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A importância económica

do Turismo
Artur Cabugueira*
Doutorado em Ciências Sociais e Humanas

Mm Resumo
O turismo é uma actividade económi- Tourism is one of the most important
ca extremamente importante, podendo de- powers in the world.
sempenhar um papel decisivo em termos de It plays a decisive role concerning the de-
desenvolvimento de determinadas regiões, velopment of certain regions where no other
onde, por vezes, não existem outras alternati- alternatives are found to achieve such aim.
vas para alcançar esse objectivo. In this article, some economical impacts
Neste artigo, analisamos os principais im- of tourism are analysed both individually and
pactos económicos do turismo, nomeadamen- collectively, namely those concerning national
te sobre os rendimentos e o emprego, a balan- income and Employment in the Balance of
ça de pagamentos e as receitas dos governos. Payments and in the Governments' Revenue.
Fazemos ainda uma abordagem dos efei- An approach of the multiplying of tourism
tos multiplicadores do turismo, técnica usada is also made; this technique is used to esti-
para calcular os impactos contínuos das des- mate the continuous impacts of the tourism
pesas do turismo na economia. expenses in Economy.
Referimo-nos, em seguida, a alguns as- Same aspects related to the importance
pectos relacionados com a importância do of tourism in the regional growth and develop-
turismo no crescimento e desenvolvimento ment are going to be mentioned. So, it was
regional. Verificámos que o turismo pode di- confirmed that tourism may increase the natu-
namizar as potencialidades naturais e histó- ral, historical and cultural potentialities of the
rico-culturais das regiões mais deprimidas. most depressed áreas.
Acrescentámos, contudo, que não é o turismo However, it was added that it is not
que fomenta o desenvolvimento dum deter- tourism itself which increases the develop-
minado país ou região, mas sim o seu pró- ment of certain country or region; it is the levei
prio nível de desenvolvimento, que converte of development of the country or region which
o turismo numa actividade favorável ou não a turns tourism into a favourable or non favou-
esse processo. rable activity to such process.
Finalmente, abordamos também a questão Finally, the question related to the role played
relacionada com o papel do turismo no de- by tourism in the regional economical develop-
senvolvimento económico regional dos países ment of the developed countries, through the
desenvolvidos, através da redistribuição do redistribution of national income for the benefit
rendimento nacional, em benefício das regiões of touristical regions, was also mentioned.
receptoras. A este propósito, apresentamos Concerning this subject, the classical view
os argumentos de determinados autores que of the "convergence", which defends that
contrariam a visão clássica de que o turismo é tourism contributes to a standardization of the
um factor de convergência no desenvolvimen- economical development among countries,
to dos vários países, concluindo que o turismo was critically analysed.
não deixa de ser importante para o desenvolvi- It was concluded that tourism is important
mento, mas que este não depende exclusiva- for the development, however, this does not only
mente dele, mas também do grau de desenvol- depend exclusively on it, but also on the deve-
vimento dos outros sectores da economia. lopment levei of the other economy sectors.

Impactos, Desenvolvimento Regional, De- Impacts, Regional Development, Touristic


senvolvimento Turístico, Análise Multiplicadora. Development, Multiplier Analysis.

