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ENTREVISTA

Rita Marques - SET CADERNO ESPECIAL

RUMO À RETOMA: 2020:


RESISTIR, INOVAR
E ACREDITAR
O ANO DO
SURTO DE
COVID-19

CADERNO ESPECIAL
Promoção
Online de
Destinos
TENDÊNCIAS
Turísticos
Internet
of Things
no turismo

Destaque

O TURISMO
E O DESAFIO DA
SUSTENTABILIDADE
EDITORIAL 3

que seria o fim do turismo e das empresas que o


integravam. Mas a resposta refletiu-se numa série de
anos de crescimento nunca antes visto, tendo, este
boom, resultado mesmo em alguns problemas sé-
rios, os quais urgia resolver.

Perante este cenário, e porque acreditamos que


pode haver sempre um lado positivo em todos os
desafios que nos são colocados, cremos que o relan-
çamento do turismo traz novas oportunidades. No
IPDT acreditamos que a resposta não residirá no re-
gresso a um modelo de crescimento intensivo, mas
sim, num modelo seletivo, assente numa forma de
Turismo Positivo, em que os destinos turísticos se
apresentem como “mais autênticos, mais solidários,
ANTÓNIO JORGE COSTA
PRESIDENTE _ IPDT mais sustentáveis”.

Para tal, é fundamental planear a estratégia de cres-

14ª edição do anuário de cimento e comunicação. No momento da retoma,


as marcas que apostaram numa comunicação con-

tendências "turismo'20" tínua, positiva e assertiva durante o interregno, vão


merecer a confiança dos seus clientes e dos princi-
pais mercados emissores, dando sinais de que estão
É lançada em versão digital e traz preparados para os voltar a receber.
um conjunto de reflexões sobre o
Perante este cenário, o anuário Turismo’20
momento complexo que vivemos.
tem como temática principal a gestão de
A pandemia de COVID-19 trouxe crises e as soluções para a retoma, contando
a oportunidade de se projetar um com um caderno especial inteiramente
novo modelo de desenvolvimento dedicado ao tema, que é enquadrado por um
artigo de opinião da Secretária de Estado do
dos destinos turísticos. Turismo, Rita Marques, que apresenta uma
visão geral sobre os desafios atuais e futuros
No início deste ano, os dados não enganavam: 2020 do ecossistema turístico.
seria o melhor ano de sempre em termos turísti-
cos, com os números a superarem o histórico ano Esta pandemia obrigou a um longo período de iso-
de 2019. Esta previsão confirmava o Turismo como lamento social que resultou no aumento do consu-
uma atividade estratégica para o desenvolvimento mo de conteúdos digitais. A pensar nesta questão,
económico e social do país, nomeadamente para o o anuário apresenta também um caderno especial
emprego e para o aumento das exportações. Porém, que fala sobre comunicação digital em destinos tu-
no início deste ano e quando menos se esperava, o rísticos.
turismo mundial foi obrigado a parar.
Outro assunto em destaque é a liderança do turismo
A crise que hoje vivemos, traz-nos memórias de do futuro. Importa afirmar Portugal como destino
uma outra, a de 2008, altura em que se acreditava sustentável, inovador e competitivo, que valoriza

TURISMO’20_anuário de tendências
4 EDITORIAL ESPINHO | PORTUGAL V. N. GAIA | PORTUGAL

Anuário de tendências
o trabalho e o talento. Um destino para investir e
visitar, num país inclusivo e tecnológico que se po-
TURISMO’20
siciona como hub especializado para o turismo. Há DIRETOR
destaque para as políticas de capacitação, qualifica- António Jorge Costa

ção e diversificação das pessoas que trabalham em EDIÇÃO


turismo e para a ascensão do papel das smart cities Daniela Rodrigues, Inês Serra
na organização e promoção das atividades do setor.
DESIGN
Ana Pimentel
Esta edição foca-se também nas alterações climáti-
EQUIPA EDITORIAL
cas e na necessária adaptação do turismo ao com-
Daniela Alves, Daniel Costa, João Bastos,
promisso de sustentabilidade social e ambiental, João Gomes, Marcília Almeida
com a adoção de práticas e hábitos mais amigos do
PARTICIPARAM NESTE NÚMERO
ambiente. Neste tópico aborda-se a influência da
Rita Marques - Secretária de Estadado do Turismo
crise pandémica que ajudou a reforçar a necessida- Sofia Pereira - Socióloga e Coordenadora do Grupo
de adaptação do setor a padrões de consumo que de trabalho Lojas com História
serão mais exigentes no que respeita à sustentabili- Jorge Marques - Restaurante Faz Frio

dade e à segurança sanitária. Fernanda Praça - Diretora do Departamento de Ordenamento


Turístico / Direção de Valorização da Oferta - Turismo de Portugal
Ana Garcia - Presidente da Accessible Portugal C

E porque viajar é, cada vez mais, uma experiência SMIITY - Smart Interative City M

que envolve e integra os turistas com a comunidade Caroline Couret - Creative Tourism Network
PRAIA DA ROCHA | PORTUGAL CHAVES | PORTUGAL
local, encerramos este número com um artigo sobre
Y
Alfonso Vargas - Sánchez- Universidade de Huelva -
Professor Catedrático
“Viagens com Estória” da autoria de Ricardo Pinto. Peter Tarlow - Presidente das Empresas Tourism & More e
CM

Safertourism e Chefe da Segurança para o African Tourism Board MY

O Anuário foi, mais uma vez, o resultado de um pro- Carlos Costa - Economista,
CY
Administrador Grupo NAU Hotels & Resorts
cesso vivo e participado, onde procuramos olhar para
Ricardo Jorge Pinto - jornalista LUSA CMY

o turismo como uma indústria de oportunidades e


um exemplo inspirador de resiliência e recuperação. DIREÇÃO DE MARKETING
K

Esperando que esta seja uma leitura enriquecedora e Mónica Montenegro


reflexiva, despedimo-nos até ao Turismo’21! DIREÇÃO DE COMUNICAÇÃO
Daniela Rodrigues

CONSULTOR EDITORIAL
Richard Teare

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4150-303 Porto
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IMAGENS Desde 1984 que os Hotéis Solverde se destacam no turismo português.


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maio 2020

TURISMO’20_anuário de tendências
www.solverde.pt
6 Sumário Sumário 7

Tendências Destaque Destaque

SMIITY: O TURISMO A COVID-19


Uma app E O DESAFIO DA e o Estado de
para o turismo SUSTENTABILIDADE Emergência Climática

60 64 72

Institucional Barómetro Tendências Best in travel Caderno especial


Tendências
TURISMO 2020 RUMO BARÓMETRO TURISMO EM 2020: A AMEAÇA A promoção
TENDÊNCIAS E turismo
À RETOMA: RESISTIR, DO TURISMO DAS ALTERAÇÕES online de destinos
OPORTUNIDADES criativo
INOVAR E ACREDITAR Edição Especial CLIMÁTICAS turísticos

08 14 20 78 80 96

Tendências Tendências Tendências


Tendências Tendências
O EMPREGO NO Tendências O TURISMO O TURISMO:
SETOR DO TURISMO LOJAS e se falar sobre SOBREVIVERÁ, MAS Do Fracasso
faz frio
COM HISTÓRIA turismo criativo...
42
EM PORTUGAL TAMBÉM VAI MUDAR ao Sucesso?
34 38 100 104 109
Tendências Tendências Tendências Caderno especial
Tendências
Viagens
O papel Turismo Acessível: INTERNET Turismo a mais 2020:
do ordenamento quão preparados ou Economia o ano do surto VIAGENS
OF THINGS COM ESTÓRIAS
do território estamos? NO TURISMO a menos? de COVID-19
44 48 52 116 120 130
TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências
8 CAPÍTULO Institucional 9

TURISMO 2020
Em cada cinco euros de receitas que eram gera- empresas do turismo que acabam de sair de uma
das em Portugal, um euro provinha do turismo. A época baixa e se veem, de um momento para o ou-
conclusão é do barómetro anual do World Travel & tro, sem procura, revela-se particularmente grave,

RUMO À RETOMA:
Tourism Council (WTTC), relativo a 2018, que elo- sobretudo nas organizações de dimensão mais pe-
giou a estratégia nacional do turismo e o seu contri- quena que, por isso, têm maior dificuldade em lidar
buto para o crescimento económico do país. com o imprevisto - as microempresas representam

RESISTIR, INOVAR
cerca de 95% do setor.
Os dados revelam que o turismo em Portugal
cresceu em 2019, registando-se valores históricos. Atento a este quadro, o Governo lançou um con-
Portugal recebeu 27 milhões de hóspedes em 2019 e junto de medidas em larga escala absolutamente

E ACREDITAR registou 69,9 milhões de dormidas, correspondendo


a taxas de crescimento superiores às verificadas em
2018. Os resultados sugerem que os benefícios do
turismo se estavam a estender a todo o país, resul-
essenciais para fazer face às necessidades dos tra-
balhadores e das empresas nacionais, incluindo as
do turismo. Muito embora, no contexto da imple-
mentação de um conjunto de medidas de combate
tado da tendência de diversificação dos mercados e às consequências do surto de COVID-19, se tenha
da redução da sazonalidade. O valor acrescentado aprovado desde cedo a criação de uma linha de 200
bruto gerado pelo setor chegou a 8% do valor acres- milhões de euros, a verdade é que as necessidades
centado bruto nacional e o setor empregava mais de das muito pequenas empresas, prementes e imedia-
400 mil pessoas, correspondente a 9% do total do tas, aliadas a estruturas frágeis e com dificuldades
emprego nacional. acrescidas no acesso a financiamento, justificaram
a criação de uma linha específica de financiamento,
Também os números de 2020 muito focada na preservação da capacidade produti-
va das empresas e dos respetivos postos de trabalho.
eram muito animadores, Trata-se de uma linha de microcrédito complemen-
com taxas de crescimento tar dinamizada pelo Turismo de Portugal, orientada
para as necessidades mais prementes e que, pelas
em janeiro e fevereiro ao suas caraterísticas, se assumiu particularmente ágil
nível das dormidas de 8% e rápida de implementar.

e 15%, respetivamente, face Foram, entretanto, anunciadas mais medidas tem-


porárias e simplificadas que visam ajudar as em-
aos períodos homólogos. presas a RESISTIR ao impacto económico desta
Todos os sinais eram pandemia. Estas medidas consistem em reduzir ou
aliviar os compromissos perante a banca, o fisco e
muitíssimo positivos, a segurança social e os trabalhadores, com vista a
fazendo crer que o ano de manter os empregos e a proporcionar meios finan-
ceiros para continuar a pagar aos fornecedores e
2020 iria ser absolutamente aos trabalhadores que se mantenham em funções.
extraordinário. Alguns exemplos incluem novas linhas de crédito
no valor total de 1,7 mil milhões de euros especifi-
camente para o setor do turismo, moratória dos cré-
Com a chegada da pandemia, temos assistido a uma ditos perante instituições financeiras, diferimento
fortíssima e súbita retração das viagens, quer a nível do pagamento de contribuições a entidades empre-
mundial, quer também a nível nacional, com re- gadoras, apoios extraordinários à manutenção de
Rita MArques
Secretária de Estado do Turismo percussão direta e imediata na procura dos serviços contratos de trabalho em situação de crise empre-
de Portugal oferecidos pelas empresas turísticas. A situação das sarial, bem como a disponibilização de capacidade

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


10 Institucional CAPÍTULO 11

e aplicações de trabalho colaborativo em condições


preferenciais. Estas medidas continuarão a ser revis-
tas periodicamente para se procurar assegurar a pre-
servação do emprego e a manutenção das empresas
viáveis.

Estaremos atentos aos desenvolvimentos, atuando


com mais medidas que pretendem ir ao encontro
das necessidades das empresas e dos trabalhadores,
criando as condições para que estas possam respei-
tar os seus compromissos, em particular os relativos
aos seus trabalhadores, assegurar a manutenção da
sua capacidade produtiva e os respetivos postos de
trabalho.

Ultrapassada esta fase, Continuaremos naturalmente a trabalhar junto de mercados tradicio-


teremos de reforçar esforços comunicação clara quanto à identificação de even-
nais, lançando ações que integrem as novas realidades, para que estes
turistas voltem e descubram um Portugal inovador, uma referência
no sentido de retomar tuais desafios de segurança, bem como o controlo entre os demais países e concorrência. Constitui também uma prio-
de possíveis riscos inerentes à prática turística e
o caminho que estávamos ainda a divulgação de informação sobre a oferta de
ridade no futuro próximo as ações destinadas à promoção do destino
Portugal e ao incremento da sua notoriedade em mercados não tradi-
a percorrer na prossecução serviços de apoio em casos de emergência, que se cionais e com elevado alinhamento à oferta nacional, como os Estados
tornará numa prioridade.
das metas da Estratégia Unidos da América, Brasil e Canadá.
Em segundo lugar, o cliente procurará mais
Turismo 2027 (ET27), flexibilidade aquando da escolha do destino
E se, antes deste surto, vínhamos a assistir já a uma diversificação dos
mercados emissores, com crescimentos notáveis no mercado norte-
inovando e trabalhando turístico. Teremos de inovar, conferindo aos turis- -americano, brasileiro, ou chinês, é altura de continuarmos a apostar
tas mais direitos em matéria de viagens, nomeada-
para que Portugal seja mente no que se refere aos requisitos de informação
na promoção e captação desses mercados e, consequentemente, de ro-
tas aéreas. A este propósito, muito acertadamente, no final de 2019 re-
reconhecido como líder ou à responsabilidade de cada parte pela execução forçámos a dotação do Programa ViP.pt, o que será fundamental para
da viagem, em especial se esta não for corretamente
do turismo do futuro. executada ou em caso de alteração de determinadas
a retoma: pretendemos aumentar as 520 novas rotas e destinos que
criámos nos últimos três anos em todos os aeroportos nacionais.
circunstâncias.
Antes demais, temos de INOVAR na oferta, adaptan- Tendo em conta que são as entidades públicas locais e regionais que,
do-a às novas tendências da procura. Os critérios que Em terceiro lugar, o cliente procurará mais em primeira mão, contribuem para a valorização do turismo, preci-
pautarão a procura no futuro serão naturalmente atividades de nicho, nas quais a saúde e as samos da atuação concertada de todos. Só assim o turismo se reafir-
distintos. experiências ao ar livre serão seguramente fa- mará como um dos principais motores do desenvolvimento do país e
tores diferenciadores, impondo-se assim traba- da coesão territorial. Pretendemos, por isso, reforçar as competências
Assistiremos a alterações no comportamento lhar a oferta que privilegia a natureza. Felizmente, das estruturas regionais de turismo, garantindo a respetiva articulação
do cliente, que procurará em primeiro lugar Portugal concentra paisagens e espécies tão variadas para otimização de recursos e uma maior eficácia da promoção nacio-
mais segurança. Por um lado, cumprimento e que fazem de qualquer viagem, por mais pequena nal e internacional. Também continuaremos a apostar na formação
adoção de padrões e medidas de segurança por par- que seja, um prazer de descoberta. Das montanhas dos agentes que a nível regional e local atuam na esfera do turismo, no
te dos equipamentos e instalações turísticas, tendo imponentes às vastas planícies, das praias de areais sentido de dotá-los com as competências de negócio que, por um lado,
em conta que a segurança sanitária e/ou alimentar sem fim onde as ondas se desfazem lentamente à vão ao encontro dos mercados e dos novos perfis de consumidores e,
será uma prioridade. Por outro lado, a implementação costa recortada banhada pelo oceano impetuoso, o por outro, promovam a oferta de produtos turísticos compósitos e de
de uma política de informação que permita uma país tem de tudo um pouco. maior valor acrescentado.

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


12 Institucional

Para as empresas, para além das medidas de


apoio imediato de resposta ao surto, refor-
çaremos o apoio ao investimento por via do
alargamento dos programas de financiamento
Valorizar e Linha de Apoio à Qualificação da
Oferta, acarinhando de forma particular pro-
jetos nos territórios de baixa densidade e/ou
promovidos segundo estratégias de eficiência
coletiva, assim como aqueles que atendem aos
desafios da sustentabilidade e acessibilidade.

Este esforço, aliado a uma política de ordenamento


turístico, deve ir ao encontro das tendências da
procura e reforçaremos a diversificação da oferta
de produtos turísticos autênticos, inovadores e em
rede - como o Turismo Industrial e o Enoturismo -
alicerçados no património do país, dinamizando-o,
como é o caso do Programa Dinamizar Fortalezas,
ou inclusive recuperando-o, como é o caso do
Programa REVIVE. Estas estratégias concorrem
para a necessidade de valorização crescente da oferta.
Pretendemos dar nova vida a locais e tradições
extraordinárias, criando importantes focos de atra-
ção de turistas por todo o país, o que apoiará o
desenvolvimento de novos destinos turísticos du-
Em conjunto com os nossos empresários e demais
rante todo o ano.
agentes, conseguiremos ultrapassar esta fase crítica,
retomar o nosso caminho e prosseguir com um tu-
Acresce ainda realçar rismo de maior valor e mais responsável, para que
o reforço na atração de o setor demonstre o seu papel enquanto fator de
crescimento, de sustentabilidade ambiental e de
grandes eventos, cujo modelo coesão social. O objetivo passa por, não só che-
tradicional terá que ser gar mais longe, mas também cativar os turistas que
nos visitam a ficarem por mais tempo, que se des-
revisitado, assim como uma loquem por todo o país e que tenham experiências
maior atenção para com memoráveis que os façam regressar.

o setor da animação turística, É nosso objetivo ancorar a retoma e a sustentabi-


lidade do turismo em Portugal na preservação e
aspetos determinantes de uma valorização económica do património cultural e
oferta cada vez mais atrativa, natural do país e ter subjacente, nas várias iniciati-
vas, os valores e princípios da sustentabilidade e da
inovadora, diversificada coesão social, contribuindo para o reconhecimen-
e sustentável, alicerçada nos to e afirmação de Portugal como destino mundial
de referência. Junto conseguiremos, temos que
nossos maiores ativos. ACREDITAR! •

TURISMO’20_anuário de tendências
14 BARÓMETRO DO TURISMO BARÓMETRO DO TURISMO 15

Análise ao Barómetro Especial:


BARÓMETRO As 12 ações (por área) mais importantes na retoma das

DO TURISMO
atividades de turismo nacional face aos desafios da COVID-19

PESSOAS E EMPRESAS
EDIÇÃO ESPECIAL • Salvaguardar as empresas através de políticas
de apoio financeiro
• Preservar e qualificar os recursos humanos

A previsão avançada na 61ª edição do Barómetro


do Turismo do IPDT apontava que os resultados
do turismo nacional em 2020 seriam os melhores ESTRATÉGIA E COOPERAÇÃO
de sempre, superando os números de 2019. • Reajustar as estratégias de produto e mercados
Em fevereiro deste ano, mês que antecedeu o início • Reforçar a cooperação entre agentes e destinos
da pandemia de COVID-19, o nível de confiança • Estreitar a relação de proximidade com operadores
turísticos e companhias aéreas
médio no desempenho do turismo situava-se
• Criar sistemas de gestão de fluxos de visitantes
nos 79,5 pontos percentuais.

SEGURANÇA SANITÁRIA
No entanto, com o surgimento da crise sanitária que travou o setor • Reafirmar a imagem de Portugal como destino seguro
a fundo, assistiu-se à passagem brusca de um contexto de overtourism • Definir planos de gestão das praias e dos eventos
para zerotourism, o que alterou radicalmente a organização, os resul-
• Sensibilizar os turistas
tados e as atividades do ecossistema turístico. Perante este cenário,
o IPDT realizou uma nova auscultação ao Painel para compreen-
der a perceção sobre esta nova realidade e para pedir contributos
e soluções concretas para a retoma do turismo nacional. COMUNICAÇÃO
Ao lançar esta consulta, o IPDT pretende promover um momento de • Estruturar uma estratégia de promoção evolutiva
discussão aberta (e contínua) sobre formas de lidar com este problema, • Manter canais digitais ativos e com mensagens
procurando respostas para a seguinte pergunta: Que ações devem ser positivas/otimistas
tomadas para alavancar a recuperação do turismo nacional face aos im-
pactos do COVID-19? Os resultados deste inquérito são agora partilhados. • Canal online dedicado 24h para apoio aos turistas

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


16 BARÓMETRO DO TURISMO BARÓMETRO DO TURISMO 17

PESSOAS E EMPRESAS Estratégia e Cooperação


A existência de acordos de cooperação entre agen-
tes do mesmo setor poderá também facilitar o en- Segurança Sanitária
caminhamento de turistas em situações de alcance
Salvaguardar as empresas Reajustar as estratégias das lotações máximas (exemplo: alojamento).
Reafirmar a imagem de Portugal
através de políticas de apoio de produto e mercados Estreitar a relação como destino seguro
financeiro A oferta turística deverá integrar novos modelos de proximidade com operadores Na ótica do Barómetro, é essencial que todos
de desenvolvimento turístico, onde as questões da contribuam para reafirmar a imagem de Portugal
O Barómetro entende fundamental o apoio finan-
segurança e da sustentabilidade são centrais. O se-
turísticos e companhias aéreas enquanto destino seguro, principalmente no do-
ceiro às empresas do setor, através de moratórias
sobre as obrigações fiscais e também reduzindo a tor do turismo deve, assim, atualizar as suas linhas O Barómetro considera essencial manter a relação de mínio sanitário. Para tal, deve-se implementar um
sua carga fiscal. Alguns membros referiram igual- estratégicas à luz das novas necessidades do turista. proximidade com a operação turística. No momento sistema de certificação para todos os serviços turís-
mente a necessidade de ajudar as organizações da retoma do turismo internacional, uma parte dos ticos (referência: certificado Safe & Clean do Turis-
Os destinos devem aproveitar o momento de pau- turistas, sobretudo os Baby Boomers, deverão procu- mo de Portugal). Além desta certificação, o destino
com a disponibilização de linhas de financiamen-
sa e retoma gradual do turismo para qualificar a rar mais os pacotes turísticos integrados, asseguran- Portugal deve promover, de forma transparente, as
to a fundo perdido / não reembolsável, de forma
sua oferta, sobretudo ao nível da estruturação de do níveis de segurança e usufruindo experiências medidas de proteção adotadas no país e os resulta-
a não as endividar. Por fim, o Barómetro também
produtos turísticos complementares. O Barómetro controladas. dos obtidos.
aponta para a importância de simplificar o acesso
considera que a necessidade de distanciamento so-
aos apoios (simplex). Será, também, fundamental reajustar as políticas de
cial irá estimular os turistas a procurar outras áreas
do destino. cancelamento. O novo turista será mais sensível a este Definir planos de gestão das
Preservar e qualificar A recuperação do turismo será gradual. O setor
tópico, optando mais por opções reembolsáveis. praias e dos eventos
os recursos humanos deve, assim, preparar já a sua oferta para dar res-
posta às necessidades dos primeiros turistas. Em Criar sistemas de gestão
Sabendo da importância das praias na oferta turísti-
ca de Portugal, o painel do Barómetro pede a defini-
No que diz respeito aos colaboradores, o Baróme- Portugal, será o mercado nacional o primeiro a de fluxos de visitantes ção de planos de gestão, para que que os visitantes
tro pede que o regime de lay-off seja estendido por viajar, logo a oferta turística deverá considerar as possam usufruir das praias de forma segura. Estes
mais tempo. Simultaneamente, recomenda uma Desconcentrar os visitantes pelo território é um de- planos devem igualmente considerar a respetiva
características de produtos mais valorizadas pelos
aposta clara e forte em formação online em áreas safio dos últimos anos. No pós COVID-19, os turistas política de fiscalização. O mesmo deverá acontecer
portugueses e estruturar experiências que vão ao
especializadas, para que os colaboradores fiquem deverão optar por destinos e serviços menos mas- com os eventos.
encontro das suas necessidades.
mais capacitados e as empresas mais competitivas. sificados. Assim, os destinos devem procurar criar
áreas de atração diversificadas. Algumas destas áreas
Reforçar a cooperação entre de visita podem ser estimuladas apenas com melhor Sensibilizar os turistas
agentes e destinos promoção online. Outra das ações que o Barómetro refere diz respei-
to ao acolhimento dos visitantes. Estes devem ser
O Barómetro considera essencial reforçar a coope- O Barómetro considera que as atrações turísticas de-
sensibilizados e informados para as medidas que de-
ração entre municípios e comunidades intermuni- vem implementar um sistema de compra/marcação
vem respeitar e adotar, de forma a minimizar qual-
cipais, para a criação de experiências turísticas in- antecipada da visita. Esta pode ser feita no website da
quer risco da operação turística.
tegradas. Existindo esta cooperação, haverá maior atração, ou numa plataforma integrada do destino.
capacidade de estender a estada média dos turistas. Assim, consegue-se evitar as filas de espera, e gerir
melhor os fluxos de visitantes, sendo possível imple-
Em paralelo, a cooperação entre os agentes privados mentar melhor as capacidades de carga.
ao nível da criação de pacotes integrados (alojamen-
to / animação, restauração) poderá transmitir mais A análise em tempo real dos fluxos dos visitantes
confiança aos turistas em matéria de segurança. também deve ser melhor trabalhada pelos destinos.
Em momentos de maior stress, os turistas devem ser
estimulados a visitar alternativas no destino.

TURISMO’20_anuário de tendências
18 BARÓMETRO DO TURISMO

®Beautiful Destinations
Comunicação HOJE
SONHAMOS
Estruturar uma estratégia Canal online dedicado 24h para SAIR PARA...
de promoção evolutiva apoio aos turistas
No que concerne à comunicação, o Barómetro Sabendo da importância de cativar e recuperar os
considera que uma das medidas mais importantes turistas nesta fase de retoma, o painel defende a
para retomar as atividades de turismo de âmbito criação de uma plataforma online para apoiar em
nacional é o desenvolvimento de uma estratégia de permanência os turistas, nomeadamente, através
promoção sobre a evolução nos mercados de proxi- do esclarecimento de dúvidas sobre viagens, des-
midade e nos mercados emissores, nomeadamente: tinos e transportes e ainda sobre as possibilidades
que existem para a utilização dos vouchers que lhes
• Portugal e Espanha foram atribuídos no momento do adiamento das
viagens durante o período de emergência. •
• Europa e América do Sul

• Ásia e América do Norte

Os destinos devem aproveitar o momento para de-


finir uma estratégia que vise apostar em segmentos
de valor para o mercado no sentido de os captar e
estimular a visitar Portugal.

Manter canais digitais ativos,


e com mensagens positivas/
otimistas
Na ótica do Barómetro, mostra-se essencial levar a
cabo uma estratégia de comunicação que se baseie
na constante atualização dos canais digitais dos des-
tinos turísticos. Considera-se fundamental adotar
um estilo de comunicação positivo que transpareça
uma visão otimista sobre o futuro do setor e das
viagens. As ações de comunicação devem promo-
ver o destino Portugal, com destaque para as áreas
menos visitadas e que podem ser um novo atrativo
para os turistas com a oferta de experiências estru-
turadas e integradas (destinos menos conhecidos e
menos lotados também). Além disso, os destinos
devem ainda dinamizar atividades que envolvam a
comunidade local que, cada vez mais, deve ser pers-
petivada como embaixadora e ter um papel ativo
na promoção do destino. ...VISITAR LUGARES
Macau espera por si!
TURISMO’20_anuário de tendências
20 TENDÊNCIAS TENDÊNCIAS 21

O turismo mundial fechou 2019 com 1.500 milhões de chegadas de a hospitalidade e o lazer vão cres-
turistas internacionais, mais 4% do que no ano anterior, e registou cer principalmente pelo papel que
dez anos consecutivos de crescimento (Organização Mundial do Tu- terão na sociedade futura.
rismo). O ano de 2020 prometia ser um dos melhores de sempre aos
olhos dos agentes turísticos e também dos viajantes. Mas de repente, O crescendo da procura de expe-
tudo mudou. A pandemia de COVID-19 travou a fundo o setor que riências e da adaptação das marcas
se viu obrigado a reinventar-se e a pensar em formas de retomar o turísticas ao novo modelo “directed
mercado. to consumer” ajudam ainda a sus-
tentar o modelo de turismo posi-
Neste contexto, quais são as grandes tendências para 2020? tivo com uma maior tranquilida-
Apesar de ser um ano atípico há uma certeza: os turistas vão querer de para a comunidade local.
continuar a viajar quando lhes for possível. Com os hábitos de vida e
de saúde pública a mudarem, com os turistas cada vez mais conscientes As novas perceções populares so-
e informados, com um novo segmento de viajantes a chegar e com o bre a importância de uma vida ati-
pensamento ecológico a ganhar terreno, como se prevê o futuro daqui va e saudável aliadas ao surgimen-
para a frente? A estratégia principal será continuar a trabalhar nas prefe- to de novas doenças vão ajudar
rências dos turistas e apostar numa comunicação digital, assertiva, cons- a transformar e fortalecer novos
tante e positiva. O Turismo Positivo será o conceito-chave do ano 2020. mercados.

