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Caxias do Sul
2019
FICHA TÉCNICA DO EVENTO
COMISSÃO CIENTÍFICA
Felipe Zaltron de Sá
Rosalina Luiza Cassol Schvarstzhaupt
Samara Camilotto
COMISSÃO DE ALIMENTAÇÃO
André Luiz Machado dos Santos
Paloma Garcia Amorim
Vanessa Pacheco de Andrade
COMISSÃO DE COMUNICAÇÃO
Jasmine Pereira Vieira
Morgana Pizzi Moraes
COMISSÃO DE HOSPITALIDADE
Felipe João Gremelmaier
Jóice dos Santos Bernardo
José Almeida dos Santos
COMISSÃO DE LOGÍSTICA
Fabrício Fontana Michelon
Gustavo Luis Toigo
Vanessa Cristina Kukul
COMISSÃO DE SECRETARIA
Franciele Berti
Newton Fernandes de Ávila
Rodrigo José dos Santos
SUMÁRIO
Resumo: Com a importância da vivência multicultural na vida dos jovens, o mercado de educação
estrangeira no Brasil vem apresentando crescimento com o recebimento de intercambistas que
optam pela realização dessa experiência. Assim, este estudo tem o objetivo de analisar a imagem
do Brasil no exterior, bem como se a mesma funciona como atração ou repulsão de intercambistas
estrangeiros. Quanto à metodologia, o estudo se caracteriza por uma pesquisa exploratória e
descritiva, com abordagem qualitativa, tendo como procedimentos técnicos a pesquisa bibliográfica
e de campo junto à intercambistas receptivos estrangeiros e organizações relacionadas. A
pesquisa permitiu constatar que a imagem do país percebida pelos intercambistas vem se
transformando, ou seja, está mais positiva e atrativa e, que o intercâmbio é uma ferramenta muito
importante nesse processo.
1 INTRODUÇÃO
1Bacharel em Turismo pela Universidade Feevale; Novo Hamburgo/RS; Bolsista PAC. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/8747881325638273; E-mail: elianafranciele@hotmail.com.
2Bacharel em Turismo pela Universidade Feevale; Novo Hamburgo/RS; Bolsista PAC. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/9628942005796799; E-mail: karolinenmonteiro@outlook.com.
3Mestre em Turismo; Docente no Curso de Turismo da Universidade Feevale; Novo Hamburgo/RS;
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8900614596171234; E-mail: rgarcia@feevale.br.
4Doutora em Comunicação Social; Pesquisadora e docente no Curso de Turismo e no PPG Indústria
Criativa da Universidade Feevale; Novo Hamburgo/RS; Lattes: http://lattes.cnpq.br/7976259576722028;
E-mail: marysga@feevale.br.
4
(ALFONSO, 2006).
O turismo de intercâmbio pode ser visto como uma atividade geradora de
aprendizado pessoal e profissional capaz de agregar valor teórico-prático e contribuir
para novas práxis do saber-fazer, pois pode-se considerar que as viagens de
intercâmbio têm seu foco na busca de conhecimento.
Este estudo se caracteriza como pesquisa exploratória e descritiva, com
abordagem qualitativa. Quanto aos procedimentos metodológicos, serão utilizadas as
pesquisas bibliográficas e pesquisa de campo por meio de aplicação de questionário
(traduzido para o inglês) direcionado para 160 intercambistas estrangeiros que
realizaram intercâmbio no Brasil, ao qual se buscou compreender as motivações na
escolha do Brasil como destino e a influência da imagem do país na sua decisão. A
amostra dos intercambistas foi composta a partir da indicação de Instituições de
Ensino Superior, agências de intercâmbio e organizações que atuam no segmento,
onde se formatou um mailing para a divulgação e participação. Se deu por meio das
redes sociais como facebook e instagram. A aplicação ocorreu no período
compreendido entre 03 de abril de 2019 e 24 de abril de 2019.
Este artigo está estruturado em partes complementares, sendo que inicialmente
trata da relação turismo e intercâmbio, em seguida sobre a imagem do Brasil, e
apresenta a análise da pesquisa de campo, para finalizar com as considerações finais.
7
doidos de todo o ano, ao total frenesi" (BIGNAMI, 2002, p. 118).
Na década de 1990, a EMBRATUR muda de estratégia, ao invés de vender o
país do futebol, carnaval e samba, passou a destacar um país jovem e moderno,
privilegiado pelas suas belezas naturais e aberto para novos investimentos –
ecoturismo, patrimônio histórico e diversidade cultural (ALFONSO, 2006). Assim, foram
introduzidas imagens de cidades tanto históricas como modernas, paisagens naturais,
festas populares, música e dança, ressaltando o patrimônio brasileiro natural e cultural,
e relacionando o país à natureza exuberante e tropical, ao cuidado, proteção e
valorização da diversidade cultural. Porém, Gastal (2005 apud GOMES, 2012) ressalta
o imaginário como construções mais complexas e duradouras, ou seja, um processo
de longo prazo.
Já em relação a infraestrutura e serviços turísticos no Brasil, de acordo com o
Estudo da Demanda Internacional de 2017, as melhores avaliações são para
hospitalidade, alojamento e gastronomia, enquanto que as piores avaliações são para
telefonia, internet, rodovias e preços de serviços em geral (FIPE, 2018).
Vale ressaltar as recomendações de alguns países em relação ao Brasil - Reino
Unido alerta para a segurança, leis locais e temas relacionados à doenças virais
(GOVERNMENT OF THE UNITED KINGDOM, 2019, tradução nossa), quanto aos
riscos relacionados à segurança pública, níveis de criminalidade incluindo roubos e
homicídios, principalmente nas cidades maiores.
9
Constatou-se que a cultura local destaca-se como a primeira opção de
motivação (32%) para a escolha do Brasil como destino turístico e como segunda
principal opção se destacou o idioma português (27%). Para corroborar os resultados,
os intercambistas foram questionados sobre o grau de influência na escolha do Brasil
como destino do intercâmbio a partir de alguns aspectos motivacionais. Os aspectos
que mais influenciaram foram o estudo de idioma português (72%), o povo brasileiro
(hospitalidade) (69%), diversidade cultural (68%), natureza (61%), e atrativos turísticos
(55%).
Por fim, investigou-se qual era a imagem que os intercambistas tinham do Brasil
antes e depois de realizar o intercâmbio.
Fonte: a autora.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BELTA – Brazilian Educational & Language Travel Association, 2018. Disponível em:
http://www.belta.org.br. Acesso em: 7 abr. 2019.
13
A valorização do butiá na culinária do Rio Grande do Sul
Ana Paula Ferreira da Rosa1
Orientadora: Carmelita Jardim2
Resumo: O butiá é uma fruta obtida através de palmeiras da família Arecaceae, sendo muito
comum sua ocorrência na América do Sul onde é possível encontrar mais de 20 espécies
diferentes da planta (BARBIERI, 2014). Nesta pesquisa, a espécie escolhida para estudo foi a
odorata devido a sua distribuição ser em maior volume no estado do Rio Grande do Sul
(BARBIERI,2014), Estado onde foi realizada a coleta dos dados do presente trabalho. Além disso,
seu uso na culinária ainda é pouco explorado, delimitando-se ao uso na produção de poucos
produtos artesanais e consumo da fruta in natura. Foram escolhidas duas receitas tradicionais para
a realização do presente trabalho: o doce “beijinho” e o ‘’bem-casado”. Nesse contexto, a pesquisa
que está sendo apresentada, buscará reconhecer a importância do butiá como elemento da cultura
gastronômica do Rio Grande do Sul e testar suas características no uso culinário.
1 INTRODUÇÃO
2 JUSTIFICATIVA
3 OBJETIVOS
4 REVISÃO TEÓRICA
15
Nesse sentido, a espécie odorata foi escolhida para a realização da presente pesquisa
por tratar-se um produto local.
Rossato & Barbieri (2007) relatam que os indígenas já utilizavam as folhas do
butiá para a confecção de cestas, chapéus, bolsas, redes, armadilhas para caça e
pesca, e como cobertura de suas habitações. Ainda utilizavam a amêndoa, encontrada
no interior da fruta, comumente denominada coquinho, como base alimentar. Segundo
Barbieri (2009), seu uso permanece para confecção de artesanato mas também na
culinária, na produção de sucos, licores e consumo in natura. Além disso, os frutos das
palmeiras fazem parte da dieta de animais silvestres frutívoros, como canídeos,
roedores e psitacídeos (GALETTI et al., 2003). No entanto, algumas espécies de butiá
já são consideradas em situação de risco de extinção no Rio Grande do Sul
(ROSSATO, 2007).
A monocultura, a criação extensiva de gado e a especulação imobiliária são
responsáveis por grande parte da redução das populações naturais de butiá
(AZAMBUJA, 1978; RIVAS; BARILANI, 2004; RIVAS, 2005; ROSSATO, 2007;
ROSSATO; BARBIERI, 2007). Nesse contexto, para Câmara Cascudo, “em momentos
rituais ou cerimoniais o alimento é um elemento fixador psicológico no plano emocional
e comer certos pratos é ligar-se ao local ou a quem preparou”. Nessa perspectiva, há
uma perda gradativa no que se refere tanto a questões ambientais quanto sociais, pois
coloca em perigo a singularidade e identidade local.
Atualmente, existe interesse crescente em integrar a proteção da diversidade
biológica, os costumes de sociedades tradicionais e a agricultura tradicional
(PRIMACK; RODRIGUES, 2002). Nessa perspectiva, John Irving e Silvia Ceriani
(2013) sugerem que o Slow Food luta pela defesa dos alimentos tradicionais e
sustentáveis de qualidade dos ingredientes primários, pela conservação de métodos
de cultivo e processamento, e pela preservação da biodiversidade tanto de espécies
cultivadas como silvestres. Esse movimento em questão, serviu de inspiração para a
elaboração deste trabalho visto que é cada vez mais recorrente a procura por proteger
tradições como referenciado anteriormente.
Buttow et al (2009) realizaram uma pesquisa com 35 pessoas de procedência
dos municípios de Pelotas e Santa Vitória do Palmar para analisar o conhecimento da
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população local sobre o grupo. Todas reconheciam o uso do fruto como licor e
consumo in natura. Os resultados apontaram que seu uso ainda era restrito. Nesse
sentido, o presente trabalho tem como objetivo avançar na exploração dessas práticas
já bastante difundidas.
No caso do butiá, Rivas (2005) sugere a criação de planos de desenvolvimento
e promoção dos produtos derivados do butiazeiro, defendendo que o uso do butiá por
moradores locais deve ser parte de uma estratégia de conservação da biodiversidade.
Uma exploração mais profunda do seu uso culinário poderá proporcionar maior
valorização de um produto local e a criação de uma nova cultura de consumo,
construindo, portanto, um elo entre a agricultura local e o consumidor.
Nessa perspectiva, visando a valorização do fruto, o município de Giruá-RS
sediou a 9ª Festa do Butiá – Edição Internacional, que ocorreu entre os dias 5 a 8 de
março de 2015, e que contou com a exposição de artesanatos, bebidas, comidas
típicas e a realização do 1º Festival “Um Canto de Amor à Giruá” e do 4º concurso
gastronômico “Balaio de Sabores” (BARBIERI; NORONHA; JUNIOR, 2015).
Aditivamente, outra medida para a valorização e preservação desse fruto, é através de
encontros anuais para debate do tema e compartilhamento de experiências. Nesse
contexto, a Embrapa Clima Temperado promoveu, em 2018, o “II Encontro da Rota
dos Butiazais” em Pelotas-RS. Em edição mais recente, o evento conta com uma rede
de colabores como artesãos, acadêmicos e pesquisadores que partilham de suas
afinidades com o desenvolvimento do butiá, busca promover o fruto e ressaltar sua
importância no contexto da cultura local.
Segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, há uma demanda
crescente dos brasileiros por alimentos com valor nutricional agregado. Nessa
perspectiva, de acordo com Franco (1999), o butiá apresenta em 100 gramas de polpa
cerca de 11,4 gramas de glicídios, 1,8 gramas de proteína, 1,5 gramas de lipídios, 23
miligramas de cálcio, 24 miligramas de fósforo, 40 miligramas de tiamina e riboflavina,
além de ser boa fonte de vitamina C (33 mg/100g). Nesse viés, relata- se que o fruto
pode ser utilizado desde matéria prima de objetos até a manutenção da saúde de um
indivíduo.
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Na tese “Da flora medicinal do Rio Grande do Sul”, Manuel Cypriano D'Ávila
(1910) descreveu as plantas medicinais de uso corrente na época para o Estado do
Rio Grande do Sul. Mesmo assim, essas espécies continuam sendo pouco conhecidas
em termos de composição físico-química (MENTZ et al., 1997). Nessa perspectiva,
nota-se um desconhecimento do fruto com potencial nutritivo e é preciso, portanto, a
divulgação da importância tanto social quanto nutricional do butiá odorata. Portanto, é
de suma importância levantar dados de um fruto que forma a singularidade de um
povo a fim de fortalecer sua cultura.
Foram escolhidas duas receitas tradicionais portuguesas para compor este
trabalho, dentre elas o “beijinho” e o “bem casado”. Suas origens vêm a partir de 1824.
Com adversidades passadas pelas ordens religiosas em Portugal, os conventos
começaram a comercializar os doces feitos pelas freiras como forma de minimizar a
crise financeira. Com isso, suas receitas saíram dos mosteiros e começaram a ser
passadas para a população em geral. Com isso, iniciou-se o processo de transmissão
de receitas de geração para geração. Segundo o Museu do Doce da cidade de Porto,
existe um significado das cores da maioria dos doces tradicionais. O amarelo das
gemas simboliza a luz do sol, alegria e riqueza. Posteriormente, também temos a cor
branca, que simboliza a paz, a pureza, o amor de Deus e o equilíbrio espiritual.
O bem casado português descende do alfajor árabe e do macarron francês. Sua
semelhança se dá no fato de um recheio unir duas partes de uma massa. Segundo a
“Imperatriz Doces Finos”, o bem casado tradicional é composto por dois discos de pão
de ló unidos por um recheio de ovos moles e cobertos de foundant. Além disso, é
finalizado com a decoração de confetes prateados. No Brasil, pode-se encontrar
versões que não levam foundant como cobertura e os recheios podem variar conforme
a região. Exemplo disso são as versões recheadas com doce de leite e baba de moça.
Na primeira metade do século XIX, os conventos portugueses foram proibidos de
esmolar dinheiro para seu sustento e então, começaram a ensinar as receitas dos
doces para a população e foram criados doces especiais para acompanhar
festividades do calendário Litúrgico (CONSIGLIERI; ABEL, 1999). Nesse sentido,
muitos religiosos se revoltaram com essa situação, começaram a confeccionar doces
com nomes simbólicos e apelativos como: “beijinho”, “suspiro”, “bem casado” e
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“casadinho”. Nesse contexto, o bem casado se tornou uma lembrança tradicional dos
casamentos, oferecida a cada convidado quando o mesmo estiver deixando a
festividade. Além disso, acredita-se que toda pessoa que saborear o doce, estará
sendo agraciada da mesma sorte.
Na presente pesquisa, foi reproduzida uma criação de uma sobremesa a partir
das técnicas da doçaria, bem como uma releitura de um doce tradicional de origem
portuguesa.
5 METODOLOGIA
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do prato, os elementos se compõem propositalmente para o comensal poder ter uma
experiência de colheita da fruta. Escolheu-se trazer um ar de natureza e delicadeza
através de seus elementos.
Abaixo está representada uma imagem da preparação tradicional e
posteriormente da releitura:
20
Figura 3 – tradicional Figura 4 – Releitura
Fonte: Dulla
D'ÁVILA, Manuel Cypriano. Da flora medicinal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre:
Typographia Gutenberg, 1910. 155 p.
21
MENTZ, L.A., LUTZEMBERGER, L.C., SCHENKEL, E.P. Da flora medicinal do Rio
Grande do Sul: Notas sobre a obra de D’Ávila (1910). Caderno de Farmácia, v.
13, n. 1, p. 25-48, 1997.
22
Café com Turismo: novos processos de ensino-
aprendizagem a partir de projetos de ensino
Renata Duarte1
Orientadora: Laura Rudzewicz2
Orientadora: Caroline Ciliane Ceretta3
Resumo: Este artigo trata da busca por novas formas de ensino-aprendizagem no ensino superior em
Turismo, que possam dar conta da multidimensionalidade e interdisciplinaridade do fenômeno para além
da sala de aula. A partir do caso do projeto de ensino Café com Turismo, desenvolvido no Curso de
Bacharelado em Turismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), pretende-se refletir de que forma
este formato de evento têm influenciado no processo de ensino-aprendizagem, oportunizando a troca de
experiências entre discentes, egressos, docentes e interessados no tema, na tentativa de aproximar a
universidade e o mundo do trabalho. A pesquisa caracteriza-se pela abordagem qualitativa, do tipo
exploratória-descritiva, e a coleta de dados ocorreu a partir da observação participante, com análise dos
registros de memória do evento. Identificou-se um grande interesse dos participantes pelas temáticas
abordadas, as quais perpassam as diversas áreas e dimensões do Turismo, gerando debates e
intercâmbios de experiências entre os diferentes públicos envolvidos.