'Docente na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro


E-mail: accmc@sapo.pt

REVISTA TURISMO DESENVOLVIMENTO


1. O Turismo - a importância viagens e beneficia os locais receptores. Em
económica do turismo segundo lugar, pelos meios que utiliza e pelos
resultados que produz - aproveita os bens da
Nos últimos 50 anos, o turismo internacio- natureza sem os consumir, nem os esgotar.
nal revelou um crescimento sustentável, com Também emprega uma grande quantidade
uma taxa média anual de 6,8%, passando, de mão-de-obra, exigindo o investimento de
entre 1950 e 2000, de 25 milhões para 697,8 enormes montantes financeiros.
milhões o número de chegadas, não obs- Por sua vez, proporciona rendimentos
tante, as condições políticas e económicas individuais e empresariais e origina receitas
adversas, tornando-se numa das maiores in- para os Estados, fomentando a entrada de di-
dústrias do mundo (OMT, 2001). visas na Balança de Pagamentos.
Quanto à entrada de divisas nas nações O turismo produz ainda múltiplos impac-
em 1996, o aumento foi ainda maior (7,6%), tos na economia dos países, valoriza imóveis
ultrapassando os 423 biliões de dólares. e impulsiona a construção civil.
Desde 1970, o número de viajantes au- Na análise do fenómeno "turismo", dois
mentou 2 5 7 % e, provavelmente, duplicará aspectos importantes devem ser tomados em
nos próximos 10 anos, ultrapassando 1 bi- conta: o interesse dos turistas e o interesse do
lião de turistas internacionais, em 2010. Para local que recebe os turistas. Quanto ao primei-
2020, as estimativas da OMT apontam para ro aspecto, o turista procura regiões que pro-
mais de 1,6 bilião de viagens internacionais porcionem actividades que ocupem o seu tem-
(OMT, 2001). po livre e que satisfaçam os seus interesses.
A importância económica do turismo tor- O segundo, tem como objectivo atrair os
na-se importante pelas consequências não- turistas para ocupar o tempo livre dos mes-
-intencionadas do acto do turista realizar uma mos através de atracções que possui ou pode
viagem de trabalho ou lazer. criar. Do relacionamento destes dois elemen-
Se o turista pretende realizar uma viagem tos resulta o desenvolvimento económico das
de lazer, tem de trabalhar e poupar, o que regiões visitadas, na medida em que dinamiza
significa que, numa sociedade onde existe a o sector turístico. O turismo começa, então,
cultura do turismo, terão de existir, de uma a produzir os seus resultados, através da cir-
forma permanente, poupanças para fazer culação de moeda, do aumento do consumo
face às despesas de viagem, de um intenso de bens e serviços, do aumento da oferta de
movimento das actividades produtivas deri- empregos e do aparecimento de empresas
vadas do turismo. Quando o turista viaja para dedicadas ao sector, tais como, agências de
o estrangeiro, gera uma procura adicional e viagens, hotéis, restaurantes, boites, trans-
transfere divisas para o país escolhido. portes, parques de diversões, etc.
O turismo constitui, assim, uma força Por outro lado, o poder público adopta
económica das mais importantes no mundo, políticas de forma a fazer face a novas neces-
ocorrendo fenómenos de consumo e a cria- sidades, através da construção de infra-estru-
ção de rendimentos e de mercados, onde se turas (estradas, aeroportos, fornecimento de
conjugam a oferta e a procura. água, luz, esgotos, recolha de lixo, e t c ) .
As receitas derivadas do turismo são de- Só quando todo este conjunto de activi-
masiado expressivas, de tal forma que justi- dades, a nível privado e público, se começa a
ficam que esta actividade seja incluída nos desencadear e a produzir resultados é que se
programas da política económica de todos os pode afirmar na implantação de uma indústria
países. De actividade considerada secundá- turística. Se isto não acontecer apenas se po-
ria por muitos, passou a receber uma atenção derá falar em presença de turistas.
especial, consolidando-se como uma activi-
dade económica importante. 2. Impactos económicos do turismo
De facto, o turismo pode ser considera-
do como uma indústria, por diversas razões. O adequado tratamento económico do
Em primeiro lugar, pela existência de uma or- turismo exige conhecer detalhadamente os
ganização dentro do sector que promove as impactos económicos derivados desta activi-