TURISMO EM 2020: 1. SUSTENTABILIDADE


55%
dos viajantes globais afirmam
estar determinados a escolher

TENDÊNCIAS E OPORTUNIDADES Responder à consciencialização massificada para a questão ambiental


nunca foi tão proeminente: miúdos e graúdos estão atentos e exigem
agora uma experiência turística sustentável que promova o equilíbrio
destinos e formas de viajar
mais sustentáveis. No entanto
apontam para a existência
de barreiras e dificuldade de
ambiental. Atualmente, organizar, planear e vivenciar uma viagem tor- acesso à informação e opções
na-se num processo muito mais criterioso para o viajante e requer uma atrativas.
A cada ano é importante fazer um balanço daquilo que alteração de paradigma na forma como os destinos operam.

passou, do que está a acontecer e a transformar o mundo e A tendência é clara: os destinos para se manterem competitivos e atra- 73%
tivos nos próximos anos terão que começar a proteger as suas comu- dos viajantes pretende ficar
do que está por vir. O turismo continua a estar no centro das nidades e o capital cultural. A mudança exigirá uma reformulação no pelo menos uma vez em
atenções pelas oportunidades que cria e pela importância cruzamento entre o marketing e a gestão dos destinos com a integração
dos stakeholders locais.
ambiente ecológico.

que ocupa na dinamização da economia global.


A Inteligência Artificial, a conectividade, a nanotecnologia, a biologia 70%
artificial e o meio ambiente influenciam direta e ativamente a nossa dos viajantes
Em ano de pandemia com fortes impactos a sentirem-se no setor, e ainda conduta diária e o turismo terá de definir as tendências com base nes- preferem reservar um
tes pressupostos. alojamento ecológico,
que algumas tendências sigam a linha de anos anteriores, surgem novidades
independentemente de
e informações cruciais sobre a forma como os agentes devem atuar e gerir O relatório sobre as tendências de viagens e turismo da We Are Marke- procurarem uma estada
os destinos turísticos mediante o panorama atual e futuro. ting detalha o que futuro nos reserva. Como parte de um contexto to- sustentável ou não.
talmente futurista espera-se que, até 2045, a vida se concentre nas gran-
des cidades que serão transformadas em centros altamente inteligentes. Fonte: Booking
Haverá uma metamorfose da humanidade em larga escala, comparável
a uma das revoluções científicas e tecnológicas na história. O turismo,

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


22 TENDÊNCIAS TENDÊNCIAS 23

TOP 5 de cidades
verdes
As viagens ecológicas estão
a ganhar notoriedade.
A Tourism Review
Lisboa
apresentou as cinco cidades
europeias mais ecológicas e
que atualmente se encontram
Sustentabilidade, Autenticidade O NOVO LUXO ASSENTE NA Copenhaga Amesterdão preparadas para corresponder
às exigências dos turistas
e Solidariedade SUSTENTABILIDADE, Clima E SAÚDE que procuram experiências
Para lidar com o aumento da pressão sobre As mudanças climáticas e a segurança da amigas do ambiente:
os destinos que apresentam uma tendência saúde pública são dos temas mais debatidos
de overtourism e de forma a encontrar um nos últimos anos. Episódios de calor extremo,
Copenhaga
equilíbrio entre o custo-benefício associados furacões e o surgimento de novas doenças Amesterdão
ao desenvolvimento do turismo – sobretudo estão a afetar o quotidiano da sociedade.
após uma pandemia – é necessário adotar Não obstante ser uma preocupação de todos, Estocolmo
algumas medidas: a forma como habitamos o mundo está a Reiquiavique
afetar os destinos. O que deve ser feito?
Lisboa
1 
Estocolmo Reiquiavique
O sucesso do turismo passará por colocar um • F
 avorecer produtos que minimizem o impacto
maior enfoque na preservação do meio am- negativo e maximizem o impacto positivo nas
biente e da promoção da sustentabilidade no dimensões ambiental, sociocultural e económica.
sentido de trazer benefícios para a comunidade
local. • F
 acilitar a incorporação de boas práticas de tu-
rismo sustentável por parte de operadores e pres-
Os hotéis verdes
e a sua ascensão: 2. AS SMART CITIES
 s políticas para o setor devem ser pensadas em
2 Atrês dimensões: local, regional e nacional. Estas
tadores de serviços.
• P
 romover processos de desenvolvimento que pro-
Com uma crescente procura de
formas de estar mais saudáveis os
NA CRIAÇÃO DE VALOR
ações devem ir ao encontro das estratégias eco-
nómicas em estreita colaboração com o tecido
tejam a natureza e as paisagens.
• R
 ealizar ações que melhorem a capacidade de
hotéis verdes estão em franco cres-
cimento. Muitas modalidades de PARA O TURISMO
empresarial dos países e a sociedade. turismo verde estão a vincar o seu
gestão do turismo nas áreas protegidas. compromisso com os objetivos de A atratividade das smart cities para os turistas que procuram experiên-

3 Ode s compreender • F
 omentar a inclusão equitativa dos grupos mino- desenvolvimento sustentável nas cias dinâmicas, inteligentes e soluções criativas e de design apelativo é
governos devem legislar também no sentido
ritários no mercado de trabalho. redes sociais. cada vez mais evidente. Esta é uma das maiores apostas estratégicas para
os impactos do turismo e in-
a retoma do turismo. As inovações, os projetos de open data e novos
tegrar a sustentabilidade nas práticas do setor. • C
 riar canais para a participação da comunidade As ações e valores da empresa são
negócios de base tecnológica serão uma grande oportunidade para me-
local no controlo do desenvolvimento do tu- elementos distintos que inspiram
 importante criar uma agenda que garanta a
4 Émonitorização rismo ecológico. os visitantes. Oferecer e comunicar
lhorar a experiência global do turista e permitir um maior usufruto dos
destinos.
e o acesso constante aos dados experiências reais e locais que proje-
que informem e guiem os agentes turísticos na • Valorizar o património da região. tem o respeito ambiental é o novo P Os turistas procuram uma experiência nativa. As comunidades locais
tomada de decisão e planeamento assertivo dos • C
 riar mecanismos de benefícios económicos dire- do marketing verde. Os próximos são uma mais-valia para o desenvolvimento do turismo e das regiões.
destinos turísticos. tos e indiretos nas comunidades locais. anos serão a grande oportunidade Não é por acaso que, no planeamento turístico, devem ser contempla-
Fonte: OCDE de crescimento deste segmento. das as seguintes ações: uma monitorização constante do impacto do tu-

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


24 TENDÊNCIAS TENDÊNCIAS 25

rismo, a criação de iniciativas para a participação da


sociedade em processos de co-criação de um modelo
positivo de turismo e o envolvimento dos locais no
3 AsA plicações para mobile
apps devem ser voltadas para a procura de
5 AS erviços de segurança e saúde
segurança dos turistas é uma prioridade
acolhimento e bem-estar dos turistas. novos destinos, produtos e serviços, bem como para os destinos turísticos inteligentes. Deve
para a localização de recursos e acesso on time a existir investimento em tecnologia que ajude
informações sobre as ofertas disponíveis. Além a otimizar e a potenciar os serviços de saúde
SMART CITIES & SMART TOURISM disso permitem a obtenção de informação locais.
Os destinos inteligentes em turismo representam um relevante sobre os visitantes.
conceito que vai além da mera integração das novas
6 OsM obilidade
tecnologias. É antes uma ideia intimamente relacio-
nada com uma total transformação digital. 4  Soluções de realidade virtual
ou realidade aumentada
turistas não devem sentir-se desconectados
ou sem alternativas para se deslocar no destino.
A transformação inclui o desenvolvimento de desti- Um dos principais objetivos dos destinos Ter acesso a uma ligação Wi-fi nem sempre
nos inovadores sob uma infraestrutura tecnológica turísticos inteligentes é imergir e envolver o é suficiente; os turistas também necessitam
que garante o desenvolvimento sustentável do des- turista na história local. Durante vários anos de aplicações que informem sobre os meios
tino, a acessibilidade a todos e a interação e integra- isso foi possível com recurso a guias de áudio de transporte e vias disponíveis. Uma das
ção dos turistas com o meio ambiente. O objetivo? ou vídeo; no entanto, os últimos avanços tendências neste tópico é o desenvolvimento
Aumentar a qualidade da experiência e melhorar a tecnológicos tornam a imersão muito mais de guias turísticos virtuais com serviços de
qualidade de vida dos habitantes. intensa com a utilização da realidade virtual/ localização que recomendem percursos que
realidade aumentada, que permite ao turista melhorem a mobilidade nas cidades.
visualizar o destino noutras perspetivas.
Pontos-chave que diferenciam 7 •H Dotéis mais inteligentes

os destinos turísticos inteligentes igitalizar os processos


de Check-in e Check-out

3. CARBON OFFSETTING:
Em primeiro lugar é importante saber que não existe • H
 otéis Smart: o cliente
um caminho linear. A oferta turística de cada cidade, pode, por exemplo,
a maturidade enquanto destino de férias e a capaci-

AS NOVAS FORMAS
controlar o sistema de luz
dade de investimento são fatores que condicionam a e som através de aplicações
estratégia. No entanto existem algumas tecnologias
• H
 otéis com assistência
que aumentam a visibilidade dos destinos turísticos:
digital: assistentes de
DE TRANSPORTE
 entro de Informações Turísticas
1 Desenvolver
C
tradução ou chatbots
• E
 xperiências de realidade
um novo conceito com uma forte O turismo é responsável por 5% das emissões de CO2. Atualmente em
aumentada/realidade
base tecnológica e capacidade de comercializar muitas empresas do setor já vigoram programas ambiciosos para erradi-
virtual
destinos em tempo real e que devem possibi- car o uso de plásticos descartáveis. A indústria do turismo está também
• P
 rodutos e opções a apostar na utilização de materiais recicláveis.
litar e incentivar o download de aplicações de
sustentáveis
turismo e viagens, além de serviços de reserva e A par disto é importante olhar para a mudança da tomada de deci-
de venda. são dos viajantes na reserva de viagens. De acordo com um estudo

 i-fi gratuito
2 Um
W
da Booking, a consciência social dos viajantes europeus tem vindo a
influenciar as suas viagens desde 2019. As tendências incluem agora os
dos serviços mais pedidos pelos turistas e conceitos de troca cultural e comunitária, ativismo ecológico, agentes
moradores é a possibilidade de ter conexões virtuais e uma abordagem assente na filosofia “menos é mais”.
Wi-fi gratuitas. Além do tráfego de informações
que gera, contribui significativamente para o O setor da aviação já está a tomar medidas de compensação para promo-
desenvolvimento online das empresas. ver uma pegada neutra. O impacto desta mudança de paradigma poderá

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


26 TENDÊNCIAS TENDÊNCIAS 27

ser expressivo nos próximos anos A Big Data entra aqui com um papel fundamental na Graças aos dados, as empresas conhecem o volume
com a operação em aviões mais
leves que ajudam a poupar com-
bustível e o ambiente.
4. TURISMO DE A a Z: A BIG criação de vantagem competitiva e permite fidelizar
o cliente a partir de uma maior adaptação e customi-
zação da oferta de serviços e produtos. No entanto,
real de clientes, os seus hábitos e preferências e, com
base nisso, podem prever, por exemplo, o preço que
melhor se adequa a cada cliente e ainda melhorar

O conceito de voos comerciais elé- DATA CONTINUARÁ A SER A é importante reter que é necessária uma utilização
correta. Um dos maiores desafios é fazer uma triagem
sua experiência.

tricos começa a ser uma realidade


para viagens de curta distância.
Também a crescente influência da
MAIOR ALIADA DO TURISMO destes. É necessário tratá-los para que sejam transfor-
mados em Smart Data e possam dar as conclusões
adequadas. Nestes moldes será possível dar-se a co-
Cruzamento de dados
O cruzamento de dados que advém de várias fontes
de informação podem ser combinados com outras
expressão sueca "flygskam" tem O turismo tem vindo a afirmar-se como um dos setores de atividade nhecer melhor e chegar aos clientes, segmentando fontes, nomeadamente, notícias e redes sociais. A
vindo a alterar o paradigma das mais inovadores. A inovação tem vindo a ser incorporada em diversas melhor os destinatários a um custo muito inferior. fusão dos dados traz novas conclusões e permite ao
viagens que se depara agora com áreas e a tecnologia apresenta-se como um elemento fundamental para setor tornar a atuação mais direcionada e ímpar.
uma nova tendência: encontrar melhorar serviços e produtos e a comunicação com o turista. Com esta ferramenta é possível gerir
formas de transporte alternativas
os clientes em tempo real e preparar, Novos fluxos de informação
ao avião. Os viajantes vão começar A crescente utilização dos meios online, potenciada agora pelo confi-
a preferir as viagens de comboio e namento obrigatório um pouco por todo o mundo, é uma tendência prever, antecipar, criar padrões O aumento da utilização de dispositivos móveis
vão optar por deslocações domés- incontornável que deve ser tida em conta. As pesquisas e reservas de de hábitos futuros e impulsionar e o boom da navegação em aplicações permitem
ticas. viagens, os comentários e as partilhas de conteúdo são uma fonte de as atividades turísticas. avaliar opiniões, comentários e preferências o que
informação valiosa para a definição da estratégia a seguir, especialmen- proporciona um quadro de amostragem muito mais
te em momentos que exigem antecipação e trabalho para a retoma do De acordo com a IBM, estima-se que 90% dos dados completo com base, por exemplo, na localização
Carbon footprint: mercado. existentes foram criados nos últimos dois anos. As geográfica dos utilizadores.
Todos estamos conscientes do formas como partilhamos, analisamos e absorvemos
Segundo o Google Travel Study, estima-se que os hotéis e os voos são re- a informação através da tecnologia cresceram e a Big
ónus das emissões de CO2 que Novas oportunidades de negócios
servados com uma antecedência de 12 semanas. Nos 3 meses anteriores Data é agora uma realidade comum.
representam uma das grandes O maior conhecimento dos públicos-alvo advém da
à data da viagem, a pesquisa é superior para a procura de experiências
ameaças do setor do turismo No turismo, a análise de dados – como por exemplo extração de informação dos próprios utilizadores.
no local do destino.
ao meio ambiente. Temos o histórico de viagens e perfil demográfico dos via- As empresas podem comparar os dados internos
assistido nos últimos anos a uma E, mesmo com a pandemia de COVID-19, os dados mostram-nos que jantes – permite prever os movimentos do mercado. com os resultados obtidos através da Big Data.
conjugação de esforços por parte a tendência se mantém. Segundo um estudo da Sojern, janeiro de 2021 Esta prática auxilia numa melhor correspondên-
dos agentes turísticos na oferta promete ser um mês recorde. Os britânicos aumentaram o seu volume cia das ofertas às preferências dos turistas. O CRM
de soluções mais sustentáveis, de pesquisas para viajar nesse mês em mais de 400%. Para Espanha, o AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS (Costumer Relationship Management) é fundamental
com propostas de substituição
de meio de transporte por uma
volume de pesquisas é superior 1600% face a janeiro 2020. DA BIG DATA: para inovar nas viagens e estada e traz a oportuni-
dade de retenção e fidelização.
alternativa mais sustentável. Os viajantes que reservam atividades antes da viagem gastam 47% a mais Representação
Como um todo, a indústria da em estada e 81% a mais em transporte face àqueles que esperam para A harmonia entre as fontes de dados permitirá uma
aviação está a planear reduzir reservar (Booking). melhor representação da amostra. Um quadro de
as suas emissões em cerca de amostragem baseado em dados recolhidos com pre-
metade até 2050, por comparação cisão é mais eficaz do que uma amostragem obtida
com os níveis de 2005. através de pesquisas convencionais.

Detalhes da informação e capacidade


de segmentação
As informações obtidas são facilmente legíveis e po-
dem ser convertidas em ações mais precisas e eficazes,
o que permite otimizar os resultados da gestão do
turismo por se conhecer em detalhe o que os turistas
procuram.

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


28 TENDÊNCIAS TENDÊNCIAS 29

São viajantes a solo Pegada ecológica


Os novos 5. GERAÇÃO Z: UNPACKING 34% planeiam viajar sozinhos; 60% p retendem viajar e
mochileiros 33% preferem viajar sozinhos;
transportar-se numa
A geração Millennial tem estado na vanguarda do setor do turismo há modalidade amiga do
Os Z’s já não são os tradicio- alguns anos. No entanto, com a entrada da Geração Z na idade adulta, 46% c onsideram que viajar ambiente;
nais mochileiros low cost. os Z’s têm vindo a corresponder a cerca de 40% dos consumidores nos com a família os obriga
Vão preferir experimentar 56% q uerem que a sua estada seja
últimos dois anos. a moderar as suas rotinas;
os melhores restaurantes sustentável.
Fonte: Digital Tourism Think Tank
locais e levam consigo o
18% p retendem fazer uma
A oferta e a promoção turística vão ter de se adaptar ao facto de os Z’s viagem individual de
“flashpacking”, o kit de dispo- Ninjas das redes sociais
procurarem mais do que uma viagem: querem a experiência que cada mochila às costas ou
sitivos digitais. Como são al-
local tem para oferecer para poderem escrever uma história. Altamente um gap year.
tamente preocupados com as 45% a creditam e seguem as
questões ambientais, muitos familiarizados com as novas tecnologias e redes sociais, os destinos “ins- recomendações de pessoas
vão optar, quando possível, tagramáveis” vão ser os mais populares. que não conhecem, como
Priorizam viagens a bens
por não viajar de avião. materiais celebridades e influencers;
Ir para ser:
São “Fair business”: os Z’s 25% t iram mais de 50 fotografias
• M
 ais do que as paisagens, os Z’s procuram vivências, não querendo 65% c lassificam “viajar e conhecer
evitam recorrer, nas suas por dia quando estão
sentir-se apenas mais um turista, mas sim como parte da comunidade o mundo” como a opção
compras, a intermediários de férias;
local. Procuram experiências únicas e rejeitam o turismo de massas. mais importante quando
na cadeia de negócio. pensam em como vão 40% p rocuram inspiração para
• P
 reocupam-se com a sustentabilidade nos seus hábitos de viagem. gastar o seu dinheiro; viajar no Instagram;
Interessam-se por viagens ecológicas, práticas sustentáveis em hotéis
47% p referem priorizar as viagens 42% p ublicam sempre fotografias
e em trazer algo positivo para a comunidade local do seu destino.
a bens materiais; quando viajam;
• T
 omam as decisões com base na singularidade. Adotam a postura de 60% c onsideram que viajar é um 50% a creditam que é dada muita
influenciadores e procuram mostrar novos destinos nas redes sociais. bom investimento; dedicação às redes sociais
em viagem.
• E
 stão sempre à procura de novos destinos, seja para fazer breves 70% t encionam gastar dinheiro
winter-breaks ou para visitar amigos que vivam noutras cidades. em experiências quando Fonte: Booking.com
em viagem.

MAS E AFINAL QUEM SÃO OS Z’S?


Preparam uma bucket-list
Estão conscientes do que procuram de viagens

67% osmostram-se empolgados quando pensam em todos


lugares para onde vão viajar no futuro;
32% e speram conseguir visitar
pelo menos cinco das suas
intenções de viagem;

39%  nos
planeiam visitar pelo menos três continentes diferentes
próximos 10 anos
69% p ossuem uma lista de locais
para visitar antes de morrer.
Os Z’s são mais individuais, mas são, ao mesmo tempo, globais, e viajam
para contar histórias, falar sobre a sua experiência e as suas emoções.
30% e speram estudar ou viver num outro país que não o de origem; 23% m
 ostram-se ansiosos por
cumprir a sua lista de
Procuram com as viagens dar a sua visão sobre o mundo porque que-
rem inspirar os outros e sentirem-se úteis. Querem ser parte das comu-
intenções de viagens para
56% pporrocuram uma experiência de aventura durante a viagem, como
exemplo, fazer salto de paraquedas ou bungee jumping. poderem adicionar novos
nidades locais e mudar o mundo. Os sinais para onde vamos caminhar
já começam a aparecer e, com o arranque da década, o setor do turismo
locais. necessita de estar atento à geração Z para ficar um passo à frente.

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


30 TENDÊNCIAS CAPÍTULO 31

Os players que estão na frente da corrida já estudaram • P


 rivilegiar a oferta customizada.
e planearam ações para atrair este segmento. A vive-
rem com os pais e com um perfil altamente influen- A identidade tornou-se o verdadeiro
ciador, têm bastante peso na tomada de decisão em valor diferencial do posicionamento
casa. A relação destes jovens com o mundo digital é turístico que permite que um destino seja
radicalmente distinta dos seus antecessores: a gera-
interessante e relevante para eles.
ção Z cresceu com o telemóvel.

Como são multifacetados e multiscreen, estão muito


expostos às redes sociais e, por consequência, aos ví-
deos e outros conteúdos relacionados com viagens e GERAÇÃO ALPHA DITA AS REGRAS
destinos. É este padrão que os leva a querer experi-
mentar novos serviços e produtos.
DAS VIAGENS EM FAMÍLIA
São muitas as razões para estar atento à geração
O desejo de viver é uma característica típica das no-
Alpha - os nascidos após o ano 2010. A reter
vas gerações. Para harmonizar a relação com eles,
que este segmento tem vindo a influenciar
terá de existir um grau de compromisso maior com
cada vez mais a decisão de férias da família,

6. VIAJAR PARA
a inovação e com as plataformas digitais para deta-
lhar a comunicação de oferta de produtos e serviços.
aumentando o número de viagens ao longo Há um maior interesse
do ano.
Cabe às marcas oferecer conteúdo e soluções ino- nas cidades secundárias
vadoras. Algumas companhias aéreas já começam a
dar os primeiros passos nas plataformas mais utili-
Um aspeto interessante a considerar são os
novos padrões de viagem das famílias. Cerca
UMA CIDADE que se reflete também
no número de novas rotas
zadas (Snapchat, Whatsapp e Instagram). A Transa-
via e a WOW air têm uma comunicação assente no
engagement em que os novos viajantes são os maio-
de 95% dos viajantes considera que manter
a família entretida e feliz durante a viagem
é uma prioridade. Já cerca de 85% afirma
SECUNDÁRIA É para esses destinos
res embaixadores das marcas através da partilha de
conteúdo inspirador.
que as atividades ao ar livre e o planeamento
de férias escolares são também um fator de
O NOVO NORMAL Experiências mais tradicionais
extrema importância com uma grande valo-
COMO DEVEM ATUAR AS MARCAS JUNTO rização das atrações e atividades temáticas.
A crescente preocupação ambiental e o apareci- e únicas e menos dispendiosas
mento do Instagram alteraram a criação de valor no
Fonte: Grupo Expedia
DESTE SEGMENTO? setor do turismo. No final de 2010, cidades como Dado que as pessoas procuram, cada vez mais, que-
brar as tendências e mergulhar na cultura local, há
Veneza e Amesterdão começaram a impor algumas
• U
 tilizar as Tecnologias de Informação restrições às atividades turísticas. agora uma maior procura por estadas mais curtas e
e Comunicação como ferramenta principal mais regionais. As viagens low cost são também res-
de comunicação com estes públicos; O overtourism traz efeitos diretos nas infraestruturas, ponsáveis por esta flexibilidade.
no património cultural e nas populações. Assim, ao
• D
 esenvolver uma estratégia adequada para as entrarmos numa nova década há um novo caminho Os Millenials e a Geração Z são os grandes impul-
redes sociais; a considerar: o aumento das viagens para as cidades sionadores das viagens para cidades secundárias que
secundárias, com o desígnio de se explorar destinos oferecem aquilo que mais procuram: autenticidade.
• M
 onitorizar frequentemente o impacto dos Z’s menos populares e proteger o meio ambiente. De acordo com a STA Travel, a maior empresa de
na redefinição e criação dos modelos de negócio; viagens para jovens e estudantes do mundo, o cres-
Segundo um relatório da Booking, cerca de 51% cimento desta tendência deve-se ao facto de haver
• D
 esenvolver um plano para promover atividades dos viajantes afirma que trocaria o seu destino pre- uma maior vontade em satisfazer a necessidade de
turísticas. Devem ser enaltecidos os atributos- ferencial por uma alternativa semelhante se isso se visitar e conhecer novas culturas, gastronomias e
-âncora que constituem a base e a essência traduzisse num impacto ambiental menor. É aqui tradições.
da oferta turística e devem ser reforçadas as que o Alojamento Local e o Turismo de Habitação
características distintivas do destino. podem ganhar espaço.

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


32 TENDÊNCIAS CAPÍTULO 33

7. ADAPTAÇÃO Abertura
Em novos cenários revela-se necessário empregar
abordagens diferentes. Sendo um elemento sensível
Stephen Hawking disse que a "inteligência é a capa-
e imprevisível, as expectativas têm vindo a ser traba-
cidade de se adaptar às mudanças", e a pandemia de
lhadas para que exista uma maior colaboração, fecho
COVID-19 fez com que as empresas se deparassem
de parcerias e novas oportunidades.
com uma enorme mudança – e o setor do turismo
não é exceção. Conceitos como o teletrabalho ou tra-
balho remoto, reuniões virtuais e ferramentas como Relação triangular
Microsoft Teams, Zoom e Skype tornaram-se no
novo normal. A cadeia de valor do turismo pode ser vista como
uma linha que vai desde o visitante ao destino, pas-
Exige-se que tenham uma postura pró-ativa, inte- sando pelos consultores, operadores turísticos, trans-
ligente, sustentável, responsável e adaptativa. Aqui portes e estada, entre outros que trabalham com o
abre-se a porta a outra questão: é fundamental que apoio de alguns serviços públicos. No entanto, sur-
as empresas conheçam as diversas tecnologias que giu um novo grupo de muito peso, os residentes, que
lhes permitem dar resposta aos desafios do mercado. vieram alterar a forma como as relações se estabele-
É importante investir na formação para que os ati- cem. Existe agora uma relação triangular entre as ad-
vos da empresa possam retirar o máximo proveito da ministrações públicas, o setor privado e a comunida-
inovação e da tecnologia existente. de local que se posiciona como parte ativa na gestão
dos destinos.
A conjugação destes fatores são elementos cruciais
para promover o crescimento do turismo à escala É recomendado para destinos comprometidos com
global. Efetivamente, será fundamental identificar novos mecanismos e estratégias promovidas pelas ad-
novos parceiros, novos modelos de negócio e estudar ministrações a facilitar esta inter-relação entre todas
tecnologias disruptivas e facilitadoras do trabalho e as partes envolvidas.
do conhecimento do mercado.
A estratégia deve ser desenhada com todos e deve
ser transversal, dinâmica e participada, atendendo ao
Liquidez: adaptação mercado e às suas tendências. Um caminho em que
ao meio ambiente todos assumem o seu papel. •

A adaptação que nos é exigida num mundo em con-


tante mudança, será a nova configuração dos próxi-
mos anos: um ambiente instável, imprevisível e com-
plexo. Hoje é preciso agir para no futuro existir uma
maior capacidade de resposta à incerteza, ao medo e
ao risco. Existem vários desafios e questões a melho-
rar, nomeadamente:

• E
 quipas multidisciplinares e capacitadas.
• L
 iderança transformacional e distribuída.

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


34 TENDÊNCIAS TENDÊNCIAS 35

O EMPREGO DADOS GERAIS DO EMPREGO EM TURISMO:

NO SETOR DO
2013 2018

Nº de pessoas 289 Mil Nº de pessoas 329 Mil


Quota Quota
do turismo no 6,5% do turismo no 6,7%

TURISMO EM
emprego total emprego total

Ainda que nos anos de 2014 e 2015 se tenha veri-


ficado uma descida do emprego no turismo, em
termos absolutos, de 4% e 6%, respetivamente, nos
anos 2016 e 2017 o emprego voltou a subir: 8% em

PORTUGAL
2016 e 11% em 2017. Importa referir que dos 329
mil empregos no turismo em 2018, mais de 247 mil
são na área de restauração e bebidas e 81 mil na
área do alojamento turístico. (Fonte: AHRESP)

EMPREGO NO TURISMO POR SEXO:

O turismo é um importante setor para a criação de riqueza e geração 2013 - Homens 2018 - Homens
de emprego em Portugal. Nº de pessoas 120 Mil Nº de pessoas 138 Mil
Quota 41,5% Quota 41,9%
Em 2018, representava 8,2% 2013 - Mulheres 2018 - Mulheres

do PIB nacional e era responsável Nº de pessoas 169 Mil Nº de pessoas 191 Mil
Em 2018 mais de 143 mil trabalhadores do turismo
por 329 mil empregos, segundo Quota 58,5% Quota 58,1% tinham habilitações secundário/pós secundário e
superior, um aumento de mais 51 mil em relação ao
dados do Turismo de Portugal. As mulheres têm uma representação superior quan-
to ao emprego no turismo e a preponderância tem
ano de 2013. Em 2018, a quota deste nível de esco-
laridade era de 43,7%. Estes dados demonstram que
vindo a crescer: são mais de 21 mil desde 2013 e entre 2013 e 2018 os recursos humanos em turismo
O turismo tem registado um crescimento contínuo e constitui-se representavam, em 2018, 58,1% do total de colabo- reforçaram significativamente as suas qualificações.
como um eixo estratégico para o desenvolvimento sustentado por radores. Ainda que nos anos de 2014 e 2015 se tenha
todo mundo. Em 2019, o Dia Mundial do Turismo comemorou-se registado, em termos absolutos, uma queda de 6% A valorização das profissões do turismo e a formação
sob o tema Tourism and jobs: a better future for all. O tema teve como e 5%, respetivamente, nos anos de 2016 e 2017 os de recursos humanos - aumento das qualificações
objetivo analisar a capacidade do setor na criação de mais e melhor valores voltaram a subir (+7% e +8%). no Turismo - é uma das áreas de aposta da Estra-
emprego e, assim, contribuir para a construção de um futuro melhor tégia 2027. Tendo por base a edição especial do
para milhões de pessoas em todo o mundo. EMPREGO NO TURISMO P/ ESCOLARIDADE: Barómetro do Turismo para o anuário Turismo
em 2019, o painel apontou também a escassez/
Mas, para que o crescimento económico seja uma realidade, é funda- 2013 - Secundário/ pós 2018 - Secundário/ pós
secundário e superior secundário e superior redução de qualidade dos recursos humanos e do
mental que o setor tenha recursos humanos disponíveis em diferen-
serviço/produto prestado, como um dos fatores que
tes áreas. Neste artigo, o IPDT apresenta uma breve caraterização das Nº de pessoas 92 Mil Nº de pessoas 144 Mil
teria um impacto mais negativo no desenvolvimen-
pessoas que trabalham no turismo em Portugal, através dos dados do Quota Quota
do nível de 31,9% do nível de 43,7% to do turismo português durante o ano de 2019.
INE - Instituto Nacional de Estatística e do Turismo de Portugal. escolaridade escolaridade

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


36 TENDÊNCIAS
CAPÍTULO CAPÍTULO 37

SUSTENTÁVEL

DIFICULDADE DE
RETENÇÃO DE RH
PRÓXIMO

EM CERTAS REGIÕES
recrutar, mas o salário mínimo é
a referência para cada vez mais
trabalhadores, pois os salários
médios não estão a acompanhar
o seu aumento. Por outro lado, o
O capital humano é um recurso importante
aumento de emprego e salários é
para a competitividade das empresas turísticas e contrabalançado pelo aumento
para o desenvolvimento da indústria do turismo. de rendas e do custo de vida, sobre- AUTÊNTICO

tudo em cidades como Lisboa e


O pressuposto de que a prestação de serviços aos turistas é feita por Porto.
um elemento humano, faz com que a sua qualificação ao nível técnico
Os trabalhadores reivindicam me-
e competências pessoais adequadas para uma orientação para o cliente

A VIDA
lhores salários, face à boa situação
se revistam de suma importância.
económica do setor. Com efeito,
O capital humano constitui um aspeto estratégico de os proveitos totais dos alojamen-
competitividade no setor do turismo e hotelaria, sendo
imprescindível ter recursos humanos qualificados e
tos turísticos, entre os anos de
2013 e 2018, aumentaram cerca de
É AGORA!
dois mil milhões de euros, o que
motivados para prestar um serviço de qualidade. representa uma subida de 92,8%. O Centro de Portugal está
Ou seja, os estabelecimentos de
A escassez de recursos humanos dedicados ao turismo, a dificuldade de
hotelaria, turismo e restauração
+ sustentável
captação, retenção e formação de pessoas é sentida por empresários ho-
teleiros, em todos os destinos nacionais. A situação é ainda mais comple- quase duplicaram os seus provei- + humano
xa no interior do país. A sazonalidade e a precaridade dos contratos de tos em apenas cinco anos. Verifi- + próximo .
trabalho são duas explicações possíveis para o problema que impacta o cou-se igualmente um aumento
setor, sobretudo em zonas mais afetadas pela sazonalidade. muito significativo do rendimen- + seguro
to médio por quarto que, nestes
O desemprego em Portugal caiu nos últimos anos e os setores ligados cinco anos, se cifrou em 86%. •
ao turismo, como a restauração ou a construção, têm dificuldade em

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


38 TENDÊNCIAS TENDÊNCIAS 39

LOJAS COM O comércio foi um dos pilares


de desenvolvimento de Lisboa,
pois desde sempre as lojas

HISTÓRIA
SOFIA PEREIRA
tradicionais contribuíram
para o caráter distintivo
da cidade.
Socióloga
Coordenadora do Grupo
de Trabalho Lojas com História

Em 2015 a Câmara Municipal


de Lisboa cria o programa Lojas
com História, pioneiro no país.

A prioridade foi, e continua a ser, desenvolver o co-


mércio tradicional e histórico da cidade no sentido
de, por um lado, preservar e salvaguardar os estabe-
lecimentos e o seu património material, histórico
e cultural e, por outro lado, dinamizar a atividade
comercial, essencial para a sua existência.

O objetivo deste programa consiste no apoio e pro-


moção do comércio tradicional local como marca
diferenciadora da cidade garantindo a continuação
renovada de um setor com enorme valor patrimonial
cultural e económico. Reconhecer e dar a conhe-
cer ao país e ao mundo as lojas únicas da cidade de
Lisboa.

Lojas com História, como já referido, é aprovado


em 2015 com a intenção de proteger e divulgar o
comércio caraterístico e diferenciador da cidade de
Lisboa. O primeiro passo foi a definição dos crité-
rios de avaliação a que seriam sujeitas as lojas, para
que se pudesse aferir se seriam ou não Lojas com
História.

Assim, após um intenso trabalho de pesquisa docu-


mental e de trabalho de campo foram elaborados 18
critérios de distinção distribuídos por 3 núcleos, a
atividade, o património material e o património cul-
tural e histórico. Foi definido que todos os critérios
TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências
40 TENDÊNCIAS 41

Este conselho é constituído por Atualmente Lisboa conta com 142 lojas distinguidas.
representantes de setores asso-
ciativos, empresariais, culturais, O programa de Lisboa foi o embrião, da Lei 42/17 que vem estabele-
académicos ou movimentos de cer o “Regime de reconhecimento e protecção de estabelecimentos e
cidadania, que são convocados entidades de interesse histórico e cultural ou social local”, aprovada
a deliberar sobre os trabalhos e publicada em junho de 2017. Esta lei entre outros benefícios esta-
desenvolvidos no âmbito do belece regras de protecção e salvaguarda no âmbito dos contratos de
programa, nomeadamente o pro- arrendamento.
cesso de distinção.
Para apoiar a manutenção das características genuínas deste impor-
O procedimento inicia-se com a tante setor do comércio, o Município criou o Fundo Municipal “Lojas
submissão da candidatura, após a com História”, publicado em 2017. E que prevê apoios financeiros às
qual o estabelecimento é sujeito lojas distinguidas nomeadamente ao nível da reabilitação dos imóveis.
a uma primeira triagem para
A Câmara Municipal de Lisboa, com a colaboração da Faculdade de
verificação de alguma questão
Belas Artes de Lisboa, promoveu a criação da identidade visual do pro-
impeditiva do prosseguimento
grama. O logótipo do programa Lojas com História faz referência a
da mesma. Segue-se depois a
imagens do comércio tradicional: às montras, às prateleiras, aos letrei-
recolha de documentação por
valeriam um ponto, com excepção para a longevidade que seria majo- ros. É um logótipo evocativo de espaços e experiências que fazem parte
parte do grupo de trabalho, visita
rada até um máximo de 3 pontos (1 por cada 25 anos). da memória coletiva dos visitantes e habitantes da cidade de Lisboa,
ao estabelecimento e entrevista
e ao mesmo tempo consciente da relevância contemporânea do pro-
ao proponente da candidatura
Quis-se premiar a resiliência e a consistência e a outros indivíduos consi-
grama e do seu objeto de estudo.
da atividade económica instalada no mesmo espaço derados relevantes para o pro- No âmbito desta identidade foram desenvolvidos suportes de comu-
físico ao longo dos anos. cesso, passa-se à fase de análise nicação de natureza variada, um website, um livro, uma exposição e a
da candidatura, para verificação presença em redes sociais como Facebook e Instagram, potenciando a
Os critérios de atribuição da distinção “Lojas com História” foram
do cumprimento dos critérios presença de todas as lojas nestas plataformas. Para sinalização das lojas
aprovados em fevereiro de 2016. Passou-se à aplicação destes crité-
do Regulamento das Lojas com foi desenvolvido um elemento físico em Latão.
rios de avaliação a uma seleção de 100 lojas dos mais variados ramos
História, e elaboração do relató-
de atividade económica. Todas as lojas foram visitadas pelas equipas, A distinção de uma Loja é prestigiante para vários atores, o comer-
rio final de avaliação, respetivo
entrevistados os intervenientes necessários, e depois de recolhida e ciante que vê reconhecido o seu trabalho, o proprietário que tem uma
parecer e proposta de projeto de
analisada a documentação, em julho de 2016 e fevereiro de 2017, valorização do seu imóvel e a própria cidade que mantém uma parte
decisão.
sob proposta do Grupo de Trabalho, e depois de ouvido o Conselho importante da sua identidade. •
Consultivo, a Autarquia aprovou a atribuição da distinção “Lojas com Todos os projetos de decisão são
História” a um conjunto de respetivamente 63 e 19 estabelecimentos presentes ao conselho consultivo.
comerciais. As propostas colhem, de harmo-
nia com o Regulamento, parecer
A partir de Maio de 2017, por publicação do Regulamento Munici-
deste órgão. As lojas que tenham
pal de Atribuição da Distinção “Lojas com História” o procedimento
proposta de distinção seguem
deixa de ser de iniciativa municipal e passa a ser por candidatura, que
para a fase de audição às Juntas
pode ser apresentada por iniciativa dos comerciantes, proprietários
de Freguesia em cuja circunscri-
ou sociedade civil.
ção se localize o estabelecimento.
O grupo de trabalho Lojas com História é composto por representantes Após um período de consulta
dos pelouros da Economia e Inovação, do Urbanismo e da Cultura. É pública as decisões são subme-
este grupo de trabalho que constitui a equipa municipal dedicada aos tidas à Câmara Municipal para
lojistas. Estando incumbido de conduzir todo o processo de candida- deliberação final.
tura até à apresentação ao Conselho Consultivo.

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


42 TENDÊNCIAS TENDÊNCIAS TENDÊNCIAS 43

cos das janelas pintadas de verde, localizado no compartimento


Gabinetes em harmonia com a designação
inscrita em tinta branca, aplicado
de maior dimensão também foi
mantido, preservando-se a sua
Privados também nas portas de entrada da
cozinha, e casas de banho (fre-
decoração interior. O pavimento
do restaurante, composto por
Se as paredes falassem contavam gueses e freguesas). lajes centenárias, foi mantido,
histórias, planos que não saíram assim como uma pequena aber-
do papel ou casos tórridos de Os três compartimentos, forrados tura da cozinha para a sala, por
uma noite. Outrora foram escon- com painéis de madeira, e pin- onde passaram, e continuarão a
derijos, hoje os Gabinetes Privados tados com desenhos que repre- passar, os deliciosos manjares que
são espaços de convívio para dois sentavam 28 pregões de Lisboa, aqui se preparam.
dedos de conversa, entre garfadas transportando-nos para o tempo
e um bom vinho, abafadas pelas dos vários ofícios (amolado- O projeto “Lojas com história”
memórias dos pregões ambulantes res, varinas, lavadeiras, fava-rica, nasceu como forma de reconhe-
de fava-rica, amoladores ou agua- aguadeiros), são agora designa- cer o comércio, desde sempre
deiros, que hoje são verdadeiros dos como clandestino, tertúlia e elemento distintivo de Lisboa.
sentinelas destes Gabinetes. reviralho. Esta iniciativa da Câmara Muni-
cipal de Lisboa para preservar o
Mantiveram-se todos os elemen- patri-mónio histórico e cultural
Uma Loja com tos decorativos que caraterizam
este espaço como uma “Loja com
veio contribuir em larga medida
para salvaguardar a identidade de

Faz Frio História História”. Desde a escultura do Lisboa. O estatuto de Loja Com
marinheiro que foi concebida por História foi atribuído ao “Faz
Mário Cesariny, e que se encon- Frio” pelas suas caraterísticas
A Antiga casa Faz Frio faz parte
DESDE 1872 tra à entrada do restaurante, como únicas, valor histórico, artístico e
das lojas inscritas no programa
os compartimentos que se manti- cultural. •
de Lojas com História desde
veram cheios de gravuras das
Jorge MArques Com portas abertas 2017. Em Outubro de 2018, a
Restaurante Faz Frio várias profissões desenhadas a
“Antiga Casa Faz Frio” passou
desde 1872, o Faz Frio a designar-se apenas “Faz Frio”.
carvão. O candeeiro com cachos
já foi cenário de tertúlias, de uvas encontra-se no bar e os
Os pratos do dia mantiveram-se,
Um restaurante tipicamente português, onde a tradição azulejos foram replicados com
porto de muitos bem como os traços caraterísti-
saboreia sem pressas. Feitas as contas o Faz Frio é o que os motivos originais. O armário
marinheiros e palco
sempre foi. Uma tasca portuguesa onde não falta
vinho e pão sobre a mesa. de animados serões
ao som de guitarras.
Em 2018, renasceu como
PorquE Faz Frio? DE ONDE VEM? um espaço para lembrar
o passado e celebrar
A localização (no alto da colina, onde faz mais frio) e a porta das trasei- o presente. Hoje,
ras sempre entreaberta – para ajudar nas fugas intempestivas – foram cozinham-se receitas
as responsáveis por gerar as célebres correntes de ar que deram o nome
quase perdidas no
ao espaço. Entretanto, a porta já está fechada e já não “faz frio”, apenas
um postigo entreaberto para deixar a brisa da história entrar. À mesa, tempo, marinadas
os petiscos servem-se sempre fumegantes, prontos a aquecer o corpo no frio do passado mas
e a alma. com sabor do presente.

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


44 TENDÊNCIAS

O desenvolvimento do setor
do turismo é indissociável
do território, conforme aliás
é patente na atual estratégia
- Estratégia para o Turismo
2027 (ET27).

Desde logo na Visão, ao


afirmar Portugal como
um destino sustentável,
O turismo, pelas suas características intrínsecas, é uma atividade com-
onde o desenvolvimento plexa e transversal, cujo desenvolvimento convoca uma diversidade de
do turismo assenta na componentes, desde logo a oferta e a procura turísticas, mas também
conservação e na valoriza- uma série de outros setores, tais como as acessibilidades, os equipa-
ção do património natural mentos ou os serviços, bem como múltiplos interesses, como sejam,
naturalmente os dos turistas e dos diversos agentes do turismo, mas
e cultural identitário,
também os das comunidades locais.
na melhoria da qualidade
de vida das populações O caráter transversal do setor do turismo, exigindo a articulação com
várias outras áreas de atividade, leva a que a implementação da estraté-
locais, mas também
gia de desenvolvimento do setor encontre nas políticas de ordenamen-
quando ambiciona o to do território e do urbanismo, e na sua operacionalização através dos
contributo do turismo instrumentos de gestão territorial (IGT), uma via privilegiada para a
para a coesão territorial, sua concretização. Com efeito, os princípios da concertação e da com-
estendendo a procura a patibilização das diversas políticas públicas com incidência na organi-
zação do território, que norteiam o procedimento de elaboração dos
todo o território nacional.
IGT, desde logo através do acompanhamento da respetiva elaboração
por uma comissão consultiva constituída por representantes das várias
entidades e serviços públicos com expressão territorial (entre as quais
se contam representantes dos interesses do setor do turismo, como
sejam o Turismo de Portugal e, nos IGT de nível mais estratégico, das

O papel do ordenamento do
Entidades Regionais de Turismo e da sociedade civil), bem como a
discussão pública, que é parte integrante do procedimento, propor-
cionam o contexto adequado e o envolvimento de todos os agentes na
prossecução de uma estratégia partilhada com o objetivo comum de

território na implementação afirmação do turismo como uma atividade que concorre para o desen-
volvimento sustentável dos territórios.

da estratégia para o turismo


A implementação da ET27 exige ainda, naturalmente, a consideração
das especificidades regionais e locais, tendo presente que os destinos,
para se tornarem competitivos num mundo cada vez mais global,
devem apostar em fatores de diferenciação ancorados nos seus recursos
Fernanda Praça endógenos, potenciando a autenticidade e disponibilizando experiên-
Diretora do Departamento de Ordenamento Turístico
cias únicas. Também aqui, a estruturação do nosso sistema de gestão
Direção de Valorização da Oferta _ Turismo de Portugal

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


SONHE AGORA
46 TENDÊNCIAS TENDÊNCIAS 47

territorial, organizado em quatro âmbitos territo- são a sazonalidade e a coesão territorial. Também
riais, do nacional (programa nacional da política de nestas vertentes, os IGT assumem um contributo
ordenamento do território - PNPOT -, programas decisivo, quer direcionando a oferta para produtos

VIAJE DEPOIS
setoriais e programas especiais) ao municipal (pla- suscetíveis de combater a sazonalidade, quer in-
nos diretores municipais, planos de urbanização e corporando disposições que discriminem positiva-
planos de pormenor), passando pelo regional (pro- mente as áreas menos desenvolvidas.
gramas regionais de ordenamento do território) e
pelo intermunicipal (programas ou planos que en- Contudo, o principal desafio que se coloca ao desen-
volvem territórios de mais do que um município), volvimento do setor do turismo é o da sustentabi-
incorpora uma sucessiva aproximação da escala lidade, nas suas diversas vertentes, desde logo con-
siderando o elevado crescimento da atividade e os
São Tomé e Príncipe
nacional, mais estratégica, à local, mais operativa,
proporcionando a concretização de políticas de de- inerentes impactes em alguns territórios mais sen-
senvolvimento turístico ajustadas às diversas reali- síveis, mas também, e em especial, o da mitigação e
dades territoriais. da adaptação às alterações climáticas, que requerem
uma atuação planeada e diferenciada no território.
No nosso sistema de gestão territorial o PNPOT
assume particular relevância uma vez que estabe- Este é um desafio para o setor do turismo, mas tam-
lece as opções estratégicas e o modelo de estrutu- bém para o planeamento territorial, no sentido de
ração territorial nacional, constituindo o quadro promover modelos de ordenamento turístico que
de referência para os demais IGT. O PNPOT foi concorram para a atratividade de novos territórios e
recentemente revisto (Lei 9/2019), integrando as para o estabelecimento de adequados mecanismos
linhas de orientação estratégica da ET27 no respe- de monitorização, que garantam a qualidade da
tivo Programa de Ação, destacando-se em especial a experiência do turista e, simultaneamente, acaute-
Medida 3.3 - Afirmar os ativos estratégicos turísticos lem a utilização sustentável dos recursos e dos inte-
nacionais, bem como a Medida 3.4 - Valorizar os resses das comunidades locais, mas sobretudo que
ativos territoriais, na qual se inserem programas de integrem disposições que contribuam para uma
revitalização de património cultural para fins turís- resposta adequada às alterações climáticas. •
ticos como é o caso do REVIVE.

Estas grandes linhas de orientação serão, entretanto,


consideradas nos demais IGT, desde logo na revi-
são dos Programas Regionais de Ordenamento do
Território, devendo ser incorporadas e adaptadas
às especificidades regionais. Com efeito, as regiões
apresentam diferenças em aspetos chave da ativi-
dade turística, nomeadamente ao nível da capaci-
dade competitiva, dos produtos estratégicos, dos
recursos turísticos, da notoriedade enquanto des-
tino turístico, bem como das acessibilidades, dos Estaremos à sua espera quando tudo estiver bem!
equipamentos e dos serviços que gravitam em torno
da atividade turística.
Visite-nos em: www.hbdprincipe.com

Outros desafios que têm vindo a merecer um es-


forço acrescido das entidades responsáveis, em
especial do Turismo de Portugal, das Entidades
Regionais do Turismo e das Câmaras Municipais,

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


48 TENDÊNCIAS TENDÊNCIAS 49

Turismo Acessível: quão


é fundamental para que os seniores se mantenham
ativos, independentes e continuem a viajar.

preparados estamos para


A procura de produtos e serviços acessíveis é grande
e o número de cidadãos com deficiência e/ou limi-
tações funcionais irá aumentar significativamente
com o envelhecimento da população. Prevê-se que,

receber turistas com em 2020, já haverá cerca de 120 milhões de pessoas


na União Europeia (UE) com diversos tipos de de-
ficiências (Eurostat). Os Estudos mais recentes da

necessidades especiais? Comissão Europeia (EC, 2014) estimam que exis-


tem na UE 138,6 milhões de pessoas com necessi-
dades especiais, divididas em dois grandes grupos:
cerca de um terço são pessoas com deficiência (com
ANA GARCIA
idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos) e os
Presidente da Accessible Portugal
restantes dois terços são seniores (com idade supe-
rior a 65 anos).

Em Portugal cerca de 50% da população idosa tem


muita dificuldade ou não consegue mesmo realizar
A qualidade de uma estadia De um modo geral, os responsáveis pelos espaços
públicos, os prestadores de serviços turísticos e os
pelo menos uma das 6 atividades do dia-a-dia
(INE, 2012). Quanto às pessoas com deficiência, a
turística em qualquer próprios cidadãos residentes não estão ainda prepa- Organização Mundial de Saúde (OMS, 2011), esti-
território não depende apenas rados, não têm ainda as competências necessárias
para se relacionarem adequadamente com pessoas/
ma a existência de mil milhões de pessoas no mun-
do (15% da população mundial) com algum tipo
da qualidade dos serviços turistas com necessidades especiais. Desconhece-se de deficiência.
prestados por agentes do setor como apoiar uma pessoa em cadeira de rodas, como
orientar uma pessoa cega, como comunicar com Os Estudos (EC, 2014) referem que, em média, as
do turismo, mas também dos uma pessoa surda, como se relacionar com uma pessoas com necessidades especiais viajam com
1,9 acompanhantes. Assim, podemos admitir que
contextos físicos e sociais em pessoa com deficiência intelectual, etc.
cerca de 180 milhões de turistas europeus se refe-
que as experiências decorrem: A acessibilidade passa pela prevenção ou a elimi-
nação de obstáculos à utilização dos produtos e
renciam no turismo acessível e inclusivo. Pode-se
ainda somar a esta estimativa as pessoas que, apesar
da qualidade do envolvimento serviços mais comuns. Permite às pessoas com de apresentarem limitações temporárias resultantes
físico e dos espaços públicos, limitações funcionais, inclusive as pessoas com
deficiência, percecionar, utilizar e compreender es-
de doenças ou lesões (como, por exemplo, fraturas,
entorses ou queimaduras), mantêm o desejo ou a
dos serviços comuns que tes produtos e serviços, em igualdade de condições necessidade de viajar. Se acrescentarmos, ainda, as
o turista também utiliza e com as demais pessoas. pessoas que sofrem de alergias e intolerâncias, te-
remos, segundo a European Centre for Allergy
do relacionamento com os O conceito de envelhecimento ativo, salienta a im-
portância de criar ambientes acessíveis ou adap-
Research Foundation (ECARF), mais de 30% da

residentes com que interage. tados aos seniores, para que as pessoas possam
população europeia.

continuar a viver, o máximo de tempo possível, uma Analisando o lado económico e quantificando o
vida autónoma na comunidade onde se inserem. A número médio de viagens que estes turistas habi-
acessibilidade é uma das componentes essenciais tualmente fazem assim como as receitas por eles
deste conceito. Tendo em conta a forte correlação geradas, constatamos que se atingem valores na
entre deficiência e envelhecimento, a acessibilidade ordem de quase 800 milhões de viagens e de mais

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


50 TENDÊNCIAS TENDÊNCIAS 51

de €350 mil milhões (EC, 2014), • Melhoram a qualidade


comprovando que representa um
potencial gigantesco para o cres-
das suas instalações e Portugal recebe
cimento do turismo e ainda com
serviços, respondendo
assim com mais atenção
prémio de “Destino
tendência para aumentar, uma
realidade que Portugal não deve
aos clientes; Turístico Acessível”
desvalorizar.
• São promovidos como da Organização
Os estudos anteriormente men-
-cionados (EC, 2014) mostram
socialmente responsáveis,
reduzindo a sazonalidade, Mundial do Turismo
que, ao nível da União Europeia,
aproximadamente 45% das pes-
incrementando o
potencial de visitação e
(OMT)
soas com necessidades especiais Portugal recebeu o prémio de «Destino
fruição do espaço.
viajou em 2012, sendo que essa Turístico Acessível 2019» da Organização
percentagem é mais elevada nos Uma oferta turística mais acessível Mundial do Turismo. Esta distinção, que foi
países mais desenvolvidos. A e inclusiva representa um serviço atribuída pela primeira vez, este ano, pela
maior parte das viagens é realiza- de maior qualidade com impac- OMT em parceria com a Fundação ONCE,
da no próprio país, mas as viagens to na vida das pessoas que dela que reconhece o esforço concertado de
internacionais já apresentam va- usufruem. O retorno desse inves- Portugal na promoção da acessibilidade no
lores que rondam 25% do total. timento refletir-se-á, mais cedo Turismo.
Por outro lado, há evidências que ou mais tarde, em maior divul-
mostram que estes valores pode- Esta distinção é muito importante para res-
gação, num aumento do número
riam aumentar com a melhoria ponsabilizar o compromisso e dar continui-
de visitantes e maior base de sus-
das condições de acessibilidade e dade ao trabalho que tem sido feito nesta
tentabilidade para os recursos.
de informação sobre a mesma. matéria, que se reflete na qualidade de vida de
Os clientes que nos visitam são
habitantes e visitantes dos nossos territórios.
diversificados e têm necessidades
O mercado dos turistas com ne-
específicas variadas. Embora o en-
cessidades específicas (pessoas Portugal tem vindo a afirmar
foque da premissa PARA TODOS
com deficiência ou limitações
esteja intimamente ligado à defi- a vontade de ser um país cada
temporárias, seniores com difi- teúdo e divulga o espaço. vez mais acessível e inclusivo,
ciência e incapacidade, ao serem
culdades, doentes crónicos, fa-
mílias com crianças, etc.) tem
criadas condições de acesso, com A consciência de que assumindo também através do
base no Design Universal e num Turismo, esse desígnio.
uma importância crescente no
potencial e nas receitas turísticas.
atendimento e comunicação o Turismo pode ser
potenciado por uma
acessíveis e inclusivos, que consi- Em 2016 foi lançado o programa All for All,
Ao serem acessíveis os recursos
derem desde a faixa etária até ao do Turismo de Portugal, com o objetivo de ca-
turísticos:

• Respondem a um
nível de competências pessoais de
cada um, estaremos a garantir a to-
oferta inclusiva e que pacitar a oferta turística nacional, criar rotei-
ros acessíveis em todo o país, divulgar a oferta
mercado crescente de
dos melhores condições de acesso
aos espaços e ao seu conteúdo.
os Destinos Turísticos acessível de Norte a Sul e promover Portugal
como destino inclusivo para todos. Refere-se
turistas com necessidades
de acessibilidade, As condicionantes que envolvem
se devem apetrechar ainda que a Estratégia para o Turismo 2027
tem mais de quinze referências explícitas ao
alcançando um maior cada pessoa, em cada experiência
ou visita, irão impactar (positi-
para acolher a diferença, turismo acessível e inclusivo. •
número de clientes,
potenciais e efetivos;
va ou negativamente) na forma é já um movimento com
contornos mundiais.
como frui da oferta, apreende a
mensagem, interage com o con-

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


as melhores
52 TENDÊNCIAS TENDÊNCIAS 53

experiências
estão guardadas
para si.

INTERNET
A IoT permite conectar “tudo e todos” à web. A IoT
consiste, de forma muito geral, numa rede de ob-
jetos físicos (dispositivos, veículos, equipamentos)

OF THINGS
que têm incorporados sensores/chips/wearables que
possibilitam a recolha de dados.

Quando os dispositivos estão conectados a siste-

NO TURISMO mas automatizados é possível, além de recolher os


dados, analisá-los e tomar decisões de acordo com
a informação obtida.
Neste artigo, fique a conhecer algumas das
Para o turismo, tal como para muitos outros seto-
aplicações mais relevantes da IoT no turismo. res de atividade, os benefícios são muitos. Desde
logo, a possibilidade de melhorar a experiência
A Internet of Things turística mas também o aumento da rentabilidade
dos negócios ou a disponibilização de informação
(IoT) veio acrescentar pertinente para auxiliar qualquer processo de to-

valor ao setor do mada de decisão.

turismo em várias 1. TRANSPORTE AÉREO: TRACKING


áreas: no transporte DAS MALAS DA DELTA AIRLINES
Quem nunca perdeu a mala de porão ou esperou
aéreo, na gestão dos demasiado tempo para a encontrar? Este é um
dos grandes focos de insatisfação para os clientes
destinos, na restauração das companhias aéreas, como é o caso da Delta

e na hotelaria. Airlines. Com a adoção da IoT esta deixou de ser


uma dor de cabeça para a empresa americana.

TURISMO’20_anuário de tendências
facebook.com/visitfeira instagram.com/visitfeira #visitfeira
TURISMO’20_anuário de tendências
54 TENDÊNCIAS TENDÊNCIAS 55

A Delta implementou a tecnologia Radio Frequency Identification


(RFID) no sistema de tracking das malas. O número de desvios/perdas
das malas foi drasticamente reduzido e os clientes começaram a poder
A Internet of
monitorizar a localização da bagagem a qualquer momento.
Things ajuda
2. GESTÃO DE DESTINOS: AMESTERDÃO a tornar
A IoT pode também ter um papel fundamental na gestão dos destinos
turísticos, como já acontece em Amesterdão. A tecnologia permitiu os destinos
solucionar desafios relacionados com a sobrecarga das infraestruturas,
com comportamentos sociais desadequados dos visitantes e com a re- inteligentes
dução da coesão social.

Através dos dados armazenados no chip do City Card de Amesterdão


– que dá acesso a várias atrações e transportes públicos gratuitos -, os
gestores do destino começaram a analisar o comportamento dos tu-
ristas e encontrar formas de modificá-lo, para facilitar o problema das
Existem cada
Mobilidade urbana:
filas e congestionamento em certas zonas da cidade, descentralizando vez mais cidades A ideia das Smart Cities é direcio-
nar os avanços na tecnologia e
controlo em tempo real através da
a procura.
inteligentes em armazenamento de dados – que
utilização de sensores integrados
para reduzir os tempos e evitar
O uso de dados em tempo real para guiar as opções dos visitantes nas
plataformas digitais mais utilizadas tem sido benéfico para o destino. todo o mundo. fazem da Internet das Coisas
uma realidade – para o ambiente
congestionamentos numa rede
A sugestão aos visitantes para visitar certos locais com períodos onde As soluções e infraestruturas.
homogénea de soluções integra-
das que passam pela utilização de
se regista uma menor procura é uma das possibilidades já explorada.
Smart Cities estão Uma cidade inteligente apresen- autocarros que dispensam o servi-
ta três componentes principais: ço do motorista, etc.
3. HOTELARIA: O QUARTO DO FUTURO a transformar sensores, redes e participação
Serviços públicos:
Numa parceria com a Legrand e a Samsung, o grupo hoteleiro Marriott as cidades, com dispositivos móveis. Esse
uma rede inteligente que impulsio-
desenvolveu o “quarto do futuro”, através da incorporação de objetos trio, possibilitado pela Internet
físicos com sensores. e a tecnologia das Coisas (IoT), forma a espinha na o uso eficiente de energia e água.

A implementação desta tecnologia visa melhorar a experiência do está a torná-las dorsal de qualquer conceito de
cidade inteligente e impulsiona
Prédios:
hóspede a partir do momento em que entra no quarto, já que muitos
aspetos (iluminação, temperatura, ecrãs) são adaptados às necessidades
mais seguras, as inúmeras iniciativas que po-
construções com eficiência ener-
gética que economizam energia e
dem melhorar a eficiência e o
do mesmo. eficientes, amigas quotidiano.
reduzem emissões de CO2.
É possível desenvolver sistemas
O futuro do turismo será moldado por esta do ambiente, Para tornar as cidades do futuro de transporte, de controlo de re-
rede digital. A informação que vai gerar trará contribuindo sustentáveis, as tecnologias inte- síduos, de energia, e até de execu-
ção das leis que sejam movidos a
vantagens competitivas às organizações que ligentes precisam de lidar com
liderem a sua implementação. De acordo com
para melhorar a problemas centrais da vida urba- dados para torná-los mais eficien-
tes e melhorar a qualidade de
o Statista (The Statistics Portal), o mercado qualidade de vida na, como:
vida nas cidades. Podemos intera-
global da IoT vai atingir $8.9 biliões em 2020
e vão existir 75 mil milhões de dispositivos
de quem lá vive. Meio ambiente e segurança:
monitorização baseada em senso-
gir e recolher informações desses
sistemas inteligentes através de
conectados em 2025. O mercado vai crescer res - da poluição ao escoamento smartphones, relógios e outros
e as oportunidades são inúmeras. excessivo de água e às condições wearables. Mais do que isso, os
estruturais de pontes e estradas. sistemas vão comunicar entre si.

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


56 TENDÊNCIAS TENDÊNCIAS 57

Quisemos saber quais são as Better Reykjavik, um fórum e a agência governamental


cidades mais inteligentes do
3. Paris de consulta online onde os Waterside Toronto estão a
A cidade está atualmente cidadãos podem submeter trabalhar em conjunto para
mundo, de acordo com
a desenvolver o Grand Paris ideias sobre os serviços criar um empreendimento
o Cities in Motion Index
Express, que contará com cerca e operações da cidade. inteligente à beira-mar
da Ieseinsight. de 200 Km de linhas de metro conhecido como Quayside.
totalmente automatizadas 6. Singapura As empresas acreditam que este
e 68 novas estações. Até 2050, combinará o design urbano
A cidade implementou um
a cidade também substituirá com uma visão de futuro com
sistema de transporte chamado
1. Nova Iorque toda a frota de 4.500 autocarros
da RATP (principal operadora
One Monitoring, um portal que recurso a uma nova tecnologia
digital, permitindo a criação de
Com uma população acima disponibiliza informações sobre
de transportes públicos da bairros centrados nas pessoas
de 8,5 milhões, a cidade de tráfego de câmeras de vigilância
região de Paris) por veículos e possibilitando níveis sem
Nova York consome mais de instaladas em estradas e sobre os
elétricos ou a gás natural. precedentes de sustentabilidade,
3 mil milhões de litros de água táxis que usam GPS. Além disso,
a cidade de Singapura instalou acessibilidade, mobilidade e
por dia. O Departamento de
Proteção Ambiental da cidade
4. Tóquio um Sistema de Orientação oportunidade económica.

está a implantar um sistema Com uma das áreas para o Estacionamento que
de leitura automatizada de metropolitanas mais populares disponibiliza informações em 9. Hong Kong
medidores em larga escala para do mundo e com uma e com tempo real. Em 2015, a cidade A cidade possui um índice
obter uma visão melhor do uma taxa de produtividade também introduziu contentores elevado de inovação - quase
consumo de água, oferecendo elevada, a cidade destacou-se inteligentes como parte de um 100% da população possui
aos clientes uma ferramenta útil particularmente no ranking programa de gestão inteligente dispositivos móveis. Também
para consultar o consumo diário. pela economia e capital de resíduos. se destaca pelo número de
A cidade também se focou humano. Escolhida para sediar utilizadores de redes sociais e
nos repositórios de lixo os Jogos Olímpicos de 2020, 7. Seul pelo número de telemóveis per
“inteligentes” movidos a energia Tóquio vai usar a tecnologia capita. Hong Kong desenvolveu
Seul anunciou que vai instalar
solar, que monitorizam os níveis de reconhecimento facial para ainda um novo sistema de
50 mil sensores inteligentes
de lixo e garantem a recolha melhorar a segurança, enquanto identificação eletrónica (e-ID).
em toda a capital até 2020 para
regular. que táxis sem motorista deverão
recolher informações sobre
transportar atletas e turistas.
poeira fina, tráfego e outros 10. Amesterdão
2. Londres 5. Reykjavik
problemas relacionados com a O projeto Amsterdam Smart
É a capital e a cidade mais vida dos cidadãos. Além disso, City (ASC) é promissor
populosa do Reino Unido e é Recentemente, a cidade a cidade, este ano, pretende e a cidade tem vindo a
um centro de artes, comércio, promoveu uma aplicação também promover um serviço trabalhar junto das empresas
educação, entretenimento, de transporte público para de estacionamento de partilha e corporações locais para
moda, finanças, investigação, autocarros urbanos na área que recorre aos sensores de IoT testar soluções sustentáveis no
turismo e transporte. O relatório da grande Reykjavík, para permitir que os utilizadores Utrechtsestraat, uma importante
destacou Londres como denominada Straetó. consultem a disponibilidade avenida comercial da cidade. As
a cidade melhor posicionada Aplicação incentiva dos estacionamentos públicos. iniciativas da “Climate Street”
em termos de capital humano os cidadãos a fazerem uso incluíram iluminação com
e também foi reconhecida dos autocarros com maior 8. Toronto eficiência energética, redução de
pela mobilidade e transporte, frequência. A capital islandesa resíduos, entre outros, ajudando
Como parte dos seus
alcance internacional, economia, procurou promover uma a reduzir o consumo energético
investimentos enquanto cidade
governança, tecnologia discussão aberta através do em 10%.
inteligente, a Sidewalk Labs
e planeamento urbano.

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


58 TENDÊNCIAS TENDÊNCIAS 59

Incentivos a cidadãos por comportamentos


sustentáveis
As políticas de incentivos a comportamentos sustentáveis e a respeti-
va recompensa, através de créditos, descontos e serviços sustentáveis,
procuram transmitir ao cidadão que tem poder de escolha e enco-
rajam a procura de alternativas que promovem, ao mesmo tempo, o
bem social comum. O cidadão assume o problema como próximo e
prioritário, tentando fazer parte da solução, movido pela consciência
ambiental, por vezes mais digital do que real.

Monitorização de estacionamento e gestão


de trânsito

O que podemos portugal:


boas práticas
Uma comunidade em crescimento gera cada vez mais trânsito.
Simultaneamente verificam-se exigências no que respeita a reduções
no impacto ambiental, melhor fluxo e maior segurança. As atuais so-

esperar do e perspetivas
futuras
luções permitem uma melhor utilização da infraestrutura existente e
reduzem o número de acidentes, monitorizando e controlando o fluxo
de tráfego e o estacionamento de forma mais inteligente e eficiente. A

futuro?
melhoria das condições ambientais e a redução do consumo de ener-
gia estão subjacentes a estes sistemas.
Em Portugal, já há muitos
A proliferação de sensores é notória e continua a crescer e agora, que
casos de boas práticas em Recolha de resíduos porta-a-porta
não nos faltam dados, estamos num nível de maturidade em que já os
vários municípios: Alguns municípios portugueses estão já a avançar com projetos de
sabemos processar em grande escala e de forma eficiente. recolha de lixo porta-a-porta. O objetivo é permitir que os muníci-
pes abrangidos pelo novo sistema, possam pagar apenas os resíduos
Por sua vez a infraestrutura de comunicações já é suficientemente que efetivamente produzem, pagando menos se reciclarem mais.
abrangente, diversificada e acessível para conseguir conectar os senso- Atualmente os munícipes pagam uma taxa de resíduos que é calculada
res e transportar os seus dados com a robustez e a velocidade exigidas. em função do consumo de água. Com este novo sistema, denominado
PAYT (Pay-as-You-Throw), as pessoas pagam apenas os sacos destinados
Além disso, a sociedade parece estar pronta. A digitalização extrema a
aos resíduos indiferenciados (lixo).
que fomos expostos nos últimos anos mudou o nosso comportamento
e a forma como aceitamos e adotamos soluções novas. A abundância
de equipamentos, aplicações, e a nossa crescente cultura de mobilida- Ciclovias e sistemas de partilha de bicicletas
de e de partilha são agora o catalisador perfeito para a próxima etapa. Em 2019 Portugal viu nascer um índice que mede o grau de prepa-
A McKinsey prevê que, em 2020, existam, pelo menos, 600 cidades a ração dos municípios para a utilização da bicicleta enquanto modo
usar “smart technologies” no planeta. Até 2050, estes clusters urbanos de transporte - o Bike Friendly Index (BFI). A Murtosa é o municí-
vão representar cerca de 70% do GDP e o mercado para essas cidades pio português mais amigo da bicicleta. Com uma classificação de 6,1
rondará os 700 mil milhões de dólares por ano. Durante a próxima (num máximo de dez), o município destacou-se, sobretudo, no capítu-
década, todas as grandes cidades do mundo vão-se digitalizar e inter- lo da utilização da bicicleta como modo de transporte, representando
-conectar-se entre elas. 16,9% do total de todas as deslocações – a maior taxa de utilização de
todo o país. •

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


60 TENDÊNCIAS TENDÊNCIAS 61

A SMIITY box disponibiliza um conjunto


de indicadores relacionados com o ambiente.
A sustentabilidade ambiental é uma das
premissas da APP?
Sim, logo à partida porque o tradicional folheto ou
guia em papel é substituído pela experiência atra-
vés do smartphone. Os indicadores ambientais que
integramos no ecossistema SMIITY, com a SMIITY
Box, permitem às comunidades, municípios, cida-
des, atuarem proativamente junto das populações.

De que forma poderá a tecnologia moldar


a experiência do visitante no futuro? O que
poderá oferecer de novo?
Hoje em dia a tecnologia já molda a experiência do
visitante. Vejamos a forma como o smartphone agre-
ga todos os Guias e dá respostas ao comum: O que
fazer, O que visitar, Onde comer, Onde dormir...

SMiity
Receber uma notificação push ao aproximar-me de
A aplicação permite a compra/venda direta um monumento; receber uma notificação ao passar
de produtos. Como funciona este modelo junto de uma loja histórica; estes são alguns exem-
de gestão? plos do que cada vez mais irá acontecer, moldando
Smart Interactive City
A aplicação permite aos utilizadores a compra, por assim a experiência não só de turistas como dos pró-
prios cidadãos. A Internet of Things já se estabeleceu em
Como funciona a SMIITY? exemplo, de bilhetes para espetáculos. A SMIITY
pleno no turismo, em comparação com
A SMIITY é um ecossistema de turismo. Por ser um tem já parceria com uma das principais redes de
outros setores de atividade? Ou há margem
sistema que ajuda comunidades, municípios, cida- bilhética nacionais, no entanto os subscritores da
plataforma, as comunidades, municípios, cidades, para mais inovação? E em Portugal, o que
des, entre outros, a comunicarem melhor com os
seus cidadãos e turistas, apelidamos de ecossistema podem também comunicar outras atividades e adi- esperar?
de smart tourism. Este ecossistema integra a vertente cionar essa possibilidade de venda. Há muita margem para mais inovação. Os prin-
das aplicações móveis, para cidadãos e turistas, e a cipais projetos de IoT prendem-se de facto com a
vertente da plataforma de gestão de conteúdos, para Que objetivos têm para o futuro? gestão diária da própria cidade, caixotes do lixo,
comunidades, municípios, cidades, entre outros. Que projetos na área do turismo? semáforos, postes de iluminação, entre outros, mas
não propriamente para o turista. A capacidade de
Desconcentrar a visita turística é um dos principais
agregar dados provenientes de todas estas intera-
A aplicação está disponível em todo o país? objetivos nacionais.
ções das pessoas para que os gestores do território
Sim, e em qualquer ponto do país irá encontrar possam atuar é algo que pode ainda crescer mui-
conteúdos. Como é que a APP trabalha para "levar" to! Por exemplo, eu quero ir aos Pastéis de Belém,
os turistas para áreas menos turísticas? mas a minha aplicação, porque tem uma rede de
A aplicação tem custos para o utilizador? Apesar de encontrar conteúdos em qualquer pon- dados analíticos por trás e sabe que nesta altura está
Não, a aplicação é gratuita para o utilizador (ci- to do país, temos já subscritores fora dos grandes lotado, aconselha-me a ir primeiro ao Oceanário e
dadãos e turistas). A vertente da plataforma para centros urbanos e é com eles que temos estado a fa- voltar depois a Belém. Da mesma forma, estes dados
comunicação e gestão do território disponibilizada zer crescer a base de clientes. Elvas, Aljustrel, Ponte servem para os gestores criarem ações e dinâmicas
às comunidades, municípios e cidades é que tem de Sor, Óbidos, Sabugal ou Cinfães são alguns dos que promovam a disseminação das pessoas pelas
uma subscrição mensal ou anual. exmplos e outros irão aderir em breve. regiões. •

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


64 DESTAQUE CAPÍTULO 65

O TURISMO
E O DESAFIO DA
SUSTENTABILIDADE
As alterações climáticas são uma séria
ameaça ao futuro da humanidade.
Muitos investigadores projetam que
o mundo estará significativamente
mais quente e mais seco já em 2050.
Existem quatro grandes categorias de impactos das
alterações climáticas que afetam os destinos turísticos:
Cidades com temperaturas mais baixas e localizadas
no hemisfério norte vão aproximar-se do clima de 1.  os impactos climáticos diretos (o clima);
cidades situadas 1000 quilómetros mais perto do
Equador. Projeções mais drásticas vaticinam mesmo 2.   s impactos indiretos das alterações ambientais
o
o fim da vida humana num futuro próximo se nada (perda de biodiversidade, aumento de desastres
for feito. naturais, erosão costeira, entre outros);
Segundo estudos recentes, a queda dos ecossistemas,
20 dias por ano de temperaturas elevadas e letais 3.  os impactos das políticas de mitigação
para os seres vivos, o degelo dos glaciares, cidades na mobilidade turística;
submersas e um terço do planeta desertificado, bem
como largos milhões de refugiados - são alguns dos Relação com o turismo 4. os impactos indiretos na sociedade (instabili-
potenciais cenários que podem devastar as socieda- dade política, agitação social, risco de segurança
des dentro de 30 anos. O clima, enquanto recurso, é um fator decisivo e um interna e externa). Segundo este estudo, 530 de entre estas 620 cidades,
elemento-chave na atratividade dos destinos. Em ou seja, uma população de 517 milhões de pessoas,
No cerne destas mudanças estão os chamados gases muitos casos, o contexto ambiental é a atração turís- Com efeito, o clima representa, tanto um recurso vi- sentem nesta altura problemas decorrentes das al-
com efeito de estufa, cujas emissões têm sofrido um tica em si e a principal razão para os turistas viajarem tal a ser explorado, como um importante fator limi- terações climáticas. Só que apenas cerca de metade
aumento acentuado. O CO2 (dióxido de carbono) para determinadas regiões. tante que representa riscos a serem geridos pelo setor. delas, 336, avaliam as suas vulnerabilidades.
é o principal gás negativo dos designados efeito de
estufa, consequência direta do uso de combustíveis A segurança e o conforto também são afetados pelo O estudo recente “Cidades em Risco” do Carbon As cidades terão de estar preparadas desde já para
fósseis como o carbono, o petróleo e o gás com fins estado do tempo, como é o caso de eventos extremos Disclosure Project (CDP) analisou de que forma lidar com inundações, calor extremo e secas mais
de produção energética. Uma aposta efetiva e con- (furacões, inundações ou vagas de calor), pelo que, as alterações climáticas estão já a afetar centenas de prolongadas. Para além de efeitos derivados: au-
sequente nas energias verdes deve estar, por isso, na em regra, regiões onde as catástrofes climáticas são destinos no mundo, tendo como base dados de 620 mentarão dificuldades para as populações mais vul-
agenda do dia. frequentes tornam-se incompatíveis com o turismo. cidades. neráveis, nomeadamente os riscos de doença.

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


66 DESTAQUE DESTAQUE 67

Incêndios na Austrália:
impactos reais no turismo
Islândia tem um memorial ainda por apurar
para lembrar OK, um glaciar
Fogos de proporções inéditas fustigaram a Austrá-
que derreteu lia, matando pelo menos 25 pessoas e cerca de 500
A memória de Ok, um antigo glaciar, foi congelada milhões de animais, deixando 100 mil pessoas sem
na Islândia, numa placa onde se lê um alerta: “Este casa. Os especialistas atribuíram a temporada de in-
monumento serve para reconhecer que nós sabe- cêndios mais severa de sempre ao aquecimento pro-
Turismo de icebergs cresce mos o que está a acontecer e o que é preciso fazer.” vocado pelas alterações climáticas. Com efeito, 2019
foi o ano mais quente no país desde que há registo.
alimentado pelas alterações Na placa, além da data, está ainda gravado um outro Segundo dados do departamento de meteorologia
climáticas dado: 415 ppm (partes por milhão), valor recorde
dos níveis de dióxido de carbono, atingido em maio
australiano, as temperaturas no país aumentaram
1,5ºC em relação ao período pré-industrial, supe-
A abundância de icebergs que deslizam do Polo de 2019. Um número muito mais elevado do que Veneza em crise depois das rior à média do planeta, que registou um aumento
Norte para o sul gerou uma nova atração turística em qualquer outra altura nos últimos 800 mil anos. inundações: reservas de de 1º C.
no Canadá e no Alasca, estreitamente vinculada à
aceleração do aquecimento global. Em 2018, mais Mais recentemente o país também proibiu a nave- turistas não param de cair David Beirman, professor da Universidade de Tec-
de 500 mil turistas visitaram a província de Terra gação de navios cruzeiros que usem fuelóleo. Isto nologia de Sydney, especialista em riscos turísticos e
porque durante a combustão do fuelóleo, grandes Depois das cheias recorrentes no último outono e
Nova, a mesma quantidade de residentes, e contri- gestão de crises, estima que as perdas para o setor do
quantidades de fuligem são libertadas para a atmos- inverno – as piores desde que há registos - muitas
buíram para a economia local com cerca de 570 mi- turismo vão representar muitos milhões de dólares,
fera. As partículas acabam por ficar nos glaciares e marcações foram canceladas e os empresários do se-
lhões de dólares canadianos (385 milhões de euros), uma vez que os incêndios afetaram a época alta e
acelerar o derretimento do gelo. tor revelaram que, em épocas como o Carnaval, as
segundo estimativas do governo local. esvaziaram regiões turísticas inteiras.
reservas estavam anormalmente fracas.

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


68 DESTAQUE DESTAQUE 69

Um pouco A pegada do turismo


por todo Depois de ano e meio de cálculos

o planeta, para juntar todos os contributos,


dos transportes aos produtos ali-
as cidades mentares e a todo o comércio
envolvido nos fluxos turísticos
veem-se de 160 países do mundo, uma
investigação publicada na revista
ameaçadas Nature Climate Change, que foi

pelas alterações
coordenada na Universidade de
Sydney, mostra que o turismo é

climáticas. responsável por mais de 8% das


emissões globais de gases com
É vital que efeito de estufa, o que é quase
quatro vezes mais do que se pen-
se tomem sava até agora. De acordo com o
mesmo estudo, o turismo con-
medidas para Que medidas estão as cidades a adotar? tinua a crescer a um ritmo ace-

proteger os Os dados do relatório “Cidades em Risco” indicam que as cidades já


estão a adotar políticas para aumentar a resiliência e que incluem:
lerado em todo o mundo, pelo
que a situação tende a agravar-se
cidadãos dos 1.  mapeamento de cheias e inundações (167 cidades)
nos próximos anos. Por sua vez, o
setor é também responsável por
impactos destas Com um aumento da população urbana, que chegará a dois terços da
mais de 10% do Produto Interno
Bruto global.
mudanças. população global em 2050, e com 70% das cidades a sentirem já os
2.  gestão de crises (126 cidades)
efeitos das alterações climáticas, aos perigos de pobreza somar-se-ão Os Estados Unidos,
dificuldades acrescidas na oferta de serviços públicos, nomeadamente 3.  envolvimento da comunidade (106 cidades)
seguidos cada vez mais de
na área da saúde, e impactos negativos nas infraestruturas, na energia e perto pela China e pela
no abastecimento de água. 4.  plantação de árvores (99 cidades)
Índia são os três países
Segundo os dados compilados pela CDP, as cidades identificaram no top das emissões de
como principais problemas decorrentes das alterações climáticas as
5.  planeamento de longo prazo (88 cidades)
gases com efeito de estufa,
cheias (71%), o calor extremo (61%) e as secas (36%). sendo que a maioria
Mediante as respostas enviadas por 14 municípios portugueses ao
A mudança climática representa uma grave ameaça para as cidades, CDP, Guimarães aparece como a cidade portuguesa que mais riscos destas emissões se deve a
um pouco por todo o planeta. O mundo já aqueceu 1 grau Celsius, identificou, referindo como perigos que já se fazem sentir ou que se transportes domésticos.
acima dos níveis pré-industriais, e mesmo com ações drásticas para farão sentir a curto prazo, ondas de calor, deslizamentos de terra, ven-
limitar o aquecimento, os riscos devem continuar a manifestar-se nas to severo, condições meteorológicas extremas, tempestades, cheias e Os investigadores concluem que
próximas décadas. incêndios florestais. Ovar aparece logo a seguir (referindo-se a tem- é possível tornar o turismo mais
pestades, vento severo, inundações costeiras, contaminação por água sustentável. Taxas de carbono ou
É vital que as cidades tomem medidas para proteger os cidadãos dos salgada, acidificação do oceano, fogos florestais e inundações rápidas), esquemas de compensação de
impactos das mudanças climáticas. O primeiro passo é entenderem as com Lisboa e Porto um pouco mais atrás. emissões aplicados a esta ativi-
suas fragilidades. Todas as cidades devem realizar avaliações de vulne- dade podem e devem ser melho-
rabilidade, que não avaliem apenas os riscos atuais, como também os A nível mundial, o Rio de Janeiro, com uma pontuação de 35 é a cidade rados, e ser levados à prática de
esperados nos próximos anos e décadas. que mais riscos reportou. forma sistemática.