1 INTRODUÇÃO
24
interações e debates surgidos entre os participantes, durante as quatro primeiras
edições do Café com Turismo, ocorridas entre os meses de maio e agosto de 2019.
Com isso, pretende-se repensar outros processos de ensino-aprendizagem para
além da sala de aula, que sejam capazes de interseccionar a prática com o currículo
acadêmico, levando também ao enfrentamento da evasão na universidade.
25
Esse reaquecimento da atividade turística no país reafirma a sua importância
econômico-social como geradora de emprego e renda, o que desperta nas
instituições de ensino o interesse pela implantação de cursos superiores de Turismo,
visando atender as necessidades do setor.
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3 O PROJETO DE ENSINO CAFÉ COM TURISMO
O projeto de ensino Café com Turismo surge no ano de 2019 a partir de uma
demanda dos discentes do Curso de Bacharelado em Turismo da Universidade
Federal de Pelotas (UFPel), por um maior diálogo sobre a formação e a amplitude das
áreas de atuação do turismólogo, permitindo uma aproximação entre discentes,
docentes e o mundo do trabalho. Egressos do curso são convidados para trazer
relatos sobre sua trajetória acadêmico-profissional, e, a partir disso, dá-se início aos
diálogos e trocas de experiências, que culminam em um café comunitário, permitindo
ampliar as interações entre os públicos envolvidos.
O projeto efetiva-se a partir da realização de eventos mensais, em colaboração
com outro projeto de ensino denominado Escritório de Eventos, esse que visa
proporcionar práticas voltadas à organização de eventos aos discentes. Dessa forma,
o Café com Turismo também propicia aos alunos voluntários a oportunidade de
participar dos processos de pré, trans e pós-evento, relacionando teoria e prática
vinculada à disciplina de Gestão de Eventos.
As quatro primeiras edições abordaram temas diferenciados como: turismo e
desenvolvimento rural, meios de hospedagem, agências de viagens e eventos. As
palestras foram ministradas por egressos do curso que se dispuseram a compartilhar
suas experiências como turismólogos, trazendo também reflexões sobre como a
graduação influiu em suas atuais ocupações. Após, abriu-se um tempo para
questionamentos, possibilitando a interação entre egressos, alunos em formação,
docentes e outros participantes.
Na primeira edição, ocorrida no mês de maio, a temática envolveu o turismo
rural, com a presença de uma egressa que atua na Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Rural de Pelotas. Os participantes manifestaram interesse pela
ampliação do turismo nas áreas rurais do município, a partir da exposição da
palestrante quanto à expansão das feiras e festas na colônia de Pelotas, e lançaram
questionamentos quanto às preocupações com a sustentabilidade e os impactos
gerados pelos visitantes no meio rural. Para Sogayar e Rejowski (2011), ainda que o
turismo tenha sido majoritariamente ensinado, vivenciado e debatido a partir de uma
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concepção de atividade econômica, torna-se fundamental ressaltar suas ações e
impactos no ambiente de forma política, social e ambiental, sem deixar de lado a
importância econômica que as atividades turísticas possuem. Dessa forma, os
participantes demonstram um entendimento das múltiplas dimensões do Turismo, a
partir do debate sobre as relações com o ambiente rural, sendo este apontado como
temática de interesse dos discentes também nas edições seguintes.
Com abordagem referente ao setor hoteleiro, a segunda edição do evento,
ocorrida no mês de junho, contou com duas palestrantes que atuam na recepção de
um hotel em Pelotas. O tema atraiu a atenção dos participantes principalmente por ser
uma das áreas de atuação mais propícias na cidade, devido à dinamização e
expansão do setor nos últimos anos. As convidadas relataram sua percepção de que o
setor hoteleiro reconhece o turista de negócios como seu principal público, devido à
localização estratégica entre Porto Alegre e outros municípios pertencentes à Região
Turística Costa Doce, o que mantém as taxas de ocupação mais expressivas durante
a semana. Em razão disso, perguntas referentes à empregabilidade em meios de
hospedagem se fizeram presentes, e as palestrantes destacaram que há um crescente
reconhecimento do graduado em Turismo no setor hoteleiro local. As estratégias
adotadas pela gerência para lidar com a sazonalidade turística em Pelotas estiveram
em pauta, uma vez que foram apontados como os períodos de maior fluxo na cidade
aqueles relativos aos eventos Feira Nacional do Doce (Fenadoce), Feira do Livro e
Festival Internacional Sesc de Música.
A temática de agências de viagens, presente na terceira edição, ocorrida em
julho de 2019, ainda que envolva uma das principais áreas de atuação para o
turismólogo, despertou grande interesse por parte dos participantes a partir do debate
quanto às diferenças da função profissional de um turismólogo e de um guia de
turismo, sendo ressaltada pelo palestrante a possibilidade de integração de ambas as
formações como um diferencial do profissional. Ao longo da roda de conversa, mais
uma vez a sazonalidade turística foi abordada, neste momento em razão dos destinos
turísticos mais procurados em determinados períodos do ano, evidenciando também a
necessidade de adaptação da oferta frente à crise econômica dos últimos anos,
quando passaram a operar mais os pacotes rodoviários para destinos nacionais e
28
internacionais (principalmente Uruguai e Argentina). Além disso, foi questionado sobre
o perfil da agência de viagem, quando o palestrante relatou o foco maior no tipo
emissivo, pois não recebem muita demanda para o receptivo em Pelotas e região.
Da mesma maneira, as dificuldades encontradas pelos egressos ao se deparar
com o mundo do trabalho após a graduação foi um questionamento recorrente na
segunda e na terceira edição do Café com Turismo. Os acadêmicos se mostraram
preocupados com relação às perspectivas de futuro para além da docência, uma
problemática também evidenciada por Silveira, Medaglia e Gândara (2012) que o
incentivo para consolidação da área de formação não se equilibrou ao longo dos anos
com o incentivo à conformação do mercado para o profissional egresso.
A quarta edição, ocorrida no mês de agosto de 2019, se mostrou como uma
das mais esperadas pelos participantes, de acordo com relatos destes, por envolver a
temática de eventos. Esse segmento que demonstra considerável crescimento e
expansão nos últimos anos, atuando no mercado de festas, reuniões e shows (SILVA,
2019), gerou debates a respeito das maiores dificuldades ao organizar eventos em
pequena e grande escala, as contribuições que a graduação em Turismo tiveram ao
atuar em gestão de eventos e igualmente a grande demanda de eventos existentes na
cidade de Pelotas.
Em todas as quatro primeiras edições foi presente o relato dos egressos a
respeito da importância da participação enquanto discentes nas diferentes atividades
acadêmicas. Eles evidenciaram que a experiência em projetos de pesquisa, ensino e
extensão ao longo da graduação contribuiu significativamente em sua inserção no
mundo do trabalho.
A adesão dos discentes e o interesse demonstrado pelas diferentes temáticas
abordadas até o momento, indicam a relevância da proposta no processo de ensino-
aprendizagem. O Café com Turismo tem possibilitado ao aluno em formação entrar em
contato com algumas das plurais e dinâmicas áreas e formas de atuação do Bacharel
em Turismo na sociedade, bem como compreender as múltiplas dimensões e o caráter
interdisciplinar do fenômeno, a partir da participação em atividades acadêmicas que
transcendem a sala de aula.
29
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do caso do projeto de ensino Café com Turismo, é possível refletir sobre
a importância de estimular diferentes processos de ensino-aprendizagem no ensino do
Turismo, aproximado a teoria e a prática, o mundo do trabalho e a universidade. O
envolvimento não somente de discentes e docentes, mas também de egressos e
outros interessados no tema, tem proporcionado debates e trocas de experiências
significativas sobre a pluralidade e as múltiplas facetas da área do Turismo no âmbito
do Curso de Bacharelado em Turismo da UFPel.
Este estudo limitou-se aos registros de memórias das primeiras edições do
evento, o que se pretende dar continuidade no presente ano. Houveram dificuldades
na busca por outros estudos que abordam diferentes metodologias de ensino em
Turismo, para além das atividades curriculares.
Ressalta-se a necessidade de prosseguir com iniciativas como essas, que
propiciem novos tempos e espaços de diálogo e criação de relações, oferecendo aos
acadêmicos a oportunidade de compreender a diversidade de possibilidades da
atuação em Turismo, bem como entender as problemáticas e os diferentes núcleos de
interesse que se modificam ao longo dos anos.
REFERÊNCIAS
30
SEIXAS, E. P. A. et al. Dificuldades e desafios na aplicação de metodologias ativas no
ensino de turismo: Um estudo em Instituição de Ensino Superior. Revista Turismo -
Visão e Ação, Balneário Camboriú, v. 19, n. 3, set./dez. 2017.
31
Estudo de possibilidades turísticas: Art Deco em Caxias do
Sul - RS
Marina de Mello Boschetti1
Thaise Zattera Marchesini2
William da Silva Denis3
Orientador: Pedro de Alcântara Bittencourt César4
Resumo: Reconhece o Art Deco como uma importante manifestação arquitetônica em Caxias do Sul
para o uso turístico. Edificações de destaque na localidade, como a Igreja de São Pelegrino, fazem parte
do movimento e têm seu potencial turístico pouco explorado. Nesta pesquisa realizou-se a identificação
de pontos âncora, categoria que inclui atrações turísticas consolidadas e edificações tombadas
relevantes, que possuem determinado grau de valorização pelo poder público. A partir desses pontos,
foram gerados recortes cartográficos para o reconhecimento de edificações Deco inventariadas. Os
edifícios selecionados foram analisados a partir de parâmetros que avaliam suas condições de
conservação, acesso e possibilidade de visitação, tentando identificar seu potencial turístico. A coleta
dessas informações foi organizada usando mapeamentos, com o objetivo de identificar os melhores
caminhos para a ligação dos edifícios. Com base nesses dados será possível compreender a relação
existente entre os pontos e determinar a viabilidade desse empreendimento.
1 INTRODUÇÃO
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
33
diversos ao visitante, e soma-se a eles o reconhecimento da existência de trabalho de
interpretação patrimonial. Confronta-se estes dados com estudo de possibilidades de
trajeto e elaboração de novos roteiros possíveis, identificando o papel do estilo
arquitetônico como a definição do espaço turístico local, tendo como principal atrativo
o legado cultural da época.
Para atender o objetivo de reconhecer um processo de formação turística e
retratar esta sua formação como roteiro, tem como suporte a um levantamento de
material cartográfico para a definição de um recorte. Desta maneira, identifica-se o
processo de formação do turismo local através de pesquisa que retrata parte do
desenvolvimento histórico de Caxias do Sul e região.
Assim, reforça-se por lógicas memoriais o papel destes marcos arquitetônicos
no contexto geral da região. Destaca-se o seu papel como referência no turismo uma
das principais atrações do município, a Igreja de São Pelegrino, utilizado como ponto
de partida neste trabalho, por conter base consolidada de infraestrutura para turismo,
gerando o entendimento da possibilidade de um roteiro Deco.
3 DISCUSSÃO
O Art Deco pode ser associado a crise econômica que aflige a Europa depois
da Primeira Guerra Mundial. A mentalidade do período passa a ver as linhas
requintadas dos estilos anteriores como o Art Nouveau, como frivolidade, passando a
favorecer um estilo tendendo aos volumes geometrizados (GALLAS, 2013). No Brasil,
o Art Deco se manifestou a partir do final da década de 1920, principalmente no Rio de
Janeiro e em São Paulo. As principais características do período são: simetria, com
valorização do acesso e da esquina, tripartição entre base, corpo e coroamento,
predominância de cheios sobre vazios, planos horizontais e verticais fortemente
definidos e sobreposição de volumes geometrizados (CZAJKOWSKI, 2000).
O Art Deco foi amplamente praticado em Caxias do Sul, principalmente no seu
centro consolidado, de forma pontual. Para fins de pesquisa, foram selecionados
34
locais, definidos aqui como pontos âncora, que geram diferentes zonas de
abrangência. São eles dois espaços já consolidados como pontos turísticos na cidade,
ou mesmo em outras áreas. Soma-se os edifícios tombados, que já possuem certa
valorização pelo poder público. No primeiro grupo, aponta-se a Igreja de São Pelegrino
e a Praça Dante Alighieri. Na segunda categoria ingressam a Metalúrgica Eberle, Auto
Palácio, Campus 8 da Universidade de Caxias do Sul e Igreja Matriz de Galópolis. A
partir desses recortes, foram selecionadas 14 outras edificações, todas inventariadas
pela Prefeitura de Caxias do Sul, que fazem parte do período em questão. Determina
assim, por áreas de influência o inventário dos objetos arquitetônicos trabalhados.
36
3.3 SETORIZAÇÃO
37
3.4 ESTADO DE CONSERVAÇÃO
38
possui um programa de interpretação turística implantado atualmente. A igreja de São
Pelegrino, por exemplo, está aberta para a visitação no ano todo, porém não conta
com guias ou materiais informativos sem uma prévia requisição.
4 PROPOSTA DE TRAJETO
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
39
ALBANO, 2002).
O objetivo de elaborar um roteiro turístico com a temática Art Déco em Caxias
do Sul ainda não foi completamente alcançado. Se faz necessário um estudo mais
aprofundado sobre cada edificação, além de suas condições e possíveis atrativos
turísticos.
REFERÊNCIAS
GALLAS, A. O.G. Art Déco: Europa, Estados Unidos, Brasil. São Paulo: Do Autor,
2013.
LYNCH, K. A imagem da cidade. 3. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011.
40
Fatores impeditivos à realização da Mobilidade Acadêmica
Internacional em um Curso de Bacharelado em Turismo: O
caso da Universidade de Caxias do Sul
Patricia Carvalheiro Pereira1
Orientador: Michel Bregolin2
Resumo: A busca por experiências internacionais está em constante crescimento na sociedade. Por
essa razão, as Instituições de Ensino Superior fortalecem suas parcerias e cooperações com o exterior
por meio dos processos de internacionalização, visando possibilitar aos seus docentes e discentes a
participação em Programas de Mobilidade Acadêmica Internacional. Contudo, mesmo perante a
existência de uma maior quantidade de convênios de colaboração celebrados, somente uma parcela
restrita dos acadêmicos consegue aproveitar essas oportunidades de aprendizagem intercultural. Diante
disso, o presente estudo tem como objetivo principal caracterizar os fatores impeditivos à realização da
Mobilidade Acadêmica Internacional por alunos do Curso de Bacharelado em Turismo da Universidade
de Caxias do Sul. Para alcançar esse objetivo, foi realizada uma pesquisa exploratória de caráter
descritivo a partir da qual verificou-se que as restrições financeiras e a falta de domínio do idioma
estrangeiro são os principais fatores impeditivos à realização desse tipo de mobilidade.
1 INTRODUÇÃO
Uma das primeiras definições científicas de Turismo surgiu em 1911, quando foi
definido como sendo uma atividade “[...] que compreende todos os processos,
especialmente os econômicos, que se manifestam na chegada, na permanência e na
saída do turista de um determinado município, país ou estado” (SCHATTENHOFEN
apud BARRETTO, 2000, p. 9). A proposição dessa definição evidencia o
reconhecimento da importância das viagens pela sociedade, pois ao longo da história
diferentes conquistas tecnológicas e sociais ampliaram a importância do fenômeno.
O estudo da história do Turismo possibilita identificar que em cada uma das
suas fases, diferentes tipologias de viagens e viajantes destacaram-se.
Especificamente em relação ao foco desta pesquisa, envolvendo viagens com
propósito de aprendizagem intercultural, ressalta-se como antecedentes históricos
alguns movimentos anteriores ao Turismo Moderno.
Sobre as viagens com finalidade educacional, Barretto (2000) comenta que no
século XVI houve um período durante o qual viagens para outros países realizadas por
parte de jovens da classe nobre (ricos) junto de seu tutor particular se tornaram mais
frequentes. Essas viagens tinham como objetivo permitir que os jovens tivessem
experiências internacionais que lhes preparassem para exercer suas funções
profissionais e sociais e concedesse uma maior autonomia na volta aos seus locais de
origem.
Assim sendo, durante esse período destacaram-se movimentos como o Grand
42
Tour e o Petit Tour que consistiam em viagens de jovens para Itália e para Paris,
respectivamente (BARRETTO, 2000). A essência dessas viagens era a busca pelo
conhecimento e por novas experiências e culturas, situação que perdura até hoje e que
é reconhecida atualmente com rótulos como Turismo de Intercâmbio e Turismo
Acadêmico.
