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Resumo | O turismo de negócios assume uma grande relevância no panorama internacional. Com uma representativi-
dade superior a 14% ao nível das chegadas e mais de 23% no que respeita ao total de receitas, este produto demonstra
um elevado dinamismo e potencial para a criação de riqueza a nível global, mas também a nível local. Sendo o turismo
de negócios apontado como um dos dez produtos turísticos estratégicos em Portugal, a presente investigação propõe‑se
analisar o seu desempenho no contexto português, bem como dar a conhecer as suas forças e fraquezas. Para tal, e ado-
tando uma metodologia qualitativa de natureza exploratória, foram inquiridas entidades com responsabilidades ao nível
deste produto. Confirmou‑se, desta forma, a relevância estratégica do turismo de negócios em Portugal, nomeadamente
em três regiões particulares – Porto e Norte, Lisboa e Algarve –, e foi possível averiguar que, embora detendo uma posi-
ção de relevo no panorama mundial, Portugal deve colmatar algumas necessidades primárias, nomeadamente a falta de
centros de congressos com maior capacidade ou a inexistência de ligações aéreas com países de extrema preeminência
no contexto dos negócios.
Palavras‑chave | Turismo de negócios, Meetings industry, Produto estratégico, Entidades de turismo, Portugal.
Abstract | Business tourism is one of the most important tourist products at the international level. Representing more
than 14% of international arrivals and more than 23% of the total tourist expenditure, this product is experiencing an
incredible dynamics and has potential to create wealth at national and local levels. Being business tourism one of the
ten tourism strategic products in Portugal, this work intends to evaluate its performance, as well as to provide insights
on its weaknesses and strengths. For this purpose, an exploratory study based on a qualitative approach was adopted,
targeting national, regional and local entities that are responsible for the development of this product. Results show that
these entities attach a strategic relevance to business tourism in Portugal, namely in three particular regions – North
of Portugal, Lisbon and Algarve – and it was possible to verify that Portugal, although holding a strong position at the
international level, needs to meet some basics needs, such as the existence of convention centers with greater capacity
and air connections with important generating countries for business tourism.
Keywords | Business tourism, Meetings industry, Strategic product, Tourism entities, Portugal.
aviação comercial (Marques & dos Santos, 2011), e de 1990, sendo esta apontada como um período de
pelo gradual investimento concretizado em infraes- grande expansão (Weber & Landkin, 2003), em que
truturas e equipamentos de suporte à atividade este sector foi responsável por, aproximadamente,
(Rogers, 2008). Simultaneamente, a década de 1960 25% do total das receitas geradas pela atividade
ficou igualmente marcada pelo aparecimento das turística (Owen, 1992).
primeiras organizações com implicações ao nível da Apesar da evidente relevância deste produto, é
organização de eventos de negócios de cariz interna- de referir a sua complexidade, devido à dificuldade
cional, nomeadamente, a International Congress and que resulta da sua delimitação. Isto é, por vezes é
Convention Association (ICCA) em 1963, a European difícil fazer uma distinção entre as viagens que se
Federation of Conference Tours (EFCT) em 1964 e a enquadram estritamente na esfera dos negócios e
International Association of Professional Congress as que se inserem no âmbito do turismo. Importa,
Organizers (IAPCO) em 1968 (Weber & Chon, 2002). portanto clarificar o conceito, o qual se reveste de
Estes e outros desenvolvimentos subsequentes leva- grande subjetividade, sendo que se apresentam as
ram o sector dos negócios a apresentar elevadas ta- visões comumente aceites na literatura.
xas de crescimento, especialmente durante a década
O turismo de negócios pode ser dividido, num contexto mais generalizado, numa ver-
Lawson (1982) tente de viagem individual e, por outro lado, em viagens de grupos organizados (esta Business tourism
última composta por conferências, congressos, feiras ou exibições).
De acordo com o quadro 1, não só existem particular de departamentos específicos, cuja di-
diferentes perceções acerca do que se entende por mensão é bastante variável. Abrangem reuniões
turismo de negócios, como também não existe unifor- e viagens de incentivo.
midade no que respeita à terminologia a adotar. Ainda
assim, é possível retirar um elemento comum e funda- Embora esta ordenação de conceitos transmita
mental para a compreensão do turismo de negócios: uma ideia de um subsector do turismo devidamente
as viagens de cariz individual e as viagens coletivas. organizado, a verdade é que é neste particular que o
Tal como descreve Rogers (1998), as viagens de turismo de negócios se reveste de grande complexi-
negócios individuais – individual business travel ou dade. A literatura destaca, inúmeras vezes, a inexis-
corporate travel – são as que se efetuam no próprio tência de terminologia tipificada, o que significa que
país, ou para o estrangeiro, por necessidades profissio- o conceito se funde num princípio dogmático e não
nais. No fundo, são deslocações realizadas no sentido padronizado (Marques & dos Santos, 2011; Rogers,
de concretizar funções necessárias à profissão e que, 1998, 2008; UNWTO, 2006). Já anteriormente refe-
por conseguinte, apresentam um carácter regular rida, a designação MICE foi adotada e aceite pela
(como exemplo ilustrativo, Davidson e Cope (2003) comunidade durante um largo período de tempo. No
identificam os jornalistas e investigadores, cujas ações entanto, a identificação de algumas desvantagens,
se desenrolam em eventos descritos como apresenta- como por exemplo, o facto de “apresentar a indús-
ções, investigações ou reuniões one‑to‑one). tria como um conjunto de partes distintas entre si e
Por sua vez, as viagens de carácter coletivo, tal não de uma forma holística” (UNWTO, 2006, p. 18),
como o nome indica, implicam a deslocação de um precipitou a alteração da designação deste tipo de
grupo de empresários e apresentam um cariz mais viagens. Neste seguimento, foi adotada, em 2007,
complexo. Designada, usualmente, por Meetings, a designação Meetings Industry (MI), submetida no
Incentive, Conventions and Exhibitions (MICE) (Del 35º Congresso da ICCA (Delgado, 2007).
Chiappa, 2012), Meetings Industry (UNWTO, 2006) Posto isto, importa sintetizar a informação apre-
ou Business Tourism (Davidson & Cope, 2003; Ro- sentada, como forma de compreender o conceito de
gers, 1998), esta categoria de viagem, embora com MI na sua globalidade. Assim, a composição do seg-
variações relacionadas com a sua própria nomen- mento de negócios apresenta‑se da seguinte forma:
clatura, envolve eventos enquadrados em reuniões i) Eventos corporativos
e conferências, viagens de incentivo, congressos a. Reuniões e conferências: eventos de negócios
ou convenções, feiras ou exposições e eventos cor- que englobam conferências, seminários, lan-
porativos (Davidson & Cope, 2003; Marques & dos çamento de produtos ou assembleias‑gerais
Santos, 2011; Rogers, 1998). anuais. Proporcionam os momentos ideais para
Esta última referência abre espaço para a refle- que as organizações coloquem em prática os
xão sobre duas tipologias de eventos que se enqua- processos de comunicação entre funcionários,
dram no campo das viagens de negócios coletivas clientes, stakeholders e outros potenciais inte-
– os eventos corporativos e os eventos associativos ressados (Davidson & Cope, 2003).
