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e Destinos Turísticos:
Planejamento
e Gestão
Guilherme Lohmann
Carla Fraga
Rafael Castro
Transportes
e Destinos Turísticos:
Planejamento
e Gestão
Guilherme Lohmann
Carla Fraga
Rafael Castro
© 2013, Elsevier Editora Ltda.
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autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios
empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros.
ISBN: 978-85-352-6086-1
ISBN (versão eletrônica): 978-85-352-6087-8
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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
L824t
Lohmann, Guilherme
Transportes e destinos turísticos: planejamento e gestão / Guilherme Lohmann; coordenação Eduardo
Sanovicz. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.
256 p.; 23 cm
ISBN 978-85-352-6086-81
1. Transportes - Planejamento. 2. Turismo. I. Fraga, Carla. II. Castro, Rafael. III. Sanovicz, Eduardo. IV. Título.
13-01159 CDD: 338.441
CDU: 656.11
17/05/2013 17/05/2013
Autores
Guilherme Lohmann
Professor da School of Tourism and Hospitality Management (STHM) da Southern
Cross University (SCU), campus Gold Coast, Austrália. Sua experiência acadêmica
internacional também inclui o ensino e a pesquisa em universidades no Brasil (USP e
UESC), Estados Unidos (University of Hawaii at Manoa) e Nova Zelândia (University of
Waikato e Victoria University of Wellington). Foi consultor para trabalhos do Ministério
do Turismo do Brasil, Organização Mundial do Turismo (OMT), UNEP (Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente) e Queensland Airport Ltd (Austrália), além de ter
dado treinamento para funcionários da Abu Dhabi Tourism Authority (Emirados Árabes
Unidos). Tem experiência na orientação de doutorado em pesquisas tanto em transporte
quanto em turismo, incluindo alguns alunos brasileiros. É membro-fundador e atual
diretor executivo da ABRATUR, Academia Internacional para o Desenvolvimento da
Pesquisa em Turismo no Brasil (www.abratur.org). Seus temas de interesse e de pesquisa
incluem transportes turísticos, aviação, cruzeiros marítimos, geografia dos transportes,
aspectos teóricos e metodológicos do turismo e administração de destinos turísticos.
Email: gui.lohmann@me.com / Site: www.guilohmann.com
Carla Fraga
Professora do curso de Turismo da Escola de Turismologia da Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), atua como bolsista da Coordenação de Aperfei-
çoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)/Universidade Aberta do Brasil (UAB)
para a coordenação da disciplina Transportes do curso de Licenciatura em Turismo
(EAD) - Fundação CECIERJ/Consórcio CEDERJ. É professora dos cursos de graduação e
pós-graduação de Turismo e Eventos da Universidade Estácio de Sá. Atuou com trens e
turismo na Associação Brasileira das Operadoras de Trens Turísticos e Culturais (ABOTTC)
e foi membro do Núcleo de Turismo Cultural Ferroviário do Movimento de Preservação
Ferroviária (MPF). Desde 2009 lidera o Grupo de Pesquisa Transportes e o Turismo (GPTT).
Seus temas de interesse e pesquisa incluem transporte e turismo, com ênfase em trens
turísticos, educação em turismo, turismo e meio ambiente.
E-mail: carlota.fraga@gmail.com
Rafael Castro
Mestre e Doutorando em Engenharia de Transportes pelo PET/COPPE/UFRJ com
período sanduíche na School of Tourism and Hospitality Management (STHM) da Southern
Cross University (SCU), campus Gold Coast, Austrália. Bacharel em Turismo pela Univer-
sidade Positivo (UP). É professor dos cursos de graduação em Turismo e Gastronomia do
Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM), no Rio de Janeiro. Os principais temas de
interesse incluem transporte aéreo e turismo, branding de aeroportos e desenvolvimento
de destinos turísticos, além de hospitalidade e acessibilidade nos transportes turísticos.
E-mail: contato@profrafaelcastro.com / Site: www.profrafaelcastro.com
Apresentação
Atuar no setor do Turismo gera inúmeras oportunidades para as pessoas que estão
procurando inserir-se no promissor cenário econômico brasileiro, marcado pela inclusão
de milhões de novos consumidores no mercado.
Gerador de expressivos resultados para as comunidades, nas quais se torna parte do
ambiente econômico, o turismo recupera a autoestima, contribui para a preservação
do meio ambiente, estimula a produção cultural e incentiva centenas de atividades nos
mais variados portes.
Trabalhar em Turismo, nos seus vários segmentos e atividades correlatas, pode pare-
cer complicado, mas é uma sequência muito objetiva de atos – trata-se de equacionar
corretamente a articulação entre quatro verbos – comer, dormir, comprar e visitar. Estes
são os verbos que um passageiro conjuga ao chegar a seu destino, na medida em que
se utiliza da oferta gastronômica (ele come fora de casa); da oferta hoteleira (ele dorme
fora de casa); da oferta comercial (ele faz compras) e da oferta lúdico-cultural ou natural
(ele vai visitar e conhecer o lugar). O que muda é a razão pela qual ele os conjuga: férias
e lazer, negócios e eventos, visita a parentes, provar de um prato ou bebida especial,
praticar esportes, além de dezenas de outras razões que podemos imaginar.
Como profissional de turismo, venho atuando há vários anos tanto no setor público
como no setor privado, especialmente no mercado internacional. Neste sentido, há muito
tempo me chama a atenção o crescimento da produção intelectual do turismo brasileiro.
Vários colegas vêm escrevendo e refletindo sobre o desenvolvimento do turismo ao longo
dos últimos anos, com muita competência. Nossa produção bibliográfica inclusive tem
a qualidade de estar distribuída ao longo de praticamente todo o país, incorporando,
portanto, contribuições intelectuais que espelham a diversidade e o pluralismo cultural
sobre os quais o Brasil está se construindo.
No entanto, quando iniciei minhas atividades docentes na Universidade de São Paulo,
em 2008, uma questão de outra qualidade começou a me chamar a atenção: se por um
lado é fato que o Brasil construiu uma imagem internacional completamente nova, que
o país hoje se coloca como um dos agentes econômica e politicamente destacados no
cenário mundial, e que este fato vem se refletindo no turismo brasileiro, por outro, nossa
produção intelectual, assim como a reflexão acadêmica de nossos colegas, ainda não se
encontrou com a produção estrangeira para um diálogo de qualidade.
Ou seja, encontros como é prática antiga e corrente em diversos setores da produção
cultural brasileira – música, teatro ou arquitetura, por exemplo – nos quais a realização de
trabalhos construídos em parceria entre autores estrangeiros e brasileiros vem produzindo
resultados memoráveis e marcantes, ainda não se verificam no turismo. Apesar do cres-
cimento gerado pela inserção do Brasil no mercado turístico internacional – em volume
de passageiros, em volume de conexões aéreas internacionais, em volume expressivo de
crescimento no ingresso de dólares na economia brasileira, nossa produção literária em
turismo ainda não viveu uma experiência desta qualidade.
Esta foi a ideia inicial desta coleção – partindo de textos instigantes e inovadores de
autores estrangeiros, cujos temas são de interesse dos brasileiros, construir uma relação
com autores nacionais de uma forma que lhes desse toda a liberdade para reconstituir
os textos originais, adaptando-os à realidade latino-americana. A coragem da Editora
Elsevier em oferecer seu portfólio a este projeto, confiando no resultado e na capacidade
dos autores brasileiros em trazer textos estrangeiros para o ambiente cultural e técnico
regional, adaptando relatos e conceitos, deve ser registrada e enaltecida.
Este diálogo tem início agora, também por acompanhar o ciclo de maturação do
turismo enquanto atividade econômica no país, em relação ao cenário internacional. Se
retornarmos no tempo, é possível traçar uma linha lógica de acontecimentos – a criação
do Ministério do Turismo e o redirecionamento da Embratur para atuação internacional,
a inserção do tema Eventos na agenda de promoção do país (2003), a criação dos Es-
critórios Brasileiros de Turismo (2004), o Plano Aquarela e a criação da Marca Brasil (2005)
e finalmente a presença do Brasil no Top 10 do Ranking ICCA – International Congress
& Convention Association em volume de realização de eventos internacionais (2006); e
acompanhar a repercussão destes fatos na mídia internacional, que reage, em paralelo à
implantação de cada uma das situações descritas, em grande parte pelo peso econômico
que o país vai assumindo enquanto mercado consumidor, como resultado das políticas
de inclusão social. O turismo beneficia-se deste cenário, pois a imagem do país vai se
reconstituindo no imaginário tanto de consumidores como de decision-makers ao redor
do mundo, e o noticiário referindo-se ao Brasil de forma positiva começou a despontar
já ao final da década passada.
Pois bem, um processo de crescimento pode ter como paralelo a adolescência:
nosso corpo e nossa alma ficam um pouco contraditórios, a voz muda, os desejos são
alternados entre antigos interesses infantis e os novos olhares para a futura vida adulta.
Pois é exatamente neste ponto em que nos encontramos hoje, enquanto país, em relação
a vários itens da agenda nacional relacionados a turismo. A cada nova etapa vencida ao
longo dos últimos anos, surge um novo desafio a enfrentar – legislação, infraestrutura e
capacitação, os mais comentados, são a parte visível deste adolescer do turismo brasileiro,
rumo a um novo papel no cenário internacional.
Do ponto de vista da produção intelectual brasileira a criação do curso de Lazer e
Turismo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade de São
Paulo, em 2005, representou a possibilidade de inserir no universo acadêmico uma
nova geração de professores e formuladores, cuja formação, por abranger um conjunto
amplo de áreas de conhecimento, e destacadamente por trazer a reflexão mais ampla
sobre o lazer em suas diversas possibilidades. Ao completar seu sexto ano, tendo já
graduado várias turmas e iniciado um ciclo gerador de titulação de seus professores
na carreira acadêmica, o curso tem uma contribuição a fazer ao pensamento turístico
brasileiro.
Daí o que representa esta coleção. A contribuição de um grupo de profissionais, todos
relacionados à academia, todos ligados direta ou indiretamente ao curso de Lazer e Turis-
mo da EACH/USP ou à produção teórica que dialoga com seus postulados, procurando
dar corpo ao diálogo entre o turismo no Brasil e suas possibilidades, e a produção in-
telectual publicada ao redor do mundo, no que ela tem de contribuições a nos ofertar.
No país que conquistou o direito de realizar a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos,
a tarefa à qual se propõe esta coleção inovadora é trazer aos leitores, sejam estes profis-
sionais interessados em ingressar no setor ou já atuantes; sejam empreendedores ou
trabalhadores; sejam estudantes de nível técnico, superior ou graduados na área, as
seguintes contribuições:
– atualização: pois reúne alguns dos melhores e mais consagrados autores estrangei-
ros, traduzidos e adaptados por autores brasileiros especializados nos segmentos
sobre os quais escreveram;
– inovação: pois, a partir dos textos originais, acrescenta conceitos e experiências
da literatura turística brasileira profundamente calcados na realidade nacional e na
expertise e vivência profissionais e acadêmicas de cada um dos autores;
– apoio: pois tem a capacidade de orientar objetivamente aqueles que pretendem
ingressar no setor ou rever as práticas que hoje adotam em sua ação cotidiana; e
– reflexão: pois é a primeira coleção produzida após as profundas alterações ins-
titucionais pelas quais passou o turismo brasileiro com a criação de um Ministério
próprio em 2003. Esta coleção vai refletir os resultados obtidos com o novo patamar
alcançado pelas atividades ligadas ao turismo, assim como sua inserção na agenda
econômica do país.
Convido todos a desfrutarem da coleção completa : A primeira fase, reunindo autores
estrangeiros e brasileiros e a segunda, que se abre agora com autores nacionais. Profes-
sores e alunos, profissionais iniciantes e experientes vão encontrar na diversidade de temas
que abordamos um processo de reflexão a altura dos desafios do Brasil contemporâneo.
Vão encontrar em cada um dos livros, temas que nos desafiam cotidianamente. Nosso
objetivo declarado aliás, ao eleger temas e autores, era exatamente o de ampliar o universo
de leitores das publicações especializadas em turismo, por meio da abordagem de temas
cujo equacionamento é vital para que o Brasil esteja a altura de seu novo patamar.
Esta é a tarefa à qual nos propusemos e agora submetemos a julgamento dos leitores.
Se por um lado é fato que esta nova década assiste a consolidação de um país melhor
em termos de qualidade de vida sob todos os aspectos, por outro, esta situação nos cria
novos desafios em termos de geração de infraestrutura e qualidade de produtos e serviços
para atender este novo patamar de demandas internas e externas.
Todo livro tem uma história. A deste remonta há mais de uma década.
Desde o ano de 2002, quando terminei de escrever o livro Transportes Turísticos, muita
coisa aconteceu tanto do ponto de vista mercadológico quanto acadêmico nesta área.
O livro em si foi excepcionalmente bem aceito entre professores e alunos de Turismo,
foi reimpresso e reeditado e, durante alguns anos, foi o livro mais vendido da Coleção
Turismo da editora Aleph. Das quase 300 citações que minhas publicações receberam até
o ano de 2012, um-terço se deve a este livro. Há alguns anos, vários colegas professores
pediam-me que uma versão atualizada da obra fosse lançada, principalmente em função
das enormes transformações ocorridas no Brasil desde então. No início dos anos 2000, a
Gol era uma promessa, e Varig e TAM dominavam o setor aéreo. Quem iria imaginar que
em poucos anos a Gol se tornaria uma big player e que viesse a comprar a própria Varig?
Outras empresas de baixo custo se instalaram, a demanda expandiu vertiginosamente,
mas a crise aérea dos anos 2006/7 mostrou o lado sombrio de um sistema que ainda
precisava modernizar a sua gestão, notadamente no que diz respeito ao tráfego aéreo e
às operações aeroportuárias. Hoje o transporte aéreo é muito mais acessível e não apenas
um privilégio de poucos. Em outro modo de transporte, o setor de cruzeiros marítimos
explodiu no país, chegando a quase 800 mil passageiros na temporada 2010/11.
Escrever um livro deste porte é uma “loucura acadêmica”. Requer-se meses de trabalho
a fio, ganha-se muito pouco de direitos autorais, e as universidades de ponta preferem
muito mais que seus pesquisadores se dediquem a produzir artigos científicos do que a
escrever livros. Com a minha mudança de volta ao exterior, em 2008, as universidades fora
do Brasil simplesmente não valorizam nada que não seja publicado em inglês. Quando o
Prof. Eduardo Sanovicz, meu ex-colega da Universidade de São Paulo, me convidou em
2011 para escrever um livro sobre transportes para a coleção da Campus/Elsevier que
leva o seu nome, minha decisão inicial seria agradecer com um “thanks, but no thanks”...
Há sempre um tempo para se refletir... e se colocar as situações em perspectiva.
Poucas semanas depois do convite do Sanovicz, fui convidado pelo Prof. Marcio
Peixoto de Sequeira Santos (PET/COPPE/UFRJ) para ir ao Brasil participar da banca
de doutorado da Carla Fraga. O Marcio eu já conhecia desde a minha graduação em
Engenharia de Transportes na UFRJ e ele foi meu orientador no mestrado da COPPE. Já
a Carla, eu a conheci assim que o livro Transportes Turísticos foi publicado. Ainda como
aluna de graduação na UFJF, ela me escreveu entusiasmada sobre o lançamento do livro
e a contribuição que ele daria para o seu Trabalho de Conclusão de Curso. Nesses anos
todos, nos encontramos algumas poucas vezes no Rio e mantínhamos um certo contato.
Da minha parte, eu acompanhava com interesse a trajetória dessa turismóloga apaixonada
por transporte ferroviário que bravamente se aventurou a fazer mestrado e doutorado em
Engenharia de Transportes na COPPE/UFRJ.
Alguns dias antes da defesa da Carla, em dezembro de 2011, ela me convidou para
fazer uma apresentação sobre Transportes e Megaeventos na UniRio e lá encontrei
com o Rafael Castro, turismólogo, também apaixonado pelos transportes turísticos, que
seguia os passos da Carla na sua formação acadêmica na COPPE/UFRJ. O Rafael e eu já
havíamos trocado alguns emails em função do seu tema de doutorado sobre transporte
aéreo e turismo. No evento da UniRio “caiu a ficha”. Por que não aceitar o convite do
Sanovicz, incluindo a Carla e o Rafael neste projeto? Para mim seria a oportunidade
perfeita para trabalhar com uma nova geração de acadêmicos interessados na pesquisa
sobre transporte e turismo, ao mesmo tempo em que juntos poderíamos oferecer uma
abordagem mais atualizada do tema. Além disso, uma cena me fez colocar tudo em
perspectiva. Um aluno de graduação de educação a distância (depois descobri o nome
dele, João Alípio) carregava um exemplar do livro Transportes Turísticos. Se contribuir
com a futura geração de profissionais do meu país não era importante para a minha
universidade, para mim é! Um novo livro seria escrito... Com o convite feito e aceito
pelos dois, me encontrei com o Sanovicz no café da livraria Cultura, em São Paulo, e
acertamos os detalhes da obra.
Tanto para mim quanto para o Sanovicz estava claro que precisava haver alguns pontos
de inovação nesta nova obra. Ele queria que retratássemos as transformações ocorridas
nos anos 2000. Fazia totalmente sentido. Eu queria uma maior interligação entre trans-
portes não só com o turismo, mas principalmente com os destinos turísticos. Era uma
decisão arriscada, já que não há ainda um corpo teórico, mesmo na literatura internacio-
nal, que pudesse embasar um livro acadêmico sobre transportes e destinos turísticos. De
qualquer forma, gradualmente, o foco do ensino e da pesquisa acadêmica em turismo
está convergindo cada vez mais para a complexa dinâmica do turismo nos destinos
turísticos, a profissionalização da sua gestão, a relevância do marketing de destinos em
justaposição ao marketing de empreendimentos turísticos individuais e o entendimento de
que a experiência turística é representada pelo somatório das experiências vividas durante
toda uma viagem. Não há mais como se desvencilhar os sucessos e desafios dos setores
e empreendimentos individuais sem entender a dinâmica que ocorre dentro dos des-
tinos e entre eles e como são percebidos através das imagens que projetam. Por tudo
isso, neste projeto resolvemos focar em aspectos de planejamento e gestão dos diversos
modos de transportes turísticos que influenciam os destinos turísticos. Procuramos dar
exemplos e apresentamos casos tanto no Brasil, quanto no exterior, incluindo Austrália,
Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos, França, Nova Zelândia, dentre outros. Além
disso contamos com uma gama de colaboradores convidados que enriqueceram a obra
com suas experiências de pesquisa.
A presente obra está estruturada em oito capítulos, cada qual encerrado por um
número de exercícios propostos. O primeiro provê uma introdução sobre transporte e
destinos turísticos enfocando a relação transporte-turismo e descrevendo a importância
da evolução tecnológica dos transportes para o turismo (LOHMANN e DUVAL, 2011).
Um mapeamento das redes de transportes é realizado, e as diferentes funções nodais
analisadas a partir das oportunidades que o sistema de transporte oferece para portões
de entrada, hubs e destinos turísticos (LOHMANN e PEARCE, 2010; 2012). Uma análise
sobre Cingapura e Dubai é realizada a partir dos estudos de LOHMANN, ALBERS et al.
(2009). O capítulo também trata da escolha do meio de transporte para o turismo domés-
tico no Brasil, a partir de dados da pesquisa de “Caracterização e Dimensionamento do
Turismo Doméstico” realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE).
Esse último item foi elaborado por Glauber Santos e Thiago Allis.
O Capítulo 2 contribui para o entendimento teórico-conceitual sobre a relação entre
transporte, turismo e destinos turísticos, estando estruturado em duas partes principais. A
primeira propõe uma análise global sobre o papel do transporte identificado em modelos e
sistemas turísticos consagrados na literatura nacional e internacional. De forma específica,
examinam-se aspectos do deslocamento e dos destinos turísticos nos quatro grupos de
modelos apontados por Pearce (2003): “viagem turística”, “origem-destino”, “estruturais”
e “evolucionários”. A segunda parte do capítulo apresenta o estado da arte da pesquisa
em transportes turísticos publicada em periódicos brasileiros de turismo, a qual foi escrita
por Glauber Santos e Thiago Allis.
Os dois capítulos seguintes focam em aspectos de planejamento e gestão. O Capítulo 3
analisa os modelos de planejamento dos transportes em interface com o turismo. Ele é
divido em três partes essenciais sendo que na primeira são abordados temas relativos ao
planejamento dos transportes e destinos turísticos com ênfase nos modelos sequenciais,
também conhecido como Modelo Quatro Etapas. Daniela Caruza Gonçalves Ferreira
faz uma análise das políticas públicas de transportes e de turismo em âmbito nacional,
com enfoque especial para aos últimos 12 anos. A sustentabilidade é parte intrínseca ao
planejamento dos transportes e do turismo e tema principal da segunda parte do capítulo,
que termina com a análise das especificidades e dos impactos dos transportes para
megaeventos, assunto bastante peculiar para a realidade vivida pelo Brasil atualmente. Já
o Capítulo 4 considera, a partir dos princípios básicos do marketing, aspectos de gestão
em transporte e turismo que estejam integrados em termos de produto, preço, promoção
e distribuição. Com quatro seções dedicadas a cada um desses aspectos do marketing,
o capítulo oferece exemplos práticos, do Brasil e do exterior, de gestão em transportes
turísticos para vários modos de transportes. O capítulo contou com a participação do
Flávio Valente.
Os Capítulos 5, 6 e 7 estão dedicados a modos específicos de transportes turísticos.
O Capítulo 5 apresenta características do modo aéreo com ênfase para o desenvolvi-
mento dos destinos turísticos. De relevância importância são tratados temas como os
modelos de negócios das empresas aéreas (LOHMANN e KOO, 2013) e como empresas
aéreas de baixo custo e empresas de modelos tradicionais impactam nos destinos turís-
ticos e na demanda atraída. O capítulo analisa também os principais fatos ocorridos na
(des)regulamentação do transporte aéreo no Brasil e a crise aérea dos anos 2006 e 2007,
com uma descrição dos impactos para o turismo doméstico. Um estudo de caso sobre
aeroportos e turismo residencial na região do Algarve, em Portugal, escrito pela Cláudia
Almeida encerra o capítulo.
O Capítulo 6 aborda dois meios de transportes aquaviários notadamente associados
com o turismo: cruzeiros e ferries. Em relação aos cruzeiros marítimos, em função da
sua atuação em escala internacional, apresentam-se os principais destinos de cruzeiros
marítimos do mundo, como é elaborado o processo de planejamento de itinerários de
cruzeiros, além de analisar os impactos ambientais e econômicos provocados nos des-
tinos turísticos. O capítulo também oferece uma visão sobre o crescimento do setor no
Brasil nos anos 2000. Os ferries são abordados através da tecnologia de catamarãs de alta
velocidade e os exemplos malsucedidos de operação dessa tecnologia na Nova Zelândia
e no Havaí, Estados Unidos (LOHMANN e NGUYEN, 2011; LOHMANN e TRISCHLER,
2012a).
O Capítulo 7 examina os transportes rodoviários e ferroviários separadamente, a
fim de se evidenciar como características particulares de cada modo influenciam no
desenvolvimento de destinos turísticos. No modo ferroviário é debatido como diversas
tecnologias ferroviárias podem influenciar no desenvolvimento de destinos turísticos, em
especial os trens de alta velocidade, as conexões aeroferroviárias e os trens exclusivos para
fins turísticos. Já no modo rodoviário, além da importância dos automóveis e de ônibus
regulares e fretados para o turismo, outros temas ganham destaque, como o mercado de
locação de veículos e o desenvolvimento de destinos turísticos. Por fim, tendo como foco
o período compreendido entre os anos 2000 e início de 2013, é realizada uma análise
conjunta entre os modos de transportes terrestres (rodoviário e ferroviário) e o turismo no
Brasil. Nesta parte do livro dá-se enfoque nos diversos projetos ferroviários de passageiros
que se pretende implantar no Brasil nos próximos anos. Discute-se também sobre trans-
porte rodoviário, sustentabilidade e destinos turísticos que dialoga especialmente com o
Capítulo 3. Três pesquisadores convidados oferecem reflexões valiosas sobre a relação
entre transportes terrestres e desenvolvimento de destinos turísticos, sendo eles: Prof.
José Augusto Sá Fortes e Elisangela Aparecida Machado da Silva que fazem uma análise
sobre a relação entre o transporte rodoviário e o desenvolvimento do turismo na Região
Trinacional do Iguaçu no Sul do Brasil. O Prof. Thiago Allis faz uma análise dos ônibus
de fretamento na cidade de São Paulo.
O último capítulo, intitulado “Tendências para os transportes e destinos turísticos”,
faz discussões sobre pesquisa, mercado e ensino. Na parte sobre pesquisa, o capítulo
conta com a participação de Márcio Peixoto de Sequeira Santos e Sergio Ribeiro. A partir
da análise dos transportes terrestres e o desenvolvimento do turismo rural na Região
do Vale do Café no Rio de Janeiro, os pesquisadores fornecem pistas preciosas para a
elaboração de pesquisas científicas sobre a relação entre ferrovia, rodovia, sustentabili-
dade e desenvolvimento de destinos turísticos dessa região. Na parte sobre mercado são
abordados temas relevantes, tais como: fusões e aquisições, segmentação do mercado de
transportes e turismo, entre outros. Na parte sobre educação, Guilherme Lohmann narra
sua experiência com viagens e visitas técnicas envolvendo o ensino da relação entre os
transportes e o turismo. Carla Fraga analisa sua experiência com o ensino e aprendizagem
dos transportes na educação à distância em turismo.
Um livro nunca se escreve sozinho, muito menos quando feito a seis mãos.
Nesta obra tivemos o privilégio de enriquecer o nosso trabalho com a experiência de
nove outros colegas. A obra apresenta colaboração de pesquisadores do Distrito Federal,
Rio de Janeiro, São Paulo, além de Portugal e Austrália, totalizando oito diferentes ins-
tituições acadêmicas. Nosso muito obrigado a Cláudia Almeida (Universidade do Algarve),
Elisangela Machado (UnB), Daniela Caruza (UERJ), Flávio Valente (Southern Cross Univer-
sity), Glauber Santos (IFSP), José Augusto Fortes (UnB), Marcio Santos (PET/COPPE/UFRJ),
Sergio Ribeiro (FACHA e FAETEC-RJ) e Thiago Allis (UFSCar) por terem escrito alguns dos
casos ou partes dos capítulos que enriqueceram sobremaneira esse livro. Com quase todos
os colaboradores possuindo grau de doutor ou em estágio de doutoramento, fica evidente
que a área de transportes turísticos se consolida academicamente tanto no Brasil quanto
no exterior. Além disso, boa parte dos coautores e colaboradores apresentam uma his-
tória acadêmica conjunta, quer do ponto de vista de publicações, quanto de orientação
(por exemplo, Carla, Sergio e eu fomos orientandos do Márcio, Elisangela está sendo
orientada pelo José Augusto e por mim, e eu co-oriento o Flávio no seu doutoramento).
Agradeço também a confiança e o convite do Prof. Eduardo Sanovicz, assim como
ao André Wolff, da Campus/Elsevier, pelo interesse e suporte fornecidos ao longo do
nosso trabalho. Por fim, essa obra não teria chegado ao fim sem o incansável esforço,
dedicação e competência da Carla Fraga e do Rafael Castro. Muito obrigado aos dois
pelo companheirismo e comprometimento.
Os coautores desta obra, Carla Fraga e Rafael Castro, gostariam de endossar esses
agradecimentos e destacam a seguir agradecimentos pessoais:
Carla Fraga agradece particularmente: “Ao Prof. Márcio Santos, por possibilitar o
reencontro com o Guiherme Lohmann. Ao Prof. Eduardo Sanovicz e toda equipe da
Campus/Elsevier por aceitarem a sugestão de meu nome para a coautoria desta obra.
Ao Guilherme Lohmann, por me mostrar com suas ações como transformar este grande
sonho em realidade! Ao Rafael Castro, pela parceria nesta desafiadora empreitada! Ao
ex-aluno João Pedro Villela, por ser um leitor atento do rascunho e oferecer feedback
sobre a relevância dos temas abordados para os alunos de turismo. Aos meus colegas de
trabalho na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) e na Universidade
Estácio de Sá, demais amigos e familiares por me incentivarem na realização deste projeto;
em especial a Mari Torós por sempre estar disposta a contribuir com a realização de meus
sonhos, me impulsionando a ir em busca de tudo aquilo que me faz feliz!”.
O Rafael agradece particularmente: “ao Guilherme Lohmann, pelo convite para
fazer parte deste projeto ambicioso e pela paciência com os percausos encontrados
no meio do caminho. À Carla Fraga pelo companheirismo de sempre e por ter pos-
sibilitado finalmente meu encontro pessoal com o Guilherme durante a sua banca
de doutorado no PET/COPPE/UFRJ! Igualmente agradeço ao Prof. Eduardo Sanovicz
e à equipe da editora Campus/Elsevier por acreditarem no projeto e possibilitarem
que ele acontecesse. Por fim, agradeço aos meus amigos e aos meus familiares pelo
incentivo de sempre e novamente ao Guilherme por ajudar a tornar mais um dos
meus objetivos em realidade. Dreams do come true”.
Mais um sonho está sendo realizado. Melhor do que realizar os próprios sonhos é realizar
os sonhos de outras pessoas. Bons sonhos, bons estudos e boas realizações. Cheers!
LOHMANN, G.; ALBERS, S. et al. From hub to tourist destination - An explorative study of
Singapore and Dubai’s aviation-based transformation. Journal of Air Transport Management,
v.15, n.5, p. 205-211. 2009.
LOHMANN, G.; DUVAL, D. T. Critical Aspects of the Tourism-Transport Relationship. In:
Cooper, C. (Ed), Contemporary Tourism Review. Oxford: Goodfellow Publishers. 2011.
LOHMANN, G.; KOO, T. T. R. The airline business model spectrum. Journal of Air
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LOHMANN, G.; NGUYEN, D. N. A holistic approach to sustainable tourism transportation in
Hawai‘i. In: CARLSEN, J. e BUTLER, R. (Eds), Island Tourism Development: Journeys Toward
Sustainability. Wallingford: CABI. 2011, p. 197-214.
LOHMANN, G.; PEARCE, D. G. Conceptualizing and operationalizing nodal tourism
functions. Journal of Transport Geography, v.18, n.2, p. 266-275. 2010.
LOHMANN, G.; PEARCE, D. G. Tourism and transport relationships: the suppliers’
perspective in gateway destinations in New Zealand. Asia Pacific Journal of Tourism
Research, v.17, n.1, p. 14-29. 2012.
LOHMANN, G.; TRISCHLER, J. The Failure of Fast Ferry Catamaran Operations in New
Zealand and Hawaii. Journal of Transportation Technologies, v.2, n.2, p. 102-112. 2012.
PEARCE, D. G. Geografia do Turismo: fluxos e regiões no mercado de viagens. São Paulo:
Aleph. 2003.
Prefácio
Com o Brasil vivenciando desafios de nível mundial que impactam o setor de turis-
mo, como a realização de eventos esportivos (Copa das Confederações de Futebol em
2013, Copa do Mundo de Futebol em 2014, Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro) e
religiosos (Jornada Mundial da Juventude), este livro traz à tona a importância de discutir
o planejamento e a gestão na relação entre Transportes e Destinos Turísticos.
Nos últimos anos, constata-se que a movimentação de passageiros em viagens de
natureza turística vem crescendo acentuadamente. Segundo a Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas (FIPE), da Universidade de São Paulo, cerca de 20,8% das viagens
aéreas são realizadas por motivo de lazer; no transporte rodoviários, segundo a Associação
Brasileira de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati), 31,7% das viagens interestaduais
são de natureza turística.
Esses índices passaram a ser considerados com relevância no planejamento de trans-
portes federal. Estima-se uma taxa anual de 5,1% para o crescimento do turismo interno,
espelhado nos instrumentos de planejamento em transportes e nos programas de governo
para expansão e modernização da infraestrutura.