Uma das definições sobre o Turismo de Intercâmbio é “[...] a realização de uma
viagem ao exterior com o propósito de conhecer os costumes, tradições, tecnologias e
o idioma de um país estrangeiro [...]” (DONÉ; GASTAL, 2012, p. 3). Nessa perspectiva,
a tipologia Turismo de Intercâmbio tem relação com a vivência em outros países,
aperfeiçoamento do idioma e convivência com os costumes locais, sendo normalmente
realizado por meio de agências de viagens especializadas. Já o Turismo Acadêmico é
caracterizado como:
43
cooperação como um estímulo para o aperfeiçoamento do ensino e da pesquisa e que
possibilitam o desenvolvimento dos países e da qualidade de vida das pessoas
(STALLIVIERI, 2004). Logo, a internacionalização das instituições de ensino superior
contribui para o desenvolvimento das nações e da sociedade possuindo como
fundamento o ensino.
1 Programa de Mobilidade Acadêmica Internacional - PMAI (de 180 até 360 dias).
2 Programa UCS - Viagens do Conhecimento (de 10 até 15 dias).
44
4 FATORES IMPEDITIVOS À REALIZAÇÃO DE EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS
POR ACADÊMICOS
45
Conforme se constata na Tabela 1, os pesquisadores identificaram o fator
financeiro como o principal motivo para os alunos jamais terem feito a mobilidade
acadêmica. Além disso, Dutra e Maranhão (2017) destacaram em seu estudo o baixo
grau de conhecimento dos participantes sobre os Programas de Mobilidade
Acadêmica Internacional oferecidos na instituição. A partir desses resultados, buscou-
se verificar como isso ocorria no Curso de Bacharelado em Turismo da UCS.
5 METODOLOGIA
46
Os dados obtidos foram então analisados por meio de uma análise
comparativa com os dados de Dutra e Maranhão (2017). Contudo, ressalta-se que o
questionário trabalhou com questões abertas sobre os fatores, sendo as respostas
aglutinadas posteriormente em categorias para comparação com os resultados do
estudo citado.
6 RESULTADOS
47
recursos financeiros, com 46% das respostas. Além disso, destacam-se também a
falta de tempo com 15%, seguido por falta de domínio do idioma e compromissos com
trabalho e a faculdade com 10% cada.
48
oportunidades internacionais e necessitam de conhecimento sobre os programas de
mobilidade acadêmica.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
50
Intercâmbio de Voluntariado: a percepção de
intercambistas brasileiros em relação às suas viagens
Karoline Natália Monteiro1
Eliana Franciele Buhs2
Orientadora: Roslaine Kovalczuk de Oliveira Garcia3
Orientadora: Mary Sandra Guerra Ashton4
Resumo: O Voluntariado envolve ações que visam a melhoria da vida em comum e trazem benefícios
para os indivíduos que o praticam e para aqueles que o recebem. O Turismo de Intercâmbio e do
Voluntariado surge no mercado de viagens como uma modalidade em que o turista busca praticar
ações de voluntariado no destino visitado. Assim, esse estudo tem por objetivo investigar a percepção
de intercambistas brasileiros em relação às suas viagens de turismo voluntário e se o mesmo pode
ser considerado uma tendência no mercado turístico. Quanto à metodologia, esta pesquisa
caracteriza-se como exploratória e descritiva com abordagem qualitativa, tendo como procedimentos
técnicos a pesquisa bibliográfica e o estudo de campo com aplicação de questionários junto a um
grupo de intercambistas brasileiros que já realizaram viagens de turismo voluntário. Entre os
resultados se observou que os intercambistas participantes desta pesquisa consideraram muito
importante a realização do voluntariado, em razão do sentimento de realização pessoal, podendo ser
considerado entre as tendências do mercado de intercâmbios.
1 INTRODUÇÃO
2 METODOLOGIA
3 INTERCÂMBIO DE VOLUNTARIADO
52
turísticas interagindo de forma ativa em uma experiência de vida (NASCIMENTO,
2012).
A importância do voluntariado ganhou maior evidência quando a
Organização das Nações Unidas (ONU) definiu o ano de 2001 como o Ano
Internacional dos Voluntários (AIV). O Relatório sobre o Estado do Voluntariado
Mundial: Valores universais para o bem-estar global (VNU, 2011, p. 10) evidencia
que “essa resolução trouxe muitas recomendações de políticas para os governos,
entidades das Nações Unidas e Organizações não governamentais – ONGs1, sobre
outras maneiras de promover e apoiar o voluntariado”. Portanto, o ano de 2001 pode
ser considerado um ano relevante e de grandes progressos na história do
voluntariado.
55
nutrição e promover a agricultura sustentável; 3. Assegurar uma vida saudável e
promover o bem-estar para todos, em todas as idades; 4. Assegurar a educação
inclusiva, equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao
longo da vida para todos; 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as
mulheres e meninas; 6. Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e
saneamento para todos; 7. Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a
preço acessível à energia para todos; 8. Promover o crescimento econômico
sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente
para todos; 9. Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização
inclusiva e sustentável e fomentar a inovação; 10. Reduzir a desigualdade dentro
dos países e entre eles; 11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos
inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis; 12. Assegurar padrões de produção e
de consumo sustentáveis; 13. Tomar medidas urgentes para combater a mudança
climática e seus impactos; 14. Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos
mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável; 15. Proteger,
recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma
sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da
terra e deter a perda de biodiversidade; 16. Promover sociedades pacíficas e
inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para
todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis;
17. Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o
desenvolvimento sustentável.
De acordo com o Ministério do Turismo (BRASIL, 2018a), “o turismo será um
importante aliado no alcance dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS)”, pois o turismo é visto como setor potencial para o desenvolvimento
sustentável. Para a ONU (2017), a Unesco e o Banco Mundial a cultura e o turismo
são ferramentas para o desenvolvimento sustentável. Desse modo, o turismo de
voluntariado aliado aos objetivos da ONU pode dar conta de ações e práticas
contribuindo para o desenvolvimento.
56
4 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
57
conhecia lugares e uma cultura completamente diferente, foi muito enriquecedor. Acredito que o
intercâmbio de voluntariado foi uma forma de dar propósito para a viagem e gerou uma grande
transformação pessoal”.
“Acredito que o Intercambio de trabalho voluntário seja uma boa forma de realizar algo bom para o
país que você está visitando e ao mesmo tempo conhecer outra cultura e outro idioma, trazendo
benefício para as duas partes”.
“Sou apaixonado por esse tipo de viagem e acredito que tenha um grande impacto social contanto
que o voluntário vá para um projeto confiável e que esteja realmente engajado na causa que vai
participar. Importante é sempre empoderar as comunidades locais para que eles não precisem mais
de você”.
“Unir turismo ao voluntariado torna a viagem para o exterior realmente completa, possibilita te imergir
culturalmente e conhecer profundamente os costumes do país que você está visitando de uma forma
que não aconteceria sem o voluntariado. Além de possibilitar um crescimento pessoal e aprendizado
muito grande. É uma viagem completa”.
“Foi uma experiência maravilhosa, recomendo a todos fazerem isso uma vez na vida”.
“Me fez ser uma pessoa muito melhor! Crescimento espiritual e profissional”.
“O trabalho voluntário com as crianças em comunidades carentes me impactou muito, tanto do ponto
de vista da escassez ao qual eles se encontravam, como o quanto eles foram amorosos e me fizeram
sentir tão importante mesmo com todas as diferenças culturais, já a parte do turismo me permitiu ver
o quanto o mundo é grande, quantas coisas tem para serem exploradas e descobertas, e como isso
muda a minha forma de ver o mundo como um todo, a minha visão sobre a vida, o que eu quero ser e
ter, agora e no futuro, e o que pra mim foi a lição mais importante que eu pude aprender: o quanto a
vida pode ser leve, simples e bela”.
“Se eu pudesse eu pagaria para que todos fizessem! Porque não tem tipo melhor de viagem e forma
de viver outro país/cultura”.
“Ótima maneira para conhecer de verdade a cultura de um país deixando, ao mesmo tempo, uma
marca positiva e que fará diferença na vida de muitos”.
“Acredito que descrever a experiência seja algo impossível. Apenas quem viveu aquilo sabe tudo que
aprendeu e sentiu. A única coisa que posso dizer é que voltei outra pessoa, cresci como seu humano,
como filha e como estudante. É transformador”.
“É uma viagem transformadora, além de contribuir de alguma forma com uma causa muito legal, você
conhece uma outra cultura. Mas acredito que a forma como vemos o mundo depois desse tipo de
viagem é a parte que mais vale a pena!”
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
61
Interferências do Turismo em Ouro Preto/MG: Uma reflexão
sobre o Turismo de Massa
Ana Júlia Gueiros1
Luiz Felipe Oliveira2
Rosemárcia Ribeiro dos Santos3
Orientadora: Helena Catão Henriques Ferreira4
1 INTRODUÇÃO
63
poderia enriquecer mais ainda o trabalho.
64
mineração. A partir de uma pesquisa de campo realizada por Machado e Alves (2013),
45% da população já havia tido algum envolvimento com a atividade turística na
cidade.
O turismo, segunda principal atividade econômica da cidade de acordo com a
Setur MG (2018b), é gerido em âmbito municipal pela Secretaria Municipal de Cultura
e Turismo, e em âmbito estadual, pela Secretaria de Estado de Turismo de Minas
Gerais - Setur MG. O município trabalha com o projeto Circuitos Turísticos1, que se
assemelha a ideia de municipalização e regionalização do turismo2, em que são
reunidos municípios que possuem características culturais, sociais e econômicas
parecidas para desenvolverem a atividade turística consolidada nessa determinada
região. O trabalho vem sendo desenvolvido desde 2001, podendo servir de exemplo
para os demais estados brasileiros (SETUR-MG, 2018a). Ainda consoante com a
Setur (2018a), o estado trabalha com 46 circuitos turísticos, abrangendo 600 dos 853
municípios do estado de Minas Gerais.
O site oficial da Setur é rico em informações, inclusive de dados estatísticos
do turismo no estado, gerenciados pelo Observatório de Turismo de Minas Gerais,
que contém boletins, indicadores sobre a movimentação de turistas no estado,
pesquisas em eventos e estudos.
Em Ouro Preto, especificamente, há o predomínio do Turismo Cultural,
Natural e de Eventos, de acordo com a Setur- MG (2018b). Isso se deve ao fato de
ser uma cidade universitária, o que atrai muitos eventos acadêmicos e científicos para
a cidade.
1 Os Circuitos Turísticos são a instância de governança regional integrados por municípios de uma
mesma região com afinidades culturais, sociais e econômicas, que se unem para organizar,
desenvolver e consolidar a atividade turística local e regional de forma sustentável, regionalizada e
descentralizada, com a participação da sociedade civil e do setor privado. Os Circuitos Turísticos
obtiveram seu reconhecimento com a publicação do Decreto Estadual n°43.321/2003 e pela Lei nº
22.765/2017, que instituí a Política Estadual de Turismo.
Disponível em: http://www.turismo.mg.gov.br/circuitos-turisticos/informacoes-administrativas.
2 Disponível em:
http://www.turismo.gov.br/images/programas_acoes_home/PROGRAMA_DE_REGIONALIZACAO_D
O_TURISMO_-_DIRETRIZES.pdf.
65
3 INTERFERÊNCIAS DO TURISMO
66
artesanato, procurar saber de sua história de vida e saberes. A autora defende que a
atividade precisa ser estudada dentro de sua totalidade, logo, abordando aspectos
econômicos, ambientais e sociais, para assim, então, poder ser considerado como
sustentável para o destino, o que também é preconizado pelas concepções de
Turismo de Base Comunitária, que de acordo com Irving (2009) é o tipo de turismo
que promove a qualidade de vida, o sentido de inclusão, a valorização da cultura local
e o sentimento de pertencimento dos moradores locais; e, ainda, o encontro e a
oportunidade de troca de experiências entre o morador local e o visitante.
Dentre as diversas interferências sociais negativas estudadas, será
destacada, no presente trabalho, a massificação de destinos, que pode prejudicar
tanto a comunidade receptora e seus recursos, quanto à experiência do visitante,
gerando estresse para ambas as partes.
Observando a massificação do destino para a comunidade e seus recursos,
percebe-se que quando há muitos turistas em um local sensível, como destinos com
patrimônio ambiental e cultural relevante (inclusive com bens tombados ou
salvaguardados), a visitação intensa a esses locais pode contribuir decisivamente
para sua deterioração. Isto se dá principalmente quando pensamos que, quando uma
cidade está cheia demais, perde-se o controle sobre o comportamento das pessoas,
como elas estão visitando, se estão ou não respeitando regras impostas para a
visitação e conservação do destino.
Contudo, para os turistas, a experiência também acaba sendo ruim, pois com
um grande número de pessoas, ele não conseguirá desfrutar de maneira mais
completa os atrativos e a cultura da comunidade e os empresários locais não darão
conta de prestar um bom atendimento a todos. Isso pode também produzir uma
imagem ruim do destino, visto que o visitante terá suas expectativas frustradas e,
graças às redes sociais, terá facilidade de divulgar amplamente de modo negativo sua
experiência, inclusive para outros países, fazendo com que muitas pessoas, tendo
acesso a essas informações, possam questionar a validade de visitar o destino.
67
4 OBSERVAÇÕES SOBRE O TURISMO EM OURO PRETO
68
Um fato que também chamou a atenção dos autores deste texto foi o
comportamento de alguns visitantes e até de guias que, apesar da presença de placas
orientando a não tocar nas obras, o faziam, mostrando o despreparo para a condução
da visita. Esse tipo de comportamento dá espaço para que os visitantes também
tenham esse tipo de atitude, o que contribui para a degradação do patrimônio.
Toda essa movimentação excessiva também foi observada no Museu da
Casa dos Contos, que possuía um espaço físico muito exígua para a exposição, e
mesmo um número excessivo de visitantes ao mesmo tempo. Observou-se
novamente a confusão dos guias falando ao mesmo tempo e de pessoas circulando
em frente da exposição enquanto outros visitantes tentavam contemplar a exposição
e ler os textos explicativos. No subsolo, porém, havia um controle maior. Um guarda
organizava a entrada dos visitantes e fiscalizava seu comportamento com relação às
fotografias e ao hábito de tocar nas obras.
Por outro lado, observou-se que a infraestrutura da cidade se mantém
conservada, desde edifícios e construções, que em grande parte apresentam boa
aparência e manutenção, até patrimônios históricos que se configuram como grandes
atrativos para visitação turística local. Embora a cidade de um modo geral estivesse
cheia e principalmente alguns atrativos apresentassem um grande número de
visitantes, não foi percebido acúmulo de lixo nas ruas, barulho excessivo, tumultos e
brigas durante a visita.
Para além de visitantes sem grupo e de diversos grupos com guias de turismo
em diferentes lugares, havia, também, a presença de muitas instituições escolares em
excursão pela cidade. Supõe-se que há um incentivo ao turismo pedagógico, o que
se configura, apesar dos problemas expostos acima, como algo positivo, visto que as
crianças desde cedo estão tendo acesso à aspectos importantes da história do país,
de modo presencial, em experiências extraclasse.
Em relação a pequena feira de souvenires localizada próxima a Igreja de São
Francisco de Assis, pode-se notar a valorização dos turistas ao trabalho dos artesãos,
já que havia boa movimentação entre as barracas ou espaços de venda. Muitos dos
utensílios podiam ser modificados e estilizados de acordo com o gosto do turista, como
69
a escrita de nomes das pessoas em copos e outras lembranças de pequeno e médio
porte, agradando aos compradores, e valorizando as habilidades dos atores locais.
Observando o comércio da cidade, foi possível notar que, aparentemente, é
constituído pelos próprios moradores da cidade, o que pode ser considerado como
um aspecto positivo, visto que representa um modo de inclusão direta da comunidade
na atividade turística. Deste modo há uma valorização da produção local que tem
como consequência o acesso desses moradores aos benefícios econômicos gerados
pela atividade turística na cidade.
Isso também foi observado em relação aos guias. Foi possível notar que há
um certo rigor quanto à contratação de guias da cidade, não sendo aceitos guias
externos, o que nos permite afirmar que a cidade se preocupa com aspectos de
desenvolvimento endógeno, utilizando no turismo seus próprios recursos humanos.
Essa prática difere do que ocorre, por exemplo, no Rio de Janeiro, e em outras cidades
turísticas, em que há uma grande parcela de donos de empreendimentos turísticos
estrangeiros atuando em detrimento dos moradores locais.
Por fim, analisando os pontos negativos e positivos, é possível afirmar que a
cidade possui órgãos de turismo ativos que mantém a atividade turística de certa
forma organizada em Ouro Preto. Entretanto, alguns cuidados ainda precisam ser
tomados em relação à qualidade do turismo que está ocorrendo localmente, para que
os efeitos negativos não sobreponham os positivos, e que mais tarde não haja um
grande número de moradores contrários a ele, ou, ainda, que o patrimônio da cidade
seja deteriorado a ponto de não atrair mais turistas.