(ICCA, 2012; MEE, 2013): b. Viagens de incentivo: Rogers (2003) descreve
i) Eventos associativos: eventos de associações estas viagens como um dos instrumentos
(organizações governamentais e não governa- mais úteis para motivação e/ou recompen-
mentais) que envolvem um considerável número sa dos funcionários de uma organização.
de participantes. Englobam congressos e con- Concretamente, as viagens de incentivo são
venções, assim como, feiras e exposições; experiências de recreio que premeiam deter-
ii) Eventos corporativos: reuniões de empresas, em minados funcionários que se destacaram no
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seio da organização por alcançar objetivos grupos sociais ou económicos, cujo propósito
propostos pela administração (Davidson & visa informar os participantes sobre um acon-
Cope, 2003; Ricci & Holland, 1992). tecimento particular e, consequentemente,
ii) Eventos associativos deliberar sobre o mesmo e alcançar consenso
a. Feiras e exposições: regra geral, são eventos entre os participantes (OOPEC, 1992).
assentes na apresentação, por parte das
empresas, de bens e/ou serviços ou material Face ao exposto, foi delineada uma estrutura
promocional, com diferentes finalidades, tais que evidencia a organização do turismo de negó-
como de marketing, venda ou criação de rela- cios adotada nesta investigação (Figura 1). Importa
ções com potenciais clientes. Desenvolvem‑se esclarecer os conceitos adotados e a referenciar nas
em espaços abertos ao público, só a profissio- próximas secções:
nais ou a ambos os segmentos (ATA, 2010; - Turismo de negócios que se refere ao sector na
Davidson & Cope, 2003; UNWTO. 2006). sua globalidade, referindo‑se às componentes
b. Congressos e convenções: os congressos da oferta e da procura (viagens de negócios
são, usualmente, considerados como eventos individuais e coletivas) e, por essa razão,
onde participam centenas ou milhares de compreendido como um conceito ‘chapéu’
indivíduos com uma ligação profissional ou (Marques & dos Santos, 2011).
cultural semelhante. Regra geral, tem uma - Meetings Industry que designa as viagens de
duração extensa e pode, ou não, ser acompa- carácter coletivo, e que congregam as tipologias
nhado por sessões paralelas. Por seu turno, dos eventos anunciadas anteriormente: reuniões
as convenções são entendidas como reuniões ou conferências, viagens de incentivo, eventos
ou assembleias de um órgão legislativo, ou de corporativos, e feiras ou exposições.
Turismo de Negócios
Oferta Procura
Convention Bureaux
Individual Coletiva (Meetings Industry)
Centros de Congressos
Universidades
Associativo Corporativo
Hotéis
Meeting Planners
Outros equipamentos
de apoio
Congressos Reuniões
Feiras e Viagens de
Exposições Incentivo
Quadro 2 | Contextualização da oferta turística nos principais destinos de negócios em Portugal (cont.).
Região Porto e Norte Lisboa Algarve
A região do Porto e Norte caracteriza‑se por ser um las características que lhe são inerentes – clima ameno
centro económico e empresarial de renome, quer no durante o ano, qualidade da gastronomia tradicional
contexto nacional como internacional, e dispõe de um e diversidade da oferta turística de lazer – apresenta
vasto conjunto de venues4 orientadas para eventos de um grande potencial enquanto destino passível de
negócios, fatores que posicionam a região como o se- congregar, com maior facilidade, as vertentes de ne-
gundo maior destino de negócios em Portugal (ICCA, gócios e lazer.
2012; PNP, 2008). Por sua vez, Lisboa assume maior
protagonismo por ser o destino de eleição, em territó- 4.2.2. Procura
rio nacional. Neste sentido, a estratégia é orientada
para o reconhecimento e projeção internacional desta Para a análise da procura turística de negócios
região enquanto destino de turismo de negócios (MEE, procurou‑se sintetizar a informação, com o propósito
2013). Sem que seja possível efetuar uma análise de apresentar, em termos comparativos, as caracte-
quantitativa da oferta vocacionada para a MI, Lisboa rísticas de maior e menor heterogeneidade entre os
apresenta uma rede de infraestruturas de qualidade, destinos considerados (Quadro 3).
com uma oferta variada de serviços especializados e 4
Local propício à organização de um qualquer evento (Collin,
tecnologia adequada. Por último, a região algarvia, pe- 2006).
