pragmático, do tipo contratante de bons serviços a preços convenientes e contratado sujeito às circunstâncias, cena comum nos balneários e estâncias turísticas. O quinto pecado do Turismo trata da relação das trocas culturais entre os povos, entre os visitantes e visitados. Trata, acima de tudo, da superficialidade dessa relação, e como efetivamente ocorrem essas trocas; quando os visitantes não compreendem que não há culturas superiores, ou inferiores; que existem tão somente culturas, pluralizadas, e que necessitam e merecem ser respeitadas, independente do seu grau de primitivismo ou do seu avançado estágio globalizante. O quinto pecado do Turismo está imbricado com as complexas questões da educação e postura ética dos turistas frente ao meio receptivo, e o direito ao respeito e dignidade dos nativos. O sexto pecado do Turismo é representado pelo amplo grau de infidelidade com que ele se comporta frente aos espaços conquistados. O Turismo seduz, se apropria, desfruta e muito frequentemente abandona as áreas conquistadas em favor de novas paisagens jovens, virgens, perseguindo novos encantamentos, novas emoções. No seu rastro, deixa marcas de perdas, nostalgia e desolação. O sétimo pecado atém-se à irreverência de que se reveste o Turismo. Uma irreverência que se descobre no discurso pronunciado a partir do pseudoconhecimento do fenômeno turístico por parte dos impostores que operam no setor, e pelos maus prestadores de serviços, que propagam o adágio do preço máximo, defendendo a tese que o turista só passa uma vez pelo núcleo receptivo e, portanto, pouco importa o seu grau de descontentamento frente ao abuso praticado.
AS SETE VIRTUDES DO TURISMO
1°- Turismo estimulador de sonhos
O Turismo traduz a ideia básica de movimento. Um movimento que pode
ser direcionado para fora e para longe, ao mesmo tempo em que pode voltar-se para dentro e para perto. O importante é que o Turismo incita à preparação, à viagem, e nesse sentido mexe com expectativas, insegurança, medo. O Turismo estimula a pessoa a sair de si, levantar âncoras, abrir asas, soltar-se e deixar-se planar, espantando-se com a própria leveza ... E, como diz Joffre Dumazedier, “buscar uma forma nova de afirmação de si mesmo", uma maneira de explodir positivamente, enfim, "perseguir ou retomar cem vezes um sonho de infância ou juventude que a vida comum teve de interromper”. 2° - Turismo, uma promissora atividade profissional
Milhares de novos empregos despontaram das diversas áreas de
serviços, e as instituições que se dedicam à formação de recursos humanos terão sua responsabilidade redobrada, comprometidas em dotar o novo homem de conhecimentos humanísticos, técnicos e científicos capazes de dar conta de um cliente cada vez mais exigente, de um mer cado a cada dia mais sofisticado. Trata-se de suprir as necessidades deflagradas pela revolução silenciosa do final do século vinte.
3o – O Turismo: agente revigorador de áreas adormecidas
É mundialmente reconhecida a capacidade do Turismo em revigorar as
áreas adormecidas ou mortas para o bem-estar social e a dinamização da economia. Através do Turismo, inúmeros fatores que tradicionalmente carecem de maior significado no processo produtivo de bens e serviços passam a se revestir de importância. Isso porque o Turismo utiliza áreas físicas nem sempre favoráveis à agricultura, em virtude da existência de obstáculos como pedreiras, cavernas, grutas, árvores centenárias, canyons etc, dos quais tira amplo proveito. O mesmo se pode afirmar em relação a prédios em desuso, equipamentos obsoletos, costumes sepultados no tempo. O Turismo recicla tais elementos, incorpora homens e meios a novos processos, estimula novos fazeres, gerando novas ocupações, novos empregos. Através das práticas artesanais, dos manufaturados, das pequenas indústrias, dos produtos coloniais, o Turismo incrementa a produção, promove o aumento da renda familiar, garante o comprometimento com novos consumos qualitativos. O Turismo desperta aldeias e núcleos ignorados, incorporando-os aos municípios e às regiões turísticas privilegiadas.