Grandes projetos de infraestrutura de norte a sul do país fomentam a cadeia turís-
tica no Brasil e também a relação com os países vizinhos. Exemplos a destacar são as
duplicações da BR-101 Nordeste, ligando em pista dupla o Rio Grande do Norte à Bahia
pelo litoral; e da BR-101 Sul, ligando Palhoça/SC a Osório/RS, que está em fase final de
construção e que melhora o corredor rodoviário de acesso ao Mercosul. A interconexão
física do Brasil com os vizinhos sul-americanos tem, por exemplos, a pavimentação da
BR-156/AP e a conclusão da ponte internacional com a Guiana Francesa; além da cons-
trução da BR-317/AC e da ponte internacional em Assis Brasil/AC, com Iñapari no Peru,
viabilizando acesso rodoviário do Brasil a Cuzco e Lima.
O olhar científico proposto pelos autores é bem-vindo neste momento em que se
consolida um mercado praticamente unificado no setor de transporte de passageiros. Se
anteriormente era possível dizer que, para viagens de média e longa distância, havia um
segmento da população que viajava de avião e outro segmento que viajava de ônibus, o
surgimento das companhias aéreas de baixo custo e, sobretudo, a elevação dos níveis de
renda da população, fizeram com que esses públicos se fundissem. Hoje a concorrência
entre o transporte rodoviário e o transporte aéreo de passageiros se dá basicamente em
termos de preço.
Embora o Brasil não tenha uma tradição no transporte ferroviário de passageiros, algu-
mas iniciativas com foco no turismo e na mobilidade regional estão em curso. Funcionam
no país linhas regulares de passageiros e trens turísticos, além de trens comemorativos
autorizados esporadicamente. O Ministério dos Transportes desenvolve estudos para
implantação de Trens Regionais de Passageiros, reativando um projeto desenvolvido pelo
BNDES, nos anos 1990. Estão em estudo trechos ferroviários, que poderão viabilizar o
transporte entre cidades e também servir a finalidades de deslocamento turístico, em
especial nos fins de semana.
Em futuro próximo, o Brasil passará a contar com trens de alta velocidade, trazendo
novos conceitos de tempo de viagem, nível de serviço, conforto e segurança. O primeiro
trecho integrará Rio de Janeiro - São Paulo – Campinas, com notável potencial para atração
de viagens de lazer no principal eixo econômico do país.
É nessa perspectiva que o livro Transportes e Destinos Turísticos: planejamento e
gestão possibilita pensar criticamente o papel dos diversos atores públicos e privados
para o desenvolvimento desta atividade produtiva. O turismo depende de uma rede de
transportes eficiente para garantir o alcance de seus objetivos sociais e econômicos, que,
em primeira instância, vêm contribuir para a realização das expectativas de progresso e
desenvolvimento da sociedade brasileira.
separadamente as empresas Gol (2006) e TAM (2007) deflagraram uma crise no sistema
de transporte aéreo, gerando um caos sem precedentes com impactos danosos não só
para o setor aéreo, mas também para vários destinos turísticos. Dentre os resultados
dessa crise, pode-se citar: por vários meses houve congestionamentos tanto no lado-terra
quanto no lado-ar dos principais aeroportos do país, com muitas ocorrências de atrasos
e cancelamentos nos voos; viajantes optando pelo uso do transporte rodoviário e se
possível para destinos mais próximos, com resultados preocupantes para vários destinos
turísticos tradicionais do Nordeste, tais como Fortaleza, Natal, Recife e Salvador, que são
altamente dependentes de acesso aéreo dos turistas do Sul e Sudeste; além de aumento da
demanda por cruzeiros marítimos a partir dos portos de Santos e Rio de Janeiro (COSTA,
LOHMANN et al., 2010).
Por outro lado, no turismo receptivo internacional, muitos destinos turísticos do Nor-
deste se beneficiaram da melhoria das suas infraestruturas aeroportuárias, bem como do
estabelecimento de acordos bilaterais entre o Brasil e a Europa, permitindo voos diretos
para o Nordeste. Previamente turistas europeus tinham de fazer conexões no Rio de
Janeiro ou em São Paulo. Esses voos podem ser tanto regulares (aqueles com horários
regulares a serem cumpridos em frequências previamente estabelecidas), a partir de des-
tinos europeus como Madri, Milão, Roma, Londres, Paris, Amsterdã e Lisboa, assim como
fretados (sem um padrão regular de frequência e que podem ser cancelados em função
da falta de demanda) de países como Suécia, Finlândia, Hungria e Polônia.
No contexto de outros países, Prideaux (2000) identificou na Austrália, em Cairns
de forma mais específica, os benefícios da melhoria da infraestrutura de transportes
e o incremento de turistas internacionais em função da diminuição do tempo total de
viagem para a região Norte do estado de Queensland. Outros destinos internacionais
têm emergido graças à criação de empresas aéreas com elevado padrão de serviço e
aeroportos eficientes e confortáveis que atraem passageiros intercontinentais para seus
hubs. Exemplos de crescimento exponencial nas décadas de 1990 e 2000 incluem as
cidades de Dubai e Abu Dhabi (ver Figura 1.1), nos Emirados Árabes, e Cingapura, na Ásia.
Lohmann et al. (2009) apresentam, através da óptica das funções nodais e das estratégias
de transporte aéreo, as semelhanças empregadas por Dubai e Cingapura para atingirem
o padrão de desenvolvimento atual de seus destinos a partir de hubs de transportes (ver
estudo de caso apresentado neste capítulo).
Se, por um lado, os exemplos anteriores ajudam a ilustrar a relação transporte e desen-
volvimento de destinos turísticos, há uma série de conceitos e aspectos teóricos que foram
brevemente mencionados que precisam ser melhor compreendidos. Eles, juntamente
com outros aspectos do planejamento e da gestão do transporte e do turismo, formam
a base teórico-conceitual empregada nesta obra. Apesar do enfoque no planejamento
e na gestão, a relação entre transportes, deslocamento de pessoas e destinos turísticos
é fundamentalmente de ordem geográfica. De forma objetiva, Leiper (1990) apresenta
um sistema turístico a partir de um enfoque geográfico, contendo: a região de origem
dos viajantes (onde vivem); as regiões de trânsito que interligam a origem aos destinos;
2
Capítulo 1 [Transporte e Desenvolvimento de Destinos Turísticos]
3
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
Figura 1.2 — Modelo de Leiper para um sistema turístico. (Fonte: LOHMANN e PANOSSO
NETTO, 2012)
Além de os transportes facilitarem o deslocamento dos turistas entre sua origem e seus
destinos, o sistema de transporte intradestinos provê a movimentação entre os terminais de
transportes, equipamentos e atrativos turísticos a fim de maximizar a experiência turística
(PAGE, 2009). Conforme ilustrado brevemente nos exemplos anteriores, o transporte pode,
muitas vezes, ser o fator mais importante na viabilização de um destino turístico (LOHMANN
e DUVAL, 2011). Em outros casos, o transporte em si torna-se o grande atrativo turístico, tal
como acontece nos serviços ferroviários cênicos do Canadá ou nos cruzeiros marítimos de
curta duração, nos quais a maioria dos passageiros tende a preferir permanecer dentro dos
navios do que a explorarem os portos visitados. No futuro, outro exemplo serão os voos
suborbitais tais como os oferecidos pela Virgin Galactic, permitindo que turistas espaciais
experimentem a gravidade zero, além de visualizarem a curvatura azul da superfície terrestre.
No contexto da mobilidade local dos destinos turísticos, podem ser encontradas
algumas situações conflituosas que geram desafios teóricos e práticos envolvendo o
planejamento e a gestão dos transportes. Em primeiro lugar, em muitos casos, os turistas
são apenas um dos muitos tipos de passageiros que buscam mobilidade. Assim sendo,
empresas de transportes urbanos podem estar mais focadas na prestação de serviços de
transporte para a população local do que necessariamente para os turistas. Em segundo
lugar, o deslocamento de turistas pode envolver várias escalas geográficas, desde viagens
4
Capítulo 1 [Transporte e Desenvolvimento de Destinos Turísticos]
ATRIBUTO CARACTERÍSTICAS
Conforto Medido de muitas maneiras diferentes, incluindo o espaço entre as
poltronas, nível de ruído no interior do veículo, qualidade da área
de espera etc.
Confiabilidade Capacidade de cumprir o contrato de transporte, incluindo, por exemplo,
a pontualidade.
Doméstico ou Quando envolve ou não o transporte entre mais de um país. Na maioria
Internacional dos casos, as viagens internacionais exigem arranjos mais complexos para
se conformarem com os procedimentos de mais de um país, incluindo
imigração, alfândega, regulamentos sanitários, regulamentações
econômicas e de segurança dos transportes.
Elementos do trans- Força Motriz: define o modo (ver item a seguir) de transporte e a
porte velocidade da viagem.
Terminal: lugar de troca de um modo de transporte para outro, ou
conexões entre veículos de um mesmo modo.
Veículo: unidade de transporte onde os passageiros e bagagens serão
acomodados.
Via: dividido em natural (água ou ar) e artificial (rodovias e estradas de
ferro).
Modo Aéreo: é o mais rápido modo de transporte, ligando a maior parte do
mundo.
Ferroviário: com via dedicada, é uma opção confiável e segura de
transporte, usualmente com alto nível de conforto. Requer altíssimo
investimento em infraestrutura. Trens de alta velocidade tornaram-se
competitivos com os aviões, particularmente para rotas de curta e média
distância (menos de mil quilômetros).
Rodoviário: oferece transporte terrestre de forma conveniente e
porta-a-porta.
Aquaviário: apesar de ser o mais lento modo de transporte, permite
alto padrão de conforto e amenidades a bordo, podendo transportar um
grande número de passageiros (cruzeiros marítimos) e eventualmente
veículos (ferries).
Tarifa (preço) O preço do transporte pode ser básico para qualquer assento disponível ou
pode seguir uma estratégia complexa de tarifação na qual, por exemplo,
passageiros voando o mesmo voo e na mesma classe pagam preços com-
pletamente diferentes dependendo do quanto antes fizeram suas reservas
e das restrições da tarifa escolhida (tempo de cancelamento, duração da
estada no destino, pontuação em programas de milhagens).
Regular ou fretado Regular segue uma frequência determinada de horários preestabelecidos
a despeito do número de passageiros a bordo. Fretados são usualmente
organizados por um cliente particular, não tendo um horário fixo e regular
a ser cumprido, podendo ser cancelado por falta de demanda
Segurança Número de acidentes ou de fatalidades, roubos etc.
Velocidade O quão rápido uma determinada tecnologia viaja (v. o item “Força Motriz”
anteriormente).
Fonte: adaptado a partir de LOHMANN e DUVAL (2011)
6
Capítulo 1 [Transporte e Desenvolvimento de Destinos Turísticos]
desses atributos, uma vez que, por exemplo, transportes aquaviários estão disponíveis
somente nos destinos costeiros ou próximos a rios e lagos.
Em muitas circunstâncias, o transporte determina a decisão de viajar, prevalecendo
sobre o próprio destino turístico, influindo até mesmo na escolha do local a ser visitado.
Isso é comumente observado quando, por exemplo, empresas aéreas lançam tarifas
superpromocionais, barateando-as a tal ponto que turistas potenciais priorizam a opor-
tunidade de viajar independentemente do destino de sua preferência. Esse fato reforça
a importância do transporte para os destinos turísticos que são servidos principalmente
por empresas aéreas de baixo custo. Promoções especiais por parte dessas empresas
podem representar uma enorme diferença no fluxo de turistas. A questão é que, tanto
os destinos turísticos como as empresas de transporte muitas vezes fazem um grande
esforço de marketing promocional junto a turistas potenciais, mas, por outro lado, têm
uma atitude muito passiva para criar parcerias conjuntas de marketing que facilitem a
atração de turistas potenciais. Um exemplo positivo nesse aspecto vem da Austrália, onde
é comum organizações turísticas governamentais terem um especialista em transporte
aéreo a fim de interagir com empresas aéreas e aeroportos na captação de novos voos.
Outros conceitos vitais para os destinos turísticos são a “acessibilidade” e a “conecti-
vidade”, que, além de influenciarem a relação transporte-turismo, evidenciam os papéis
de atuação dos setores público e privado em provê-las. Acessibilidade é simplesmente
uma medida geográfica comparativa de vários pontos dentro de uma rede e das conexões
que são possíveis devido a provisão de transporte existente. Conectividade é uma medida
semelhante, mas examina as restrições práticas, tecnológicas e as oportunidades para
maior acessibilidade, incluindo menor tempo de viagens ou modos de transportes mais
eficientes (LOHMANN e DUVAL, 2011).
são atraídos para esses destinos. A grande dispersão de atrações e atividades turísticas, sa-
zonalidade e a falta de adequado e eficiente sistema de transporte público são alguns dos
desafios apresentados para destinos montanhosos. Algumas das bem-sucedidas iniciativas
de transporte sustentáveis têm como alvo os moradores locais, em vez dos turistas, uma
vez que aqueles estão mais propensos a se envolver no planejamento e reserva das suas
viagens, estar ciente das informações sobre o compartilhamento do uso de automóveis
e da existência de informações em tempo real de transporte público.
Por fim, pequenas ilhas em economias emergentes são muito dependentes de viagens
aéreas e tendem a ter uma economia menos diversificada, sendo em grande parte depen-
dente do turismo. Em muitos casos, não há alternativas de transporte que não o transporte
aéreo. Além disso, o acesso de viajantes por meio de ferries pode ter implicações em
termos da gestão do tráfego local, com a falta de planejamento e acessibilidade apresen-
tando aspectos negativos, como engarrafamentos, quando, além dos veículos trazidos
pelo ferry, se somam a um segmento de locação de veículos barato e fácil, tal como no
caso de Malta (ROBBINS, 1996). No Havaí, alta acessibilidade por transporte aéreo e, em
menor grau por cruzeiros marítimos, diminuem o isolamento de um dos mais remotos
arquipélagos do mundo. No entanto, como apresentado por Lohmann e Nguyen (2011),
há vários desafios em se prover transporte sustentável no Havaí, em função do alto grau
de desenvolvimento econômico, batalhas políticas e judiciais inerentes à organização do
estado (ver Estudo de caso no Capítulo 6).
Iniciativas futuras de desenvolvimento tecnológico dos serviços de transportes terão
necessariamente de incorporar materiais, energia e eficiência que garantam um avanço
sustentável da mobilidade de turistas. Mas para entender o futuro, é preciso também se
conhecer o passado da evolução tecnológica dos transportes e o desenvolvimento de
destinos turísticos, o que é feito na seção a seguir.
1.2. EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA DOS TRANSPORTES
E O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO
O turismo, no padrão que atualmente é conhecido no mundo inteiro, só pôde ser
alcançado graças ao desenvolvimento tecnológico dos meios de transportes. Até meados
do século XIX, atravessar o Atlântico demandava algumas semanas de viagem, enquanto
hoje os jatos tradicionais (subsônicos) percorrem a travessia em poucas horas, fazendo
com que as embarcações dessa época e sua tecnologia fossem um empecilho para
o fenômeno social e econômico que é o turismo atualmente. Por outro lado, a excessiva
mobilidade gerada por tecnologias que empregam combustíveis fósseis e que tornaram
o deslocamento turístico acessível para uma grande parte da população mundial ameaça
vários destinos turísticos, através da geração de poluição atmosférica e sonora, além da
eliminação do meio ambiente para a implantação desses sistemas de transportes.
Dentre essas tecnologias, pode-se creditar principalmente ao automóvel e ao avião a
intensificação e a frequência do turismo de massa que hoje existe em âmbito mundial.
Os automóveis passaram a fazer parte da vida de centenas de milhões de pessoas em
9
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
todo o mundo, permitindo uma grande mobilidade no dia a dia e o surgimento do turis-
mo de curta e média distância. Por sua vez, os aviões foram responsáveis por facilitar
o acesso rápido e seguro aos mais variados e remotos destinos turísticos do mundo,
principalmente em função de eliminar barreiras geográficas ao utilizar o ar como via
de transporte.
Embora desenvolvidos ainda no final do século XIX, somente após o término da
Segunda Guerra Mundial, em 1945, os automóveis foram fabricados em escala industrial e
tornaram-se um bem acessível para uma parcela da população mundial. Com a expansão
de seu uso e a construção de estradas rodoviárias, o turismo também ganhou impulso,
o que possibilitou à indústria hoteleira e demais serviços turísticos desenvolverem-se
nesses novos destinos turísticos. Os automóveis, em função da grande acessibilidade
(porta a porta), compreendem boa parte da rede de transporte de uma região e também
servem como meio de interligação entre os outros modos de transporte. Para os des-
tinos turísticos, os automóveis permitem que um maior número de viagens a lazer sejam
realizadas e com cada vez mais frequência, tornando-se, em alguns países como Austrália
e Estados Unidos, a primeira forma de transporte turístico.
Com a introdução dos aviões a jato, que mais do que dobraram a velocidade de
cruzeiro das aeronaves – de 400 km/h para 950 km/h –, e da introdução dos wide-bodies
na década de 1970, aviões como o Boeing 747 capazes de transportar mais de 400 pas-
sageiros, o modo de transporte aéreo suplantou as viagens marítimas intercontinentais.
Com o aumento de capacidade das aeronaves, o custo por assento-quilômetro disponível
(CASK, em inglês Cost Available Seat-Kilometer) diminuiu significativamente, permitindo
tarifas mais acessíveis. Como exemplo, apesar da inflação existente entre as décadas de
1930 e 2010, a tarifa de um voo da Hawaiian Airlines entre as ilhas Havaianas continuam
a valer os mesmos US$40. Outro exemplo atual das vantagens da economia de escala
no transporte aéreo ocorreu com a introdução do Airbus A380 em 2007. O double-deck
tornou-se o maior avião comercial do mundo em operação, com capacidade para trans-
portar 525 passageiros numa configuração de três classes (econômica, executiva e primeira
classe), e até 853 passageiros em uma configuração de classe única (AIRBUS, 2012).
Apesar do desenvolvimento tecnológico individual de cada modo de transporte, um
bom sistema de transportes compreende terminais intermodais, interligando tecnologias
que sejam complementares, ao invés de competitivas.
1.2.1. Intermodalidade
Cada modo de transporte apresenta vantagens e desvantagens, por isso a intermoda-
lidade permite que viajantes utilizem, ao longo de toda viagem, o modo de transporte
mais eficiente possível (v. Quadro 1.1). O rodoviário, por exemplo, oferece flexibilidade
porta-a-porta que permite que o turista se desloque entre os diversos terminais de trans-
porte e seus destinos finais. No ferroviário, carros adicionais podem ser adicionados (leito,
panorâmico etc.), permitindo flexibilidade em relação à sazonalidade, mas necessita
de integração, pois em raros casos é porta a porta. O modo aéreo favorece o turismo de
10
Capítulo 1 [Transporte e Desenvolvimento de Destinos Turísticos]
1.3.3. Hub
Hubs são tradicionalmente designados num sentido bastante amplo para se referir a
um local que funciona como uma encruzilhada ou de base operacional de um grande
aeroporto ou companhia aérea. O conceito de hub assumiu um significado mais técnico
a partir de alterações nas práticas das empresas aéreas e refere-se às funções de trans-
ferência dentro de uma rede de transporte mais ampla (DENNIS, 1994). A ideia-chave
é que o fluxo entre um conjunto de cidades origem-destino passe por um ou mais hubs
em rota para o destino turístico final. O sistema de hubs-and-spokes foi popularizado nos
Estados Unidos após a desregulamentação do transporte aéreo em 1978, com as empresas
aéreas norte-americanas implementando-os com o objetivo de atenderem vários destinos
com um menor número de aeronaves.
A função nodal hub é muito mais utilizada no modo aéreo, uma vez que é muito fácil
implantar ou deslocar um hub já que o transporte aéreo não possui vias aéreas cons-
truídas. Para as empresas aéreas a estratégia de hub traz enormes vantagens em termos
econômicos (ganho em escala). Para os passageiros, se as economias de escala e escopo
geram tarifas menores, por outro como os voos tendem a passar pelo hub em vez de irem
direto para seus destinos finais, o tempo total de viagem aumenta. Pode-se dizer que o
hub, por sua qualidade espacial de centralidade e intermediação, aumenta a eficiência
do tráfego dentro do sistema de transportes (HOYLE e KNOWLES, 1998).
1.3.5. Escalas
O conceito de escalas está menos desenvolvido que as demais funções e deriva de
análises de turnês ou viagens em forma de circuitos. Como o nome sugere, referem-se a
“paradas” ou escalas em lugares que servem como pontos de apoio no caminho entre
destinos ou funcionam como destinos turísticos secundários ou em circuitos mais longos.
1
Professor Doutor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP).
2
Professor Doutor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR).
3
As faixas de renda alta, média e baixa aqui utilizadas foram definidas com fins exclusivamente operacionais
pela pesquisa utilizada como fonte de dados neste trabalho.
18
Capítulo 1 [Transporte e Desenvolvimento de Destinos Turísticos]
associação fortemente negativa entre renda e a escolha desse meio de transporte. Além
disso, a taxa média de seleção do avião como meio de transporte é de 8%, sendo essa
incidência maior entre os turistas da faixa de renda alta (21%) do que entre aqueles da
faixa de renda mais baixa (4%).
Portanto, nota-se que, em 2007, a expansão do transporte aéreo ainda não havia sido
suficiente para inverter o quadro tradicional brasileiro de preponderância do transporte
rodoviário. Além disso, pelos dados dessa pesquisa, pode-se dizer que as tentativas de popu-
larização das viagens de avião não tinham conseguido, até o ano de 2007, efetivamente incluir
nesse mercado os turistas de renda mais baixa. Provavelmente pesquisas futuras tenderão
a evidenciar uma maior participação no transporte aéreo das classes de renda mais baixa.
Na Tabela 1.2, percebe-se que o gasto total médio com transporte em uma viagem
doméstica dos turistas da classe alta, em 2007, era de R$575,16, quase o dobro dos
gastos da classe de renda mais baixa (R$241,94). Essa discrepância é bastante menor
quando considerado apenas o transporte aéreo: o gasto médio para a classe alta era de
R$1.292,28, ao passo que, para a classe baixa, era de R$953,15 – uma diferença de 36%.
Tabela 1.2 — Gasto médio com transporte por meio de transporte e faixa de renda
(em R$)
19
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
Essa diferença pode ser explicada pela menor flexibilidade do avião, já que os serviços
usualmente não apresentam grandes variações. Por exemplo, não são comuns diferentes
classes de serviços em aeronaves em voos domésticos. Além disso, a distância média das
viagens não varia muito para essas duas classes (1.312 km e 1.259 km, respectivamente).
A mesma relação entre variação do gasto e flexibilidade do meio de transporte pode ser
observada com respeito ao coletivo regular: para os turistas da faixa de renda mais alta
o gasto médio era de R$314,83, enquanto para os turistas de renda baixa esse valor era
de R$214,32, uma diferença de cerca de 50%. Por outro lado, o automóvel privado –
que permite maior flexibilidade nas viagens e, portanto, maior variação no programa da
viagem (locais, rotas, permanências) e despesas – ilustra o outro extremo dessa relação.
Nesse caso, os gastos médios variam substancialmente em função da renda dos turistas.
Os gastos da classe alta (faixa de renda acima de 15 salários mínimos) com transporte em
automóvel foram de apenas R$407,73, ao passo que na classe baixa (até quatro salários
mínimos) esse valor foi de R$207,16, uma diferença de 97%.
O transporte responde por 31% do gasto total das viagens de turistas domésticos no
Brasil, conforme apresentado na Tabela 1.3. Esse percentual é menor para aqueles que
viajam em automóvel privado, e maior para aqueles que utilizam outros meios de trans-
porte. Além disso, a parcela do gasto total da viagem destinada aos custos de transporte
é decrescente em relação à renda. Em outras palavras, turistas com maior nível de renda
tendem a empregar parcelas menores de seus gastos totais no custeio do transporte.
Essa realidade, que é confirmada pelos dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares
(IBGE, 2012), está associada ao fato de que os custos de transporte são menos flexíveis
que os demais, como alojamento e alimentação. Assim, os turistas podem buscar ajustar
seus níveis de gasto às suas rendas a partir da seleção do padrão de qualidade dos serviços
de alojamento e alimentação, mas pouco podem fazer para ajustar seus gastos a partir
da seleção de diferentes alternativas de um mesmo meio de transporte.
As distâncias percorridas pelos turistas domésticos no Brasil podem ser consideradas
relativamente pequenas, especialmente se comparadas à ampla extensão territorial do
Tabela 1.3 — Parcela do gasto total empregada no pagamento dos custos de trans-
porte por meio de transporte e faixa de renda
20
Capítulo 1 [Transporte e Desenvolvimento de Destinos Turísticos]
aéreo, grandes contingentes de turistas circulam por espaços turísticos relativamente res-
tritos. A maior parte dos viajantes depende dos meios de transporte terrestres – que, no caso
brasileiro, praticamente não inclui o transporte ferroviário de passageiros de média e longa
distâncias. Nos últimos anos, o mercado aéreo brasileiro vem passando por importantes ex-
pansões, de maneira que, em pouco tempo, a matriz de uso dos transportes turísticos deverá
ganhar novas nuances, sobretudo com a inclusão das classes de renda mais baixa. Pelos dados
estudados, pode-se afirmar que ainda persiste uma concentração no transporte rodoviário.
Um dos fatores limitantes para a dinamização turística do Brasil poderia decorrer do
fato que as estruturas rodoviárias brasileiras apresentam níveis de conforto e segurança
discrepantes entre as várias regiões do país – com as melhores rodovias concentradas no
Sudeste do país. Portanto, os estados com melhor infraestrutura rodoviária têm, em prin-
cípio, perspectivas significativamente melhores no que diz respeito ao desenvolvimento
do turismo na escala regional.
importância. A falta de informação nos transportes que sirvam de apoio tanto para o
turista quanto para moradores é um dos grandes entraves para o desenvolvimento do
turismo nas localidades, o que foi comprovado na pesquisa. Alguns destinos turísticos
já consolidados se destacam nesse sentido, como é o caso de Londres, no Reino Unido.
23
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
Suas paradas de ônibus possuem mapas da cidade, indicando as rotas das linhas que
passam por determinado local, destacando os principais atrativos turísticos, além de um
painel indicando em quanto tempo o próximo ônibus chegará naquele ponto. Moradores
e turistas têm ainda acesso à página da Transport for London na internet, além de apli-
cativos disponíveis para smartphones, que oferecem serviço de previsão de saídas dos
ônibus em tempo real, facilitando o deslocamento das pessoas sem perda de tempo. O
metrô de Londres segue o mesmo padrão nas estações das suas treze linhas que cobrem
praticamente toda a cidade (TRANSPORT FOR LONDON, 2012).
A fim de diminuir o impacto dos padrões de mobilidade intradestino dos turistas nos
sistemas de transportes das cidades estudadas, Minghetti e Celotto (2000) sugerem es-
tratégias que podem ser implantadas em cidades genéricas desde que haja uma adaptação
para a realidade local. Cada estratégia pode ser desenvolvida por meio de uma série de
conjuntos de ações que levam em conta as especificidades de cada caso. Sendo assim,
as seis principais estratégias são:
1. Cidades livres de carros: estratégia que busca lidar com a invasão de veículos par-
ticulares nas cidades, afetando a qualidade de vida, a atratividade do destino e,
consequentemente, a experiência turística.
2. Gestão dos fluxos de veículos de turismo: estratégia focada na gestão de ônibus ou
demais veículos que prestam serviços regulares ou irregulares de turismo que causam
grandes problemas aos sistemas de transporte, sobretudo nos horários de pico e em
altas temporadas.
3. Melhorias na acessibilidade de longa distância: diz respeito à necessidade de propor-
cionar ligações internacionais eficientes a fim de incluir o destino no mercado turístico
internacional.
4. Serviços de transporte urbano flexíveis: estratégias centralizadas em serviços de trans-
porte inovadores e de baixo impacto, moldados de acordo com as necessidades dos
usuários, como os sistemas de aluguéis de bicicletas.
5. Gestão da demanda turística: desenvolvimento de políticas de turismo que possam
complementar e ser integradas ao planejamento dos transportes. Exemplos dessas
iniciativas incluem a realização de eventos em baixa temporada; implantação de rotas
alternativas e complementares e novos atrativos. Pode-se ainda propor ações que
combinem os horários de abertura dos atrativos mais populares com os horários das
linhas de transporte público. Essas estratégias representam a abordagem mais recente
na chamada reengenharia dos destinos turísticos.
6. Aplicações da tecnologia da informação: coleta de dados efetivos sobre transportes
e turismo, elaboração e disseminação de informações e gerenciamento eletrônico de
informações e comunicações.
A utilização de estratégias que garantam a mobilidade intradestinos é extremamente
importante para o desenvolvimento turístico. Assegurar que turistas e residentes consigam
24
Capítulo 1 [Transporte e Desenvolvimento de Destinos Turísticos]
1.7. CONCLUSÕES
Este capítulo abordou uma série de aspectos introdutórios da relação transporte e turis-
mo. De forma geral, pode-se perceber que os temas aqui apresentados se inter-relacionam
e colaboram para um entendimento introdutório sobre a temática abordada nesta obra.
Por exemplo, enfatizou-se que, historicamente, o desenvolvimento de novas tecnologias
de transporte têm um papel decisivo para o surgimento do padrão de turismo que se
alcançou nos dias atuais. Ademais, novas tecnologias também permitiram uma evolução
de novas formas de competição e integração entre os diversos modos de transportes, com
implicações para as redes de transportes implantadas que por sua vez contribuem para o
surgimento ou alteração das funções nodais que cada localidade possui. Como ficou ilus-
trado nos exemplos sobre Cingapura e Dubai aqui citados, o turismo é altamente influen-
ciado pelo estabelecimento dessas funções e hoje são considerados destinos de padrão
internacional graças à contribuição do transporte aéreo. O capítulo também evidenciou
a predominância do turismo regional por meio do uso do transporte rodoviário no Brasil.
Muitos dos termos aqui apresentados serão retomados em momentos diversos nos
próximos capítulos. Assim, a compreensão dos conceitos tratados neste capítulo inicial é
fundamental para um bom entendimento dos conhecimentos relativos à relação dos trans-
portes com os destinos turísticos. Os demais capítulos desta obra estão assim estruturados.
O Capítulo 2 trata dos modelos e sistemas de desenvolvimento de destinos turísticos, e
parte da discussão teórica iniciada aqui será retomada, particularmente considerando os
diversos modelos de desenvolvimento turístico e a contribuição dos transportes. Uma
revisão do estado da arte das publicações acadêmicas sobre transporte e turismo também
será efetuada no Capítulo 2 com o propósito de se alcançar uma visão ampla e geral do
tema, antes que temas e modos específicos de transportes sejam abordados, incluindo:
planejamento e gestão dos destinos turísticos conectado com os transportes (Capítulo 3),
aplicações dos princípios do marketing aos transportes turísticos (Capítulo 4); organização
dos diversos modos de transportes (Capítulos 5, 6 e 7); as tendências e o desenvolvimento
de pesquisa sobre transportes e destinos turísticos (Capítulo 8).
QUESTÕES
1. O Sistema Turístico de Leiper traz uma representação da atividade turística sob o ponto
de vista geográfico. Analise-o e explique de que forma a relação transporte e turismo
está elucidada neste sistema.
2. De que forma a evolução tecnológica dos transportes colaborou para o desenvolvimen-
to do turismo como um fenômeno social e econômico atual? Dê exemplos concretos
além dos que foram apresentados neste capítulo.
25
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
LISTA DE REFERÊNCIAS
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29
CAPÍTULO 2
Destinos turísticos e
transportes: aspectos
teóricos e estado da arte
2.1. INTRODUÇÃO
Ao longo das últimas décadas, os estudos e as pesquisas sobre transportes turísticos
têm se ampliado de forma significativa. Isso ocorre não somente em relação ao número
de livros e artigos publicados no Brasil e no exterior, mas também através do aprimora-
mento dos debates propostos pelos pesquisadores da área. Contudo, torna-se necessário
consolidar esses estudos “de forma a criar um conjunto de conceitos e conhecimento
que permita um mapeamento do que já foi aprendido até o momento e o que ainda
precisa ser mais bem compreendido” (PALHARES, 2005, p.641). Visando contribuir para a
consolidação dos aspectos teóricos de parte desses estudos, no Capítulo 1 identificou-se
de que forma o transporte é abordado no turismo. No presente capítulo busca-se explicar
qual o papel do transporte nos sistemas e modelos sobre turismo.