dade, uma vez que os turistas gastam o seu valente ao das exportações de mercadorias,
dinheiro numa ampla variedade de bens e resultando na entrada de moeda no país
serviços. Este dinheiro é encarado como uma receptor.
injecção de recursos, através do aumento da Nos países desenvolvidos e em desen-
procura na economia local, a qual não existiria volvimento, com um amplo sector turístico,
sem esta actividade. as receitas provenientes do turismo ajudam
De acordo com Cooper (2001), o valor dos a reduzir e, até a anular, os deficits das ou-
gastos realizados pelos turistas apenas repre- tras contas da balança de pagamentos. Este
senta uma parte dos impactos económicos. facto constitui o principal motivo para muitos
Uma análise completa deve ter em atenção governos apoiarem o turismo quer nos países
outros aspectos. Apresentamos, em seguida, em desenvolvimento, quer em muitos países
alguns dos impactos económicos provocados desenvolvidos.
pela actividade turística. No que se refere aos efeitos nas receitas
No âmbito nacional, o turismo provoca a dos governos, podem ser divididos em dois
transferência de recursos financeiros produzi- tipos: directos e indirectos.
dos numa região de um dado país para outras Quanto ao primeiro tipo, as receitas re-
do mesmo país, através do movimento de t u - sultam da cobrança de impostos sobre os
ristas que viajam internamente. Ao contrário rendimentos - rendimentos privados e empre-
do turismo internacional, o turismo doméstico sariais gerados pelo emprego e pelo negócio
representa uma transferência de rendimentos do turismo. Note-se, no entanto, que, se este
dentro de uma economia. tipo de impostos for demasiado pesado, pode
Os impactos do turismo internacional ter um papel desincentivador da actividade,
apresentam duplos impactos: os efeitos nos por não favorecer o reinvestimento. Com ren-
negócios e os efeitos de redistribuição. dimentos acima daquele nível tornam-se fun-
À medida que os turistas visitam outros damentais para a economia do país.
países, o acto de viajar, em si, já estimula o O segundo tipo de receitas compreende,
negócio. A maioria das pessoas que viaja para principalmente, impostos e direitos alfande-
um destino distante utiliza o transporte aéreo gários, cobrados sobre os bens e serviços
e grande parte dos aviões são fabricados nos fornecidos aos turistas.
Estados Unidos e exportados para outros paí- Este tipo de receitas, em muitos países
ses. No destino, o turista deverá utilizar um em desenvolvimento, ganha uma proporção
alojamento cujo dono e gerente não é um re- considerável, particularmente nos locais em
sidente, além de consumir comidas e bebidas que o sector do turismo é um grande importa-
que não são fornecidas localmente. dor de bens e materiais.
Para os países que recebem turistas, es- Contudo, embora os direitos alfandegá-
sas importações representam perdas para a rios sobre as importações constituam uma
economia internacional, constituem oportuni- receita para os governos, são, por outro lado,
dades de negócio e geram exportações. um custo para o importador, e os altos direi-
O efeito de redistribuição do turismo in- tos alfandegários irão reflectir-se nos preços,
ternacional refere-se ao facto da maioria dos afectando, por sua vez, a competitividade do
turistas internacionais ser proveniente dos destino.
países desenvolvidos, com altos rendimen- A criação de emprego e rendimentos é
tos, que passam férias em países economi- outro efeito importante da actividade turística.
camente mais desfavorecidos. Nesse sentido, O emprego gerado pelo turismo pode ser
uma parte do poder de despesas excedente directo, indirecto ou induzido. O emprego di-
dos países mais ricos é redistribuído por meio recto é o criado nas actividades produtivas que
do turismo a outros países, muitos dos quais procuram satisfazer directamente a procura
incluídos entre os países em vias de desen- turística. Temos assim, por exemplo, todos os
volvimento. empregos criados na hotelaria, nas agências
No âmbito internacional, o turismo é con- de viagens ou nos postos de turismo.
siderado como uma exportação invisível de O emprego indirecto é o emprego gera-
bens e serviços. O efeito económico é equi- do nas actividades produtivas que têm por

