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INSTITUTO FEDERAL DE SERGIPE

COORDENADORIA DE CURSO SUPERIOR EM TURISMO


CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM GESTÃO DE
TURISMO DISCIPLINA: METODOLOGIA CIENTÍFICA
PROFESSORA: MIRELA CARINE SANTOS ARAÚJO

MODELO DE RESENHA CRÍTICO-INFORMATIVA

POR: Mirela Carine Santos Araújo

1) Título

CANDIOTTO, Luciano Zanetti Pessôa. Elementos para o Debate Acerca do Conceito de


Turismo Rural. In: Turismo em Análise, V. 21, n. 01, abril 2010.

2) Introdução

O autor do artigo intitulado “Elementos para o Debate Acerca do Conceito de Turismo Rural”
é doutor em Geografia pela UFSC, membro do GETERR (Grupo de Estudos Territoriais),
Campus de Francisco Betrão. Neste artigo, Candiotto apresenta uma discussão pertinente em
torno do conceito de Turismo Rural, estabelecendo importante diferenciação entre este,
Turismo no espaço Rural e Agroturismo. O autor se debruça em torno da questão, por
compreender que o uso do termo turismo rural vem se ampliando, o que vem causando uma
utilização aleatória e, muitas vezes, indevida do termo.

3) Resumo do capítulo

Candiotto inicia o seu texto afirmando que “a ampliação de experiências, de estudos e


pesquisas relacionadas ao Turismo no espaço Rural é perceptível no Brasil e em vários países,
sobretudo a partir da década de 1990”, período marcado pelo crescimento do fenômeno da
pluriatividade no espaço rural; da concepção de multifuncionalidade do agricultor e da
agricultura; bem como do interesse dos agentes turísticos e da população urbana pelo rural e
pelas ruralidades.
Além disso, neste mesmo período, “o turismo passa a ser ideologicamente polarizado entre
turismo convencional/de massa e turismo alternativo/sustentável”, como consequência da
saturação de destinações turísticas convencionais, da segmentação dos setores do mercado e
das intencionalidades do trade turístico.

Ao discorrer sobre os elementos históricos do turismo no espaço rural, o autor apresenta


alguns fatores que levaram a Europa a desenvolvê-lo, principalmente após a Segunda Guerra
Mundial: desenvolvimento econômico pautado na industrialização e das conquistas
trabalhistas (férias, redução da jornada de trabalho, 13º salário, etc); além dos incentivos
públicos para a expansão do turismo como setor econômico estratégico e da organização do
trade turístico para viabilizar o turismo rural, o interesse dos citadinos pelos espaços rurais,
que contribuiu para a afirmação do turismo rural, e inseriu novas relações econômicas e
sociais no rural (neo-ruralismo).

O autor cita Baidal (2000), que defende que “as possibilidades do turismo rural constituem
um aparato para a realização de áreas industriais com problemas, dinamização de áreas rurais
atrasadas e diversificação da estrutura econômica regional”.

Candiotto destaca que a União Européia passou a direcionar recursos para atividades agrícolas
e não-agrícolas em seu espaço rural. “Desta forma, aspectos como a ênfase nas múltiplas
funções do espaço rural; o enfoque multidisciplinar do território para além do setorial
(agrícola/rural) que valoriza o uso integrado dos recursos e a diversificação das economias
locais; e a participação da população no planejamento e gestão de base local, são
elementos que passam a fundamentar as políticas públicas de desenvolvimento rural na
Europa, a partir da década de 1990” (p.7).

No Brasil, o interesse pela expansão do Turismo Rural por parte do poder público surge
também a partir deste período, assim como os estabelecimentos rurais que passam a ofertar
algum produto turístico no espaço rural.

Em seguida, o autor apresenta as discussões a cerca da questão conceitual do Turismo Rural.


Candiotto afirma que, apesar dos problemas conceituais, já existem estudos que buscam
estabelecer uma diferenciação das atividades de turismo realizadas no espaço rural no Brasil.