Uma breve análise ao quadro 3 permite com- idênticos quando comparados entre si, motivando
preender o peso significativo que o turismo de uma análise aprofundada apenas o caso de Lisboa
negócios apresenta nas regiões do Porto e Lisboa, que evidencia diferenças consideráveis ao nível da
superior a um quarto da procura turística global, estada e gasto médio.
onde o mercado alemão se destaca por ser comum Paralelamente, e como critério de conveniência,
aos três destinos. Neste seguimento, um dos aspetos pela ausência de dados sobre o mercado na sua
que merece realce é, precisamente, a existência de globalidade, foram considerados dados referentes ao
diferenças ao nível dos mercados‑alvo de cada re- mercado associativo (Quadro 4), com o propósito de
gião de destino, sustentando as teses que apontam traduzir, de forma quantitativa, a procura turística de
estes destinos como ‘não concorrentes’. À excepção negócios em Portugal.
deste caso, todos os restantes indicadores são
Verifica‑se que Portugal foi responsável pela dade, na ordem dos 80%, quer ao nível das receitas,
organização de 213 eventos associativos em como das dormidas do segmento de negócios, num
2012, o que se traduziu numa quebra face a 2011 contexto nacional; enquanto o turismo de negócios
e, como tal, à perda de três lugares no ranking representa, para a cidade, aproximadamente 35%
mundial. Ainda assim, importa referir que, desde do total das receitas turísticas5 (Carvalho, 2012).
2000, Portugal tem mantido um registo bastan- Numa última análise, de salientar o facto de Por-
te positivo, ao assumir uma posição no ranking tugal apresentar grandes potencialidades no âmbito
mundial dos 20 maiores países organizadores de das viagens de incentivo (ATA, 2009). Isto porque, de
eventos associativos. acordo com Charles Petruccelli6, Portugal “dispõe de
Focando atenções para os destinos nacionais, atrações naturais, cultura e história fortes, um clima
ganha expressão a cidade de Lisboa, destacando- ameno, boa segurança e estabilidade política”, o
‑se por organizar, desde 2000, cerca de 50% da que, consequentemente, “torna o país num destino
totalidade das reuniões/conferências solicitadas em muito atrativo, com uma relação qualidade/preço
Portugal. A importância de Lisboa cresce, exponen- muito boa” (Esteves, 2012, s.p.). Entende‑se, pelas
cialmente, quando se destaca a sua representativi- informações apresentadas, as potencialidades do
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i. Organização de excelência;
i. Investimento em novas infraestruturas e ii. Qualidade da Oferta Hoteleira;
equipamentos de maior capacidade; iii. Ligações aéreas;
ATL
ii. Acessibilidades para os equipamentos; iv. Clima;
iii. Oferta hoteleira walking distance. v. Segurança;
vi. Destino friendly.
Com base nos pontos de vista das entidades as vertentes de negócios e de lazer numa só via-
inquiridas, concluiu‑se que tanto Lisboa como o gem. Paralelamente, um dos principais benefícios
Porto usufruem de uma oferta capaz de satisfazer, prende‑se com a proximidade a outros centros
na plenitude, a exigência do segmento de negócios. urbanos de relevo no panorama turístico, tais como
No entanto, Lisboa destaca‑se, sendo o destino de Sintra e Cascais. Este facto permite apelidar o des-
negócios de excelência em Portugal, essencialmen- tino de “cidade resort”, ou seja, “em que tem aqui
te por apresentar as características consideradas [em Lisboa] o núcleo, mas depois pode‑se andar à
fundamentais para o desenvolvimento deste tipo volta e realizar outras atividades. [...] Acho que é o
de turismo, nomeadamente (representante do mix ideal para este tipo de turismo.” (representante
Turismo de Portugal, comunicação pessoal, 17 de do Turismo de Portugal, comunicação pessoal, 17
setembro 2013): de setembro 2013).