REFERÊNCIAS
70
FORTUNA, C. Turismo, autenticidade e cultura urbana: percurso teórico, com
paragens breves em Évora e Coimbra. Revista Crítica de Ciências Sociais,
Coimbra, n. 43, p. 11-46, 1995.
MACHADO, S. F.; ALVES, K dos S. O turismo em Ouro Preto - Minas Gerais, Brasil -
na perspectiva dos moradores. Turismo & Sociedade, Curitiba, v. 6, n. 3, p. 552-
573, jul. 2013.
71
Localidades turísticas em guia virtual e em avaliações
postadas por turistas: pontos e contrapontos discursivos
no horizonte da hospitalidade
Júlia Regina da Paz Vara1
Ronaldo L. Diaz2
Orientadora: Marcia Maria Cappellano dos Santos3
Orientadora: Luciane Todeschini Ferreira4
Resumo: O trabalho tem por objetivo identificar pontos e contrapontos discursivos sobre
destinos de viagens, a partir de análise comparativa de texto de apresentação de destinos (voz
institucional) e de comentários postados (voz dos turistas), em guia turístico virtual.
Metodologicamente, foram selecionados e analisados, a partir da perspectiva da análise do
discurso (linha enunciativa bakhtiniana), textos de três destinos da região Sul: Gramado/Canela,
RS (100 comentários); Florianópolis, SC (58 comentários) e Foz do Iguaçu, PR, (65
comentários). Como resultados parciais, é possível afirmar que houve reiteração da voz
institucional nos comentários analisados, havendo, portanto, convergências nos discursos tanto
no que tange a aspectos descritos, quanto à imagem construída. De outra parte, no contraponto
discursivo, chamam a atenção, na voz que emana das avaliações dos turistas a partir de suas
experiências (positivas ou não), as incidências sobre relações interpessoais. Referências como
essas encerram e traduzem relações de acolhimento valorizadas pelos turistas, as quais não são
pontuadas nas apresentações do site, desconsiderando um aspecto que se mostra precípuo
para a experiência turística, corroborando a proposição do acolhimento como um dos elementos
fundantes do turismo.
1 INTRODUÇÃO
1 Essa é a forma como estão apresentados esses dois destinos no Guia Virtual em análise.
74
discurso (linha bakhtiniana), foi possível (re)construir a forma como os destinos são
apresentados ao turista/sujeito que busca informações no guia turístico, ou seja, a
imagem prévia (ethos) desses destinos.
Destaca-se que ethos pode ser entendido como a capacidade que se tem de
criar uma “boa impressão pela forma como se constrói o discurso” (MAINGUENEAU,
2008, p.13). É uma construção dinâmica, sendo que o ethos “não age no primeiro
plano, mas de maneira lateral; ele implica uma experiência sensível do discurso,
mobiliza a afetividade do destinatário” (MAINGUENEAU, 2008, p.14). (grifo
nosso).
A partir da análise da voz institucional, pode-se afirmar que Gramado/Canela,
entre outros aspectos, destacam-se por seu clima, por suas características de cidade
do interior, por sua gastronomia e arquitetura. Porém, parece ser o clima a
característica de maior intensidade e de identificação do destino, tanto que o texto
de apresentação inicia com: “Gramado é o principal destino de inverno do Brasil”
(grifo nosso) . Em outros trechos, a voz institucional volta a recuperar o clima, o que
pode ser exemplificado pelo fragmento: “A grande expectativa para quem visita a
Serra Gaúcha no inverno é que caia um pouquinho de neve” (grifos nossos). Tanto
o substantivo “expectativa”, que expressa a condição de quem espera por algo,
quanto a intensidade impressa pelo uso do adjetivo “grande” contribuem para a
criação de uma imagem de cidade com clima frio.
No destaque para o clima, o texto constrói-se para que seja possível uma
associação do clima de Gramado/Canela ao clima europeu, de tal modo que essa
imagem é explicitamente apresentada: “Isso sem falar do ar europeu”. Assim, pela
representação do ethos do enunciador, Gramado/Canela são as mais europeias
cidades brasileiras (VARA; SANTOS; FERREIRA, 2018).
Florianópolis é apresentada como a Ilha da Magia (VARA; SANTOS;
FERREIRA, 2018), o que pode ser recuperado por fragmentos discursivos como o
que segue: “[...] Florianópolis encanta por sua variedade de praias” (grifo nosso). O
verbo “encantar” é um convite para a sedução, ou seja, o apelo não é feito ao
racional, e sim ao emocional, ao imaginário, tanto que um dos sentidos que podem
75
ser atribuídos ao verbo “encantar” diz respeito a “exercer suposta influência mágica”
(DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS).
Já Foz do Iguaçu é caracterizada como o destino mais nacional do país
(VARA; SANTOS; FERREIRA, 2018): “[...] é a cidade que tem a honra de guardar,
no lado brasileiro, um cenário digno de filmes. Um dos mais belos espetáculos da
natureza na terra é, com muito orgulho, parte do Brasil.”.
Na análise das vozes institucionais dos três destinos, a caracterização física
do lugar, com apontamentos para as belezas naturais, serviços e arquitetura, é o
foco. Porém as informações disponibilizadas - e, mais que isso, - a forma como as
informações são disponibilizadas via discurso, constroem o ethos discursivo desses
destinos.
76
Quadro 1 - Fragmentos representativos das vozes do guia turístico virtual
(institucional) e dos turistas relativos a aspectos físicos dos destinos-alvo.6
Destinos Voz institucional Voz dos turistas
Gramado/Canela/ Cidades “[...] Arquitetura própria da “A Europa fica aqui” [...] a cidade é
europeias colonização maravilhosa, é uma
europeia [...] isso sem falar no verdadeira Europa no Brasil. [...]”
ar europeu[...]”
Florianópolis/ Ilha da Magia [...] Conhecida como Ilha da “Floripa é maravilhosa!!! Ilha da
Magia [...] Magia mesmo”
“Amooo! Tudo as praias são
maravilhosas.”
Foz do Iguaçu/ Cidade mais “Um dos mais belos “[...] Achei a vista brasileira mais
nacional espetáculos da natureza na bonita [...]” “As cataratas são
terra é, com muito orgulho, de uma beleza simplesmente
parte do Brasil.” INDESCRITÍVEL. [...]” “[...] Ir as
[...] Cataratas do Iguaçu é uma
experiência que todo brasileiro deve
ter. [...]”
78
respeito às incidências relativas a relações interpessoais presentes na voz dos
turistas e totalmente ausentes na voz institucional. Vejam-se alguns exemplos de
menções a esse respeito:
a) Destino Gramado/Canela
Me senti muito feliz em ser tão bem atendido pelo Sr. João, [...] um jovem super
atencioso[...]
O pessoal que mora no interior do Rio Grande do Sul, tende a ser mais fechado
e frio.[...]
b) Destino Florianópolis
Cordialidade geral [...]
[...] pessoas muito educadas [...]
[...] As pessoas são prepotentes, desumanas, arrogantes, mal-educadas, não
sabem tratar e receber turistas com acolhimento. [...}
c) Destino Foz do Iguaçu
Os guias da cidade são atenciosos. [...] acolhida muito boa.
79
Enquanto não há nenhum registro, por parte da voz institucional, sobre
relações interpessoais, os turistas a apresentam com relativa frequência - do que se
depreende a importância que lhes atribuem - tanto que mais da metade dos turistas
que postaram seus comentários no guia turístico trouxeram esse aspecto ao
referirem-se a Gramado/Canela. Um número igualmente significativo apontou as
relações interpessoais como importantes no destino Florianópolis, visto que 34% fez
alusão a ela. Esse aspecto foi destacado por 29% dos turistas que visitaram Foz do
Iguaçu.
5 CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
81
Migração haitiana em Caxias do Sul
Resumo: Este estudo analisa as características da migração haitiana em Caxias do Sul durante o
período de 2015-2017. Faz parte das pesquisas realizadas pelo Núcleo de Estudos Migratórios da
UCS. O estudo foi divido em dois momentos: o primeiro, fruto da revisão teórica e o segundo, da
pesquisa empírica. O referencial teórico utilizado foi baseado nas obras de: Becker (1997); Singer
(1980); Sayad (1998); Baeninger e Peres (2017) e Handerson (2014). O método de análise é
descritivo e colabora para a compreensão das migrações internacionais em Caxias do Sul. Os dados
analisados foram extraídos do Banco de Dados do Centro de Atendimento ao Migrante (CAM), na
cidade de Caxias do Sul. A amostra da pesquisa é composta por 1129 haitianos, que fizeram registro
no CAM entre 2015-2017. O estudo aponta características dessa migração e mostra dificuldades que
os migrantes enfrentam no acolhimento pela cidade.
1 INTRODUÇÃO
83
nas relações entre as pessoas (relações de produção) e entre essas e o seu
ambiente físico” (BECKER,1997, p. 323). É importante considerar que o modo de
produção capitalista requer disposição contínua da força de trabalho e quando não
dispõe estimula o processo migratório.
Pode-se identificar que a grande maioria dos migrantes acredita que a saída
para suas vidas é a experiência migratória, a busca de um trabalho que permita
melhorar as condições de vida, visto que quando migram se encontram em
dificuldades. A migração para muitos é uma alternativa que oportuniza melhorar as
condições de vida. Devido a isso, podemos analisar pelo contexto da sociedade
atual que, “como mobilidade forçada, a migração tornou-se interessante mecanismo
na expansão do capitalismo monopolista nas realidades então chamadas periféricas”
(SLATER,1978 apud BECKER, 1997 p. 334).
Um fator que reproduz e alimenta a “síndrome emigratória” (BINFORD, 2002;
COVORRUBIAS, 2010; MAGALHÃES, 2014 apud BAENINGER; PERES, 2017)
experimentada por várias décadas no Haiti é a dependência das remessas. A parte
considerável dos salários do trabalho desses migrantes se transforma em remessas
para familiares no Haiti, mais um elemento estruturante do campo social desta
migração de crise. Binford (2002) destaca que as remessas, antes de serem
necessárias apenas para o contexto familiar, se convertem na economia do país.
Segundo Magalhães (2017, p. 240), no caso do Haiti, “as remessas de migrantes
representaram entre 22% e 26% do PIB nacional nos últimos dez anos”.
(BAENINGER; PERES, 2017, p.139).
Segundo Sayad, a sociedade de imigração,
É importante lembrar que a cidade de Caxias do Sul é uma localidade que foi
constituída historicamente por processos imigratórios a partir da terceira metade do
século XIX. Também é necessário associar que cada período de expansão da
cidade, a mesma recebeu imigrantes que colaboraram com o crescimento
econômico da cidade e da região. Em 1970, a cidade é considerada um polo
industrial pelo governo do Estado do Rio Grande do Sul, recebendo incentivos para
tal. Esse fato mostra que desde a sua fundação a cidade recebe mão de obra de
fora que a ajuda a crescer e se desenvolver.
Os haitianos que chegaram a Caxias entre 2015-2017 possuem o seguinte
perfil: sexo masculino na sua maioria, jovens e adultos, escolaridade média, casados
e solteiros, desempregados, em busca de trabalho. Os dados são preliminares e
foram coletados no Centro de Atendimento ao Migrante na cidade de Caxias do Sul
no período de estudo.
85
Tabela 1 – Distribuição absoluta e percentual do sexo dos haitianos cadastrados no
banco do CAM, entre 2015-2017
Frequência
SEXO
Absoluta Percentual
Masculino 840 74,40
Feminino 289 25,60
TOTAL 1129 100
Fonte: Pesquisa Migrações no Século XXI: desafios e perspectivas. Universidade de Caxias do
Sul, 2019. Banco de Informações: Centro de Atendimento ao Migrante, Caxias do Sul.
Elaboração dos dados: Débora Kieling Pavan (Bolsista PIBIC/CNPq) e Julia Zeilmann Jaeger
(Probic/Fapergs).
87
Tabela 4 – Distribuição absoluta e percentual do grau de escolaridade dos
haitianos cadastrados no banco do CAM, entre 2015-2017
Frequência
GRAU DE ESCOLARIDADE
Absoluta Percentual
Alfabetizado 12 1,10
Analfabeto 11 1,00
Ensino Fundamental incompleto 238 21,10
Ensino Fundamental completo 130 11,50
Médio incompleto 282 25,00
Médio completo 248 22,00
Superior incompleto 36 3,20
Superior completo 35 3,10
Não informado 137 12,10
TOTAL 1129 100
Fonte: Pesquisa Migrações no Século XXI: desafios e perspectivas. Universidade de Caxias do
Sul, 2019. Banco de Informações: Centro de Atendimento ao Migrante, Caxias do Sul.
Elaboração dos dados: Júlia Zeilmann Jaeger (Probic/Fapergs) e Débora Kieling Pavan (Bolsista
PIBIC/CNPq).
88
Sul, 2019. Banco de Informações: Centro de Atendimento ao Migrante, Caxias do Sul.
Elaboração dos dados: Julia Zeilmann Jaeger (Probic/Fapergs) e Débora Kieling Pavan (Bolsista
PIBIC/CNPq).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
90
de que a migração não é uma decisão individual, mas que faz parte de uma
estratégia familiar para buscar a sobrevivência do grupo e que muitas vezes acabam
encontrando-se em situações de vulnerabilidade.
Os locais de destino escolhidos pelos migrantes são aqueles que apresentam
crescimento econômico e possibilidade de trabalho. Constata-se ainda que a cidade
tem necessidade de qualificar os serviços públicos que atendem migrantes, uma vez
que poucas instituições prestam serviços de atendimento, tendo muita resistência e
dificuldade para fazê-lo, inclusive na comunicação pela falta de domínio de línguas e
conhecimento de outras culturas. Reconhece-se que o Centro de Atendimento ao
Migrante (CAM) em Caxias do Sul tem feito um esforço para atender aqueles que o
procuraram, apesar dos limites que enfrentam na própria cidade pelo excesso de
demandas que lhes são postas. Outro dado que chama a atenção é que a cidade,
por ter sido fruto de migrações históricas, não tem preocupações com aqueles que
vêm de fora. É como se tivesse esquecido o seu passado.
REFERÊNCIAS
91
SAYAD, A. A Imigração ou os paradoxos da alteridade. São Paulo: Edusp, 1998.
92
Mulheres que Viajam e Mochileiras: netnografia em grupo
feminino de viagens
Nathalia Fabiane da Cruz Leal1
Inara de Oliveira da Luz2
Andréia Skupien Bianchini3
Orientadora: Priscilla Teixeira da Silva4
Resumo: Segundo uma pesquisa realizada pelo Ministério do Turismo, 17,8% das mulheres
brasileiras preferem viajar sozinhas (BRASIL, 2017). A principal motivação seria o desejo de viver
novas aventuras, independentemente de ter ou não uma companhia. A partir desse cenário, este
artigo traz os resultados de uma das etapas do projeto de pesquisa “Mulheres que viajam sozinhas:
um estudo de gênero, raça e sexualidade no Turismo” e tem como objetivo realizar um levantamento
inicial em um site de rede social das principais interações entre mulheres que viajam. Para isso, foi
realizada uma pesquisa netnográfica no grupo fechado de facebook “Mulheres que Viajam e
Mochileiras”, com base na metodologia de Zanini (2016). A escolha desse grupo se deu devido às
publicações diárias e com frequentes interações entre mulheres, através de trocas de experiências e
busca por auxílio. Como resultados, temos a recorrência de dois temas presentes nas interações: a
dualidade medo/liberdade nas viagens femininas e a contribuição das tecnologias, as quais conferem
mais autonomia às mulheres em suas viagens solo. Para ajudar umas às outras a percorrer o mundo
em segurança, as mulheres têm constituído comunidades on-line, visto que aplicativos e grupos nas
redes sociais fornecem apoio para as viajantes.
1 INTRODUÇÃO
94
feminista na busca por uma identidade comum, que possa unir e mobilizar as
mulheres, proporcionando-lhes uma história comum, experiência e interesse.
Para Piscitelli (2006), a produção acadêmica sobre turismo e gênero teve seu
início no final da década de 1980, a partir das inquietações feministas. Até 2005
essa produção ainda era relativamente escassa e se encontrava, basicamente,
concentrada em três tópicos: o mercado de trabalho, a problemática do turismo
sexual e a produção de imagens turísticas.
A partir de uma busca com as palavras chave “mulher”, “feminino” e “gênero”,
em trabalhos publicados nos anais do Seminário da Associação Nacional de
Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo (Anptur), do Seminário de Pesquisa em
Turismo do Mercosul (SeminTur) e do Fórum Internacional de Turismo do Iguassu
(FIT), em todas as suas edições até 2017, Gabriel et al. (2019) apontam que apenas
0,39% das publicações do Seminário Anptur e do Festival das Cataratas e 0,32%
das publicações do Semintur versaram sobre a temática da mulher no turismo. A
partir da leitura e análise desses estudos, foi também possível observar a não
superação do cenário apontado por Piscitelli (2006), com a recorrência de três
contextos nos quais a mulher aparece nos estudos científicos na área do turismo: i)
enquanto trabalhadora no Turismo; ii) enquanto um segmento de mercado; e iii)
enquanto parte da imagem e do imaginário do paraíso Brasil; esses três contextos
evidenciam a invisibilidade da mulher enquanto viajante e turista.