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


70 DESTAQUE

Em 2019, a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Conselho com 85,2 pontos, seguindo-se a
Mundial de Viagens e Turismo (WTTC) apresentaram conjuntamente Suécia, a Finlândia, a França e a
um programa para implementar ações de sustentabilidade no setor de Áustria.
turismo e mitigar as mudanças climáticas.
Segundo os especialistas,
O plano da ONU e do WTTC inclui, entre outras iniciativas: identifi- “ainda é possível alcançar
cação e implementação de novas estratégias de sustentabilidade e mo-
o bem-estar humano e
delos de negócios inovadores; alinhar os esforços de desenvolvimento
erradicar a pobreza na
sustentável aos objetivos da ONU; priorizar a sustentabilidade estabe-
lecendo prazos específicos; colaborar e compartilhar dados e melhores Terra – cuja população
práticas para desenvolver a sustentabilidade, além de produzir um re- deverá atingir 8,5
latório de ação anual, que articule e mostre o movimento tangível em biliões de pessoas até
direção a uma jornada ecológica. 2030”, no entanto, isso
apenas acontecerá se
O programa também inclui o desenvolvimento e o intercâmbio de
estudos e evidências sobre como as empresas de viagens e turismo po-
“houver uma mudança
dem reduzir as emissões de dióxido de carbono e investir em medidas fundamental – e urgente –
para reduzir a poluição. no relacionamento entre
pessoas e natureza”.
A nível nacional há já destinos
em evidência em matéria de
No rumo da sustentabilidade sustentabilidade, como é o caso
dos Açores, que se tornaram no
De acordo com o ranking Global Sustainable Development Report
primeiro arquipélago do mundo
2019, elaborado por 15 especialistas indicados pelas Nações Unidas,
certificado como destino turísti-
Portugal obteve 76,4 pontos, em 100 possíveis, ascendendo ao 26o lu-
co sustentável. O processo de cer-
gar numa vasta lista de 162 países, cujo desempenho nos 17 objetivos
-tificação dos Açores contou com
de desenvolvimento sustentável foi avaliado.
a assessoria do IPDT – Turismo e
A melhor avaliação do nosso país refere-se ao ponto das energias reno- Consultoria. •
váveis e acessíveis. Este resultado foi obtido com a percentagem da po-
pulação com acesso a eletricidade, a combustíveis limpos e tecnologia
para cozinhar, quantidade de dióxido de carbono (CO2) lançado pela
queima de combustíveis ou eletricidade e a percentagem de energia
renovável utilizada no consumo de energia.

Com resultados positivos (mas apresentando algumas limitações) es-


tão também a saúde de qualidade, o trabalho digno e crescimento eco-
nómico e as cidades e comunidades sustentáveis.

Como ponto negativo, comum a quase todos os países analisados, está


a ação climática, que consiste na adoção de medidas urgentes no com-
bate às alterações climáticas nas políticas, estratégias e planeamentos
nacionais.

O Top dos 10 países com desenvolvimento mais sustentável é, maiori-


tariamente, composto por países europeus. É liderado pela Dinamarca,

TURISMO’20_anuário de tendências
72 DESTAQUE DESTAQUE 73

A COVID-19 O ANTES E O DEPOIS DAS CIDADES


O confinamento provocou uma redução das

e o Estado de emissões de dióxido de carbono para níveis


que não eram vistos há 10 anos. As medidas
que restringem a circulação fizeram com que

Emergência as emissões de CO2 caíssem 8% este ano, a


maior quebra registada desde a crise finan-
ceira de 2009. Será esta uma alteração tem-

Climática
porária ou estaremos a assistir a um novo
paradigma na pegada ecológica de todos?

Segundo os especialistas a melhor forma de lidar


com as alterações climáticas é melhorar os padrões
A Agência Espacial Europeia de vida em todo o mundo e reduzir as emissões atra-
vés de um corte da ligação entre o crescimento e
(ESA na sigla em inglês) revelou a poluição. Sugerem ainda que o impacto real da
que algumas cidades europeias crise pandémica no clima pode depender, em certo
registaram um declínio dos níveis modo, das escolhas dos governos mundiais no mo-
mento de recuperarem as suas economias e, sobre-
de concentração de dióxido de tudo, na dependência dos combustíveis fósseis para
nitrogénio nos primeiros meses isso. Certo é que para cumprir os objetivos do Acor-
a uma redução substancial dos transportes, da produ-
do de Paris terá de se diminuir essa dependência.
de 2020. O abrandamento da ção de eletricidade a partir do carvão (menos 40%)
Para os especialistas a emergência climática deverá
produção, das deslocações e ser reconhecida como uma crise global de saúde, à
e do consumo de petróleo que diminuiu quase um
terço.
do consumo provocado pelas semelhança da pandemia da COVID-19.
medidas para combater a O Centro de Investigação em Energia e Ar Puro -

pandemia do novo coronavírus Ambientalistas defendem CREA estima que as concentrações de dióxido de
azoto (NO2) e de partículas finas (em suspensão no
trouxe uma diminuição da "estado de emergência climática" ar tóxicas) diminuíram 37% e 10% respetivamente. A
poluição e das emissões de gases após a pandemia par disto, a qualidade no ar evitou, em abril, cerca de
609 mortes em Portugal. Numa perspetiva mais oti-
com efeito de estufa. Os ambientalistas defendem que, uma vez termi- mista, o número de mortes poderia situar-se apenas
nado o estado de alarme declarado a propósito da em 440 e, numa perspetiva pessimista, podia chegar
crise pandémica de COVID-19, o retorno à norma- a 887, segundo o mesmo estudo. A Alemanha evitou
lidade deve colocar o meio ambiente e as pessoas no 2.083 mortes prematuras, o Reino Unido 1.752, a Itá-
centro e ter em consideração os critérios de justiça lia 1.490, França 1.230 e Espanha 1.081.
social e climática. Defendem também que o retor-
no à vida quotidiana seja feito com uma drástica Quanto ao impacto na redução dos principais po-
redução nas emissões de gases com efeito de estufa, luentes do ar, em resultado das medidas de emer-
englobando a necessidade em assumir o estado de gência, Portugal surge como o país onde a redução
emergência climática e tomar medidas ambiciosas. é maior (mais de 50%), tanto no dióxido de azoto
como nas partículas finas. Espanha foi o segundo
As medidas para combater a pandemia de COVID-19 país que mais reduziu os níveis de poluição, seguida
conduziram à desaceleração da economia. Assistiu-se da Noruega e França.

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


74 DESTAQUE 75

Portugal surge no grupo Ações para uma recuperação E em Portugal?


dos países que mais mortes climática positiva sugeridas O caminho a seguir parece ser claro: um modelo económico “mais verde”
evitaram devido à queda da pela ONU em Portugal que deve, em primeiro lugar, valer-se dos recursos públicos
poluição. Os impactos evitados para promover a transição para uma economia verde e circular. Este é o
1.  Novos postos de trabalho e novos
na saúde têm registos maiores negócios através de uma transição
momento certo para implementar uma abordagem de dois sentidos que
enfrente a crise natural e sanitária, de forma a reconstruir a economia e
na Alemanha, Reino Unido, verde e justa, enquanto se acelera a tornar-nos mais adaptáveis e resilientes contra as alterações climáticas. Em
Itália, França, Espanha, descarbonização de todos os aspetos troca do financiamento público, as empresas devem assumir compromis-
da economia. sos com a redução das emissões de carbono. É uma questão de responsa-
Polónia e Portugal. bilidade social que traz também à superfície o direito dos contribuintes
2.   tilizar as verbas públicas disponíveis
U em exigir transparência e responsabilidade às empresas.
para criar empregos verdes e impulsionar
Diante do cenário de pandemia é essencial trabalhar
para defender a ambição em mitigar, adaptar e finan-
uma forma de crescimento inclusiva ao
resgatar empresas.
O retorno do turismo e a preservação do meio
ciar todo o ecossistema social, económico e político à ambiente
nova realidade. No que diz respeito à mitigação, pe- 3.   lterar o paradigma das economias para
A
Em 2019, Portugal foi declarado como melhor destino
de-se um comprometimento com a neutralidade do uma forma de atuação mais sustentável
carbono até 2050. Ao planear a recuperação da pande- através do financiamento público e de
sustentável da Europa graças ao exemplo de liderança
mia de COVID-19, existe a oportunidade de conduzir uma conjugação de esforços por parte global e inovação no turismo responsável e sustentável.
o mundo para um caminho que lide eficazmente com dos atores políticos e económicos.
Com a retoma gradual das atividades turísticas é necessário conjugar
as alterações climáticas, proteção do meio ambiente,
esforços para continuar a desenvolver uma política assente nas boas-
reversão da perda da biodiversidade e garantia da saú- 4.  Promover e incentivar os projetos que práticas sustentáveis que regule todo o setor. Esse será um atrativo e
de e segurança a longo prazo. A transição para esta apresentam soluções no âmbito do meio um cartão de visita para promover Portugal num mercado que, mais
nova forma de organização pode resultar num mun- ambiente e do clima. do que nunca, valoriza os destinos sustentáveis, conquistando assim
do mais limpo, verde, seguro e justo.
uma importante notoriedade a nível internacional. É fulcral haver um
Na União Europeia, os Estados-membros parecem es- 5.  Considerar riscos e oportunidades para comprometimento com as metas ecológicas, de forma a captar a atenção
tar de olhos postos na reforma das normas fiscais para antecipar e trabalhar na perspetiva de dos investidores e do público que, cada vez mais, faz as suas opções de
garantir investimento público contínuo na descarbo- resolver os problemas ambientais, sociais destinos de férias com base em critérios de sustentabilidade da oferta
nização da economia. e económicos. turística.
A sustentabilidade
Aponta-se para a necessidade 6.  A sustentabilidade do destino está relacionada com a autenticidade e o
de se limitar futuras crises sanitárias
Trabalhar enquanto comunidade
internacional para combater o turismo desempenha um papel fundamental em termos de responsabili- do destino está
e agir globalmente contra as alterações COVID-19 e as alterações climáticas. dade sustentável. À medida que se retomar as atividades após a crise pan-
démica, devem ser considerados dois fatores. Em primeiro lugar, é neces-
relacionada com
climáticas, a destruição de habitats sário aliar a resposta positiva dada à crise sanitária e a retoma sustentável a autenticidade
marinhos, a desflorestação e a perda
de biodiversidade.
do turismo, pois ambas serão uma força influenciadora das escolhas dos
turistas. Em segundo lugar, é importante tomar medidas rápidas e eficazes
e o turismo
2020 é o último ano da Década das Nações Unidas
para aplicar os instrumentos de apoio e reguladores afetos às atividades desempenha
para a Biodiversidade e ainda é necessário implemen-
turísticas mais “amigas do ambiente”, com o desenvolvimento de mecanis-
mos inovadores no âmbito da promoção de uma forma de turismo mais
um papel
tar um plano estratégico para reverter a sexta extinção
em massa induzida pelo ser humano, que também é
responsável. • fundamental
parcialmente responsável pelo aparecimento da atual em termos de
pandemia.
responsabilidade
TURISMO’20_anuário de tendências
sustentável.
TURISMO’20_anuário de tendências
76 CAPÍTULO CAPÍTULO 77

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


78 BEST IN TRAVEL BEST IN TRAVEL 79

É uma lista
Veneza Ho Chi Minh
redutora e há Apesar de a cidade italiana Basta um aumento de 1,5 graus

muitos mais
estar a submergir há mais de na temperatura para que o
cem anos, é desde a década de nível do mar suba até aos 3,1

destinos
90 que se têm intensificado as metros, atingindo grande parte
ocorrências, sendo as cheias dos monumentos históricos e
cada vez mais frequentes. 29% da população vietnamita.
em risco.
Grande Barreira Bangkok
de Corais Mesmo que a Terra sofra um
aquecimento de apenas 2 graus
A barreira australiana contém até 2100, 42% da capital da
um dos mais fascinantes Tailândia será submersa devido
ecossistemas do mundo, mas à subida de quase 5 metros do
também um dos mais vulnerá- nível das águas do mar.
veis ao aumento da tempera-
tura da água. Estudos indicam
que poderá desaparecer nas
próximas 4 décadas.
Amesterdão
Partes desta cidade holandesa
já estão 4 metros abaixo
Alpes do nível do mar e o futuro
não se afigura risonho. Se a
Cientistas europeus preveem temperatura subir cerca de 4
que parte do gelo dos Alpes graus, a subida do nível das
poderá desparecer até 2050 águas do mar poderá desalojar
devido ao significativo decrés- 98% da população.
cimo na média de nevões na
região nas últimas décadas.
Pólo Norte
Maldivas Os glaciares estão a
derreter a uma velocidade
Se as emissões de carbono impressionante. Acredita-se
continuarem os cientistas que, em apenas uma geração,
acreditam que, em 100 anos, desapareçam para sempre,
as 1.200 ilhas do arquipélago condenando à extinção das
terão desaparecido. espécies como o urso polar.

A AMEAÇA DAS Monte Kilimanjaro Miami


O alagamento das ruas de

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS:
A neve no mais alto pico da
África pode desaparecer em Miami já é comum, no entanto,
10 anos, de acordo com os se a temperatura da Terra subir
especialistas. As pessoas que 4 graus, 93% dos habitantes

DESTINOS EM RISCO
vivem na base da montanha da cidade norte-americana
vão sofrer significativamente, poderão ver-se desalojados.
já que dependem da água do
degelo para sobreviver.

best in travel

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


80 Caderno especial Caderno especial 81

A digitalização da sociedade tem sido uma


das principais tendências de mercado, e tem
promovido a alteração de comportamentos
e atitudes por parte dos consumidores.

Cada vez mais digitais, os consumidores apresen- pelas DMO’s – Destination Management Organi-
tam, atualmente, novas formas de pensar e agir que zations, a páginas de operadores turísticos, agências
premeiam formas de comunicação mais dinâmicas, de viagens, blogs e redes sociais.
rápidas e 100% acessíveis.
Os conteúdos gerados pelos utilizadores tornaram-
Com efeito, também a comunicação é moldada -se, por isso, elementos de significativa importância
por novos conceitos, onde a disponibilização digi- para o marketing e tendem a ser utilizados pelas or-
tal se tornou primordial para a sustentabilidade de ganizações como forma de incluir os consumidores
qualquer negócio. Hoje, as empresas que operam nas suas iniciativas de promoção de produtos e de
fora do meio digital veem cingidas as suas áreas de destinos turísticos.
atuação a mercados de proximidade, não aprovei-
tando o potencial de escala que a internet permite Deste modo, deve ser prioritário – para todos os
alcançar. destinos – trabalhar a componente digital e asse-
gurar que as plataformas da sua responsabilidade
A presença digital representa uma grande opor- (website, app’s, redes sociais), oferecem ao poten-
tunidade para qualquer negócio. Como área alta- cial turista informação simples, apelativa, atrativa e
mente dinâmica, o turismo não é exceção. Aliás, o que estimule o desejo de viajar e comprar.
turismo tem-se revelado como um dos setores que
mais tem potenciado a digitalização dos serviços. A
revolução tecnológica permitiu, por exemplo, que
grande parte da população mundial acedesse, de-
senvolvesse e distribuísse conteúdos sem recurso a
intermediários.

Apesar de ser um setor que implica o usufruto do

A promoção online
serviço de forma presencial, praticamente tudo o
que está associado a esse usufruto – alojamento,
operação turística, agências de viagens, compa-

de destinos turísticos
nhias aéreas, empresas de animação – opera quase
na totalidade no mundo digital.

Segundo um estudo recente da empresa norte-


-americana Sojern, antes de reservar um destino
Caderno Especial um turista faz, em média, 40 a 200 consultas online.
Durante esse período fica exposto a toda a informa-
ção online existente, desde plataformas projetadas

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


82 Caderno especial Caderno especial 83

Contudo, é importante alertar que a presença digi- Nesta perspetiva torna-se evidente que, hoje em o destino atue em toda a escala da comunicação
tal de um destino e a informação que fica disponí- dia, a internet e as redes sociais são fundamentais online, potenciando maior número de referências
vel para consulta não deve ser estática. Pelo contrá- no processo de decisão de compra do turista. As- digitais, que possibilitem aos turistas sentirem-se
rio. Atualmente, o turista valoriza o facto de poder sim, os destinos turísticos devem preparar as suas apoiados durante todo o processo de viagem.
aceder à informação de forma fácil e que a mesma ferramentas de comunicação online da forma mais
seja apresentada num formato atrativo. abrangente possível, o que inclui redes, websites
oficiais, mas também novas plataformas digitais e
Ter um website ou uma blogs, entre outros.

página de Facebook não Por outro lado, as marcas têm apostado cada vez
mais na promoção dos seus produtos através de
significa, porém, que influencers (bloggers, instagrammers, youtubers),
e no turismo assiste-se ao mesmo fenómeno. A
estamos a comunicar crescente importância dos influencers no processo
de tomada de decisão não deve ser ignorado pelas
com o potencial turista. empresas e decisores da atividade turística.

A comunicação eficaz acontece quando associados São as plataformas


a essas plataformas temos planos de comunicação,
campanhas de marketing e uma estratégia que
Qual a influência não oficiais que mais
mantenha dinâmico o contacto turista-destino,
influenciam os turistas
que seja constantemente atualizada e esteja sempre
da internet
disponível.
nas suas pesquisas,
Mais do que nunca, o digital apresenta-se como e das redes sociais uma vez que aportam
uma forma de comunicar de baixo custo, porque
permite alcançar públicos altamente interessados enquanto fonte mensagens mais isentas
no produto que estamos a comunicar, através de
uma correta segmentação, mas também possibilita
de informação para e de proximidade junto
atingir mercados de maior distância, alargando o
nosso poder comunicacional e eliminando as bar-
os turistas? dos seguidores.
reiras físicas da comunicação.
Pelo facto de serem plataformas não oficiais não
O mais recente estudo de intenções de férias • 8 em cada 10 turistas significa que não possam ser parte integrante da
dos portugueses para 2020, desenvolvido selecionam os destinos de férias e construção da mensagem do destino. Pelo contrá-
pelo IPDT – Turismo e Consultoria, revela reservam os serviços com base nas rio, é precisamente aqui que os gestores devem atu-
um conjunto de indicadores importantes experiências partilhadas por outros ar de forma mais ativa.
para perceber a influência do mundo digital viajantes na internet, designadamente
Como verificámos no estudo da empresa Sojern,
na experiência turística: blogs, redes sociais e Tripadvisor;
o facto de os turistas efetuarem diversas pesquisas
• 3 em cada 10 turistas online antes de decidirem o seu próximo destino,
• 9 em cada 10 turistas já escolhem os destinos de férias aumenta a probabilidade de consultarem várias
visitam os sites/redes sociais oficiais onde conseguem tirar boas fotografias fontes de informação. Neste sentido, importa que a
do destino antes de reservarem para partilharem nas redes sociais mensagem seja transmitida de forma homogénea,
as suas viagens; (Instagramability). quer o turista consulte plataformas oficiais, quer
páginas privadas. Neste contexto, é necessário que

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


84 CAPÍTULO Caderno especial 85

Nesta perspetiva, selecionamos três soluções que podem


O caso de Melgaço contribuir para um melhor posicionamento dos destinos
turísticos junto de potenciais turistas:
Destino de natureza mais
radical de Portugal
Em 2017 o IPDT desenvolveu o Plano Estratégico
para o Desenvolvimento do Turismo em Melgaço,
propondo para o município o posicionamento de
destino de natureza mais radical de Portugal.

Definida a estratégia, a segunda fase foi de imple-


mentação. O IPDT desenvolveu uma campanha de
comunicação e marketing digital que teve como
principal objetivo posicionar o destino Melgaço
junto dos seus mercados-alvo, promovendo uma
mensagem simples, qualificada, diferenciadora e
atrativa para o público.

O posicionamento do destino
tem sido acolhido e divulgado por 2. Presença Omnicanal
bloggers e influencers que visitam 3. A importância das
Além do website, os destinos de-
Melgaço, contribuindo em larga vem propagar a sua área de atua-
“Referências isentas”
medida para a sua promoção. ção. Estarem presentes nas redes Ter bloggers e opinion makers a re-
sociais e plataformas digitais mais ferenciar um destino é uma das
frequentadas pelos potenciais con- práticas mais valorizadas pelos
sumidores são requisitos básicos turistas. O nível de credibilidade
que os turistas procuram num e apoio que o turista sente através
destino. destes mecanismos é altamente
1. Ter um website para determinante para a decisão de
200% o turismo adaptado Por forma a evitar a dispersão da viagem.
informação transmitida nos vários
155% BRASIL a todos os dispositivos canais, aconselha-se que os desti- Uma forma de aumentar estas
Pode parecer trivial, mas esta é ain- nos prevejam um Plano Comuni- referências é promover junto da
da uma prática muito descuidada. cacional e de Marketing que possa comunidade influencer, trips que
R. UNIDO Possuir um website de fácil consul- identificar os principais mercados- apresentem o destino e a sua ofer-
50% ta, atrativo e adaptável aos diversos -alvo e as mensagens promocio- ta, criando boas experiências, mas
dispositivos de consulta é uma das nais identitárias do destino. Atuar que possam ser vividas por todos.
ESPANHA sobre uma “marca” (ex: Visit... ou Após a sua viagem os influencers
estratégias fundamentais para au-
MAIOR CRESCIMENTO ELEVADO CRESCIMENTO DESTINO DO PARQUE NACIONAL mentar a credibilidade do destino Descubra...) e definir um conjunto transmitem aos seus seguidores as
DE DORMIDAS NO EM MERCADOS-ALVO DA PENEDA-GERÊS COM MAIOR junto dos turistas. A não adaptação de hashtags são algumas das ferra- suas experiências, gerando junto
ALTO MINHO CRESCIMENTO DA ESTADA MÉDIA mentas que possibilitam aos desti- destes maior credibilidade e segu-
do website aumenta considera-
velmente a taxa de abandono do nos e aos consumidores comunica- rança para a decisão de viagem.
mesmo. rem entre si em maior escala.

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


86 Caderno especial

• Outro canal promocional para o turismo


Como se posicionam • Página de Facebook para o turismo

os destinos municipais •

Página de Instagram para o turismo
Página de Twitter para o turismo
nacionais em matéria Passamos de seguida à análise dos dados obtidos
de promoção online? por variável e NUT III.

A estratégia de promoção internacional do desti-


no Portugal passou a centrar-se mais no marketing Têm Website municipal
digital a partir de 2013, considerado mais eficaz na No que diz respeito à presença online muni-
promoção do que as tradicionais campanhas insti- cipal este é o ponto mais consensual. Na ver-
tucionais offline. Esta alteração estratégica levou o dade, a análise do IPDT verificou que todos
Turismo de Portugal a abandonar um modelo de os 308 municípios têm website próprio.
promoção externa assente numa única campanha
em canais offline para realizar mais de 400 campa- www
nhas online, adaptadas às necessidades específicas
de cada mercado. 100%
Esta mudança permitiu promover de forma mais
ágil e flexível a diversidade de Portugal como des-
tino turístico, desenvolvendo mensagens específicas
para dar resposta aos diferentes segmentos dentro Têm Página de Facebook municipal
dos mercados prioritários do país, acompanhando De todas as redes sociais, o Facebook é a mais
os consumidores nas várias fases do ciclo de decisão. atrativa para os municípios. Das 308 câmaras
municipais nacionais, 305 apresentam perfis
A nível municipal a estratégia pode e deve ser se-
nesta rede.
melhante, sendo que alguns destinos estão já a
apostar neste tipo de abordagem, com resultados
significativos. Neste artigo procuramos traçar o
mapa do posicionamento atual dos destinos turís- 99%
ticos nacionais em matéria de promoção online.

A análise do IPDT incidiu em todos os 308 mu-


nicípios nacionais e os dados foram recolhidos ao Têm Página de Instagram municipal
longo da segunda metade do ano 2019. As variáveis
analisadas foram as seguintes: A nível nacional, 65 por cento dos municí-
pios têm perfis de Instagram. Destes, 16 por
• Website municipal cento correspondem a contas sem publica-
• Página de Facebook municipal ções, desatualizadas ou até contas de acesso
• Página de Instagram municipal privado.