i) Boas acessibilidades, sobretudo aéreas, com Por seu turno, as outras regiões são destinos
destaque para as ligações das companhias de de turismo de negócios que carecem, ainda, de
‘bandeira’, que disponibilizam voos regulares; algum desenvolvimento, para almejarem atingir o
ii) Infraestruturas físicas de qualidade e serviços nível de Lisboa. Em primeiro lugar, o Porto e Norte
de categoria superior; não dispõe das mesmas valências no que respeita
iii) Skills e experiência dos recursos humanos que à diversidade e qualidade da oferta. Por outro lado,
contactam diretamente com os turistas de fica aquém das necessidades em matéria de acessi-
negócios. bilidades aéreas, face à escala mais reduzida de ca-
pacidade do aeroporto Sá Carneiro e das menores
E estas características estão bem patentes nos ligações aéreas diretas (representante do Turismo
‘aspetos diferenciadores’ que elevam Lisboa ao de Portugal, comunicação pessoal, 17 de setembro
patamar de destino de negócios de referência em 2013). Já a região do Algarve, por si, revela gran-
Portugal. Na primeira linha, o aeroporto e as liga- des obstáculos ao desenvolvimento deste produto,
ções aéreas diretas que mantém com os principais verificados ao nível da inexistência de voos diretos
mercados internacionais, bem como a proximidade com algumas cidades específicas – Dusseldorf (Ale-
deste com o centro da cidade; ao mesmo nível, a manha), Madrid (Espanha) e Londres (Reino Unido)
diversificada oferta hoteleira de categoria superior –, o que condiciona as viagens de negócios prove-
(4 e 5 estrelas) que se apresenta como “muitíssi- nientes destes importantes mercados; e à ausência
mo competitiva” face à qualidade e acessibilidade de salas de reuniões de grande capacidade, capa-
(representante da ATA, comunicação pessoal, 23 de zes de organizar eventos com mais de 1.000/1.500
setembro 2013); em simultâneo, Lisboa conta com participantes (representante da ATA, comunicação
diversas empresas de qualidade, no que respeita pessoal, 23 de setembro 2013; representante do
à prestação de serviços de apoio, nomeadamente, Turismo de Portugal, comunicação pessoal, 17 de
empresas de equipamentos e tecnologias, ilumi- setembro 2013). Contudo, o Algarve apresenta‑se
nações, catering, entre outros; depois, o destino como um destino com grande potencial ao nível
apresenta uma capacidade ímpar em termos de dos incentivos, onde o produto sol e mar é motivo
organização de eventos, essencialmente pela de grande interesse.
qualidade dos recursos humanos e diversidade de Em síntese, recai sobre Lisboa e Porto o título
venues; por último, o clima, a segurança e outros de principais destinos de negócios em Portugal,
recursos turísticos de relevo, como o património, a com especial destaque para a capital portugue-
paisagem e eventos culturais, revestem Lisboa de sa. Por seu lado, o Algarve mostra excelentes
grande complementaridade, ao permitir conjugar capacidades no desenvolvimento do segmento
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de incentivos, sendo esse o principal aspeto dife- conhecimento e tecnologia; atração de novos
renciador em comparação com os demais destinos visitantes e investimento relacionado.