3 METODOLOGIA
95
culturais (KOZINETS, 2014).
Para realizar um levantamento inicial das interações entre mulheres viajantes,
foi escolhido um grupo fechado do site de rede social facebook “Mulheres que
Viajam e Mochileiras”. A escolha se deu por ser um grupo com publicações diárias e
com frequentes interações entre mulheres por meio de trocas de experiências e
busca por auxílio, dentre outras questões.
A pesquisa foi realizada de 01 a 10 de junho de 2019 e, a partir da
metodologia proposta por Zanini (2016), dividida em duas etapas: mapeamento e
caracterização do grupo e, posteriormente, a análise das postagens.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Mapa Temporal
✔ Rotinas de discussões das postagens: Diárias
✔ Histórico: Mulheres que viajam e Mochileiras. Grupo criado em 25 de junho
de 2016. 56.531 mil membros. Criadora e Administradora: Gilsimara Caresia.
✔ Contexto: Grupo Fechado com o intuito de ser um auxílio para mulheres
trocarem dicas sobre viagens, relatos de experiências, buscar companhia feminina e
encorajar mulheres a viajarem sozinhas;
✔ Tempo de vida: desde 25 de junho de 2016.
96
Mapa Social
✔ Quantidade de perfis daquele ambiente: 56.531
✔ Quais perfis identificados: a partir dos perfis disponíveis daquelas que
interagiram ao longo de 01 a 10 de junho, foi possível identificar que se tratavam, em
grande maioria, de mulheres que já concluíram o ensino superior, algumas com o
ensino superior em formação, mulheres mães, brasileiras residindo no país de
origem e no exterior.
Mapa Espacial
✔ Quais os formatos de postagem daquela rede (texto, imagens, vídeos,
gifs): texto e imagens.
✔ Quais os formatos de interação (curtidas, retweets, comentários): curtidas
(reações) e comentários.
✔ Característica do tipo de ambiente (fanpage, grupo fechado, canal do
youtube): Grupo fechado no Facebook;
✔ Descrição do ambiente (aberto, fechado): Fechado;
✔ Delimitação do tamanho espacial (ego/centrada, sócio/centrada, rede
infinita): Sociocentrada. As Redes Sociocentradas são aquelas que possuem uma
delimitação bem definida. Em um contexto presencial, um exemplo seria uma rede
corporativa de apoio profissional. Se o pesquisador buscar mapear as interações de
apoio profissional entre os colaboradores de uma empresa, sua delimitação e
escopo completo a tornam uma rede sociocentrada. Nas mídias sociais, exemplos
de redes sociocentradas podem ser o mapeamento de interações dentro de um
grupo ou página do Facebook, analisando todas as interações entre perfis que
conversam nos posts, por exemplo. (KADUSHIN, 2012).
Principais temas debatidos - Ao longo de 10 dias de pesquisa, foram
analisadas 166 postagens publicadas no grupo fechado “Mulheres que viajam e
Mochileiras”. A partir da leitura e análise dos textos e imagens, foram identificados
os principais temas debatidos, conforme o Gráfico 1, a seguir.
97
Gráfico 1 – Principais temas debatidos
98
Tabela 1 – Postagens mais comentadas no mês de junho/2019
Número total Número Tema
Publicações mais relevantes de total de
comentários reações
Relatos de
Relato de insegurança na viagem realizada solo em
524 326 situações de
Barcelona (Espanha)
perigo
Relato sobre cicloviagem pela América Latina sozinha, Buscando
com duração de dois meses. Relatou encontrar apenas considerações /
pessoas do sexo masculino praticando relatos de
189 798
o mesmo estilo de viagem experiências
Buscando por
Buscando destinos de sol e praia no Brasil no inverno. roteiros destinos /
124 43
atrativos
https://www.curiosidadesdaterra.com/2 019/06/jovem-
esconde-sua-viagem- para-nao-
ter.html?fbclid=IwAR2a3RKqOqu6vhzT
hs5PjbZuJL8thN0i2J9bDKdcWX1fjsM4 83 1,1 mil Reportagens
-jguQikg3LY
Plataformas
Indicação da plataforma worldpackers 71 334
digitais / apps
99
Recém-chegada em Barcelona ela se perdeu na cidade, sentiu medo, sentiu-se
sozinha, com vontade de voltar para casa, chegando a considerar uma “loucura”
viajar sozinha e, por isso, pediu conselhos no grupo. Ambas as postagens geraram
desde comentários de encorajamento a relatos de situações semelhantes de perigo,
dicas de cuidados a tomar (o que fazer e evitar) em viagens solo, assim como
recomendação de aplicativos para auxílio com a localização, com o idioma no
exterior, entre outras funcionalidades.
Piscitelli (2017) discute o quanto, ainda hoje, mulheres viajando sozinhas ou
sem companhia masculina enfrentam situações problemáticas em diversos países,
citando, como exemplo, o assassinato de duas turistas argentinas no Equador, em
2016. Na época, diversas manifestações nas redes sociais, incluindo da vice-
ministra do Turismo do Equador, apontavam para uma culpabilização das vítimas,
que se “arriscaram” ao viajar sozinhas, mostrando um quadro preocupante para os
movimentos feministas, em que mulheres viajantes, no século XXI, ainda
permanecem sujeitas às desigualdades de gênero e estão mais vulneráveis em
espaços públicos.
Poucos são os autores que trabalham com temas ligados à violência contra
mulheres viajantes, tanto no feminismo com no turismo. Os trabalhos que existem
sobre o assunto estão compreendidos em estudos sobre relações sexuais e afetivas
estabelecidas entre mulheres viajantes (oriundas de países ricos) e homens locais
(países pobres), um campo conhecido como “Turismo Romance” e “Turismo Sexual
Feminino”. Obviamente, tal literatura não dá conta da complexidade de situações e
violências; entretanto, Piscitelli (2017) recorre a essa literatura tendo em vista que,
até o momento, foi a que se debruçou mais diretamente sobre situações de violência
contra mulheres turistas. A autora busca referências na obra Sex tourism: do women
do it too? de Sheila Jeffreys (2003):
100
Ainda nessa dualidade medo/liberdade, vale a pena ressaltar o relato de uma
mulher viajante realizando uma cicloviagem pelo Brasil e futuramente pela América
Latina. Publicada no grupo com fins de empoderamento feminino e inspiração para
que outras mulheres realizem viagens nesse estilo, a postagem traz fotos e
depoimentos de uma experiência de dois meses que se estenderá por um ano, onde
a viajante relatou encontrar apenas homens praticando o mesmo estilo de viagem.
Essa postagem recebeu muitos comentários de outras mulheres em busca de
encorajamento para realizar viagens sozinhas, além de questionamentos sobre “por
onde começar”.
Em relação à contribuição das tecnologias para as viagens femininas,
devemos começar pelo próprio recurso do grupo em um site de rede social que
promove a conexão entre as mulheres viajantes. As discussões e postagens em
torno de um tema comum, os sabores e dessabores das viagens realizadas por
mulheres, proporcionam trocas de experiências e contatos, capazes de encorajar a
viajar mulheres que ainda não viajaram, sejam sozinhas, com os filhos ou com
outras mulheres (que as acompanham ou hospedam no destino). Aplicativos como
Google Tradutor, CityMaps2Go, Waze, entre outros que possibilitam uma maior
autonomia e confiança ao viajante, tornam-se de extrema importância nas viagens
femininas.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
101
qualidade dos relatos analisados, pois é possível encontrar, de forma recorrente, a
dualidade medo/liberdade nas viagens femininas e a contribuição da tecnologia, o
que intensifica as conexões entre as mulheres e confere mais autonomia para suas
viagens sozinhas.
REFERÊNCIAS
GABRIEL et. al. Mulher, feminino (a) e gênero: uma análise da produção acadêmica
a partir das publicações em três eventos da área de turismo. In: XIII Fórum
Internacional de Turismo do Iguassu. Apresentação oral. Foz do Iguaçu, 2019.
102
ZANINI, D. Etnografia em Mídias Sociais. SILVA; STABILE. Monitoramento e
Pesquisa em Mídias Sociais Metodologias. São Paulo - SP: Uva Lima, 2016. p.
163-185.
103
O enoturismo no Vale dos Vinhedos: um estudo territorial
no entorno da Vinícola Miolo
Cárin Schakowski de Oliveira1
Caroline Peccin da Silva2
Júlia Luise Altmann3
Orientador: Pedro de Alcântara Bittencourt César4
Resumo: A Serra Gaúcha atrai cada vez mais turistas, interessados principalmente na prática do
Enoturismo. Estes buscam acompanhar o processo de plantio da uva e fabricação do vinho que há
décadas define a elaboração de rotas e roteiros na região. De acordo com a Embrapa, esta região
possui o maior número de propriedades vitivinícolas do Rio Grande do Sul. Vista a importância do
assunto, este trabalho busca compreender o enoturismo no Vales dos Vinhedos, dando um enfoque no
recorte territorial nas proximidades da Vinícola Miolo. Busca-se com a realização deste estudo entender
as dinâmicas territoriais locais, levantando assim, hipóteses para compreender a lógica da organização
do território que envolve o enoturismo nas suas proximidades. Como procedimento metodológico o
estudo inicia definindo o recorte territorial. Posteriormente a revisão bibliográfica acerca do assunto e
sustentando as áreas de estudo que justifica o reconhecimento das centralidades existentes.
1 INTRODUÇÃO
2 JUSTIFICATIVA/IMPORTÂNCIA
105
fraquezas do roteiro.
107
degustação de vinhos, bem como a apreciação das tradições e tipicidade das
localidades que produzem esse tipo de bebida.
109
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
110
são distribuídas principalmente ao longo da rodovia RS 444.
REFERÊNCIAS
HALL, C. M.; et. al. Wine tourism around the world. Estados Unidos: Betterworth
Heinemann, 2000.
VAN ZANTEN, R. Drink choice: factors influencing the intention to drink wine.
International Journal of Wine Marketing, v. 17, n. 2, p. 49-61, 2005.
111
APROVALE. Associação dos produtores do Vale dos Vinhedos. Disponível em:
http://www.valedosvinhedos.com.br/vale/index.php. Acesso em: 17 out. 2019.
112
O entrelaçamento das perspectivas dos estudantes de
turismo: Formação e carreira do futuro profissional
Daniel Júnior Ficagna1
Yanka dos Santos Tavares2
Orientador: José Carlos de Souza Dantas3
Resumo: O presente artigo surge de um Projeto de Pesquisa iniciado em 2014 e tem por finalidade
identificar quais são os atributos que o aluno ingressante no curso de turismo da Faculdade de
Turismo e Hotelaria da Universidade Federal Fluminense espera adquirir na sua formação em relação
ao curso escolhido, associando-os com as competências necessárias para sua atuação profissional
no futuro. Para isso, fez-se uma pesquisa quantitativa por meio da aplicação de questionários aos
estudantes do primeiro período. Os resultados indicam que os investigados buscam nesta formação a
capacidade de compreender o mundo a partir de uma visão abrangente, a obtenção de uma
formação técnica e científica para atuação no planejamento e na gestão de planos, programas e
projetos no campo do turismo, dentre outras expectativas. Aliando-as com o perfil desejado para um
bacharel em turismo, é possível afirmar que o amplo domínio do fenômeno turístico no âmbito
acadêmico forma profissionais mais qualificados no mercado de trabalho.
1 INTRODUÇÃO
114
uma única disciplina, ou de um único campo do saber”. Dessa forma, ainda há um
campo de estudo muito amplo a se explorar, visto que o turismo está em
crescimento contínuo (RUSCHMANN; TOMELIN, 2013).
No Brasil, desde os primeiros cursos de graduação em turismo, a produção
científica, a terminologia e os conteúdos foram sendo aprimorados, inserindo os
egressos dos cursos no mercado de trabalho ou como docentes e pesquisadores,
com publicações significativas (RUSCHMANN; TOMELIN, 2013).
No entanto, segundo Tomazzoni (2007, p. 205), “[...] a falta de profissionais
qualificados para atuação no setor é um dos fatores que dificultam o
desenvolvimento do turismo”. Sendo assim, apesar da oferta de cursos a nível
médio e superior na área ter crescido, ainda não cobre a demanda de profissionais
para o setor.
Embora não ser esta a discussão que se pretende abordar neste trabalho,
vale refletir, como contraposição à afirmação de Tomazzoni (2007), se realmente
faltam profissionais qualificados para a atividade ou se eles existem, porém não são
inseridos no mercado de trabalho nas infinidades de possibilidades para a atuação
de um turismólogo.
O fato que pode vir a elucidar ambas as questões é a Lei nº 12.591, de 18 de
janeiro de 2012, que reconhece a profissão de turismólogo e disciplina o seu
exercício, entretanto tem os artigos I, III e IV vetados, os quais descrevem quem
poderia exercer a profissão de turismólogo. A razão dos vetos é: “A Constituição em
seu art. 5º, inciso XIII, assegura o livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou
profissão, cabendo a imposição de restrições apenas quando houver a possibilidade
de ocorrer algum dano à sociedade” (BRASIL, 2012). Sendo assim, qualquer
pessoa, formada ou não, pode vir a trabalhar na atividade turística.
Uma das possíveis consequências dessa não regulamentação é o que
Moesch (2002), denomina como “fazer-saber”. A autora traz a hipótese de que “o
saber turístico é um fazer-saber, não existindo saber além daquele que resulta de
um fazer-saber” (MOESCH, 2002, p. 8). Em outras palavras, o profissional que atua
115
na atividade turística teria suas competências enriquecidas no local de trabalho
(TOMAZZONI, 2007), isto é, na prática.
Ainda segundo Moesch (2002, p. 20), “a passagem do fazer-saber para o
saber-fazer, no campo turístico, impõe à academia o aprofundamento dos
conhecimentos perpassados por seus currículos”, ou seja, conduz a uma nova
agenda para os estudos do turismo. Essa mudança de “fazer-saber” para “saber-
fazer” trará uma nova perspectiva à atividade turística, com um novo perfil de
profissional.
Molina (2003) descreve a respeito da necessidade desse novo perfil de
profissional, relatando que a maioria dos empregos - de todos os níveis - no
mercado turístico formou-se no cotidiano de trabalho, portanto, são escassos os
recursos teóricos e a cultura de uma gestão adequada. Destaca ainda, a
necessidade de ampliação dos conhecimentos na área, por meio de uma nova
academia, em que a teoria que perpassa nas salas de aula não seja o único cenário
para adquirir conhecimento a respeito do fenômeno do turismo.
O bacharel em turismo formado pela UFF é dotado de conhecimento teórico-
prático para uma atuação completa na área, desenvolvendo um senso humano
crítico que o leve a fortalecer o turismo enquanto atividade e contribuir com ações
positivas na sociedade, assumindo uma postura de cidadão consciente da realidade
que o cerca (TURISMO UFF, 2019).
Conforme apresentação no site oficial da coordenação do curso, o foco
principal está na “formação de profissionais qualificados para assumir o
planejamento, a gestão e administração de sistemas turísticos [...], a partir de uma
visão holística da relevância do fenômeno turístico no mundo contemporâneo”
(TURISMO UFF, 2019).
No Brasil, a crescente demanda na área, preponderantemente na segunda
década do século XXI, tem sido anunciada no espaço público e privado, embora
também se verifique uma situação preocupante de um desenvolvimento turístico não
sustentável e que perpassa, entre outras, questões educacionais e sociais, além do
escasso preparo da população moradora nos espaços turísticos. Portanto, embora a
116
atividade seja empreendedora, seu universo exige procedimentos técnicos e
profissionais oriundos de uma formação de graduação sólida e que requer, por parte
dos alunos e professores, uma avaliação condizente ao cenário atual.
Por outro lado, a glamourização do setor de Turismo e Hotelaria, algumas
vezes, é promovida por uma mídia equivocada e pelo imaginário social idealizado.
Neste contexto, pretende-se analisar quais as competências que os estudantes
almejam adquirir ao longo do curso e se estas estão em conformidade com o que se
espera deste novo profissional que deve buscar o desenvolvimento adequado da
atividade turística.
117
Figura 1 – Expectativas a respeito das competências a serem desenvolvidas
118
para a expansão do mercado do turismo é a qualificação profissional, que contribuiu
com a melhoria da qualidade dos serviços”.
Do mesmo modo que o estudo do turismo, a formação do profissional na área
também é recente, sendo possível a partir do reconhecimento da profissão por meio
da Lei n. 12.591, de 18 de janeiro de 2012, o que torna lento o processo de
amadurecimento e conscientização por parte do mercado de trabalho em selecionar
e abrir espaço para atuação de quem busca formação acadêmica na área.