31
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
32
Capítulo 2 [Destinos turísticos e transportes: aspectos teóricos e estado da arte]
(Continua)
33
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
(Seção 2.3), Glauber Santos e Thiago Allis fazem uma revisão bibliográfica da temática
“transportes turísticos” em revistas científicas brasileiras de turismo. A partir dessa análise
desenvolvida exclusivamente para este livro, é possível identificar o que foi produzido
no Brasil sobre o tema durante o período 1990-2011.
34
Capítulo 2 [Destinos turísticos e transportes: aspectos teóricos e estado da arte]
sistêmica sobre o turismo. No entanto, como existe uma série de modelos sobre turismo,
é importante deixar claro também que mesmo que dois ou mais modelos tenham como
finalidade a análise dos transportes turísticos, o resultado dessas representações podem
ser diferentes, já que a construção de sistemas e modelos é influenciada pelos contextos
do autor e da obra. Daí vale a pena uma análise comparativa entre os mesmos.
Outro processo que é influenciado pelos contextos do autor e da obra é a classificação
de modelos em grupos distintos. Por exemplo, Getz (1986) identificou a existência de
mais de 150 modelos sobre turismo em seu estudo realizado na década de 1980, sendo
que esse número é ainda maior nos dias atuais. Em seu estudo, Getz classificou os
modelos como: (a) teóricos; (b) de processos de planejamento e gerenciamento; e (c) de
previsão. De acordo com essa classificação, nesta parte do capítulo serão tratados os
modelos teóricos, e no Capítulo 3 serão abordados modelos relacionados a processos
de planejamento e gerenciamento e de previsão.
Em comum, a grande maioria dos modelos sobre turismo ilustra a questão do des-
locamento e por isso cita-se o transporte de forma direta ou indireta. Todavia, não são
todos os modelos que representam de forma explícita a relação de indução ou limitação
ao desenvolvimento que pode ocorrer entre transporte e destinos turísticos. Para compor
o Quadro 2.1, sobre a multiplicidade de representação dos transportes em sistemas e
modelos de turismo, foram selecionados alguns dos modelos amplamente divulgados na
literatura nacional e internacional.
A partir do exposto, é possível concluir que sistemas e modelos dependem de uma
base teórica sólida para serem desenvolvidos e testados. Sendo assim, a proposta de se es-
tabelecer um conjunto de princípios sobre transportes e turismo é um ponto de referência
importante na literatura. Kaul (1985) desenvolveu nove postulados que são largamente
utilizados em estudos científicos e mercadológicos. Um exemplo da aplicação desses
princípios é a pesquisa de Prideaux (2000a) sobre o papel do sistema de transporte no
desenvolvimento de destinos. A seguir são destacados os postulados de Kaul (1985),
citados por Prideaux (2000a):
I. A evolução do turismo é muito influenciada pelos transportes e é uma função do
desenvolvimento destes.
II. O turismo é tanto um fenômeno de massa, quanto uma atividade individual, ambos
necessitam de diferentes tipos de transportes e infraestruturas.
III. As infraestruturas de transportes são uma necessidade inicial e integral para o
turismo e operam como um fator de expansão e limitação para o fluxo de viagens;
a qualidade dos serviços de transportes oferecidos também influencia o tipo de
fluxo turístico.
IV. O desenvolvimento de forma planejada, a manutenção e a operação da infra-
estrutura de transportes sob uma política de transportes bem idealizada – a fim
de atender a tecnologia e as exigências de demanda presentes e futuras – são
35
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
classificados e organizados. Dessa forma, Pearce (2003) inova ao agregar modelos turís-
ticos espaciais em quatro grupos distintos (ver Quadro 2.2). A visualização desses grupos
possibilita o diálogo entre modelos com abordagem até então individualizadas, dispersos
na literatura sobre geografia, transportes e turismo. A contraposição desses modelos e
37
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
teorias forma parte de uma base consistente para que se evolua na discussão a respeito
da relação entre transportes e destinos turísticos.
As próximas seções (2.2.1 a 2.2.4) propõem discussões mais aprofundadas sobre trans-
porte e desenvolvimento de destinos turísticos a partir de cada um dos quatro grupos
apresentados no Quadro 2.2.
38
Capítulo 2 [Destinos turísticos e transportes: aspectos teóricos e estado da arte]
a lguns elementos do Sistema de Leiper. Para Palhares (2005), o Modelo de Leiper, com dois
destinos turísticos (ver Figura 2.2) é similar ao de Mariot, já que ambos evidenciam o
deslocamento ao detalhar as rotas de viagem.
Figura 2.2 — Elemento geográfico de Leiper num sistema de turismo com dois destinos
(Fonte: LEIPER, 1990, apud PALHARES, 2005)
¥ Fluxo Destino(s)-Origem:
1. A partir de DP1 - destino primário 1, o viajante retorna em rota direta para a sua
origem.
2. A partir de DP1, o viajante, pela rota intermediária ou indireta, acessa outros des-
tinos primários (DPz, sendo z = 2, 3, etc.) e destinos secundários (DSy, sendo y = 1,
2, etc.) antes de retornar para a sua origem. É possível fazer uma viagem circular
entre destinos primários (DPz) e secundários (DSy).
41
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
(Continua)
43
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
visão crítica sobre sistemas e modelos auxilia na criação e no aperfeiçoamento do que foi
proposto por outros estudiosos. Por exemplo, críticas atribuídas aos modelos sugeridos
por Butler (1980) e Plog (1991) oferecem possibilidade de se repensarem estratégias para
avançar no conhecimento sobre turismo. Nesse sentido, estudos subsequentes aos mode-
los referidos anteriormente tornaram-se importantes para a construção do conhecimento
sobre a relação entre transporte e destinos turísticos.
A análise do que é proposto por Prideaux (2000b, 2004) ilustra como os embates
teóricos e a identificação de limitações nos modelos contribuem para a produção do
conhecimento científico sobre a relação entre transporte e destino turístico. De acordo
com o autor, apesar de ser amplamente empregado, o modelo de Butler (ver Quadro 2.5)
é unidimensional e pode ser controverso ao ser aplicado no contexto atual, já que é
mais orientado para representações do turismo de massa. Prideaux (2000b) propõe um
modelo multidimensional denominado “Espectro de Desenvolvimento de Resort”, no qual
a relação de desenvolvimento considerando tipo de turista e de transporte empregado
está demonstrada no Quadro 2.6.
Prideaux (2004) elaborou um estudo de caso sobre a Gold Coast, no qual é considera-
da uma quinta fase adicional às quatro fases apresentadas no Quadro 2.6 (anos 2000 em
diante). Localizada em Queensland, na Austrália, a Gold Coast passou de estância cos-
teira sem grande expressão para um destino reconhecido nacional e internacionalmente.
O tempo de duração de cada fase não pode ser apontado, pois existem zonas de
transição entre uma fase e outra que podem levar vários anos e até mesmo décadas.
Contudo, alguns avanços sobre os transportes destacados por Prideaux (2004) são
potenciais influenciadores dessa transformação, como por exemplo: (a) a introdução de
serviços aéreos de passageiros regulares no ano de 1947; e (b) a implantação de voos
diretos de Sidney (principal cidade da Austrália) para a Gold Coast no ano de 1956. A
44
Capítulo 2 [Destinos turísticos e transportes: aspectos teóricos e estado da arte]
posterior redução real do preço das passagens aéreas potencializou a atração de demanda
nacional para o local (ver Prideaux, 2004). O reconhecimento internacional da Gold Coast
pode ser associado, em parte, à implantação de voos charter internacionais iniciados na
década de 1990. Em 2012, o aeroporto da Gold Coast operava voos regulares diretos
para a Nova Zelândia, Cingapura, Japão e Malásia.
Prideaux ainda identificou, por meio do estudo de outros pesquisadores, que a oferta
de serviços e produtos turísticos especializados (de nicho de mercado, ou seja, que visam
45
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
a tender aos interesses específicos da demanda, tais como mochileiros, turismo de estudos
e o segmento gay) caracterizam o “pós-turismo de massa”. Nesse sentido, o estudo de
Prideaux (2004) se diferencia do estudo de Butler (1980), pois os estágios – declínio, es-
tagnação ou rejuvenescimento – são estabelecidos com base nos segmentos de mercado
atendidos e não no número total de visitantes ao longo do tempo. Prideaux (2004) ressalta
que esses estágios podem ocorrer em apenas um dos setores do mercado, logo generali-
zações sobre o estágio de desenvolvimento do destino como um todo podem incorrer em
erros de planejamento e gestão do turismo. Nesse sentido, para se compreender a melhor
maneira de se implementarem estratégias integradas de planejamento entre transportes
e turismo (ver Capítulo 3) é preciso considerar: de um lado, a elaboração de serviços
de transportes especializados para atender as predileções de cada segmento e nicho de
visitantes; e, de outro, serviços de transportes que possam atender às necessidades do
turismo de massa. Para Prideaux (2004), a procura do destino dependerá de três fatores:
(1) nível de interesse individual dos turistas; (2) reputação do resort nos mercados local,
nacional e internacional; e (3) a singularidade do resort. Logo, é preciso que se façam
estudos aprofundados sobre a relação entre transportes e destinos turísticos com base
nesses fatores.
A partir do conjunto de aspectos teóricos expostos, pode-se concluir que a forma
de se representar e interpretar a relação entre transporte e destino turístico depende da
evolução do entendimento sobre o turismo, por meio do tempo e das diversas correntes
teóricas que buscam explicá-lo. Por isso, os postulados de Kaul (1985), o Modelo Com-
pleto de Transportes de Palhares (2005), o Modelo de Espectro de Resort de Prideaux
(2000b, 2004), somados à análise sobre os variados sistemas e modelos turísticos exa-
minados nesta parte do capítulo, se tornam um ponto inicial para estimular a reflexão
teórica entre transportes e destinos turísticos. Eventualmente também poderão servir de
base para novos estudos que colaborem para o avanço do conhecimento científico sobre
o tema, que é apresentado na seção a seguir.
Professor Doutor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP).
1
46
Capítulo 2 [Destinos turísticos e transportes: aspectos teóricos e estado da arte]
(Continua)
47
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
48
Capítulo 2 [Destinos turísticos e transportes: aspectos teóricos e estado da arte]
(Continua)
49
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
50
Capítulo 2 [Destinos turísticos e transportes: aspectos teóricos e estado da arte]
Entre 1990 e 2011, foram publicados 34 artigos (ver Quadro 2.7) relacionados ao tema
transportes em 13 revistas científicas brasileiras da área de turismo, predominantemente
na revista Turismo em Análise (doze artigos), no Caderno Virtual de Turismo (cinco artigos),
revista Turismo Visão e Ação (três artigos) e na revista Turismo e Sociedade (três artigos).
A maioria dos artigos aqui apresentados podem ser encontrados gratuitamente nos sites
das respectivas revistas, ou através de buscas no endereço www.publicacoesdeturismo.
com.br.
A primeira publicação é do início da década de 1990, momento em que os cursos
superiores de turismo se ampliavam no Brasil e os periódicos da área iniciavam suas
atividades – caso da revista Turismo em Análise que teve o seu primeiro número publicado
em 1990. No entanto, é a partir dos anos 2000, principalmente a partir de 2006, que
se observa uma intensificação das publicações sobre a temática, conforme apresentado
no Gráfico 2.1, portanto, ainda que pontualmente, os transportes vêm sendo objeto de
51
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
ainda que exista um artigo sobre transporte fluvial. Por fim, no campo dos transportes
rodoviários distribuem-se estudos sobre carros, ônibus, estradas e rodovias, incluindo
análises deste modo de transporte no âmbito dos destinos turísticos.
Uma das abordagens dos meios de transporte no âmbito do turismo implica na análise
dos elementos de atratividade e motivação turística. Talvez o caso mais emblemático do
meio de transporte como motivador das viagens turísticas seja o dos cruzeiros marítimos,
opção de turismo que reúne serviços de transporte, hospedagem e lazer de forma peculiar
e atraente para grande parte dos turistas. A grande importância dos cruzeiros marítimos é
refletida no destaque da pesquisa acadêmica sobre o tema. Sete dos oito artigos sobre o
transporte aquaviário abordam esse assunto. No entanto, é importante notar que a maior
parte dos estudos sobre cruzeiros marítimos não se concentra sobre aspectos relacionados
à atratividade, enfocando prioritariamente elementos da gestão pública e privada relativos
a esse meio de transporte. Uma notável exceção é o trabalho de Brito e Bruhns (2008),
que trata do lazer a bordo dos navios sob a perspectiva do consumidor.
O transporte ferroviário também tem ocupado lugar de destaque na análise dos trans-
portes enquanto elemento de atratividade turística. Em particular, esse meio de transporte
tem sido amplamente associado à questão do patrimônio histórico e cultural. Esse direcio-
namento está relacionado ao fato de que o transporte ferroviário regular de passageiros no
Brasil é quase inexistente. Consequentemente, ganha destaque relativo o debate sobre a
contribuição do turismo ferroviário para o processo de valorização e preservação do pa-
trimônio (tema de seis dos 10 artigos que tratam do modo ferroviário), como em Mamede,
Vieira e Santos (2008), de maneira mais abrangente, e em Alves e Ferreira (2009), que
adotam uma abordagem mais direcionada, enfocando as diferentes formas de valorização
do patrimônio histórico ferroviário do turismo em três ferrovias de Minas Gerais. De
forma semelhante, o processo de requalificação do patrimônio histórico ferroviário de
Ouro Preto, incluindo a adequação deste ao uso turístico, foi debatido por Maia e Dias
(2010), e as perspectivas de aproveitamento do patrimônio histórico ferroviário da Vila
de Paranapiacaba (SP) também foram discutidas por Allis (2002). A utilização turística de
um trem a vapor (maria-fumaça) que circula entre Bento Gonçalves, Garibaldi e Carlos
Barbosa (RS) foi estudada por Debenetti (2008). Em um estudo sobre o histórico dos bondes
de Santos (SP), ressalta-se a associação destes com a atratividade turística (PINTO, 2005).
Por fim, Lohmann e Oliveira (2008) fizeram uma revisão da literatura internacional sobre
transporte ferroviário e turismo a partir de trabalhos publicados em periódicos estrangeiros.
A questão da atratividade turística da via de transporte é um enfoque presente em
diferentes artigos. O estudo de Rodrigues e Castro (2011) trata da atratividade turística
de passeios em barco no Rio São Francisco, sugerindo um amplo campo de pesquisa
no Brasil, dada a amplitude da rede hidrográfica nacional e as potencialidades turísticas
associadas. A atratividade turística de estradas também tem sido analisada, ainda que de
forma incipiente e com enfoques bastante divergentes. No período analisado, foram publi-
cados apenas quatro artigos sobre essa temática. Enquanto Barbosa et al. (2010) discutem
a atratividade de forma geral de uma possível estrada-parque na região de Visconde de
53
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
Mauá (RJ), Resende e Vieira Filho (2011) estudam a atratividade da Estrada Real para
cicloturistas, dando destaque para um meio de transporte pouco discutido nos estudos
sobre transportes, mas que guarda importante relação com o desenvolvimento turístico
na escala regional. Já Moraes (2006) e Bandeira, Ariotti e Marins (2008) abordam, res-
pectivamente, esse modo de transporte em função do impactos dos ônibus em Balneário
Camboriú (SC) e a partir da análise da Linha de Turismo de Porto Alegre (RS), indicando
um campo de estudo associado às relações entre transportes e destinos turísticos.
Outros trabalhos debatem os impactos da infraestrutura e operação de transportes
sobre a sociedade, economia ou mercado turístico das localidades. Almeida (1992) propõe
um arcabouço teórico para analisar o impacto econômico de projetos de infraestrutura
de transportes frente à demanda turística, enquanto outros autores analisam casos es-
pecíficos de impactos provocados por estradas (BARBOSA et al., 2010), aeroportos (MAIA
e BORGES, 2006) e, sobretudo, por cruzeiros marítimos (CYRILLO, 2008; SOUZA, 2006;
SOUZA et al., 2006). Muitos desses estudos incluem apenas algumas propostas para a gestão
dos impactos negativos e positivos, ao passo que outros são essencialmente propositivos.
Dois estudos tratam especificamente da gestão de veículos automotores em cidades turísticas
(MORAES, 2006; ZANIRATO, 2008). Um terceiro estudo propositivo é aquele desenvolvido
por Graciose (1999) sobre um roteiro turístico na cidade de São Paulo utilizando o metrô
como meio de transporte – cidade que não é a única a ter esse tipo de transporte no Brasil.
O trabalho de Zanirato (2008) é o único que, de maneira direta, aborda a temática dos
transportes pelo viés da mobilidade, abordando o assunto em face dos possíveis conflitos
de sobreuso dos espaços de cidades históricas pelos veículos automotores. Isso expõe
certa omissão dos estudos em transportes turísticos no que se refere a aspectos amplos
de movimentação de fluxos de turistas dentro dos destinos turísticos, especialmente na
interação do pedestre com os espaços de circulação.
Análises de mercado e da gestão de empresas privadas também constituem uma abor-
dagem relevante dos transportes na área do turismo. No entanto, os assuntos específicos
tratados pelos estudos nessa área se mostram pouco integrados, formando um conjunto de
elementos dispersos em um vasto campo de possibilidades. Os temas variam de análises
abrangentes do mercado de um modo de transporte (SAAB e RIBEIRO, 2004; ZANCUDO
e ÁLVAREZ, 1997) ao estudo de práticas específicas, como o overbooking (FERRAZ e
OLIVEIRA, 2008), a precificação (FEITOSA, 2002) e o uso de ferramentas on-line para a co-
municação empresarial (CORRÊA, 2010). A maior concentração de estudos sobre um mesmo
tema se dá com respeito à distribuição de serviços de transporte aéreo (BRASIL, 2006, 2008;
PELIZZER e SCRIVANO, 1990; VALENTE e CURY, 2004). A demanda por serviços de trans-
porte de diferentes modos (RIBEIRO, 2009; VALENTE e LOHMANN, 2005) e a satisfação
dos consumidores desses serviços (BANDEIRA et al., 2008; DEBENETTI, 2008) completam
o quadro de temas relacionados ao mercado e à gestão de empresas de transportes.
Pode-se ainda destacar a existência de uma série de estudos isolados sobre temáticas
específicas dos transportes. Gastal (2010) traz uma abordagem histórica do transporte
aéreo no Brasil, ressaltando as relações entre correios e passageiros no caso da Varig,
54
Capítulo 2 [Destinos turísticos e transportes: aspectos teóricos e estado da arte]
um estudo sobre o transporte aéreo que acaba por contribuir, de maneira ampla, para o
entendimento da história do turismo contemporâneo brasileiro. Siqueira e Delage (2010)
abordam o universo simbólico dos passageiros da ferrovia Vitória Minas, trazendo à
discussão aspectos de natureza psicológica quando do momento da viagem. Resende e
Vieira Filho (2011) estudam o perfil dos cicloturistas que percorrem a Estrada Real.
Diante desse cenário, percebe-se que a perspectiva dos estudiosos do turismo sobre a
temática dos transportes é marcante no conjunto de estudos analisados, em que se des-
tacam alguns direcionamentos específicos no bojo da intersecção das temáticas turismo e
transportes. As questões relacionadas à gestão pública e privada predominam (ainda que
estudos aplicados às empresas de transporte ainda estejam concentrados no setor aéreo),
mas análises do comportamento do turista, dos efeitos do sistema de transportes sobre a
atividade turística e debates sobre a questão do patrimônio cultural, particularmente na
interface com o transporte ferroviário, também têm recebido alguma atenção.
Da análise dos artigos disponíveis, não é possível extrair leituras lineares no que diz res-
peito ao tipo de enfoque: por modos de transporte, por elemento do sistema (via, veículo,
força motriz ou terminal) ou por grandes temas (mormente conectados a assuntos do
turismo). Tampouco a intermodalidade – tema pungente nos estudos de turismo atuais que
emerge como categoria de análise, a despeito de qual seja o enfoque – com uma possível
exceção de Almeida (1992), cujo artigo trata dos transportes de maneira genérica, em que
pese sua relação com o planejamento turístico. Pode-se perceber, com efeito, uma leve
tendência em se aproximar o estudo dos transportes do planejamento turístico, algo que
indica um papel de maior destaque para o tema da mobilidade – extrapolando, portanto,
uma visão técnica e comercial dos sistemas de transporte, que, apesar de ser uma de suas
facetas, não resume sua importância para o turismo.
Ainda que sob ressalvas, pode-se dizer que tem havido um aumento na complexidade
dos estudos desta área no Brasil. Esse campo de pesquisa tem conquistado autonomia
com relação aos estudos de agenciamento e distribuição turísticos, passando a contar
com uma literatura de referência cada vez mais ampla e consistente. No entanto, ainda
existe um amplo espaço para o desenvolvimento de novos estudos que contribuam tanto
no sentido de aprofundar os conhecimentos já existentes, quanto de diversificar o escopo
das pesquisas realizadas. Ademais, pode ser conveniente reconhecer que, provavelmente,
existe uma série de estudos e pesquisas relacionados ao tema que, até o momento, ainda
não atingiram os periódicos científicos, sugerindo uma maior atenção aos pesquisadores
brasileiros (e eventualmente às próprias revistas) para as questões de transporte e turismo.
Isso sem mencionar os estudos sobre transporte e turismo que tenham sido publicados
em periódicos científicos em outros campos do conhecimento que não apenas o turismo.
2.4. CONCLUSÕES
Este capítulo tratou das representações dos transportes em alguns dos principais
modelos de turismo apresentados pela literatura acadêmica, destacando a importância
da abordagem sistêmica para se trabalhar de forma integrada os transportes e o turis-
55
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
mo. Por outro lado, o foco na análise dos transportes, com base nos modelos espaciais
propostos por Pearce (2003) – Viagem, Origem/Destino, Estruturais e Evolucionários –
forneceu pistas relevantes para que se compreenda de que maneira a organização
espacial de redes de transportes pode contribuir para o aprofundamento de questões
inerentes ao planejamento e a gestão dos transportes turísticos, tema que será abordado
no Capítulo 3. Outro ponto relevante deste capítulo foi a identificação do estado da arte
sobre transportes e turismo em revistas científicas nacionais. Os pesquisadores Thiago
Allis e Glauber Santos verificaram a existência de uma nova complexidade dos estudos
sobre a temática no Brasil.
Para concluir este capítulo são destacadas duas questões que merecem atenção
por parte dos estudiosos dessa temática. A primeira questão é que ficou evidente neste
capítulo que a partir de métodos consistentes e aplicados de forma sistemática é pos-
sível conhecer o padrão de desenvolvimento dos destinos em relação aos transportes e
vice-versa (ver estudos de Prideaux, 2000b e 2004). Assim, é fundamental que, de um
lado, se estimule o uso de abordagem sistemática em novas propostas de pesquisa sobre
a temática; e que por outro haja a integração entre a academia e o mercado, propician-
do que estudos teóricos aprofundados subsidiem o planejamento e a gestão e que os
resultados dessas ações retroalimentem os estudos teóricos sobre transportes e turismo.
Uma segunda questão é que o avanço do conhecimento científico dependerá não só do
incentivo para o desenvolvimento de pesquisas sobre transportes e destinos turísticos,
mas que os resultados dessas pesquisas sejam compartilhados através de publicações em
periódicos científicos nacionais e internacionais.
QUESTÕES
1. Todo modelo admite críticas e nem sempre são aceitas de forma universal. Para ilus-
trar de maneira prática como sistemas e modelos estão passíveis de serem revistos e
complementados, reúna-se com alguns colegas e crie um debate sobre as diversas
formas de representação dos transportes nos modelos consagrados de turismo. Ao
final faça um quadro com as principais ideias que surgirem nesse debate.
2. Com base em todos os modelos apresentados neste capítulo, faça a proposição de
um esquema gráfico (desenho) para representar a complexidade da relação entre
transportes e destinos turísticos. Justifique sua resposta.
3. Em dupla com um colega, selecionem um dos artigos identificados no estudo sobre
estado da arte (Quadro 2.7) e analisem, individualmente, o seguinte: de que forma
a pesquisa realizada neste artigo contribuiu para se conhecer mais sobre a relação
entre transporte e turismo. Depois de realizar a análise, comparem as suas respostas
e avaliem as convergências e divergências sobre o que foi percebido por você e por
seu colega. Caso haja várias duplas em sala de aula, a comparação pode ser feita com
relação a outros artigos analisados. A maioria dos artigos do Quadro 2.7 está disponível
56
Capítulo 2 [Destinos turísticos e transportes: aspectos teóricos e estado da arte]
gratuitamente nos sites dos respectivos periódicos ou podem ser obtidos também por
meio de buscas no endereço <http://www.publicacoesdeturismo.com.br>
4. Em sala de aula: com base numa viagem de férias que você tenha realizado ou que
gostaria de realizar, escolha um modelo espacial tratado neste capítulo que possa
servir de base para ilustrar o uso dos transportes nesta viagem. Justifique sua resposta
e apresente o resultado aos seus colegas.
5. Com base nos artigos identificados no estudo sobre o estado da arte (ver Quadro 2.7),
escolha um modo de transporte em particular e faça o levantamento de todos os
artigos. Após a leitura desses artigos, responda a seguinte questão: quais problemas
teóricos-conceituais devem ser abordados em novas pesquisas sobre a relação entre
o modo de transporte escolhido e o turismo?
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[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
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Capítulo 2 [Destinos turísticos e transportes: aspectos teóricos e estado da arte]
TRIBE, J. The interdiscipline of tourism. Annals of Tourism Research, v.24, n.4, p. 638-657.
1997.
61
CAPÍTULO 3
Planejamento e gestão
dos transportes
e destinos turísticos
3.1. INTRODUÇÃO
A visão integrada sobre planejamento dos transportes e do turismo pode auxiliar
sobremaneira na gestão pública e privada dessas atividades, e no desenvolvimento de
mecanismos e políticas públicas específicas. Apesar dos avanços teóricos-conceituais
(ver Capítulo 2), é necessário admitir que o processo de planejamento dos transportes é
um tema pouco explorado na literatura sobre turismo.
Inicialmente o foco do capítulo incide na análise da metodologia de planejamento do
turismo e suas referências ao planejamento dos transportes em destinos turísticos. A fim de
subsidiar o processo de planejamento integrado entre transportes e turismo, é interessante
analisar de que forma alguns modelos espaciais de turismo (ver Capítulo 2) podem se rela-
cionar com as fases do ciclo de transportes. As etapas do processo de planejamento de cada
atividade serão detalhadas, cujo intuito é encontrar o melhor modo de complementação
entre elas. A partir da apresentação do modelo de quatro etapas, também conhecido como
Modelo Sequencial de Demanda, faz-se uma reflexão sobre a importância desse modelo
enquanto ferramenta para o planejamento do turismo (ver Quadro 3.2).
63
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
Tópicos atuais das políticas públicas de transportes e de turismo no Brasil também são
abordados neste capítulo com análise realizada por Daniela Caruza Gonçalves Ferreira
abordando as principais políticas de desenvolvimento do turismo em interface com os trans-
portes. O desenvolvimento sustentável está diretamente relacionado ao planejamento dos
transportes e do turismo, uma vez que as atividades devem ser planejadas garantindo não
somente a sua utilização pelas gerações presentes, mas também pelas que virão no futuro.
O capítulo apresenta ainda questões importantes sobre o planejamento dos transportes
em momentos nos quais os destinos passam por um grande aumento em sua demanda por
serviços de transporte e turismo, devendo, assim, adequar a sua oferta: os megaeventos.
Eventos como a Copa do Mundo de Futebol, os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Verão
ou Inverno, dentre outros, atraem um número excessivo de espectadores e visitantes aos
destinos turísticos, fazendo com que a sua infraestrutura de transportes (aeroportos, portos,
terminais rodoviários e transporte público) e de turismo (hotéis, serviços de receptivo,
alimentos e bebidas) sejam remodeladas e ampliadas conforme as necessidades de cada
evento. Por fim, o capítulo é encerrado com a apresentação de um estudo de caso que
trata do desenvolvimento da cidade de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, es-
pecialmente no que diz respeito ao planejamento do turismo e do setor de transportes.
ETAPAS DO PLANEJAMENTO
TRANSPORTES
DO TURISMO
Análise do ambiente Partindo-se do princípio de que essa é a etapa na qual se tem uma
(externo e interno) visão geral da área que se pretende planejar, é importante que seja
realizado um histórico detalhado da relação entre a evolução tecno-
lógica dos transportes e o desenvolvimento do turismo. Na análise
interna do ambiente é preciso se identificar quais são os pontos
fortes e fracos dos transportes em relação ao turismo. Na análise
externa é preciso identificar quais são as ameaças e oportunidades
relacionadas aos transportes turísticos. Assim, é preciso identificar
inclusive quais são os potenciais visitantes para esse destino e que
tipo de transporte utilizarão para terem acesso e circularem no local.
Diagnóstico É a etapa na qual se levantam os dados necessários sobre o local
que será planejado. O objetivo do planejamento deve ser claro e o papel
dos diversos atores sociais e das organizações bem definidos. Portanto,
neste momento é essencial que se faça um levantamento específico
sobre de que forma a oferta de transportes atende aos residentes e aos
visitantes no presente. Deve-se considerar a quantidade e qualidade de
oferta por modos, a localização dos terminais e o nível da prestação de
serviços ofertados nestes; a existência de intermodalidade; tipos e níveis
de serviços ofertados pelas empresas de transportes; a existência de
parceria entre empresas de transportes e de turismo; o perfil dos clientes
das empresas de transportes que servem diretamente e indiretamente
ao turismo, envolvendo pesquisas junto aos moradores e aos visitantes.
Prognóstico Esta etapa é a previsão do curso de desenvolvimento do turismo. Nela
são considerados dados estatísticos das etapas anteriores, política gover-
namental e tendências. Portanto, neste momento, é essencial que se faça
um levantamento específico sobre: (a) de que forma a oferta de trans-
portes atenderá aos residentes e aos visitantes no futuro, tendo em vista
curto, médio e longo prazos; (b) legislação aplicada aos setores de trans-
portes e turismo; (c) as tendências da relação entre transportes e turis-
mo, como, por exemplo, o desenvolvimento de segmentos de mercado
turístico que exijam oferta de transporte com características específicas.
Estratégia Nesta etapa deve ficar evidente de que forma será realizada a im-
plantação ou reposicionamento da atividade turística para que os ob-
jetivos do planejamento sejam alcançados. Portanto, é essencial
que se tenha alternativas de ação de acordo com os recursos finan-
ceiros previstos. Nesta etapa é preciso ter a clareza do que é priori-
tário. Por exemplo, estrategicamente é mais importante a construção
de infraestrutura de transportes específica para o desenvolvimento
do turismo (pontes e aeroportos, por exemplo), ou criar mais canais
de distribuição dos serviços de transportes junto aos clientes.
Portanto, definir o conjunto de estratégias a ser adotado é um grande
desafio para planejadores e gestores dos transportes em sinergia
com os destinos turísticos. De uma maneira geral, a compreensão
sobre os modelos teóricos trabalhados no Capítulo 2 podem ser
um suporte precioso para a definição de estratégias.