• Página de Twitter municipal


• Logótipo para promoção do turismo
49% Perfis
Atrativos

• Website para o turismo 65%


TURISMO’20_anuário de tendências
88 CAPÍTULO Caderno especial 89

No que diz respeito à distribuição dos perfis Em todo o caso, após análise Website para o turismo vez, as regiões do Douro, Aveiro, Coimbra, Beiras
de Instagram por NUT III, verifica-se que as e Serra da Estrela e Alentejo Central são as que
regiões da A. M. Lisboa, Ave, Oeste, Cávado da presença municipal nas A proporção de municípios que têm um website apresentam menor percentagem de municípios a
e A.M. Porto são as que tendem a ter maior 3 redes sociais ao nível do próprio dedicado à promoção e divulgação turística apostarem em websites exclusivamente dedicados
é de, aproximadamente, 2 em cada 10 municípios.
número de perfis de Instagram. Em contra-
conteúdo das publicações, à promoção do turismo.
partida, as regiões do Alentejo Central (21
por cento), do Douro (42 por cento), Aveiro verifica-se que muitos
30% Outros canais de promoção turística
municípios, embora não
ALTO
(45 por cento) e Médio Tejo (46 por cento) MINHO ALTO
TÂMEGA
22%
são as que têm menos municípios com perfis 33% 25% 17%
tendo perfis sociais dedicados A proporção de municípios que possuem outros
TERRAS DE
CÁVADO TRÁS-OS- MONTES
AVE
nesta rede social. canais de promoção turística é de 32,5 por cento.
exclusivamente à comunicação 53%
36%
TÂMEGA
0% Entre esses canais elencam-se Youtube, LinkedIn,
turística, dedicam parte dos
E SOUSA DOURO
A.M.
PORTO
Pinterest e App’s de promoção turística.
Página de Twitter municipal conteúdos publicados à
VISEU
DÃO LAFÕES
REGIÃO BEIRAS
14%
promoção do turismo.
E SERRA
A nível nacional, 50,3 por cento dos municí- AVEIRO
DA ESTRELA
0% 7% ALTO20%
pios têm perfis de Twitter. No entanto, destes, MINHO ALTO
TÂMEGA
11%
43,2 por cento correspondem a contas sem 5 REGIÃO
% COIMBRA 0% 0%
CÁVADO 0% TERRAS DE
TRÁS-OS- MONTES
publicações ou desatualizadas. AVE

0 - 10
Logótipo Para promoção do turismo
REG.
9% 5%
LEIRIA

30% 17% BEIRA


BAIXA 6% TÂMEGA

MÉDIO
23% 11 - 20 A.M.
E SOUSA DOURO

Quando particularizamos a análise para o setor do TEJO PORTO

50
VISEU
% turismo, os resultados são bastante diferentes. Dos ALTO 21 - 30
REGIÃO
DÃO LAFÕES
BEIRAS

308 municípios nacionais, apenas identificámos


OESTE LEZÍRIA ALENTEJO
AVEIRO 21% E SERRA
25% DO TEJO
13% 31 - 40 18%
DA ESTRELA

47%
7% Perfis
Atrativos 18 que desenvolveram logótipos com objetivo de
promoção turística.
18%
28% 41 - 50 5 REGIÃO
% COIMBRA

7
18%
A. M. ALENTEJO
Com logótipo 51 - 60
No que diz respeito à distribuição dos per- 0 - 10
LISBOA % CENTRAL REG.
para turismo
fis de Twitter por NUT III, verifica-se que as
LEIRIA

10% 17% BEIRA


BAIXA
61 - 70
MÉDIO
23% 11 - 20
regiões do Ave, Cávado e Alto Tâmega são as
ALENTEJO
LITORAL TEJO

que tendem a ter maior número de perfis de 71 - 80 ALTO 21 - 30


AÇORES

11% 20% BAIXO


ALENTEJO OESTE ALENTEJO
Twitter. Em contrapartida as regiões do Alen-
LEZÍRIA

15% 81 - 90 0% DO TEJO
60% 31 - 40
tejo Central (7 por cento), do Médio Tejo (23 MADEIRA 36%
por cento) e Douro (26 por cento) são as que 36% 91 - 100 41 - 50
têm menos municípios com perfis nesta rede 82,1% Sem logótipo
para turismo
83%
A. M.
64% ALENTEJO

social.
ALGARVE 31% LISBOA CENTRAL 51 - 60

No que diz respeito à distribuição por NUT III, ALENTEJO


61 - 70
verifica-se que as regiões da Área Metropolitana do LITORAL
Municípios que possuem websites dedicados à promoção do turismo, por 71 - 80
Porto, Tâmega e Sousa e Cávado são as que tendem NUT III [em 2019]
AÇORES
100% BAIXO

a ter maior número de municípios com logótipos


53% ALENTEJO

54% 81 - 90
para a promoção do turismo. Em contrapartida as No que respeita à distribuição geográfica, o desta- MADEIRA

regiões de Aveiro, Coimbra, Beira Baixa e Baixo que vai para a Área Metropolitana do Porto, onde 45% 91 - 100

Alentejo são as regiões que registam menor número metade dos municípios já possuem um website
dedicado à promoção do turismo. As regiões de
ALGARVE 75%
de municípios a apostarem no desenvolvimento de
logótipos para a promoção turística. Tâmega e Sousa e da Madeira surgem na segunda
posição, com 36 por cento dos municípios a terem Municípios que possuem outros canais dedicados à promoção do
websites dedicados à promoção turística. Por sua turismo, por NUT III [em 2019]

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


90 Caderno especial Caderno especial 91

No que diz respeito à distribuição geográfica, o


destaque vai para o Alentejo Litoral (100 por cen- 30% Instagram para o Turismo
ALTO
MINHO ALTO
to) e para a Área Metropolitana de Lisboa (83 por TÂMEGA 11% A nível nacional, 12 por cento dos municípios
cento), que são as regiões onde mais municípios
33% 38% 17% TERRAS DE
possuem perfis de Instagram dedicados à promo-
CÁVADO TRÁS-OS- MONTES
AVE
possuem algum destes canais dedicados à promo- ção do turismo. Desses, cerca de metade publicam
ção do turismo. Por sua vez, as regiões do Douro,
36% 11%
35% TÂMEGA
E SOUSA DOURO conteúdos com regularidade ou muita regulari-
Aveiro, Coimbra, Beiras e Serra da Estrela e Alen- A.M.
PORTO dade. No entanto, os restantes 5,5 por cento têm
tejo Central são as que têm menos municípios a VISEU
DÃO LAFÕES periodicidades de publicação pouco regulares ou
apostarem nestes canais que visam a promoção do REGIÃO
AVEIRO 21%
BEIRAS
E SERRA
estão desatualizados. A nível global, os municípios
DA ESTRELA
turismo. 9% 7% que possuem perfis de Instagram têm uma média
16 REGIÃO
% COIMBRA
de quase 6 mil seguidores. Neste aspeto particular,
Facebook para o Turismo destaque para os perfis dos Municípios do Porto
REG. 0 - 10
(mais de 88 mil seguidores) e Lisboa (mais de 75
A nível nacional, 15 por cento dos municípios pos-
LEIRIA

10% 0% BEIRA
BAIXA
mil seguidores).
MÉDIO
8% 11 - 20
suem perfis de Facebook dedicados à promoção do TEJO

turismo. Desses, 12 por cento publicam conteúdos OESTE


ALTO
ALENTEJO
21 - 30
20%
com regularidade ou muita regularidade. No en-
LEZÍRIA ALTO
8% DO TEJO
0% 31 - 40
MINHO ALTO
0%
tanto, os restantes 3 por cento têm periodicidades 9% 33% 13%
TÂMEGA

17% TERRAS DE
CÁVADO
de publicação pouco regulares ou estão desatuali- 22% 41 - 50 AVE
TRÁS-OS- MONTES

zados. A nível global, os municípios que possuem 36% 11%


A. M.
LISBOA 0% ALENTEJO
CENTRAL 51 - 60 29%
perfis de Facebook têm uma média de 26 mil se-
TÂMEGA
E SOUSA DOURO
A.M.
guidores. Neste aspeto particular, destaque para os 61 - 70 PORTO
VISEU
ALENTEJO
perfis dos municípios de Lisboa (mais de 790 mil LITORAL
REGIÃO
DÃO LAFÕES
BEIRAS

seguidores), Albufeira (mais de 51 mil seguidores) 71 - 80 AVEIRO 14% E SERRA 0 - 10


AÇORES

0% 0% BAIXO
ALENTEJO 9%
DA ESTRELA

13%
e Porto (mais de 47 mil seguidores). 8% 81 - 90 11 - 20
MADEIRA 11 REGIÃO
% COIMBRA
27% 91 - 100 21 - 30
REG. No que se refere à distribuição geográfica, verifica-
ALGARVE 25%
LEIRIA

10% 0% BEIRA
BAIXA
31 - 40
-se que as regiões de Tâmega e Sousa e Cávado são
8%
MÉDIO
TEJO 41 - 50 as que têm maior percentagem de municípios que
ALTO
apostam em perfis de Instagram dedicados à pro-
Municípios que possuem perfis de Facebook dedicados à promoção do
OESTE LEZÍRIA ALENTEJO 51 - 60 moção exclusiva do turismo.
turismo, por NUT III [em 2019] 8% DO TEJO
0%
9% 61 - 70
No que concerne à distribuição geográfica, ve- Twitter para o Turismo
11%
rifica-se que as regiões de Tâmega e Sousa, Área 71 - 80

Metropolitana do Porto, Ave e Cávado são as que


A. M.
LISBOA 0 ALENTEJO
% CENTRAL
81 - 90 A nível nacional, 4,2 por cento dos municípios
apresentam maior percentagem de municípios possuem perfis de Twitter dedicados à promoção
que apostaram em perfis de Facebook dedicados à ALENTEJO
LITORAL 91 - 100 do turismo. Desses, apenas 1,2 por cento publicam
promoção exclusiva do turismo. conteúdos com regularidade ou muita regularida-
AÇORES

5% 0% BAIXO
ALENTEJO
Municípios que
8% possuem perfis
de. Os restantes têm periodicidades de publicação
MADEIRA de Instagram pouco regular ou estão desatualizados. A nível glo-
27% dedicados à
bal, os municípios que possuem perfis de Twitter
promoção do
turismo, por têm uma média de pouco mais de 6 mil seguidores.
ALGARVE 19% NUT III
Neste aspeto particular, destaque para o perfil do
[em 2019]
município de Lisboa (mais de 74 mil seguidores).

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


92 Caderno especial Caderno especial 93

ainda assim longe dos números desejáveis, sendo a Em termos absolutos, e de acordo com
ALTO
MINHO
10%
ALTO
utilização do Twitter muito residual. dados do INE, as regiões que regista- 12%
11% ram mais hóspedes em 2018 foram a ALTO MINHO

CÁVADO
17% 0%
TÂMEGA

17% TERRAS DE
TRÁS-OS- MONTES
Em cima destes dados, quisemos compreender A.M. Lisboa (7,5 milhões), Algarve (4,7
ALTO
TÂMEGA
6%
AVE
qual a evolução do desempenho do setor do turis- milhões) e a A.M. Porto (3,3 milhões). 9% 11% TERRAS DE

12%
18%
TÂMEGA
0% mo nas regiões elencadas. Os números disponibili- CÁVADO
AVE
6% TRÁS-OS- MONTES

zados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE)


E SOUSA DOURO
A.M.
até à data referem-se a 2018, no entanto, é possível
18%
PORTO
VISEU
DÃO LAFÕES
identificar pontos em comum que podem induzir 17%
REGIÃO
AVEIRO %7
BEIRAS
E SERRA
DA ESTRELA
0 - 10
uma análise interessante.
6% TÂMEGA
DOURO
0% 7%
E SOUSA

11 - 20 -11% a -5% A.M.


0% REGIÃO
COIMBRA O gráfico da página ao lado, diz respeito ao nú- PORTO
VISEU
21 - 30 mero de hóspedes em estabelecimentos hoteleiros -6% a 0%
R. DÃO LAFÕES

nacionais em 2018. AVEIRO


12% BEIRAS
REG.
LEIRIA
0% BEIRA 31 - 40 1% a 5% E SERRA
0% 0%
BAIXA

A região do Tâmega e Sousa é, a nível nacional, a


4% DA ESTRELA

12%
MÉDIO
TEJO 41 - 50 6% a 10%
ALTO que registou maior crescimento de hóspedes ao
OESTE

0%
LEZÍRIA
DO TEJO
ALENTEJO

0%
51 - 60 longo de 2018. Curiosamente, esta é também a re- 11% a 15%
4% REGIÃO DE
COIMBRA

0% 61 - 70
gião com alguns dos melhores resultados a nível 16% a 20%
nacional relativamente à aposta em promoção tu-
6% 71 - 80 rística nas redes sociais:
REG.
A. M.
LISBOA 0 ALENTEJO
% CENTRAL
1%
LEIRIA BEIRA
BAIXA 4%
81 - 90
47%  dos municípios desenvolveram logótipo -11%
ALENTEJO
LITORAL 91 - 100 para promoção do turismo; MÉDIO
TEJO
AÇORES

0% 0% BAIXO
ALENTEJO 36% dos municípios têm perfil de Facebook;
OESTE
ALTO
ALENTEJO
0% LEZÍRIA
MADEIRA 36% dos municípios têm perfil de Instagram; 7% DO TEJO
10%
9%
18% dos municípios têm perfil de Twitter;
-3%
6%
ALGARVE

O Médio Tejo é, em contrapartida, a sub-região na-


6%
cional que obteve menor crescimento de hóspedes A. M. ALENTEJO
AÇORES LISBOA CENTRAL
em 2018, revelando mesmo um decréscimo de 11
Municípios que possuem perfis de Twitter dedicados à promoção do
turismo, por NUT III [em 2019] por cento. Este facto é explicado pela comemora- 17% 9%
ção do Centenário das Aparições de Fátima, que ALENTEJO
No que se refere à distribuição geográfica, verifica- ocorreu em 2017, conduzindo a uma quebra expec- LITORAL

-se que as regiões de Tâmega e Sousa, Alto Tâmega tável em 2018. Em termos de aposta em promoção
turística nas redes sociais, os dados apurados são os
7% BAIXO
e Cávado são as que têm maior percentagem de ALENTEJO
municípios que apostaram em perfis de Twitter de- seguintes:
dicados à promoção exclusiva do turismo. MADEIRA
5%
23%  d os
municípios desenvolveram logótipo
-1%
Após análise da presença municipal nas 3 redes para promoção do turismo;
sociais, ao nível do conteúdo das publicações com
vista à promoção do turismo, verifica-se que a per- 8%  dos municípios têm perfil de Facebook;
centagem de municípios que aposta neste tipo de
0%  d os municípios têm perfil de Instagram;
ALGARVE 5%
comunicação ainda é baixa. O Facebook acaba por
Hóspedes nos estabelecimentos nacionais,
ser a rede social onde mais municípios apostam, Nenhum dos municípios têm perfil de Twitter; por NUT III [variação 2017-2018]

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


94 Caderno especial

Relativamente a estas 3 regiões identificámos os seguintes resultados,


no que concerne à promoção turística nas redes sociais:

A.M. Lisboa Algarve A.m. Porto


22%  d os municípios 47%  d os municípios
desenvolveram logótipo
31%  dos municípios
desenvolveram logótipo desenvolveram logótipo Sever do Vouga,
para promoção do para promoção do para promoção do Um Destino Ao Seu Alcance!
turismo; turismo; turismo;

28%  d os municípios têm 31%  dos municípios têm 53%  dos municípios têm Com uma paisagem de rara beleza, onde o verde é
recortado pelas linhas de água do rio Vouga e seus
forno e o cabrito, assim como a doçaria regional, onde
o mirtilo e a laranja prevalecem, fazem as delícias de
website exclusivo website exclusivo website exclusivo afluentes, bem como quedas de água, convidando à quem saboreia, mantendo-se viva a tradição dos sabo-
dedicado à promoção dedicado à promoção dedicado à promoção aventura e ao descanso, os turistas sentem-se atraídos res e saberes genuínos como o artesanato que atraves-
turística; turística; turística; por Sever do Vouga. sam gerações.
Sever do Vouga tem uma localização privilegiada, pró- A oferta anual de eventos, faz Sever do Vouga aconte-
22%  d os municípios 25%  dos municípios 35%  dos municípios ximo de cidades como Aveiro, Coimbra, Porto e Viseu e cer em diferentes vertentes. É exemplo disso a Rota da
têm perfil de Facebook; têm perfil de Facebook; conta com uma área de 130Km2 atravessada pelo rio Lampreia e da Vitela, o Ralicross de Sever do Vouga,
têm perfil de Facebook; Vouga. Possui cerca de 70% de mancha florestal, com com provas pontuáveis para o campeonato nacional, a
monumentos e estações arqueológicas que confirmam Feira Quinhentista/Foral, o Festival de Cinema “Paisa-
11%  d os municípios 19%  dos municípios 29%  dos municípios a passagem de povos pré-históricos. Já os pelourinhos, gens”, em maio, a Feira Nacional do Mirtilo e Festim, a
têm perfil de Instagram; têm perfil de Instagram; têm perfil de Instagram; moinhos de água, eiras comunitárias e espigueiros, são FicaVouga, o Festival Internacional Guitarras Mágicas e
outros exemplos do seu património histórico. a Rota do Cabrito, que neste momento que atravessa-
mos ficam a aguardar por novas programações.
6%  d os municípios 6%  d os municípios 12%  dos municípios Os turistas podem visitar as Cascatas da Cabreia e da
têm perfil de Twitter; têm perfil de Twitter; Frágua da Pena ou Fílveda, os rios Lordelo e Gresso, as Sever do Vouga foi considerado como um dos “melhores
têm perfil de Twitter; aldeias, com destaque para a Aldeia dos Amiais e a sua municípios para viver” pelo trabalho relativo ao turismo
Eira Comunitária, o Morro do Castêlo, rio Vouga e a Ponte sustentável, especialmente através do projeto “Feira
do Poço de S. Tiago, o ex-líbris do concelho. Nacional do Mirtilo”. Ao criar-se uma dinâmica que me-
lhorou a economia local e a criação da marca “Capital
A riqueza paisagística projeta-se ainda em outros pon-
do Mirtilo”, contribuiu-se de forma decisiva para a proje-
Os municípios Notas Finais tos de interesse turístico, como a Praia Fluvial Quinta
ção turística do concelho que se tem vindo a consolidar
do Barco, Os Passadiços do Gresso, o Parque do Areei-
com maior número Esta análise não permite estabelecer uma relação de causa e efeito entre a ro, o rio Alfusqueiro, as Pedras Talhadas e a Ecopista
como destino turístico de eleição dentro do território
“Montanhas Mágicas®” e da “Ria de Aveiro.
de hóspedes já aposta em promoção nas redes sociais e um incremento efetivo de hóspe-
do Vouga que atravessa todo o concelho de Sever do
Vouga. O Parque Urbano da Vila é também um ícone de
comunicam de forma des nas regiões, uma vez que incide numa análise por NUT III. referência paisagística, potenciado pelo Parque Geriá-
trico, pela Biblioteca e pelo Museu Municipal.
assídua e eficaz na No entanto, se considerarmos a escala municipal, constatamos que os mu-
As áreas verdes do desativado Complexo Mineiro do
vertente digital. nicípios com maior número de hóspedes já comunicam de forma assídua Braçal e da Malhada, são o cenário ideal para a prática
e eficaz na vertente digital (ex. VisitLisboa, VisitPorto e VisitAlbufeira). dos desportos de natureza e de observação, associado
a uma rede de percursos pedestres. Os desportos de
Ainda à escala municipal, verifica-se que alguns dos municípios que mais natureza também têm um palco privilegiado para di-
cresceram a nível de hóspedes em 2018, também já apostam na comu- ferentes atividades no rio Vouga, que oferece, ainda,
nicação digital, nomeadamente via redes sociais. Exemplos disso são os um dos produtos gastronómicos mais emblemáticos, a
lampreia, a qual, a par da vitela assada com arroz do
municípios de Melgaço (+32 por cento), Viseu (+19 por cento) e Maia
(+18 por cento).

Face ao elevado potencial de obtenção de resultados, e tendo um baixo


nível de investimento, a comunicação digital constitui uma das principais
apostas dos destinos para a década 2020-2030 e sobre a qual vale a pena
refletir. •

TURISMO’20_anuário de tendências
96 TENDÊNCIAS TENDÊNCIAS 97

Vietname

A chegada do turismo criativo foi estimulada pelo


crescimento de novos padrões de consumo e por
alterações na produção do turismo. O conceito pro-
curou ainda eliminar algumas lacunas provocadas
Baku, Azerbaijan pela massificação do turismo de sol e praia e do Peru

turismo cultural. É um facto que muitos turistas

Turismo Criativo: quando preferem afastar-se da multidão na altura de viajar,


indo para sítios que ainda não foram encontrados
pela maioria. O café local ou restaurante de comida
Trata-se de um turismo onde o viajante tem que
estar envolvido em co-criação, em experiências

viajantes e residentes
criativas e em plena interação com as comunida-
tradicional, acabam por se tornar os sítios mais pro-
des locais do espaço visitado.
curados pela autenticidade que mantêm e pelas ex-
periências genuínas e diferentes que possibilitam. Neste tipo de oferta turística existe uma interação

criam a experiência Esta nova forma de fazer turismo e de viajar tem


tido um desenvolvimento muito rápido nos últi-
mos anos. Os turistas querem ir além das excursões
grande durante a estadia do turista, de forma a que
este se sinta quase como um cidadão local.

Esta transformação causou uma mudança de para-


tradicionais e partilhar experiências mais ativas e digma levando a indústria do turismo a colaborar
O conceito de turismo criativo foi desenvolvido imersivas com os locais, em que não se sintam me- com atores locais. Em teoria, a ideia do turismo
por Crispin Raymond e Greg Richards nos anos 2000, ros espetadores. Este “novo” perfil do turista inclui criativo é que os produtos sejam construídos par-
que o definiram como: um novo papel desempenhado como produtor de tindo das potencialidades dos territórios e das pes-
experiências, autênticas e memoráveis. soas que vivem neles. Esta dinâmica constitui uma
O turismo que oferece aos visitantes A proposta do turismo criativo
grande oportunidade para as comunidades locais,
sobretudo em territórios de menor densidade po-
a oportunidade de desenvolver o seu é pensar um turismo que não pulacional.

potencial criativo através da participação ativa se limita a recursos tangíveis, Estas experiências podem, ainda, promover a distri-

em cursos e experiências de aprendizagem, como museus, belezas naturais e buição geográfica, com a inclusão de áreas diferentes
das convencionais nos roteiros turísticos, promo-
monumentos, valorizando coisas
que são caraterísticas do destino de férias intangíveis, como estilo de vida,
vendo a melhor distribuição do fluxo de visitantes
durante o ano em lugares onde os turistas se con-
para onde são levados. identidade, narrativas, atmosfera
centram em determinada época. O investimento em
atrações intangíveis ajuda a evitar a sazonalidade, que
e a conexão entre pessoas. é um problema em muitos destinos.

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


98 TENDÊNCIAS TENDÊNCIAS 99

Tem havido um crescente reconhecimento do papel A Rede de Cidades Criativas prevê


a existência de Planos Municipais
da criatividade no desenvolvimento dos territórios
para a Inovação como instru-
e na atratividade dos destinos turísticos, como forma mento de excelência para fomen-
de evitar a sua erosão e/ou massificação. tar a inovação e a criatividade.
Existem algumas concretizações
mas com pouca representativi-
dade face ao universo de municí-

Rede de Cidades
1.
pios portugueses. A adesão à Rede
A UNESCO Creative Cities Network – UCCN foi de Cidades Criativas da UNESCO

Criativas da UNESCO criada em 2004 com o objetivo de promover a coo-


peração entre cidades onde a criatividade é um fator
tem períodos de candidatura esta-
belecidos e a nível nacional o pro-
cesso tem sido gradual. •
estratégico para o desenvolvimento sustentável.
O conceito de cidade criativa tem despertado aten-
Hoje em dia são 246 as cidades que
ção crescente desde o início do século XXI. Entre os
compõem esta Rede e trabalham juntas
1. Idanha-a-Nova
fatores que contribuem para esse interesse estão: CATEGORIA MÚSICA
para alcançar um mesmo objetivo: 2015
A procura por uma organização colocar a criatividade e as indústrias
urbana coerente com um paradigma
socioeconómico em transição, do
culturais no centro da estratégia local 2. Óbidos
de desenvolvimento, além de cooperar CATEGORIA LITERATURA
industrial para o do conhecimento; ativamente com os planos de âmbito 2. 3. 2015
internacional.
A perceção de que a competitividade
económica depende de inovação; As cidades que integram esta Rede comprometem-se
3. Amarante
CATEGORIA MÚSICA
a partilhar melhores práticas e desenvolver parcerias,
2017
envolvendo os setores público e privado, bem como a
A compreensão de que a inovação
sociedade civil, tendo os seguintes objetivos:
depende da criatividade (quanto mais 4. Barcelos
criativo for o ambiente no qual as • f ortalecer a criação, a produção, a distribuição CATEGORIA ARTESANATO
pessoas residem e trabalham, mais e a disseminação de atividades, bens e serviços E ARTE POPULAR

realizadas elas serão e mais forte será culturais; 2017


a economia);
• d
 esenvolver centros de criatividade e inovação e
ampliar as oportunidades para criadores e pro-
5. Braga
A globalização e a dispersão fissionais do setor cultural;
CATEGORIA ARTES MEDIÁTICAS
2017
das tecnologias de comunicação 4. 5.

e informação; •  elhorar o acesso e a participação na vida cul-


m
tural, em particular para grupos e indivíduos 6. 7. 6. Caldas da Rainha
marginalizados ou vulneráveis; CATEGORIA ARTESANATO
O facto de mais de metade da E ARTE POPULAR
população mundial viver em cidades; • i ntegrar a cultura e a criatividade de forma plena 2019
em planos de desenvolvimento sustentável.
A visão de que o mundo é cada vez Leiria
A Rede abrange sete áreas criativas: Artesanato e 7.
mais plano em termos de CATEGORIA MÚSICA
Artes Populares, Artes Mediáticas, Filme, Design,
oportunidades de inserção. 2019
Gastronomia, Literatura e Música.

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


100 TENDÊNCIAS TENDÊNCIAS 101

E se falar sobre
De facto, há alguns anos os projetos eram planeados
ao longo de uma década e agora devem ser imple-
mentados em poucos meses, alguns casos semanas,
sob pena de não estarem alinhados com a realidade.

turismo criativo
O setor do turismo em geral, e o turismo criativo em
particular, não foram poupados às mudanças pro-
vocadas pelas “revoluções” que surgiram no sistema
capitalista nos últimos anos. O modelo monográfico
e “fordista” do turismo está a ser gradualmente subs-

significasse não
tituído por uma (re)organização satélite, refletindo o
surgimento de economias como a economia da ex-
periência, a economia criativa, a economia circular
ou economia de partilha. Cada um deles contribui,

falar mais sobre


através das suas abordagens inovadoras, para questio-
nar o modelo “de cima para baixo” que prevalecia até
então, com uma indústria do turismo a impor a sua
oferta padronizada, em favor do “de baixo para cima”,
para um em que os turistas - criativos - impõem as

turismo…
suas necessidades, entre as mais diversas e específicas.

O segundo desafio consiste em atender a


essas necessidades específicas, oferecendo às
novas gerações de viajantes as experiências
personalizadas que procuram, respeitando
CAROLINE COURET tanto as leis do mercado como o
Creative Tourism Network desenvolvimento sustentável.

Por um lado, uma das dificuldades que se coloca à


indústria do turismo é ter de lidar com atores de ou-
...mas sim sobre reencontro, O turismo seria então apenas a indústria respon-
tros setores - cultura, arte, indústrias criativas, patri-
sável por fornecer aos seres humanos soluções que
curiosidade, empatia, paixão lhes permitissem viver experiências significativas mónio intangível, agricultura, gastronomia, entre ou-
artística e experiências em todas as partes do globo. tros - e torná-los não apenas os “criadores de sonhos”
que tornarão a experiência única, transmitindo seus
transformadoras. No entanto, a diversidade dessas experiências e a hiper conhecimentos e empatia, mas também (micro)
Ou seja, retornar à essência segmentação da procura influenciam a natureza das
soluções, forçando o setor a lidar de forma criativa
empresários do setor de turismo, setor que é, para a
maioria deles, completamente estranho.
da viagem. Essa jornada com os recursos culturais, naturais, materiais, tecnoló-
Assim, um artesão, que sempre trabalhou sozinho
que nos permite conhecer gicos, mas sobretudo humanos, dos vários destinos.
na sua oficina, será convidado a projetar e direcio-
o Outro e conhecermo-nos Como em qualquer perturbação, o surgimento nar atividades criativas que correspondam a diferen-
deste paradigma traz novos desafios, mas também
a nós mesmos. grandes oportunidades aos territórios, quer tenham
tes perfis de turistas, desde os mochileiros a turistas
premium, passando pelo segmento MICE, solteiros,
ou não vocação turística prévia. e uma infinidade de segmentos que encontram no
turismo criativo um aliado essencial para dar sentido
Se olharmos primeiro para os desafios, o principal
à sua oferta e criar novos motivos para estadias.
deles passa pela adaptação às novas escalas de tempo.

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências

Cusco, Peru
102 TENDÊNCIAS

O artesão terá, portanto, que considerar restrições institucional, e ajudará a criar vínculos entre residen-
conceptuais, espaciais e temporais, e pensar num for- tes e visitantes, mesmo antes da estadia, tornando os
mato, pedagogia e narrativa que vão ao encontro das habitantes locais em embaixadores diretos do destino.
exigências desses novos turistas.
Loulé (Algarve) e Barcelos (Porto e Norte) são dois
A tarefa não é fácil, sobretudo porque o setor turís- modelos de desenvolvimento do turismo criativo à
tico-criativo ao qual se destinam ainda é vago. É por escala global. Os dois municípios portugueses não só
isso que a maioria desses “criadores de sonhos” re- foram capazes de identificar os recursos culturais e
cebe formação, que os ajuda a converter o seu talento criativos que os ajudariam a diferenciar-se e aumen-
artístico num negócio turístico. tar a atratividade, como também criaram uma cadeia
de valor que beneficia as populações locais, garan-
Esse desafio constitui uma oportunidade, graças à tindo o desenvolvimento do turismo sustentável.
qual podem diversificar as suas atividades, ofere-
cendo oficinas, especialmente fora de época, e for- Em ambos os casos, o turismo criativo ajudou a cana-
mação a vários níveis do desenvolvimento de expe- lizar e estimular uma estratégia de desenvolvimento
riências turística, do marketing, do atendimento aos baseada no património imaterial, artesanato e indús-
turistas, idiomas, entre outros. trias criativas. A co-criação de experiências por parte
dos habitantes locais tornou possível recuperar tradi-
ções enquanto atraía o turismo fora de temporada,
À escala do destino, todo
mas também criar centros de design, que se tornaram
o território beneficia do verdadeiros polos de talento a nível internacional. A
desenvolvimento de competências influência dessas duas cidades foi, portanto, alimen-
ao nível dos recursos humanos, tada pela criatividade - um recurso tão sustentável -
ao usar o turismo (criativo) como uma ponte entre
através da participação das tradições e modernidade, entre residentes e turistas.
comunidades locais em seminários.
Outros destinos, membros da Creative Tourism
O desenho de experiências criativas Network®, também contam com o turismo cria-
desde o início, ou seja, um exercício tivo para atender à crescente procura de viajantes
de co-criação entre atores locais que querem experiências únicas e relações humanas,
de vários setores, também permite como também para oferecer soluções face a eventos
externos negativos frequentemente ligados ao tu-
criar sinergias, mas acima de tudo, rismo, como a sazonalidade, a perda de identidade,
recuperar a identidade e o ADN o folclore da oferta, a exclusão, só para citar alguns.
do lugar, de acordo com a visão Assim, pese embora as disparidades entre si, desti-
dos próprios habitantes. nos como Loulé, Barcelos, Medellín, Ibiza, Toscana,
Recife, Biot ou Ilhas Magdalen, veem o turismo
Daqui surgem também algumas oportunidades. criativo como o canivete suíço que oferece soluções
Desde já consciencializar as populações sobre o pa- adaptadas a esse novo turismo e paradigma social, e
trimónio e as tradições locais, mas também envolvê- não hesitam em colocar a criatividade no centro das
-las ativamente na criação de uma narrativa comum suas estratégias de desenvolvimento. •
para o destino que não seja formatada e com a qual
se sintam identificados.

Essa estratégia também vai garantir autenticidade aos


turistas criativos, que tendem a afastar-se do conteúdo

TURISMO’20_anuário de tendências
104 TENDÊNCIAS TENDÊNCIAS 105

Bruno, um estudante finalista da licenciatura em turis- M: O professor referiu que muitas empresas po-
mo, está a fazer um estágio numa unidade hoteleira dem falir. A verdade é que, na minha unidade
gerida por Mafalda. Embora Mafalda já possua al- hoteleira, já estamos em modo sobrevivência. A
guma experiência profissional, os dois estão abala- nossa prioridade é aguentar este período em que
dos com a situação criada pela COVID-19. Perante continuamos a suportar as despesas mesmo sem
a situação, ambos procuram ligar para um docente existir faturação. E, ainda que possamos recorrer
e investigador na área do turismo com o objetivo de aos sistemas de apoio do Estado, parece-me que
falar e esclarecer o tema. será difícil aguentar.

Após os cumprimentos e comentários iniciais sobre P: Compreendo perfeitamente Mafalda. No entanto,


o estado de saúde de cada um, Mafalda (M) e Bruno a reter que apesar da enorme pressão e da neces-
(B) colocaram a primeira questão ao professor (P) sidade de sobrevivência no curto prazo, é mais do
relativamente à crise pandémica que está a afetar o que essencial preparar já o futuro. Será um cami-
mundo. nho novo, diferente e que exigirá mudanças. Por
esse motivo, deve ser pensado e trabalhado.
M&B: Professor qual é a sua opinião sobre a crise
atual? Recentemente deparávamo-nos com B: Sim, recordo-me muito bem das suas aulas de
os problemas de excesso de fluxos de turismo. gestão estratégica, professor. Mas a verdade é que
Mas, de um momento para o outro, passamos nunca assistimos nem imaginámos uma reali-
para um estado de turismo inexistente e sem dade assim, totalmente caótica e imprevisível.
certezas relativamente à reabertura das ativi- Portanto, devemos pensar que no setor das via-
dades turísticas. gens e do turismo haverá um antes e um depois.
Certo?
P: A pandemia e a declaração de estado de emer-
gência em muitos países está a ter consequências P: M
 ais do que certo. A ciência mostra-nos que
dramáticas. Em primeiro lugar pelo número de existe uma relação muito próxima entre o caos
doentes e óbitos e em segundo lugar pela reces- e a ordem, em que um influencia o outro numa
são económica que já se prevê: constrangimentos espécie de “bola de neve”. Portanto, se o caos é

O TURISMO
para as empresas (algumas enfrentam já a dura o prenúncio de uma nova ordem, significa que
realidade e possibilidade de falir) e para os orça- uma janela de oportunidade se abre para repen-
mentos dos Estados com um aumento considerá- sar a indústria do turismo e reconstruí-la a partir
vel da despesa e da dívida pública. de uma nova visão mais alinhada com os grandes
desafios da humanidade. Espera-se que a resiliên-

SOBREVIVERÁ, MAS
Perante este contexto, o turismo ficou cia do turismo se torne novamente evidente, bem
no limbo, o que parece inédito. O setor como um novo comportamento por parte dos
já enfrentou outras crises, nomeadamente governos, turistas e operadores do setor.
a crise financeira de 2008, mas sempre
M: Na minha opinião, após o momento crítico de

TAMBÉM VAI MUDAR


se reinventou e recuperou rapidamente. sobrevivência, virá a necessidade de aceitarmos a
No entanto, desta vez o panorama nova realidade e prepararmos uma recuperação
é distinto. A indústria turística passou que, naturalmente, se dará de forma gradual. A
a um estado de hibernação que está base deste processo progressivo de crescimento
a alongar-se e ainda não existe previsão será a capacidade para compreender o novo
concreta para voltar a reiniciar contexto do turismo pós-coronavírus. A minha
Alfonso Vargas-Sánchez questão agora é: será que já conseguimos retirar
e a recuperar.
Universidade de Huelva, Espanha algumas lições importantes desta situação?
(Assim era à data desta conversa).

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


106 TENDÊNCIAS CAPÍTULO 107

P: Eu diria que num mundo tão volátil, a capaci- • Cada problema possui o seu contexto particu-
dade de aprendizagem é a única fonte de van-
tagem competitiva sustentável (com a sua con-
sequente tradução em termos de flexibilidade
e agilidade na resposta). Embora não saibamos
lar que deve ser tido em consideração quando
procuramos as soluções. É fundamental acei-
tar o problema com a sua própria complexi-
dade, o que requer estudá-lo e trabalhá-lo me-
MADEIRA
de outra mra.
quanto tempo durará a pandemia, existem algu- diante o seu contexto específico. A tendência
mas lições que já podemos considerar: para aplicar a mesma receita a todos os desti- Nós não fomos feitos para ficar no interior.
É contra-natura.
nos deve ser colocada em quarentena. Nós somos exploradores.
A importância dos sinais de deteção Nós precisamos do exterior.
• Em momentos críticos, a empresa deve com-
precoce de fenómenos com um nível Nós precisamos da natureza.
portar-se, mais do que nunca, como um bom Mas também precisamos uns dos outros.
de impacto elevado nos fluxos turísticos cidadão corporativo, ajudando os seus funcio- Por isso, por favor, fique em casa.
e com um nível de urgência de resposta. nários, clientes, fornecedores e a comunidade Isto não significa que tenhamos de parar de sonhar.
Por outras palavras, a transcendência da qual faz parte. É uma questão de solida- Devemos sonhar mais do que nunca.
de uma cultura proativa que incentive riedade, mas também de reputação, credibili- Sonhar com os caminhos que tencionamos fazer.
Com as emoções que ambicionamos sentir, e todas
uma análise aprofundada dos sinais dade da marca e construção de organizações
as experiências que queremos ter.
e o desenvolvimento de protocolos baseadas em valores que fortalecem o vínculo
com os stakeholders. Por agora, ficamos em casa. Entretanto sonhamos
de prevenção e planos de contingência online
que permitam reagir rapidamente. C

M: Professor, a cadeia de hotéis onde trabalho tem M

B: Desculpe interrompê-lo, mas nos nossos planos disponibilizado algumas unidades hoteleiras Y

de estudos não existe qualquer disciplina rela- para, em caso de necessidade, acolher doentes du-
tiva à gestão de crises. Acredita que esta é uma
CM

rante a pandemia. E, permita-me que lhe diga, sin-


especialização importante para quem trabalha to-me orgulhosa por este gesto de solidariedade.
MY

no setor? Já na minha unidade hoteleira estamos a doar CY

alimentos a organizações que acolhem pessoas


P: É uma área complementar muito pertinente para
CMY

carenciadas. Estou convicta de que estas ações fa-


quem trabalha no turismo, Bruno. Provavelmente, K

zem parte do planeamento para a saída da crise


na sequência desta pandemia, os planos curricula-
porque permitem envolver os colaboradores na
res do Ensino Superior terão de sofrer alterações
tarefa coletiva de recuperação.
em alguma medida. A introdução de uma uni-
dade curricular sobre gestão de crises é bastante P: C
 erto. Vão sempre existir problemas que não po-
aconselhável. Os profissionais com competências demos antecipar ou prevenir, mas tudo depende de
específicas neste domínio devem ser considerados como lidamos com as situações e essa é a margem
como um novo ativo para as empresas de turismo. de manobra que não podemos descuidar. Mesmo
sabendo que os resultados não dependem apenas
B: Obrigado professor. Podemos prosseguir com as
de nós, é essencial planear e definir uma estraté-
lições que esta crise nos trouxe e trará no futuro.
gia para que o caminho seja melhor e menos atri-
P: Sim, voltando às lições, aproveito para referir ou- bulado. Na verdade, nem sempre conseguiremos
tras questões fundamentais: prever com precisão, mas o mais importante é
seguir na direção correta e aprender com os erros
• Tudo está interrelacionado. Não basta pensar cometidos.
nas ações (nas nossas e dos outros), mas deve-
M: C
 oncordo que as empresas necessitam de elaborar
mos dar especial atenção às interações. Hoje,
uma estratégia para encarar a recuperação; e sa-
mais do que nunca, é necessário ter uma visão
bemos que a estratégia se desenvolve num plano
global e sistémica do turismo.

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


108 TENDÊNCIAS CAPÍTULO 109

O Turismo:
de ação. Porém, o que tenho vindo a ler e a ouvir decisivas e que vão influenciar as decisões polí-
por parte dos responsáveis da gestão dos destinos ticas. Ao combinarmos estes fatores, tendo em
turísticos resume-se ao adiamento de eventos e à conta as suas intensidades, podemos projetar vá-
procura de maior orçamento para a promoção rios cenários em função das informações dispo-

Do Fracasso
dos destinos/marcas turísticas. Ou seja, pouco se níveis e da evolução da doença. Mas há que con-
fala de outras ações. Não acha que esta é uma vi- siderar que a recuperação da confiança será um
são demasiado curta? fator-chave, pois será a grande prioridade para os
destinos e empresas.
P: N
 ão obstante da importância da promoção, a es-
tratégia deve focar-se também na reconfiguração M: Alguns gestores do setor pensam que em pouco

ao Sucesso?
da oferta mediante a nova realidade social que tempo os turistas vão esquecer esta situação e que
resultou da COVID-19. Note bem que o maior tudo voltará aos padrões habituais. Concorda?
inimigo do negócio é a incerteza. Isto porque,
perante a incerteza é fácil existir confusão o que P: No meu entendimento, se governos e pessoas
nos pode conduzir a dois caminhos: o da inércia mudarem a sua relação com o turismo, as em-
(em que estamos sem saber o que fazer e não ino- presas e destinos vão ser forçados a mudar as suas
vamos) ou o da criatividade (como um método estratégias. Mesmo na própria cadeia de distri-
Peter Tarlow
para encontrar novas formas de atuarmos e de buição turística podem surgir novos equilíbrios.
Presidente das Empressas Tourism & More e SaferTourism
nos posicionarmos para responder aos atuais e Tendo em conta as características desta crise, pa- Chefe da segurança para o African Tourism Board

novos desafios). Estamos num tempo que exige rece ser mais plausível pensar em mudanças es-
criatividade, flexibilidade e agilidade extremas. truturais do que conjunturais. No entanto, com
uma perspetiva mais visionária, o novo modelo
B: N
 as suas aulas, o professor dizia que o método que virá não será baseado apenas nos resultados
dos cenários é uma ferramenta eficaz para lidar dos efeitos desta pandemia, mas também na re-
com a incerteza. volução tecnológica que está a avançar a passos
largos. E aqui abrimos outra discussão: será que
P: S
 im, é extremamente relevante para avaliarmos os esta "guerra" vai deixar as empresas e os governos
possíveis cenários do pós-coronavírus. com músculo financeiro suficiente para realizar
M: E consegue antecipar-nos esses cenários? os investimentos necessários? Ou a pressão com-
petitiva vem acelerá-los? O fator tecnológico fará
P: Numa primeira reflexão, parece que são dois os uma grande diferença nos produtos e serviços
fatores externos que podem condicionar os ce- turísticos. Bruno, podes também pensar numa
nários pós-coronavírus. Por um lado, temos a formação complementar neste tema.
"Política Governamental", isto é, a forma como
os governos vão reagir ao movimento de pessoas B: Sim, estou convicto que as tecnologias são funda-
(Espaço Schengen, política de vistos, passaportes mentais para alavancar os esforços e as ações que
sanitários, entre outros). Por outro lado, temos respondem aos grandes desafios desta pandemia.
o “Comportamento do Turista” em que devem A Inteligência artificial passará, cada vez mais, a es-
ser considerados fatores como o novo comporta- tar integrada nos negócios e no nosso quotidiano
mento dos turistas e os riscos de viajar, isto por- e criará oportunidades. Para já, esta crise pandé-
que, os turistas podem tornar-se mais cautelosos mica veio também demonstrar a importância dos
e sensíveis aos aspetos que se relacionem com a sistemas de saúde na sociedade.
segurança e a saúde pública. Deve-se considerar P: Verdade! E teremos que distinguir entre a fase pré-
ainda que a duração do confinamento e do dis- -vacina e fase pós-vacina para perceber quais os reais
tanciamento físico, bem como o custo em vidas impactos da COVID-19 no turismo. Deixo este
humanas e o impacto económico, serão questões tema para a nossa próxima conversa, que dizem? •

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


110 TENDÊNCIAS TENDÊNCIAS 111

Durante a crise provocada pelo vírus H1N1, que a indústria da aviação obrigada a parar e milhares
de pessoas desempregadas. Mas, neste campo não
Neste momento estamos perante um cenário in-
certo. Para já não é possível, nem sensato, prever
ocorreu em 2009, previu-se que o mundo, inclusive se pode culpar os profissionais do turismo, pois
como refere Thomas Paine “These are the times that
com precisão quantos negócios vão deixar de exis-
tir, quais serão os números reais do impacto no em-
o setor do turismo, não estava preparado para try men’s souls” (Estes são tempos que testam a alma prego, quando o mundo e as sociedades vão voltar à
de cada um). normalidade ou quando as economias vão retomar.
enfrentar uma doença à escala global.
Atualmente vemos cidades-fantasma vazias de pes- De notar que o turismo não pode estar
soas. Os destinos já não estão a rebentar de turis- em hibernação de forma prolongada.
Na verdade, nos últimos anos, sucederam-se os avisos para a possibilidade tas. E parece adequado relembrar a frase célebre do É fundamental que se comece a projetar
de aparecer uma nova pandemia com impactos económicos e sociais Livro das Lamentações: os modelos de retoma dos negócios e uma
devastadores, com vários críticos a publicarem artigos de reflexão sobre o tema. nova forma de pensar e exercer as atividades
Não obstante a preocupação com os efeitos de uma nova crise pandémica, Eichah yashvah ha’ir turísticas. Debaixo das lentes da análise
ao turismo na história moderna podemos
existia já um alerta específico dirigido à indústria do turismo. Uma vez que turismo,
e em particular o de lazer, depende diretamente de uma economia forte badad rabati am…/que encontrar quatro grandes tendências:
e sustentada, alertava-se para o facto de que “quando as economias mundiais
“espirram”, o turismo adoece de “pneumonia””.
solitária fica a cidade, 1 O turismo de luxo e de nichos que marcou o
uma vez cheia de gente setor até à Segunda Guerra Mundial. Esta forma
de turismo dirigia-se essencialmente à classe
social alta e adaptava o serviço/produtos/destinos
(Sefer Eicha 1:1)
E, em 2020, o setor assistiu e sofreu as consequências que as previsões às necessidades do segmento, com um padrão de
apontavam. para evidenciar que as culpas não podem ser atri- qualidade premium.
buídas a ninguém, nem aos governos, nem aos pro-
Há cerca de quatro meses debatiam-se os impactos do overtourism que fissionais do setor do turismo que se veem também 2  turismo de classe média que emergiu após a
O
estavam a causar a saturação de certos destinos que se viam desvirtua- a braços dados com a imprevisibilidade. Segunda Guerra Mundial e persistiu até ao final
dos do seu património cultural resultante do enorme fluxo de turistas. da primeira década do Século XXI. Esta atividade
Em fevereiro, o novo coronavírus alterou o padrão a que estávamos focava sobretudo as famílias e apresentava
habituados, impondo uma nova organização mundial e a necessidade serviços que contemplavam uma estada em
de sobrevivência de muitos negócios, sobretudo do turismo. Exemplo hotéis de qualidade a preços moderados, bem
disso, foram os números divulgados pelo World Travel and Tourism como um ajuste nos preços praticados pelas
Council (WTTC) que não deixaram dúvidas: “Prevê-se que o setor do companhias aéreas. Nesta fase, assistia-se à
turismo irá perder cerca de 100 milhões de postos de trabalho devido procura por parques de atrações, como por
à pandemia de COVID-19”. Estes indicadores revelam o aumento do exemplo a Disneylândia, em Paris, e de férias em
desemprego no setor durante o mês de abril e a severidade que esta cruzeiros a preços equilibrados.
crise representa.

O ecossistema turístico, assim como outros setores de atividade, não


3 O turismo individual. Assistiu-se à tendência para
viajar sozinho, numa perspectiva de solo traveller
estava preparado para os cenários que a COVID-19 trouxe. Esta é a pior
que evita as expedições em grupo. Esta procura é
crise sanitária desde o surto da peste negra que começou em Itália no
caracterizada essencialmente por jovens e outros
ano 1347. É interessante perceber que as reações da Europa do século
turistas que procuram experiências de aventura.
XXI são parecidas àquelas a que assistimos na época medieval e aqui
Quem participa neste formato de turismo são,
inclui-se a fuga das cidades e a exaltação de preconceitos raciais. Há
provavelmente, aqueles que vão querer voltar
uma certeza inequívoca: quando se escrever a história do turismo da
a viajar após o controlo da pandemia. Isto é
terceira década do século XXI, falar-se-á num ano em que o turismo
explicado pelo facto de serem aqueles que estão
também esteve em pausa. 2020 resultou num número de consequên-
mais abertos ao risco como uma parte integrante
cias não antes vistas com muitos países a fecharem as suas fronteiras,
da atividade turística.

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


112 TENDÊNCIAS CAPÍTULO 113

4 V irá uma nova etapa do turismo que correspon-


derá à retoma das atividades após a crise. Esta Reflexões sobre a
nova forma de organização abre a oportunidade
a dois caminhos possíveis: ou culminará numa
combinação das etapas anteriores ou produzirá
retoma do turismo:
um novo paradigma. • É importante ter uma atitude positiva. Os espe-
É importante considerar um ponto fundamental cialistas acreditam que uma posição negativa e
para preparar a retoma. As mudanças vão aconte- redutora vai afetar animicamente o ecossistema
cer mediante as características dos fatores sociais, turístico. Os atores do setor devem ser os maiores
geracionais, económicos e culturais de cada des- embaixadores dos destinos e das marcas turísticas
tino. Voltamos à ideia de que existe a convicção para catapultarem o seu produto/serviço. Após a
de que os jovens que procuram formas de turismo crise, a atitude positiva e esperançosa é fundamen-
de aventura vão voltar a viajar mais rapidamente tal para reconquistar a confiança dos turistas.
do que os séniores que vão ser mais cautelosos e
criteriosos no momento de decidir viajar. • As informações veiculadas junto dos públicos de-
vem ser fidedignas, filtradas, trabalhadas e cons-
tantemente atualizadas. Como se espera, parte da
Neste momento, o futuro do turismo retoma do turismo vai depender da confiança dos
é ainda uma incógnita. Existe uma públicos em viajar e a credibilidade das organiza-
escola de pensadores que acredita que
o turismo sofrerá grandes mudanças e
ções será central neste campo. Podemos ter como
exemplo o artigo do jornal Washington Post que E como será o
que não voltará aos padrões que existiam
antes do surgimento da COVID-19. Além
revelava alguns dos riscos das viagens em cruzei-
ros e que, mediante falha de informações, salienta-
ram que o acesso aos testes à COVID-19 era limi-
futuro do turismo?
disso, existem ainda os defensores de Talvez o aspeto mais importante a considerar é que,
tado no cruzeiro Grand Princess. O mesmo artigo
que, após o confinamento obrigatório eventualmente, a COVID-19 não vai dominar as no-
mencionava que a falha nos testes ao coronavírus
e assim que lhes seja permitido, os resultou na saída de passageiros sem controlo e tícias. Já assistimos ao recomeço das atividades de
turistas vão ter um enorme desejo de aumentou a possibilidade de infeção junto das turismo em alguns países. A retoma não será uni-
viver, acumular experiências e viajar. comunidades locais. Este género de comunicação forme: não vai acontecer ao mesmo tempo em to-
Numa análise global, acredita-se que pode ser muito nefasta para o turismo. dos os países e é imperativo preparar as novas vagas
haverá uma conjugação destes dois da doença. Segundo os especialistas em virologia e
• A não cobrança de taxas de cancelamento de re- a própria Organização Mundial de Saúde, sabemos
pressupostos. Espera-se que alguns servas de hotéis, pacotes ou viagens. de 2020 e o turismo internacional no último tri- que muito provavelmente continuaremos a con-
segmentos do mercado queiram viajar mestre de 2020. viver com o vírus durante o próximo ano e, assim
brevemente para destinos internacionais • Atuar e informar sobre os procedimentos que a
sendo, teremos de nos adaptar melhor.
enquanto outros vão apostar nas férias hotelaria e os operadores turísticos estão a aplicar • Criar um mecanismo que permita aos turistas
em termos de segurança na saúde pública. No que adiar – e não cancelar – uma viagem aquando de É essencial lembrarmo-nos de que não existe uma
locais/domésticas.
respeita ao turismo internacional deve existir uma uma crise sanitária. realidade comum no que respeita à forma e organi-
preocupação extra com as apólices temporais e a zação do setor do turismo. Pelo contrário, cada país
oferta de um seguro de saúde em viagem a um • Rever e avaliar as políticas dos negócios para se
apresenta uma realidade única e de características
preço acessível. adaptarem aos novos modelos de turismo que vão
muito próprias. Por este motivo, assistimos a uma
surgir.
• Assegurar a criação de zonas consideradas seguras recuperação irregular, sendo que em alguns países
no que respeita à saúde pública. a retoma será mais rápida. E, num mundo global e
interconectado, facilmente surgirão outras maleitas
• Apostar em ações de marketing e comunicação que nos vão obrigar a catalogar os erros e lembrar-
para promover o turismo nacional na época alta mo-nos das ações positivas.

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


114 CAPÍTULO CAPÍTULO 115

Temos vindo a assistir a movimentos contra os es-


tados de emergência e a consequente obrigação de
distanciamento social. Os que esperam pela retoma
dos negócios defendem que as medidas de confina-
mento aplicadas pelos governos estão a ter repercus-
sões enormes no ciclo de vida dos negócios. Há por
isso, uma divisão clara entre classes trabalhadoras e
classes empresariais o que leva a repensar a canaliza-
ção de esforços conjuntos para salvar as economias
mundiais.

Esta pandemia tem ensinado muito ao turismo.


No curto prazo muitos negócios vão sofrer cons-
Entre as lições aprendidas destacam-se:
trangimentos e vamos assistir ao aumento da des-
pesa e dívida pública dos Estados soberanos. No 1 A importância de uma política de saúde pública
caso dos países com economias independentes, que mantenha a dinamização económica sem
como os Estados Unidos e o Reino Unido, será mais grande prejuízo.
fácil implementar certas soluções do que em países
europeus, com independência política mas com de- 2 A necessidade de desenvolver cadeias de abasteci-
pendência económica. mento adequadas e preparadas para um sistema
mais flexível e volúvel.
Um outro cenário possível prende-se com o con-
trolo dos espaços fronteiriços. Com o maior con- 3 Criar mecanismos de apoio à saúde física e men-
trolo da pandemia haverá certamente uma refle- tal dos colaboradores e turistas.
xão acerca dos prós e contras da globalização e da
dependência económica de alguns países. A par 4 Apostar na formação e coordenação de todos os
disto, colocar-se-á a tónica no conceito de “bem-es- agentes envolvidos na prestação de serviços de
tar turístico” que engloba fatores como a saúde, a saúde, transporte e segurança.
economia e a reputação de um determinado lugar.
As empresas turísticas também vão ter de atender à 5 Transformar unidades de segurança turística em
saúde dos seus colaboradores, especialmente os que unidades de bem-estar turístico.
trabalham na linha da frente.
6 Analisar as fronteiras nacionais e considerar a

A pergunta que impera


utilização obrigatória de vistos para controlar as
entradas e saídas dos países.

neste momento é: 7 Maior colaboração entre as autoridades políticas


Qual das crises terá e as autoridades do setor do turismo de forma a
acautelar a saúde de todos sem causar aumento

maior impacto nas do desemprego numa grande escala.