Nos últimos anos, o Brasil vem registrando um crescimento e incentivo aos
empreendedores, conforme apresenta o relatório Global Entrepreneurship Monitor
Brasil 2018. Ter seu próprio negócio é apontado como o sonho de 33% dos
brasileiros - ocupando a 4ª posição - e o total de empreendedores no país é de 38%
(SEBRAE, 2018).
1
Percentual da população de 18 a 64 anos. A soma das taxas parciais pode ser diferente da taxa
total, uma vez que empreendedores com mais de um empreendimento estarão sendo contabilizados
mais de uma vez.
119
regionais, conforme observado por 49,3% dos respondentes. Destarte, contribuem
Tomelin e Ruschmann (2013, p. 230):
120
Portanto, o fato dos alunos ingressantes estarem alinhados com o perfil do
curso oferecido pela UFF e os atributos exigidos pelo mercado de trabalho, torna-os
capacitados para atuar de maneira diferenciada nos mais variados cargos.
Ademais, conforme apontado por Tomelin e Ruschmann (2013) é preciso que
os futuros profissionais busquem aprimoramento além do que é oferecido no ensino
superior como estágio profissional em empresas da área, leitura constante para
atualização, realização de cursos de pós-graduação, filiação a associações
profissionais, participação em eventos e estudo de idiomas para um desempenho
mais consolidado na área.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
121
Presume-se, assim, que o aprofundamento dos conhecimentos do fenômeno
turístico no âmbito acadêmico transcorrerá com maior facilidade, resultando em
profissionais mais capacitados, conscientes e críticos, além do “saber-fazer”
denominado por Moesch (2002), em que o aprendizado antecederá a prática.
Outras análises que podem surgir a partir desta é de que maneira a
Universidade pode contribuir para tornar mais consistente a inserção do estudante
no mercado de trabalho e uma pesquisa futura com alunos egressos, a fim de
analisar se os anseios dos ingressantes foram correspondidos ao longo do curso.
REFERÊNCIAS
123
Projetos Culturais: a potencialidade turística da Fundação
Scheffel de Novo Hamburgo
Maria Eduarda dos Santos1
Gabrielly Pires de Aguiar2
Orientadora: Mary Sandra Guerra Ashton3
A cultura, como afirma Raymond Williams (2007), tem sua origem em colore,
que em sequência originou em latim com significados diversos como habitar,
cultivar, proteger, honrar com veneração. A cultura se tornou um tema
multidisciplinar estudado por diversos autores em diferentes enfoques, desde a
sociologia até mesmo a área de administração a utilizam, tornando assim uma tarefa
difícil a definição da significância da palavra nos dias atuais.
125
1.1 OS PROJETOS CULTURAIS
126
toda a rede produtiva e promovendo a liberdade de criação.
O IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) criado em
1937 é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Cidadania responsável por
cuidar dos sítios históricos. Como o próprio site da IPHAN (2014) comenta, o
instituto promove e protege os bens culturais do país, assegurando sua preservação
para que as gerações presentes e futuras possam usufruir do patrimônio e bens
culturais.
127
cultura, nasceu em 8 de outubro de 1927, na cidade de Campo Bom. Foi formado
pela Escola Técnica Parobé e pelo Instituto de Belas Artes, em 1959. Partiu para a
Europa onde deu continuidade aos seus estudos sobre arte e consolidou sua
carreira influenciado pelas manifestações contra as instituições e os valores
vigentes. Retornou ao Brasil em 1974 como convidado pelo município de Novo
Hamburgo para uma comemoração de retrospectiva e que como consequência a
criação do Museu de Arte e sua mantenedora Fundação Ernesto Frederico Scheffel,
onde estão expostas suas obras até os dias atuais. O artista veio a falecer no ano de
2015 na cidade Porto Alegre.
O projeto cultural Fundação Ernesto Frederico Scheffel se denomina como
uma instituição pública de direito privado, ou seja, a prefeitura possui uma
participação tendo acentos nos conselhos e repassa um recurso. Porém, a gestão
da Fundação é feita através de um conselho consultivo ou diretor, mais o conselho
fiscal que são pessoas que representam a comunidade, visto que esta é a melhor
forma de se manter a Fundação. Segundo o curador do museu que concedeu
entrevista e atua na Fundação desde 1997, ele declara que a mesma tem uma
importância gigantesca na preservação não somente do local, mas também do
tombamento do bairro em 2015, graças aos esforços de Scheffel em manter o
patrimônio – história e cultura – preservados no bairro Hamburgo Velho.
A Fundação agrega o museu Casa Schmitt Presser que se localiza
exatamente ao lado. As mesmas sempre foram espaço de destaque no município e
porto das ações culturais, de patrimônio e de turismo na cidade.
Entre os dados levantados em entrevista com os gestores, se obteve que no
ano de 2018, a Fundação recebeu um público de mais 20 mil pessoas, e a
realização de 32 eventos realizados com patrocínio da iniciativa privada, além de
123 visitações de escolas e visitantes em geral.
Sobre os horários de visitação, vale ressaltar que a visitação no museu fica
aberta de segunda-feira a sexta-feira, fechando do meio dia as 14h, e o valor do
ingresso é gratuito para estudantes e doação espontânea para os demais públicos.
Vale salientar que a gratuidade foi um pedido do próprio Scheffel, a fim de que todos
128
pudessem conhecer e visitar o museu e a Fundação. Porém, em dias de eventos é
cobrado meio ingresso dos visitantes e o dinheiro arrecadado é utilizado para manter
a Fundação e o museu.
A visitação as mais de 350 obras da Fundação Scheffel é guiada por um
funcionário experiente no assunto. O mesmo utiliza os quadros expostos para contar
a trajetória do fundador pelo mundo das artes. Todo acervo tombado (obras do
Scheffel) fica exposto nos três andares da Fundação que tem na sua arquitetura
grande destaque – as sólidas paredes e uma esplêndida fachada com escadarias
em madeira maciça.
Nos dias atuais o acesso aos andares ainda é feito por escadas que se
mantém em ótimo estado de conservação mas como falado durante a entrevista
com o curador há uma perspectiva de implementar projetos de acessibilidade já
desenvolvidos. Na recepção, logo na entrada da Fundação, além do livro de
presenças, tem um espaço para a venda de souvenires próprios da Fundação, tais
como: canecas, calendários, porta copos, livros, entre outros.
A programação de eventos que acontecem na Fundação (apresentações
musicais clássicas em piano e outras) é disponibilizada através da página no
facebook e por e-mails já cadastrados, além de outros canais de divulgação como a
imprensa local e mídia espontânea que ajudam a divulgar os eventos e a própria
visitação ao local. Vale ressaltar que também, eventualmente, são disponibilizadas
oficinas de diversos tipos.
O casarão onde a Fundação se estabelece foi construído em 1890, por Adão
Adolfo Schmitt que teve como função em seus primórdios de ser um local de bailes e
casa comercial. Scheffel já conhecia o local pois vinha com a família para Hamburgo
Velho quando era apenas um menino e ficava admirado com a magnitude da
construção e desde aí surgiu seu desejo de preservação. Sua restauração e
reorganização geral para se tornar um museu ocorreu em 1976, uma vez que o
mesmo se encontrava em precário estado de conservação.
A Fundação foi inaugurada em 5 de novembro de 1978 com o nome de
Galeria de Arte Municipal Ernesto Frederico Scheffel. Atualmente se encontra em
129
bom estado de conservação e juntamente com sua história e cultura que detém em
seu acervo tem um potencial turístico imenso.
Durante a entrevista feita com os gestores culturais – Curador e membro do
Conselho Diretor da Sociedade de Amigos de Hamburgo Velho – pode-se constatar
que há diversos projetos sendo elaborados para melhorias estruturais, ampliação,
implementação de projeto de acessibilidade e manutenção do acervo, além da
ampliação e abrangência na divulgação deste patrimônio.
3 TURISMO
130
bens imóveis e móveis existentes no país que tenha ligação e seja representação da
história. Foi instituído por Decreto Federal e pode ser executado por Administração
Federal, estadual e municipal. Os bens tombados ficam sob amparo do IPHAN
(2007).
Segundo o Ministério do Turismo (2010), o desenvolvimento do turismo
cultural deve ocorrer pela valorização e promoção das culturas locais e regionais,
preservação do patrimônio histórico e cultural e geração de oportunidades de
negócios no setor, respeitados os valores, símbolos e significados dos bens
materiais e imateriais da cultura para as comunidades. Assim, o desenvolvimento
turístico é um meio de fortalecimento da cultura, e promove valor econômico e gera
um maior sentimento de pertencimento local.
131
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
134
Rota de Compras em Caxias do Sul/RS: Turismo e
Gastronomia
Thalia Ferreira Alves1
Felipe Zaltron de Sá2
Orientadora: Susana de Araújo Gastal³
Resumo: O presente artigo, associado ao projeto Gastronomia no Rio Grande do Sul: História(s),
Imaginário(s) e Turismo, propõe descrever o processo de criação da rota de compras gastronômicas
no centro de Caxias do Sul/RS. Metodologicamente, a pesquisa se caracteriza por ser qualitativa
exploratória, resgatando na bibliografia especializada os conceitos de Turismo, Gastronomia,
Souvenir e Roteiro, incluso seus desdobramentos. Para fins teóricos, o Turismo (GASTAL, 2006;
MOESCH, 2005; OLIVEIRA, 2000; OMT, 2001) e Gastronomia (LÉVI-STRAUSS, 2004; PECCINI,
2010) relacionam-se pelo deslocamento cultural dos saberes e fazeres intrínsecos a determinado
grupo social, mas que também serve de atrativo para turistas e outros grupos. Quanto aos Souvenirs
(GASTAL; DE SÁ, 2017; DE SÁ; GASTAL, 2018), elencam os objetos como parte presente na
experiência turística, tanto pelo seu significado, quanto pelo saber-fazer impresso pelo produtor, que
vai além do simples artesanato, pois carrega qualidade estética, criatividade, inovação e muitas
vezes, cuidados em relação à sustentabilidade. Como resultados, notou-se que existe possibilidade
da inserção da rota de compras na zona inventariada, com uma variada quantidade de lojas de
insumos culinários. Os próprios estabelecimentos sentem a necessidade de maior visibilidade
turística, visto relatarem a presença espontânea de turistas que compram seus produtos para utilizá-
los como souvenirs gastronômicos, seja em formato de presente e/ou para consumi-los pós-viagem.
1 INTRODUÇÃO
135
análise básicas para o desenvolvimento do Turismo local. Para Leiper (1979), o
sujeito se tornaria turista ao experienciar essas práticas cotidianas das cidades.
Para a Organização Mundial de Turismo (OMT, 2001, p. 38), o Turismo está
nas “[...] atividades que as pessoas realizam durante viagens e estadas em lugares
diferentes do seu entorno habitual, por um período inferior a um ano, com finalidade
de lazer, negócios ou outras”. Nota-se que esse conceito atualmente, não engloba
todos os significados gerados a partir dos novos perfis dos viajantes nichados a
partir de uma visão mercadológica, ainda assim os múltiplos registros de estudos
acadêmicos, nos quais o Turismo é visto como objeto de pesquisa, destacam-se
suas possibilidades para o seu desenvolvimento como atividade econômica.
Ligado diretamente com o consumo e os serviços, o Turismo muitas vezes é a
fonte de renda para muitas famílias espalhadas pelo Brasil e pelo mundo. Sendo um
dos setores que mais emprega - 1 a cada 11 empregos é gerado na área do Turismo
(UNWTO, 2015) – ao englobar serviços de hospedagem, alimentação,
entretenimento e compra de souvenir.
Atualmente, não somente serviços em seu sentido tradicional, na hotelaria e
gastronomia e em outros equipamentos turísticos, mas também as suas novas
versões como o Airbnb e food trucks, que movimentam a economia e convertem-se
em fonte ou complemento de renda do morador, mesmo que não sejam vistos pela
maioria dos pesquisadores na área como turísticos.
Assim, o cidadão local também colaboraria com essas novas versões
turísticas, podendo ser vistos pelo termo de turista cidadão (GASTAL; MOESCH,
2007), no qual os sujeitos da cidade, mesmo acostumados em seu entorno, saem de
suas rotinas espaciais e temporais, reconhecendo a sua cidade, bairro, comunidade
com o olhar estranhado de turista. Esse estranhamento, se “inicia no momento em
que o indivíduo descobre no espaço cotidiano outras culturas, outras formas étnicas
e outras oportunidades de lazer e entretenimento” (MOESCH, 2005, p. 12)
convertendo-se em turista cidadão.
Torna-se necessário para o bem-receber do turista, reconsiderar a figura do
turista cidadão, principalmente no desenvolvimento do Turismo local, numa busca
136
incessante de satisfação, sustentabilidade e qualidade de vida. Visto isso, um roteiro
de compras gastronômicas busca acolher o turista tradicional e o cidadão, já que
comprar e comer são ações realizadas por todas as pessoas, independentemente se
as mesmas estão viajando ou não.
No município de Caxias do Sul, a relação com o Turismo é conturbada,
principalmente com falta de pesquisas e dados estatísticos que comprovem detalhes
sobre a movimentação do município. O dito Turismo de negócios seria a principal
atração de turistas para o município, mesmo não sabendo-se ao certo os dados para
tais. Em termos de equipamentos turísticos, conta com 14 hotéis para atender a
demanda de visitantes, (SHRBS, 2012, SEMTUR, 2013).
Encontram-se em Caxias do Sul, sete roteiros turísticos, um deles situado na
zona urbana da cidade, diferenciando-se dos outros 6 que ficam mais afastados do
centro, porém, pelo menos 5 deles abordam a imigração italiana, a vitivinicultura.
Atualmente, o município faz parte da Região Turística da Uva e do Vinho, recebe
visitantes para participar de eventos na Universidade de Caxias do Sul e diversos
eventos promocionados pelas empresas do município, como, por exemplo, a
Mercopar. Para o entretenimento da comunidade, principalmente para os amantes
de blues, acontece todos os anos o Mississipi Delta Blues Festival, na estação
férrea. De dois em dois anos, no Parque Mário Bernadino Ramos, ocorre a Festa
Nacional da Uva.
Nesse contexto, o artigo tem por objetivo descrever o processo de criação do
roteiro de compras gastronômicas no centro de Caxias do Sul/RS.
Metodologicamente, a pesquisa se caracteriza por ser qualitativa exploratória,
resgatando na bibliografia especializada os conceitos de Turismo, Gastronomia,
Souvenir e Roteiro, incluso seus desdobramentos.
2 RESGATE TEÓRICO
137
suma importância para a construção do projeto macro antes comentado, visando o
entendimento e funcionamento dos mesmos, sendo eles individuais e como atuam
em conjunto, resultando no roteiro de compras gastronômicas no centro da cidade
de Caxias do Sul.
2.1 GASTRONOMIA
139
bem como as experiências turísticas vivenciadas em uma viagem. Já, para Gastal
(2006, p. 3), a origem do souvenir estaria associada exclusivamente ao artesanato
que, olhado pelo viés turístico torna-se um “objeto turístico”, conceituado por
Santana (1997).
Do ponto de vista popular, pode ser considerado como aqueles itens
miniaturizados comprados durante a viagem, para levar para casa uma recordação
do destino visitado. Mas, para alguns autores o souvenir, além do significado
popular, ele complementa a experiência turística (HORODYSKI et. al., 2014),
podendo ser dividido a partir de Gordon (1986, p. 135):
(a) Pictorial Images, incluindo cartões postais, fotos, livros, etc; (b) Pieces-
of-the-rock são objetos salvos do meio natural ou retirado de um ambiente
construído; (c) Symbolic Shorthand: seriam miniaturas fabricadas ou objetos
de grandes dimensões; (d) Markers: lembranças que em si mesmo não tem
qualquer referência a um lugar ou evento específico, mas são inscritos com
palavras que as localize no tempo e espaço; (e) Local Products: roupas e
comidas étnicas.
140
Esse tipo de souvenir carrega consigo não somente o comprar simbólico de
uma lembrança, mas também o saber-fazer de um determinado local, a cultura de
um povo materializado em comida, além de, depois de sua aquisição, já
encontrando-se no local de residência do viajante. Por sua vez, o souvenir
gastronômico pode ser uma experiência do local já visitado sendo [re]vivido pelo
turista e até mesmo compartilhado com outras pessoas que não estiveram
fisicamente no local, deixando literalmente um ‘gostinho de quero mais’.
O souvenir gastronômico vem como a comida, insumo ou bebida marca da
cidade visitada, trazendo consigo a experiência turística materializada, vivida e
lembrada em forma de uma sensação, que acima de tudo carrega a identificação do
destino. Fazendo parte do Local Products dito por Gordon anteriormente, o souvenir
gastronômico literalmente alimenta a memória de quem viaja e opta por levar para
casa insumo culinário, seja para presentear alguém ou para consumo próprio. O
souvenir gastronômico destaca-se pelo saber-fazer, culinária local em relação ao
global, região turística de origem [marcado pelo rótulo e design] e região cultural, no
qual esses produtos, em sua maioria, derivam de processos artesanais de cada local
e/ou região, por meio das etnias e culturas.