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RT&D

objectivo responder à procura das actividades de transportes, de alojamento e restauração.


q u e s a t i s f a z e m d i r e c t a m e n t e as n e c e s s i d a d e s C o o p e r (2001) refere q u e o s e f e i t o s d i r e c t o s
d o s turistas. das actividades turísticas são as despesas
N o caso, por e x e m p l o , d o s hotéis, o s e m p r e - realizadas p e l o s t u r i s t a s n o s e s t a b e l e c i m e n -
g o s indirectos poderiam gerar-se e m outras e m - t o s q u e f o r n e c e m o s bens e serviços turísti-
presas q u e lhes f o r n e c e m serviços, tais c o m o , d e c o s . Parte d e s t e v a l o r sairá, i m e d i a t a m e n t e ,
lavandaria, d e segurança o u d e limpeza. do circuito e c o n ó m i c o doméstico para cobrir
O turismo é considerado c o m o a activida- a s d e s p e s a s c o m as i m p o r t a ç õ e s d e p r o d u -
de económica que mais empregos oferece a t o s e s e r v i ç o s front Une. A s s i m , o s i m p a c t o s
nível m u n d i a l . directos das despesas dos turistas t e n d e m a
Existem diversas vantagens derivadas da ser inferiores a o v o l u m e d e s t a s , a n ã o ser e m
capacidade que o turismo possui e m matéria c a s o s (raros) e m q u e a s e c o n o m i a s locais p o s -
de criação de empregos, nomeadamente: s u e m a c a p a c i d a d e d e p r o d u z i r e satisfazer a
• C r i a ç ã o d e e m p r e g o s e m áreas c o m d e s e m - totalidade das necessidades d o s turistas.
p r e g o e s t r u t u r a l , c o m o z o n a s rurais; A Figura 1 mostra q u e as unidades pro-
• P o s s i b i l i d a d e d e criar e m p r e g o s e m deter- dutivas que beneficiam das despesas directas
minadas regiões, por meio d a d o t a ç ã o de in- d o s turistas necessitam de se abastecer junto
fra-estruturas. d e f o r n e c e d o r e s , o u seja, p r e c i s a m d e c o m -
A s despesas turísticas t ê m u m "efeito cas- prar b e n s e / o u s e r v i ç o s d e o u t r o s s e c t o r e s
c a t a " s o b r e a e c o n o m i a . A u m p r i m e i r o nível, d e n t r o d a e c o n o m i a l o c a l . Parte d e s t a s d e s -
registam-se as despesas d o s turistas e m servi- p e s a s sairá d o c i r c u i t o i n t e r n o , p o i s d e s t i n a m -
ç o s front Une, d e s i g n a d a m e n t e c o m o s e r v i ç o s -se a comprar bens e serviços importados.

