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PALAVRAS PRELIMINARES
O artigo que ora o leitor tem em mãos possui sua origem no meu trabalho de
conclusão do curso de Turismo da Universidade Federal da Paraíba, intitulado O turista
aprendiz: uma viagem na dimensão pedagógica da atividade turística em Pipa e na
Prainha do Canto Verde. Na ocasião eu me propus a estudar, através de uma análise
comparativa, as contribuições que o turismo de massa e o turismo comunitário dão aos
turistas no que diz respeito a suas mais diversas dimensões, principalmente no que
concerne ao processo formativo da pessoa humana. Em virtude deste objeto de estudo,
comecei um prazeroso percurso de pesquisa sobre o turismo comunitário. Ao longo
desse processo observei que existiam poucas obras conceituais sobre este modelo de
turismo, para não chamá-lo simplesmente de segmento e assim confundi-lo com apenas
um grupo de pessoas com interesses comuns, o que instrumentaliza o mercado
meramente economicista2. O que existe em quantidade razoável são inúmeros exemplos
e estudos de caso sobre experiências comunitárias de gerenciamento turístico; o que é
muito bom, diga-se de passagem. No entanto, tal modelo de atividade e gerenciamento
turístico merece contribuições de cunho conceitual-reflexivo, sustentados obviamente
sobre os relatos de experiências e estudos de casos. O presente artigo mostra-se como
uma pequena colaboração nessa discussão com intuito de contribuir para a
sistematização de elementos que tipificam ou caracterizam o turismo comunitário.
Porém deixo claro que esta é uma colaboração, portanto de caráter aberto, o que sugere
o diálogo com outras reflexões que porventura venham ter com as idéias aqui propostas.
O conjunto de referenciais utilizados como fontes para as reflexões contidas neste artigo
baseia-se principalmente em estudos de casos, relatos de experiências de comunidades
que vivenciam este modelo turístico, documentos propositivos de gerenciamento
turístico comunitário do WWF e alguns outros referenciais bibliográficos.
Antes de adentrarmos na proposta de categorias para análise do turismo
comunitário- principal colaboração deste artigo- é necessário apresentar algumas
1
Bacharel em Turismo e Professora Substituta do Departamento de Comunicação e Turismo da
Universidade Federal da Paraíba
2
Uma referência à ótica economicista citada por Manfred Max-Neef no prefácio de SAMPAIO, 2005.
considerações de ordem econômica, social e histórica a fim de bem compreender o
contexto em que o turismo comunitário se apresenta.
É de conhecimento e certo consenso dentro da comunidade científica estudiosa
do turismo que a atividade recebeu um forte impulso no período do pós-guerra, por
volta de meados do século XX. Neste período os avanços tecnológicos e principalmente
o início da massificação do uso do avião para fins turísticos representou um importante
elemento para se compreender tal crescimento. É portanto também nesse período
histórico que se encontram os fatores contribuintes do aceleramento de diversos
problemas causados pelo turismo, aqui chamado de turismo de massa. Tais problemas,
por já serem bem conhecidos e tratados por diversos e bons autores e autoras, não
receberão aqui grande espaço de discussão, até porque não é este o objetivo principal
deste trabalho. Porém, é importante apenas citar alguns desses problemas a fim de
contextualizar o assunto e assim situar o leitor e a leitora para mais a frente
compreender melhor as motivações do turismo comunitário. Esses impactos são
basicamente: o acúmulo de lixo; falta de água; inchaço urbano; inflação;
descaracterização cultural; concentração de renda e tantos outros que com certeza devo
ter esquecido ou desconheço, já que cada caso é um caso e o que representa um
problema na minha região pode não o representar nas vossas. Neuhaus aponta
claramente alguns dados que comprovam esses problemas, principalmente no que diz
respeito à concentração de renda e aos impactos ambientais:
3
Sobre este caso ver SAMPAIO, 2005 ou http://www.acolhida.com.br/index.html
Dito isto, podemos agora trabalhar diretamente com as categorias propostas.
Estas se dividem em dois grupos: elementos característicos e elementos estratégicos.
A divisão em dois grupos atende muito mais a uma necessidade didática do que uma
cisão que de fato exista e se perceba nas experiências reais de turismo comunitário. No
primeiro grupo estão presentes as categorias essenciais à caracterização de uma
experiência de gerenciamento comunitário do turismo, ao passo que no segundo
encontram-se elementos facilitadores desta prática (gerenciamento). Nas experiências
reais as categorias propostas nos dois grupos assumem graus de importância
praticamente equivalentes.
Dentro dos elementos caracterizadores estão:
• Protagonismo comunitário
• Organização comunitária
• Rentabilidade para a comunidade
4
Autor referencial para o PEP: Joel Souto-Maior IN: SOUTO-MAIOR apud SAMPAIO, 2005.
5
“Fig. Pessoa que tem o primeiro lugar em um acontecimento” (Pequeno dicionário
enciclopédico KOOGAN LAROUSSE).
3- Somos conscientes de que el turismo puede ser una fuente
de oportunidades pero también una amenaza para la cohesión
social de nuestros pueblos, su cultura y su hábitat natural. Por
ello, propiciamos la autogestión del turismo, de modo que
nuestras comunidades asuman el protagonismo que les
corresponde en su planificación, operación, supervisión y
desarrollo […] (DECLARACIÓN DE SAN JOSÉ6, 2003.
grifo nosso)
6
Disponível no sítio <http://www.ecoturismolatino.com/ebiblioteca/ebiblioteca.htm>. Acesso em:
25/03/06
Mesmo com o respeito e a valorização do coletivo, pessoas com espírito e perfil
de liderança sempre surgirão e são necessárias. Porém liderança não é sinônimo de
hierarquia unidirecional. A pessoa-líder tem um papel representativo e motivador do
restante da comunidade, nunca ditador. É por isso que o WWF-Internacional, no
documento Diretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Comunitário atenta para a
importância das representações e delimitação da comunidade ao dizer:
Por fim podemos dizer então que “este modelo turístico [turismo comunitário] não pode
existir sem uma organização da comunidade que viabilize mecanismos de consulta e
tomadas de decisões que respeitem o protagonismo comunitário” (PINHEIRO;
2006,33).
A rentabilidade para a comunidade é a terceira categoria dos elementos
caracterizadores. Peço novamente licença às leitoras e leitores para utilizar neste ponto
grande parte do meu texto monográfico que acredito explicar bem esta categoria. Sinto-
me a vontade para fazer isto por ser esse o trabalho que originou e que possui grande
parte do conteúdo deste artigo:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BENI, Mário Carlos. Análise estrutural do turismo. 10ª ed. São Paulo: SENAC São
Paulo, 2004.
BOYER, Marc. História do turismo de massa. Trad: Viviane Ribeiro. Bauru, SP:
EDUSC: EDUFBA, 2003. (Coleção Turis).
LIBANIO, João Batista. A arte de formar-se. 4ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2002.
(Coleção CES).
SAMPAIO, Carlos Alberto Ciocce. Turismo como fenômeno humano: princípios para
se pensar a socioeconomia e sua prática sob a denominação turismo comunitário. Santa
Cruz do Sul: EDUNISC, 2005.
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forma: