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TURISMOFOBIA
Cristiane Berselli 1
RESUMO
O turismo sustentável tem sido uma discussão latente nos últimos anos. Em tempos de
turismofobia cabe salientar que o turismo sustentável, incluído nas campanhas da OMT, é
considerado um tema relevante, tendo em vista a questão da maximização do bem-estar
social e da paz. Partindo dessa perspectiva este trabalho teve como objetivo avaliar a
campanha Travel Enjoy Respect, (OMT, 2017). A metodologia utilizada foi de caráter
qualitativo, utilizando a técnica de análise de conteúdo de Bardin (2009); a análise foi feita
em cima dos cinco princípios da campanha: Econômico, Social, Ambiental, Cultural e Paz.
Quanto aos resultados salienta-se que os princípios ajudam os turistas a fazerem escolhas
responsáveis ao viajar e ter um impacto positivo nos destinos que visitam.
RESUMO EXPANDIDO
O turismo sustentável tem sido uma discussão latente nos últimos anos. O debate no que
tange a questão do desenvolvimento sustentável tem influenciado a evolução de conceitos
1
Mestranda em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí, Balneário Camboriú, SC, Brasil.
Currículo: http://lattes.cnpq.br/6612533403164402. E-mail: cristiane.berselli@gmail.com.
2
Mestranda em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí Balneário Camboriú, SC, Brasil.
Currículo: http://lattes.cnpq.br/0654906383338912. E-mail: lucimari.svp@gmail.com.
3
Doutora em Geografia. Professora no Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria da Universidade
do Vale do Itajaí Balneário Camboriú, SC, Brasil.. Currículo: http://lattes.cnpq.br/2354612480083767. E-
mail: thaysdomareski@gmail.com.
1
acerca do tema, enfatizando que se faz necessário ponderar de forma apropriada o bem
estar econômico, ambiental, sociocultural e político numa escala longitudinal (Araújo &
Ramos, 2014; Ruschmann,1999). Cabe salientar dentro da perspectiva do turismo
sustentável que a Organização Mundial do Turismo (OMT) tem lançado diversas
campanhas orientadas para o consumidor. Um exemplo é a campanha "Travel Enjoy
Respect" que tem como objetivo envolver turistas para tornar o setor um catalisador para
mudanças positivas, e faz parte do “Ano Internacional do Turismo Sustentável para o
Desenvolvimento” em 2017. A temática tem como princípio ampliar a conscientização
sobre a contribuição do turismo sustentável no desenvolvimento dos setores públicos e
privados, stakeholders e todas as partes interessadas para o turismo como catalisador de
mudanças positivas (OMT, 2017).
O desenvolvimento sustentável vai além de ser apenas ligado ao meio ambiente, deve
considerar as dimensões culturais, sociais, éticas, econômicas e ecológicas (Luchiari, 2002;
Barretto 2005). O planejamento turístico através de uma abordagem sustentável procura
minimizar a deterioração de recursos ambiental, cultural e instabilidade social e garantir a
2
segurança aos moradores de forma integrada (Hall 2001, Barretto, 2005). Partindo dessas
premissas o objetivo deste trabalho foi avaliar a campanha "Travel Enjoy Respect" da OMT
(2017) dentro dos cinco princípios estipulados pelo Ano Internacional do Turismo
Sustentável para o Desenvolvimento e a sua relação com a turismofobia. Quanto aos
aspectos metodológicos pode-se elencar que a pesquisa é de caráter predominantemente
qualitativo, com a utilização da técnica de análise de conteúdo de Bardin (2009).
De acordo com a OMT, 2017 é o ano do turismo sustentável, desta forma, a mesma criou a
campanha “O Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento”. Esta
campanha tem sido articulada pela OMT para a promoção do turismo dentro de cinco
princípios: Econômico - crescimento inclusivo e sustentável; Social - inclusão social,
emprego e redução da pobreza; Ambiental - eficiência dos recursos, proteção ambiental e
mudanças climáticas; Cultural - valores culturais, diversidade e patrimônio tangível e
intangível; e Paz - compreensão mútua, paz e segurança (OMT, 2017). Estes cinco
princípios estão em consonância com o manual “Dicas para um Viajante Responsável”
proposto a partir do Código de Ética Mundial para o Turismo.
A escolha da temática da campanha da OMT vai ao encontro com o fenômeno cada vez
mais evidente nos meios de comunicação que hoje está sendo chamado de turismofobia. A
partir das leituras foi possível fazer a relação deste “fenômeno” com a campanha, e cabe
frisar que a mesma é capaz de amenizar os impactos gerados pela insustentabilidade
turística em alguns destinos. Já apontada por Butler (1980) a partir da teoria do ciclo de
vida, os destinos que enfrentam esta situação podem estar em fase de saturação e declínio.
3
especificidades relacionados a recepção do turista (Anjos, 2004; Beni, 2006; Reverté &
Clavé, 2007; Buhalis, 2000). Destinos turísticos são sistemas de difícil administração, onde
seu gerenciamento é considerado um grande desafio devido à complexidade das relações
entre os atores locais, e a multiplicidade de atores envolvidos no desenvolvimento (Sautter;
Leisen, 1999; Buhalis, 2000; Saraniemi; Kylanen, 2011).
4
análise do conteúdo é um conjunto de instrumentos de cunho metodológico em constante
aperfeiçoamento, que se aplicam a discursos (conteúdos e continentes) extremamente
diversificados”. A partir da categorização de dimensões.
As deduções lógicas ou inferências que serão obtidas a partir das categorias serão
responsáveis pela identificação das questões relevantes contidas no conteúdo das
mensagens. Neste trabalho as categorias foram articuladas a partir dos cinco princípios
propostos para o Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento no ano
de 2017 pela OMT, conforme quadro 1.
A partir das leituras relacionadas à campanha Travel Enjoy Respect, percebe-se que a OMT
visa conscientizar o consumidor sobre o turismo sustentável. Esta campanha é voltada aos
viajantes, para que se conscientizem sobre a importância da percepção, do valor e da
contribuição que um turista consciente pode trazer ao desenvolvimento dos destinos
turísticos. A mensagem central da campanha é traduzida pelo Secretário Geral da OMT,
Taleb Rifai “Toda vez que você viajar, para onde quer que vá, lembre-se de respeitar a
natureza, respeitar a cultura local e respeitar seus anfitriões. Viaje. Aproveite. Respeite”
5
(OMT, 2017, s/p.). Compreende-se que esse tipo de campanha se faz importante,
principalmente em tempos de turismofobia, fenômeno relacionado ao desequilíbrio das
questões simbólicas, sociais, econômicas e territoriais que envolvem a atividade turística
(Clavé & Reverté, 2007) e que estão em congruência com os cinco princípios apontados na
campanha. Identificou-se que a campanha foi estruturada para ser utilizada em vários
idiomas (inglês, espanhol, francês, árabe e russo) e disponibilizados na página da OMT na
internet, contendo as mensagens oficiais, materiais promocionais, logotipos oficiais e vídeo
promocional e cartilha da campanha Travel Enjoy Respect.
6
convivência dos espaços, estes são promotores da turismofobia (Reverté & Clavé, 2007;
Palomeque, 2015; Abril-Sellarés, Azpelicueta & Sánchez-Fernándesz, 2015). Neste sentido,
os cinco pilares da campanha de Turismo Sustentável da OMT, que fazem parte do Código
de Ética Mundial para o Turismo, contribuem no direcionamento dos destinos turísticos
para o desenvolvimento sustentável e harmônico. Foi possível perceber que a escolha da
campanha de 2017 pela OMT foi estrategicamente escolhida e tem como um dos principais
pilares estipulados da campanha a Paz - compreensão mútua, paz e segurança, premissa
esta necessária em tempos de turismofobia.
Como limitações a este estudo evidencia-se que a campanha ainda está em andamento, não
apresentando dados sobre o sucesso ou insucesso da mesma, outro ponto que pode ser
destacado é a pouca bibliografia encontrada com estudos sobre a temática turismofobia em
específico. Desta forma, sugere-se novos estudos visando avaliar de forma mais
aprofundada as campanhas anuais da OMT, encorajando-se também outros pesquisadores
se aprofundarem na temática turismofobia e o que tem causado este fenômeno. Aponta-se
que este estudo gera contribuições acadêmicas e gerenciais para destinos turísticos e
organizações.
REFERÊNCIAS
7
Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70.
Butler, R. (1980). The concept of tourist area cycle of evolution: implications for
management of resources. Canadian Geographer, 24(1), 5-12.
OMT (2001). Global Code of Ethics for Tourism for Responsible Tourism. Santiago,
Chile.
Palomeque, F. L. (2015). Barcelona, de ciudad con turismo a ciudad turística. Notas sobre
un proceso complejo e inacabado. Documents d’Anàlisi Geogràfica, 61(3), 483-
506.
8
Santos, S. R., & Santos, P. C. (2011). Contribuições da educação ambiental para o turismo
sustentável na APA do Maracanã, São Luís (Maranhão, Brasil). Turismo &
Sociedade, 4(2), 265-285.
Sautter, E.T. & Leisen, B. (1999). Managing stakeholders: a tourism planning model.
Annals of Tourism Research, 26(2),312-329.
9
COMUNICAÇÃO INTERNA NA HOTELARIA: UMA ANÁLISE REALIZADA NA
RECEPÇÃO DE UM MEIO DE HOSPEDAGEM DA REGIÃO CENTRAL DO RIO
GRANDE DO SUL
Comunicar-se é uma atividade essencial para a sobrevivência humana, uma vez que o
processo de comunicação é responsável por todos os relacionamentos ocasionados durante
a vida. Nas organizações a comunicação é responsável por integrar os colaboradores de
maneira a melhorar o desempenho das tarefas organizacionais, também corrobora com suas
motivações deixando-os informados sobre os acontecimentos organizacionais, objetivos e
metas da empresa. Este artigo pretende identificar o impacto da comunicação interna em
empreendimentos turísticos do setor hoteleiro. Para isso foi realizado um estudo descritivo,
em um empreendimento localizado na cidade de Santa Maria RS. Na intenção de responder
aos objetivos da pesquisa utilizou-se entrevistas semiestruturadas direcionadas aos gestores
do empreendimento pesquisado. Assim como o instrumento de observação participante no
setor de recepção. Obteve-se como resultado a identificação de diversos canais
comunicativos com fluxo descendentes, também foi evidenciado que a proximidade
frequente dos gestores corrobora para uma comunicação sem ruídos, o que facilita a
eficiência nas realizações de tarefas.
1
Guia em Turismo pelo IFF. Graduada em Gestão de Turismo pela UFSM. E-mail:
aliner_ms_alves@hotmail.com.
2
Guia em Turismo pelo IFF. Graduada em Gestão de Turismo pela UFSM. E-mail:
lenisedavids@yahoo.com.br.
3
Doutora em Administração de Empresas. Professora da Universidade Federal de Santa Maria. Currículo:
http://lattes.cnpq.br/4939993298300369. Email: luciana.traverso@ufsm.br.
1
RESUMO EXPANDIDO
No setor hoteleiro a comunicação faz parte de todo o processo e é a recepção o setor mais
comunicativo da empresa. Desta maneira a questão norteadora desta pesquisa se define
como: de que maneira ocorrem os processos de comunicação dentro da área de recepção de
um empreendimento hoteleiro? Desta forma foram definidos objetivos para responder esta
pergunta. Busco identificar à comunicação interna de um empreendimento hoteleiro da
Região Central do Rio Grande do Sul, a pesquisa limitou-se em: observar a interação
existente dentro do âmbito de recepção do objeto em estudo, identificar a percepção dos
gestores com relação aos seus cargos e analisar o compartilhamento de informações dentro
do setor de recepção.
2
interno e externo. No entanto o autor salienta que não existe um modelo adequado para o
processo de comunicar-se e sim uma adaptação constante as exigências contextuais da
organização.
São diversos os canais existentes de comunicação, de acordo com Covey (2012 apud
Gellerth, 2012, p. 5) “há quatro tipos básicos de comunicação: ler, escrever, falar e ouvir e,
cada pessoa passa muitas horas se dedicando a pelo menos um destes tipos, portanto a
habilidade é absolutamente crítica para sua eficácia”, sendo que todos são utilizados no
setor turístico. Katz (1989 apud Vieira, 2013, p.14) entende que “a comunicação é o sangue
vital da organização”; essa comunicação em geral ocorre de forma descendente, que é
quando a estrutura principal (chefes) diz aos gerentes intermediários o que fazer e esses
repassam essas ordens aos demais colaboradores da empresa (Vieira, 2013, p.14), essa
forma de comunicação tem um caráter de uma informação simples, que em geral está
referindo-se a execução de um serviço, já a forma ascendente está relacionada à
participação do funcionário perante a gestão da empresa, ficando evidente que suas
colaborações, reclamações e sugestões. Entretanto Curvello (2010, p.23, grifo do autor)
destaca que a comunicação pode ser operada por meio de fluxos, classificados da seguinte
maneira:
Fluxo Descendente: Em seu consenso geral, são aqueles gerados nos altos escalões,
sendo transmitidos ao quadrado de funcionários, por diversos canais de comunicação,
entre eles: os clássicos boletins ou jornais da empresa.
3
hierárquicos diferentes, sobretudo no contexto de projetos e programas
interdepartamentais.
A hotelaria, por sua vez, integra o sistema turístico acolhendo os hóspedes que viajam para
aquela localidade, ficando evidente a importância de empreendimentos hoteleiros como
oferta turística que complementa a estrutura de recepção das localidades. De acordo com
Sena (2008) gerenciar um meio de hospedagem, requer uma análise constante aos
ambientes externos do mercador. Porém empreendimentos hoteleiros também necessitam
de olhares frequentes ao ambiente interno, pois a interação entre pessoas dentro destes
estabelecimentos é dinâmica e não acompanhá-la pode resultar em prejuízos
organizacionais.
4
realizada uma pesquisa de caráter descritivo, que de acordo com Triviños (2004, p. 10, grifo
do autor) “o estudo descritivo pretende descrever ‘com exatidão’ os fatos e fenômenos de
determinada realidade”.
Partindo deste pressuposto a presente pesquisa tem como objeto de analise principal a
descrição do processo de comunicação existente entre os colaboradores de um
empreendimento hoteleiro localizado na cidade de Santa Maria RS. Quanto a sua
abordagem a pesquisa é qualitativa, pois de acordo com Flick (2009) tem interesse em
compreender a importância do estudo nas relações sociais em seus aspectos de vivencia.
Foram realizadas duas entrevistas com roteiro semi-estruturado aplicado aos gestores do
empreendimento pesquisado. De acordo com Triviños (2010) possibilita a valorização da
presença do pesquisador oferecendo liberdade ao entrevistado ao responder as perguntas e
ao pesquisador de formular ou excluir perguntas no decorrer da entrevista. Também foi
realizada uma pesquisa de campo no formato de observação participante dentro setor de
recepção estabelecimento. Denzin (1989 apud Flick, 2010, p.207) ressalta que o
instrumento de observação participante é definido “como uma estratégia de campo que
combina, simultaneamente, a análise de documentos, a entrevista de respondentes e
informantes, a participação e a observação diretas e a introspecção”. Ou seja, a observação
contou com a participação do pesquisador junto ao objeto analisado.
5
precisarem de um serviço rápido, qualificado e com o mínimo de falhas possíveis durante
sua estadia.
6
esporadicamente, devido à presença gerencial frequente nas realizações de tarefas da
recepção e ao interesse dos colaboradores em trabalhar de forma eficaz. Essa situação é
muito positiva, pois a empresa consegue resolver bem seus problemas, contudo não
oportuniza o empoderamento e autonomia dos funcionários da recepção, na medida em que
os mesmos precisam pedir à gerência autorização para quaisquer procedimentos, mesmos
os mais simples, tais como: a solicitação da troca de uma unidade habitacional programada
pelo setor de reservas, quando necessário. Sendo assim, notou-se que a comunicação em
geral ocorre de forma descendente. Este tipo de comunicação, segundo Vieira (2013, p. 14)
“é quando a estrutura principal (chefes) diz aos gerentes intermediários o que fazer e esses
repassam essas ordens aos demais colaboradores da empresa”.
Diante dos resultados apresentados, conclui-se que o objetivo desta pesquisa foi almejado,
já que se obteve a identificação os canais e fluxos, pelos quais a comunicação interna se
estabelece no empreendimento, bem como se verificou que existem poucos ruídos no
ambiente de trabalho pesquisado. Isto se deve, provavelmente, ao fato do empreendimento
não ser muito grande e, como consequência, as gerências estão muito próximas aos
funcionários da recepção, especialmente. Conforme sugerido pela respondente 1, seria
interessante que uma nova pesquisa fosse realizada englobando também o setor de RH, uma
vez que é o setor que lida com o aspecto mais humano dentro do empreendimento. Para
pesquisas futuras sugere-se a continuidade no trabalho, no próprio hotel visto que em breve
haverá outro empreendimento do mesmo grupo, o que certamente irá alterar os processos
de comunicação na empresa. Sugere-se ainda estudo que comparem empreendimentos
7
hoteleiros com o mesmo porte do que foi investigado, ampliando a compreensão sobre
como a comunicação interna ocorre em diferentes meios de hospedagem.
O trabalho apresenta algumas limitações, dentre as quais se destacam: não ter buscado a
percepção dos demais setores do empreendimento sobre a comunicação com o setor da
recepção; e verificar a percepção dos clientes sobre a comunicação no empreendimento.
Encerrando, destaca-se que a comunicação interna pode ser uma das maneiras de
divulgação de informações de caráter importante na empresa, bem como pode servir para o
alinhamento dos objetivos, metas e visão do empreendimento, buscando coesão no grupo
para destacar-se no mercado (Andrade, 2007, p. 6). Além disso, destaca-se que esse tipo de
comunicação visa dar um aspecto mais humano, promovendo proximidade entre as chefias
de demais colaboradores, visto que um ambiente bom para trabalhar tem maiores chances
de ser um empreendimento hoteleiro hospitaleiro.
REFERÊNCIAS
8
Neves, J. D. R. O. (2012). O papel dos eventos no reforço da atractividade turística de
Cabo Verde: O caso da cidade da Praia. Dissertação de Mestrado, Escola Superior
de Hotelaria e Turismo do Estoril, Portugal.
Tesch, R. (2002). Qualitative research: analysis, type and software tools. New York:
Falmer Press.
9
ESCRE’VER-SE’ NA NARRATIVA DE VIAGEM INVESTIGATIVA: REFLEXÕES
TEÓRICAS SOBRE O DESAFIO DO PROCESSO DE ESCRITA CIENTÍFICA EM
TURISMO
RESUMO
RESUMO EXPANDIDO
1
Doutora em Ciências da Comunicação. Professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em
Turismo e Hospitalidade, Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, RS, Brasil Currículo:
http://lattes.cnpq.br/2996705711002245. E-mail: malu@pazza.com.br
1
da ‘imagem de si’, a partir dos agenciamentos midiáticos. Trata-se de proposição, para o
Turismo, de reflexões resultantes de pesquisa em nível de doutoramento na Escola de
Comunicações e Artes da USP; associada a trabalho de supervisão de textos de teses,
dissertações e monografias, em várias áreas de conhecimento, há mais de 25 anos, em
empresa privada; de docência na área de Metodologia da Pesquisa, também há quase 30
anos, em seis universidades brasileiras; bem como do trabalho de 31 anos como jornalista,
em diversas áreas; e de sua associação à experiência de docente e pesquisadora no
PPGTURH, da Universidade de Caxias do Sul e como professora convidada em três
programas de pós-graduação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), há mais de
sete anos.
2
Neste caso, há uma vinculação das reflexões aqui com o conceito de conhecimento como enação,
apresentado por Francisco Varela (1992).
3
Preliminarmente estudadas pela Psicanálise, com textos de Sigmund Freud (1996) Jacques Lacan (1988)
para chegar aos constructos esquizoanalíticos relativos ao desejo.
2
diferença é a possibilidade de trazer à consciência algumas estratégias de viagem e de
produção dos relatos de sua produção.
4
Na área do Turismo, destaco dois textos, um publicado em 2014 na Revista Rosa dos Ventos e outro
apresentado neste ano (2017) no Seminário Anptur, que ocorreu em Balneário Camboriú. (Baptista, 2014;
2017).
5
O conceito está sendo utilizado aqui, no sentido proposto por Roland Barthes (1984). Ele fala da fotografia,
mas eu considero o conceito passível de ser aplicado a outras expressões comunicacionais, discussão que
venho realizando desde a década de 1990. Trata-se de um ponto que brota da produção e nos toca de modo
particular, no inconsciente. Um ponto que nos atinge no campo da efetivação.
6
Ritornelos são elos que retornam, como eu costumo dizer. O conceito vem da música e é trabalhado por
Félix Guattari e Gilles Deleuze, nos livros Caosmose (Guattari, 1992), Mil Platôs (Guattari &Deleuze, 1995).
Há uma boa discussão a respeito do conceito, no texto de Luciano Bedin da Costa. Disponível em:
http://coral.ufsm.br/gpforma/2senafe/PDF/005e2.pdf. Acesso em: 20 set.2017.
3
Em função disso, muitas vezes, pela dimensão de fluxos incorporais a-significantes ou pelo
caráter de partículas subatômicas em estruturas dissipativas7, o pesquisador não consegue
enunciar, num primeiro momento, nem para si mesmo. Torna-se difícil e desafiador o
processo de escrita. A capacidade de escrever só se obtém com o tempo, em que os
‘substratos inscriacionais’ vão se consolidando, como resultado de trabalho árduo, de
interações múltiplas e conexões ecossistêmicas, assim como mergulhos internos. Não fazer
isso, não remexer as camadas profundas dos saberes pessoais, na sua dimensão processual e
de interconexões, significa perder parte importante do fluxo de construção do conhecimento
e das novas conexões emergentes, com belos, fortes e significativos sinalizadores de
devires científicos. Este é um dos motivos de dificuldades de escrita. A inscrição não tem
bases no próprio sujeito ou ele desconhece essas bases, as camadas mais profundas de
significação, de onde brota a intenção de dizer.
Nesse ponto, temos a conexão com algumas teorias que nos ajudam a compreender o que
eu chamo de fluxos abstratos e substratos informacionais. Destaco que as propriedades
essenciais surgem das relações entre os múltiplos elementos e substâncias intervenientes, e
não da soma de partes, o que se tinha como pressuposto numa visão reducionista-
cartesiana-mecanicista, que caracteriza a Ciência tradicional, decorrente da Revolução
Científica8. Assim, caminhamos para a compreensão decorrente dos ensinamentos da Física
Quântica e perspectivas orientais do conhecimento, que nos chamam a atenção para o fato
de que os fenômenos ocorrem pelas suas conexões profundas, em que estão em interação as
múltiplas e minúsculas partículas, que, na interação, geram probabilidades de interconexões
e não probabilidades de coisas. Assim ocorre também com a escrita.
7
Remeto aqui ao pensamento de Ilya Prigogine. Interessante o que afirma Capra: A teoria de Prigogine
propõe uma “[...] mudança de percepção da estabilidade para a instabilidade, da ordem para a desordem, do
equilíbrio para o não equilíbrio, do ser para o vir-a-ser. No centro da visão de Prigogine está a coexistência de
estrutura e mudança, da “quietude e movimento [...]” (Capra, 1997, p.149)
8
Revolução Científica considerada como o resultado dos processos de mutação que foram desencadeados no
final do século XVI e início do século XVII, com a emergência de constructos como o cartesinanismo, de
Renè Descartes, o mecanicismo de Isaac Newton e o reducionismo de Francis Bacon. Excelente discussão a
respeito está em Fritjof Capra (1991), o Ponto de Mutação; em Roberto Crema (1989), Introdução à visão
Holística.
4
Na década de 20, a teoria quântica forçou-os [os físicos tradicionais] a aceitar o fato de que os objetos
materiais sólidos da física clássica se dissolvem, no nível subatômico, em padrões de probabilidades
semelhantes a ondas. Além disso, esses padrões não representam probabilidades de coisas, mas sim,
probabilidades de interconexões. As partículas subatômicas não têm significado enquanto entidades
isoladas, mas podem ser entendidas somente como interconexões, ou correlações, entre vários
processos de observação e medida. Em outras palavras, as partículas subatômicas não são “coisas” mas
interconexões entre coisas, e estas, por sua vez, são interconexões entre outras coisas, e assim por
diante. Na teoria quântica, nunca acabamos chegando a alguma ‘coisa’: sempre lidamos com
interconexões (Capra, 1991, p.41).
Escrever é aninhar letras e palavras e demais sinais gráficos, buscando dar sentido ao
pensamento, à nossa intenção de dizer. Em princípio, não deveria ser complicado. Não é, eu
penso, imediatamente, pela minha paixão por escrever. É bastante complicado, eu penso
também, em seguida, quando reflito um pouco mais a respeito das minhas pesquisas e
práticas de supervisão de texto, em empresa privada e nas universidades. Nesse sentido,
venho acompanhando pessoas em seus processos de escrita vários, acadêmicos ou não, que
se debatem, cada vez mais, para garantir a expressão da sua ‘intenção de dizer’. Sujeitos
lutando consigo próprios, para se ‘autorizarem a serem autores’, como eu costumo dizer,
inspirada em título de uma disciplina que assumi na Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, em mais de uma edição do um Curso de Especialização em Educação:
“Metodologia da Pesquisa e a Produção de Autoria”.
5
situação complica ‘um pouco’. Às regras tantas da Gramática, somam-se outras, que se
sobrepõem, que são as regras da metodologia da pesquisa e, depois, as da escrita científica,
normalizadas por centro de poder nacionais e internacionais. São regras de corte, de
decepagem, regras que matam e excluem o sujeito que não as cumpre. Tudo isso acionado
por ‘prazos-lâmina’.
Antes de ‘seguir viagem’, destaco que as reflexões e proposições práticas relativas à escrita,
bem como o caráter mais solto da escrita deste texto, tem inspiração nos pressupostos do
Jornalismo Literário Avançado e da Escrita Criativa (Lima, 2004; 2009), que associo às
práticas da escrita científica. O Jornalismo Literário Avançado propõe uma sensibilização
do sujeito jornalista (que eu associo ao sujeito cientista), com a produção de uma captação
mais sensível, subjetivada, e a expressão mais próxima da literatura.
No caso, nessa proposição de uma escrita narrativa, em interação com o receptor, trago
essas premissas e proposições para a escrita científica, considerada aqui como o conjunto
de ações responsáveis por ‘contar o saber’. Percebo que o caráter hermético da escrita
científica é um dos fatores de distanciamento de jovens pesquisadores, de pesquisadores
iniciantes em relação à Ciência. O que proponho, nesse sentido, como cientista das áreas da
Comunicação, da Subjetividade e do Turismo é justamente o contrário. O texto científico
precisa comunicar, dialogar e afetivar (no sentido que utilizo nas minhas pesquisas, como
‘tocar os afetos’) do receptor. Trazendo para o Turismo, afirmo que o texto tem que
provocar ao leitor ‘refazer a viagem de conhecimento produzida’, durante o processo da
investigação científica.
6
potencial de constituição da linguagem, a partir dos processos de inscrição do ‘sujeito em
relação’. Sujeito maquínico9 em relação, tentando expressão para seus universos
significacionais, arquitetando ‘con-tato’, visando existências partilhadas. É assim na
produção da escrita da Ciência. O que se produz é resultado de caminhos que se
estabeleceram como possíveis inscrições, marcas de saberes reconhecidos pelos pares.
Assim, são instalados mais e mais indicadores, que vão ou não comprovar a ‘produção’,
vão ou não validar a produção, estabelecendo uma escala de pontos e de nominações que
referendam e indicam que o sujeito pode ou não continuar existindo na área. A escrita é
uma questão de sobrevivência, para a Ciência, para o pesquisador, para os programas de
pós, para os grupos de pesquisa e para o próprio campo do saber, no nosso caso, o do
Turismo.
9
A noção de subjetividade maquínica está baseada aqui em Félix Guattari, especialmente no texto Caosmose
(1992). Está detalhada em vários textos meus. Ver: Baptista (1996; 2000; 2002).
7
aspecto amplia e, ao mesmo tempo, constitui-se como metáfora da complexa teia de
agenciamentos no processo científico turístico, comunicacional e inscriacional (de escrita
que inscreve e aciona novas realidades), seja ele mediado ou não por dispositivos
tecnológicos.
São três os componentes que envolvem o conceito: o componente direcional (da ordem do ponto, 1ª
manifestação frente ao caos que se abre), o componente dimensional (quando se busca o território e
sua consolidação) e o componente de passagem ou de fuga (que faz o território estar sempre em
variação).
8
A complexidade do processo de interação-trama entre os sujeitos, na vinculação pelo texto
científico, nessa narrativa de viagem investigativa, desnuda-se como desafio de entrega em
um mundo cheio de engrenagens de julgamento, valorização e proposição de dogmas.
Parece importante, como proposição reflexiva, que possamos interagir, no sentido de
produção de uma ciência mais amorosa, que possibilite mais autonomia e que, também,
autorize o sujeito a ser autor de sua produção. Uma ciência mais autopoiética e marcada
pela esperança e pela alegria de escre’ver-se’ em texto de saber, em poder autorizar-se a ser
autor.
REFERÊNCIAS
9
Costa, L. B. da. O ritornelo em Deleuze-Guattari e as três éticas possíveis. Disponível
em: http://coral.ufsm.br/gpforma/2senafe/PDF/005e2.pdf. Acesso em: 20 set.2017.
Crema, R. (1989) Introdução à visão holística. Breve relato de viagem do velho ao novo
paradigma. São Paulo: Summus.
Prigogine, I. (2001). Ciência razão e paixão. In: Carvalho, E. A.; & Almeida, M. C. (orgs).
Belém: Eduepa.
Varela, F. J.; Thompson, E.; & Rosch, E. (1992). De corpo presente. Barcelona: Gedisa.
10
GAMIFICAÇÃO VOLTADA AO TURISMO
RESUMO
RESUMO EXPANDIDO
1
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade, Universidade de Caxias do Sul,
Caxias do Sul, RS, Brasil. Currículo: http://lattes.cnpq.br/1150643981771487. E-mail: icsilvei@ucs.br.
1
gamificação se converte em um novo campo de estudo que impulsiona o desenvolvimento
tecnológico nesta área (Bonilla, 2013).
Há alguns anos atrás, prevalecia a ideia de que os jogos possuíam o único intuito do lazer
ou qualquer função associada ao conceito de entretenimento. Hoje, no entanto, muitas são
as organizações que adotam mecânicas de jogos como estratégia viável para gerar
dedicação em clientes ou funcionários, as chamadas atividades gamificadas ou
simplesmente gamificação. Estas técnicas também são exploradas para influenciar o
comportamento das pessoas nas áreas de saúde, educação, turismo, entre outras. Segundo
um artigo da IEEE (2013), 85% das atividades em nossa vida incluirão aspectos próprios
dos jogos para 2020. Ou seja, pouco a pouco estamos assistindo à gamificação de nossa
vida, “o jogo definitivo”. Resumidamente, a gamificação é a aplicação de elementos de
jogos, fora de seu contexto original. O seu objetivo é o de obter maior envolvimento entre o
indivíduo e uma determinada situação, aumentando a eficiência, o engajamento e o
interesse na realização de uma atividade (Alves et al., 2012; Palmer et al, 2012; Navarro,
2013; Deterding et al., 2011).
Este artigo propõe uma reflexão sobre a gamificação no turismo e relata alguns projetos que
foram desenvolvidos neste âmbito, pelo Laboratório de Criação e Aplicação de Software da
Universidade de Caxias do Sul. Os projetos são analisados e classificados segundo o
contexto da aplicação. Trata-se de uma pesquisa de viés qualitativo e exploratório, baseada
em revisão bibliográfica e estudos de caso. O texto está organizado da seguinte forma: (1)
conceituação de gamificação, motivação e jogos, e elementos de um jogo; (2) relato e
classificação de três projetos de atividades gamificadas aplicadas ao turismo, desenvolvidos
pelo Laboratório de Criação e Aplicação de Software.
O poder dos jogos (e das atividades gamificadas ou gamificação) está na satisfação que os
jogadores usufruem, no prazer obtido nas tarefas desenvolvidas durante o jogo. O que faz
com que estas atividades sejam divertidas quando muitas vezes retratam cenários e
atividades repetitivas de contextos reais? O que os torna realmente divertidos são todas as
2
mecânicas que estão intrinsecamente embutidas nos jogos: a sensação de triunfar e o
reconhecimento desses feitos; a capacidade de resolver problemas e desafios; o sentimento
de explorar e colecionar novas realidades imersivas; o componente surpresa e imaginação;
o trabalho de equipe e compartilhamento (Navarro, 2013).
3
Segundo Werbach (2012), existem três pilares básicos: pontos, conquistas e placar.
Zichermann et al. (2011) complementam incluindo: níveis, desafios e missões, integração e
loops de engajamento.
Jogo da Olimpíada Colonial: O Jogo Olimpíada Colonial foi desenvolvido para o evento
turístico da Festa da Uva de 2016, do município de Caxias do Sul.
Segundo a classificação de Souza et al. (2017), este jogo tem como objetivo geral atrair a
atenção do visitante, despertando o interesse e gerando comportamentos desejáveis. Trata-
se de uma aplicação mobile que utilizou o design de jogos digitais junto a técnicas de
turismo. É classificado como uma aplicação de marketing do destino turístico. O intuito do
projeto era promover uma aproximação da tecnologia com a tradição da festa. O jogo
deveria ser fiel às características da prova real que fazem parte da Olimpíada Colonial –
amassar uvas com os pés, resgatando o modo de vida nas colônias. Ao mesmo tempo,
deveria cativar o turista consumidor de tecnologia da informação e comunicação, o qual
está sempre conectado à internet através de seus dispositivos móveis (smartphones e
tablets).
4
Na versão virtual da prova, o jogador é desafiado a produzir a quantidade de suco
(garrafões) definidas no início de cada fase, dentro do tempo determinado. Para tal, deve
pressionar os botões de maneira sincronizada, reabastecendo a mastela quando necessário e
retirando os garrafões sempre que cheios. Também deve ficar atento para os bônus
oferecidos pelos personagens, tais como taça de vinho e pedaço de queijo. O jogo possui
12 níveis que representam os distritos, bairros ou regiões onde são realizadas as provas
reais durante as competições da Olimpíada Colonial da Festa da Uva. Para finalizar o jogo,
é necessário passar todos os 12 níveis buscando a melhor pontuação possível.
O jogo digital foi desenvolvido para as plataformas IOS e Android, disponibilizado nas
lojas de aplicativos, no início da Festa da Uva de 2016. Foram 1500 downloads,
aproximadamente, além do público que pôde jogar em equipamentos instalados nos
Pavilhões da Festa da Uva. Durante a Festa, pôde-se observar o envolvimento e a
identificação dos jogadores (turistas e residentes) com o jogo. Vários elementos do jogo
foram utilizados a partir do imaginário relacionado ao destino turístico - a Festa da Uva e
região. Além do cenário do jogo ser a própria Festa da Uva, os personagens provocaram
imediata identificação. Os personagens Radicci, Guilhermino e Genoveva, cedidos pelo
cartunista Iotti, colaboraram nesta aproximação do jogo com o imaginário turístico, pois
caracterizam, com humor caricaturizado, o colono da região. Estes personagens estão
presentes em um jornal de circulação diária da região, em comerciais de televisão e outras
mídias. A dinâmica do jogo é narrada utilizando um sotaque que foi denominado pela
equipe de “português acolonado”. Não foi utilizado o dialeto italiano, pois dificultaria a
compreensão por parte dos turistas.
5
que, quando cumpridos, recompensam o jogador com mais informações e com a liberação
de novas missões. Ao término do jogo, o visitante poderá trocar sua pontuação no jogo por
recompensas reais, tais como, um desconto em um determinado evento ou local.
O Quiz foi desenvolvido para o município de Caxias do Sul, mas poderá ser adaptado a
qualquer outro destino turístico. Está disponível em plataforma Android ou IOS. O jogo foi
testado e avaliado por um grupo de 14 alunos do Bacharelado em Turismo da Universidade
de Caxias do Sul. O grupo respondeu a um questionário de avaliação, no próprio
aplicativo. Os resultados demonstraram que, no mínimo, cada jogador adquiriu sete
informações novas sobre os locais dos jogos, sendo que 44% reconheceu ter aprendido mais
de onze informações. Os resultados também demonstraram que 77% dos jogadores se
sentiu muito ou razoavelmente motivado a visitar estes locais, apesar da grande maioria ser
residente. A aceitação do jogo foi considerada satisfatória, visto que 89% atribui nota maior
que 7 (sobre total de 10) e 33% avaliou com nota 10 (nota máxima).
Segundo a classificação de Souza et al. (2017), trata-se de uma aplicação mobile, que tem
como objetivo integrar jogos sociais e tecnologia baseada em localização, podendo levar ao
interesse crescente da rede social de marketing no turismo baseado em localização.
Este sistema enquadra-se em dois contextos de aplicação (Souza et al., 2017): marketing,
pois explora a tendência da gamificação e seu potencial para o desenvolvimento de
experiências; e plataforma de planejamento de viagem e avaliações online. No Brasil, a
6
gamificação como ferramenta direcionada à competitividade dos destinos turísticos é
investigada por poucos autores (Souza et al., 2017).
REFERÊNCIAS
Detering, S. et al. (2011) Gamification: Toward a Definition. In: CHI 2011. Workshop
Gamification: Using Game Design Elements in Non-Game Contexts.
Diana, J. B.; Golfetto, I. F. & Baldessar, M. J. Gamification e Teoria do Flow. (2014). In:
Fadel, L. M.; Ulbricht, V. R. & Batista, C. R. Gamificação na educação. São Paulo:
Pimenta Cultural, p.38-73.
Huizinga, J. (2000) Homo Ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo.
Perspectiva.
7
Navarro, G. (2013). Gamificação: a transformação do conceito do termo jogo no contexto
da pós-modernidade. São Paulo: Biblioteca Latino-Americana de Cultura e
Comunicação.
Palmer, D., Lunceford, S., & Patton, A. (2012). The engagement economy: how
gamification is reshaping businesses. Issue 11. Reino Unido: Delloite.
Pimentel, M.; & Fuks, H. (orgs.). (2011). Sistemas colaborativos. Rio de Janeiro: Elsevier
- Campus.
Werbach, K; & Hunter, D. (2012). For the win: how game thinking can revolutionize your
business. Filadélfia, Pensilvânia: Wharton Digital Press.
8
HOSPITALIDADE AMOROSA: AMOROSIDADE COMO MATRIZ
POTENCIALIZADORA DA HOSPITALIDADE ENQUANTO PATRIMÔNIO
RESUMO
RESUMO EXPANDIDO
O trabalho aqui proposto vem de uma crescente preocupação com algumas questões
vinculadas ao turismo, hospitalidade e às relações sociais estabelecidas nessa atividade.
Esses questionamentos resultam de um processo de amadurecimento ao longo da minha
trajetória acadêmica. Por conta disso, o que se pretende desenvolver aqui, considera a
atividade turística, a partir de um olhar social, entendendo-a como cultural, que se
desenvolve pelo seu potencial das relações das pessoas em fluxo. As manifestações
culturais da comunidade incluem a hospitalidade, a partir do entendimento de Camargo
(2005).
1
Mestre em Turismo e Hospitalidade, Universidade de Caxias do Sul. Professor substituto na Universidade
Federal do Pampa, Campus Jaguarão, RS, Brasil. Currículo: http://lattes.cnpq.br/0735199171911174. E-
mail: renan.turismo@gmail.com.
1
Os aspectos aqui apresentados foram defendidos e apresentados como uma possibilidade de
olhar sobre atividade turística, na apropriação cultural presente na representação da dádiva,
ou seja, relacionada ao dar receber e retribuir (Mauss, 2002), e para além dessa, na sua
representação como amorosidade (Baptista, 2004). A ideia é, através desse estudo,
demonstrar teoricamente como a amorosidade pode constituir fator de importância para a
cultura de hospitalidade enquanto patrimônio cultural de uma cidade turística. O turismo
pode ser entendido como a cultura daqueles que o tem como parte do seu trabalho ou
mesmo forma de lazer, através das relações estabelecidas na sua prática. Essa forma de
compreensão do turismo não necessariamente prioriza o deslocamento e sim o fluxo
(Hannerz, (2002).
Marcelino (1996) trás a prática do lazer a partir dos fazeres cotidianos, que são
manifestações culturais inseridas no desenvolvimento do ser e no seu processo de
desterritorialização e reterritorialização, reconstruindo a si mesmo em alguém melhor
(Baptista, 2013). A sociedade pós-moderna apresenta como prática uma lógica de fluxo,
nas relações sociais, são uma forma de entendimento do turismo como um fazer ou como
uma manifestação cultural de quem o prática e também de quem o produz. Para Silva
(2016, p.48), “podemos entender que o Turismo se desenvolve na complexidade das
relações estabelecidas, o que pode vir a interferir nas investigações a seu respeito. Em uma
comunidade onde o Turismo é um fazer do cotidiano, para mim, a atividade se apresenta
como a representação desses fazeres, ou seja, cultura”. Acreditando que esse seja a
compreensão que é dada para a atividade na forma a ser estudada aqui, o entendimento do
turismo passa por uma compreensão enquanto prática de desenvolvimento sociocultural ou
melhor de transformação ou hibridismo daquilo que se produz culturalmente e
humanamente (Trigo, 2013 ).
Assim sendo, os turistas também se motivam pelo interesse do outro e por aquilo que não
têm no cotidiano, ou seja, o diferente, a fronteira, de forma mais subjetiva e complexa
inteculturalmente (Moesch, 2002). Em consonância a isso, o estudo que se apresenta aqui
tem como princípio um turismo baseado em fluxos e no entendimento do mesmo como
2
manifestação cultural e principalmente como marcas culturais dos fazeres de ambientes
turísticos e consequentemente como patrimônios culturais desse ambiente.
Em estudos sobre o patrimônio cultural brasileiro se percebe uma compreensão rasa e mal
formulada da lógica e importância que tal conceito pode ter no contexto de construção da
própria proposta de turismo. Há hoje um contraste em relação a identidade e a identificação
do patrimônio cultural e a sociedade que se apropria do referido. O que se percebe no
binômio identidade/identificação, é que a palavra identidade ganha caráter coletivo em
detrimento a individualidade num contexto sócio produtivo, sendo que “a história do
patrimônio é a história da construção do sentido de identidade e mais particularmente, dos
imaginários de autenticidade que inspiram as políticas patrimoniais” (Poulot, 1997, p. 36
apud, Ferreira, 2006, p.79).
3
relações de dádiva e retribuição e na forma como essas relações se estabelecem
subjetivamente. Sua teoria indica que há contratos sociais implícitos que se impõem
socialmente no dar e receber.
Para a hospitalidade, a visão fundamenta na ideia das relações de dádiva, não só como
trocas de relações comerciais, mas também como troca social e humana. As “trocas e os
contratos fazem-se sob forma de presentes, teoricamente voluntários, mas na realidade
obrigatoriamente dados e retribuídos” (Mauss, 2003 p. 41). Mauss introduz, ao pensamento
das trocas, a subjetividade envolvida nesse tipo de situação. Nesse sentido, podemos
fundamentar o nosso entendimento de como funciona a hospitalidade, sendo uma relação
de trocas econômicas, mas não somente de bens ou serviços e sim de percepções,
informações, tratamentos culturas e transformações, de modo a entender que a própria
hospitalidade se fundamenta a partir do turismo com um importante gerador de fluxo
cultural.
Se mostra necessário compreender que a hospitalidade, como mostrado por Silva (2016), é
um elemento que compõem a cultura e pode ser considerado patrimônio de um local, se for
levado em consideração enquanto alegoria, como proposto por Choay(2011), em suas
características materiais, imateriais e sua relevância nas ações do homem sobre o meio
natural. Segundo o que se entende a partir de Camargo (2008), as práticas de hospitalidade
estão pautadas no entendimento de que existe um fato social, como apresentado por Mauss
(2003), que pressupõem uma troca baseada em um sistema subjetivo intrínseco as práticas
sociais cotidianas de troca, sendo que acontece para além desse sistema entendido como
hospitalidade, ou o que Camargo(2008) denominou como algo a mais do que
hospitalidade. Mas, o que exatamente é esse algo a mais?
4
Amorosidade e Autopoiese, como manifestação presente, ou melhor, matriz
potencializadora do fazer turístico, considerando as possibilidades de maior cuidado. O que
se considera, aqui, é a compreensão de um turismo baseado em uma lógica de fluxos e da
mesma forma a hospitalidade se apresenta como um patrimônio cultural, em materialidade,
imaterialidade e paisagem, cultura de uma comunidade. Essa cultura, pelo que se propõe
com esse estudo, pode ser apresentada com a matriz potencializadora a partir da
amorosidade.
5
REFERENCIAS
6
Silva, R. D. L. D. (2016). Em ondas com o turismo: o olhar na comunidade sobre o
turismo do Farol de Santa Marta. Dissertação. Mestrado em Turismo e Hospitalidade,
Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul-RS, Brasil.
7
MOBILIDADES TURÍSTICAS NA/DA FRONTEIRA:
RESUMO
1
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia (UFRGS). Professor no Curso de Graduação em
Turismo do Instituto de Ciências Humanas e da Informação da Universidade Federal do Rio Grande (FURG),
Campus Santa Vitória do Palmar, RS, Brasil. Currículo: http://lattes.cnpq.br/3082574114190162. E-mail:
jacielkunz@gmail.com.
2
Doutor em Comunicação Social. Professor na PPG de Geografia, Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Currículo: http://lattes.cnpq.br/7721027764504488. E-mail:
castroge@ig.com.br.
1
RESUMO EXPANDIDO
Dado o exposto, o objetivo central deste trabalho é descrever e discutir como se processam
as mobilidades turísticas em áreas de fronteira, a partir de dados coletados no munícipio
brasileiro do Chuí-RS, cuja sede urbana é a mais meridional do Brasil. O município tem
população estimada em 6.368 habitantes (IBGE, 2016). Está localizada a 511km da capital
do Estado, Porto Alegre. Em relação aos limites internacionais, é limítrofe com a cidade
uruguaia de Chuy, está a 224km do balneário de Punta del Este e a 333km de Montevidéu.
Há uma área urbana única conformada pelas duas cidades, delimitada por uma “linha
divisória” reta: a fronteira é seca. A aduana brasileira está na saída da cidade pela rodovia
BR-471, ou seja, a aduana não está propriamente no limite internacional. Esse adensamento
populacional (Chuí/Chuy) foi classificado como cidade-gêmea, o meio geográfico que
melhor caracteriza a condição de fronteiriça (Brasil, 2008).
2
com um dimensão (inter)subjetiva. Hannam, Butler & Paris (2014) elencam como
categorias-chave das mobilidades turísticas as <materialidades>, as <automobilidades> e as
<novas tecnologias da informação e comunicação> (TICs).
3
(para)diplomáticas. Há processos de eliminação simbólica e funcional de algumas
fronteiras, concomitantes aos de edificação e consolidação de outras (Augé, 2010; Kunz &
Tosta, 2016), refletindo na seletividade da mobilidade turística.
Este é um dos trabalhos derivados de um projeto de pesquisa cuja primeira fase foi de
pesquisa bibliográfica e documental, realizada sobretudo para se obter informações sobre a
área em estudo e para se conhecer políticas e documentos oficiais. Numa segunda fase,
realizou-se trabalho de campo a fim de coletar dados primários, por meio de observações e
entrevistas. A realização de observações diretas – uma preliminar e outra mais sistemática,
com diário de campo –, e de algumas entrevistas, foi realizada num trecho de seis
quarteirões Avenida Uruguai (Avenida Internacional), no Chuí.
4
uruguaio), os vizinhos estrangeiros buscam itens triviais. As mais importantes casas
comerciais do quadrante são supermercados, farmácias, lojas de roupas, calçados, etc.
Os pesquisados dizem prestar informações aos clientes como parte dos serviços que
prestam. Perguntados sobre esse assunto, consideram que os brasileiros em geral vêm
melhor informados. Ainda, questionados sobre o quão “localizados” os turistas são, revelam
que por vezes lhes perguntam, “Aqui é Brasil ou Uruguai?”. Relatos semelhantes foram os
dos guardadores de carro entrevistados. Uma delas diz ter por vezes observado turistas com
um pé de cada lado da avenida a fim de fotografar esse fenômeno do limite internacional,
ressaltando ainda que tal interesse seria maior por parte de brasileiros.
5
Junto da observação realizada, os relatos coletados dos guardadores de carro que atuam na
avenida dão conta do intenso trânsito de veículos em todos os dias da semana e épocas do
ano. Os guardadores qualificam como “um inferno” ou “sempre tá cheio” o movimento de
veículos. Diante disso, relatam que seu trabalho é vigiar os carros, mas também fazer sinal
para evitar colisões, além de organizar o trânsito. Segundo eles, na fronteira há muito
acidente envolvendo veículos, na medida em que motoristas “andam como loco”. Além das
motocicletas “de turismo”, uma delas menciona o trânsito de ônibus de “bagageiros”
(sacoleiros), o que se relaciona a materialidades características da mobilidade na/da
fronteira em torno do turismo de compras.
Finalmente, no que se refere às novas TICs, optou-se por avaliar o que permite sua
utilização, ou seja, os serviços de internet. O delegado da Polícia Federal considerou de má
qualidade o serviço no Chuí, chegando inclusive a relatar transtornos decorrentes da
ocasional falta de sinal. A avaliação condiz com a do gerente de hotel, que respondeu
dizendo “isso é um baita problema”, chegando a considerar essa a maior queixa dos
hóspedes. Nota, porém, que os hóspedes a lazer demandam menos que os a negócios nesse
sentido. O gerente considera que o problema é infraestrutural, na medida em que a conexão
seria da época da central telefônica (do plug). Também, reclama da companhia que fornece
internet, quando diz que ela fornece apenas dois mega (de velocidade), enquanto que na
avenida do lado urugaio haveria acesso a 120 mega.
Fazendo parte da rede brasileira, o Chuí se encontra no “fim” da linha, também no sentido
de ser um município de pequeno porte e distante da capital. Por outro lado, é de
conhecimento de alguns atores que a velocidade da banda larga é muito superior no “lado”
uruguaio, motivo de reclamação de hóspedes/turistas, gestores privados e entes oficiais do
Estado.
6
parcial, como determinadas materialidades compõem a performance de mobilidade de
turistas e agentes locais, mobilidade esta calcada no consumo de mercadorias e serviços de
algum modo diferenciados. Há uma área de contato em termos de produtos oriundos de
distintos países, comum ao que se concebe por faixas de fronteira (troca e interação). No
Chuí, são comercializados produtos para turistas oriundos do Uruguai, e no “lado” uruguaio
ocorre via de regra o oposto. Os produtos demandados por turistas de um “lado” e do outro
também são distintos.
Trabalhos posteriores trarão os resultados das entrevistas concedidas por outros atores
locais. De todo modo, considera-se que já se avançou no sentido de “dar voz” a
determinados agentes comumente invisibilizados, mas que (inter)atuam no sentido de
permitir a mobilidade turística transfronteiriça, tal qual se observou em suas dinâmicas
peculiares.
REFERÊNCIAS
Hannam, K., Butler, G. & Paris, C. M. (2014). Developments and key issues in tourism
mobilities. Annals of Tourism Research, 44(1), 171-185.
7
IBGE (2016). Chuí. Recuperado em 29 ABR 2016, de http://cidades.ibge.gov.br/
painel/historico.php?codmu n=430543
Kunz, J. G.; Pimentel, M. R. & Tosta, E. (2014). Mobilidades turísticas: cruzando os limites
da fronteira. Anais... Seminário de Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo, Fortaleza,
CE, Brasil.
Sheller, M. & Urry, J. (2007). Tourism mobilities: places to play, places in play.
Londres/Nova Iorque: Routledge.
8
SENTIDOS E SIGNIFICADOS DOS JOGOS OLÍMPICOS RIO 2016
Este trabalho teve por objetivo analisar a atribuição de sentidos e significados aos Jogos
Olímpicos Rio 2016. Para isso realizou-se pesquisa documental e de campo com o
intuito de se extrair os dados necessários à análise. Durante a evolução do trabalho
apresentou-se na discussão os termos sentidos e significados no contexto das ciências
sociais. Após a realização da pesquisa documental e de campo a da exposição de
resultados, os pesquisadores realizaram discussão e apresentaram suas principais
conclusões a respeito do estudo que deverá colaborar com o aprofundamento de outras
pesquisas que envolvam temática semelhante no Brasil ou fora dele.
RESUMO EXPANDIDO
Este trabalho teve por objetivo analisar a atribuição de sentidos e significados aos Jogos
Olímpicos Rio 2016. Para isso realizou-se pesquisa documental e de campo com o
intuito de se extrair os dados necessários à análise. No que se refere à pesquisa
documental, a investigação apresenta os termos sentidos e significados tão bem
explorados por Vygotsky (1987), Lukács (1967) e Namura (2003) no contexto da teoria
1
Doutor em Turismo. Professor e pesquisador no Curso de Turismo da Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Currículo: http://lattes.cnpq.br/9800028377818016. E-mail:
wiliamwcds@yahoo.com.br.
2
Doutor em Geografia. Professor Pesquisador no Programa de Pós Graduação em Turismo da Unversitat
de Girona, Girona, Espanha. Currículo: http://lattes.cnpq.br/9428464195782540 E-mail:
lluis.mundet@udg.cat.
3
Doutor em Ciências da Comunicação. Professor e pesquisador no Curso de Turismo da Universidade
Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, Brasil. Currículo: http://lattes.cnpq.br/2467559186292051. E-mail:
migbahl@gmail.com.
1
histórico cultural, termos esses ainda pouco explorados por pesquisadores brasileiros no
contexto das ciências sociais aplicadas.
No que se refere aos termos sentidos e significados torna-se importante ressaltar que,
historicamente, o homem sempre buscou atribuir sentido às questões rotineiras ou
circundantes como forma de dar/atribuir sentido à vida. Diante de tal questionamento,
diferentes autores como, por exemplo, Lukács apud Namura (2003, p.6) explicam que a
atribuição de sentido às coisas é uma condição humana. Nas palavras de Lukács (1967,
p. 207) o sentido “é uma necessidade humana elementar e primordial: a necessidade de
que a existência, o movimento do mundo e até os fatos da vida individual – e estes em
primeiro lugar tenham sentido”.
2
cidade sede podem atribuir diferentes sentidos e significados à realização desse tipo de
acontecimento dentro de seu contexto social. Ao iniciar a análise, registra-se que nas
civilizações antigas o sentido estava associado à estética, pois o belo normalmente era
associado ao bom, contudo a ideia de atribuir valores estéticos à vida como forma de
dar sentido a ela cai em desuso durante a idade média, se reencontrando posteriormente
no Renascimento e em alguns movimentos do século XIX, como por exemplo, no
dandismo e na ética contemporânea (Russ, 1999).
De acordo com Namura (2003) o sentido sempre esteve ligado à experiência sensorial, à
razão, à ética e às bases tradicionais da sociedade, contudo fatos relacionados à
constante inovação tecnológica, ao individualismo exacerbado e pelo fetichismo da
mercadoria motivaram alguns autores como Lipovetsky (1992), Harvey (1996) e Russ
(1998) a sugerirem que atualmente se está atravessando um momento de insuficiência,
esvaziamento ou até mesmo falência do sentido.
Chauí apud Namura (2003) em entrevista publicada pela revista Cult na edição de maio
de 2000, relata que a filosofia se estabelece em períodos em que a sociedade vive
momentos de crise, ou seja, quando a mesma não conhece muito bem ou não entende
muito bem qual é o seu próprio sentido. Diante à afirmação da autora, percebeu-se
recentemente no Brasil grande agitação popular que resultou em protestos e
manifestações populares que ganharam todo o país a partir do segundo semestre de
2013. Perante esses fatos, ressalta-se a importância dessa investigação para se
conseguir atribuir os sentidos e significados à empreitada brasileira de sediar os Jogos
Olímpicos de 2016 e com isso melhor esclarecer toda a sociedade brasileira sobre os
aspectos positivos e negativos de promover um evento de tão grande porte.
3
melhor esclarecimento sobre os sentidos e significados da ocorrência de tais
acontecimentos em terras brasileiras e com isso realizar eventos pacíficos e menos
onerosos aos cofres públicos.
Este trabalho faz parte de uma pesquisa de doutorado que teve por objetivo analisar os
sentidos e significados atribuídos aos megaeventos esportivos no Brasil. Diante dos
desafios da investigação, registra-se que a pesquisa realizada durante a construção dessa
investigação foi exploratória e qualitativa, sendo baseada no método indutivo e utilizou-
se da técnica do estudo de caso para poder atingir seus objetivos e galgar suas
conclusões. No que diz respeito à operacionalização do estudo de caso, destaca-se que
para o mesmo utilizou-se de roteiros de pesquisa semiestruturados e de entrevistas com
indivíduos previamente selecionados. Para ter sucesso nessa fase da investigação, o
pesquisador elaborou dois roteiros de pesquisa que foram aplicados a sete diferentes
grupos de análise:
O roteiro de pesquisa 1 - Foi aplicado aos (1) representantes oficiais das associações
de moradores cadastradas na Federação de Associações de Moradores do Rio de
Janeiro, aos (2) turistas domésticos em visita à cidade do Rio de Janeiro, aos (3)
representantes oficiais das entidades representativas do setor de turismo, ao (4)
representante oficial do comitê popular para a Copa do Mundo FIFA 2014 e Olimpíadas
2016, a (5) atletas olímpicos brasileiros e aos (6) representantes oficiais dos gestores
públicos.
4
Destaca-se que no que se refere aos objetivos do trabalho, a seleção desses grupos de
análise teve por objetivo extrair juntamente aos mesmos quais eram os sentidos
(objetivos) e significados (representação simbólica) dos J. O. Rio 2016. Desta forma e
apoiados nessa metodologia de trabalho, a seguir são apresentados os sentidos
(objetivos) e significados (representação simbólica) atribuídos aos Jogos Olímpicos Rio
2016 pelos sete grupos de análise selecionados para a pesquisa durante o período da
investigação.
Conseguiu-se constatar que quanto menor a percepção de esclarecimentos por parte dos
entrevistados em relação aos aspectos positivos e negativos de se promover
megaeventos esportivos no Brasil, maior a discrepância em relação aos sentidos e
significados que foram atribuídos aos Jogos Olímpicos Rio 2016 pelo grupo de análise
dos gestores públicos que em tese participaram do processo de idealização do Projeto
Olímpico do brasileiro. Diante tal discrepância e perante um contexto de socialização
dos custos com a realização de megaeventos esportivos, como os Jogos Olímpicos no
Brasil, sugere-se que as autoridades públicas competentes garantam à sociedade em
geral a interação, bem como os esclarecimentos necessários para que a mesma possa
compreender os sentidos e significados atribuídos aos Jogos Olímpicos pelo grupo de
análise dos gestores públicos. Na visão dos pesquisadores tal iniciativa deve ser adotada
com o intuito de possibilitar à sociedade brasileira em geral melhores resultados e
maiores benefícios com a promoção de megaeventos esportivos no Brasil.
5
preparação da cidade do Rio de Janeiro para a realização desse importante megaevento
esportivo. Perante essa investigação pode-se compreender que existem diferentes níveis
de percepções em relação aos sentidos e significados dos Jogos Olímpicos Rio 2016.
Apesar disso e mesmo perante a um contexto de enormes carências e desilusões de boa
parte da sociedade brasileira em relação ao zelo de nossos governantes com a coisa
pública, pode-se constatar durante o período de realização da pesquisa que a maioria dos
entrevistados apoiava a realização dos Jogos Olímpicos Rio 2016 no Brasil.
Diante à relevância que a temática dos megaeventos esportivos assumiu no Brasil nos
últimos anos e da dimensão de seus impactos políticos, econômicos, ambientais e
urbanos, sugere-se o aprofundamento de pesquisas e análises sobre essa temática no
país. Na visão dos pesquisadores tais iniciativas podem garantir à nossa sociedade
destaque internacional em pesquisas e análises relacionadas aos estudos olímpicos e aos
megaeventos esportivos que são eventos cíclicos e de interesse da comunidade
internacional.
REFERÊNCIAS
Silva. W. C. D. (2016). Sentidos e significados dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Tese
de doutorado. Programa de Doutorado em Turismo, Universitat de Girona,
Espanha.
6
SINALIZADORES CARTOGRÁFICOS PARA INVESTIGAÇÃO EM HOSTELS
RESUMO
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade, Universidade de Caxias do Sul,
Caxias do Sul, RS, Brasil. Bolsista CAPES. Currículo: http://lattes.cnpq.br/1894753709003626. E-mail:
marathomazi@gmail.com.
2
Doutora em Ciências da Comunicação. Professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em
Turismo e Hospitalidade, Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, RS, Brasil Currículo:
http://lattes.cnpq.br/2996705711002245. E-mail: malu@pazza.com.br
1
RESUMO EXPANDIDO
O presente texto tem por objetivo discutir sinalizadores metodológicos relativos à pesquisa
em Turismo em Hospitalidade, envolvendo hostels, considerando valores como
hospitalidade e amorosidade presentes nas relações sociais, nesse meio de hospedagem, e
suas implicações no turismo. A pesquisa surge da experiência pessoal de uma das
pesquisadoras, durante quatro anos, com esse tipo de hospedagem, e de sua reflexão inicial,
decorrente da observação de alguns diferenciais desse sistema de acomodação. Igualmente,
o estudo está sintonizado com demandas investigativas, no sentido de compreender a
mutação dos fenômenos do Turismo, especialmente envolvendo as condições básicas de
atendimento às necessidades dos turistas.
Nesse sentido, hostel é um meio de hospedagem que traz características bem peculiares.
Trata-se da reversão da tendência de padronização do sistema de hospedagem, para uma
inflexão no sentido do que podemos chamar de uma dimensão conceitual, na definição do
tipo de hospedagem a ser oferecido. Isso quer dizer que os hostels propõem um conceito,
em termos de hospedagem, que ao mesmo tempo resgata aspectos históricos de
proximidades e personalização entre os sujeitos envolvidos na situação e se associam com
dimensões contemporâneas, como a tecnologia de informação, por exemplo. Entre os
aspectos característicos, pode-se mencionar a simplicidade, personalização e o tipo de
acomodação. Na maioria dos casos, os espaços internos são compartilhados e, assim, os
hóspedes ficam em contato, uns com os outros, na maior parte do tempo.
2
desterritorializantes do turismo. Acredita-se, com base na experiência empírica associada ao
referencial teórico, que hoje o “sujeito do turismo” busca mais do que o turismo comercial.
Pode-se perceber, por exemplo, através do uso do quarto compartilhado, que esse ambiente
provoca o hóspede, no sentido de ter respeito ao outro, tendo em vista que este é um
estranho, com o qual deve conviver. Além disso, é desafiado a depositar confiança nesse
sujeito, pois vai deixar seus pertences no quarto e, afinal, dormir no mesmo ambiente que
essa pessoa. A cozinha também é outro ambiente que sugere o respeito pelo que é do outro,
já que os alimentos das pessoas são deixados ali, apenas com identificação de nome. Os
demais ambientes nos remetem à informalidade, onde facilmente se inicia uma conversa,
3
Hospedagem de hotel, mas com quarto compartilhado com no máximo três pessoas. Banheiro no quarto.
Pode ter microondas e geladeiras de uso comum. Recuperado em 6 JUN 2017,
https://viagemmassa.com/2014/03/04/ibis-budget-e-bom-o-que-achamos-do-hotel-super-economico-da-rede-
ibis/ e https://terminaldeembarque.com/2015/05/11/como-e-se-hospedar-em-um-hotel-ibis-budget/.
4
Site que permite oferecer e buscar acomodação grátis em qualquer parte do mundo, na casa de pessoas que
moram no lugar. Tradução literal: “surfe no sofá”. Recuperado em 6 JUN 2017,
http://www.janelasabertas.com/2013/07/07/couchsurfing-muito-mais-que-hospedagem-gratuita/.
5
Site de aluguel de quartos e apartamentos. Recuperado em 6 JUN 2017,
http://www.melhoresdestinos.com.br/airbnb-aluguel-quartos-casas-apartamentos.html.
3
planeja-se um passeio junto, sem aquele pensamento e lógica tradicional de que, antes, é
preciso conhecer uma pessoa, para, depois, conversar com ela.
O modo cartográfico de produzir ciência é discutido em nosso grupo de pesquisa como uma
maneira de investigar e de produzir conhecimento, com base no pensamento de alguns
autores. Para conceituar cartografia, parte-se de pressupostos de Rolnik (2011), quando
expressa o sentido da cartografia, que acompanha o pesquisador e “se faz ao mesmo tempo
que o desmanchamento de certos mundos – sua perda de sentido – e a formação de outros:
mundos que se criam para expressar afetos contemporâneos [...]” (p. 23). O cartógrafo,
sempre atento aos fenômenos, como também explana Rolnik (2011), é um pesquisador que
tem um tipo de sensibilidade, uma abertura para a vida, pois mergulha em cada cena, em
busca de elementos, e faz isso sem preconceitos, sem um protocolo rígido de investigação,
apenas com critérios e ética. O cartógrafo, segundo a autora, está sempre investigando de
múltiplas formas, até mesmo as mais sutis, na tentativa de encontrar dados que sejam úteis
para sua pesquisa. É um conhecimento que vai se construindo, pouco a pouco, através
dessas incursões investigativas.
6
A expressão está sendo utilizada aqui, especialmente, nas suas dimensões complexo-sistêmica-holísticas,
com base em uma série de autores. Entre eles, podem ser mencionados, como destaques: Fritjof Capra (1991),
Roberto Crema (1989), Ilyia Prigogine (2001), Humberto Maturana (1998), Francisco Varela et al (2003),
Boaventura de Sousa Santos (2000, 2001, 2010).
4
Desses fundamentos, decorre a “trama de trilhas”, que vai se construindo através de saberes
pessoais, saberes teóricos e a vivência do pesquisador na área da pesquisa, com a definição
das aproximações e ações investigativas. Além disso, a estratégia prevê considerar a
dimensão intuitiva da pesquisa com o resgate de percepções sutis, que emergem
espontaneamente no pesquisador. Nesse sentido, este estudo faz uma abordagem de
aspectos teóricos, que envolve uma revisão de literatura sobre a temática e os aspectos que
a englobam, como turismo, hospedagem, hostel, hospitalidade e amorosidade. Nesse caso,
com o trabalho teórico, já é possível identificar características dos hostels, seu mercado,
público e seu próprio lugar no turismo contemporâneo.
Uma das aproximações investigativas deste estudo relaciona-se ao resgate das experiências
de uma das autoras, que tem se construído através da convivência com outros hóspedes em
hostels. Vale mencionar, ainda, o resgate de valores, visivelmente presentes no hostel e não
tão presentes no modelo tradicional de hospedagem. Essa trama de ações investigativas e
reflexões permite perceber, construir e aprofundar o conhecimento que caracteriza esse
contexto social. Com essa prática mais coletiva e menos individual, é possível entender
esse ambiente, que apresenta conceito diferenciado e provocativo, no que diz respeito ao
relacionamento interpessoal.
5
observação participante, que há uma mutação de valores no turismo contemporâneo,
associada à emergência de outra concepção de mundo. Em um ambiente onde quase todos
os espaços são compartilhados, tem-se fortemente identificadas mudanças de paradigmas,
facilmente encontrados no modelo tradicional de hospedagem.
Pela observação direta realizada, foi possível perceber que esses valores são praticados em
todos os hostels onde houve a aproximação, através da vivência como hóspede, por parte de
uma das pesquisadoras. Algumas das questões encontradas foram: confiança em deixar
objetos pessoais, no local público; ruptura de ‘pré-conceitos’ relacionados ao local de
origem do sujeito; a forma como o viajante de desloca pela cidade; a própria vivência dele
nesse local; a questão dos vínculos que se criam, facilmente, entre os hóspedes; e a
perspectiva da sustentabilidade, bem presente no hostel de diversas formas.
7
Expressão utilizada com base nos pressupostos da Esquizoanálise, especialmente apresentados no texto
Micropolíticas: Cartografias do Desejo (Guattari; Rolnik, 2000).
6
REFERÊNCIAS
Capra, F. (1997). A teia da vida. Uma nova compreensão dos sistemas vivos. São Paulo:
Cultrix.
Crema, R. (1989). Introdução à visão holística. Breve relato de viagem do velho ao novo
paradigma. São Paulo: Summus.
7
Guattari, F.; & Rolnik, S. (2000). Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis, RJ:
Vozes.
Prigogine, Ilya. (2001). Ciência, razão e paixão. In: Carvalho, E.de A.; & Almeida, M. da
C. (org.), Ciência, razão e paixão. Belém: Eduepa.
Varela, F.; Thompson, E.; & Rosch, E. (2003). A mente incorporada: Ciências cognitivas
e experiência humana. Porto Alegre: Artmed.
8
TI PARADOXALMENTE REDEFINE O TURISMO
RESUMO
RESUMO EXPANDIDO
A tecnologia está imersa e imbricada no contexto social constituindo pilar fundamental que
acompanha e determina o desenvolvimento das sociedades da mesma forma que é por suas
limitações e desejos determinada. O desenvolvimento da tecnologia parece tão inevitável
1 Doutora em Administração. Professora na Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasi. Currículo:
http://lattes.cnpq.br/7756786407142819. E-mail: diana.costa.de.castro@gmail.com.
1
quanto ligado a paradoxos, na atualidade (Mazmanian, Orlikowski & Yates, 2006), da
mesma forma que o fazer turístico é parte constitutiva da modernidade (Urry, 2001). “Com
efeito, agir como um turista é uma das características definidoras do ser ‘moderno’” (Urry,
2001, p.17). Em relação a tecnologia se poderia ensaiar algo assim: utilizar novas
tecnologias é uma das características definidoras do ser moderno. A diferença talvez recaia
na veloz mudança que esta última sofre, mas o quanto essas inovações de TI podem
provocar uma possível mudança na própria definição do turismo?
O paradoxo, no sentido lógico, contém seu oposto, mais do que simples inconsistências.
Apresenta-se como um desafio à lógica, quiçá impossibilidade em forma pura. Muitos
estudos sobre tecnologia afirmam haver paradoxos inerentes ao seu desenvolvimento. Mick
e Fournier (1998), por exemplo, afirmam ter encontrado mais de 20 menções e
inconsistências. Inconsistências acontecem quando, por exemplo, a tecnologia faz X, mas
também faz Y; já paradoxos, no sentido lógico utilizado pelos autores e também neste
trabalho, contém seu oposto, ou seja, quando tecnologia é ou faz X e não X (Mick &
Fournier, 1998).
Para Leiper (apud Cooper et al. 2001), o turismo é uma atividade imersa em um ambiente e
em um complexo de outras atividades de emissão, de deslocamento e de recepção. Para
Andrade (2004), a definição deve focar a centralidade dos elementos indivíduo, espaço e
tempo. A partir dessas duas perspectivas pode-se ter uma compreensão de que turismo é
tudo que compreende a relação desses elementos de deslocamento, alimentação,
hospedagem, recepção, informação, comunicação, segurança e recreação, tendo que o
indivíduo ser entendido tanto na posição do turista quanto de quem trabalha com o turismo
e o transporte no espaço, atravessando uma fronteira.
2
centrais, sobretudo a noção de lugares delimitados por fronteiras, sejam elas geográficas,
políticas ou culturais.
Para Acerenza (2002) é preciso distinguir o aspecto conceitual do aspecto técnico dessa
atividade. No aspecto conceitual, ele destaca as teorias humanistas e as teorias da alienação,
que já definem o turismo de forma antagônica. A primeira, cujo principal expoente é
Krzysztof Przeclawski, exagera nos pontos positivos, vê no turismo uma genuína
manifestação humana, e deposita nele a esperança para uma vida de paz e equilíbrio
ecológico na Terra. A visão da alienação tem origem marxista e diz que a indústria de
massas manipula e aliena os indivíduos, impulsionando-os para o fazer turístico. São
representantes mais ilustres dessa corrente Turner e John Ash.
Como a atividade turística é, em consenso, uma ação a se realizar no tempo de ócio, ela,
por definição, deve se opor ao trabalho. É por isso que repetidas definições (OMT, 2001;
Trigo, 2002; Andrade, 2004, Acerenza, 2002) excluem viagens a trabalho da definição de
turismo, apesar de, para fins estatísticos ou técnico (Acerenza, 2002), criar-se a modalidade
ou tipologia turismo de negócios. Andrade (2004) identifica 14 motivações para a prática
do turismo, das quais algumas se destacam pela ligação com o desenvolvimento das TIs: o
estímulo dos meios de comunicação de massa à prática do turismo e ao contato com a
natureza, recompensar a distância das famílias imposta pelo exercício profissional e atender
a necessidades físicas e psíquicas.
3
A exemplo dos paradoxos apontados por Mick e Fournier (1998), Mazmanian, Orlikowski
e Yates (2006); Gonçalves e Joia (2011) e Jarvenpaa e Lang (2005), propõe-se aqui cinco
paradoxos, adaptando o desenvolvimento das TI e os pressupostos inerentes ao turismo,
segundo as definições estudadas. São eles: familiarização/estranhamento; acirramento das
fronteiras/dissolução das fronteiras; facilidade e motivação para o deslocamento/dissolução
da necessidade de deslocamento; planejamento/improvisação; tempo de trabalho/tempo de
ócio. Tais paradoxos estão embasados na argumentação teórica. Os pressupostos estão
baseados no deslocamento de pessoas e o deslocamento, por sua vez, pressupõe que haja
uma fronteira (seletivamente permeável) a ser atravessada para que haja o turismo.
4
com as expectativas. Familiarização e estranhamento são, portanto, paradoxos do turismo,
que se estendem e são altamente modificados pelas TIs, a ponto de pôr em cheque a própria
existência do turismo como conhecemos.
Outro paradigma que pode ser revisto para o turismo do modelo de Mick e Fournier (1998)
é o de Integração/Isolamento. Esse paradigma remete a faculdade da tecnologia aproximar
e ao mesmo tempo distanciar as pessoas, como no caso da TV ligada em encontros sociais.
Se as fronteiras são criadas pelos indivíduos, em última análise os indivíduos se deslocam
para ver o que os indivíduos do outro lado fizeram de forma diferente, seja esse diferencial
relativo à cultura material ou imaterial. Ora, se a evolução das TIs oferece hoje mais
fortemente do que já apontaram Mick e Fournier (1998), a possibilidade de aproximar, e ao
mesmo tempo a faculdade de afastar as pessoas, pode levar o potencial turista à inação. Em
uma análise extrema, porque viajar se as pessoas já estão mais perto e também mais longe?
Por isso propomos o segundo paradigma: acirramento das fronteiras/dissolução das
fronteiras.
5
que a evolução da TI oferece possibilidades seguras, confortáveis e com diferentes modais,
impulsionando e motivando as pessoas a se deslocarem, as mesmas TIs oferecem tantas
informações de qualidade e em fontes tão diferentes a respeito de quase todos os cantos da
Terra que a necessidade de deslocamento para conhecê-las esvai-se.
Fazer turismo sem deslocar-se fisicamente já foi aventado por Molina (2003) sob o nome
de pós-turismo. Tal tipo está embasado em inovações tecnológicas, atrações artificiais, foco
na experiência do turista, e por essas características, oferece aos empreendedores
possibilidades ilimitadas. Tal modalidade caracteriza o turismo realizado nos parques
temáticos, mas outro grande exemplo é Las Vegas, que se apoia na construção de
simulacros e promete experiências únicas aos seus visitantes (quiçá mais intensas do que
nos lugares ‘originais’). O principal foco é como a tecnologia possibilita essas novas
criações e qual é seu limite, a partir do próprio conceito de turismo. Pode-se pensar que a
princípio não há limites. Como Molina (2003) diz, as possibilidades são ilimitadas, porém,
seria possível a experiência, o contato, a troca de informações, sem o deslocamento físico?
A tecnologia já oferece algumas possibilidades de simulações interativas, onde o
participante pode teoricamente fazer e experimentar o que um turista faz e experimenta no
destino.
Dos oito paradoxos encontrados no estudo de Jarvenpaa e Lang (2005), o que poderia ser
adaptado para o turismo é o de planejamento / improvisação. Tal paradoxo diz respeito a
capacidade de planejamento e ao mesmo tempo de improvisação que as TI oferecem. Os
sistemas apresentados por O'Hare et al (2009) ilustram isso, mas também denotam que os
designs ainda dependem muito de informações do usuário e são pouco precisos no caso de
improvisação nas viagens. De acordo com O'Hare et al (2009) o desenvolvimento em
tecnologia móvel tem oferecido novas possibilidades. Tal desenvolvimento expande o
paradigma do Multi-Agent System (MAS) onde a colaboração dos usuários é fundamental.
Hoje o sistema GPS atende a necessidade de um turista que tem por característica a
mobilidade. De certa forma, tais sistemas direcionam o olhar do turista, indicando o que
deve ser visto. Tal fenômeno é reconhecido como parte do turismo e já foi destacado por
6
Urry (2001). Estar em local reconhecidamente interessante, ser reconhecido enquanto
turista e comungar desse olhar pode ser um fato bastante motivador do turismo, a priori.
Mas à medida que em que eles se desenvolvem podem gerar afastamento tal da realidade a
ponto de que a virtualidade a substitua, fazendo desnecessário o deslocamento, como já
argumentado.
Se, em sua primeira grande revolução, a mídia, viabilizada pela evolução das TIs levou às
massas um novo sentido de tempo e espaço, em um segundo momento, percebe-se que ela
produz uma espécie de efeito contrário, afastando, distanciando o que ela faz parecer tão
próximo. Ao comunicar partes isoladas de um todo, visões transformadas, através de todas
as técnicas de tornar fantástico e fascinante o que se mostra, acaba-se por evidenciar de
forma exagerada um fato, e, simultaneamente, por ofuscar os outros. Descontextualizar o
fato e as pessoas também parece algo que conduz ao distanciamento, pois quando uma
manifestação cultural, por exemplo, é veiculada pela grande mídia a muitas pessoas este
fato passa a assumir outro significado. A manifestação passa a ser um ritual exótico com
sentido deturpado ou mesmo desprovido de sentido. Esse processo pode tornar a cultura
alheia mais distante do que próxima, difícil de ser compreendida e mais propícia a ser
estigmatizada ou estereotipada.
Assim, o exótico deixa de ser possível de ser familiarizado, e apresenta uma ilusão falsa,
mas muito bem elaborada, de que nos é familiar, pois ‘passa’ ou está veiculada dentro de
nosso contexto. As manifestações, a natureza, as pessoas de outras culturas que aparecem
7
nos meios de comunicação passam a ser objetos de curiosidade, desejo, compaixão ou
repulsão, e, acima de tudo, passíveis de consumo. Nisso, a evolução das TIs liga-se
diretamente com o turismo, que é hoje, mais do que nunca, incentivado por elas, mostrado
o exótico de forma inusitada, impulsionando as massas ao consumo imediatista do diferente
pelo estranho e curioso, até que ele deixe de ser estranho e curioso e passe direto para o
desinteressante sem que ao menos se possa conhecê-lo.
REFERÊNCIAS
David, P. A. (1990). The dynamo and the computer: an historical perspective on the
productivity paradox. American Economic Review, Papers and Proceedings, 80,
315-348.
Gonçalves, A. B.; & Jóia, L. A. (2011). Uma investigação acerca dos paradoxos presentes
na relação entre executivos e Smartphones. EnANPAD. Rio de Janeiro.
Jarvenpaa, S. & Lang, K. (2005). Managing the paradoxes of mobile technology. ISM
Journal, fall, 7-23.
Mazmanian, M; Orlikowski, W. J.; & Yates, J. (2006). CrackBerrys: exploring the social
implications of ubiquitous wireless email devices. Conference Paper for EGOS.
8
O'Hare, G. M. P.; O'Grady, M. J.; Poslad, S.; & Titkov, L. (2009). Exploiting Multi-Agent
Systems in Realizing Adaptivity in the Mobile Tourist Domain. AI
Communications, 22 (2), 109-116.
Urry, J. (2001). O olhar do Turista: Lazer e viagens nas sociedades contemporâneas. São
Paulo: Studio Nobel, Sesc.
9
TURISMO DE SAÚDE
RESUMO
RESUMO EXPANDIDO
1
Doutoranda em Turismo e Hospitalidade pela Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, RS, Brasil.
Currículo: http://lattes.cnpq.br/9219211504277709. E-mail: hcharko@terra.com.br.
2
Doutora em Ciências da Comunicação. Professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em
Turismo e Hospitalidade, Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, RS, Brasil Currículo:
http://lattes.cnpq.br/2996705711002245. E-mail: malu@pazza.com.br
1
Turismo de Saúde em Porto Alegre. Inicialmente é apresentado o cenário em que as práticas
de Turismo de Saúde sendo consideradas, na pesquisa que está em desenvolvimento no
Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade, da Universidade de Caxias do
Sul. A seguir, apresenta-se a reflexão sobre Turismo de Saúde, no que diz respeito a
aspectos históricos e conceituais. Estabelece-se, por fim, a relação com os conceitos e
práticas do Turismo de Saúde.
Várias são as razões que levam as pessoas a procurarem tratamento de saúde em outros
países, que não o seu de residência. Dentre essas razões estão: os altos custos; lista de
espera; não possuir seguro de saúde; ter plano de saúde, mas este não ter cobertura para os
tratamentos; legislação que não permite alguns tipos de tratamento em seu país de origem
(fertilização in vitro, aborto, tratamento com células tronco) (Brasil 2017).
2
turísticas decorrentes da utilização de meios e serviços para fins médicos, terapêuticos e
estéticos” (Brasil, 2017). Já Andrade (1999 p.76) define Turismo de Saúde como: “o
conjunto de atividades turísticas que as pessoas exercem na procura de meios de
manutenção ou aquisição de bom funcionamento e sanidade de seu físico e de seu
psiquismo”. Outros autores como Godoi (2009), Fernandes & Fernandes (2011), Garcia-
Altés (2005), etc., também abordam o conceito de Turismo de Saúde sob os mesmos
aspectos.
Como foi salientando, o turismo de saúde, atualmente, não se restringe apenas às estâncias
hidrominerais, spas, etc., como na Antiguidade. Hoje, esta atividade vai além de uma
simples viagem, envolvendo transporte, hospedagem, alimentação e os serviços de saúde.
Para tanto, os hospitais necessitam de uma prévia avaliação para receberem acreditação e
poderem atuar junto aos turistas de saúde internacionais, o que é avaliado pela Joint
Commission International (JCI). Da mesma forma, também os profissionais que atuam
neste segmento devem ter qualificação. Neste sentido, os dois hospitais que farão parte do
estudo de tese serão o Hospital Moinhos de Vento e o Hospital mãe de Deus, os quais são
acreditados pela Joint Commission International.
3
termalismo, uma vez que propiciou a transição da era empírica para a clínica” (Brasil,
2017). Revela-se aqui que os turistas que se deslocam para tratamentos de saúde, para
outros países, representam um novo momento entre dois campos de atividades tão
diferentes, o Turismo e a Saúde, bem como, dos órgãos públicos e privados, que se
entrelaçam com o trade. Este movimento mostra também, que o Turismo de Saúde é uma
grande oportunidade, um desafio entre esses campos de atividades tão diferentes, e que vem
despertando interesse.
Por se apresentar como uma atividade com grandes desafios, o Turismo de Saúde é uma
trilha que revela redes de relações entre as organizações das duas áreas, pacientes, hospitais
e serviços. Para tanto, este entrelaçamento e relações necessita de um desenvolvimento em
excelência de relações de diferentes regiões do país e diferentes regiões no mundo,
envolvendo sujeitos em deslocamento para tratamento de saúde. A cidade de Porto Alegre é
a capital do Estado do Rio Grande do Sul, está localizada no extremo sul do Brasil, no
paralelo 30. Conta com uma população de 1.481,019 de habitantes distribuídos em uma
área compreendida de 496,682 km². Possui uma orla de 72 km, quarenta morros, uma
planície onde se localiza o centro da cidade, bem como uma área rural próxima (IBGE
2017).
3
Secretaria Municipal de Turismo de Porto Alegre: esta secretaria foi incorporada a Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Econômico, assumindo a seguinte denominação: Diretoria de Turismo. Informações
obtidas, por telefone, com o Diretor de Turismo Sr. Roberto Snel, em 18 de Outubro de 2017.
4
cidade, com a Europa, evidencia-se na cultura e nos costumes, bem como no clima da
região (SMTUR 2017).
Em 2010, foi criado o Porto Alegre Health Care, como uma instituição público-privada, em
nível municipal, que agrega as principais instituições de saúde da cidade. Segundo o site da
instituição, seu objetivo é “oferecer o que há de melhor em tratamentos e cirurgias, e atingir
pelo menos 5% do volume mundial de turistas de saúde que viajam em busca de
tratamento, volume estimado em um milhão de pessoas” (Saúde Business, 2017).
O Porto Alegre Health Care tem apoio da Federação das Associações Comerciais e
Serviços do Rio Grande do Sul, tendo recebido respaldo, no seu surgimento, do órgão que
existia oficialmente, a Secretaria Municipal de Turismo (PAHC 2017). Além dos hospitais
que fazem parte desta organização – Hospital Mãe de Deus, Hospital Moinhos de Vento,
Hospital São Lucas da PUCRS – ela também envolve instituições de classe, médicos, hotéis
e uma grande rede de fornecedores de serviços de saúde, bem-estar e hospitalidade (PAHC
2017). Dialoga, também, com a Associação Brasileira de Turismo de Saúde (Abratus 2017),
instituição em nível federal, que tem como objetivo revelar destinos dentro do Brasil,
referentes ao turismo de saúde (Abratus, 2017).
5
Oferece também uma infraestrutura de transporte urbano, hospedagem, alimentação, etc.,
que facilita o deslocamento dos turistas de saúde, que procuram os hospitais da cidade para
tratamento (PAHC, 2017).
Em termos de acesso, Porto Alegre possui o Aeroporto Internacional Salgado Filho, que
está localizado próximo ao centro da cidade, o que possibilita um deslocamento adequado
para aqueles que chegam à cidade, independentemente das razões do seu deslocamento. O
Aeroporto Internacional Salgado Filho de Porto Alegre é o nono na lista dos mais
movimentados do país e o primeiro da região sul (Portal Aviação, 2017). O movimento no
ano de 2014 foi de 8,4 milhões de passageiros (Portal Aviação, 2017). Estes números são
significativos, já que, no mesmo ano de 2014, o Aeroporto Internacional de Guarulhos, em
São Paulo, teve um movimento de passageiros da ordem de 39,5 milhões (Relatório
Operacional Aeroporto de Guarulhos, 2017).
O número de passageiros contabilizado poderia ser maior, se houvessem voos diretos com
maior frequência para o aeroporto da cidade de Porto Alegre, o que facilitaria, não somente
aos turistas de saúde, mas também para os que vêm a negócios, turismo e eventos. Os voos
diretos implicam em redução de custos e tempo de deslocamento para o passageiro. Neste
contexto, convém lembrar que a cidade também abriga eventos, tanto nacionais como
internacionais de grande e médio porte, tais como: Fórum Social Mundial, Eventos
Médicos, Shows Musicais, Jogos de Futebol, Campeonato de Tênis, etc. (PORTO
ALEGRE, 2017).
A cidade de Porto Alegre disponibiliza aos visitantes, passeios no ônibus turístico que
proporciona ao visitante um panorama da cidade tais como: o Guaíba, o Centro Histórico, a
Região Sul da Cidade onde há a zona rural, Museus, Casa de Cultura, dentre outros
atrativos (SMTUR 2017). A cidade de Porto Alegre se apresenta como um dos destinos de
turismo de saúde do país. Isto se deve à excelência das Instituições de Saúde que oferecem
tratamentos aos estrangeiros para diversas especialidades (SMTUR 2017). Destacam-se
entre as Instituições de Saúde os hospitais acreditados, internacionalmente, pela Joint
6
Commission International, no Brasil. São eles: o Hospital Mãe de Deus e o Hospital
Moinhos de Vento, também, reconhecido pelo Ministério da Saúde como um dos seis
hospitais de excelência do país (Hospital Moinhos de Vento 2017). Isso vem reforçar o que
a cidade de Porto Alegre tem a oferecer aos turistas de saúde. Neste contexto, sugere-se
uma atenção mais próxima, por parte das autoridades governamentais, trade turístico,
profissionais da saúde e do turismo, no que diz respeito a melhorias em relação,
principalmente, da malha aérea para o Aeroporto Internacional da cidade. Isto facilitará o
acesso à cidade por parte dos turistas de saúde, bem como para os que vêm a negócios, para
eventos e turismo. A pesquisa também tem se direcionado para a observação dos diversos
aspectos que compõem a excelência dos serviços oferecidos, no que diz respeito à
hospitalidade do turista e seus acompanhantes, aspectos que vem sendo amadurecidos, em
termos teóricos e de campo.
REFERÊNCIAS
7
Godoi, A. F. (2008). Hotelaria hospitalar e humanização no atendimento em hospitais.
São Paulo: Ícone.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2017). Porto Alegre. Acesso 13 jan. 2017,
http://cidades.ibge.gov.br/v3/cidades/municipio/4314902.
Porto Alegre Health Care (2017). Porto Alegre Health Care. Acesso 22 jan. 2017,
www.portoalegrehealthcare.com.br.
Porto Alegre - Secretaria Municipal de Turismo (2017). A Cidade, acesso 15 jan. 2017,
http://www2.portoalegre.rs.gov.br/turismo/default.php?p_secao=256.
8
TURISMO E ILEGALIDADES: QUAL A FRONTEIRA?
RESUMO
1
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia (UFRGS). Professor na Universidade Federal do Rio Grande,
Campus Santa Vitória do Palmar, RS, Brasil. Currículo: http://lattes.cnpq.br/3082574114190162. E-mail:
jacielkunz@gmail.com.
2
Doutor. Professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. Currículo:
http://lattes.cnpq.br/7721027764504488. E-mail: castroge@ig.com.br.
1
RESUMO EXPANDIDO
Diante disso, o objetivo central deste trabalho é analisar relações que se estabelecem entre o
turismo/os turistas e determinadas práticas ilegais criminalizáveis como componentes do
processo de (re)produção das fronteiras territoriais, além da respectiva presença de órgãos
de Estado. O lócus de estudo é o Chuí-RS, na fronteira com Chuy, Uruguai.
2
O município do Chuí foi emancipado em 1995, contando com 6.368 habitantes (IBGE,
2016). O Chuí é a sede urbana mais meridional do Brasil. Fica a 511km de Porto Alegre. O
acesso brasileiro se dá pela BR-471. A exceção é o acesso ao balneário da Barra do Chuí,
em Santa Vitória do Palmar. Já o município uruguaio do Chuy conta com 9.676 habitantes.
Fica a 333km da capital nacional, Montevidéu, e a 224km do balneário de Punta del Este.
Chuí e Chuy formam um único adensamento urbano. As cidades ficam numa zona primária,
assim chamado o território entre as aduanas. Não há aduana ou alfândega na “linha”
propriamente dita e sim nas saídas dessas cidades-gêmeas
Enquanto a fronteira é considerada uma fonte de perigo ou ameaça porque pode desenvolver
interesses distintos aos do governo central, o limite jurídico do estado é criado e mantido pelo governo
central, não tendo vida própria e nem mesmo existência material. (Machado, 1998: 42, grifos da
autora).
3
discursos e instituições por meio dos quais o poder opera. Nesse sentido, tem-se alterados
práticas da fronteira política, as quais se referem ao monitoramento de dados e vigilância,
tais como, adoção de passaportes biométricos, enfim, procedimentos expandidos de
segurança em aeroportos e aduanas terrestres (Johnson et al., 2011).
Sur (2013), comentada por Richardson (2013), busca transpor o que ela vê como uma
dicotomia inútil entre a mobilidade dos fluxos legais/desejáveis e dos fluxos ilegais ou
impedidos. Acrescentaríamos, entre fluxos legais e ilegais de turistas, e as (i)materialidades
que acompanham/impulsionam esses fluxos.Tais práticas ou atos crimininalizáveis o são
função de tipificações: criando-se tipificação, cria-se lei penal, como processos correlatos.
A lei, porém, pode anteceder, suceder, acelerar ou desacelerar os processos de mudança
social, isto porque as instituições, autônomas, têm ritmos diversos. Assim, o crime o é a
partir daquilo que o Estado dispõe sobre o correto e o incorreto. A definição jurídica, por
meio da lei, sobre o que é crime é apenas o ponto de partida para o estudo do crime.
4
Nem toda criminalização de um curso de ação definido em lei será realizada em todos os eventos que
sejam experimentados por indivíduos, apenas uma parte será criminada, isto é, interpretada como
crime. E [...] apenas uma fração dos eventos criminados [...] será finalmente selecionada para
processamento legal por essas agências [policiais]” (Misse, 2011:17).
Nesse ínterim, há tanto um deslocamento do ato para o ator (do crime) – no sentido de
valorizar o “quem fez”, “como” e “por que” – quanto do ator para o lugar, no sentido do
“onde” está o ator. E, em se tratando de criminação/incriminação, “há seleção institucional
dos ilegalismos que ganharão o nome de crime e a busca de seus supostos autores” (Misse,
2011:17). Percebe-se, ainda, a incriminação preventiva, gerada a partir de demandas sociais
de punição, engendradas por um “processo social que ‘estabiliza’ [...] em tipos sociais, a
expectativa de reiteração do sujeito no crime [...] a periculosidade do sujeito, baseada no
que se supõe ser sua propensão natural ao crime, passa a ser decodificada por traços que ele
apresente” (Misse, 2011:17). Tal processo remete ao estabelecimento de classes
(potencialmente) perigosas, historicamente, classes empobrecidas, embora às instituições
coubesse criminar igualmente os cidadãos, pelo menos em tese.
No que tange as relações recíprocas entre “turistas” e “vagabundos”, tem-se que “a política
da sociedade dos turistas pode ser em grande parte explicada – como a obsessão com ‘a lei
e a ordem’, [e] a criminalização da pobreza [...]”. Assim, “os turistas não podem ficar à
solta se os vagabundos não forem presos.” (Bauman, 1999).
Dois aspectos concernentes aos objetivos deste trabalho foram analisados por meio de
fontes bibliográficas, quais sejam, compras em free shops (Pellegero, 2014) e a geração e
coleta ineficiente de resíduos sólidos urbanos oriundos das compras nessa área (Pereira,
2015). De acordo com pesquisa de Pellegero (2014), 89% dos turistas de compras do
Chuí/Chuy eram atraídos pela alta qualidade e pela variedade dos produtos. A distribuição
da nacionalidade dos turistas que frequentam os free shops de Chuy, Uruguai, é assim
constituída: brasileiros (50%), uruguaios (38,7%), argentinos (9,7%), chilenos e
portugueses (0,8% cada). Chama a atenção que, apesar de a venda nos free shops ser
direcionada exclusivamente a cidadãos de nacionalidade diversa da do país onde está, quase
40% dos consumidores são uruguaios. Isso pode ser explicado por uma prática
5
relativamente comum, observada em frente às lojas, que é o “aluguel” de documentos de
identidade (brasileiros) que permite aos nacionais efetuar suas compras.
No segundo aspecto, foi observado o acúmulo de resíduos, como grandes caixas, em frente
aos estabelecimentos comerciais. Outra área observada foram as margens da rodovia, na
saída da cidade, antes da chegada às aduanas. Foram observados acúmulos consideráveis de
resíduos característicos das compras, como sacolas e embalagens de free shops e caixa de
produtos comercializados nessas lojas francas. Isso é explicado pela tentativa de tentar
descaracterizar a compra. Assim, seria possível levar consigo mercadorias acima da cota de
USD350. Essa situação, protagonizada pelos turistas de compra, apresenta um duplo
aspecto da contravenção: um, tentar burlar a cota de compras; e, dois, contribuição à
poluição ambiental, por meio do descarte de resíduos em local inadequado e sem
acondicionamento (Pereira, 2015).
Como já era de se esperar, por duas vezes fomos questionados por proprietários ou
funcionários de estabelecimentos desta avenida, acerca do que estaríamos fazendo por ali.
Também ocorreu o mesmo ao nos aproximamos de um dos três guardadores de carro
entrevistados, quando um dos seus parceiros de negócio, presumivelmente o responsável,
nos questionou. Consideramos que o simples fato de sermos instados a esclarecer-lhes os
motivos de nossa incursão, embora no espaço público da calçada, mostra a preocupação
desses agentes de mercado locais, acerca de lhes recair alguma fiscalização inesperada, ou
ainda, a aplicação de alguma sanção por determinada prática ilícita, tendo em conta leis
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municipais ou mesmo federais3. Esses gestos simples demonstram que a fronteira possui
como que uma “atmosfera” de ilegalidade, de criminalidade e/ou de incriminação, o que é
extensível a comerciantes, e possivelmente também a consumidores e turistas.
Da mesma forma, dada a mobilidade na zona primária, mesmo que não se tenha percorrido
ou havido entrevistas do “lado” uruguaio, tem-se que é possível contemplar, mesmo que
parcialmente, as dinâmicas que caracterizam o comércio, e o turismo a ele vinculados, em
ambos os “lados”, já que são observadas diferenças e em realidade uma inversão nas
mercadorias buscadas em um lado e no outro.
O turista na/da fronteira é comumente considerado indivíduo sobre o qual em princípio não
cabe incriminação preventiva, já que se distanciaria do contrabandista, condição atribuída
comumente à população fronteiriça, conforme estudos de Dorfman (2009). Estudos como
os de Pellegero (2014) e Pereira (2015), além de alguns dados primários desta pesquisa,
apontam para o contrário, ou seja, para práticas de/para/com turistas, as quais procuram
burlar a ilegalidade. Estas, no entanto, poderiam vir a ser criminadas, ou seja, vir a ser
interpretadas como crimes (Misse, 2011), ou contravenções.
Para finalizar, sem concluir, parafraseamos Bauman (1999): “na sociedade dos viajantes, na
sociedade viajante, o turismo e a vagabundagem são as duas faces da mesma moeda [...] A
3
Por outro lado, consideramos que é eticamente relevante que os sujeitos pesquisados (embora não o fossem
diretamente) tenham informações sobre a pesquisa sendo realizada, para que estejam seguros que esta não
lhes cause danos de tipo algum.
7
linha que os separa é nem sempre muito nítida. Pode-se cruzá-la facilmente sem notar”.
Demonstra-se o quão fluida a categoria “turista” se apresenta, especialmente na fronteira.
REFERÊNCIAS
Johson, J. et al. (2011). Interventions on rethinking ‘the border’ in border studies. Political
Geography, 30(2), 61-69.
8
Richardson, T. (2013). Borders and mobilities: introduction to the special issue. Mobilities,
8(1), 1-6.
Sheller, M. & Urry, J. (2007). Tourism mobilities: places to play, places in play.
Londres/Nova Iorque: Routledge.
9
TURISMO, DESTERRITORIALIZAÇÃO E AMOROSIDADE:
REFLEXÕES TEÓRICAS
RESUMO
1
Mestranda em Turismo e Hospitalidade, Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, RS, Brasil.
Currículo: http://lattes.cnpq.br/4047509691385278. E-mail: camila.carvmelo@gmail.com.
2
Doutora em Ciências da Comunicação. Professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em
Turismo e Hospitalidade, Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, RS, Brasil Currículo:
http://lattes.cnpq.br/2996705711002245. E-mail: malu@pazza.com.br
1
RESUMO EXPANDIDO
2
[...] devemos buscar respostas identificadas com a humanização e integração social, considerando as
críticas à homogeneização da cultura e a valorização do pluriculturalismo e a plurietnicidade. Cada
cultura deve ser compartilhada com todos, mediada pelo respeito e pela dignidade (Beni, 2004, p. 24).
Neste trecho, Beni (2004) sinaliza para uma postura que se aproxima de uma ética proposta
por Maturana (1998). Para o biólogo, a relação de harmonia e respeito com o mundo
natural é possível, a partir do momento em que reconhecemos essa necessidade e nos
responsabilizamos por isso. Maturana (1998, p. 33) diz que essa responsabilidade “surge
quando nos damos conta se queremos ou não as consequências de nossas ações; e a
liberdade quando nos damos conta se queremos ou não nosso querer, ou não querer as
consequências das nossas ações”.
Não apenas cada parte do mundo faz cada vez mais parte do mundo, mas o mundo enquanto todo está
cada vez mais presente em cada uma de suas partes. Isso se verifica não só para as nações e os povos,
mas também para os indivíduos. Da mesma forma que cada ponto de um holograma contém a
informação do todo que faz parte, doravante cada individuo também recebe ou consome as
informações e as substâncias vindas de todo o universo.
O antropólogo considera, ainda, a globalização como grande coadjuvante para esta noção
de coexistência. No Turismo, a manifestação da globalização levanta também sinais de
alerta:
3
Tanto a citação de Molina (2004), quanto a citação de Beni (2004), representam um pouco
do que vem sendo pensado e proposto como ‘um outro turismo’, e se relacionam com a
pesquisa em questão por considerar a atuação do sujeito em particular, que tem potência
para afetar um coletivo no papel em que ele desempenha, ou na pessoa que ele é3.
Também nesta pesquisa, temos considerado que o Turismo, por ser uma atividade que
promove o contato das pessoas com outras culturas, possui potencial para sensibilizá-las,
numa lógica de que, a partir do momento em que o sujeito se coloca em contato com o
outro, ele se transforma. É neste sentido que a compreensão do processo de
desterritorialização, que ocorre durante a viagem, se manifesta como uma parte importante
do processo, o qual tem apoio teórico da Esquizoanálize com a contribuição de Guatarri e
Rolnik (1996).
3
A “potência” a que me refiro está em coerência com o que Suely Rolnik (1996) chama de “corpo vibrátil”,
no livro Cartografia Sentimental, e com as discussões propostas pela física quântica, abordadas,
principalmente, por Fritjof Capra.
4
Uma viagem é uma ruptura do cotidiano e, ao mesmo tempo, um encontro com nossas expectativas de
nossos desejos. Ao nos perderemos no insólito como estrangeiros, “estranhos numa terra estranha”,
talvez busquemos sentido e significados em nosso próprio passado, na experiência de vida construída a
partir do lugar onde nascemos e começamos a entender a vida e suas coisas misteriosas e fascinantes.
Acontece que, enquanto viaja, o sujeito encontra-se mais fragilizado. Tudo é novidade, e o
risco de algo dar errado é grande. Conforme contextualiza Trigo (2013, p. 23),
Chegar à noite em um vilarejo distante, sem a percepção de seus arredores ou cenários, é como
mergulhar em um estado de perda de referências. Então emerge a necessidade atávica de responder
prontamente ao desconhecido que, geralmente, abriga ameaças subliminares e perigos latentes.
É neste cenário de fragilidades, onde tudo (de bom e de ruim) pode acontecer que a viagem
vai transformando o sujeito em algo diferente. As relações com o ambiente, a disposição
das placas na rua, a recepção do hotel, o elevador quebrado... Tudo contribui para o
acionamento de uma ou outra sensação, o que nos leva para a matriz da amorosidade.
Amorosidade é condição de amor. Amor não como aceitação plena e concordância, mas
como “[...] emoção que constitui o domínio de ações em que nossas interações recorrentes
com o outro fazem do outro um legítimo outro na convivência” (Maturana, 1998, p. 22).
Para exercê-la, é necessário construir pontes para o território do outro. Ela pode se
manifestar de diversas formas: nas palavras impressas em um anúncio, no e-mail de
confirmação de reserva do hotel, na cordialidade das aeromoças durante o voo, na
disposição das cadeiras durante o evento...
5
O problema na amorosidade é que ela precisa de uma “pré-condição” para existir, uma vez
que é qualidade inerente de sujeitos e instituições. Sendo assim, depende capacidade de
sentir empatia pelo outro para se fazer presente. No entanto, uma vez que ela existe, é capaz
de acionar, no outro, uma disposição maior para ser amoroso também. Pense em um abraço
caloroso. Aquele demorado, que te envolve como um presente, numa troca de energias. O
abraço dado num momento de fragilidade, que te revigora ao colocar em contato com o
coração de uma forma tão simples.
REFERÊNCIAS
Beni, M. C. (2004). Um outro Turismo é possível? A recriação de uma nova ética. In:
Moesch, M. M. Um outro turismo é possível? (p. 11-24). São Paulo: Contexto.
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Gastal, S. (2005). Turismo, imagens e Imaginários. São Paulo: Aleph.
Guattari, F., & Rolnik, S. (1996). Micropolítica: cartografias do desejo Petrópolis: Vozes.
Moesch, M., & Beni, M. C. (2015). Do discurso sobre a ciência do turismo para a ciência
do turismo. Anais... Seminário da Anptur.