Se o setor implementar algumas destas medidas
sociedades? e utilizar o passado como uma base de aprimora-

A sanitária ou a
mento do futuro, então assistiremos a um novo
paradigma do turismo. Até lá, é fundamental traba-

económica? lhar para se assistir ao renascimento de um turismo


mais forte e mais preparado do que nunca. •

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


116 TENDÊNCIAS TENDÊNCIAS 117

Turismo
Foi o suficiente para se levantarem algumas vozes mica que congrega uma “constelação” de setores -
contra o alegado peso excessivo do Turismo na eco- para citar a feliz expressão do saudoso Prof. Ernâni
nomia nacional. Alguns exemplos: Lopes – de que se destacam a hotelaria e o aloja-
mento em geral, a restauração, os transportes aéreos,

a mais ou
Catarina Martins, líder do BE, questionada pelo marítimos e rodoviários, as agências de viagens, os
jornal Expresso (10/4) sobre “quando deve ser operadores turísticos, a animação turística, os cam-
lançada a estratégia de retoma da economia pos de golfe, o rent-a-car, os casinos, os organizado-
portuguesa”, responde que “A próxima fase vai res de eventos e congressos, entre outras.
exigir muito investimento público e uma es-
Para quantificar o contributo

Economia
tratégia que não passe por o turismo ter este
peso no PIB.” desta miríade de setores na
Economia, a Organização Mundial
Luís Todo Bom, em artigo publicado no Jornal do Turismo (OMT) concebeu

a menos?
de Negócios (6/4), intitulado “Uma economia
uma ferramenta metodológica – a
baseada no turismo?”, refere que “O turismo em
Portugal já representa 12% a 15% do PIB (…) Conta Satélite do Turismo (CST) –
em atividades de baixo valor acrescentado (…) que permite aferir a importância
A continuação do seu crescimento, baseado no desta atividade nos principais
mesmo modelo de valor acrescentado, típico
dos países subdesenvolvidos, representa um
agregados macroeconómicos
Carlos Costa risco acrescido.”. E conclui dizendo que “Uma de cada país. Em Portugal, os
Economista, Administrador economia excessivamente dependente do tu- dados da CST são produzidos
Grupo NAU Hotels & Resorts
rismo tem um risco inaceitável.”.
e divulgados pelo Instituto
Nacional de Estatística (INE).
José Reis, professor da Universidade de Coimbra,
A pandemia de COVID-19 gerou um surto em artigo publicado no jornal Público (11/4), a
Consultando os dados mais recentes da Conta Satélite
propósito da economia portuguesa fala em “ex-
sanitário e uma crise económica sem posição desmedida ao turismo”, atividade que do Turismo (ver quadro) facilmente se conclui que:
precedentes à escala planetária. Em Portugal, representa “18% do PIB” e “cuja promoção foi
• O
 Valor Acrescentado Bruto gerado
o Turismo é, de longe, a atividade mais afetada. tão insensata”.
diretamente pelo Turismo representa 8% do VAB
Sem mercado interno, com os portugueses da Economia Nacional (dados de 2018), tendo
confinados em casa, e sem os habituais fluxos Diga-se, em abono da verdade, que estes comentá- duplicado o seu peso numa década;
rios não são novos. Integram-se numa corrente de
turísticos internacionais, com o transporte opinião que vem diabolizando a atividade turística, • O
 Emprego nas atividades caraterísticas
aéreo em lockdown e os aviões em terra, a com o argumento de que Portugal tem Turismo e do Turismo corresponde a 9% do total
do emprego nacional e as Remunerações
atividade turística viu interrompida a cadeia turistas a mais. Independentemente da opinião que
a 8,3% (dados de 2017).
possamos ter, esta tese da “turistificação” assenta
de abastecimento e entrou em hibernação. num postulado que carece, desde logo, de demons- Agregados 2008 2016 2017 2018
tração: o de que em Portugal a atividade do Turismo
VAB 4,1% 6,9% 7,7% 8%
Declarado o Estado de Emergência e com a economia parcialmente assume um peso excessivo na economia.
fechada, Portugal vê-se arrastado para a recessão, com uma contração Emprego 8,3% 8,6% 9,0% nd
esperada de -8% do PIB no final de 2020. Mas qual é, afinal, o real contributo do Turismo Remunerações — 4,1% 4,1% nd
para a Economia Portuguesa? Importa começar por
esclarecer que o Turismo é uma atividade econó- Fonte: Conta Satélite do Turismo (INE)

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


118 CAPÍTULO CAPÍTULO 119

Sejamos claros:
em Portugal não há
Turismo a mais na
Economia, nem excesso
de turistas.
A comprová-lo está o facto de a capacidade de carga
Sendo diretamente responsável por 8% do PIB (que estar longe do esgotamento. Há é Economia a me-
é o somatório dos VAB setoriais) e 9% do Emprego, nos. E sem Turismo, ou com menos atividade turís-
infere-se que o Turismo é efetivamente uma ativi- tica, a equação económica não se resolve, agrava-se.
dade importante e em expansão na economia na- O próprio Primeiro-ministro o confirma: “Há pou-
cional, sendo mesmo estratégica em alguns destinos cos meses discutia-se se não tínhamos um excesso
– como são os casos do Algarve, da Madeira ou da ci- de turistas, receio que agora vamos chorar muito a
dade de Lisboa. Mas está longe de assumir um peso falta de turistas.” (Expresso, 18/4).
excessivo, contrariando a narrativa daqueles que
apregoam estar Portugal refém do Turismo, como A prosperidade registada em Portugal no quin-
se estivéssemos numa economia de monoprodução. quénio 2015-2019 deve-se, em grande medida, ao
êxito da atividade turística, traduzida na geração
Mas, então, como explicar as percentagens de 12%, de riqueza, na criação de postos de trabalho e no
15% e até 18% (!) invocadas por vários articulis- aumento das exportações. Insensato seria não tirar
tas? Há de tudo, desde quem confunda o peso do partido deste ciclo de crescimento nem das vanta-
Turismo no PIB com o contributo da atividade gens competitivas que o Turismo oferece, com base
para o total de exportações nacionais, a quem, cer- nos recursos naturais do nosso país. Tomara que a
tamente por desconhecimento dos conceitos de Economia tivesse beneficiado de desempenhos si-
Contabilidade Nacional, não distinga “procura tu- milares em setores como a agricultura, as pescas, a
rística” de “valor acrescentado bruto”. fileira florestal, as indústrias transformadoras e ex-
trativas e mesmo os serviços. Estaríamos todos bem
O resultado do equívoco é conhecido: políticos,
melhor. Se não estamos, a culpa não foi nem é do
académicos, quadros da administração pública do
Turismo.
turismo, dirigentes associativos, jornalistas e pro-
fissionais de turismo assumiram como boa esta in- Terminamos com um apelo aos
formação e interiorizaram que o turismo tem um
peso na Economia muito acima do seu real valor. portugueses para que façam férias
E, como diria Goebbels, “uma mentira repetida mil em 2020, mas “vão para fora,
vezes torna-se verdade”… cá dentro”. •
TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências
120 Caderno especial Caderno especial 121

Embora os primeiros pico entre 1 e 3 meses e recuperaram nos níveis pré-


-crise após cerca de 6-7 meses desse pico.
casos do surto tenham Antes da COVID-19, a SARS foi a epidemia com
surgido em dezembro
2020: o ano do surto
maior impacto nas viagens, e causou a única que-
bra no tráfego aéreo na Ásia-Pacífico nos últimos
de 2019, foi só a 30 de vinte anos (cerca de 5%). No entanto, a quebra foi

de COVID-19
bastante inferior à registada durante a crise finan-
janeiro de 2020 que ceira de 2008/2009.

o novo coronavírus foi


Caderno Especial
declarado emergência O COVID-19 e o
de saúde pública. turismo: Uma
O alerta surgiu quando 50 moradores de Wuhan,
perspetiva global
uma cidade chinesa, se queixaram de tosse, febres
altas, infeções respiratórias e pulmonares e depres-
do setor
sa os casos se multiplicaram um pouco por todo A pandemia de coronavírus mudou radicalmen-
o mundo, levando a que a Organização Mundial te a nossa forma de estar, proceder e até a própria
de Saúde (OMS) decretasse o estado de pandemia. organização da sociedade e da economia mundial.
Este é um dos temas que marcará 2020 pelo tumul- O turismo viu os fluxos a serem reduzidos de for-
to que está a provocar a nível global e com naturais ma brutal e há enumeras incertezas que afetam
impactos em várias áreas sobretudo no turismo. as inúmeras empresas e os trabalhadores do setor.
Quando tudo voltar à normalidade só existirá uma
Os coronavírus pertencem a uma família de vírus
certeza: nada voltará a ser como antes.
que causam problemas respiratórios e que podem
ser transmitidos aos humanos através do contacto
com animais e, posteriormente, entre humanos. Às Como será viajar?
lentes do microscópio, os coronavírus aparentam
Os viajantes vão continuar a ter desejo de ex-
ter uma coroa de espinhos à sua volta. O vírus é
plorar o mundo. No entanto, será necessário
designado como SARS-CoV-2 e provoca a doença
assegurar-lhes que é seguro viajar o que exige, a
COVID-19, vindo juntar-se à lista de outros coro-
princípio, que sejam feitas mudanças reais para
navírus, como a síndrome respiratória aguda gra-
tornar o processo de viagem mais seguro. Como
ve (SARS-CoV) e a síndrome do Médio Oriente
será o futuro?
(MERS-CoV).
• O
 setor, após o estado de alarme, deverá elaborar

FACTS & FIGURES: um novo protocolo de saúde e higiene a ser ado-


tado pelas empresas turísticas.

A IATA divulgou uma análise ao impacto do Coro- • O


 s viajantes vão procurar experiências de via-
navírus na indústria turística. De acordo com o es- gem mais baratas e enriquecedoras. Espera-se
tudo, as epidemias anteriores (SARS, 2003; Gripe uma nova atuação por parte de toda a cadeia
das Aves, 2005 e Gripe das Aves, 2013) tiveram um turística.

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


122 Caderno especial Caderno especial 123

• A
 tecnologia fará parte do quotidiano de todos
e terá impacto nas atividades de marketing das
empresas do turismo e até mesmo na reserva
A recuperação dos destinos
será desigual VOLTAR À APROVEITAR
direta de viagens.
Assistimos diariamente ao surgimento de novos e NORMALIDADE? O MOMENTO
COMO FAZER DA CRISE
• E
 xistirá uma captação das reservas que ficaram distintos fatores que influenciam o desenvolvimen-
em aberto na expectativa da retoma após a pan- É necessário desenvolver um novo modelo de turis-
to da pandemia. O rigor e o tempo das medidas de
demia. Não obstante será necessário adaptar o mo que será impulsionado pelas vantagens do refi-
propósito e os requisitos da viagem.
contingência, a capacidade dos sistemas de saúde
de cada país, o clima e outros fatores vão determi-
nar diferentes espaços temporais de recuperação
UMA OPORTUNIDADE namento do marketing e a comunicação aliadas à
capacitação dos recursos humanos e competências
• A
 natureza provavelmente será um dos pontos das empresas. Este posicionamento será a base para
dos destinos turísticos. Durante uma crise há sempre uma oportunidade
mais atrativos para os viajantes pós COVID-19. rever e atualizar o portefólio de produtos que será
de melhoria dos processos e da própria organização
Os destinos, as marcas e os operadores devem No pós-crise há um regresso natural às viagens e ao inevitavelmente diferente no futuro.
da sociedade. Como podemos transformar a crise
adaptar-se a essa realidade para poderem pros- turismo, mas com um sentimento maior de preo- numa oportunidade? Este é o momento ideal para
perar. cupação com a segurança (principalmente em ter- refletir, na esperança de construir um futuro me- Estas ações vão sustentar
• Os dados e as fontes de informação vão permi-
mos de saúde). lhor quando a pandemia terminar.
a implementação de uma
tir uma maior e melhor adaptação aos novos pa-
Trata-se, sobretudo, de adotar uma abordagem dife- nova visão e modelo de
drões de consumo. Portugal e não o Norte de África rente à prospeção de cenários negativos e melhorar
o próprio negócio no sentido de se estabelecerem crescimento pós crise assente
Nos últimos anos a retoma dos países do Norte de
Para viajar será necessário mais África têm diminuído o crescimento do turismo,
novas metas a serem alcançadas. O coronavírus numa forma de Turismo
pode ser visto como uma oportunidade para:
do que um simples documento sobretudo no Algarve. As razões de segurança (que Positivo – mais sustentável,
Portugal oferece como fator diferenciador) e a pro- • Agir em prol de um bem comum
A entrada de turistas será mais controlada, com en- cura por destinos de sol e mar podem alavancar o autêntico e inclusivo. A
foque no país de residência do viajante. A não ser
que o viajante possua um certificado de imunidade
turismo em Portugal. • A
 postar na proteção e no reforço dos recursos antecipação e o planeamento
económicos, materiais e humanos alocados à
ou a toma de uma vacina, o fluxo de viagens não
saúde pública. Os sistemas de saúde pública são
vão permitir um modelo de
Os seguros de viagem vão assistir
será tão facilitado como anteriormente, exigindo-se
o principal escudo contra uma pandemia. crescimento seletivo.
agora outras medidas de controlo. Esta mudança
poderá significar maior burocracia.
a uma nova realidade
• R
 epensar o modelo de turismo que queremos
A procura por novas modalidades de seguros vai
para o futuro. A crise do coronavírus provou que
disparar, o que obrigará também a uma adaptação
As viagens serão feitas por das agências a esta nova realidade.
as mudanças climáticas são reais e veio demons-
trar a importância da nossa posição perante este
estações assunto. Nem sempre é fácil transformar uma
O Imperial College London acredita que os deciso-
Carvoeiro, Algarve
crise numa oportunidade, especialmente quan-
res políticos, perante o surgimento de novos picos do existem áreas cinzentas que nos impedem de
da doença, vão ativar e desativar sistemas de blo- identificar aspetos positivos numa situação de
queio e regras de confinamento de forma a equili- larga escala. Mas assim que a crise acabar, o de-
brar os sistemas de saúde. Isto traz a questão para safio será aplicar as lições aprendidas e trabalhar
outro patamar: muito provavelmente existirão jane- para um futuro melhor.
las de oportunidade de viagem que vão durar apenas
algumas semanas. Segundo o mesmo estudo, o setor
da aviação também sofrerá algumas restrições, no-
meadamente, número limitado de passageiros e au-
mento dos preços mediante os assentos nos aviões.

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


124 Caderno especial CAPÍTULO 125

Quais são os desafios Recursos Humanos Fazer férias cá dentro


que o setor terá e Emprego O budget familiar dos portugueses é inferior aos
demais países europeus. O impacto do COVID-19
de enfrentar?
Com a atual diminuição da ati-
na economia será bastante expressivo e tal dificulta-
vidade turística, este é o período
rá as férias no exterior. Acreditamos que este facto,
ideal para se apostar na qualifica-
aliado às excelentes condições de Portugal, poderão
ção. Áreas de interesse:
ser determinantes para que em 2020 e 2021 veja-
Comunicar para promover • Línguas mos um aumento considerável do turismo interno.
Neste momento de pausa é importante que os destinos continuem a
promover-se sobretudo nas redes digitais. Quem melhor comunicar • Gestão de redes Gostos imprevisíveis
durante um período instável e crítico, melhor conseguirá aproximar- sociais
A incerteza geral nos domínios económico e social
-se dos públicos e assim ganhar vantagem competitiva no momento
posterior.
• Marketing afeta o tempo dos negócios e o progresso das em-
presas, mas isso também significa uma volatilidade
• Comunicação no nível digital e até no consumo, fazendo com
E porque devem os destinos/agentes turísticos que uma tendência atual se altere rapidamente.
canalizar esforços para a comunicação • Estratégia
Para compensar é necessário oferecer um serviço
num momento de crise? O segredo está em • Gestão de RH único, gerir os talentos e, acima de tudo, contar
conquistar o “top-of-mind” dos públicos: com a tecnologia para não ficar para trás.
A mudança das necessidades dos
consumidores mudou as regras
Criatividade: A colaboração como
• Os agentes turísticos não devem ignorar a realidade e, por esse mo- do jogo. É por este motivo que se Interrupção forma de crescimento
tivo, devem comunicar aberta e honestamente com os públicos. assistiu a uma evolução das ativi-
A interrupção é um dos principais desafios que as A colaboração entre as empresas de turismo será
dades de turismo, exigindo a in-
• Há que tirar proveito do crescimento do tráfego online e privile- empresas do setor devem superar. O ciclo turístico crucial para manter a competitividade e explorar
corporação de novos especialistas
giar os canais digitais. da oferta e da procura, como o conhecíamos, não o mercado no sentido de oferecerem propostas de
no setor. É o caso da área do digi-
vai existir mais. As empresas devem rever as suas valor.
tal, onde é fundamental recrutar
• Apostar em conteúdos criativos, inspiradores e em storytelling. propostas de valor, melhorar sua imagem de marca
perfis especializados em análise,
Uma boa estratégia em momentos de crise é a partilha de vídeos
e-commerce e conteúdo digital. e investir em recursos para obter informações cru- Como a inovação está na base
e experiências de viagens passadas que têm um efeito positivo e
direto no desejo em viajar.
ciais para o desenvolvimento da customização. da aceleração de negócios,
Living the moment Aqui deve ser considerado o compromisso com a o produto de hoje poderá não
• A comunicação deve também espelhar a promoção da segurança
ao nível da saúde pública.
Responsabilidade Social Corporativa, um requisito estar adequado às exigências
O facto da população se ter visto baseado em propostas de proteção social e ambiental.
obrigada a ficar confinada em do futuro. Então, como podem
• Há que monitorizar a situação nos principais mercados emissores.
casa irá aumentar o desejo de via- as empresas desenvolver novas
Recolher dados permite antecipar os próximos meses.
jar quando a crise passar. Esta si- O cliente é o centro de tudo
tuação veio reformular a pirâmi-
soluções? Através da integração
• Trabalhar a captação dos fluxos turísticos nos mercados nacionais e
de proximidade. A segmentação é a chave para direcionar a comu- de das necessidades e prioridades
Um estudo da IDC revela que uma das principais de novas formas de colaboração,
tendências passa por trabalhar em estratégias 360
nicação no sentido de recuperar os mercados. de cada um e a necessidade de
com os clientes a serem o centro. Além da persona- novos projetos e identificar
acumular experiências vai ser um
• A crise vai realçar a crescente importância de diversificar a procura dos principais objetivos da socie-
lização, é importante que o ponto de vista da em- oportunidades de negócios.
presa seja global e que todas as partes do negócio
turística – vamos assistir a alguns mercados emissores com elevado dade recuperada de uma situação
se movam ao mesmo tempo e se direcionem para
peso a demorar mais tempo a recuperar os anteriores níveis de de pandemia.
os mesmos objetivos.
procura – casos de Itália e de Espanha.

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126 Caderno especial Caderno especial 127

Atualmente o setor está a passar por uma mudança de para-


digma e tal deve ser encarado como o começo de uma nova
Uma perspetiva
otimista? VISÃO IPDT
forma de organização: Esta é uma situação que irá moldar o pensamento da população mun-
• Incentivar a retenção de empregos, sustentar os trabalha-
As mensagens de dial. A capacidade de mobilização e união em prol de uma resposta
dores independentes e proteger os grupos mais vulneráveis esperança do setor voluntária tem sido um comportamento exemplar.

• Apoiar a liquidez das empresas O mundo reagiu ao coronavírus O setor do turismo está a ser um dos mais afetados. Mas estamos certos
• R
 ever os impostos, taxas e regulamentos que têm impacto no com mensagens de esperança. As de que, tal como em 2009, será o motor de crescimento da maioria das
setor dos transportes e turismo marcas turísticas aproveitaram o economias mundiais (exemplo disso é o caso português).
momento para promover o seu
• Garantir a proteção e a confiança do consumidor destino e intensificar a comuni- O confinamento vai aumentar o desejo de viver, experimentar, co-
cação com os visitantes com o nhecer e explorar. Quando todas as condições de segurança e saúde
• P
 romover o desenvolvimento de novos empregos e skills,
objetivo de moldar a oferta a um pública estiverem novamente garantidas haverá um novo crescimento
particularmente relacionadas com a digitalização
futuro que se espera próximo. A turístico.
• Incluir o turismo nos planos económicos de emergência, mensagem principal parece ser
a nível regional e nacional Perante um cenário destes a melhor resposta assenta na definição e
unânime: sensibilizar para a im-
implementação de um modelo de crescimento seletivo com base num
• Criar mecanismos e estratégias de gestão de crises portância da salvaguarda no mo-
Turismo Positivo, em que os destinos se apresentem mais autênticos,
mento atual, na certeza de que
• Fornecer estímulo financeiro ao investimento turístico mais solidários e mais sustentáveis.
viagens e destinos continuarão a
• Facilitação prévia de viagens esperar por eles após a pandemia.

• I ntegrar a sustentabilidade ambiental em estímulos e pacotes Os destinos optaram por passar Que passos a dar a seguir?
de recuperação uma mensagem de esperança e
• C
 ompreender o mercado e agir rapidamente para restaurar a atrair potenciais viajantes no fu- Planear a estratégia de crescimento
turo. Alguns claims que marca-
confiança e estimular a procura
ram a agenda da comunicação do
e continuar a comunicar com os
• Impulsionar ações de marketing, eventos e reuniões setor durante a pandemia: turistas para nos mantermos numa
• Investir em parcerias
África do Sul: posição privilegiada na mente deles.
• Reforçar a governança do turismo em todos os níveis Forfeit Today's Travel, So É importante manter a presença e
You Can Travel Tomorrow
• Investir em capital humano e desenvolvimento de talentos
a confiança que são conseguidos
• Colocar o turismo sustentável firmemente na agenda nacional México:
We Are the Greatest através de uma comunicação
• Transição para a economia circular
Coincidence positiva, contínua e frequente
Fonte: OMT
Noruega: junto dos mercados, dando sinais
Dream Now, Visit Later
de confiança, na certeza que todos
Portugal:
Can’t Skip Hope
estamos preparados para
Reino Unido: receber o futuro. •
Bringing Britain to You
Suíça:
Be Safe, Stay Home

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128 CAPÍTULO CAPÍTULO 129

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


130 VIAGENS VIAGENS 131

Inspirado numa frase do estadista Horace Viagens com O filósofo suíço residente em
Londres Alain de Botton conta
um projeto de viagem para os
meus alunos de Comunicação a
Greeley e convencido pelas ideias do filósofo estórias dentro, que um dia foi convidado pelo que chamei de “Young Reporters
Alain de Botton, em 2016 criei um projeto de
viagem para os meus alunos de Comunicação
procurando CEO e fundador da Airbnb,
Brian Chesky, para o visitar na
Go West”. Trata-se de uma viagem
com estórias dentro, procurando
a que chamei de “Young Reporters Go West”. que os jovens sua casa em Estocolmo, ouvin- que os jovens candidatos a jorna-
candidatos do-o acerca de uma tipologia de
turismo que ele pretendia intro-
listas conheçam a mais avançada
sociedade mediática do planeta, a
a jornalistas duzir no seu serviço ‘online’ de dos Estados Unidos.

conheçam a hospedagem.
Durante uma semana, todos
mais avançada Chesky queria a opinião do autor
do livro “A Arte de Viajar” sobre
os anos, levo os meus alunos
a visitar Redações de jornais e
sociedade como melhor levar os turistas a agências noticiosas, estúdios de
mediática do explorar as cidades onde se hos-
pedavam, na esperança de que
Rádio, empresas de comunicação
digital; a ouvirem professores de
planeta, a dos eles se demorassem mais alguns jornalismo e a conversarem com

Estados Unidos. dias na sua estada. Botton res-


pondeu-lhe com o conceito de
empresários dos média; a discuti-
rem com políticos no Congresso;
narrativa, dizendo que nada me- a experimentarem a sensação de
lhor do que criar estórias para en- serem apresentadores em estú-
volver as pessoas nos locais que dios de prestigiadas televisões.
visitam. No meio ainda sobra tempo para
se entusiasmarem com jogos de
Cerca de 150 anos antes da con- basquetebol da famosa liga NBA,
versa entre o filósofo e o empresá- para se emocionarem em musi-
rio, em 1865, o jornalista e estadis- cais da Broadway ou para senti-
ta Horace Greeley terá dito uma rem os sabores da melhor ‘street
frase que ficou célebre na história food’ de Boston.
norte-americana: “Go West, young
man, go West” (“Vai para oeste, Na primeira edição, em 2016, o
meu jovem, vai para oeste”). trajeto incluía apenas a primei-
ra e a última destas cidades, mas

VIAGENS
O fundador do popular jornal em 2017 o percurso passou tam-
New York Tribune queria incen- bém por Boston, com o mesmo
tivar os jovens europeus que che- espírito de olhar para dentro do
gavam ao Novo Mundo a povoar sistema mediático norte-america-
o interior dos Estados Unidos e no, conhecendo de perto as suas

COM ESTÓRIAS
pensou que nada melhor do que estórias.
lhes criar a narrativa da aventura
da exploração, contando-lhes es- Alain de Botton está certo: nada
tórias do oeste selvagem. melhor do que criar estórias para
envolver as pessoas nos locais
Inspirado na frase de Horace que visitam. Nada melhor do que
Ricardo Jorge Pinto Greeley e convencido pelas ideias do que viajar para criar boas es-
JORNALISTA _ LUSA
de Alain de Botton, em 2016 criei tórias. E não há nada que seduza

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132 VIAGENS VIAGENS 133

mais um jornalista do que uma dando conhecimentos. Uma alu-


boa estória. na, que participou na edição de
2017, tornou-se no ano seguinte
Na edição de 2019, um grupo correspondente de uma agência
de cerca de 40 alunos esteve na noticiosa em Nova Iorque e ago-
Redação da Associated Press, ra ajuda-me a organizar as visitas
conversou com o fundador da na cidade que tornou sua.
agência de marketing digital
MuckRack, sentou-se nas cadei-
ras do curso de comunicação da
O modelo é
City University de Nova Iorque, simples. As pessoas
visitou a Casa Branca, conheceu
a National Public Radio, foi
desejam conhecer
cumprimentar o embaixador as pessoas e as
português em Washington, as-
sistiu a um jogo de basquetebol organizações que
no Madison Square Garden, al- habitam os lugares
moçou com empresários portu-
gueses a viver nos EUA, partici- por onde passam,
pou no ‘talk show’ da NBC com as suas estórias e a
Jimmy Fallon, assistiu a uma
missa ‘gospel’ e foi ouvir jazz em sua história.
clubes do bairro de Brooklin.
Em 2020, o cronista Gonçalo
Ao longo do tempo, o projeto Cadilhe organiza uma viagem
“Young Reporters Go West” deixou para um grupo seleto de pes-
de ser apenas para estudantes de soas que procura reconstituir a
jornalismo e começou a envolver circum-navegação de Fernão de
alunos de comunicação empre- Magalhães realizada há 500 anos.
sarial e de comunicação política. O espírito é tentador: ao longo
Na edição de 2020, queremos de 30 dias, vão passar pelos cin-
conhecer as grandes empresas co continentes e sentir o espírito
de publicidade de Nova Iorque de aventura e de descoberta dos
e vamos percorrer as ruas de navegadores que deram “novos
Filadélfia para sentir os sons das mundos ao mundo”.
origens do país que inventou a
Depois da conversa com Alain de
democracia contemporânea.
Botton, o dono da Airbnb come-
Cinco anos depois da viagem ori- çou a pedir aos hospedeiros do
ginal, os alunos que participaram serviço ‘online’ para não apenas
nas várias edições do projeto alugarem as suas casas e quar-
ainda hoje partilham nas redes tos, mas para também “aluga-
sociais fotos e estórias da aven- rem” experiências, aconselhando
tura em que participaram, recor- os hóspedes sobre os melhores

TURISMO’20_anuário de tendências TURISMO’20_anuário de tendências


134 VIAGENS

restaurantes, as ruas mais curio- nestas edições passaram pela lhão do Madison Square Garden.
sas, as vistas mais românticas, os Redação da Associated Press al-
cafés mais carismáticos. guma vez mais esquecerá o relato A minha experiência de cinco
sobre a cobertura noticiosa da anos com o “Young Reporters Go
O projeto “Young queda das torres gémeas, em 11 West” leva-me a acreditar que
cada vez mais as pessoas não se
Reporters Go West” de setembro de 2001, feito por
vão limitar a viajar para des-
jornalistas que lá estiveram e que
é uma espécie transmitiram a emoção do acon- cansar ou para conhecer paisa-
de extensão das tecimento, enquanto mostravam gens. As pessoas precisam de
uma narrativa que os mova.
minhas salas de pelas salas da janela do edifício
da agência (que fica mesmo ao “Go West, young man, go West!” •
aula e uma das mais
lado do agora ‘ground zero’) onde
eficazes, porque a tudo se passara. Será difícil que
melhor forma de algum daqueles jovens volte a
conhecimento é a ouvir uma emissão dos famosos
‘Tiny Desk Concerts’ sem se lem-
que se experimenta brar da demonstração de profis-
nos sítios onde ele sionalismo que está por detrás do
trabalho da equipa da National
acontece e permanece.
Public Radio. E nenhum deles
voltará a ver pela televisão um
Tenho a certeza de que nenhum jogo da NBA sem voltar a sentir a
dos mais de 100 alunos que emoção vivida no fantástico pavi-

TURISMO’20_anuário de tendências
Livro do desassossego, 1982
Fernando Pessoa

Vamos viajar sem sair de casa.


Percorrer cidades, mares e montanhas em
cada página. Vamos esperar, juntamente com
o mundo inteiro, pelo próximo capítulo.

Vamos ler Portugal.

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