nacionais. Ainda neste contexto, o Turismo de
Portugal reserva especial atenção para a região Um dos principais benefícios intrínseco ao
algarvia, dado que têm sido desenvolvidos esfor- desenvolvimento de eventos associativos e/ou
ços no sentido de aumentar as operações aéreas corporativos, está, efetivamente, relacionado com
para a região, com o intuito de aumentar os fluxos a contribuição para atenuar o fenómeno da sa-
turísticos e, assim, potenciar o crescimento do zonalidade, tão característico em Portugal. Neste
segmento de negócios. particular, a região algarvia, cuja procura turística
se concentra, fundamentalmente, no produto sol
e mar, compreende o turismo de negócios como
5.2. Potenciais benefícios do turismo de um produto capaz de diversificar a oferta turística
negócios da região e de orientar parte da procura para as
épocas média e baixa (Quadro 6). Esta visão é,
Concretizada a análise global sobre a posição igualmente, partilhada pelo Turismo de Portugal
do turismo de negócios no território português, para o contexto nacional, qualificando‑a como “a
interessa analisar os benefícios, potenciais e re- grande vantagem” do segmento MI, essencialmen-
conhecidos, inerentes ao produto em questão. O te, por contribuir para a distribuição da procura
levantamento teórico concretizado na fase inicial turística ao longo do ano e, com isso, “tornar o
da investigação permitiu concluir que o turismo de sector do turismo mais sustentável”. Por seu turno,
negócios gera, fundamentalmente, dois grandes com um sector mais compacto, as empresas, direta
conjuntos de benefícios, num contexto nacional, e indiretamente ligadas à atividade turística, veem
regional e local (Davidson & Cope, 2003; JMIC, aumentar a possibilidade de garantir receitas du-
2011; Kim, Chon & Chung, 2003; Rogers, 2008; rante um período de tempo mais alargado. Como
Weber & Chon, 2002): consequência deste facto, a tarefa de manter os
i) Benefícios económicos: aumento das receitas seus funcionários praticamente todo o ano, e não
turísticas; desenvolvimento de novos negócios; exclusivamente durante a época alta, tornar‑se
criação e manutenção de emprego; aumento viável. Per se, esta condição de empregabilidade
dos gastos turísticos diários e totais; traria consigo outros benefícios socioeconómicos
ii) Benefícios não‑económicos: melhoria da imagem e contribuiria para uma sequência em cadeia de
do destino; incentivo às relações empresariais; acontecimentos positivos, tanto para o destino e
promoção internacional do destino; diminuição para a população, como para a própria experiência
da sazonalidade; promoção da transferência de do turista.
Quadro 6 | Relatos das perspetivas das entidades face aos benefícios inerentes ao turismo de negócios.
Entidades Perspetivas
“Desde logo ao nível das receitas. Depois [...] ajuda a distribuir a procura turística ao longo do ano e a tornar
Turismo de Portugal o sector do turismo mais sustentável, o que é bom para as empresas, não têm receitas só no verão e passam
a ter receitas ao longo do ano.”
“Porque se conseguíssemos reduzir a sazonalidade, haveria emprego todo o ano para as pessoas e acaba
por ser uma bola de neve. E esta é a grande dificuldade do Algarve, neste momento. É precisamente o facto
ATA de termos uma enorme sazonalidade, o que faz com que muitas pessoas tenham trabalho durante 6, 7 ou
8 meses num ano. E este segmento [MI] é um segmento que tem muito impacte a nível económico e que
consegue esbater esses problemas a nível social.”
Fonte: Elaboração própria com base nos representantes da ATA (comunicação pessoal, 23 de setembro 2013) e do Turismo de Portugal (comunicação pessoal, 17 de setembro 2013).
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Perante os factos enunciados, destacam‑se duas inerente aos turistas de negócios faz com que os
mais‑valias associadas à atração e organização de organismos e entidades que com eles contactam
eventos de negócios, seja no que concerne à atenua- elevem o seu patamar de qualidade, proporcionem a
ção da sazonalidade nos destinos, como à promoção melhor experiência possível e identifiquem os fatores
da melhoria de vida das populações locais, vantagens de sucesso, bem como aqueles com desempenho
às quais se acrescenta o potencial contributo para as inferior (representante do Turismo de Portugal, comu-
empresas do destino tanto ao nível do aumento das nicação pessoal, 17 de setembro 2013).