(Continua)
65
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
ETAPAS DO PLANEJAMENTO
TRANSPORTES
DO TURISMO
Implantação É o momento no qual o documento torna-se realidade. Nesta etapa
existe a captação de recursos, as oficinas de conscientização/sensi-
bilização e mobilização para residentes, o desenvolvimento de pro-
gramas de marketing. Portanto, nesta fase tudo que foi pensado
de maneira estratégica para o desenvolvimento sinérgico entre
transportes e turismo deve ser posto em prática. Em cidades que são
sedes de megaeventos esportivos, o desenvolvimento de infraestru-
tura de transportes geralmente se torna um legado que pode auxiliar
no reposicionamento do destino turístico frente aos mercados
nacionais e internacionais (ver Seção 3.5). Nesse sentido, a captação
de recursos para o desenvolvimento turístico pode estar associada
a órgãos e empresas de variados setores, como, por exemplo, em-
presas do ramo de comunicação que têm interesse na transmissão
dos jogos. As oficinas de conscientização para residentes também
podem envolver questões relacionadas ao uso dos transportes. No
estudo de caso sobre o uso de bicicleta em Paris (ver Seção 3.4),
fica bastante evidente de que maneira o papel da população local é
fundamental no processo de planejamento do transporte urbano em
sinergia com o desenvolvimento do turismo.
Avaliação O planejamento exige a avaliação contínua dos resultados, a fim
de corrigir eventuais falhas e gerar novas estratégias para atualizar
o próprio processo de planejamento. Dessa forma, é essencial que se
criem mecanismos para a avaliação sobre as relações de incentivo ou
limitação ao desenvolvimento que podem ocorrer entre transportes e
destinos turísticos. Em outras palavras, ao se analisar a sinergia entre
esses dois setores (transportes e turismo), a partir de métodos consis-
tentes e aplicados de forma sistemática, é possível construir séries his-
tóricas de dados que são bastante úteis para se conhecer o padrão de
desenvolvimento dos destinos em relação aos transportes e vice-versa
(ver estudos de Prideaux, 2000b e 2004 analisados no Capítulo 2).
Fonte: adaptado de Lohmann e Panosso Netto (2008).
Bruton (1979; 1985) foi um dos pesquisadores que mais contribuiu para o detalhamento
metodológico do processo de planejamento de transportes. Passadas algumas décadas,
sua obra notadamente ainda coopera para a elaboração de diversos planos, programas
e projetos de transportes. No Brasil, pode-se destacar a utilização do embasamento
científico de Bruton (1985) nos aspectos metodológicos norteadores do Plano Nacional
de Transporte e Logística (PNLT). Esse Plano foi elaborado, na segunda metade dos anos
2000, pelo Ministério dos Transportes, Ministério da Defesa e através do Centro de
Excelência em Engenharia de Transportes (CETRAN). Compreendendo o universo es-
tratégico entre os anos de 2008 e 2023, o PNLT é considerado um marco da retomada
do planejamento de médio e longo prazo dos transportes no país (BRASIL, 2009). O
PNLT será melhor explicado quando forem abordadas as políticas públicas sobre trans-
porte e turismo no Brasil (Seção 3.3).
Em linhas gerais, o estudo do planejamento de transportes visa “adequar as neces-
sidades de transportes de uma região ao seu desenvolvimento de acordo com suas
características estruturais. Isso significa implantar novos sistemas ou melhorar os exis-
tentes” (CAMPOS, s.d, p.2). Daí a importância de se discutir a relação entre os trans-
portes e o desenvolvimento de áreas geográficas que cumprem algum tipo de função
nodal específica no turismo, tais como aquelas destacadas por Lohmann e Pearce (2010):
origem, destino, hub, portão de entradas, escala e múltiplas funções (ver Capítulo 1).
A definição da área de estudo para o planejamento de transportes nem sempre corres-
ponde aos limites geográficos, políticos e administrativos de um único destino turístico
ou região turística. Nesse sentido, é válido destacar que, tecnicamente no planejamento
dos transportes, em especial o urbano, existe a possibilidade de se definirem linhas
imaginárias que auxiliam na delimitação da área de estudo e no estabelecimento de
zonas de tráfego. Desenhar essas linhas auxilia também na definição de pontos para a
coleta de dados, que posteriormente servirão para a construção de modelos e tomadas de
decisão relacionadas à implantação ou à melhoria dos sistemas de transportes. A seguir
são detalhadas informações sobre duas linhas - cordon line e screen line:
¥ Cordon Line: envolve os principais movimentos da região; as áreas que serão desen-
volvidas no futuro; e ainda deve cruzar as principais vias e corredores de transportes.
No planejamento de transportes a área de estudo ainda é subdivida em zonas de
tráfego, isto é, unidades básicas para se estabelecer a quantidade de fluxo gerados
(ver CAMPOS, s.d). É válido destacar que na literatura de planejamento de transportes
existe ainda uma série de estudos que podem contribuir para se definir o tamanho
da zona de tráfego e a inter-relação entre elas (ver BRUTON, 1985; KHISTY, 1990;
ORTÚZAR e WILLUMSEN, 1994; OPPENHEIM, 1995; CAMPOS, s.d).
¥ Screen line: esta linha corta a área de estudo que foi determinada pela cordon line e
muitas vezes coincide com um obstáculo natural, como um rio, ou construído, como
uma ferrovia (ver CARDOSO, 1999; CAMPOS, s.d.).
Em destinos turísticos, a definição dos pontos de coleta de dados podem coincidir
com os Polos Geradores de Viagens (PGV) de natureza turística. Os PGVs são “locais ou
67
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
(Continua)
69
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
de viagem para se chegar aos dois destinos turísticos internacionais populares: Sun
Moon Lake e Quing-Jing Farm. Dessa forma, as mudanças acarretaram um aumento
considerável da quantidade de viajantes nos destinos próximos a Puli, transformando
destinos secundários em primários, pois viajantes apresentaram mais tempo disponível
para visitar a área de Puli (HSUEH, 2012).
A pesquisa examinou e analisou o itinerário individual de 300 viajantes independentes
e 40 turistas de massa (ver Plog, 1991 no Capítulo 2), levantando as funções nodais – “nós
de viagem” primários (1); e os secundários (2), antes e após a evolução de transportes. O
número crescente de viajantes na área de Puli após a evolução nos transportes demons-
trou que isso foi um fator relevante para reforçar a competitividade desse destino turís-
tico em sua região. O vine effect (efeito videira, em alusão ao formato de uma trepadeira
ramificada) representa a nova configuração espacial alcançada.
O estudo de Hsueh (2012) reforça que um dos maiores desafios para o planejamento
integrado entre transportes e destinos turísticos é tratar as complexidades envolvidas
na relação entre as dinâmicas de uso do solo, os transportes e o desenvolvimento sus-
tentável de destinos turísticos. Na literatura sobre planejamento de transportes existe a
proposição de um Ciclo de Transportes (ver Figura 3.1), que é raramente abordado nos
estudos turísticos. Esta é uma apropriada ferramenta para se analisar as relações entre as
“dinâmicas de uso do solo” (mudanças no uso e ocupação do solo, alteração no valor
da terra) e os “transportes” (geração de movimentos, oferta e demanda por transportes,
aumento da acessibilidade) com o desenvolvimento de destinos turísticos.
visitantes nem sempre significa desenvolvimento (ver Prideaux, 2000b e 2004, abordado
no Capítulo 2). Nesse sentido, é fundamental que se empreendam estudos de capacidade
de carga e de zoneamento turístico. Estes ajudarão a determinar o ponto de equilíbrio entre
aumentar a acessibilidade e as mudanças no uso e ocupação do solo a fim da promoção
do desenvolvimento sustentável dos destinos turísticos envolvidos na área de estudo.
CECIERJ.
72
Capítulo 3 [Planejamento e gestão dos transportes e destinos turísticos]
Quadro 3.3 — Roteiro para suporte teórico para planejamento integrado entre trans-
portes e destinos turísticos
Hall (2004, p.24) afirma que “planejar é, portanto, apenas uma parte de um processo
global de ‘planejamento-decisão-ação’”.
Lohmann e Panosso Netto (2008, p.121) definem políticas públicas de turismo como
“o direcionamento dado pelos governos federal, estadual, municipal ou regional para o
desenvolvimento da atividade turística, após ter consultado os representantes do setor
turístico e da sociedade”. Para o BRASIL (2009), o papel do Estado Nacional é funda-
mental para o desenvolvimento do turismo, uma vez que ele é o principal responsável
por oferecer as condições necessárias para que o turismo aconteça: infraestrutura básica,
como esgoto, rede de comunicação, água e estradas; e uma superestrutura organizada,
com legislação, normas, regulamentos relativos ao turismo, dentre outros. Dessa forma,
é necessário que as políticas direcionadas ao planejamento e desenvolvimento do turis-
mo estejam articuladas com outras políticas, ligadas diretamente ao turismo ou a ele
relacionadas, tais como transporte, meio ambiente, saneamento básico, saúde, educação,
segurança, fomento de atividades produtivas, e assim por diante.
O desenvolvimento de um destino turístico, bem como a definição de seus principais
polos emissores de turista, está diretamente ligado, entre outros fatores, à existência de
vias de acesso e à sua condição de tráfego. Como imaginar o turismo sem a efetiva pos-
sibilidade de deslocamento? As políticas públicas de transportes, portanto, influenciam
e podem, inclusive, determinar a evolução dos destinos turísticos de um país. Como
73
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
abordado anteriormente na Seção 3.2, o aumento ou a melhoria das vias de acesso podem
se configurar até mesmo como uma ameaça ao destino em questão. Nessa mesma seção,
no caso analisado por Hsueh (2012), a conexão entre duas estradas nacionais em Taiwan
alterou a dinâmica de desenvolvimento turístico de uma região específica.
Ações fundamentais das políticas públicas de transporte, a construção e a manutenção
de vias de acesso e de seus equipamentos de apoio são o que permite a interligação
entre determinados pontos do território nacional, estimulando o desenvolvimento de
determinados lugares em detrimento de outros. O planejamento dessas ações pode
seguir critérios empíricos (vias utilizadas anteriormente ao processo de planejamento por
necessidade dos habitantes ou do comércio local), políticos e ideológicos (como o de
manutenção de fronteiras, ocupação do território nacional ou de ligação entre as capitais
das unidades da federação), ou estratégicos e comerciais (interligação de polos comerciais
ou necessidade de escoamento da produção).
Uma característica histórica da política de transportes no Brasil foi o progressivo in-
centivo às rodovias, cuja construção se intensificou em meados do século XX. Um fator
importante desse processo é que, em vez de estimular a integração intermodal, estabele-
cendo conexões entre rodovias, ferrovias e hidrovias já existentes (o que poderia melhorar
o acesso e dinamizar o sistema nacional de transportes), a construção das rodovias foi
feita basicamente com traçados paralelos aos ferroviários, acirrando a competição entre os
modos em termos de investimentos e intervenções governamentais (DNIT, s/d). Posterior-
mente, como resultado do processo das privatizações iniciado nos anos 1980 e continuado
especialmente na década seguinte, o desenvolvimento da infraestrutura brasileira foi, em
geral, reduzido, e os investimentos na manutenção e melhoramento das redes de transporte
rodoviário e ferroviário minguaram, fazendo com que fossem afetados tanto os custos do
transporte quanto sua confiabilidade (LOHMANN e DREDGE, 2012). Nos anos 2000, o
transporte aéreo foi favorecido pela flexibilização da legislação tributária, possibilitando
a queda das tarifas e gerando uma competição acirrada das companhias aéreas entre si,
o que fez com que o transporte por ônibus se tornasse menos atraente aos passageiros,
sobretudo nas ligações entre centros maiores. A adoção do modelo low cost-low fare, por
algumas companhias aéreas, também foi um fator de ampliação da demanda pelo trans-
porte aéreo, que crescia a taxas superiores a 10% ao ano (BRASIL, 2009).
É possível dizer que as políticas públicas e os programas de desenvolvimento do turismo
são desenhados, em grande medida, tomando como base as políticas públicas de trans-
porte ou seus resultados: em alguns casos são pensados conforme a infraestrutura de
transportes já existente e a possibilidade de utilizá-la para o turismo; em outros, parte dos
recursos destinados aos programas de desenvolvimento turístico são alocados para cons-
trução ou manutenção de vias de acesso e seus equipamentos, quando essa infraestrutura
é inexistente ou precária. Dois exemplos importantes desse delineamento marcado pela
infraestrutura de transporte disponível são o Programa de Desenvolvimento do Turismo
no Nordeste – PRODETUR NE e a escolha dos 65 destinos indutores no Programa de
Regionalização do Turismo – PRT.
74
Capítulo 3 [Planejamento e gestão dos transportes e destinos turísticos]
2
De acordo com a Lei Geral do Turismo (Lei 11.771 de 17/09/08), que define as atribuições do Governo
Federal no planejamento, desenvolvimento e estímulo ao setor turístico, “O poder público atuará, mediante
apoio técnico, logístico e financeiro, na consolidação do turismo como importante fator de desenvolvimento
sustentável, de distribuição de renda, de geração de emprego e da conservação do patrimônio natural, cultural
e turístico brasileiro” (art. 3°, parágrafo único).
Lei n° 11.182, de 27 de setembro de 2005.
3
76
Capítulo 3 [Planejamento e gestão dos transportes e destinos turísticos]
do turismo. A cidade do Rio de Janeiro, que será sede da Copa do Mundo de Futebol
(2014) e dos Jogos Olímpicos (2016), reúne grande parte destes incluindo a implantação
dos Bus Rapid Transit (BRTs, que são corredores projetados exclusivamente para a circu-
lação de ônibus) e a revitalização do espaço urbano da região portuária, mais conhecido
como Porto Maravilha.
Analisar o processo de planejamento e a elaboração de políticas públicas pode ser uma
via para alcançar a compreensão das causas e das consequências das decisões políticas e
melhorar o conhecimento sobre a sociedade. Hall (2004) destaca que o planejamento é um
processo político, não só por envolver a elaboração de políticas públicas, mas, principalmen-
te, porque envolve objetivos sociais e sua relação com aspirações, muitas vezes conflitantes,
de grupos distintos. Esses grupos – o autor cita como exemplos associações ligadas ao turis-
mo, grupos conservacionistas, grupos comunitários, indivíduos representativos (membros
do governo local, líderes empresariais), membros de entidades burocráticas (funcionários de
organizações de turismo ou órgãos de desenvolvimento), além de acadêmicos e consultores –
influenciam as políticas públicas de maneira significativa e, em geral, também divergem
marcantemente na forma como as percebem. Como Hall (2004) observa, as questões que
podem ser colocadas, nesse sentido, e que tentamos explorar – mesmo que superficialmente
– neste capítulo, dizem respeito às características socioeconômicas e do sistema político que
atuam para moldar o conteúdo da política, e aos impactos que as políticas públicas exercem
na sociedade, no ambiente e no próprio sistema político. Parafraseando o autor, a análise
das políticas públicas é, finalmente, uma forma de compreender causas e consequências,
uma possibilidade de buscar soluções para problemas práticos referentes ao turismo e de
introduzir esses conhecimentos no processo de planejamento.
78
Capítulo 3 [Planejamento e gestão dos transportes e destinos turísticos]
DIMENSÃO VARIÁVEIS
Social Dimensão marcada pelo envolvimento ou não das comunida-
des receptoras dos locais de destino com a atividade turística.
Identificação da relação entre turista e comunidade local.
Econômica Valorização das iniciativas locais. Contribuição para ampliação
da empregabilidade. Ampliação das receitas e apoio do poder
público no combate à sonegação fiscal. Prática do preço justo,
formação de cadeias produtivas locais, geração de emprego
e renda para a comunidade local.
Ambiental Ações que possam proporcionar melhorias na conservação
e preservação da fauna, flora, patrimônios naturais e na ade-
quação e uso de recursos naturais.
Cultural Valorização dos bens materiais (museus, igrejas, locomotivas
centenárias, etc.) e imateriais referentes à cultura (memória
oral, festas folclóricas, etc.). Preservação e/ou conservação
dos bens e implantação da educação patrimonial tanto
para turistas quanto para moradores.
CRUZEIROS MARÍTIMOS
Os cruzeiros marítimos são ótimos exemplos de aplicabilidade das dimensões da sus-
tentabilidade (FRAGA e FERNANDES, 2011). No aspecto ambiental, pode-se pensar na
coleta de lixo seletiva, uma vez que não é tudo que pode ser jogado pelos navios em
alto-mar além de nem todos os portos estarem habilitados a receber todo e qualquer tipo
de lixo. Sendo assim, é importante que os navios façam um trabalho de coleta seletiva. Na
dimensão cultural, ressalta-se o intercâmbio cultural e o respeito à pluralidade cultural, já
que os navios de cruzeiros empregam pessoas de diversos países que estão à disposição
para servir passageiros também de origens variadas. Há ainda o contato entre os cruzeiris-
tas (aqueles que viajam de cruzeiros) e a comunidade local no momento em que o navio
atraca em determinado porto.
79
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
5.000 postos de carregamento (AUTOLIB, 2012). Os dados informam que até junho de
2012, aproximadamente 1.740 carros estavam disponíveis para parisienses e turistas, mas esse
número poderá chegar aos 3.000 carros em breve. O serviço é muito simples e funciona da
seguinte forma: (1) a pessoa preenche um cadastro que pode ser feito online ou nos quiosques
do Autolib em diversos locais da cidade, apresentando a carteira de habilitação válida e um
cartão de crédito; (2) o cliente recebe um cartão que dá acesso ao serviço; (3) chegando à
estação, basta encostar o seu cartão no sensor para desbloquear um dos veículos disponíveis;
(4) basta entrar no carro e acioná-lo com a chave que já estará na ignição. Assim como no
Vélib, também há diversos planos tarifários para a utilização do Autolib. O Autolib 1 Jour, por
exemplo, serve para pessoas com necessidades imediatas e que precisam do veículo por um
dia. Nesse plano paga-se 10 euros por dia somados a 7 euros a cada meia hora de uso do
carro (Figura 3.3).
Figura 3.2 — Estação de Vélib em Paris, janeiro de 2013 (Foto cortesia: Carla Fraga)
81
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
Figura 3.3 — Estação de Autolib em Paris, janeiro de 2013 (Foto cortesia: Carla Fraga).
82
Capítulo 3 [Planejamento e gestão dos transportes e destinos turísticos]
83
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
Figura 3.4 — Exterior e átrio da Grande Mesquita Sheik Zayed, Abu Dhabi, março de
2010 (Foto cortesia: Guilherme Lohmann)
Além do crescimento sustentável do turismo, o Plano Abu Dhabi 2030 põe grande
ênfase no desenvolvimento da infraestrutura de transporte e na redução da emissão de
carbono (LUOMI, 2009; REICHE, 2010). Esses objetivos de longo prazo são essenciais
e têm implicações significativas na infraestrutura de transporte existente e naquela que
precisa ser desenvolvida no futuro (MEZHER, TABBARA et al., 2010).
O transporte aéreo
Usando o aeroporto internacional de Abu Dhabi como hub, a companhia aérea
nacional dos Emirados Árabes Unidos, a Etihad Airways, é, desde 2003, por ocasião
da sua criação, a companhia aérea que mais cresce na história da aviação comercial
(ETIHAD AIRWAYS, 2011). Em 2010, Etihad Airways ligava Abu Dhabi a 66 destinos
internacionais, com uma frota de 57 aeronaves, operando cerca de mil voos por semana
(ETIHAD AIRWAYS, 2011). Embora seja a segunda maior transportadora dos Emirados
Árabes Unidos, atrás da Emirates Airline, a Etihad Airways colocou a maior encomenda
86
Capítulo 3 [Planejamento e gestão dos transportes e destinos turísticos]
3.7. CONCLUSÕES
O cruzamento de aspectos teóricos das áreas de planejamento de transportes e de tu-
rismo realizado no início deste capítulo possibilitou a criação de um suporte metodológico
(ver Quadro 3.3) para realizar uma reflexão sobre a condução integrada do processo de
planejamento e gestão dos transportes e dos destinos turísticos. As políticas públicas são o
fio condutor para o planejamento e para a gestão. Nesse sentido, a pesquisadora Daniela
Caruza Gonçalves Ferreira fez uma contribuição para que estudantes, planejadores e
gestores de turismo e transportes busquem soluções para os variados problemas práticos
e teóricos sobre o temática no país.
A partir dos temas discutidos nas Seções 3.2 e 3.3 deste capítulo ficou evidente que
planejar e gerir os transportes turísticos exige esforços para garantir a sustentabilidade. Assim,
a análise realizada sobre o papel do aluguel de bicicletas (Vélib) e carros (Autolib) para o
desenvolvimento sustentável de destinos turísticos consagrados, como em Paris, é uma forma
de demonstrar como ações práticas estão sendo desenvolvidas ao redor do mundo (Seção
3.4). Os navios de cruzeiros, tema também abordado na Seção 3.4, destacou a importância
de se atuar de maneira equilibrada com as dimensões da sustentabilidade (ambiental, social,
cultural, econômica). Dessa forma, ficou evidente que a parceria entre as operadoras de
navios de cruzeiros, com os diversos atores dos destinos turísticos visitados, pode ajudar na
divisão de bônus e ônus, equilibrando a balança do desenvolvimento sustentável.
Um tema emergente se relaciona a como prover transportes para estruturas temporá-
rias, como por exemplo os megaeventos. Planejar e gerir eventos que envolvam o acesso
e a circulação de um número grande de pessoas ao mesmo tempo é um desafio que
também exige a aplicação dos princípios da sustentabilidade. Tanto o mapeamento do tipo
de público (T1, T2, T3, T4 e T5, ver Seção 3.5) que circulará durante a realização do
megaevento, quanto a identificação entre os pontos de “origem” e “destino” dos des-
locamentos, são elementos-chave para se planejar e gerir com sucesso as relações entre
88
Capítulo 3 [Planejamento e gestão dos transportes e destinos turísticos]
transportes e destinos turísticos que sediarão megaeventos. Nesse sentido, quanto mais in-
tegrada estiver a visão sobre sustentabilidade entre os destinos turísticos com as empresas
de transportes, mais fácil será alcançar o sucesso. Com o objetivo de ilustrar como isso
pode ocorrer na prática, na Seção 3.6 foi analisada a busca pela sustentabilidade a partir
da análise sobre a evolução do turismo e o investimento em transportes em Abu Dhabi.
O próximo capítulo complementa o que foi apresentado aqui abordando as noções
de marketing aplicadas aos transportes e destinos turísticos. Se bem planejado e gerido, o
marketing pode se tornar uma ferramenta poderosa para manutenção da sustentabilidade
dos destinos turísticos e das empresas de transportes.
QUESTÕES
1. Elabore um resumo comparativo entre os processos de planejamento de transportes
e do turismo.
2. A partir de um exemplo prático entre transportes e destinos turísticos, responda: qual
é a etapa do Ciclo de Transportes do atual estágio de desenvolvimento da relação
entre transportes e turismo? Justifique sua resposta.
3. Pense na sua cidade e faça uma análise sobre os principais Polos Geradores de Viagens
(PGVs) de natureza turística e seus impactos na rede de transportes.
4. De que maneira os transportes devem ser planejados para o atendimento da demanda
exacerbada durante os megaeventos?
5. Elabore um texto dissertativo contendo os seguintes conceitos: “transportes”; “des-
tinos turísticos” e “sustentabilidade”. Argumente sobre os aspectos teóricos e dê um
exemplo prático da convergência desses três elementos.
6. Comente algum aspecto das políticas públicas abordados neste capítulo que seja es-
sencial para o planejamento e a gestão integrados de transportes e destinos turísticos
no Brasil.
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95
CAPÍTULO 4
Marketing dos Transportes
e Destinos Turísticos
4.1. INTRODUÇÃO
A sinergia existente entre destinos turísticos e empresas de transportes é enorme, uma
vez que ambos dependem da persuasão de potenciais consumidores para que viagens
sejam efetivamente realizadas. Dessa forma, estratégias bem-sucedidas de marketing,
incluindo produtos, promoção, distribuição e preço, produzem benefícios mútuos, quer
para destinos turísticos, quer para os operadores de transportes. Um exemplo são as
empresas de cruzeiros promovendo um roteiro de Réveillon pelo Nordeste brasileiro,
o que indiretamente beneficia os destinos turísticos incluídos em seus roteiros. Outro
exemplo são empresas aéreas oferecendo descontos promocionais em baixa temporada
para determinadas localidades, divulgando esses destinos quer em seus próprios sites,
quer na mídia ou junto a outros canais de distribuição. Da mesma forma, campanhas de
marketing realizadas pela Embratur na Europa resultarão em benefícios para empresas
de transportes operando entre o Brasil e o “Velho Continente”.
Doutorando na School of Tourism and Hospitality Management (STHM), Southern Cross University (SCU),
1
Austrália.
97
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
A existência (ou não) de estratégias de marketing, tanto por parte das empresas de
transportes quanto das organizações de turismo, tem sido fator fundamental para o sucesso
(ou fracasso) de muitos destinos turísticos em diversas partes do mundo. Os exemplos
de Cingapura e Dubai citados no Capítulo 1 evidenciam isso. Daí, um indesejável des-
compasso entre as necessidades dos viajantes e a adequada oferta de serviços de trans-
portes pode afetar os destinos turísticos de forma considerável. Isso ficou evidenciado no
exemplo da crise aérea brasileira entre 2006-7 previamente abordado nesta obra. Por essa
razão, este capítulo não pretende fazer uma análise isolada do marketing dos transportes,
visando tão somente o desempenho das empresas transportadoras; mas sim discutindo o
marketing dos transportes no contexto mais amplo de sua influência na atividade turística,
especialmente, nos destinos turísticos.
Para tal, a abordagem empregada neste capítulo está balizada sob dois enfoques.
Em primeiro lugar, o transporte de turistas é posicionado dentro do setor de serviços,
examinando algumas características inerentes a estes, tais como: intangibilidade, insepa
rabilidade, variabilidade e perecibilidade. Num segundo momento, explora-se de forma
prática como essas características são influenciadas pelos componentes do mix de
margeting: produto, preço, promoção e praça.
98
Capítulo 4 [Marketing dos Transportes e Destinos Turísticos]
4.2.1. Intangibilidade
Os serviços são intangíveis porque, geralmente, não podem ser efetivamente testados
antes de serem adquiridos. Nos serviços de transportes, o viajante, por exemplo, só poderá
comprovar que chegou com segurança e no horário previsto após a realização de uma
viagem, independentemente do número de viagens semelhantes que já tenha feito previa-
mente. Adicionalmente, quando o turista adquire uma passagem de trem, avião ou ônibus
ele está, basicamente, adquirindo um direito de uso temporário de uma poltrona ou
cabine, durante certo percurso, nas condições preestabelecidas; e só irá gozar desse direito
transitório durante a prestação do serviço. Apesar disso, há obviamente aspectos com os
quais viajantes frequentes podem estar familiarizados, tais como o serviço de bordo de
uma companhia aérea, o tipo de entretenimento oferecido e o conforto das poltronas.
Devido a intangibilidade dos serviços, os operadores de transportes e as organizações
de destinos turísticos podem oferecer alguns elementos para “tangibilizar” seus serviços.
Para tal fazem uso de folders e mídias impressas ou digitais a fim de ilustrar os padrões de
serviços a serem ofertados. Em alguns casos, empresas de transportes oferecem produtos
tangíveis como parte do seu serviço, incluindo, por exemplo, os famosos pijamas da
Qantas na classe executiva e na primeira classe, ou o oferecimento, por parte da Virgin
Australia, de tablets para o entretenimento a bordo. Em alguns casos, uma importância
desproporcional é dada a essas amenidades, como o caso de um casal em Los Angeles
que, viajando para Melbourne na primeira classe, se retirou do avião e não viajou quando
foram informados que a empresa aérea não tinha mais pijamas. Tais amenidades, visam:
1. Dar ao viajante uma “sensação de posse” e tangibilidade do serviço de transporte.
2. Oferecer “surpresas agradáveis”, excedendo expectativas dos passageiros.
3. Reforçar a marca da empresa, pois o passageiro poderá levar consigo algumas dessas
amenidades e, ao se deparar posteriormente com as mesmas, lembra da experiência
do serviço da empresa.
Dessa forma, percebe-se que, apesar de aspectos da intangibilidade dos serviços de
transportes, uma série de produtos tangíveis fazem parte da experiência de viajar, ou
melhor, da própria experiência turística como um todo.
4.2.2. Inseparabilidade
A inseparabilidade dos serviços se refere ao fato de eles serem consumidos e produ-
zidos ao mesmo tempo. Os serviços de transporte e de turismo dependem da presença
física do viajante e são prestados simultaneamente à sua experimentação. Por isso, pode-se
afirmar que a produção e o consumo do transporte e do turismo são inseparáveis.
A inseparabilidade representa desafios para os operadores de transportes e para os
destinos turísticos, pois não é tarefa simples manter alta qualidade da experiência turística
durante todo o processo de prestação do serviço, ainda mais num setor que envolve uma
99
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
4.2.3. Variabilidade
Este conceito é altamente relacionado ao anterior, uma vez que, como visto, a
qualidade do serviço de transporte e turismo pode variar significativamente em função
do grau de treinamento dos funcionários que prestam o serviço, bem como de fatores
intrínsecos (ex. personalidade) e extrínsecos (ex. clima/temperatura). Os serviços variam
na qualidade ou no modo como são prestados, pois dependem muito de quem os pres-
tam e das percepções de quem recebe o serviço nas condições em que são prestados.
Ademais, o turismo é caracterizado por alta rotação de pessoal, o que gera inconsis-
tências no nível de prestação dos serviços. Diferentemente de produtos que podem
passar por criteriosos controles de qualidade, o mesmo não acontece na prestação de
serviços.
A fim de minimizar os efeitos da variabilidade, a que todo prestador de serviço está
sujeito, além das técnicas mencionadas na inseparabilidade, são necessárias, por exem-
plo, técnicas de planejamento detalhado para cada etapa da execução dos serviços
por meio da criação de procedimentos padrões mínimos, que incluam ações corretivas
(pré-elaboradas) para as possíveis falhas (gaps) e/ou imprevistos. Tais procedimentos,
por sua vez, servem de suporte para treinamentos constantes e, ao mesmo tempo, de
critérios para medir o desempenho dos prestadores de serviço, principalmente, daqueles
diretamente envolvidos no contato imediato com os viajantes. Exemplo prático disso
é empregado pela empresa de cruzeiros Carnival, que incentiva seus funcionários a
cumprimentarem os hóspedes com um sorriso. Para tal, ao entrarem nas áreas públicas
dos seus navios, há um espelho com os dizeres “share a smile”. Obviamente que um
funcionário que não tenha um perfil “de hospitalidade” achará isso muito difícil e não
deveria nem estar trabalhando com turismo.
numa economia voltada aos clientes: como definir uma estratégia, como estruturar uma
organização para que as necessidades dos clientes tenham prioridade, como motivar e
se comunicar com a equipe da linha de frente.
4.2.4. Perecibilidade
Os serviços de transporte e a maioria dos serviços oferecidos pelos destinos turísticos
não podem ser estocados e aproveitados para consumo posterior. O serviço é altamente
perecível, e um assento ou cabine não ocupados por um passageiro naquela determinada
viagem jamais poderá ser vendido novamente. Por essa razão, os lugares vazios representam
uma preocupação constante para as empresas de transportes e muitos prestadores de serviço
nos destinos turísticos (acomodações, atrações turísticas e restaurantes). Esse problema
pode ser minimizado se forem utilizadas algumas ferramentas de marketing, tais como,
promoções ou o Yield Management (Gerenciamento de Receitas), que será detalhado na
Seção 4.3.2. Isso é particularmente evidente em localidades onde há grande sazonalidade.
Na capital da Nova Zelândia, Wellington, assim como em alguns destinos urbanos
onde predomina a viagem a negócios, o fluxo de visitantes é mais intenso durante os dias
da semana, com os hotéis e voos apresentando menores taxas de ocupação nos finais
de semana. Dessa forma, o departamento municipal de turismo lançou, em 1996, uma
campanha intitulada Send Yourself to Wellington. Nesse época a principal atração turística
da cidade, o museu Te Papa, estava prestes a ser inaugurado e havia grande interesse que
este recebesse um número grande de turistas a lazer. Para tal, hotéis, a Air New Zealand,
eventos e atrações turísticas se organizaram para oferecer pacotes com tarifas mais aces-
síveis, exclusivas para os finais de semana, que eram comprados via internet ou telefone,
fora das agências de viagem para manter um custo mais baixo. Como resultado, a taxa
de ocupação dos hotéis nos finais de semana subiram de 59,6%, em 1996, para 66,2%,
em 2000 (POSITIVELY WELLINGTON TOURISM, 2013).