Figura 1 - Efeito multiplicador do turismo

DESPESAS TURÍSTICAS
DIRECTAS

IMPORTAÇÃO RENDIMENTO FAMILIAR

DESPESAS INDIRECTAS

IMPORTAÇÃO RENDIMENTO FAMILIAR

DESPESAS INDUZIDAS

IMPORTAÇÃO RENDIMENTO FAMILIAR

Fonte: Elaboração própria

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100
Artigos científicos

As referidas compras geram despesas • Multiplicador do rendimento - mede o


que beneficiam as respectivas unidades rendimento adicional criado na economia, em
fornecedoras, constituindo, assim, um efeito consequência do aumento das despesas t u -
indirecto. rísticas iniciais;
O efeito induzido corresponde aos salá- • Multiplicador d a s receitas governamen-
rios, rendas e juros recebidos pelas activida- tais - mede o impacto nas receitas dos g o -
des que, por sua vez, fornecem as referidas vernos, resultante de um aumento das despe-
no parágrafo anterior. sas turísticas iniciais;
Fletcher (1991) baseia a análise do efeito • Multiplicador do emprego - mede a quan-
"multiplicador" no reconhecimento da interde- tidade total de empregos criados por uma uni-
pendência dos sectores produtivos que consti- dade adicional das despesas turísticas.
tuem a economia local. Isto significa que, uma Os multiplicadores podem ser calculados
mudança na procura final de um determina- utilizando várias abordagens metodológicas,
do sector, irá afectar não só esse sector, mas que dão origem a coeficientes distintos, ou
também aqueles que lhes fornecem bens e seja, a diferentes medidas dos impactos gera-
serviços. Particularmente, no caso do turismo, dos pelo aumento original nas despesas dos
qualquer mudança nas despesas turísticas di- turistas.
rectas afectará o nível de produção da econo- Uma outra abordagem para medir os im-
mia, a taxa de desemprego, o rendimento mé- pactos de mudanças nas despesas turísticas
dio familiar, as receitas do governo e a balança iniciais consiste na utilização do quadro entra-
comercial. Todavia, a grandeza de tal mudança das/saídas, ou de relações inter-industriais,
nos fornecedores poderá ser maior, igual ou apresentado por Leontief. Este modelo con-
menor do que nas despesas turísticas. siste numa matriz que serve para representar
No entanto, de acordo com Wanhill (1997), as contas nacionais e/ou regionais. Para além
a actividade turística também envolve diver- disso, existem outros modelos que não são
sos tipos de custos económicos - custos d i - aqui considerados, tais como o dos multipli-
rectos dos negócios turísticos, custos para o cadores ad-hoc.
governo - dotação de infra-estruturas para Embora muito utilizados para a medição
servir os turistas e custos para a sociedade, dos impactos do turismo na economia, os
derivados dos efeitos inflacionários que o t u - resultados da análise dos multiplicadores de-
rismo pode gerar. vem ser cuidadosamente interpretados.
Em suma, podemos dizer que o valor ini- Por um lado, os dados disponíveis são in-
cial das despesas turísticas gera efeitos mul- suficientes e duvidosos para serem usados em
tiplicadores na economia - na produção, nos análises do multiplicador, pois o turismo, en-
rendimentos, no emprego e nas receitas dos globando vários sectores, implica dificuldades
governos. Os multiplicadores do turismo são específicas na obtenção de dados (aqui estão
o rácio das mudanças na produção, rendi- envolvidas as variáveis tempo e custos).
mento, emprego e contribuições para as re- Por outro lado, os estudos baseados na
ceitas dos governos sobre a mudança inicial análise dos multiplicadores são pertinentes
nas despesas directas, originadas pela procu- durante um determinado período e, embora
ra dos turistas. possam ser actualizados, não há garantia de
Os multiplicadores mais utilizados no sec- que os dados básicos utilizados e o inter-rela-
tor do turismo podem ser classificados em cionamento permaneçam válidos, ou seja, de
cinco tipos: que os preços relativos usados permaneçam
• Multiplicador de transacções ou vendas constantes.
- mede a relação entre o aumento das recei- Para além disso, nas análises dos multi-
tas dos negócios no sector do turismo e o au- plicadores aplicadas a determinados países
mento das despesas turísticas iniciais; ou regiões, os coeficientes calculados reflec-
• Multiplicador de produção - relaciona o tem os dados específicos utilizados, pelo que,
valor de produção adicional gerado na econo- dois destinos aparentemente comparáveis,
mia, em consequência de um aumento unitá- como as Seychelles e Maldivas, podem ter
rio na despesa turística inicial; multiplicadores muito diferentes.