4°- Turismo como um agente propagador de culturas
Turismo: 9 propostas para um saber-fazer gem orientada e a excursão ecológica regrada são caminhos promisso res para o resgate de um modelo educacional fragmentado e precário, que poderá ser fortalecido através dos padrões de um turismo susten tável. ator dessa experiência puder dividir suas emoções e suas lembranças com outras pessoas, repassar parte do seu entusiasmo, das curiosidades e dos impactos emocionais sentidos neste contato para o círculo de amigos e conhecidos, recomendando-lhes uma aproximação com o ob jeto do seu encantamento. E é assim, pela comunicação direta, boca-a boca, como afirma o povo, que o Turismo cumpre a sua função de agente propagador da cultura. 6° - Turismo como balizador de integração regional
5° - O Turismo como preservador do meio ambiente
Contrariamente ao que algumas pessoas tentam sustentar, o Tu rismo não
é necessariamente um agente comprometedor do meio am biente, um predador de patrimônios – natural e histórico-cultural. Há inúmeros locais no mundo onde não existe Turismo, nem turistas; entretanto, esses ambientes apresentam altíssimo nível de poluição - no ar, no mar, nos espaços de uso público, nas cidades e nos seus entornos. Ao incriminar o Turismo por uma culpabilidade no mínimo dis cutível, é importante lembrar que todo turista, quando chega a um determinado lugar, é portador de uma bagagem invisível, a que cha mamos bagagem de cidadania ou bagagem cidadā. Se esse viajante, em sua vida infantil e adulta, foi contemplado com os direitos que lhe confere a sua condição de ser social, é muito provável que o seu comportamento frente ao meio ambiente estranho nada deixe a recriminar. Cidadão na essência do termo, tem postura digna de visitante, respeita as normas vigentes e é respeitado pelos visitados. Contrariamente, se desde os princípios básicos da educação, todos os demais benefícios e direitos lhe foram amputados, inclusive a noção de respeito à propriedade alheia, certamente teremos diante dos olhos a mão que arranca a flor, a lata descartável arremessada à calça da, o coração flechado gravado sinuosamente no tronco da árvore, o fogo no acampamento improvisado provocando sinistro, o habitat sil vestre perturbado, e outros tantos danos. É preciso que se leve em conta que o passeio monitorado, a via É curiosa a forma como o Turismo, essa atividade humana que tem na fronteira uma das pilastras de sua sustentação teórica, é capaz de diluir divisores físicos, limites políticos e superar bandeiras parti dárias. Quando um município, numa determinada zona geográfica, descobre sua vocação para o Turismo, acata e investe nessa vocação, inconscientemente está acionando uma alavanca simbólica, respon sável por um novo processo de desenvolvimento integrado. Organizados todos os elementos, os fatores e os setores desse processo produtivo; definidos os seus agentes, estabelecidos os seus objetivos e metas, e acionadas as estratégias promocionais, assistimos com entusiasmo a reação do mercado frente ao novo produto posto em cena. Percorridas todas as fases necessárias ao aprimoramento da nova oferta de bens e serviços, chega-se à fase do transbordo, do mo mento em que os efeitos secundários do processo de maturação do produto turístico se instauram sobre as cidades vizinhas. É no espelhamento de iniciativas bem sucedidas que novas comunidades encontram estímulos para engajar-se na corrida turística, em que com petem vencedores e também perdedores, é certo, mas acima de tudo competidores, carregados de signos e auto-estima. As regiões turísticas são misteriosas áreas geográficas dotadas de características similares aparentes, e de muitas diferenças intrín secas capazes de surpreender àqueles que se dedicarem a desvendar os seus segredos. Os atrativos mapeados para o desfrute turístico nem sempre indicam os caminhos dos verdadeiros tesouros guarda dos pela região turística. Dizem que é preciso procurá-los com o coração para encontrá los.
85 TURISMO: VIRTUDES E PECADOS NORMA MARTINI MOESH Turismo: 9 propostas para um saber-fazer
7° - Turismo como tempo/espaço para o encontro
O ser humano é lúdico, nascido do encontro, para o encontro,
independente do grau de profundidade desse encontro. Nesse sentido, o Turismo apresenta-se como espaço ideal para o exercício da aproxi mação interpessoal, intergrupal, transsocial. A qualidade do encontro está diretamente relacionada ao grau de interesse e abertura que se dis põe para os novos conhecimentos, os novos relacionamentos. Em certas circunstâncias, o Turismo não consegue alcançar a sua condição de promotor de encontros porque muitas pessoas, temerosas de se dar a conhecer a algum “chato' eventual, tendem a se isolar, im pondo resistência à apresentações e à entabulação de uma conversação que poderia resultar em agradável relacionamento futuro. Impedir que pessoas manifestem sua atenção, seu interesse e até certa curiosidade em relação a outras é contrariar frontalmente a lógica do Turismo, a atração que o diferente exerce sobre os distintos povos que compõem o universo do Turismo. Não arriscar-se a tal proximida de é desperdiçar oportunidades preciosas de penetrar no mundo mági co da pluralidade cultural, é negar-se à alteralidade que tanto enriquece, é deixar de considerar que “todo estranho é um amigo que ainda não se conhece”, é esquecer que o Turismo pode ser também uma opção para o crescimento pessoal.
NORMA MARTINI MOESCH - Mestre em Comunicação. Professora do
Curso Superior de Turis mo da FAMECOS/PUCRS e da Universidade de Caxias do Sul, no graduação e pós-graduação. Consultora em planejamento e desenvolvimento turístico. 87 TURISMO: VIRTUDES E PECADOS