Do ponto de vista das empresas aéreas, outra forma de minimizar os impactos da
perecibilidade é através do uso de overbooking, que é uma prática mundial entre as em-
presas aéreas e considerada por muitos como um “mal” necessário. Como há sempre um
risco de os passageiros cancelarem suas reservas ou mesmo de não aparecerem para em-
barcar (no-show), é importante que as empresas conheçam o histórico de cancelamentos
e no-shows, para que possam acomodar mais clientes no seu sistema de reservas do que
a capacidade oferecida. Dessa forma, as empresas tentam diminuir os impactos da pere-
cibilidade de seus serviços. Embora muitas vezes criticado, já que em algumas situações
haverá passageiros que não poderão embarcar, o overbooking permite que potenciais
passageiros não sejam tão facilmente descartados, possibilitando, assim, benefício tanto
para a empresa de transportes quanto para os passageiros. Entretanto, quando a média
histórica de cancelamento e desistências não se confirmam, as empresas devem oferecer
compensações aos passageiros prejudicados, como, por exemplo, pagamento em dinheiro
para que passageiros voluntariamente desistam da viagem, além das multas previstas pela
legislação em alguns países como no Brasil.
102
Capítulo 4 [Marketing dos Transportes e Destinos Turísticos]
4.3.1. Produto
Produto é o conjunto de serviços de transportes ofertados que sofrerá as ações do mar-
keting. Nos transportes pode-se considerar como elementos constituintes deste conjunto
de serviços (ver a discussão sobre serviços e produtos de transportes na Seção 4.2.1): os
variados tipos de veículos com seus respectivos atributos, características e benefícios (força
motriz, modernidade, velocidade, conforto, tecnologia e segurança); as vias de transporte
(natural ou artificial); os terminais (facilidade de acesso, conforto e interligação modal);
além de frequência/horários (convenientes e pontuais) e também garantias e serviços
especiais oferecidos a bordo. A variedade e complexidade nas quais esses elementos
podem ser arranjados fazem com que o trabalho de marketing do produto das empresas
transportadoras seja bastante desafiador.
Em termos de controle do produto, ainda que alguns elementos sejam de total res-
ponsabilidade das empresas de transportes, como por exemplo a frota que utiliza,
em muitos outros não há como garantir um controle do produto, como é o caso das
vias utilizadas no deslocamento ou nos terminais de transportes. Uma forma de suprir
carências de serviços nos terminais de transportes e estender a qualidade dos serviços
de transportes nos terminais é a existência das salas VIPs, que se fazem presente tanto
nos aeroportos, mas também em algumas rodoviárias das grandes cidades brasileiras.
Nelas serviços complementares, como poltronas especiais, revistas e jornais, refeições e
bebidas, podem ser oferecidos.
4.3.2. Preço
Precificar significa a agregação de um valor monetário ao serviço de transporte que
está sendo posto à venda no mercado. Nos transportes esse valor monetário a ser co-
brado é representado pelas tarifas praticadas, taxas, impostos, regras tarifárias, descontos,
concessões, prazo, condições de financiamento, reembolsos e forma de pagamento
das passagens e de eventuais serviços complementares (seguros, acesso a salas VIPs
e bagagens adicionais). A definição de um valor monetário a ser cobrado pelo serviço de
transporte constitui tarefa complexa para uma empresa de transporte e está relacionada
a múltiplos fatores controláveis e incontroláveis pela empresa de transporte. Dentre os
fatores incontroláveis estão relacionados a seguir:
103
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
que terminaria por não atraí-lo e, em consequência, ter uma menor taxa de ocupação. Por
isso, o investimento em integração estratégica de informações é altamente necessário para
uma empresa de transportes. Hoje em dia, já existem softwares no mercado com custo mais
acessível e que podem ser usados inclusive por pequenas e médias empresas de transportes.
4.3.3. Promoção
A promoção é o conjunto de ações que visa estimular a divulgação e a comercialização
do serviço de transportes no mercado, que incluem as ações de publicidade, propaganda,
promoção de vendas, força de vendas, merchandising, relações públicas, entre outras.
Sabe-se que a concorrência existente nos diversos setores da economia é intensa.
Dentro do setor de transportes essa realidade não é muito diferente, sobretudo tendo em
vista as transformações ocorridas em termos do comportamento do cliente nas últimas
décadas, que vem se tornando cada vez mais exigente e conhecedor dos serviços e
dos seus direitos. As empresas prestadoras de serviços de transportes devem buscar es-
tratégias de promoção a fim de diferenciar sua oferta no mercado para atrair um número
maior de passageiros, diferenciação essa definida por Kotler (2000, p.254) como “o ato de
desenvolver um conjunto de diferenças significativas para distinguir a oferta da empresa
das ofertas de seus concorrentes”. Vale ressaltar que destinos turísticos e empresas de
transportes devem trabalhar de forma sinérgica a fim de criar políticas que incentivem a
atração de visitantes de acordo com a capacidade do local. Há casos em que um número
maior de clientes de transportes pode impactar negativamente o destino que não tenha
infraestrutura adequada para recebê-los.
Ao analisar os esforços de propaganda de empresas de transporte tradicionais até
meados dos anos 1980, o que se percebe claramente é que o foco era vender os destinos
105
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
turísticos. Certamente para que o turista chegasse até lá seria necessário a utilização de
serviços de transportes e, aí sim, a empresa era citada. Não é muito difícil encontrar
diversos exemplos desse fato. Em 1965, a Philippine Airlines lançou a seguinte campanha:
We’re islands specialists, ou “Somos especialistas em ilhas”, em menção aos seus voos
para as ilhas de Hong Kong, Manila, Cingapura, dentre outras. Ainda na década de 1960,
a norte-americana Pan Am iniciou suas operações para o Brasil e colocou em circulação
a campanha intitulada South America: Where cities are CITIES ou “América do Sul: onde
cidades são CIDADES”. A propaganda era em torno da Praia de Copacabana, no Rio
de Janeiro, acompanhado de um texto sobre os principais atrativos turísticos da cidade.
O mesmo acontecia com os outros modos de transportes. A empresa norte-americana de
transporte rodoviário Greyhound trabalhava nos anos 1950 em sua propaganda o seguinte
texto: Only Greyhound reaches all America's choice vacation spots with top convenience
at lowest cost ou “Somente a Greyhound chega a todos os pontos turísticos da América
com mais conveniência e menor custo”.
Após o período de desregulamentação do transporte aéreo e do aumento da concor-
rência entre as empresas, por volta dos anos 1990, o foco das propagandas passou a ser
o produto transporte em si, buscando a diferenciação a partir de argumentos relacionados
ao conforto a bordo, à frota mais moderna, dentre outros atributos. Atualmente há uma
grande concorrência entre as empresas aéreas em relação à idade da sua frota. A brasileira
Gol Linhas Aéreas durante muito tempo utilizou o slogan “A frota mais nova do Brasil”. A
campanha foi interrompida com o início das operações da Azul Linhas Aéreas Brasileiras
com aeronaves 100% novas. As diferentes classes de serviço oferecidas também são alvo
das propagandas atuais, em que as empresas têm se desdobrado para oferecer serviços
cada vez mais únicos e personalizados em suas classes business e first. A Emirates Airlines
inovou quando incluiu em seus Airbus A380 chuveiros que podem ser utilizados pelos
passageiros da primeira classe e utilizou essa comodidade para atrair mais clientes.
Entretanto, há ainda empresas de países pequenos como a própria Emirates, dos
Emirados Árabes, e a Singapore Airlines, da Cingapura, que ainda hoje oferecem grande
identificação com seu destino (ver Capítulo 1). A Hawaiian Airlines, com base no Havaí,
Estados Unidos, é outro caso típico que faz questão de deixar claro as suas origens
havaianas. Um exemplo foi a utilização do slogan Hawaii isn’t just where we’re from.
It's who we are, ou “O Havaí não é somente de onde nós somos. É quem nós somos”,
enfatizando que a tradição da hospitalidade nascida na ilha é evidente desde o conforto
das suas aeronaves ao acolhimento dos serviços a bordo.
Uma das estratégias utilizadas para a promoção de empresas de transportes é o Branding
ou Gestão de Marcas: os terminais aeroportuários, por exemplo, costumavam ser tratados pe-
los seus gestores tão e somente como utilidades públicas caracterizadas por oferecer serviços
de embarque e desembarque de passageiros e cargas, realizando a transferência de outros
modos de transporte para o modo aéreo. O fato é que atualmente os aeroportos oferecem
grandes oportunidades de negócios (CASTRO et al., 2011). As autoridades aeroportuárias
em todo o mundo estão demonstrando uma maior preocupação no desenvolvimento de
106
Capítulo 4 [Marketing dos Transportes e Destinos Turísticos]
EXEMPLO:
BRANDING DE AEROPORTOS
Para se criarem experiências positivas, estabelecer sua imagem e uma marca única que
traga posicionamento de mercado para qualquer tipo de ambiente de transportes para o
turismo é necessária a realização de pesquisas de mercado com clientes, além dos princi-
pais tomadores de decisão, parceiros de negócios e funcionários. É preciso entender os seus
desejos, suas percepções e o seu nível de satisfação em relação aos serviços oferecidos.
Uma grande oportunidade está na diferenciação por meio do desenvolvimento de marcas
que evoquem características locais e/ou regionais. A Future Brand (2008), uma empresa in-
ternacional especializada na implantação de marcas, garante que enquanto alguns terminais
se preocupam em determinar o seu design construtivo, seus recursos e demais caracterís-
ticas, o papel e a relação entre o terminal e a identidade regional dificilmente é considerada.
Exemplos incluem a oferta não somente de culinária internacional, mas também da
gastronomia típica local; selecionar estabelecimentos comerciais que possam vender
souvenirs; adoção de estratégias que mantenham os preços o mais próximo possível da-
queles praticados nas regiões centrais dos destinos turísticos; desenvolver constantemente
exposições de arte local/regional; a arquitetura do terminal com aspectos particulares
que façam com que o consumidor se sinta no local visitado desde o momento do seu
desembarque; dentre muitas outras estratégias que beneficiarão tanto a administração
do terminal quanto os seus clientes, o destino turístico e demais empresas envolvidas.
Outra estratégia de promoção muito utilizada pelas empresas de transportes para o
turismo atualmente são as mídias sociais. Esse fenômeno já é uma realidade mundial,
e o número de pessoas associadas a esses espaços virtuais de interação social cresce a
cada dia. As empresas atentas às tendências comportamentais do mercado consumidor
passaram a utilizar as redes sociais para se relacionarem com seus clientes oferecendo
um conteúdo planejado periodicamente.
As principais mídias sociais que impactam diretamente no turismo são o Facebook, o
Twitter e o Foursquare. Segundo dados do blog Funsherpa (2012), cerca de 70% das pes-
soas atualizam o status do seu Facebook enquanto estão viajando e 46% fazem questão
107
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
de informar a sua localização por meio dos conhecidos check-ins que podem ser feitos
pelo próprio Facebook ou, mais comumente, pelo Foursquare (aplicativo voltado es-
pecificamente para informações sobre a localização dos usuários).
Atualmente diversas agências de marketing ou de relações públicas oferecem serviços
de atualização e monitoramento dos perfis das empresas nas redes sociais. Algumas das
estratégias utilizadas são:
¥ Ações promocionais em mídias sociais: caso a empresa tenha um novo produto
e deseja promovê-lo diretamente ao seu público-alvo. Nesse caso serão utilizados
mecanismos que gerem atenção e interatividade entre empresas e seus clientes por
meio de projetos de marketing e publicidade em mídias sociais.
¥ Setor de atendimento ao cliente (SAC) via mídias sociais: a nova geração de con-
sumidores está cada vez mais acostumada a adquirir produtos e serviços em multi-
plataformas, ou seja, por vários meios de comunicação e não estão mais dispostos a
serem atendidos somente pelo telefone. As mídias sociais são importantes alternativas
para esses casos. Nos transportes, grande parte dos serviços são adquiridos pela
internet, e é interessante que o cliente possa ter contato com a empresa também de
forma online.
¥ Gestão de crise em mídias sociais: sistema de monitoramento das opiniões dos clientes
sobre as empresas nas redes sociais. É preciso fazer o reconhecimento do cenário e
elaborar uma estratégia para explicar, atender e argumentar com os clientes formadores
de opinião a fim de gerir uma possível crise. Isso permite que situações possam ser
revertidas e/ou amenizadas para clientes e empresas.
¥ Planejamento em mídias sociais: estratégias de marketing tradicionais precisam ser
revistas para que as empresas se adequem às mudanças de comportamento do consu-
midor atual em fases de pré-venda, venda e pós-venda. O planejamento é necessário
para desenvolver estratégias no sentido de alcançar os objetivos de relacionamento
com clientes, formadores de opinião e outros via mídias sociais.
¥ Gestão de conteúdo e layout em mídias sociais: projeto que tem como meta gerar
interatividade para atingir um nicho ou rede de clientes com a criação de conteúdos
e layouts personalizados. Deve ser feito planejamento mensal para o conteúdo que
será publicado via mídias sociais levando em consideração as metas e os objetivos
que deverão ser alcançados naquele período. Há ainda que se observar o comporta-
mento do público-alvo nessa determinada rede social. Há estudos (FUNSHERPA, 2012)
que apontam que os horários mais movimentados no Facebook durante a semana são
entre 10h e 11h e das 21h às 22h.
Muitas empresas de transportes turísticos já adotaram as redes sociais como gran-
des promotoras dos seus produtos e serviços. No modo rodoviário pode-se citar a
europeia Busabout, uma empresa especializada em viajantes independentes e com
orçamento reduzido. A Busabout utiliza o Facebook para interagir com seus clientes,
108
Capítulo 4 [Marketing dos Transportes e Destinos Turísticos]
fazer promoções, oferecer opções de roteiros rodoviários, tirar dúvidas e gerenciar crises,
dentre outros. Já no modo aéreo diversos aeroportos e muitas companhias aéreas podem
ser citados: American Airlines, Iberia, Qatar Airways, Emirates etc.; além dos aeroportos
de Londres, Hong Kong, Sidney, Joanesburgo, Cingapura, dentre muitos outros. As em-
presas de cruzeiros marítimos também estão presentes nas redes sociais. É o caso da
MSC Cruzeiros, da Royal Caribbean, da Costa Cruzeiros, da Íbero Cruzeiros, etc. Já no
modo ferroviário pode-se destacar a presença da SNCF (Societé Nationale des Chemins
de Fers Français ou Sociedade Nacional dos Caminhos de Ferro Franceses) e da Eurostar,
famosa pela importante ligação ferroviária entre Paris e Londres.
O que se percebe em termos da promoção dos transportes para o turismo é uma
grande modernização das plataformas utilizadas e o constante acompanhamento das
tendências comportamentais dos consumidores. Em um cenário como o atual no qual
a concorrência é cada vez mais acirrada é de grande importância que as empresas es-
tejam atentas e abertas às novas formas de promoção que possuem ligação direta com
os canais de distribuição, abordados no próximo tópico.
EXEMPLO DE FIXAÇÃO:
SOUTHWEST AIRLINES
Uma empresa do setor de transportes aéreos que soube trabalhar a imagem que gos-
taria de desenvolver a respeito dos seus serviços foi a Southwest Airlines. A empresa aérea
norte-americana, reconhecida internacionalmente pelo seu sucesso no mercado de baixo
custo/baixa tarifa, foi criada em 1971 e tinha como base o Aeroporto Love Field (Campo
do Amor) em Dallas, Texas. Em certo momento, por mais que as suas tarifas fossem ex-
tremamente atrativas para o consumidor, a Southwest passava por uma situação na qual
suas aeronaves não decolavam completamente lotadas. Estrategicamente, a companhia
resolveu adotar a imagem e o posicionamento de companhia do amor, colocando um
coração em sua logomarca. A partir desse momento, suas aeronaves passaram a ser
chamadas de “pássaros do amor”, as bebidas servidas a bordo eram as “poções do amor”,
os famosos amendoins chamados de “bocados do amor”, os bilhetes eram emitidos pela
“máquina do amor” e as comissárias de bordo eram as love hostesses, ou “aeromoças
do amor”. Este posicionamento fez com que a Southwest se sobressaísse em relação à
concorrência que adotava um estilo muito mais sério e menos descontraído, fazendo com
que ela ganhasse mercado na aviação norte-americana.
109
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
b. A economia que representará cada opção em termos de: fazer chegar o serviço ao
passageiro, custos de atendimento, divulgação, manutenção e riscos financeiros.
mesmo tempo em que tem acesso a várias plataformas de distribuição, incluindo os GDS.
A mesma complexidade acontece quando a viagem envolve grupo de passageiros/turistas
que entram e saem da reserva em momentos diferentes antes da viagem.
Com o surgimento de empresas de transportes de baixo custo e crescimento de
tecnologias de informação, tem se dado muita ênfase na desintermediação (venda direta)
dos serviços de transportes. Porém a estratégia de cortar custos funciona bem até certo
ponto, como visto nos parágrafos anteriores, onde a qualidade ou personalização do
serviço não são comprometidos, pois o serviço é voltado para a massa. Ao mesmo tempo,
a maioria dos estudos de distribuição em transportes e turismo tem sido concentrados
nos setores de transporte aéreo e no setor da hotelaria, talvez pelo tamanho econômico
que representam. Kwortnit (2006) discute a experiência bem-sucedida de Carnival em
lidar com o processo de desintermediação e como a empresa de cruzeiros lida com
seus canais de distribuição que no caso dos cruzeiros marítimos ainda apresenta alta
participação de vendas por parte dos agentes de viagens. Dentre outros motivos, a em-
presa de cruzeiros Renaissance faliu em 2001 em função da sua inabilidade em lidar com
o processo de desintermediação da distribuição dos seus produtos.
Pearce e Sahli (2007) apresentam um interessante estudo sobre canais de distribuição
voltado exclusivamente para as empresas de transportes na Nova Zelândia (empresas de
ônibus, locadoras de veículos e motor homes, trens e ferries). Este estudo apresentou alguns
resultados interessantes, evidenciando que existe uma considerável diversidade de canais
de distribuição entre os transportes na Nova Zelândia. Quase todas as empresas de trans-
portes desse país utilizam vendas diretas com exceção do mercado internacional. Para este
público específico, a tendência tem sido a utilização de vários níveis de intermediários
(até três níveis). Estes diferentes níveis de intermediários facilitam todos os arranjos neces-
sários – alojamento, alimentação e diferentes tipos de transportes - e reduzem os custos
para os grupos baseados na economia de escala. As empresas de ônibus, quando lidam
diretamente com grupos organizados (clubes e esportes), o fazem diretamente utilizando
o telefone. No entanto, as linhas regulares utilizam canais diretos por meio de rede de
lojas próprias. Outra constatação foi que o relativo baixo preço envolvido nas transações
de transportes de superfície suporta geralmente uma intermediação de apenas um nível.
Isto ocorre principalmente com o transporte ferroviário, de ferries e ônibus regulares,
onde a intermediação desta forma (um nível) ainda é vital por conta das características
da demanda que são predominantemente segmentos de baixa renda que não utilizam
cartão de crédito (PEARCE e SAHLI 2007).
Em conclusão, este estudo apontou que, no caso da Nova Zelândia, um único tipo de
distribuição não é suficiente para atender às necessidades dos passageiros de transportes.
Em mercados em desenvolvimento é necessário a utilização de um mix entre distribuição
direta e indireta e também de diferentes tipos de canais nestas duas categorias. Principal-
mente, quando existe competição entre diferentes empresas oferecendo o mesmo tipo de
transporte. Atenção especial deve ser dada na distribuição quando ela ocorre na rota e no
destino, porque os serviços de transportes de superfície são vendidos geralmente quando os
111
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
passageiros chegam aos destinos. Por fim, estes autores afirmam que as empresas de trans-
portes devem tratar seus intermediários como clientes assim como tratam seus passageiros.
Em outra abordagem, Chris Anderson, autor do livro A cauda longa, defende
o crescimento dos chamados nichos de mercado em todos os setores da economia
(ANDERSON, 2012). Para ele, com o avanço das tecnologias e a consequente diminuição
no custo de distribuição, a segmentação de produtos e serviços deve avançar. Para este
autor, numa economia sem gargalos de distribuição os produtos e serviços segmentados
podem ser economicamente tão atrativos quanto aos produtos de massa. Desta maneira
as empresas devem se valer da oportunidade para criar cada vez mais quantidades maiores
de serviços de nichos, formando a chamada “cauda longa” de serviços. Este conceito
poderia ser melhor explorado, por parte das empresas de transportes e destinos turísticos,
mesmo na atração de viagens de curta duração. Isto se daria a partir da utilização de uma
gama maior de opções de transportes turísticos, como por exemplo, o aluguel de motos,
patinetes e skates elétricos, bicicletas ou triciclos elétricos (ou convencionais); passeios em
balões, asa-delta, paraglider e helicópteros. Assim, desta maneira, o barateamento de uma
ferramenta de marketing, que é a distribuição, pode se transformar em oportunidade para
explorar outra ferramenta, que é a segmentação baseado em diferenciação de produtos
e serviços. Este conceito também se aplica, numa escala maior, na empresa de nicho de
mercado a Virgin Galactic, já mencionada no Capítulo 1.
4.4. CONCLUSÕES
Esse capítulo elaborou uma discussão teórica sobre aspectos básicos relacionados
às características dos serviços de transportes (que em muitos casos são idênticos na
maioria de prestadores de serviços turísticos) tais como intangibilidade, inseparabilidade,
variabilidade e perecibilidade. Além disso, empregando-se a estrutura clássica do mix de
marketing, avançou-se a discussão sobre como aspectos elementares do marketing de
transportes se relacionam com o turismo. Alguns exemplos de várias partes do mundo
foram empregados para pontuar essa questão.
As possibilidades de iniciativas de marketing em termos de transportes e destinos
turísticos são inúmeras. Além dos exemplos apresentados até aqui, pode-se ainda levar
em conta alguns outros apresentados pela literatura a fim de ilustrar as oportunidades de
marketing existentes entre transportes e destinos turísticos.
Inicialmente empregados como ferramenta para cativar a fidelização de viajantes por
meio de uma pontuação que gerasse viagens ou upgrades gratuitos, os programas de mi-
lhagem, sobretudo aqueles relacionados a empresas aéreas, evoluíram para se tornarem
grandes ferramentas de marketing que extrapolaram o setor de transportes, incluindo uma
série de outros ramos de turismo e viagem (ex: hotéis, locadoras de veículos), bem como
bancos, supermercados e postos de gasolina. Do ponto de vista do marketing de destinos
turísticos, estratégias implementadas nos programas de milhagem podem induzir viagens para
determinados destinos, quer por meio de acordos financeiros pagos por organizações de
112
Capítulo 4 [Marketing dos Transportes e Destinos Turísticos]
turismo, quer por meio de iniciativa das próprias empresas aéreas. No caso de destinos, uma
estratégia de promoção pode ser desenvolvida pagando às empresas aéreas para reduzirem
as milhagens necessárias para que os passageiros frequentes possam voar para o seu des-
tino. Esse investimento que poderia ser efetuado em campanhas publicitárias cujo retorno é
incerto, pode eventualmente ser melhor aplicado ao se (1) encorajar que os participantes dos
programas de milhagem gastem seus pontos visitando um determinado destino; (2) divulgar
o destino por meio da própria campanha de marketing direto realizada pela operadora do
programa de viagem junto aos milhões de membros que normalmente estão associados a
esses programas. LIU, WALL et al. (2000) apresentam várias oportunidades de marketing re-
lacionados ao uso de programas de milhagens, focando no caso específico da China Airlines.
Com este capítulo encerra-se uma parte deste livro que esteve mais focada em prover
uma abordagem ampla da relação entre transporte e destinos turísticos, quer por meio
de suas características gerais, quer por meio de enfoques e áreas do conhecimento como
a geografia (Capítulo 2), o planejamento (Capítulo 3) e o marketing (Capítulo 4). Nos
próximos três capítulos deste livro o foco se dá em abordar aspectos específicos dos
diversos modos de transportes que são tratados de forma individual: aéreo (Capítulo 5),
aquaviário (Capítulo 6) e terrestre (Capítulo 7). O conhecimento apresentado até aqui
será útil para analisar de forma individual esses modos de transporte.
QUESTÕES
1. Escolha uma empresa aérea ou de cruzeiros marítimos de grande porte e elabore
uma análise na qual você considere quais são os principais desafios que essa empresa
possui em termos de intangibilidade, inseparabilidade e perecibilidade.
2. Considerando a mesma empresa da Questão 1, descreva e analise o produto, o preço,
a promoção e a distribuição.
3. Analise como a segmentação em termos de preço (ex. viajantes de primeira classe ou
de segmento premium em cruzeiros marítimos) influencia as estratégicas de produto,
promoção e distribuição.
4. Faça uma análise das propagandas de viagem vinculadas aos domingos no principal
jornal do seu Estado. Discuta os aspectos existentes entre transportes e turismo nesse
material de propaganda.
5. Faça uma análise das estratégias do mix de marketing das principais empresas rodo-
viárias do seu Estado. Discuta os motivos para os resultados encontrados.
6. Refaça o exercício anterior considerando as principais empresas aéreas e de cruzeiros
marítimos que operam no país.
LISTA DE REFERÊNCIAS
ANDERSON, C. Entrevista com Chris Anderson. Revista Época. São Paulo: Editora Globo 2012.
113
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
CASTRO, R. T.; BALASSIANO, R.; ESPÍRITO SANTO, JR, R. A. Aeroportos como atrativos
turísticos culturais: uma análise preliminar. Anais do IX Rio de Transportes. Rio de Janeiro:
UFRJ. 2011.
FUTURE BRAND. Country Brand Index 2008 Insights, Findings & Country Rankings
(2008). Disponível em <www.futurebrand.com>. Acesso em 15/09/2010.
KOTLER, P.; BOWEN, J.; MAKENS, J. Marketing for Hospitality and Tourism. 3 Ed. Nova
Jersey: Prentice Hall. 2003.
LIU, A.; WALL, G.; WESTLAKE, J. Marketing through frequent flyer programmes: the
example of China Airlines. Tourism Economics, v.6, n.3, p. 233-249. 2000.
114
CAPÍTULO 5
Transporte Aéreo e Turismo
5.1. INTRODUÇÃO
Nenhuma outra tecnologia de transportes foi tão fundamental para o desenvolvimento
do turismo em escala mundial quanto o transporte aéreo. Interligando os quatro cantos do
mundo, o avião provê acesso seguro e mais rápido e a um menor custo para destinos
turísticos captarem grande parte de seus mercados potenciais.
Embora o sistema de transporte aéreo seja uma estrutura complexa que envolve um
número enorme de fornecedores com atuação global, incluindo fabricantes de aerona-
ves, empresas aéreas, terminais aeroportuários, sistemas de navegação aérea, empresas
de manutenção, comunicação e catering, não é o propósito desta obra cobrir todos
esses setores. Este capítulo foca notadamente em análises mais objetivas que tenham
influência direta para o desenvolvimento de destinos turísticos, incluindo uma visão
introdutória de aspectos regulatórios e dos modelos de negócios de empresas aéreas.
As transformações do setor aéreo nos anos 2000 também são retratadas, principalmente
em função das mudanças regulatórias, competitivas e de governança do setor. A crise
aérea dos anos 2006 e 2007 também é analisada antes de se oferecer uma análise dos
dados estatísticos do mercado aéreo, bem como dos aeroportos brasileiros. O capítulo
115
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
termina com um estudo de caso sobre aeroportos e turismo residencial para a região do
Algarve, em Portugal, escrito pela Profa. Cláudia Almeida, da Universidade do Algarve.
118
Capítulo 5 [Transporte Aéreo e Turismo]
Figura 5.2 — Exemplos ilustrativos da sexta, sétima, oitava e nona liberdades do ar (Cont.)
¥ Tarifas com desconto: a partir desse momento, as tarifas do transporte aéreo começaram
a concorrer até mesmo com os modos ferroviário e rodoviário, com redução de cerca
de 35%.
¥ Crescimento do setor: o setor apresentou altas taxas de crescimento após a des-
regulamentação.
¥ Surgimento dos programas de milhagem: a partir da desregulamentação as empresas
aéreas passaram a retribuir os viajantes cativos com pontuação em termos das milhas
viajadas que poderiam ser trocadas posteriormente por passagens gratuitas ou pela
oportunidade de voar em uma classe de serviço mais confortável.
¥ Sistemas de reservas por computador e alianças estratégicas: a desregulamentação
colaborou para o surgimento dos sistemas de reservas por computador, possibilitando
que as empresas colocassem seus serviços à disposição dos passageiros onde estes
estivessem. As alianças entre as empresas aéreas também surgem com a utilização
do code-share, quando uma aeronave de uma empresa pode operar um voo dessa
empresa e, ao mesmo tempo, o voo de outra empresa com disponibilização recíproca
de assentos (PAGE, 2008).
Até então foram relatados os efeitos positivos da desregulamentação. Entretanto, alguns
especialistas da área apontam que ela também foi responsável por aspectos negativos.
Page (2008), por exemplo, relata um declínio na qualidade dos serviços, uma vez que
comunidades menores que não estavam diretamente ligadas às rotas-tronco (aquelas
interligadas aos aeroportos hub) sofreram com o aumento das tarifas e com a diminuição
na frequência dos voos. O sistema aeroportuário também sofreu efeitos negativos, pois os
terminais de passageiros não estavam preparados para o grande fluxo de pessoas gerado
pela desregulamentação. Sendo assim, os clientes encontravam problemas em relação à
restituição de bagagens, cancelamentos e atrasos de voos, serviços de bordo precários,
dentre outros.
Para o desenvolvimento do turismo, não se pode deixar de ressaltar que a desregu-
lamentação também teve efeitos positivos e negativos. O incentivo à concorrência
possibilitou que um maior número de pessoas pudesse viajar a turismo, pagando tarifas
menores. Os destinos turísticos passaram a receber maior número de turistas e tiveram
de planejar sua infraestrutura para tal, seja por meio da ampliação da sua rede hoteleira,
dos serviços de transporte local, do setor de alimentação e até mesmo com a melhoria
de serviços básicos como água, esgoto e geração de energia elétrica.
o mundo (mais de 530!). Além disso, é a segunda maior companhia aérea do mundo em
termos de passageiros/quilômetro voado (118,27 bilhões). Uma característica da SWA é
que se, por um lado, serve menos destinos do que a maioria das principais companhias
aéreas dos Estados Unidos, por outro lado, quando abre uma nova rota há uma tendência
de se oferecer um grande número de frequências. Além disso, como algumas pessoas
costumam dizer: “Aonde quer que a Southwest Airlines vá, tarifas aéreas mais baixas
seguem”, já que os concorrentes são obrigados a reduzir suas tarifas. Isso traz vantagens
enormes para os destinos turísticos. Por isso, a SWA é uma companhia aérea desejada
por muitos aeroportos e destinos turísticos nos Estados Unidos. O texto a seguir, extraído
do site do aeroporto de Mobile (Alabama) reflete parte dessa dimensão e dos esforços
para atrair a SWA (LOHMANN e DUVAL, 2011):
Existe algo que Mobile possa fazer para convencer a Southwest Airlines para servir
Mobile?
A Southwest Airlines toma decisões cautelosas baseadas em suas estratégias e há
pouco que uma comunidade possa fazer para atrair a SWA além de manter uma eco-
nomia expansiva e crescente. [...] A abertura de novas rotas requer um potencial de
aproximadamente 750.000 passageiros. O potencial de Mobile é de 600.000 passageiros.
No entanto, temos trabalhado em estreita colaboração com a Southwest há dez anos e,
espera-se, um dia, que eles mudem seu modelo de negócio para se ajustarem ao tamanho
de cidades como Mobile.