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De q u a l q u e r f o r m a , a análise d o s m u l t i p l i - p a r a satisfazer as diferentes m o t i v a ç õ e s turís-
c a d o r e s é u m a t é c n i c a b a s t a n t e utilizada, q u e t i c a s . P o r t a n t o , o s f l u x o s turísticos i m p l i c a m a
t e m v i n d o , p r o g r e s s i v a m e n t e , a ser a p e r f e i - e x i s t ê n c i a d e u m a série d e e f e i t o s territoriais
ç o a d a , p o s s u i n d o a v a n t a g e m d e gerar resul- d e d i v e r s a natureza, t a n t o n a s áreas g e o g r á f i -
tados rápidos a um custo relativamente baixo, c a s d e p a s s a g e m c o m o nas d e d e s t i n o " .
s o b r e t u d o s e c o m p a r a d a c o m a análise d o s S e g u n d o Vera R e b o l l o e M a r c h e n a G o m e z
quadros entrada-saída. (1990: 71),"(...) o t u r i s m o é i n t e r p r e t a d o c o m o
u m a riqueza regional, s e g u n d o o seu contri-
3. O Turismo e o desenvolvimento buto mais ou menos decisivo para a economia
regional d a p r ó p r i a região, c o m o a c t i v i d a d e d e f u t u r o
ou alavanca para a p r o m o ç ã o do desenvolvi-
Tal c o m o f i c o u d e m o n s t r a d o , o t u r i s m o mento regional."
possui alguns impactos económicos impor- T a m b é m A b i a s d e f e n d e q u e , na q u e s t ã o
tantes, através dos seus efeitos multiplicado- d o desenvolvimento regional, um d o s aspec-
res. C o n t u d o , o d e b a t e s o b r e o real d e s e n v o l - tos relevantes é o meio de difusão dentro d a
v i m e n t o d e v e focar, n ã o s ó , o valor d o m u l t i - própria e c o n o m i a regional.
p l i c a d o r d o t u r i s m o , m a s t a m b é m , incidir s o - A f i r m a o a u t o r q u e "(...) u m a v e z d e s c o -
bre as oportunidades para o desenvolvimento berta, implantada ou desenvolvida, a atrac-
q u e p o d e m ser i d e n t i f i c a d a s n a s c o m u n i d a - ção turística, funcionando c o m o actividade
d e s locais d e n t r o d a região o u n a ç ã o . m o t o r a , irá p r o j e c t a r s o b r e a r e g i ã o u m a série
A s s i m , i r e m o s analisar, d e s e g u i d a , a l g u n s de efeitos que terão por base a c o m p l e m e n -
a s p e c t o s relativos a o i m p a c t o d o t u r i s m o n o t a r i d a d e c o m as a c t i v i d a d e s locais, c o n s t i -
desenvolvimento e c o n ó m i c o regional. tuindo-se essas últimas no meio d e difusão.
O turismo p o d e ajudar a estimular a ac- Esse m e i o s e r á f o r m a d o , b a s i c a m e n t e , p e l a s
tividade económica de determinados locais relações de c o m p r a e v e n d a entre os agentes
q u e p o s s u e m , por diversas razões, poucas p r e s e n t e s n a região e p e l o r e t o r n o d a d i s t r i -
possibilidades d e alternativas de desenvolvi- b u i ç ã o d o r e n d i m e n t o s o b r e a s estruturas de
m e n t o e c o n ó m i c o . Talvez seja m e s m o a ú n i - c o n s u m o " (Abias, 1 9 9 1 : 50J.
c a a l t e r n a t i v a real p a r a o c r e s c i m e n t o d e t a i s S e s s a (1983) a p l i c a a t e o r i a d o s p ó l o s d e
regiões. c r e s c i m e n t o d e P e r r o u x ao s e c t o r d o t u r i s m o ,
A grande maioria das actividades e servi- introduzindo o conceito de pólos turísticos e
ç o s que constituem o produto turístico estão explicitando a sua importância no desenvolvi-
l i g a d o s , regra g e r a l , a u m a a t r a c ç ã o natural m e n t o regional.
o u c u l t u r a l . Este c o n j u n t o d e a c t i v i d a d e s per- Para o referido autor, o p ó l o t u r í s t i c o é for-
m i t e a realização d o p r o d u t o t u r í s t i c o a t r a v é s m a d o por u m conjunto de unidades motrizes,
da actividade produtiva dos serviços. Desta s o b r e t u d o as empresas hoteleiras, que, pela
f o r m a , o s b e n s naturais e c u l t u r a i s t o r n a m - s e sua a c ç ã o , apresentam efeitos sobre t o d a s as
directamente produtivos, participando no pro- outras actividades produtivas, tais c o m o as
c e s s o geral d e e x p a n s ã o d a e c o n o m i a . comerciais, de animação e desportivas.
O sector d o turismo representa u m c o n - "A instalação d e pólos turísticos e m re-
junto de actividades produtivas interdepen- giões d o t a d a s d e u m a atracção natural, q u e
dentes, estando ligadas aos restantes sec- se encontra, habitualmente, fora d o s pólos
tores da economia, nomeadamente o das urbanos e industriais, determina o c o n h e c i d o
indústrias transformadoras, d o comércio, d o e f e i t o d e " c o m p e n s a ç ã o e c o n ó m i c a " . Este é
artesanato, dos serviços públicos, dos trans- u m e f e i t o territorial, e p o r t a n t o , m a c r o - e c o n ó -
portes e d o sector primário. m i c o , p o d e n d o d e t e r m i n a r u m equilíbrio e c o -
O t u r i s m o c o n s t i t u i u m f e n ó m e n o social e n ó m i c o e n t r e d u a s z o n a s d e u m país: a u r b a -