2.3 ROTEIRIZAÇÃO
141
Segundo Creato (2005), pode-se considerar o roteiro turístico como
sendo aqueles que abordam temas específicos, porém, o turista pós-moderno é
dinâmico e interessa-se por diversos segmentos, não busca por roteiros engessados
e atrativos tradicionais isolados. Segundo o sociólogo francês Maffesoli (2001, p; 78)
a pessoa “não se resume a uma simples identidade, mas que desempenha papéis
diversos através de identificações múltiplas”, ou seja, o Sujeito turístico já não busca
a “mesmice”.
3 METODOLOGIA
142
estabelecimentos, os proprietários confirmam a venda de insumos para hóspedes
dos hotéis que os cercam. Então, nos coube questionar o porquê de não roteirizar
essas lojas para melhor atender o turista e melhor qualificar o turismo e souvenir da
cidade, mas nunca esquecendo a presença do turista cidadão como potencial cliente
da chamada rota de compras de insumos culinários, buscando a adesão da
população local.
Optando por separar em categorias os atrativos por tipo de insumo, para
melhorar o entendimento do turista e do turista cidadão, temos como “Massas
Artesanais” as lojas “Make Massas” e “Massas Vó Nice”. Como “Produtos Orgânicos
e Naturais” encaixam-se a “Reserva do Sabor”, “Ponto Ecológico” e “Armazém da
Erva Mate”. Como “Queijos e embutidos”, temos “Sgorla Queijaria e especiarias” e
“Timy alimentos”. Em “bebidas” temos a “Tumelero bebidas”.
4 RESULTADOS
143
então, a concretização da rota idealizada a cerca de um ano, no início da bolsa de
iniciação científica.
5 CONCLUSÕES
144
REFERÊNCIAS
145
OLIVEIRA, A. P. Turismo e desenvolvimento: Planejamento e Organização. 2. ed.
São Paulo: Editora Atlas S.A., 2000.
URRY, J. The tourist gaze. Leisure and travel in contemporary societies. London:
SAGE, 1990.
146
Tipologia do turismo, disposição, características e
condições para hospitalidade: o acolhimento do desejo
sob o olhar do acolhedor
Resumo: Este trabalho visa discutir aspectos relativos à disposição, características e condições para
a hospitalidade, considerando o acolhimento do desejo sob o olhar do acolhedor. Nesse sentido,
busca-se, prioritariamente, o estudo das repercussões relacionais entre sujeitos primariamente
acolhedores, nas relações com turistas/visitantes. Os marcos teóricos adotados têm por suposto a
hospitalidade como um jogo relacional que requer a escuta das demandas por parte dos acolhedores,
acionando um processo dinâmico que, se por um lado, atende às necessidades do turista/visitante,
por outro permite que sejam ampliados os horizontes do desejo, pela via da relação, quando
invertidos os papéis. Para o exame desse fenômeno, elegeram-se, como procedimento metodológico,
meios que permitam dar voz ao sujeito acolhedor e analisar seus discursos, via análise interpretativa,
identificando significados explícitos e depreendendo sentidos subjacentes. O contexto de análise do
trabalho em desenvolvimento se dá na região de Gramado e de Canela (RS), contexto no qual
iniciaram as entrevistas com sujeitos primariamente acolhedores dentro dos segmentos turísticos na
perspectiva cultural, gastronômica e de eventos. Os resultados já obtidos indicam que a relação entre
acolhedores e acolhidos não se caracteriza como marcada pela hospitalidade, mas por práticas que
via de regra, satisfazem clientes e vendedores.
1 INTRODUÇÃO
148
curiosidade, o que permite ao homem uma transformação constante de si. Assim,
pode-se inferir que tal deslocamento envolve também o tipo de disposição que o
turista tem com a sua ação de “conhecer o novo” e dessa forma, Perazzolo, Santos
e Ferreira (2016) citam os padrões de disposição para as relações por parte de
sujeitos primariamente acolhidos:
• Padrão alienador: há interferência na dinâmica do acolhimento. O outro se
torna invisível aos olhos do alienador, muitas vezes, ocorre com o turista com
demanda focada em trabalho e reunião. Para esse aspecto, a prioridade do
turista é a dimensão estrutural e de serviços no destino visitado.
• Padrão instrumental: tem como característica o reconhecimento do outro
como um meio, para a realização de seus desejos. Os discursos
apresentados, de acordo com o artigo, exibem a condição dos membros da
comunidade como instrumento, os quais servem ao desejo do turista.
A hospitalidade para esse aspecto é satisfatória em relação às demandas do
acolhido, quando seus desejos são atendidos.
• Padrão dinâmico-relacional: é a inserção do outro nas expectativas de
vivências do turista. Nesse aspecto, o outro é condição para novos
conhecimentos, assim, proporcionando a alternância que envolve o
acolhimento. No discurso, que envolve esse aspecto, o acolhido e acolhedor
envolvem em seus discursos o outro, expressando as novas experiências
vividas. (PERAZZOLO; SANTOS; FERREIRA, 2016).
Hospitalidade/Acolhimento: O conceito de hospitalidade e de acolhimento
também é diferenciado no escopo teórico das autoras, considerando que entendem
hospitalidade como a estética, a forma como se configura a partir da dinâmica do
acolhimento. As características do acolher e do ser acolhido, assim, desenhariam o
fenômeno da hospitalidade, marcado pela singularidade e pelo movimento. Trata-se,
portanto, de um “fenômeno que se instala no espaço constituído entre o sujeito
(singular e coletivo) que deseja acolher e o sujeito que deseja ser acolhido”
(PERAZZOLO; PEREIRA; SANTOS, 2013, p. 145).
149
O fenômeno pressupõe a atuação de duas instâncias que interagem
dialeticamente e se modificam, através da troca dinâmica de papéis (acolhedor e
acolhido).
No referido contexto teórico, a demanda propulsora do desejo de turismo
estaria no desejo de conhecer, como uma pulsão para o conhecimento, necessária
para o desenvolvimento humano e decorrente do deslizamento das significações
originárias dos sujeitos. Esse pressuposto assinala o lugar preponderante que o
outro ocupa na viabilidade dos objetivos e explicita a importância da
hospitalidade/acolhimento na produção de novos saberes. (PERAZZOLO; PEREIRA;
SANTOS, 2013, p. 130).
Esses dois pressupostos, o de que o turismo decorre do desejo humano de
conhecer, e de que o conhecer se constrói na relação, com movimentos
interacionais, sintetizam as orientações relativas aos focos que se devem considerar
no estudo das relações de hospitalidade. Para isso, há que levar em conta a
subjetividade dos protagonistas em seus movimentos e a natureza do encontro de
suas demandas distintas, permitindo o ajustamento mútuo de necessidades.
Ressalta-se, ainda, que, em sendo dinâmicas e singulares, as demandas são
também mutáveis, assumindo diferentes configurações, dependendo do objeto de
desejo e de seus significados.
No turismo, o movimento de acolhimento ocorre como um processo que está
além daquele existente na relação entre um hóspede e um anfitrião. No acolhimento
estarão presentes sempre que relações humanas como um fenômeno amplo,
dinâmico e social (OLIVEIRA; SANTOS, 2010).
O conceito de hospitalidade é definido, também, por meio de outras
perspectivas, embora o cerne da troca pareça comum a todos. As principais
vertentes teóricas da hospitalidade podem ser apresentadas envolvendo,
principalmente, trocas de caráter comercial (relações mercantis, como na compra de
um pacote de viagem, em uma reserva em um hotel, nos serviços de um
restaurante) e trocas derivadas da dádiva (dever triplo de dar, receber e retribuir)
(OLIVEIRA; SANTOS, 2010).
150
Disso resulta o entendimento de que as trocas não são necessariamente
materiais – são trocas que implicam um vínculo com eixo cultural (receber,
hospedar, entreter), e um eixo social (vista como instância social - doméstica,
cultural e pública) (OLIVEIRA; SANTOS, 2010).
Relação entre acolhido e acolhedor: as relações psicoafetivas adquirem
grande importância no processo do acolhimento, e da percepção de que este é um
fenômeno que ocorre a partir da relação entre o sujeito acolhido e o sujeito que
acolhe, abarcando suas respectivas expectativas e necessidades. Assim, existe
implícita percepção mútua do outro, e do entendimento que o outro é possuidor de
expectativas e desejos, e que ele é sempre estranho ao eu. Nesse sentido, para que
haja o acolhimento, é importante que os sujeitos distanciem-se de suas
necessidades egóicas, para que possa acolher o outro (SANTOS; PERAZZOLO,
2012).
Nessa perspectiva, o acolhimento passa a ser fenômeno coletivo, grupal,
onde sujeitos se hospedam mutuamente, numa perspectiva coletiva. Assim, Santos
e Perazzolo, (2012) analisam os vértices que estruturam este fenômeno, os quais
denominam Corpo Coletivo Acolhedor. Estes vértices diriam respeito à interação das
dimensões que poderiam influenciar no fenômeno do acolhimento, e segundo as
autoras seriam: o conjunto de serviços disponibilizados nas relações; o organismo
gestor (público/privado), operacional, e o referente a conhecimento e cultura -
referindo-se a um conjunto de valores, saberes e seus mecanismos de transmissão
(SANTOS; PERAZZOLO, 2012). A dimensão que esses vértices teriam no fenômeno
do acolhimento seria justamente concernente à influência que eles têm sob a
perspectiva do sujeito quanto à sensação de sentir-se acolhido. Dessa maneira, se
um deles deixa a desejar durante o processo, a percepção total do sujeito sobre o
acolhimento poderá ser prejudicada, ficando ressaltada a importância da harmonia
entre os vértices, a fim de proporcionar percepção de acolhimento para o sujeito
visitante.
151
3 CAMINHOS METODOLÓGICOS
152
4 DADOS PRELIMINARES E CONSIDERAÇÕES
153
capaz de me transformar e deixar-se transformar, mas como “uma presa” de quem
se servirão.
Outros fragmentos do discurso dos entrevistados explicam ainda melhor essa
dimensão:
Adoto estratégias para que o cliente circule, influenciando-o a comprar.
Temos estratégias diferentes, por exemplo, se o dia está ruim procuramos
divulgar um prato específico para chamar o cliente.
O processo de persuasão levaria em conta também a ambiência, a sedução
por requintes decorativos e recursos sensoriais. Tal argumento pode ser evidenciado
nos fragmentos:
Não vendemos só comida, vendemos uma experiência, através da estrutura
do restaurante, não é só comida.
Temos um ambiente bacana, temos música ao vivo todos os dias na casa.
Em baixa temporada, fazemos um quadro decorativo para chamar a atenção.
Outra dimensão observada no conteúdo dos discursos refere-se à
“valorização” unilateral, a priori, dos produtos e serviços oferecidos, sem que o
desejo do turista/visitante seja percebido.
Nosso chocolate não contém gordura hidrogenada e nem glúten, sendo uma
coisa muito diferenciada aos outros chocolates.
Os elementos narcisicamente valorados pelos sujeitos entrevistados podem
indicar uma tendência de atuação no âmbito comercial, como uma estratégia do
segmento, envolvendo a qualificação de vendedores, embora, naturalmente, possa
resultar, também, de outras perspectivas não consideradas.
A palavra “pessoa”, sinalizadora de que a singularidade foi ou é, em algum
momento, objeto de interesse por parte dos primariamente acolhedores, foi utilizada
por apenas um entrevistado. Esse mesmo entrevistado destacou:
Acolhimento para nós é atendermos da melhor maneira possível diferentes
pessoas, adaptar nossos pratos as diferentes necessidades e ter uma estrutura de
acesso para aqueles que têm alguma deficiência.
154
Essa verbalização permite levantar a hipótese de que, nesse caso, a
hospitalidade e a dinâmica do acolhimento, sempre marcadas pela singularidade,
podem estar ocorrendo em suas relações, ainda que de forma pré-sincrônica5
(PERAZZOLO; SANTOS, 2014). Chama ainda a atenção que nenhuma referência
foi encontrada envolvendo circunstâncias e situações de apoio, graça ou revelações
que podem e comumente se dão no encontro da hospitalidade.
Da mesma forma, pode-se considerar que a demanda do primariamente
acolhido, nesse contexto, se caracterize pela modalidade intrínseca, ou seja, pela
busca de obtenção de satisfação de necessidade e desejos prévios e pessoais,
(PERAZZOLO; SANTOS; FERREIRA, 2016), situação em que o sujeito
primariamente acolhedor tende a ser considerado como um meio de realização de
objetivos e não como pessoa, tal como ocorre com o comerciante. Haveria, nesse
caso um pseudoacolhimento, na medida em que “tratar bem”, obter um produto de
interesse e vendê-lo, constitui o núcleo de uma pseudorrelação.
Em se configurando os aspectos já encontrados como traços do perfil de
relação do Corpo Coletivo Acolhedor (PERAZZOLO; SANTOS; FERREIRA, 2016),
há de se levantar como hipótese que a gestão, os serviços e a cultura, vértices do
corpo/comunidade que acolhe, se articulam de forma a assumir um padrão tão
alienador quanto o adotado pelo turista/visitante, na medida em que ambas as
instâncias privilegiam processos e objetos às relações humanas, estando pouco
motivadas ao desenvolvimento pessoal.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
156
Turismo e o bairro de São Cristóvão: tradições imperiais e
cultura popular em debate
Resumo: O presente estudo busca ressaltar e reforçar a importância do Bairro de São Cristóvão em
relação ao município do Rio de Janeiro, sua cultura e patrimônio, a partir de duplo pilar, isto é, antigo
local frequentado pela família real e, também, polo de cultura popular com o Centro Municipal Luiz
Gonzaga de Tradições Nordestinas (Pavilhão de São Cristóvão). Além disso, o bairro abriga o
Colégio Pedro II, campus São Cristóvão, que uma escola pública federal da educação básica à Pós-
Graduação. A multiplicidade de atrativos turísticos pode tanto interessar aos turistas estrangeiros e
nacionais quanto aos residentes que muitas vezes circulam por ali apenas para acessar a Linha
Vermelha, importante via de chegada e partida da cidade do Rio de Janeiro. No segmento do Turismo
Cultural, as experiências turísticas vivenciadas procuram conhecer os locais visitados a partir dos
elementos históricos e culturais superando a superficialidade das visitações mais tradicionais. Para
tanto, foi adotado o método de pesquisa qualitativa, por meio de levantamento bibliográfico (livros,
artigos e periódicos) e documental (vídeos, séries, fotografias).
1 INTRODUÇÃO
Em 6 de Junho de 1818, o Museu Nacional foi fundado por D. João VI, com o
objetivo de incentivar a construção do conhecimento científico no Brasil. Assim, esta
é, a mais antiga instituição científica país, com vasto acervo referente à história
158
natural e à antropologia das Américas1. Vale destacar que, em 1946, o museu foi
incorporado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), uma vez que, a
instituição possuía diversos projetos de pesquisa no espaço. Esta trajetória marcada
pela pesquisa e, também, local de lazer de residentes e turistas foi drasticamente
interrompida em setembro de 2018 quando um incêndio de proporções gigantescas
destruiu praticamente todo o acervo construído ao longo de duzentos anos de
existência (idem, p. 188).
O conhecimento científico também está presente em outra instituição de
ensino do bairro, o Colégio Pedro II. Sua fundação ocorreu em 2 de dezembro de
1837 para homenagear seu patrono, o imperador do Brasil D. Pedro II. O principal
objetivo era levar a civilização2, por meio do conhecimento tornando-se uma
referência a ser seguida no ensino secundário. Nos anos de 1960, a noção de
padronização deu espaço ao conhecimento realizado de forma mais dinâmica como
citado em “O Colégio Pedro II e o Ensino secundário brasileiro: 1930-1961”
(MASSUNAGA, 1989, p. 44). Atualmente, o colégio é uma referência nacional de
construção de ensino e produção de material científico sendo reconhecido por ser
pioneiro em decisões importantes e inovadoras como, por exemplo, aceitar nome
social para pessoas transgêneros (AGÊNCIA BRASIL, 2016).
Em 8 de março de 1985, o Museu de Astronomia e Ciências Afins, foi fundado
no Rio de Janeiro com a finalidade de atuar na preservação da memória, da
produção científica e tecnológica do Brasil, da gestão de acervos documentais e
museológicos e na promoção de atividades de divulgação e de incentivo à educação
em Ciências. A instituição também abriga um importante acervo bibliográfico,
museológico, arquitetônico e paisagístico ligados à história da atividade científica
161
confluência de transportes públicos com destaque para o trem e o metrô. Além
disso, diversas linhas de ônibus circulam por ali, assim como os automóveis
particulares que muitas vezes utilizam o acesso do bairro para alcançar a Linha
Vermelha1, importante via de chegada e partida da cidade. Certamente, o grande
desafio, está na invisibilidade que parece imposta ao bairro de São Cristóvão que
apesar dos diversos atrativos turísticos não consta nos principais guias turísticos
consultados pelos visitantes. No site de avaliações www.tripadvisor.com.br, o bairro
possui 18 atrações com 8.403 avaliações (até 27 de maio de 2019), contudo a
atração com maior número de avaliações é a Feira de São Cristóvão que ocupa a
107ª posição de 726 atividades em Rio de Janeiro, uma colocação pouco
competitiva.