Finalmente, é também importante mencionar que para muitos viajantes as tarifas mais
baixas oferecidas pelas LCCs proporcionam-lhes uma oportunidade de saírem de suas
rotinas e fazerem turismo. Quando empresas aéreas como a Ryanair oferece passagens
aéreas a £ 5 (aproximadamente R$15) em seu site, o destino é muitas vezes o que menos
importa. A maioria dos consumidores só quer viajar, de preferência para um local de
clima mais quente. Nesse sentido, o preço influencia a demanda e os destinos servidos
por LCCs se beneficiam imensamente dessa acessibilidade.
aproximadamente 4,5 milhões de habitantes, e Dubai, com 1,4 milhões de pessoas, es-
sas duas companhias aéreas só sobreviveram pela geração de tráfego a partir de outros
mercados externos.
A Singapore Airlines oferece um serviço de alto padrão aos passageiros de longo curso,
servindo cerca de 100 destinos em todo o mundo. Ela opera mais de um terço de todos os
voos no aeroporto de Changi, dos quais detém monopólio em várias rotas a partir do país
insular. Changi é um aeroporto de classe mundial fornecendo uma ampla gama de serviços
aos passageiros (zonas de lazer especiais, incluindo jardins temáticos e uma piscina, lojas
duty free e passeios turísticos gratuitos para passageiros com pelo menos uma conexão de
sobreposição de cinco horas) e companhias aéreas (hangares de manutenção e serviço
de catering). Cingapura como destino oferece muitas atrações ao ar livre, como o Jardim
Botânico, o Zoo que oferece grande interatividade com os animais, a Ilha Sentosa e a Ilha
da Tranquilidade. Ele também é um dos principais destinos para reuniões, convenções e
exposições não só da Ásia, mas em todo o mundo. Outra característica desenvolvida para
atrair turistas é a promoção de Cingapura como um paraíso de baixo custo para compras,
particularmente produtos de alta tecnologia, joias e relógios.
A Emirates é uma das poucas companhias aéreas do mundo a voar para todos os
continentes, aproveitando a excelente localização de Dubai entre a Europa e a Ásia, com
cerca de 3,5 bilhões de pessoas residindo dentro de um raio de 8 horas de voo a partir de
Dubai. A Emirates tem uma forte presença na Austrália e na Nova Zelândia, na Europa,
na Ásia e na África. Mais recentemente também abriu rotas para América do Norte e do
Sul. A Emirates faz uso de várias estratégias bem-sucedidas operacionais e gerenciais,
incluindo (LOHMANN, ALBERS et al., 2009):
¥ Menores custos de trabalho, devido à utilização de trabalhadores expatriados de países
de baixos salários.
¥ Terceirização de atividades de contabilidade e tecnologia de informação para a Índia
e para o Paquistão.
¥ Grandes encomendas de aeronaves junto a Airbus e Boeing para conseguir descontos
por volume.
¥ Entrada em um novo mercado oferecendo pelo menos um voo diário, e por meio de
aumento da demanda, aumentando o tamanho das aeronaves servindo esses destinos
e expandindo o número de frequências.
Parece que a estratégia definida pela Singapore Airlines para desenvolver o seu destino,
fazendo uso de uma rede de transportes eficientemente estabelecida, foi bem imitada pela
Emirates. É possível argumentar que a integração e a governança das companhias aéreas,
aeroportos e organizações de turismo só foi possível nesses dois casos, devido a seus gover-
nos e a decisão de um investimento consistente de longo prazo orientado para uma estratégia
de desenvolvimento (HENDERSON, 2006). Muitas empresas que operam em Changi ou no
aeroporto de Dubai são subsidiárias de grupos empresariais que incluem suas respectivas
companhias aéreas. Esse é um exemplo de integração vertical ao nível operacional.
125
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
127
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
128
Capítulo 5 [Transporte Aéreo e Turismo]
Até 2001 o mercado aéreo de transporte regular de passageiros era dominado por
quatro grandes empresas: Varig, VASP, TAM e Transbrasil. Ainda em 2001 entrou em
operação a primeira empresa adepta ao modelo LCC da América Latina, a Gol Linhas
Aéreas Inteligentes. A união de todos os fatores citados anteriormente somados à grande
competitividade do mercado acabaram levando à falência duas empresas tradicionais: a
Transbrasil (2001) e a VASP (2002). A Varig, empresa sinônimo de requinte, sofisticação e
glamour nos ares, resistiu até 2007, quando foi comprada pela Gol, ironicamente famosa
pelas barrinhas de cereais e amendoins servidos a bordo. Vale ressaltar que a Gol foi a
principal responsável pela popularização do transporte aéreo no Brasil. Milhares de pes-
soas puderam voar pela primeira vez com a Gol, por conta das tarifas praticadas no início
das suas operações e das promoções surpreendentes. Sendo assim, o mercado passou a
ser dominado pelo duopólio Gol e TAM.
Acompanhando a tendência mundial da operação de empresas LCCs e pelo suces-
so que a Gol vinha desempenhando no Brasil, o empresário brasileiro e naturalizado
norte-americano David Neeleman (fundador e CEO da aérea JetBlue nos Estados Unidos)
anunciou em março de 2008 a criação de uma nova companhia aérea brasileira. Antes
mesmo do início das suas operações a empresa inovou ao lançar a promoção Você es-
colhe para que o público pudesse sugerir nomes para a própria empresa. Decidiu-se que
ela se chamaria Azul Linhas Aéreas Brasileiras, iniciando suas operações em dezembro
de 2008, até então, somente com aeronaves brasileiras, os jatos Embraer modelos 190
e 195. Em 2012 a Azul respondia por cerca de 9% do mercado doméstico brasileiro,
ocupando o terceiro lugar no ranking (INFRAERO, 2012). Lohmann e Lipovich (2013)
explicam que a quantidade de aeroportos subutilizados no Brasil e em toda a América
Latina é enorme, o que é extremamente favorável para o surgimento de LCCs nessa
região. O Gráfico 5.2 apresenta a participação das empresas no mercado de transporte
aéreo regular doméstico de passageiros em 2011:
Gráfico 5.2 — Market-share das rotas domésticas das empresas aéreas brasileiras em
2011 (Fonte: INFRAERO, 2012)
129
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
A TAM (responsável por 25% do tráfego internacional) oferece não somente serviços para
a América Latina, mas também voos diretos e diários partindo do Brasil para destinos na
Europa, tais como Londres, Paris, Frankfurt, Madri e Lisboa, e nos Estados Unidos como Nova
York e Miami, com aeronaves de maior porte, como nos modelos Airbus A330 e Boeing 777.
As fusões têm surgido como uma tendência do mercado aéreo com diversos casos
ao redor do mundo, e no Brasil não é muito diferente. Em junho de 2012, as companhias
aéreas TAM e LAN anunciaram o sucesso do processo de fusão das duas empresas que
deu origem à LATAM Airlines Group S.A., a maior companhia aérea da América Latina.
Segundo o G1 (2012), apesar da fusão, ambas continuarão utilizando os nomes TAM e
LAN separadamente e funcionarão normalmente em seus países, mantendo inclusive os
seus centros de operação em São Paulo e Santiago, respectivamente.
130
Capítulo 5 [Transporte Aéreo e Turismo]
¥ Aeroporto regional: o principal foco destes aeroportos são os voos ponto a ponto,
especialmente em segmentos que atendam ao passageiro de negócios como o táxi
aéreo. Exemplos: Milão Orio, London City, Stuttgart, Valência e Chicago Midway.
¥ Aeroporto low-cost: o aeroporto tem por objetivo atrair as LCCs e possui um terminal
e uma engenharia de operações que minimize ao máximo os custos e as tarifas às
empresas aéreas. Exemplos: London Stansted, London Luton e Dallas Love Field.
¥ Aeroporto de carga: aeroportos com foco no transporte de cargas. Por isso oferecem
uma gama de especificações técnicas para o atendimento às empresas aéreas deste
tipo. Exemplos: Campinas, Memphis, Louisville e Paris Charles de Gaulle.
Independentemente do posicionamento adotado por um aeroporto, a sua infraestrutura
é sempre dividida em duas partes: o lado-ar e o lado-terra. O lado-ar inclui todas as pistas
e vias de movimentação de aeronaves. São incluídos ainda os pátios de estacionamento
das aeronaves, as áreas de manobra, instalações e serviços de aproximação e de controle
de tráfego aéreo. O lado-terra é formado pelos terminais de passageiros e cargas. É a parte
onde o público tem livre acesso e inclui também os setores de despacho de passageiros
(check-in), de distribuição de bagagens nas esteiras de restituição, além das instalações
referentes à administração do aeroporto e das empresas aéreas. É ainda no lado-terra
onde se encontram os serviços disponíveis aos turistas e aos visitantes, tais como praças
de alimentação, banheiros, lojas e hotéis.
Uma infraestrutura aeroportuária de qualidade possibilita a gestão eficiente dos proces-
sos logísticos que envolvem a decolagem/aterrisagem de uma aeronave e o embarque/
desembarque de passageiros e cargas. Porém, como todo negócio, os aeroportos também
devem gerar lucro aos seus investidores, sendo as suas receitas classificadas em aero-
náuticas e não aeronáuticas. A taxa de embarque cobrada aos passageiros, por exemplo,
é uma receita aeronáutica, pois tem como objetivo a remuneração de prestadores de
serviço relacionados ao conforto e à segurança, bem como as instalações presentes nos
terminais de embarque e desembarque. Há ainda diversas tarifas cobradas diretamente
às empresas aéreas, tais como (FONSECA, 2004): tarifa de pouso (objetiva remunerar
a utilização das áreas e dos serviços relacionados ao taxiamento e estacionamento das
aeronaves); tarifa de permanência (cobrada para aeronaves que ficam estacionadas no
terminal por mais de três horas); tarifa de armazenagem (armazenamento de cargas
nos galpões do aeroporto); e por fim a tarifa de uso das comunicações (serviços de
informações aeronáuticas, meteorologia, tráfego aéreo, dentre outros). Basicamente,
pode-se dizer que as receitas aeronáuticas são provenientes de atividades relacionadas
ao lado-ar dos aeroportos.
Já as receitas não aeronáuticas são aquelas advindas de cobranças pelo direito de
as empresas funcionarem nas dependências dos terminais, do aluguel das lojas e dos
espaços disponíveis no aeroporto e demais atividades coordenadas pela própria adminis-
tração do aeroporto. Para Palhares (2002), os aeroportos que investem na geração de
receitas não aeronáuticas possuem uma administração “comercial”, diferentemente
132
Capítulo 5 [Transporte Aéreo e Turismo]
recursos provenientes das atividades dos demais. Esse modelo não estimula a concorrência
entre os aeroportos e nem desafia os aeroportos de pequeno porte a buscarem novas
estratégias a fim de diversificar o potencial do seu negócio.
No Gráfico 5.4 é possível identificar os aeroportos mais movimentados da rede
INFRAERO, e o que se percebe claramente é ainda uma centralização muito grande da
malha aérea nacional na região Sudeste (São Paulo – Congonhas e Guarulhos; Rio de
Janeiro – Galeão e Santos Dumont; Belo Horizonte – Confins), além da capital Brasília,
que se encontra entre os seis aeroportos mais movimentados do país. Este último é
uma importante ligação entre as regiões Sul/Sudeste e Norte/Nordeste por conta da sua
localização central. Muitos voos oriundos do Sul ou do Sudeste com destino ao Norte
ou ao Nordeste fazem escala ou conexão nesse aeroporto.
1
Doutora em Turismo pela Universidade de Aveiro. Professora Adjunta na Universidade do Algarve (ESGHT),
Portugal.
136
Capítulo 5 [Transporte Aéreo e Turismo]
Quadro 5.1 — Estudo sobre turismo residencial no Algarve (fonte: ALMEIDA, 2011)
para o destino onde possuem o imóvel mais de quatro vezes por ano e na sua grande
maioria acompanhados, o que origina um número considerável de viagens aéreas e uma
sustentação das rotas aéreas.
5.6. CONCLUSÕES
Este capítulo se propôs a promover uma discussão sobre os principais assuntos
que dizem respeito ao transporte aéreo e aos destinos turísticos. Sabe-se que o as-
sunto é muito amplo, porém os tópicos mais importantes foram abordados. A (des)
regulamentação do transporte aéreo em diversas partes do mundo foi o primeiro item
estudado, e percebeu-se que esta teve um impacto enorme em diversas esferas. Para
as empresas aéreas os ganhos incluíram o aumento da demanda pelo transporte aéreo
de passageiros e a possibilidade da entrada de novas empresas no mercado, inclusive
138
Capítulo 5 [Transporte Aéreo e Turismo]
para as LCCs. Do ponto de vista dos aeroportos, é importante salientar que as suas infra-
estruturas tiveram de ser adaptadas para receber um número de passageiros até então
desconhecido para as administrações aeroportuárias. Entretanto, com mais empresas
aéreas operando e mais passageiros, os aeroportos também acabaram lucrando com
a desregulamentação. Para os passageiros as mudanças foram praticamente tangíveis:
tarifas muito mais baixas, empresas aéreas operando rotas que ainda não eram operadas,
aeroportos se estruturando. Há ainda os impactos causados aos destinos turísticos, tanto
positivos quanto negativos: o aumento da demanda gera, assim como nos aeroportos,
a necessidade de adaptação das infraestruturas básica e turística e a profissionalização
dos profissionais da área.
O capítulo prosseguiu abordando a questão da identidade e da transformação de
destinos turísticos pelo transporte aéreo. Foi percebido o quanto as LCCs foram, e
continuam sendo, importantes para o desenvolvimento de novos destinos e/ou para a
consolidação de destinos já conhecidos. Observou-se ainda que as FNSCs também são
grandes oportunidades para destinos turísticos. Os exemplos de Changi, em Cingapura,
e Dubai, nos Emirados Árabes, foram fundamentais para o perfeito entendimento dessa
realidade.
Em seguida, uma longa discussão sobre o transporte aéreo no Brasil nos anos 2000 foi
desenvolvida. Inicialmente o “caos aéreo”, estabelecido após os acidentes aéreos de 2006
e 2007, foi abordado enfatizando os impactos diretos causados à indústria do turismo.
Foi importante perceber ainda que o mercado de empresas aéreas atual é basicamente
dominado por duas grandes empresas, a Gol e a TAM, e que empresas como a Azul vêm
traçando estratégias de mercado interessantes para conquistar público cada vez maior.
Os aeroportos brasileiros passam por grande dificuldade de adaptar sua infraestrutura à
atual demanda, e a preocupação é ainda maior em relação aos megaeventos de 2014 e
2016 que ocorrerão no Brasil. Em relação a esse ponto, a privatização vem sido muito es-
tudada e comentada no país, tendo alguns aeroportos já sido cedidos à iniciativa privada
como é o caso do Aeroporto de Viracopos, em Campinas.
Este capítulo encerra a discussão da relação entre o transporte aéreo e os destinos
turísticos. No próximo capítulo, o foco será o transporte aquaviário.
QUESTÕES
1. Descreva a importância da desregulamentação do transporte aéreo para o desenvol-
vimento de destinos turísticos.
2. Faça uma busca de tarifas nos sites das principais empresas aéreas para um voo da
ponte aérea Rio de Janeiro (Santos Dumont) – São Paulo (Congonhas) em uma data
qualquer e elabore um texto discutindo o resultado obtido em sua pesquisa.
3. Promova uma discussão em sua sala de aula ressaltando os impactos do caos aéreo
de 2006-2007 para o turismo. Que motivos causadores da crise continuam a existir
no país?
139
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
4. Pesquise sobre a infraestrutura dos principais aeroportos brasileiros e faça uma cor-
relação com as necessidades dos megaeventos esportivos de 2014 e 2016.
5. Pense sobre os aeroportos do futuro. Como serão? Faça uma análise levando em conta
aspectos da gestão dos aeroportos, das formas de receita e da infraestrutura disponível.
6. “Todo aeródromo é um aeroporto, mas nem todo aeroporto é um aeródromo”. Essa
frase está correta ou não? Justifique sua resposta e comente por que os aeroportos
são parte vital da experiência de viagem do turista.
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Capítulo 5 [Transporte Aéreo e Turismo]
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142
CAPÍTULO 6
Transportes Aquaviários
e Turismo
6.1. INTRODUÇÃO
Com a evolução tecnológica do modo aéreo, especialmente com o desenvolvimento
do avião a jato na década de 1960, as empresas de transportes aquaviárias, que trans-
portavam passageiros de longo curso entre os continentes do mundo, desapareceram.
Isso ocorreu porque era difícil concorrer com o transporte aéreo regular de passageiros,
que apresenta maior velocidade, menor preço e maior capacidade de interligação entre
destinos, inclusive os não costeiros. Devido a essa concorrência, o transporte marítimo
de passageiros entrou em crise e se transformou, encontrando no segmento de cruzeiros
marítimos um nicho promissor. Foi no final da década de 1960 e no início dos anos 1970
que surgiram algumas das atuais empresas de cruzeiros, tais como a Norwegian Cruise
Line (NCL) e a Carnival Cruise.
Como produto turístico, os cruzeiros marítimos oferecem inúmeras conveniências
que resultam na sua enorme popularização. Em geral, os passageiros se beneficiam da
conveniência de conhecerem vários destinos permanecendo na mesma cabine durante
toda a viagem. Os cruzeiros oferecem refeições sofisticadas e entretenimento incluídos na
tarifa, com inúmeras opções adicionais de atrativos que podem ser adquiridos a bordo,
incluindo casinos, spas, duty free shopping, bares, fotografias ou mesmo refeições em
143
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
Além dos cruzeiros marítimos, outro modo de transporte aquaviário que se despontou
nas últimas décadas foram os fast ferries, catamarãs. Desde a sua criação, na Noruega,
durante a década de 1970, resultante das dificuldades de transporte terrestre devido à
topografia específica da costa Oeste do país (GEE, 1999), fast ferries evoluíram em formas
e tamanhos diferentes e são atualmente utilizados para inúmeros fins, incluindo transporte
urbano de curta distância, viagens de médio curso que transportam uma combinação de
144
Capítulo 6 [Transportes Aquaviários e Turismo]
um cruzeiro de 22 dias entre Nova York–Rio de Janeiro–Nova York, mas o seu acesso,
diferente dos tempos atuais, era restrito à elite econômica da época. Suas passagens cus-
tavam entre US$ 395 e US$ 8.600 (valores da época!).
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o transporte de passageiros foi amplamente
reativado, não só no deslocamento das tropas de volta ao lar, mas nas ligações a partir
do Reino Unido para a Índia e a Austrália. O Reino Unido, com sua decisão, na década
de 1960, de só permitir que seus cidadãos comprassem 50 £ em moeda estrangeira para
viajar ao exterior, terminaram por incentivar o crescimento dos cruzeiros marítimos, uma
vez que os navios de bandeira inglesa permitiam aos passageiros gastarem a bordo suas
libras, deixando a cota em moeda estrangeira para ser utilizada apenas nos destinos turís-
ticos internacionais a serem visitados.
Tudo mudou quando, em 1958, a Pan Am inaugurou o primeiro voo do Boeing 707.
As linhas marítimas regulares pouco a pouco desapareceram, processo este agravado
ainda mais com o surgimento do Boeing 747 em dezembro de 1969, capaz de trans-
portar mais do que o dobro de passageiros do que o Boeing 707. Embora as empresas
marítimas de passageiros tenham procurado outros mercados para explorar, aquelas
que operavam apenas com linhas regulares encontraram grandes dificuldades para se
adaptarem ao mercado de cruzeiros marítimos, principalmente em função de:
¥ Empregarem tripulação dos seus próprios países, cuja mão de obra era muito mais
cara. A solução foi registrar os navios em países que não impunham restrição quanto
à nacionalidade dos tripulantes (bandeira de conveniência).
¥ Haver relutância por parte das empresas de navegação em transferir o registro de seus
navios para a situação de “bandeira de conveniência”.
¥ Existir escassez de recursos para converter os navios de transporte regular, que ge-
ralmente tinham dois ou três tipos de classes de passageiros, para apenas uma única
classe, como é o caso dos navios de cruzeiros.
¥ Não entenderem que os passageiros de cruzeiros têm expectativas diferentes daqueles
das linhas regulares, principalmente no que diz respeito a infraestruturas, serviços e
atrações existentes a bordo.
Com uma greve promovida pelos trabalhadores marítimos em 1966, a crise do pe-
tróleo no início da década de 1970, responsável pelo aumento de até dez vezes o preço
do barril, e com a liberação das restrições de compra de moeda estrangeira para viajar
ao exterior, o setor de cruzeiros marítimos britânicos entrou em crise, principalmente
porque muitos turistas foram atraídos pelos pacotes com voos charter para cruzeiros na
região do Mediterrâneo. Do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos, começaram
a surgir empresas como a Carnival Cruises e Royal Caribbean, que passaram a lançar
cada vez mais navios, operando principalmente no Caribe a partir do porto de Miami.
Foram essas novas empresas que passaram a ditar o ritmo e a tendência do mercado
durante os anos 1970.
146
Capítulo 6 [Transportes Aquaviários e Turismo]
A demanda por cruzeiros marítimos, após o crescimento do início da década de 1970, foi
novamente aquecida a partir do ano de 1988, em parte devido à recuperação do mercado
no Reino Unido. Nesse ano, foi entregue o primeiro meganavio, o Sovereign of the Seas,
com 73 mil GRT (ver explicação a seguir), seguido por vários outros, tais como o Ecstasy
(1991), da Carnival, e o Crown Princess, da P&O/Princess (em 1990 com 69.845 GRT).
Esse exponencial crescimento do setor de cruzeiros pode ser atribuído a vários fato-
res. O primeiro, e talvez mais contundente, é o fato de os navios de cruzeiros terem se
transformado em verdadeiros “destinos turísticos flutuantes” que proporcionam, numa
só viagem, uma experiência altamente satisfatória de hospedagem, gastronomia, lazer,
compras e entretenimento. As empresas de transportes marítimos passaram a priorizar
não só mais os seus itinerários, com seus respectivos destinos turísticos (portos), mas
também incorporaram inúmeros atrativos, equipamentos e atividades a bordo para trans-
formar o navio de cruzeiro, por si só, no maior e principal destino. Um sinal evidente
dessa diferenciação no produto “navio” pode ser exemplificada pela atual divisão da
tripulação dos próprios navios. Tripulantes estão agora claramente divididos em áreas
distintas de operação: técnico e navegação de um lado, hotelaria e entretenimento do
outro (LOIS, WANG et al., 2004). Adicionalmente, em face da grande segmentação de
mercado que tais embarcações já apresentam, é possível encontrar cruzeiros específicos
para uma ampla gama de público, incluindo certos nichos de mercado, que vão desde
famílias com crianças, casais em lua de mel, solteiros, amantes dos esportes, apreciadores
da boa musica, até aqueles cruzeiros destinados exclusivamente a realização de eventos
empresariais, científicos, religiosos, entre outros.
Outro fator responsável pelo rápido crescimento do setor de cruzeiros está relacio-
nado ao alto índice de satisfação dos passageiros. Mais de 80% dos usuários se dizem
“extremamente satisfeitos” ou “muito satisfeitos” em ter participado de um cruzeiro.
Além disso, de cada dez passageiros de primeira viagem, sete afirmam que a experiência
de um cruzeiro excedeu suas expectativas. A cada ano, a participação de viajantes que
realizam um cruzeiro pela primeira vez é da ordem de 40%. Não é surpresa alguma
encontrar num cruzeiro vários cruzeiristas que já estiveram em mais de dez cruzeiros,
enquanto alguns podem já ter participado de até 25 cruzeiros!
Mais um fator de sucesso dos cruzeiros é que os navios construídos são cada vez
maiores, criando assim um produto de massa personalizado e permitindo que as empresas
de transportes obtenham economia de escala e possam praticar tarifas altamente atraentes
em comparação com seus concorrentes em “terra firme” (WEAVER, 2005). Em grande
parte o crescimento da indústria de cruzeiros marítimos se deve ao fato de os preços das
viagens terem diminuído consideravelmente pelo ganho das economias de escala e de
escopo. Muitas viagens de cruzeiros podem chegar a custar quase a metade da estada
em um hotel de mesmo padrão (5 estrelas).
Esse aumento no tamanho e consequentemente na tonelagem dos cruzeiros pode
ser observada na Tabela 6.1. Percebe-se que o volume dos navios quase triplicou, entre
147
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
a década de 1970 para década de 1990. É importante frisar que a unidade de medida
do volume interno de um navio é conhecida como GRT, em inglês Gross Registered
Tonnage. Muitos confundem o termo como sendo o peso do navio, mas esse não
é o caso. Muito menos o GRT representa o volume de água deslocada pelo navio.
Uma unidade de GRT representa cem pés cúbicos, volume equivalente a 2,83m3. Em
relação à capacidade de um navio em número de leitos, o seu cálculo é efetuado
multiplicando-se por dois o número de cabines existentes, considerando-se uma média
de duas pessoas por cabine. Entretanto, como às vezes as empresas acomodam até três
ou quatro passageiros numa mesma cabine, o fator de ocupação de um navio (load
factor) pode tornar-se superior a 100%. A Carnival, por exemplo, teve um load factor
médio, em 2000, de 105,4%, enquanto, em 1999, este foi de 104,3% (CARNIVAL
CORPORATION, 2001).
Outro fator que contribui para o sucesso dos cruzeiros é o fato de os mesmos fornece-
rem uma variedade de opções relativas à duração e itinerários de viagens. Os passageiros
podem escolher cruzeiros a partir de dois dias de duração para lugares próximos, até
cruzeiros de circum-navegação do globo terrestre (MARTI, 2004). Um cruzeiro ao redor
do mundo geralmente dura entre 80 e 110 dias e tem tarifas diárias que podem variar
de US$100 a mais de US$3.000 (MARTI, 2004). Mesmo os cruzeiros de longa duração
podem ser divididos em vários cruzeiros menores. Isso pode ser vantajoso tanto para
os passageiros, que podem viajar mais vezes para vários destinos em navios diferentes,
assim como para as empresas de cruzeiros, que podem otimizar a ocupação do navio
negociando mais facilmente os cruzeiros menores devido ao menor custo.
Devido à ampla segmentação dos navios de cruzeiros, estes passaram a receber
diferentes classificações. Desde o sistema de classificação por estrelas, passando pela
148
Capítulo 6 [Transportes Aquaviários e Turismo]
REGIÃO %
Caribe 45%
Alasca 24%
Bahamas 23%
Havaí 15%
Bermuda 15%
Mediterrâneo/Ilhas Gregas/Turquia 14%
Restante da Europa 13%
Canal do Panamá 8%
Costa Oeste do México 8%
Fonte: adaptado pelos autores de Florida-Caribbean Cruise Association (2010).
cruzeiros marítimos. Desde a década de 1980, o mercado nessa região vem apresentando
consecutivos aumentos expressivos passando rapidamente de 1,4 milhão de passageiros
em 1980 para 8,5 milhões em 1997 (WOOD, 2000) a partir de uma estratégia que tinha
por objetivo popularizar os cruzeiros marítimos no Caribe.
A Tabela 6.4 mostra, por exemplo, o substancial aumento de cruzeiristas em Belize,
país banhado pelo mar do Caribe, entre o ano de 2001 e 2007, um aumento da ordem de
1140% em poucos anos. Esse crescimento de visitantes de cruzeiros em Belize pode ser
atribuído também à abertura em 2002 de um porto na cidade especialmente construído
para atender cruzeiros (DIEDRICH, 2010).
É importante perceber que há uma variação metodológica nos estudos estatísticos
que por vezes incluem as Bahamas como parte do Caribe (Tabela 6.4), enquanto outros
apresentam seus dados separadamente, por conta da expressão desse destino para o
mercado de cruzeiros (Tabela 6.3). A maioria dos roteiros que incluem o Caribe partem
dos Estados Unidos, sobretudo do estado da Flórida, com as cidade de Miami, Fort
Lauderdale e Port Canaveral como os principais portos de embarque/desembarque,
151
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
porém já existem roteiros mais longos partindo também de Nova York. Uma das es-
tratégias da região é aliar os cruzeiros com a visita aos parques temáticos da cidade de
Orlando. A Disney Cruise Line, por exemplo, oferece serviço de traslado entre os portos
e os parques e resorts de Walt Disney World.
O segundo destino de cruzeiros mais importante é o Alasca, nos Estados Unidos.
Entre os anos 1997 e 2008, o número de visitantes provenientes de cruzeiros no Alas-
ca dobrou, passando de 500 mil a 1 milhão de pessoas (ALASKA CRUISE ASSOCIA-
TION, 2012). Os itinerários no Alasca acontecem, basicamente, de duas formas: com
embarque em Seattle (Estados Unidos) ou Vancouver (Canadá) passando pelo Sudeste
do Alasca, ou cruzeiros pelo golfo do Alasca embarcando ou desembarcando em An-
chorage, passando por Seward e Whittier, todas cidades no próprio Alasca. A duração
média dos roteiros é de sete dias, e a temporada acontece entre os meses de maio a
setembro de cada ano. O perfil do cruzeirista que viaja ao Alasca é representado pelo
turista que, ao escolher um cruzeiro, o faz com base prioritária no destino, e não na
experiência a bordo das embarcações. Sendo assim, nota-se que a participação dos
passageiros nas excursões aos destinos visitados pelos navios é muito maior do que nos
demais destinos de cruzeiros, tendo uma estimativa de que cerca de 80% a 90% do
total de passageiros compra pelo menos uma excursão ao longo da viagem (ALASKA
CRUISE ASSOCIATION, 2012).
Há de se chamar atenção para mercados de cruzeiros marítimos ainda emergentes. A
Austrália é um desses casos e tem apresentado crescimento extremamente significativo
nos últimos anos, conforme o Gráfico 6.2. Um estudo realizado pela ICCA (International
Cruise Council Australasia) mostrou que cada vez mais o turista australiano que opta
por passar suas férias em um cruzeiro prefere permanecer: ou no próprio território aus-
traliano (aumento de 33% entre 2010 e 2011) ou em viagens para a vizinha Nova Zelândia
(aumento de 80% no mesmo período) ou em roteiros que incluam o Pacífico Sul - Taiti,
Fiji e viagens transpacíficas (aumento de 34%) (ICCA, 2011).
Assim como a Austrália, o Brasil também vem despontando como um excelente destino
de cruzeiros marítimos (ver Seção 6.6). Um dos fatores decisivos para o sucesso ou não
152
Capítulo 6 [Transportes Aquaviários e Turismo]
desse mercado é o planejamento correto dos itinerários dos cruzeiros a fim de atender à
demanda e otimizar as operações das empresas armadoras.
Austrália é muito comum os cruzeiros que fazem um itinerário costa a costa serem
desse tipo, como por exemplo as viagens de Sidney até Perth. Há implicações desse
tipo de cruzeiro, uma vez que ele irá requerer o deslocamento de volta para os locais
de origem dos cruzeiristas (vide discussão anterior sobre: fly-cruise).
¥ “Cruise to nowhere”: são cruzeiros de poucos dias cujo objetivo principal é levar o
navio para águas internacionais, sem necessariamente visitar nenhum destino turís-
tico. O propósito geralmente está ligado a exercer atividades que são ilegais em
determinados destinos, como a operação do casino ou a venda de bebidas alcoólicas.
São muito populares na Ásia.
¥ “Round the world cruise”: cruzeiros de longa duração, com duração de mais de
100 dias, geralmente ofertado por empresas que atraem o segmento de luxo, com o
propósito de circum-navegar o globo terrestre. Tais itinerários podem ser ofertados não
só a passageiros fazendo todo o percurso, mas também individualmente em trechos
opened jaws de aproximadamente duas semanas.
Além das empresas de cruzeiros e das organizações de turismo, vários outros sta-
keholders se fazem interessados no planejamento dos itinerários de cruzeiros, incluin-
do operadores portuários, imigração e alfândega e operadores de turismo receptivo.