O autor ressalta que “apesar do conceito de turismo rural abranger qualquer prática turística
no espaço rural, autores como Vaz, Zarga e Cals; Capellà; Vaqué (1995 apud Silva; Vilarina;
Dale, 2000) entendem por turismo no meio rural ou turismo em áreas rurais a totalidade dos
movimentos turísticos que se desenvolvem no meio rural.

Aliado às discussões sobre a diferenciação deste conceito, Candiotto diz que quando se fala
em turismo no meio rural, estão incluídas todas as modalidades turísticas praticadas
nesse espaço, independentemente da motivação e das atividades envolvidas.

O importante nesse debate, acrescenta o autor, é que quando se fala em turismo no espaço
rural, o componente espacial é preponderante em relação às atividades desenvolvidas, de
modo que qualquer atividade turística desenvolvida em um espaço que não seja urbano faz
parte do turismo no espaço rural, mas não necessariamente corresponda a uma atividade de
turismo rural.

No que tange ao conceito de turismo rural, o autor concorda com Silva; Almeida (2002)
quando estes percebem o turismo rural como uma modalidade mais restrita que o turismo no
espaço rural, pois estaria reservado apenas para os casos em que as atividades rurais
tradicionais (agricultura, extrativismo e pesca) desempenham algum papel na visita, ou
seja, o turismo rural deve estar relacionado ao meio e à produção rural.

Candiotto apresenta também uma evolução do conceito de turismo rural no Brasil e destaca
que, mesmo com a mudança conceitual, o turismo rural se manteve vinculado às práticas
rurais, e não somente ao espaço rural, mostrando que a existência ou manutenção das
atividades agropecuárias são elementos fundamentais para caracterizar o turismo rural.

Aliado a isso, o autor entende que o agroturismo apresenta todos os atributos do turismo
rural, sobretudo pelo fato de ser uma atividade realizada no espaço rural, e ter como principais
atrativos as atividades agropecuárias, os produtos paraagrícolas e o modo de vida rural.
Porém, o diferencial do agroturismo em relação ao turismo rural diz respeito à
participação direta e/ou indireta do turista em atividades comuns dos agricultores, como
plantio, colheita, ordenha, entre outras.

Desta forma, Candiotto compreende que todos os empreendimentos de agroturismo devem


possuir atividades agropecuárias, mas o principal elemento caracterizador desta modalidade
estaria no uso das atividades agropecuárias e do estilo de vida do agricultor como principais
atrativos, e na participação direta ou indireta dos turistas em tais atividades.
4) Avaliação Crítica

O artigo apresentado por Candiotto à revista Turismo em Análise possibilita ao leitor a


compreensão e diferenciação de “sub-segmentos” ou derivações do Turismo Rural, de forma
clara e objetiva.

O autor entende que a literatura europeia trata qualquer modalidade de turismo realizada no
espaço rural como turismo rural. Uma das críticas bastante pertinente de Candiotto é a forte
influência estrangeira na literatura sobre turismo rural. Ele lamenta que muitos conceitos são
importados sem maiores reflexões e adaptações à realidade brasileira.

Para tanto, Candiotto utiliza uma literatura bastante condizente com a sua proposta, para
embasar e fundamentar a sua tese.

Importante destacar que o autor contextualiza seu texto no período em que se configura a
transição “de uma lógica de crescimento (econômico) para uma lógica de desenvolvimento
local sustentável”, representado também por uma mudança marcante de paradigma mundial.

Concordo com o autor quando ele diz que “os projetos e políticas públicas de agroturismo
devem ter como foco a melhoria da qualidade de vida do homem do campo, e não o
atendimento aos anseios e ao imaginário dos turistas, fortemente influenciados pelo trade e
pela mídia”; acredito, porém, que o grande desafios dos gestores do turismo está em aliar a
qualidade de vida do homem do campo e atender às expectativas dos turistas quanto a
qualidade dos produtos e serviços oferecidos nestes empreendimentos.

5) Indicação da obra

Este artigo deve ser apreciado por estudiosos e pesquisadores das áreas sociais e humanas, tais
como geógrafos, turismólogos, sociólogos, historiógrafos e outros.

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