Ao longo do tempo, a região turística do Rio de Janeiro se consolidou,
prioritariamente na zona Sul e no centro da cidade, locais marcados pela
desigualdade social sempre acompanhadas pelo encarecimento dos espaços
motivando o processo de gentrificação2. Estas zonas da cidade se sobrecarregam
nas altas temporadas, majoritariamente por turistas estrangeiros, em uma cidade
que não faltam opções de atrativos, o turismo se entrega a mesmice lucrando
sempre nos mesmos espaços reforçando assim o estereótipo 3 de praia e sol,
sintetizando uma cidade a suas duas praias mais famosas, isto é, Copacabana e
Ipanema.
No bairro de São Cristóvão a maior parte dos visitantes são os moradores da
cidade do Rio de Janeiro ou brasileiros que possuem amigos na cidade. A título de
exemplo, foram realizados alguns estudos de público no Museu nacional antes do
1 Via expressa que liga a cidade de São João de Meriti (RJ) ao centro e à Zona Sul da cidade do Rio
Janeiro, considerada a porta de entrada para a cidade do Rio de Janeiro. A via é margeada por 18
favelas e eventualmente ocorrem fechamentos da via em decorrência de tiroteios ou assaltos aos
motoristas (OUCHANA, 2019).
2 Gentrificação é a denominação do processo de transformação de centros urbanos por intermédio da
mudança dos grupos sociais ali existentes, com as melhorias são expulsas indiretamente as
comunidades de baixa renda e entram moradores das camadas mais ricas, pois tudo ao redor das
melhorias se torna hipervalorizado (CADERNOS METRÓPOLE, 2014, p. 303).
3 Estereótipo é uma imagem largamente mantida, altamente deturpada e simplificada de algo que
levaria a pessoa a ter uma atitude favorável ou desfavorável em relação a um objeto, a um produto, a
uma instituição, a uma pessoa ou, no caso do turismo, a um lugar.
162
incêndio, e algumas constatações se repetiram em grande parte, em 1995, Valente
apresentou os dados de sua pesquisa, que teve por finalidade perceber a relação do
público com a exposição permanente do Museu Nacional, que atualmente ainda se
recupera do incêndio de 2018.
3 CONEXÕES AO IMPÉRIO
Aqui vale uma consideração, historicamente, o Rio de Janeiro foi ocupada por
portugueses e seus descendentes sendo que muitos deles tinham o intuito de morar
próximo a Corte portuguesa que estava instaurada na cidade. Assim, no bairro de
São Cristóvão, eles recriaram identidades luso-brasileiras, da mesma forma que
reviveram e consolidaram suas tradições, isto é, as referências culinárias, as formas
de vestir e de construir seus imóveis. Desta forma, as articulações materiais e
simbólicas entre as duas margens do oceano Atlântico podem ser notadas em
alguns estabelecimentos que ainda permanecem abertos na atualidade podendo ser
exemplificado com o restaurante Adegão Português1. Além dos moradores
tradicionais, novos empreendimentos imobiliários começaram a se instalar na região
nos últimos anos, impulsionando uma renovação identitária de grande importância
ao bairro de São Cristóvão. Neste sentido, a construção de prédios residenciais,
assim como o aumento de fábricas têxteis que abastecem lojas e, também, vendem
no atacado são transformações visíveis da localidade.
Após as considerações sobre o bairro da Zona Norte carioca, façamos uma
1 “Restaurante reconhecido há mais de 50 anos por oferecer pratos clássicos da culinária lusitana,
com tradição e inovação, preservando sua história sem parar no tempo”. Disponível em:
http://www.adegaoportugues.com.br. Último acesso: 02/05/2018.
163
aproximação em relação ao turismo a partir da sua potencialidade que pode estar
vinculada aos elos de pertencimento do indivíduo com o seu local e sua história. Ao
valorizar o espaço possibilitando despertar o interesse de visitantes propiciando a
possibilidade do desenvolvimento do sentimento hospitaleiro nestes moradores.
Assim, atentemos:
1 MENDONÇA, Alba V. Zoológico do Rio vai virar bioparque com bichos soltos e visitantes circulando
por túneis e corredores. G1 Rio, Rio de Janeiro, 2018. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-
janeiro/noticia/zoologico-do-rio-vai-virar-bioparque-com-bichos-soltos-e-visitantes-circulando-por-
tuneis-e-corredores.ghtml. Último acesso: 13/09/2019.
165
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
166
e podendo até iniciar processos de placemaking1.
Desta forma o turismo e consequentemente o efeito multiplicador2, só
ocorrerá mediante uma estratégia de marketing consolidada, que vise divulgação
diferenciada do bairro. Provavelmente um processo de mudança da visão de São
Cristóvão nas mídias pode ocorrer permitindo a compreensão dos moradores sobre
o local e levando a gestão ativa da atividade turística.
Dada a importância do assunto, torna-se necessário o desenvolvimento de
um estudo de mercado que permita conhecer os turistas, compreender seus
comportamentos, suas motivações, suas percepções e suas frustrações. Tendo em
conta o aumento da competição entre destinos turísticos, o estudo de mercado
revela-se uma base eficaz para o desenvolvimento de estratégias de marketing
competitivo e também um estudo de impacto do turismo nesses espaços.
Cada vez mais, quando os moradores do bairro participam das decisões e
dos espaços como frequentadores, gestores e observadores críticos, eles podem
impulsionar o turismo local, ao consultar a população, perceber suas necessidades,
integrando-as ao processo para que se tornam ativas e começando assim uma nova
visão de pertencimento.
REFERÊNCIAS
168
NASCIMENTO DA SILVA, M. Identidade, Pertencimento e Sociabilidade no Espaço
Urbano: Observações Sobre a Percepção dos Usuários do Bairro Cidade Baixa em
Porto Alegre. Iluminuras, v. 14, n. 34, p. 209. Porto Alegre: UFRGS, 2013.
Nossa História: o Adegão Português Caiu no Gosto dos Cariocas Há Mais de 50
Anos. Disponível em: http://www.adegaoportugues.com.br. Acesso em: 02 maio
2018.
OUCHANA, G. PM é acionada pelo menos uma vez por dia na Linha Vermelha. O
Globo, Rio de Janeiro, 2019. Disponível em: https://oglobo.globo.com/rio/pm-
acionada-pelo-menos-uma-vez-por-dia-na-linha-vermelha-23362905. Acesso em: 13
set. 2019.
169
Turismo, Eventos LGBT e Comunicação
Karen Dannenhauer1
Orientadora: Maria Luiza Cardinale Baptista2
Resumo: O texto busca sinalizar, de forma primária, as relações entre o Turismo, os Eventos LGBT e
a Comunicação ao longo do processo histórico. É parte de uma pesquisa que vem sendo realizada,
em nível de iniciação científica, na Universidade de Caxias do Sul, vinculada ao Amorcomtur! Grupo
de Estudos em Comunicação, Turismo, Amorosidade e Autopoiese. Em termos teóricos, envolve
perspectiva transdisciplinar, com textos sobre a Cartografia de Saberes, com Baptista (2014), a
Esquizoanálise, com Guattari e Rolnik (2000) e Deleuze e Guattari (1995), a história LGBT, com
Facchini (2003) e Fry e MacRae (1985), Turismo, com Baptista (2018) e Eventos, com Matias (2010)
e Tenan (2002). A estratégia metodológica é a Cartografia de Saberes, que privilegia a
transdisciplinaridade, alinhada com aspectos da mutação da Ciência. Pode-se perceber, com os
estudos realizados, que os eventos LGBT são potencializadores de união das multiplicidades e
singularidades, produzindo movimento de desterritorialização, em sentidos vários. Também se
observa que os sujeitos que passam por um processo de desterritorialização se potencializam.
1 INTRODUÇÃO
As lutas das mulheres, dos negros, dos homossexuais, dos índios, dos
prisioneiros - categorias historicamente silenciosas - têm nos ensinado que
a História tem sujeitos e objetos aqueles que falam e aqueles de quem se
fala, mas também que os sujeitos variam ao longo do processo. (LAMPIÃO,
1978, p. 2)
172
Em seu livro Epistemologias do Sul, que compõe coletânea de diversos
artigos científicos de teóricos, Boaventura de Souza Santos (2009) se compromete
em realizar justiça àqueles que seus saberes, na visão eurocêntrica do
conhecimento, não estão inclusos. Boaventura (2009), no capítulo Para além do
pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes, discute de que
modo o processo de colonização suspendeu e, por conseguinte, afetou
negativamente as culturas tal como as suas epistemologias diversas. O próprio
nome do livro faz referência ao que se pretende elucidar. Para Santos (2009), o sul é
àquele que não está incluso aos olhares do norte e que, portanto, não possui
valoração alguma para estes e, no seu modelo mais perverso, torna-se invisível. Já
as epistemologias dizem respeito aos conhecimentos populares, leigos,
camponeses, indígenas que não se encontram deste lado da linha, o visível, lugar
do conhecimento eurocêntrico, mas do outro lado da linha, o invisível, lugar do não
conhecimento científico.
Neste sentido, esta pesquisa busca mostrar a relevância das lutas do
movimento LGBT para formação dos eventos de pequeno, médio e grande porte que
tentam, cada vez mais, abarcar as diversidades culturais presentes na sociedade
brasileira.
3 EVENTOS LGBT
173
evento acadêmico, ou seja, sujeitos que não necessariamente fazem uma viagem de
negócios (TENAN, 2002). Além disso, Tenan (2002) salienta que um evento é um
acontecimento que não está na rotina, que reúne sujeitos com algum interesse em
comum.
Na contemporaneidade, os eventos LGBT são realizados por movimentos de
oprimidos sociais e surgem da necessidade de esses sujeitos reivindicarem seus
direitos como cidadãos civis e de gerar visibilidade perante a heteronormatividade da
sociedade. São grandes eventos que comportam shows nacionais, desfiles, feiras
culturais, ciclo de debates e congressos destinados ao público LGBT. Além disso, os
eventos desembocam em outras pequenas manifestações que se espalham pelos
municípios e que contribuem para com a multiplicidade dos eventos. Entre eles,
estão as execuções de filmes ao ar livre, exposições de arte referentes ao público
LGBT, oficinas de segurança e defesa pessoal entre outras.
Além de promoverem a igualdade, esses eventos ajudam a contribuir com
multiplicidade das diferenças que buscam a inclusão e o apoio.
174
reuniram para produzir jornais que falassem de oprimidos, para os oprimidos. Sendo
assim, nasceu, em 1978, o jornal, em formato de boletim, o Lampião da Esquina,
que contava com publicações mensais.
A partir disso, os sujeitos LGBT puderam estabelecer vínculos de
compreensão, apoio mútuo e resistência entre si e o movimento conseguiu, ainda
que de forma extremamente restrita, se manifestar e reivindicar seus direitos e de
outros grupos de minorias também. Facchini (2003) divide o movimento LGBT em
três instantes distintos. O primeiro corresponde ao surgimento e expansão do
movimento, no decorrer do processo de abertura política. Naquele momento, os
sujeitos militantes reforçavam a autonomia, o comunitarismo e o antiautoritarismo,
no movimento (FACCHINI, 2003).
O segundo momento teve seu início na década de 1980 e está associado ao
retorno do regime democrático, iniciado em 1985; ao aparecimento do HIV/Aids,
chamada por parte da sociedade da época de “peste gay”, segundo Facchini (2003);
e, paradoxalmente, ao declínio do movimento LGBT (FACCHINI, 2003). Na mesma
década, em 1981, conforme Fernandes (2018), o Grupo de Ação Lésbico-Feminista
(LF), que desde 1979 começou mostrar a sua importância para a emancipação das
mulheres no Brasil, lança o boletim ChanacomChana, organizado por mulheres que
buscavam a visibilidade das lésbicas dentro e fora do movimento e que protestavam
contra as opressões de gênero e orientação sexual que sofriam.
Para Facchini (2003), na década de 1980, o movimento que sofria com os
frequentes ataques em relação ao aparecimento do HIV/Aids, na década de 1990,
refloresceu e contava com uma presença marcante na mídia, uma ampla
participação em movimentos de direitos humanos em resposta ao HIV/Aids, em
ações junto a parlamentares, com proposição de leis em todos os níveis, criação de
associações de grupos em nível nacional e organização de eventos de rua.
O movimento LGBT utilizava folders, panfletos, boletins e jornais, para a
divulgação dos encontros, dos eventos e das manifestações culturais, destinados
aos que se identificavam com o movimento.
No Brasil, segundo a Edição 26, do Jornal Lampião da Esquina (1978), a
175
primeira marcha LGBT aconteceu no dia 13 de junho em 1980, no centro de São
Paulo. Nela, ativistas LGBT e integrantes do Movimento Negro Unificado (MNU)
protestaram contra as fortes repressões que os negros, as prostitutas, as travestis e
os homossexuais sofriam diariamente nas mãos da polícia.
A caminhada foi extremamente significativa para as minorias oprimidas, pois
foi por meio dela que os sujeitos e o movimento ganharam visibilidade e forças, para
crescerem e terem a potência que vemos atualmente.
Segundo a ONG APOGLBT – SP, a primeira edição da parada do Orgulho
LGBT aconteceu no dia 28 de junho de 1997, na Av. Paulista, em São Paulo. De
forma significativa, a parada mostrou a força e a união dos sujeitos discriminados
diariamente pela sociedade.
5 TURISMO
176
São constituídos por feixes de fluxos incorporais a-significantes, com suas
múltiplas expressões e configurações materiais, que se substituem o tempo
todo. Este mesmo ‘todo complexo caosmótico’ é colocado em ação de
desmanche na desterritorialização, no turismo. Disso decorre a sensação de
perder-se em abismos existenciais, significacionais, diante de universos de
referências que se esvaem.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
177
LGBT, permitindo a expressão e criação dos que costumam frequentar este tipo de
evento.
REFERÊNCIAS
TREVISAN, J. S. São Paulo: a guerra santa do Dr. Richetti. Rio de Janeiro, jun.
1980. Violência, p.18.
VIANA, F. “50 anos de Stonewall - Nossas conquistas, nosso orgulho de ser LGBT+”
é o tema da 23ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo que acontece domingo, dia
23 de junho, e consta participação internacional de Melaine C, além de Gloria
Groove, Aretuza Love, Luísa Sonza e MC Pocahontas. Parada SP. São Paulo, 17
jun. 2019. Home. Disponível em: http://paradasp.org.br/50-anos-de- stonewall-
nossas-conquistas-nosso-orgulho-de-ser-lgbt-e-o-tema-da-23a-parada-do- orgulho-
lgbt-de-sao-paulo-que-acontece-domingo-dia-23-de-junho-e-conta- participacao-i/.
Acesso em: 15 set. 2019.
179
MODALIDADE AUDIOVISUAL
180
A Música Manauara no Largo São Sebastião – Um Estudo
Sobre o Evento Tacacá na Bossa
Leonardo Vanderson Pereira Gama1
Ou seja, o lugar onde acontece o evento possui toda uma estrutura formal de
um espaço turístico.
A pesquisa divide-se em quatro etapas: levantamento das informações;
pesquisa de campo para a aplicação de formulários e questionários; e tabulação e
análise das informações;
Por fim, a ideia inicial com a pesquisa é transformar a música manauara e o
evento Tacacá na Bossa em fatores importantes para o desenvolvimento da
identidade cultural, a valorização dos artistas locais e, sobretudo inserir esses
contextos dentro do cenário turístico da cidade de Manaus.
REFERÊNCIAS
Som: Leonardo Gama, e com áudios extraídos do site Youtube, dos canais: Vila
Vagalume e Neidinha Maciel
183
Estudo Bibliométrico sobre o Uso de Metodologias de
Análise da Imagem nas Pesquisas em Turismo, Museologia
e Patrimônio Cultural (2013-2018)
Leonardo da Silva Vidal1
Ana Julia Gueiros Azevedo2
Cheila Pacetti3
Orientadora: Karla Estelita Godoy4
REFERÊNCIAS
185
Fórum. Internext. v. 10, n. 2, p.1-5, 2015.
Autores: Leonardo da Silva Vidal, Ana Julia Gueiros Azevedo, Cheila Pacetti
Produção: Cheila Pacetti, Leonardo Vidal, Karla Estelita Godoy, Iasmim Leite, Ana
Julia Azevedo, Jaqueline Lopes, Givago Guimarães,
187
FEMME MAISON: Arte, Turismo e os Deslocamentos na
Cidade
Ana Magnus Bresolin 1
Orientadora: Luciene Jung de Campos2
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
189
Autores: Ana Magnus Bresolin
190