Operadores de turismo receptivo, em particular, são peça-chave na montagem de um
itinerário, uma vez que são os responsáveis por intermediar junto aos operadores locais
as opções de tours a serem oferecidos no destino (ver Figura 6.1). Em muitos casos,
esses operadores trabalham junto com atrações turísticas locais, restaurantes e outros
estabelecimentos para montarem vários pacotes receptivos. Por se tratarem, em muitos
casos, de operadores de pequeno porte, a oportunidade de oferecer seus produtos para
uma empresa de cruzeiros impõe uma série de desafios. Dentre eles consta a neces-
sidade de oferecerem produtos de alto padrão e estarem sujeitos a cancelamento caso,
por exemplo, o navio não possa usar tenders, embarcações de menores dimensões, em
função de mau tempo. Para a empresa de cruzeiro, a experiência que os cruzeiristas
terão no destino é crucial para o sucesso do cruzeiro como um todo. Daí, em alguns
casos, empresas como a Disney Cruise Line manterem ilhas particulares no Caribe,
a fim de poderem oferecer o mesmo padrão de qualidade dos serviços prestados a
bordo, ao mesmo tempo em que retêm para si as despesas que os cruzeiristas fizerem
em terra firme.
Uma série de fatores influencia a escolha e a montagem de um itinerário de cruzeiros,
que em muitos casos pode ocorrer com até três anos de antecipação. Henry (2012)
enumera os seguintes:
1. Duração do cruzeiro: em geral cruzeiros de curta duração, como por exemplo
duas ou três noites, terão passageiros mais interessados em ficar no navio do que
desembarcar. Nesse grupo incluem-se os chamados cruise to nowhere apresentados
anteriormente. Cruzeiros com maior duração tenderão a visitar um número maior de
destinos, embora haja exceções como as viagens transatlânticas, em que o interesse
154
Capítulo 6 [Transportes Aquaviários e Turismo]
Figura 6.1 — Sinalização em Ilha Bela (SP) informando em cores a localização dos di-
versos tipos de tours/operadores/transportes disponíveis para cruzeiristas, fevereiro
de 2008 (Fonte: foto cortesia de Guilherme Lohmann)
155
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
Havaí provavelmente passará mais tempo viajando pelo Pacífico do que visitando o
arquipélago havaiano.
2. Destinos turísticos: vários aspectos de um destino turístico são levados em consi-
deração na sua escolha como parte de um cruzeiro marítimo. A distância entre os
destinos bem como em relação ao mercado de origem dos passageiros devem ser
considerados. Operando com velocidade média de aproximadamente 33km/h, os
destinos geralmente são encaixados de forma a minimizar muitos dias em alto-mar,
ao mesmo tempo em que permite ao navio viajar à noite e ficar atracado no destino
durante o dia. Tipicamente os passageiros terão o horário entre 8h00 e 18h00 para
desembarcarem e visitarem o destino. Obviamente que a atratividade dos destinos
escolhidos é fundamental para o apelo do itinerário como um todo. As atrações
disponíveis e as excursões oferecidas têm papel fundamental para atrair não só
cruzeiristas que estejam fazendo o itinerário pela primeira vez, bem como aqueles
que desejem visitá-lo em outras ocasiões.
3. Acessibilidade portuária: este aspecto está diretamente relacionado ao item a seguir
(tamanho do navio) já que do ponto de vista operacional o porto precisa oferecer
condições para que o navio ancore ou opere com tenders. Portos recebendo vários
navios podem sofrer congestionamentos tanto na atracação dos navios quando nas
vias que dão acesso ao terminal portuário.
4. Tamanho do navio: está relacionado ao segmento e ao número de passageiros que
serão transportados. Um navio “boutique” é aquele que pode acomodar entre 50 e
200 passageiros; um navio de pequeno porte entre 200 e 500 passageiros; um navio
de médio porte acomoda entre 500 e 1200 passageiros; e um “navio resort” tem ca-
pacidade para mais de 1200 passageiros. No entanto, essa classificação é considerada
incompleta se não levar em conta a segmentação dos passageiros transportados, que
podem ser classificados em padrão, premium/luxo ou totalmente exclusivo (BARRON
e GREENWOOD, 2006). Como visto no Capítulo 2, há forte ligação entre o tipo de
turista e o estágio de desenvolvimento dos destinos que estes planejam visitar.
Assim como em vários outros aspectos da experiência de um cruzeiro, as empresas
levam muito em consideração a avaliação feita pelos passageiros. Decepção com as
excursões oferecidas ou com a experiência do destino como um todo podem fazer as
empresas reverem seus itinerários e oferecem novos destinos/itinerários. Esse é um as-
pecto de grande competitividade entre destinos que oferecem apenas “ports of call”.
O estado de Queensland, na Austrália, identificando o potencial de crescimento
para a oferta de cruzeiros marítimos em sua costa, preparou os seus principais destinos
costeiros como Brisbane, Whitsundays, Cairns e Port Douglas, com várias iniciativas.
Um manual detalhado e em linguagem simples foi produzido com o propósito de ex-
plicar aos operadores turísticos locais o potencial desse segmento turístico, bem como
de que forma ele funciona e quais segmentos e mercados atrai (TOURISM QUEENS-
LAND, 2006). Anos depois do lançamento desse manual, uma série de medidas foram
156
Capítulo 6 [Transportes Aquaviários e Turismo]
marítimos na Austrália. Tomaram, para isso, um cruzeiro típico de seis dias com um navio
com 900 passageiros a bordo. Os gastos efetuados pelos passageiros e pela tripulação
representaram, para a região de origem dos turistas e para os portos visitados, um total de
617 mil dólares australianos para os cruzeiros costeiros, e de 172 mil dólares australianos
para os cruzeiros internacionais, principalmente aqueles pelas ilhas do Pacífico Sul. Os
gastos do operador do cruzeiro com taxas portuárias, serviços de capatazia, combus-
tível, impostos, dentre outros, foram estimados em 239 mil dólares australianos para os
cruzeiros costeiros, e de 195 mil dólares australianos para os cruzeiros internacionais. De
forma geral, um cruzeiro costeiro contribuía com receitas de 756 mil dólares australianos,
dos quais 80% referentes a gastos dos passageiros e da tripulação (uma média de 825
dólares australianos por pessoa). No caso dos cruzeiros internacionais, esse valor era
de 367 mil dólares australianos, ou o equivalente a 401 dólares australianos por pessoa.
Esses dados evidenciam os benefícios que os cruzeiros costeiros provêm na economia
do país, em comparação aos cruzeiros internacionais. Dados globais e mais recentes do
setor na Austrália indicam não só um crescimento das receitas diretas em função do cres-
cimento da demanda, mas também um aumento nas médias dos valores das despesas
individuais de cruzeiristas para as temporadas 2007-08 (568 milhões dólares australianos),
2008-09 (662,7 milhões dólares australianos), 2009-10 (790 milhões dólares australianos)
e 2010-11 (830 milhões dólares australianos) (DELOITTE ACCESS ECONOMICS, 2012).
No entanto, apesar do amplo reconhecimento dos impactos econômicos positivos,
existem também algumas críticas sobre alguns desses impactos. Uma dessas críticas seria
que a participação econômica do setor de cruzeiros no turismo global não é tão grande
assim. No inicio da década de 2000, a participação do setor de cruzeiros no turismo
internacional corresponderia a 1,6% do total dos turistas e 1,9% do número total de
noites, e a receita de empresas de cruzeiros representava apenas 3% das receitas totais
de turismo internacionais (KESTER, 2002). Outra crítica é que a maioria dos navios de
cruzeiro são registrados em países que oferecem uma “bandeira de conveniência”, como
Bahamas, Panamá ou a Libéria. Com isso, as empresas de cruzeiros estariam evitando
tributação e, ao mesmo tempo, buscando uma legislação trabalhista mais frágil para,
por exemplo, restringir os direitos dos trabalhadores e permitir pagamentos de baixos
salários (BRIDA e ZAPATA, 2010). Há também a crítica da concorrência que os cruzeiros
exercem aos hotéis resorts em terra, que, em tese, participariam com um maior impacto
econômico no destino turístico. Por fim, não obstante uma fração da renda gerada pelas
atividades de cruzeiro permanecer nos portos dos destinos turísticos, estes também
precisariam arcar com os custos e problemas ambientais e sociais associados com as
chegadas dos navios, dos passageiros e das tripulações, como será visto no próximo
item (BRIDA e ZAPATA, 2010).
159
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
estudo sobre como os navios de cruzeiros afetam o meio ambiente, o The Ocean
Conservancy de 2002, afirma que, da frota mundial de navios mercantes de aproxima-
damente 46222, estima-se que os cruzeiros são responsáveis por um quarto de todos os
resíduos que são gerados, apesar de representarem menos de 1% de toda essa frota. Isso
se deve, obviamente, ao enorme número de passageiros que são transportados, muito
superior aos navios cargueiros. Estima-se que um navio de cruzeiro gera um mínimo
de um quilo de resíduo sólido, além de duas garrafas e duas latas por passageiro por
dia (BUTT, 2007).
Desde o ano de 1990, todas as embarcações navegando em qualquer parte do mundo
passaram a ter de atender aos padrões da MARPOL (Marine Pollution) e do International
Safety Management Code (ISM), ambos sob os auspícios da International Maritime
Organization (IMO), a agência da Organização das Nações Unidas (ONU) responsável
pela segurança do transporte marítimo e da prevenção de poluição pelas embarcações.
O Anexo V da MARPOL define a disposição dos resíduos, lixos e material poluente
lançados pelos navios nos mares. Basicamente, o que essa legislação faz é dividir as
águas em quatro zonas marítimas, de acordo com a proximidade do navio em relação
à costa. Assim, por exemplo, é proibido jogar ao mar qualquer resíduo sólido a menos
de três milhas náuticas da costa (1.852m). Entre três e doze milhas náuticas, é vedado
o lançamento de papel, vidro e mesmo de alimento, exceto se este tiver menos do que
uma polegada de diâmetro. As outras duas áreas são aquelas compreendidas entre 12 e
25 milhas náuticas e distâncias superiores a 25 milhas náuticas, nas quais, basicamente,
fica restrito o lançamento de material plástico.
Um dos impedimentos para a implementação da Convenção MARPOL surge a
partir da existência de “bandeiras de conveniências” e a dificuldade de muitos destinos
portuários em executar inspeções para verificar o cumprimento ou não das normas
internacionais. Na maioria das vezes, eles não têm uma infraestrutura adequada para
tal. No estado norte-americano do Havaí, as autoridades locais assinaram um acordo
com as empresas de cruzeiros segundo o qual estas assumem a responsabilidade de
informar qualquer infração cometida em relação ao meio ambiente. Obviamente
que esse é um procedimento inviável para o devido monitoramento de eventuais
infrações cometidas.
O The Ocean Conservancy, em 2002, reafirmou a necessidade do aumento na
regulação das atividades dos cruzeiros, incluindo a redução e a regulação das descargas
para diminuir o impacto causado pelos vários tipos de resíduo produzidos a bordo.
Além disso apontaram para a necessidade de melhorar a monitoração, a inspeção e,
principalmente, o fortalecimento de mecanismos de execução destas leis, incluindo
programas de treinamento.
Um exemplo de recente avanço na gestão dos resíduos dos navios é o Plasma Arc
Waste Destruction Systems (PAWDS), que utiliza energia de plasma para destruir os
resíduos combustíveis. Esse sistema foi testado em um navio de cruzeiro da Carnival, o
160
Capítulo 6 [Transportes Aquaviários e Turismo]
M.S. Fantasy, e é capaz de tratar papel, papelão, plásticos, têxteis, madeira e alimentos.
Como com qualquer nova tecnologia, o custo de instalação em todos os atuais navios
de cruzeiro poderia ser proibitivo, mas poderia ser uma opção viável para a gestão de
resíduos nas novas construções (BUTT, 2007).
Os navios da Holland America, individualmente, produzem oito toneladas de lixo a
cada sete dias de cruzeiro, possuindo vários equipamentos para separar e processar esse
material, não só com o objetivo de melhor acondicioná-lo a bordo, mas também para
prepará-lo para o processo de reciclagem que ocorrerá após a atracação do navio no
próximo porto. O vidro é quebrado em pequenos fragmentos e o papel é queimado ou
empacotado, os restos de comida podem ser incinerados ou jogados ao mar, dependendo
do local em que se encontra o navio.
A Princess, por sua vez, implantou o programa Planet Princess, que prevê, para suas
embarcações, um futuro no qual não serão lançados quaisquer tipos de materiais no
mar. O primeiro navio da empresa a operar nesse sistema é o Sun Princess. Entretanto, os
equipamentos necessários para tratar e armazenar o lixo e o esgoto produzidos a bordo
podem custar até dez milhões de dólares e possuírem uma altura equivalente a três deques
da embarcação, o que representa uma grande perda de área útil.
Mais do que propriamente encontrar soluções para os rejeitos produzidos durante uma
viagem de cruzeiro, o que muitas empresas têm feito é tentar eliminar o maior número
possível de geração de material plástico a bordo, dando preferência sempre pelo uso de
papel ou mesmo por outros materiais reutilizáveis e recicláveis. Além disso, a própria
conscientização junto aos passageiros também é efetuada, notadamente para que estes
cooperem com a reciclagem do lixo, mediante o uso de compartimentos diferenciados
para os materiais plásticos, de metal, de vidro e de papel.
Há ainda outros tipos de impactos indesejáveis decorrentes dos navios de cruzeiros,
incluindo congestionamentos nos principais portos quando os navios atracam. A in-
fraestrutura portuária e os locais visitados pelos turistas muitas vezes ficam lotados,
principalmente porque não estão preparados para receber grandes fluxos de turistas.
O ecossistema pode ser perturbado com o número de visitantes e com as frequências
de saída e chegada de embarcações. Além disso, há ameaça constante de vazamento de
óleo. As dragagens necessárias para que os navios atraquem nos portos também podem
impactar nos corais e outros organismos marinhos.
Contudo, muitos dos efeitos negativos para o ambiente diretamente associados aos
navios de cruzeiro podem ser superados se houver determinação e cooperação entre as
partes interessadas. A grande quantidade de resíduos gerados pelos navios de cruzeiro
necessita do emprego efetivo de melhorias tecnológicas na seleção, no armazenamento e
reciclagem. Os portos e seus contratados devem assegurar instalações adequadas para lidar
com todas as formas de resíduos recuperados e recicláveis e ser encorajados a utilizar as
instalações locais sempre que possível para evitar o transporte por terra. Enfim, há neces-
sidade de uma abordagem responsável e sustentável para a gestão de impactos ambientais
161
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
dos navios de cruzeiros (BUTT, 2007). Do ponto de vista das empresas de cruzeiros e dos
destinos turísticos, diferentes estratégias e iniciativas de gestão podem ser empregadas
para que juntos cumpram suas obrigações de desenvolvimento sustentável. Johnson (2002)
apresenta um resumido quadro de estratégias de sustentabilidade ambiental e várias
iniciativas de gestão disponíveis que cruzeiros e destinos podem adotar (ver Quadro 6.1).
162
Capítulo 6 [Transportes Aquaviários e Turismo]
163
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
CAPACIDADE
OPERADORAS ESCALAS NO BRASIL NAVIOS DE PASSAGEIROS
Pullmantur 259 Empress 2.020
Zenith 1.800
Sovereign 2.882
MSC Cruzeiros 240 MSC Magnífica 2.518
MSC Poesia 2.550
MSC Musica 2.550
Costa Cruzeiros 209 Costa Fascinosa 3.800
Costa Favolosa 3.800
Costa Fortuna 3.470
Costa Serena 3.780
Íbero 148 Grand Celebration 1.896
Grand Holiday 1.860
Grand Mistral 1.700
Royal Caribbean 84 Azamara Quest 764
Splendour of the Seas 2.076
Aida Cruises 71 Aida Cara 1.180
Aida Vita 1.200
Oceania Cruises 39 Regatta 684
Marina 1.250
Fonte: elaborado pelos autores com base em Brasil Cruise (2013).
panhola fez questão de manter uma importante característica da época dos seus cruzeiros
com a CVC: o sistema all inclusive ou “tudo incluído”, em que o passageiro tem direito
a comidas e bebidas à vontade, diferentemente dos navios das demais operadoras, que
oferecem somente as refeições inclusas em suas tarifas.
165
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
169
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
o ferry foi em frente e viajou para Nawiliwili antes do previsto. Contínuos protestos em
Kauai levaram à suspensão do serviço para Nawiliwili. Em outubro de 2007, o tribunal de
Maui exigiu que o Superferry aguardasse uma avaliação de impacto ambiental ser con-
cluída, antes de retomar o serviço. No entanto, após uma reunião entre a Governadora
e o Senado do Estado do Havaí, o Superferry foi autorizado a retomar o serviço até a
conclusão dos estudos de impactos ambientais (Pacific Business News, 2007). Em março
de 2009, o Supremo Tribunal do Havaí considerou as operações do Superferry antes da
conclusão da avaliação de impacto ambiental como sendo inconstitucional (BLAIR, 2009).
Na sequência deste anúncio, a empresa demitiu os funcionários e decretou falência em
maio de 2009.
A Nova Zelândia, com as suas duas principais ilhas (Norte e Sul), é separada
pelo Estreito de Cook. Desde agosto de 1962, o transporte de ferries convencionais
Ro-Ro tem sido a única outra alternativa além do transporte aéreo no deslocamento
de passageiros de uma ilha para a outra. Isso mudou no final de 1994, quando a
tecnologia de catamarãs de alta velocidade foi introduzida, com um número de
concorrentes desafiando a empresa incumbente, a Interisland Line, na ligação entre
a capital Wellington e Picton (Figura 6.4). Enquanto as embarcações faziam a traves-
sia em três horas, a nova tecnologia permitia fazer o mesmo trajeto em uma hora e
quarenta e cinco minutos.
170
Capítulo 6 [Transportes Aquaviários e Turismo]
saram 8,3 milhões noites na cidade (PEARCE e SAHLI, 2007). Wellington também é o
mais importante hub aéreo doméstico da Nova Zelândia. Picton, por sua vez, é uma
pequena cidade de 4000 habitantes localizada na extremidade de Queen Charlotte
Sound, um destino popular de verão, principalmente para atividades aquáticas, cami-
nhadas e mountain bike. Estima-se que os visitantes de Picton podem atingir um pico
diário de 20000 visitantes no auge do verão. Picton tem um aeroporto muito pequeno,
com voos para a capital Wellington operados por aviões a hélice de 12 lugares, portanto
depende quase que totalmente dos serviços de ferries existentes. Na análise realizada
por Lohmann e Pearce (2010) nesses dois lugares, ficou evidenciado que existe uma
íntima relação entre o desenvolvimento do turismo, especialmente para Picton, devido
ao transporte de ferry.
Além da operação dos ferries convencionais que existiam por décadas, a empresa
incumbente introduziu em 1994 o serviço Lynx, que, ao longo de sua vida útil de cerca
de dez anos, fez uso de diferentes tipos de embarcações ferry catamarãs de alta veloci-
dade (Condor 10, Condor Vitesse, Incat 057 e Incat 046). No mesmo período em que
o Lynx foi introduzido, uma outra empresa concorrente também iniciou operações com
tecnologia semelhante. A experiência da concorrente foi um fracasso, notadamente pela
inabilidade de manter a concorrência com uma empresa que já tinha amplo conhecimento
do transporte de carga e passageiros no Estreito de Cook. Posteriormente outros dois
operadores tentaram concorrer com o The Lynx operando ferries menores exclusivamente
para o transportes de passageiros. Estes enfrentam problemas em lidar com este tipo
de embarcação que é menor e também devido a susceptibilidade a cancelamentos
durante mares bravios. Outro tipo de problema enfrentado na Nova Zelândia foram as
agências reguladoras que demoraram seis anos até definir as restrições de velocidade
de operação dos catamarãs de alta velocidade. Quando velocidades bem inferiores ao
padrão de operações dos ferries de alta velocidade foram impostas, o tempo de viagem
aumentou em trinta minutos, inviabilizando a competitividade que o Lynx oferecia. O
fator competição também desempenhou um papel importante, já que nitidamente não
havia demanda suficiente que justificasse dois operadores de ferries de alta velocidade
operando concomitantemente, além do serviço tradicional de ferries. Interessantemente, o
único concorrente que sobreviveu, Bluebridge, nunca fez uso da tecnologia de catamarãs
de alta velocidade.
O que as experiências malsucedidas de implantação de tecnologias de ferries de
alta velocidade demonstram é que tanto no caso do Havaí quanto da Nova Zelândia,
as implicações foram grandes para o turismo. Na Nova Zelândia, quando os ferries
de alta velocidade estavam em operação, sem quaisquer restrições de marcas de
velocidade, os passeios excursionistas, de apenas um dia, a partir de Wellington
constituíram um importante mercado, particularmente quando os pacotes turís-
ticos ofereciam o ferry em conjunto com transporte e almoço nas regiões vinícolas
de Marlborough. No Havaí, o Superferry proporcionou uma diferente experiência
para os turistas, dando a oportunidade de os mesmos velejarem e passearem nas
ilhas, o que normalmente não é possível com os voos interinsulares (LOHMANN e
TRISCHLER, 2012b).
171
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
6.8. CONCLUSÕES
Este capítulo teve como objetivo apresentar as principais características dos trans-
portes aquaviários com foco especial nos cruzeiros marítimos e suas interações com os
destinos turísticos. Ao abordar os cruzeiros, em sua história e enquanto produtos turísticos
“expostos nas vitrines” das agências de viagens e operadoras, ficou claro o seu grande
potencial, provado por dados estatísticos de crescimento do mercado em diversas regiões
do mundo, inclusive no Brasil.
Apesar de todo o crescimento, apontou-se ainda que algumas regiões são mais
privilegiadas nesse setor, e a oferta e a demanda ainda são desiguais. É o caso do Caribe
e do Alasca, por exemplo, duas das principais regiões receptoras de navios de cruzeiros
do mundo. Por outro lado, países como a Austrália e o Brasil ainda são considerados
emergentes, mas vêm caminhando a passos largos investindo em infraestrutura portuária
e na adequação dos destinos turísticos.
Verificou-se que as empresas armadoras também possuem grande responsabilidade,
uma vez que devem oferecer serviços de qualidade que atendam às expectativas dos
clientes cada vez mais exigentes. Isso inclui um perfeito planejamento dos itinerários
de cada temporada dos navios, fator de suma importância na escolha dos cruzeiros
pelos turistas.
Em relação aos destinos, é imprescindível observar que além de todos os impactos
positivos trazidos pelo incremento da oferta turística por meio dos cruzeiros marítimos, há
também impactos positivos, sobretudo no que diz respeito ao meio ambiente. Entretanto,
diversos avanços têm sido realizados no sentido de minimizá-los, e muitos deles foram
descritos neste capítulo. Por fim, foi apresentada a realidade dos ferries e sua relação
com o turismo, motivo de discórdias em destinos turísticos sobretudo em relação à sua
segurança e aos seus impactos.
Conclui-se que ainda existe um caminho a ser percorrido para que o mercado de
cruzeiros marítimos possa beneficiar igualmente destinos no mundo todo. Entretanto,
ficou evidente que passos de grande relevância já foram dados e que os avanços são
significativos com o passar dos anos.
QUESTÕES
1. Descreva, com base em sua leitura do capítulo, de que forma se deu o crescimento
e a consolidação do mercado de cruzeiros marítimos no mundo.
2. Utilize a internet para buscar nos sites das principais empresas operadoras de cru-
zeiros marítimos no Brasil e elabore um texto descrevendo os principais portos de
embarque/desembarque e de escalas na temporada brasileira.
3. Discuta em sala de aula sobre o planejamento de itinerários de cruzeiros no Brasil.
Tenha como base a pesquisa utilizada na questão anterior.
172
Capítulo 6 [Transportes Aquaviários e Turismo]
LISTA DE REFERÊNCIAS
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News, 16 Mar. 2009.
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WILSON, C. Superferry still under Maui traffic order. Advertiser Neighbor Island Edition,
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176
CAPÍTULO 7
Transporte Terrestre
e Destinos Turísticos
Carla Fraga
7.1. INTRODUÇÃO
Uma série de estudos anteriores à Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra no
século XVIII, contribui para o surgimento ou aperfeiçoamento das tecnologias de trans-
portes influenciando numa nova configuração dos padrões de deslocamentos de cargas
e de passageiros. A invenção do motor a vapor, por James Watt, foi determinante para o
nascimento do modo ferroviário. Segundo Blasco (2001), foi a união entre a locomotiva
a vapor e a estrada de ferro, usada na mineração, a grande combinação para a criação
do sistema ferroviário.
Em 1830, o transporte ferroviário de passageiros foi iniciado em larga escala entre as
cidades inglesas de Liverpool e Manchester na Inglaterra. Simmons (1984) explica que a
relação entre esse modo, o turismo e a hotelaria já era notada desde o início. Na década de
1840, Thomas Cook organizou e promoveu a primeira viagem turística de grupo no padrão
que conhecemos na atualidade. Para tal utilizou-se do transporte ferroviário de passageiros
tendo como destino de viagem Loughborough também na Inglaterra (PALHARES, 2002).
177
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
A ampliação de rede ferroviária em vários países do mundo, incluindo o Brasil, cuja pri-
meira ferrovia foi operada a partir de 1854, foi um incentivo ao uso crescente desse modo
de transporte. Naturalmente, com o avanço da ferrovia houve exigência por mais conforto,
e novos avanços tecnológicos foram alcançados. Assim, surgiram invenções como os
carros-dormitório, restaurante, salão etc (SCHOPPA, s.d). Essas melhorias propiciaram
mais comodidades no uso dos transportes ferroviários, o que influiu no desenvolvimento
do turismo. Alguns desses avanços geram implicações até os dias atuais, por exemplo, a
partir do conceito de trem-hotel, algumas empresas ferroviárias, com trajetos noturnos
longos, oferecem serviços leitos em cabines, nos carros-dormitórios aos passageiros que
tenham interesse em se deslocar com maior conforto (PALHARES, 2002).
A ferrovia, por carregar a ideia de progresso associada a um mundo novo, trans-
portando carga e passageiros com mais segurança e conforto, tornou-se o símbolo do
desenvolvimento capitalista, principalmente até 1930, ou seja, antes da popularização
do automóvel (ARRUDA, 2000).
A evolução tecnológica e os direcionamentos políticos e econômicos fizeram com
que a distribuição modal apresentasse alterações ao longo do tempo. Em muitos países,
a dependência do modo rodoviário no contexto turístico é notável, uma vez que este
oferece algumas vantagens competitivas como o serviço porta a porta entre origem e
destino (PALHARES, 2002).
Ao longo da história, fica nítido que avanços tecnológicos de um determinado modo de
transporte podem influenciar no declínio ou ascensão de outros modos, que, por sua vez,
podem afetar o desenvolvimento de destinos turísticas de maneira diferenciada. Por exem-
plo, a colaboração entre os modos de transportes e os destinos turísticos para amenizar
o declínio de um determinado modo de transportes pode ser notada através de alguns
estudos, como o realizado por Prideaux (1999) sobre transporte ferroviário e o turismo na
Austrália. Esse autor destaca que a partir da elevada aquisição de automóveis particulares
e da oferta de transporte aéreo, houve um declínio nos serviços ferroviários de pas-
sageiros de longa distância operados pela Queensland Rail. As estratégias adotadas para
se manterem os serviços ferroviários de passageiros se relacionaram com o turismo. Por
exemplo, a partir da nostalgia pela viagem de trem tem-se um interesse além do des-
locamento, sendo o uso do trem a própria experiência turística (PRIDEAUX, 1999).
Embora apresentem a via terrestre como elemento comum, é evidente que os modos
ferroviário e rodoviário são tecnologias diferente entre si. Dessa forma, o planejamento
e a gestão integrada destes com os destinos turísticos (ver Capítulo 3), o posicionamento
de marketing envolvendo as diversas empresas de transportes e os destinos turísticos (ver
Capítulo 4) exigem a análise dos modos ferroviário e rodoviário de maneira individuali-
zada. Um ponto de partida para se compreender de que forma cada modo pode induzir
ou limitar o desenvolvimento de destinos turísticos é por meio da análise de caracterís-
ticas básicas sobre os elementos (via, veículo, força motriz e terminal – ver Capítulo 1)
que compõem os transportes (PALHARES, 2002). Nas Seções 7.2 (modo ferroviário) e 7.3
178
Capítulo 7 [Transporte Terrestre e Destinos Turísticos]
179
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
*Essas velocidades foram alcançadas em condições específicas e controladas, o que pode ser diferente da
velocidade real de operação.
180
Capítulo 7 [Transporte Terrestre e Destinos Turísticos]
Figura 7.1 — Eurostar na Gare du Nord em Paris, fevereiro de 2013 (Foto cortesia:
Carla Fraga)
Assim, com a implantação do TAV pode haver uma modificação na distribuição modal
(PALHARES, 2002). Nesse sentido, alguns estudos sobre a relação entre ferrovia de
alta velocidade e desenvolvimento de destinos turísticos demonstram que esse meio
de transportes pode reduzir custos de transportes e ser uma importante alternativa
para o desenvolvimento de destinos turísticos, pois permitem a melhoria da aces-
sibilidade.
Masson e Petiot (2009) estudaram a ligação ferroviária de alta velocidade entre
Barcelona (na Espanha) e Perpignan (na França) e explicam que também pode ocorrer
uma concorrência espacial entre destinos turísticos. Nesse sentido, é fundamental com-
preender de que forma a alteração no custo de transportes pode influenciar na formação
de arranjos turísticos espaciais, como os aglomerados em torno de um determinado
destino, forçando outros destinos a se diferenciarem para competirem (MASSON e
PETIOT, 2009).
Palhares (2002) fez um verdadeiro inventário das linhas ferroviárias de alta velocidade
disponíveis em diversos países até o início dos anos 2000. Contudo, na última década
outros sistemas ferroviários de alta velocidade foram implantados, como: Korea Train
Express (KTX) ou Trem Bala Coreano, que foi inaugurado em 2004; em Taiwan as opera-
ções do TAV começaram em janeiro de 2007. Esse último projeto apresenta 345 km de
extensão entre Taipei (10 milhões de habitantes) e Kaohsiung (2,7 milhões de habitantes)
(LACERDA, 2008).
Como o objetivo deste capítulo é a análise sobre a influência dos transportes terres-
tres e os destinos turísticos, no Quadro 7.1 é possível observar como trens de alta
velocidade influenciam no desenvolvimento de destinos turísticos em alguns dos países
pioneiros nos estudos e implantação desses sistemas de transportes, como Japão, França
e Alemanha.
Uma tecnologia que merece atenção quando se trata do desenvolvimento integrado
entre transportes ferroviários e destinos turísticos é aquela propulsionada pela levitação
magnética. A tecnologia dos trens de levitação magnética apresenta o nome de HSST
(High Speed Surface Transport) no Japão e Transrapid na Alemanha. Popularmente, o
Maglev é conhecido como o “trem que voa”, pois os veículos não tocam os trilhos, assim
há uma enorme redução da força de atrito, o que favorece o aumento da velocidade.
É mister destacar que a propulsão ocorre pela “atração entre polaridades contrárias, e
pela repulsão entre as polaridades semelhantes que são geradas alternativamente entre
os dispositivos eletromagnéticos” (PALHARES, 2002).
Na prática, uma linha comercial, o Maglev iniciou a operação em 2004 em Xangai
na China. O trem dá acesso ao Aeroporto Internacional de Pudong numa velocidade
operacional de até 430 km/h (LACERDA, 2008). A seguir será mais bem detalhada de que
forma a integração modal entre trens e aeroportos pode possibilitar o desenvolvimento
de destinos turísticos.
182
Capítulo 7 [Transporte Terrestre e Destinos Turísticos]
183
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
184
Capítulo 7 [Transporte Terrestre e Destinos Turísticos]
Por meio da aplicação de 400 questionários junto aos usuários do Trem do Corcovado,
nos meses de setembro e outubro de 2003, foi identificado que 89% destes consideram
a experiência de uso do trem a própria experiência turística e que os três principais
conjuntos de motivos relacionados a isso são: (1) a cultura, a história e a nostalgia, as-
sociadas ao fato da Estrada de Ferro Corcovado ser centenária, já que foi inaugurada
em 1884; (2) a ecologia, provavelmente por conta do percurso ferroviário está contido
dentro de uma área de Mata Atlântica, sendo possível vislumbrar a biodiversidade local;
(3) cênico, em função de o trem apresentar janelas largas, propícias para se avistar a
paisagem em seu trajeto (FRAGA, 2004).