económico que se manifesta claramente no es- n i z a d a e industrial d e u m l a d o , e a t u r í s t i c a d e
p a ç o . O s e u c a r á c t e r territorial, s e g u n d o Ivars outro. O fluxo monetário derivado dos fluxos
(2003: 17), é revelado pela " d e s l o c a ç ã o de t u r í s t i c o s p e r m i t e inserir e s t a s z o n a s " e x t e r -
p e s s o a s d e s d e o s e u lugar d e r e s i d ê n c i a p a r a nas" no processo de expansão acelerada do
espaços que reúnem determinadas condições r e s t o d o p a í s . " (Silva, 2 0 0 4 : 3 3 3 )
O turismo é visto como um motor de de- uma propensão acrescida de consumos e de
senvolvimento regional, contribuindo para o poupança, as empresas situadas no próprio
atenuar dos desequilíbrios regionais, dentro pólo terão condições de realizar maiores in-
de um determinado país desenvolvido, em vestimentos, os quais poderão ser efectua-
particular entre os centros metropolitanos dos, absorvendo a maior poupança resultan-
e as áreas periféricas. Por outro lado, o pa- te de todo o processo, com uma tendência
pel do turismo no desenvolvimento pode ser progressiva. Novos rendimentos surgirão por
considerado no contexto dum mundo dividi- causa dos novos investimentos. Estes produ-
do em países mais e menos desenvolvidos. zem impulsos sobre os rendimentos e sobre a
Nesta perspectiva, a hipótese que se coloca poupança. E os mecanismos multiplicadores
é a de que o desenvolvimento de projectos dos rendimentos e dos investimentos intera-
turísticos, no segundo grupo, pode atenuar as gindo entre si e determinando, também, uma
assimetrias existentes entre eles. modificação importante sobre as diferentes
Alguns autores referem-se a esta teoria propensões humanas, causam um acréscimo
como a "dispersão do desenvolvimento para dos rendimentos, do consumo, de poupança,
as regiões não-industrializadas" (Bryden, 1973: do investimento, e, novamente, dos rendi-
72). De acordo com o ponto de vista clássico, mentos" (Sessa, 1983: 46).
o turismo "tende a distribuir o desenvolvimen- Contudo, é também importante conside-
to para fora dos centros industriais em direc- rar o papel do turismo no desenvolvimento
ção àquelas regiões que dentro do país se en- económico regional, nos países desenvol-
contram menos desenvolvidas" (Peters, 1996, vidos. Neste caso, as despesas realizadas
cit. in Williams & Shaw, 1998: 12). pelos turistas provenientes desses mercados
Embora ambos os domínios (regional e emissores, situados em países desenvolvi-
nacional) sejam postos em destaque pela dos, dirigem-se, principalmente, para os paí-
contribuição do turismo para o desenvolvi- ses em desenvolvimento visitados, que são
mento, há algumas razões para os distinguir, regiões periféricas, ricas em atracções turís-
porque têm diferentes implicações para aque- ticas (naturais, culturais ou patrimoniais). Isto
le contributo. conduz à redistribuição do rendimento dos
Em primeiro lugar, ao nível nacional, a ati- países mais desenvolvidos pelas regiões re-
tude face ao turismo pode variar considera- ceptoras menos ricas. O aumento da procura
velmente entre os países menos e mais de- turística requer, por sua vez, uma produção
senvolvidos. Nos primeiros, o turismo ganha acrescida na região receptora, estimulando
uma maior importância, por exemplo, em ter- novas actividades directamente relacionadas
mos da sua contribuição para o Produto In- com o turismo, bem como aumentos na pro-
terno Bruto (PIB), pelo que o desenvolvimento dução de fornecedores indirectos e a criação
do turismo é muitas vezes suportado por uma de novos empregos, que, por sua vez, gera-
política nacional de turismo. Nos países de- rão novos rendimentos, novos consumos e
senvolvidos, contudo, podem existir outras novos investimentos em actividades que for-
indústrias ou serviços com potencial para ge- necem estas últimas. Assim, em teoria, o ren-
rarem maior valor acrescentado. Assim, pode dimento nacional per capita, dentro da região
não existir uma política específica de turismo, receptora, aumenta. Ao mesmo tempo, e se
ou seja, o desenvolvimento turístico pode ser tudo o mais permanecer constante, dar-se-
uma vertente das políticas de desenvolvimen- -á uma redução do consumo final nos países
to regional ou industrial (Keller, 1999: 2). de residência dos turistas, diminuindo o ritmo
Neste sentido, o consumo turístico vai do crescimento económico. Quer dizer, como
causar impactos sobre o rendimento nacio- resultado do consumo turístico, as diferenças
nal. Estes efeitos resultam dos mecanismos relativas, no rendimento per capita, entre as
subjacentes ao multiplicador do turismo: regiões de entrada e de saída, regiões menos
e mais desenvolvidas, tornam-se menores.
"Do momento em que o investimento tu-
rístico inicial determina (através da despesa A visão clássica argumenta que o turismo
dos turistas e dos efeitos multiplicadores in- contribui para a convergência do desenvolvi-
fluentes sobre o rendimento dos habitantes), mento económico.