receitas, como da criação de emprego (Quadro 6). Este elevado grau de ‘exigência’ por um serviço
Enquadrado nesta série de impactes positivos, o específico e a capacidade de o proporcionar reme-
segmento MI em Portugal revela, igualmente, uma te‑nos para a experiência e a satisfação da visita. A
participação significativa ao nível das receitas turís- satisfação com a oferta do destino, assim como o
ticas (representante da ATA, comunicação pessoal, sucesso da visita, promovem o gosto pelo destino
23 de setembro 2013; representante do Turismo e aumentam a probabilidade do turista de negócios
de Portugal, comunicação pessoal, 17 de setembro regressar sob pretexto de lazer. Paralelamente, o
2013). Regra geral, o turista que viaja por motivos de potencial regresso ocorre com um grupo de via-
negócios tem uma despesa diária superior, logo gera gem distinto, geralmente familiares e/ou amigos, o
mais receitas. Por outro lado, independentemente do que potencia, a posteriori, a promoção externa do
período de estada, consegue, na grande maioria dos destino (Quadro 7). Desta forma, todos os sectores
casos, superar a despesa total média do segmento paralelos ao turismo, e não só, veem‑se enquadra-
de lazer e, inclusive, do segmento golfe (represen- dos numa matriz capaz de potenciar receitas, bem
tante do Turismo de Portugal, comunicação pessoal, como o contínuo funcionamento das atividades. A
17 de setembro 2013). par destas disposições, o turismo de negócios surge
Ainda neste contexto, retiram‑se mais duas associado a momentos de lazer que, regra geral,
conclusões adicionais. A primeira relacionada com a servem de complemento aos eventos associativos e/
gradual melhoria dos serviços prestados ao segmento ou corporativos. Desta forma, este segmento emerge
MI, em termos qualitativos e quantitativos, fenómeno como catalisador e motor de atividades terceiras,
causado pela sofisticação que caracteriza os turistas face ao interesse e disposição em participar nas
de negócios. Ou seja, o elevado grau de exigência mesmas (Quadro 7).
Quadro 7 | Relatos das perspetivas das entidades face aos potenciais impactes positivos do turismo de
negócios.
Entidades Perspetivas
“[...] são turistas mais exigentes e obrigam a prestar um serviço de maior qualidade e mais cuidado e isso é bom,
faz‑nos crescer.”
“[...] são turistas que ao virem e terem uma boa experiência, vão querer voltar com a família, amigos[...] Portanto,
Turismo de passa‑a‑palavra, também é bom em termos de promoção do turismo de lazer.”
Portugal
“Depois dinamiza [...] museus, salas de espetáculos, espaços culturais públicos e privados. E tem um impacte muito
grande em empresas colaterais ao sector do turismo, por exemplo, aluguer de equipamentos de som e imagem,
empresas de catering e animação [...]”
“[...] a ideia é que existam sinergias entre o lazer e o turismo de negócios [...]. Porque isto envolve tudo – compa-
ATL nhias aéreas, transportes locais, os hotéis, restaurantes, o comércio tradicional [...], tudo o que ‘mexe’ na cidade
é afetado positivamente por estes eventos.”
“Imagine, um cliente só (!), pode trazer um grupo de mil pessoas e isso tem um impacte económico brutal. Imagine
ATA Vilamoura, este mês vai acolher um evento equestre, são esperadas cerca de 600/700 pessoas [...] a nível de
economia local tudo funciona [...].”
Fonte: Elaboração própria com base em representante da ATA (comunicação pessoal, 23 de setembro 2013); representante da ATL (comunicação pessoal, 24 de outubro 2013)
representante do Turismo de Portugal (comunicação pessoal, 17 de setembro 2013).
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Workshops em
Portugal e no
estrangeiro
Visitas de
Inspecção Relações públicas
Reuniões entre
Fam Trips Road Shows
buyers e
associados
Participação Publicidade em
em feiras revistas e redes
internacionais sociais
‘Super-incentivo’ Convite de
jornalistas
Participação em
certames ‘Porta-a-Porta’
especializados
Fonte: Elaboração própria com base nos representantes da ATA (comunicação pessoal, 23 de setembro 2013), da ATL
(comunicação pessoal, 24 de outubro 2013) e do Turismo de Portugal (comunicação pessoal, 17 de setembro 2013).
condições favoráveis e competitivas para a atração duto estratégico e a sua ‘comercialização’ assenta,
de congressos internacionais de grande dimensão. fundamentalmente, em três regiões: Porto e Norte,
Consequentemente, esperava‑se que este contri- Lisboa e Algarve. Lisboa é o destino português de
buísse para o reforço da posição de Portugal neste eleição, com uma orientação estratégica distinta
segmento, o desenvolvimento de infraestruturas de dos restantes, sendo considerada “a montra do país
apoio, a competitividade dos organismos regionais no segmento” Carvalho (2012, p. 2). A nível global,
e dos próprios destinos, a captação de receitas turís- e embora a oferta turística de Portugal não se equi-
ticas e o aumento do volume de visitas nas épocas pare, por vezes, à dos principais destinos mundiais,
baixa e média (Neto, 2010;). a mesma consegue ser bastante competitiva, uma
afirmação sustentada no facto de Portugal se manter
no ranking dos 20 principais destinos de eventos
associativos, tendo garantido o 17º lugar, em 2012.
6. Conclusão Como resultado deste desempenho positivo, o
turismo de negócios, em especial o segmento MI,
O turismo de negócios, como conceito ‘chapéu’ tem revelado um contributo positivo para o contexto
que é, engloba o conceito da MI. Por sua vez, este turístico e económico em Portugal. Em particular, os
último compreende dois mercados distintos – asso- turistas de negócios, por apresentarem gastos supe-
ciativo e corporativo –, sendo o primeiro aquele que riores a outros segmentos, contribuem para o cres-
merece maior reflexão por parte da academia. O cimento das receitas do turismo. Mas a sua posição
turismo de negócios posiciona‑se como um produto vai além dos contributos económicos, sendo motivo
de excelência na generalidade dos destinos que o de destaque pela organização de eventos fora da
elegem como produto prioritário e/ou estratégi- época alta (com reflexos positivos na diminuição da
co, representando a terceira maior motivação de sazonalidade); pela dinamização dos locais em que
viagem, atrás do lazer e do conjunto das outras se organizam esses eventos; pela envolvência com
motivações (‘visita a amigos e familiares’, ‘saúde’, outras componentes, nomeadamente a cultural e o
‘religião’ e ‘outros’). lazer; e pelo efeitos positivos junto da população,
Diante destes aspetos, as vantagens dos destinos que se materializam em termos da criação de em-
em orientar e desenvolver a oferta turística para o prego e ativação da economia local.
segmento de negócios são diversas, nomeadamente Ainda assim, Portugal perde a organização de
o aumento das receitas turísticas, face aos elevados eventos, para destinos concorrentes, por questões de
gastos deste tipo de turistas; a criação e manutenção detalhe. E isto porque existem necessidades primor-
dos postos de trabalho; a atenuação dos efeitos da diais que devem ser satisfeitas, seja ao nível de centros
sazonalidade; e o desenvolvimento de novas formas de congressos com maior capacidade ou de ligações
de negócio. Em suma, o turismo de negócios, pelas aéreas com países de extrema preeminência no con-
características que apresenta, destaca‑se por ser um texto dos negócios, desafios estes que devem ser acau-
motor das economias locais, mas gera, igualmente, telados para que Portugal se possa manter competitivo
efeitos positivos a nível social. e figurar entre os principais destinos de turismo de
Trata‑se de um mercado que tem vindo a registar negócios. Neste sentido, Portugal dispõe das condições
taxas de crescimento contínuas, tanto a nível eu- necessárias para se tornar num destino de excelência,
ropeu, como mundial, o que acaba por influenciar, apostando na oferta diversificada e competitiva, à qual
ainda que de forma indireta, o desempenho de deve aliar outras características que lhe são intrínsecas,
Portugal enquanto destino turístico. Neste quadro, como a excelente relação qualidade/preço e a oferta
o turismo de negócios é perspetivado como pro- complementar ao turismo de negócios.
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