REVISTA TURISMO & DESENVOLVIMENTO 103


RT&D

No entanto, embora o turismo tenha, tra- zona ou região (Goded S., 1998: 145). Trata-
dicionalmente, favorecido as áreas mais po- se de custos de longo prazo, que limitam o
bres, as recentes transformações na procura potencial de crescimento futuro da zona - a
turística internacional e nos investimentos construção e manutenção das infra-estrutu-
têm beneficiado os países e regiões mais ri- ras básicas, problemas de tráfego, contami-
cas (Williams & Shaw, 1998: 13). A rápida nação das praias, destruição das paisagens
expansão dos novos segmentos da procura naturais, etc.
turística, tais como o turismo urbano, o turis- Para muitos autores, a defesa do papel
mo cultural e o turismo de parques temáticos, do turismo como estimulador do crescimento
favorece os destinos que são relativamente económico, só é uma estratégia considerada
acessíveis às maiores áreas metropolitanas. válida se se revelar favorável em termos c o m -
Além disso, a interpretação da relação entre parativos relativamente às restantes activida-
turismo e desenvolvimento, baseada num des produtivas possíveis e passíveis de se-
mundo dividido em países (ou regiões) de- rem desenvolvidas na região. Mais uma vez,
senvolvidos e em vias de desenvolvimento, Goded Salto defende que não é o turismo
pode também ser criticada. Por exemplo, ne- que fomenta o desenvolvimento de um país
gligencia o facto de que, embora os países ou região atrasada, mas sim, o próprio nível
desenvolvidos possam auferir de montantes de desenvolvimento desse país ou região que
substanciais absolutos de despesas turísti- converte o turismo numa actividade favorável
cas, estas são, muitas vezes, relativamente ou não a este processo.
insignificantes como contribuição para o total
do Produto. Simultaneamente, o deficit da ba- Bibliografia
lança turística dos países desenvolvidos pode
Abias, L. A. de Q., 1991, "Efeitos do turismo no desen-
ser bastante elevado.
volvimento regional. Turismo em Análise", S. Paulo,
Assim, o turismo pode não constituir um v. 2, n° 1, pp. 42-52.
Bryden, J. M., 1973, "Tourism and development: a case
factor de convergência no desenvolvimento study of the Commonwealth Caribbean", London,
económico. Isto não quer dizer que o turismo Cambridge University Press.
Cooper, C , 2 0 0 1 , "Tourism: Principies and Practice".
não represente uma oportunidade de desen-
Harlow, Longman.
volvimento para os países menos desenvolvi- Fletcher, J., 1991, "Input-output analysis and employment
dos, ajudando ao seu crescimento económico multipliers, in T.Baum (ed.) Human Resource Issues
in International Tourism, Oxford: Butter worth
e a reestruturar as suas economias nacionais. - Heinemann, pp. 77-85.
Contudo, a capacidade do turismo se trans- Goded Salto, M., 1998, "El impacto dei turismo sobre o
formar num instrumento de desenvolvimento desarrolío económico: el caso de Argentina, tesis
doctorado em Economia Internacional y Desarrolío
depende do nível de desenvolvimento exis- - Madrid, Facultat de Ciências Económicas y
tente no país ou região de destino. Por outras Empresariales, Universitat Complutense.
palavras, não é só o nível de desenvolvimen- Ivars, J.A., 2003, "Olanificación turístico de los espacios
en Espana", Madrid: Síntesis.
to do sector turístico que é importante, mas Keller, P , 1 9 9 9 , " F u t u r e - o r i e n t e d t o u r i s m p o l i c y
também o grau de desenvolvimento dos ou- - synthesis of the 49 th AIEST Congress, Tourism
Review, 2-6.
tros sectores de economia.
Licokorish, L. J. e Jenkins, C. L , 2000, "Introdução ao
Tomando em linha de conta a dependên- Turismo", Rio de Janeiro, Editora Campus.
Oliveira, A. R, 2002, "Turismo e desenvolvimento", 4 ed.,
cia dos diferentes sectores que, dentro da S. Paulo, Editora Atlas.
a

economia receptora, deve estar envolvida na OMT, 2 0 0 1 , " C o o p e r a c i ó n entre los sectores público
satisfação da procura turística, é óbvio que as y privado. Por una mayor c o m p e t i t i v i d a d dei
turismo", Madrid,OMT.
economias mais desenvolvidas estarão em Sessa, A., 1983, "Turismo e política de desenvolvimento",
condições de ganhar mais e também de reter Porto Alegre, Uniontur.
mais destes ganhos, dentro da economia na- Silva, J. A. S., 2004, "Turismo, Crescimento e Desenvol-
vimento: uma análise urbano - regional baseada em
cional ou região. cluster, tese de doutoramento em Ciências da
Pode afirmar-se que, na perspectiva do de- Comunicação, S. Paulo, Universidade de S. Paulo.
Vera Rebollo, J. e Marchena Gomez, M., 1990, "Turismo y
senvolvimento regional, os benefícios econó- desarrolío: un planteamiento actual", Papers de
micos do turismo, para os países ou regiões de turisme, 3, pp. 58-84.
recepção em desenvolvimento, podem consti- Wanhill, S. 1997, "Peripheral area tourism. Progress in
Tourism and Hospitality Research 3, pp. 47-70.
tuir, muitas vezes, uma mera ilusão. Williams, A. e Shaw, G., 1998, "Tourism and uneven
É o caso de uma expansão mal planeada economic development", in Williams and G. Shaw
(eds), Tourism and Economic Development: European
ou não controlada do turismo que pode im- Experíences, 3 edn, Chichester, John Wiley and
rd

plicar outros custos para uma determinada Sons, pp. 1-16.

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