Blasco (2001, p.101) explica que “trens turísticos são cruzeiros sobre trilhos (...) é
um produto pouco conhecido, se comparado com os cruzeiros ou os pacotes turísticos
realizados de ônibus” (tradução própria), a partir disso o autor analisa algumas iniciativas
como: o Oriente Express, que inaugurou as operações em 1883, sendo o mais antigo e
luxuoso do mundo; o Transiberiano, que interliga vários pontos do maior país do mundo,
a Rússia, que apesar de não envolver luxo, apresenta valores paisagísticos e culturais para
a composição da experiência de viagem.
Os bondes também podem influenciar no desenvolvimento de destinos turísticos.
Por exemplo, Halsall (2001) se ocupou de analisar o bonde Stoomtram Hoorn-Medem-
blik que está localizado numa área rural da Holanda e constatou que este faz parte da
paisagem turística local. Pearce (2001) examinou o papel do governo local e do proces-
so de formulação políticas públicas sobre turismo urbano por meio de uma análise do
desenvolvimento do bonde turístico Christchurch.
O desenvolvimento do turismo ferroviário se faz a partir do somatório de uma série
de fatores que exigem planejamento e gestão coordenadas entre ferrovia e turismo. É vá-
lido destacar que em alguns casos não é o uso do transporte ferroviário que desencadeia
a experiência turística relacionada a ferrovia. Por exemplo, é possível que se desenvolva
o turismo ferroviário a partir de atrações como uma vila ferroviária desativada, museus
ferroviários e ferrovia desativada. No Capítulo 2, a partir da pesquisa de Allis (2002)
sobre a Vila de Paranapiacaba, é possível identificar a importância do patrimônio his-
tórico relacionado à ferrovia para o desenvolvimento do turismo ferroviário.
185
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
186
Capítulo 7 [Transporte Terrestre e Destinos Turísticos]
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[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
pela localização das locadoras de automóveis nos aeroportos. Sobre esse tema, Castro
(2012) fez um levantamento sobre as quatro organizações empresariais mais expressivas
no mercado norte-americano. Com base nos dados da Business Travel News de 2010,
ficou evidente a participação em números e porcentagens das locadoras de automóveis
em aeroportos nos Estados Unidos, como demostrado no Quadro 7.3.
Além da localização, algumas vantagens percebidas pelo turista se relacionam com a
oferta de milhagem por programas de fidelização que envolvem, por exemplo, o trans-
188
Capítulo 7 [Transporte Terrestre e Destinos Turísticos]
Gráfico 7.1 — Número de lojas das empresas locadoras de veículos nos Estados Unidos
em 2012 (Fonte: AUTO RENTAL NEWS, 2012)
acordo com a Avis Europe, em 2010, o mercado ficou subdivido da seguinte forma:
25,8% Europcar; 17,2% Avis Europe; 14,2% Hertz, 9,4% Sixt e as demais totalizavam
33,4% (CASTRO, 2012).
CATEGORIAS CARACTERÍSTICAS
Convencional Capacidade entre 40 e 50 passageiros, com acabamento
simples. Equipados com sanitários, não apresentam ar-
condicionado, poltronas pouco reclináveis. Indicado para
percursos curtos e médios.
Executivo Capacidade entre 30 a 40 passageiros, acabamento mais
refinado, apresenta sanitários, ar-condicionado, poltronas
reclináveis, serviço self service de água e café.
Leito Capacidade para 25 e 35 passageiros, o acabamento
é considerado luxuoso. Equipados com sanitários,
ar-condicionado, serviço self service incluindo kit lanche
além da água e do café. As poltronas são totalmente
reclináveis (tipo cama) e ainda apresenta descanso para os
pés. Geralmente não há a exibição de filmes, e é utilizado
em longos percursos.
Semileito Apresentam as mesmas características dos ônibus leito,
a diferença é que não se pode reclinar totalmente as
poltronas. Geralmente há a projeção de filmes.
Panorâmico (duplo deck) Por oferecer dois andares, oferecem dois tipos de serviços
diferentes, sendo que no primeiro piso há o serviço leito e
no piso superior o serviço é tipo semileito.
Fonte: elaborado pela autora com base em Castro (2012).
Quadro 7.5 — Características dos ônibus utilizados para fins turísticos por categoria
CATEGORIAS CARACTERÍSTICAS
Standard Veículos equipados com poltronas individuais, reclináveis,
descanso para os pés, sanitário, microfone, equipamento
de som e assento para o guia de turismo. Além disso, há
caixa de primeiros socorros.
Luxo Além das características do standard, há geladeira, ar-
condicionado e travesseiros.
Super luxo Além das características da categoria luxo, oferece
poltronas totalmente reclináveis, o acabamento é de
couro ou tecido. Há oferta de mantas, aparelhos de DVD,
micro-ondas, geladeira elétrica, calefação e esterilizador
de ar.
Fonte: elaborado a partir de Castro (2012) com base em Paolilo e Rejowski (2002).
2. Ônibus para fretamento : existem dois tipos de fretamento- aberto e fechado. O aberto
faz parte da oferta de turismo rodoviário de pacotes das operadoras de turismo. Nesse
caso, os passageiros não precisam se conhecerem previamente. O fechado envolve a
locação do ônibus junto a empresa rodoviária, em geral, os membros do grupo que
irá viajar apresentam afinidades entre si e pretendem ir a eventos (esportivos, religiosos
e de negócios etc.).
A seguir é analisada a importância do city tour para o desenvolvimento de destinos
turísticos:
193
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
É possível identificar no Quadro 7.6 que houve uma expansão da malha ferroviária
significativa até 1930, e que os demais períodos não apresentaram consideráveis aumentos
(ver número acumulados – km no Quadro 7.6), inclusive nos anos posteriores ao que o
autor nomeia de privatização até a situação atual em 2011 existem retrações com relação
ao período imediatamente anterior.
194
Capítulo 7 [Transporte Terrestre e Destinos Turísticos]
195
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
planejado exclusivamente para isso. As análises desta parte do capítulo serão baseadas
na conceituação proposta pela ANTT em âmbito nacional.
A existência de alguma ociosidade no uso da malha ferroviária brasileira torna-se uma
oportunidade para implantação de trens regionais de passageiros e também para os trens
turísticos e comemorativos. Nesse sentido, existe no Brasil um número crescente de oferta
ferroviária turística. A Associação Brasileira das Operadoras de Trens Turísticos e Culturais
(ABOTTC) é uma entidade fundada em 2000 que reúne operadores de trens turísticos e
culturais nacionais. Uma curiosidade é que bondes com fins turísticos também podem
ser associados. Com base nos dados da ABOTTC e da ANTT é possível identificar que no
Brasil existem uma série de passeios ferroviários turísticos em operação. O Ministério do
Turismo noticiou que são 32 roteiros envolvendo 11 estados brasileiros (BRASIL, 2012). É
válido destacar que Tomelin (2009) apresentou alguns desses passeios ferroviários turísticos
e examinou a sua contribuição para o desenvolvimento do turismo ferroviário no Brasil.
Coelho (2011) fez uma análise sobre as tarifas praticadas nos passeios ferroviários
brasileiros e encontrou como menor valor praticado R$0,60 (sessenta centavos de real)
e o maior valor R$270 (duzentos e sessenta reais), sendo que na época que a pesquisa foi
realizada ficou identificada uma concentração de tarifas cobradas na faixa dos cinquenta
reais. Contudo, a precificação dos passeios ferroviários é um grande desafio para o planeja-
mento e gestão nesse mercado, já que tanto os serviços oferecidos (bordo, guiamento etc);
durações das viagens (número de horas), distâncias percorridas (km), quanto as caracterís-
ticas relacionadas aos atrativos (nostalgia, cultura e história) são bastante diferentes entre si.
Existe uma série de projetos para implantação de novos trens turísticos expressivos,
o que ocasionou em 2010 a criação de uma Cartilha para a proposição de novos trens
de interesse turístico e cultural. Nesse documento se considera nas diretrizes gerais se
os municípios envolvidos com a implantação do trem turístico fazem parte do Mapa de
Regionalização do Turismo (2009), do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das
Cidades Históricas etc. (BRASIL, 2010). Logo, fica evidente a necessidade da articulação
política, envolvendo diversos atores e organizações, para o avanço do turismo ferroviário
no Brasil (ver Seção 3.3 do Capítulo 3 sobre políticas públicas de turismo e transportes).
c. Trem de alta velocidade no Brasil
No Brasil entre 2007 e 2009 ocorreram estudos de traçado, demanda, operação e custos
para a implantação de trechos ferroviários de alta velocidade. De acordo com dados do site
do Ministério dos Transportes foram feitas consultas públicas sobre modelagem financeira
e traçados, com o lançamento de um edital de concorrência internacional. Segundo dados
sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC-2), disponíveis no site do Minis-
tério do Planejamento relacionado às ferrovias, existe uma possibilidade de se investir nos
trechos envolvendo os seguintes destinos: (1) Rio de Janeiro-São Paulo e Campinas; (2) São
Paulo e Curitiba; (3) Campinas e Triângulo Mineiro; (4) Campinas e Belo Horizonte. Assim,
percebe-se que as cidades de São Paulo e Campinas são importantes nós da rede ferroviária
de alta velocidade que está sendo proposta. Ao se considerar que São Paulo e Rio de Janeiro
196
Capítulo 7 [Transporte Terrestre e Destinos Turísticos]
apresentam aeroportos que são os principais portões de entrada para os turistas internacio-
nais, é possível concluir a importância do TAV para o desenvolvimento turístico brasileiro.
Além dos sistemas de alta velocidade, é importante perceber o planejamento ferroviário
como um todo. Por exemplo, ao se delimitar o traçado de uma proposta de Expresso
Ferroviário de Aeroporto na cidade de Campinas, é importante considerar os pontos de
conexão com outros projetos, como exemplos: o Trem de Alta Velocidade (interligando
Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas) e o Trem Turístico (interligando Campinas e Poços
de Caldas). Assim, fica evidente que a implantação coordenada de projetos ferroviários po-
deria de fato otimizar o desenvolvimento dos destinos turísticos envolvidos (SILVA, 2004).
Por fim, além da integração com outros sistemas ferroviários (de aeroporto, regionais
de passageiros etc.), é preciso garantir a acessibilidade financeira ao uso do trem de alta
velocidade. Assim, Lacerda (2008) fez um estudo sobre os trens de alta velocidade em
várias partes do mundo, evidenciando o alto custo de implantação dessas tecnologias,
bem como das tarifas praticadas. A acessibilidade física promovida entre origem e des-
tinos turísticos tem de ser seguida da acessibilidade financeira para o uso desse sistema.
A tecnologia de levitação magnética para ferroviais de alta velocidade também tem sido
um tema abordado no Brasil. O Laboratório de Aplicações de Supercondutores (LASUP)
da Universidade Federal do Rio de Janeiro desenvolveu um projeto denominado Maglev
Cobra. Um das vantagens desse projeto é a possível adaptação para o uso do veículo em
vias existentes, através da instalação de vias levitação magnética sobre a via permanente.
d. Trens de aeroporto no Brasil
Os trens de aeroporto podem utilizar a alta velocidade (ver Seção 7.2.1). Seguindo a
tendência mundial, no Brasil há uma tendência ao investimento na intermodalidade entre fer-
roviais e aeroportos. Com isso, estudos acadêmicos e mercadológicos têm sido desenvolvidos.
Marquez (2006) fez um estudo sobre a aplicação do modelo de intermodalidade
aeroferroviária existente no Aeroporto de Frankfurt (na Alemanha) e a realidade do
Aeroporto de Guarulhos (no Brasil), que é considerado um hub sul-americano. A partir
do Projeto Expresso Aeroporto desenvolvido pelo Governo do Estado de São Paulo, a
Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e a Infraero, o objetivo é interligar
tal aeroporto à cidade de São Paulo.
A sinergia entre transporte rodoviário e turismo pode ser sentida no mercado de locadoras
de automóveis nacional. A partir do Anuário 2009, a ABLA destacou que no Brasil 45% das
locações de automóveis são destinadas ao turismo, o que totalizam 6,7 milhões turistas.
Ainda, de acordo com dados do Ministério do Turismo, em 2009 o mercado de locação
de automóveis no Brasil apresentou faturamento anual de 4,37 bilhões de reais, a frota foi
estimada em 363456 veículos, o número de usuários 16,8 milhões, com uma geração de em-
pregos (direto e indiretos) de 240.644 postos de trabalho e 1.443 milhões de reais em impostos
gerados. No Gráfico 7.2 é possível analisar a participação expressiva do turismo no perfil de
negócios das locadoras de automóveis brasileiras, considerando os anos de 2003 e 2008.
Fica evidente que as decisões de compra e venda de automóveis no Brasil estão sendo
influenciadas por aspectos relacionados à conservação do meio ambiente e à sustentabili-
dade como, por exemplo, a relação entre o tipo de combustível/força motriz e a emissão
de poluentes na atmosfera. Esse cenário demonstra que há uma mudança paradigmática
em curso, relacionando o uso de automóveis e a sustentabilidade dos destinos turísticos.
Não só os veículos e a força motriz são focos dos desafios da sustentabilidade, mas o
planejamento integrado envolvendo a via e os destinos turísticos também são necessários.
Por exemplo, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente, em 2006, houve a criação
do Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável para a Área de Influência da Rodovia
BR-163 envolvendo 79 municípios nos Estados do Pará, Mato Grosso e Amazonas. Em 2009,
para dar suporte ao Plano foi criado o Projeto BR-163 Sustentável, que objetiva influenciar
desde o manejo das florestas públicas e o apoio a iniciativas de produção sustentável, até
199
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
o fortalecimento da sociedade civil e dos movimentos sociais. Buscando discutir mais este
tema sob a perspectiva científica, no Capítulo 8 são propostas algumas indagações a respeito
da relação entre sustentabilidade, transportes terrestres e o desenvolvimento do turismo rural.
No fechamento deste capítulo são apresentadas duas discussões realizadas por pes-
quisadores convidados sobre o desenvolvimento do turismo rodoviário no Brasil. O
primeiro foi elaborado por Thiago Allis e versa sobre a relação entre os ônibus fretados e
o turismo na cidade de São Paulo. O segundo foi realizado por uma dupla de pesquisa-
dores, Elisangela Aparecida Machado da Silva e José Augusto Sá Fortes, sobre o turismo
rodoviário e o desenvolvimento do destino turístico Foz do Iguaçu. Ambos contribuem
para a reflexão sobre a importância do planejamento e gestão integrados entre transportes
terrestres e destinos turísticos como fator crítico de sucesso para o posicionamento do
Brasil frente a demanda doméstica e internacional.
200
Capítulo 7 [Transporte Terrestre e Destinos Turísticos]
transporte público (os aeroportos de São Paulo não são servidos por metrô ou trem)
e conferindo diferenciais durante os deslocamentos (informações turísticas e acompa-
nhamento de guias de turismo durante os trajetos).
Recentemente, novas regras de circulação para ônibus fretados – um tipo de trans-
porte amplamente utilizado no receptivo turístico – vêm causando muitas dúvidas,
principalmente por conta da dificuldade de compreensão das especificidades do trans-
porte turístico por parte dos legisladores e agentes fiscalizadores. Além disso, as discussões
mais avançadas nos planos estadual e federal acabam por não dar a devida atenção ao
ambiente intraurbano, focando-se nas questões que envolvem o transporte intermunicipal
e interestadual de passageiros.
Desde 2009, a Lei Municipal 14.971 (e as Portarias 67/2009, 18/2011 e 127/2012)
definem parâmetros para a circulação de ônibus fretados na Capital (Zona Máxima de
Restrição de Fretamento - ZMRF), como medida para controlar congestionamentos em
certas áreas da cidade, principalmente nos horários de pico da manhã e da tarde. Assim,
as empresas de fretamento devem solicitar Autorização Especial de Trânsito (AET) em
função das rotas e dias de operação, para que possam circular na ZMRF entre as 5h00 e
as 21h00. Fora desses horários ou fora da ZMRF, a circulação de veículos fretados é livre,
respeitadas as regulamentações gerais de trânsito.
A medida não tem relação direta com o turismo, já que os principais usuários são
trabalhadores de várias partes da cidade, da região metropolitana e de municípios de
outras regiões do estado, que usam ônibus fretados para acessar seus locais de traba-
lho. Contudo, a legislação aponta uma distinção entre “transporte rotineiro” e “trans-
porte não rotineiro”, como maneira de se buscar harmonizar as várias situações previstas
nos fretamentos urbanos. O transporte não rotineiro, segundo essa lei, está voltado às
seguintes finalidades: “turismo, seminários, religião, hospedagem, cultura, esporte, lazer,
cinema, audiovisual, assembleias e reuniões de trabalhadores, estudantes e entidades
populares, entre outros” (Lei 14.971, art. 9°). Porém, ainda persistem tensões entre es-
pecificações da lei, empresas do setor (agências de receptivo e empresas de veículos
fretados) e agentes públicos a cargo da execução e fiscalização da Lei.
Dentre os principais problemas, o principal deles refere-se às particularidades do trans-
porte turístico em grandes cidades. Para se solicitar a AET – que, apesar de ser feita online,
depende de avaliação e aprovação do órgão local – é necessário que a empresa trans-
portadora apresente, dentre outras documentações, a lista de nomes dos passageiros com
antecedência, bem como os itinerários (Plano de Operação). Para cada evento, deve-se gerar
uma AET específica, o que impõe mais burocracia à operação do receptivo. Isso, por vezes,
acaba por gerar dificuldades, uma vez que são comuns atrasos de voos ou cancelamentos
de viagens (que causa alteração no grupo de passageiros). Outra dificuldade é a exigência de
informações precisas sobre local, hora e data específicos de embarque, desembarque e es-
tacionamento (que a AET não viabiliza), o que, não raro, precisa ser revisto – diferentemente
do transporte rotineiro. Não se pode desconsiderar também que as atividades de city-tour
às vezes sofrem pequenos ajustes no roteiro em função de condições climáticas ou mesmo
por entendimento entre os turistas e o guia de turismo, o que pode levar a penalidades numa
situação de fiscalização, já que a AET foi emitida em função de um Plano de Operação.
201
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
A São Paulo Turismo S/A (SPTuris), órgão oficial de turismo da cidade, vem intermediando
essas discussões desde a aprovação da lei, de maneira a buscar uma harmonização de regras e
práticas. Contudo, ao que tudo indica, ainda serão necessários ajustes na aplicação das regras,
especialmente no que diz respeito a um maior entendimento por parte dos legisladores e da
Secretaria Municipal de Transportes sobre as particularidades do transporte turístico. Ademais
do tema dos fretamentos, há ainda tensões relacionadas à regulamentação e à operação de
transportes especiais e os serviços de táxi, que incorporam outra categoria (taxistas).
Ainda que minoritário nas receitas municipais, o turismo vem se fazendo sentir de maneira
mais intensa em São Paulo, o que exige operações de transportes ajustadas ao novo cenário
(especialmente porque os deslocamentos autônomos, quando viáveis, não encontram um
cenário tão bem estruturado quanto nas metrópoles européias, por exemplo). Por outro lado,
as questões gerais do trânsito são, de fato, contundentes, já os seus ônus fazem parte da
vida de milhões de paulistanos, premissa que tende a continuar nortear as decisões técnicas
dos órgãos gestores do transporte local. Convém, portanto, a partir de agora, avançar no
entendimento sobre os rumos do turismo na cidade, entendendo-o de maneira articulada
à realidade urbana presente e futura, inclusive no que tange aos transportes turísticos.
202
Capítulo 7 [Transporte Terrestre e Destinos Turísticos]
203
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
7.5. CONCLUSÕES
Este capítulo abordou como uma série de aspectos relacionados aos modos ferroviário e
rodoviário podem influenciar no desenvolvimento de destinos turísticos. Num primeiro mo-
mento, foi possível perceber, através de dados históricos, a importância da Revolução Industrial
para os avanços tecnológicos dos transportes que influenciaram o desenvolvimento do turismo.
Particularmente, a popularização do automóvel e o uso do ônibus em larga escala im-
plicaram no declínio do modo ferroviário em alguns países, inclusive no Brasil. Do lado dos
transportes rodoviários, a importância do mercado de locação de veículos para o desenvol-
vimento de destinos turísticos foi analisada a partir da realidade nacional e internacional.
No estudo específico sobre a realocação de frotas na Nova Zelândia ficou evidente como
os destinos turísticos dependem da locação de veículos para o seu desenvolvimento. No
tratamento do modo ferroviário evidenciou-se que existe uma série de particularidades ao
se decidir sobre o melhor tipo de projeto ferroviário (trem de aeroporto, trem regional de
passageiro e trem turístico) a ser implementado envolvendo destinos turísticos.
Este capítulo finaliza trazendo contribuições sobre a realidade brasileira na última
década e explora as tendências para os modos terrestres (rodoviário e ferroviário) na
retomada ao planejamento estratégico de longo prazo abordadas na Seção 3.3 deste livro.
EXERCÍCIOS
1. Cite duas características de cada um dos modos de transportes terrestres (ferroviário)
e (rodoviário) e explique como esses modos influenciam no desenvolvimento de des-
tinos turísticos.
2. O que é serviço porta a porta? Explique sua importância para o desenvolvimento
de destinos turísticos.
3. Qual a importância dos trens de alta velocidade para o desenvolvimento de destinos
turísticos?
4. Elabore um texto dissertativo relacionando os seguintes conceitos: “locação de veícu-
los”, “trem de aeroporto”, “destinos turísticos” e “Brasil”.
5. Qual a importância do desenvolvimento de intermodalidade aeroferroviária para
o desenvolvimento de destinos turísticos?
204
Capítulo 7 [Transporte Terrestre e Destinos Turísticos]
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211
CAPÍTULO 8
Tendências
para os transportes
e destinos turísticos
8.1. INTRODUÇÃO
Após a exposição de grande parte das interações e inquietações que envolvem tratar
da relação entre transportes e turismo, é essencial pensar nas perspectivas futuras. Sendo
assim, nada melhor do que concluir esta obra abordando as tendências dos transportes para
o turismo. Este capítulo foi dividido de forma a abranger as tendências de acordo com três
óticas distintas: a pesquisa científica, o mercado e a educação em transportes e turismo.
Inicialmente faz-se uma análise sobre os desafios e as tendências da pesquisa científica
em transportes e turismo, em que é possível perceber que até os dias de hoje ainda
há muito o que avançar em termos científicos sobre essa interface. Grande parte dos
213
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
214
Capítulo 8 [Tendências para os transportes e destinos turísticos]
Glauber Santos e Thiago Allis, a partir da identificação do estado da arte dos transportes
turísticos nas revistas científicas nacionais (ver Capítulo 2), ficou nítido que a maioria dos
estudos publicados sobre a temática nas duas últimas décadas no Brasil ainda seguem as
tendências explicadas por Palhares (2003).
Especialmente sobre o Brasil, o estágio de desenvolvimento de pesquisas científicas
sobre a temática pode estar associado a outros elementos, como por exemplo a escassez
de programas de pós-graduação strictu senso (mestrados e doutorados) que apresentem
interesse e produção científica focada na interface entre transporte e turismo. Assim,
se o objetivo é o aprofundamento das pesquisas científicas iniciadas na graduação, ao
término desta, pode existir uma incógnita sobre qual caminho seguir na pós-graduação.
Por outro lado, um bom exemplo sobre o fortalecimento das discussões e produção
científica a respeito dos transportes e o turismo em âmbito nacional é a criação de Grupos
de Pesquisa sobre o tema registrados nos Diretórios de Grupos de Pesquisa (DGP) do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Por exemplo,
em 2009, foi registrado o Grupo de Pesquisa Transportes e o Turismo (GPTT), certificado
pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). No início de 2013, havia
quatorze integrantes, incluindo nove pesquisadores e cinco estudantes. Já o Grupo de Pes-
quisa Transportes, Turismo e Desenvolvimento Econômico, certificado pela Universidade
de Brasília (UnB), foi criado em 2010. De acordo com dados do Diretório de Pesquisas do
CNPq, esse grupo representa a abertura de uma linha de pesquisa envolvendo o Centro
de Excelência em Turismo (CET) e o Programa de Pós-graduação em Transportes (PPGT)
da UnB.
Com objetivo de ilustrar os debates realizados por pesquisadores, a seguir é apresen-
tado o início de uma discussão teórica realizada por três pesquisadores que fazem parte
do GPTT, sendo um deles coautora deste livro.
216
Capítulo 8 [Tendências para os transportes e destinos turísticos]
217
[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
onde fazendas locais passaram a acolher os viajantes para passar um dia no campo, ofere-
cendo-lhes pernoites e atividades relacionadas ao cotidiano no meio rural (SALLES, 2003).
Por fim, observou-se que, em 1990, o número de trabalhadores ocupados em atividades
não agrícolas nos campos cresceu 2,5% ao ano, enquanto a população economicamente
ativa relacionada às atividades agrícolas caiu 2,2% (GRAZZIANO, 1997). Assim, foi pos-
sível compreender a complexidade do turismo rural frente a área de estudo: Vale do Café.
Eixo 2 – Transportes, turismo, desenvolvimento e sustentabilidade
Devido a escassez de pesquisas realizadas no Brasil sobre a interface (ver Capítulo 2),
foi possível descobrir alguns estudos internacionais (HOYER, 2000; DICKINSON e DIC-
KINSON, 2006; MING SU e WALL, 2009; LOHMANN e STANFORD, 2012) que podem
servir de base teórica para a construção de perguntas norteadoras para a elaboração de
futuras pesquisas sobre os transportes terrestres e o desenvolvimento do turismo rural de
maneira sustentável no Vale do Café. Por exemplo, Lohmann e Stanford (2012) analisam
uma série de experiências reais em diferentes escalas e morfologias de destinos turísticos.
A análise sobre regiões montanhosas e rurais traz uma série de subsídios para se construir
perguntas sobre o papel dos transportes terrestres para o desenvolvimento sustentável do
turismo rural no Vale do Café. Com base nesses estudos voltou-se o olhar para o Vale do
Café e iniciaram-se as discussões que são narradas a seguir.
A construção de perguntas norteadoras
A partir dos debates teóricos iniciais (ver eixos 1 e 2), se focou na questão específica dos
transportes, para se discutir turismo e sustentabilidade no Vale do Café. Assim, num primeiro
momento, foi identificado o seguinte: atualmente, o acesso ao Vale do Café por via terrestre
pode ser realizado de duas maneiras: (1) por meio da rodovia RJ-127, normalmente a mais
utilizada por turistas da capital, BR-116 e RJ-145; (2) através de trens urbanos (operado pela
empresa Supervia) que atendem à Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) através
do ramal Central do Brasil-Japeri que se interliga com o ramal Japeri-Paracambi.
A partir desse cenário de oferta de transportes terrestres (ver Capítulo 7) ao Vale do
Café e, com base em Lohmann e Stanford (2012), se observa que existem alguns fatores
específicos que influenciam na escolha do modo de transporte a ser utilizado para o
deslocamento turístico até áreas montanhosas e rurais: (a) geralmente o público-alvo do
turismo em ambientes rurais é interessado em atividades recreativas, o que pode exigir
o transporte de objetos volumosos e equipamentos de camping, pesca e montanhismo,
sendo necessário que os transportes estejam adaptados para isso; (b) grande parte dos
destinos em ambientes rurais são isolados das rotas de transportes público (vide o aces-
so ferroviário descrito anteriormente), o que pode forçar o uso do carro particular; (c)
a propensão à sazonalidade nos destinos turísticos em áreas rurais pode levar na alta
temporada a dificuldade de se controlar a poluição (ar, visual e auditiva) provocada por
veículos automotores; podem ocorrer atrasos nos serviços regulares de ônibus, prejudi-
cando os deslocamentos a serem realizados pela população local; pode ocorrer a falta
de estacionamento, gerando uma desordem espacial. Todas essas questões merecem
218
Capítulo 8 [Tendências para os transportes e destinos turísticos]
ser cuidadosamente analisadas no Vale do Café. A seguir são detalhados como outros
estudos servem de base para que se desenvolvam perguntas iniciais sobre esta complexa
realidade que é a relação entre turismo em ambiente rural, transportes e sustentabilidade.
Dickinson e Dickinson (2006) fizeram um estudo com foco em destinos turísticos do
Reino Unido que pode ser útil para se analisarem algumas dimensões do Vale do Café.
Utilizando-se do aporte teórico sobre representação social, eles analisaram como as re-
presentações de transportes e turismo são criadas e como isso afeta o desenvolvimento sus-
tentável entre transportes e destinos turísticos em áreas rurais. Voltando o olhar para o Vale
do Café, um dos elementos turísticos, que faz parte do imaginário de viagens, é o transporte
ferroviário, em especial a maria-fumaça e a nostalgia dos tempos áureos do café. Então, com
base em Dickinson e Dickinson (2006), pode-se ponderar: “Qual tipo de projeto ferroviário
(trens turísticos/trens regionais de passageiros) poderia contribuir para o desenvolvimento
sustentável dos destinos turísticos no Vale do Café?” (ver Capítulo 7, em especial a Seção 7.4
sobre transportes terrestres no Brasil entre os anos 2000 e início de 2013).
Outra análise foi a respeito do estudo desenvolvido por Ming Su e Wall (2009) sobre
como o turismo no Tibet, impulsionado pela abertura da ferrovia Qinghai-Tibet. A inau-
guração dessa ferrovia proporcionou maior acessibilidade a esse destino turístico. Esses
autores analisaram a importância relativa da viagem de trem, em comparação com a
experiência global da viagem. Foram aplicados 187 questionários junto aos viajantes, dos
quais 82 no período pré-viagem e 105 no período pós-viagem. Assim, se fez a seguinte
pergunta sobre o Vale do Café: “A implantação de um trem turístico poderia tornar a
experiência individual nos destinos turísticos do Vale do Café mais integradas entre si?”
Foi identificado também que na literatura sobre transportes, turismo e sustentabilidade
existem alguns impasses sobre planejamento e gestão dos transportes relacionado ao
desenvolvimento sustentável. Hoyer (2000) destaca que o turismo sustentável deve ser
ligado a um conceito de mobilidade sustentável. Essa mobilidade implica não só uma
mudança nos meios de transporte, mas também um nível reduzido de mobilidade. A partir
disso, foi elaborado a seguinte pergunta: “Qual é o impacto ambiental que o provimento
de maior acessibilidade pode gerar no Vale do Café?”.
Longe de responder as questões levantadas, o objetivo dos autores aqui é suscitar
o debate entre os pesquisadores a fim de contribuir para a construção de perguntas
norteadoras, e como que essas indagações podem colaborar para que novas pesquisas
científicas sejam iniciadas.
Figura 8.1 — Ônibus double-deck oferecendo serviço executivo (piso superior) e leito
(piso inferior) (Fonte: foto cortesia de Rafael Castro)
jogos. A segmentação está presente até mesmo no slogan do iDTGV: choisissez avec qui
vous voyagez ou “escolha com quem você viaja”.
Nos cruzeiros marítimos a segmentação também acontece quando as empresas arma-
doras oferecem dentro de um mesmo navio inúmeros tipos de cabines: internas, externas,
externas com varanda e suítes presidenciais. A faixa etária é um elemento importante
na segmentação dos navios. Alguns, por exemplo, não recebem passageiros menores de
18 anos. Já outros, como os navios da Disney Cruise Line, são totalmente voltados para
as famílias e oferecem atividades tanto para as crianças quanto para os adultos. Outra
opção bastante comum de segmentação no modo aquaviário são os cruzeiros temáticos
que procuram agrupar grupos de hóspedes com comportamentos e gostos semelhantes
atingindo então públicos bastante específicos. Alguns exemplos são os cruzeiros GLBT
(gays, lésbicas, bissexuais e transexuais), os cruzeiros para solteiros, cruzeiros sobre vinhos,
de música eletrônica, dentre muitos outros.
Tabela 8.1 — Exemplos de tarifas cobradas por empresas aéreas low cost/low fare
em 2013
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[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
Tendo em vista tamanha diminuição das tarifas do transporte aéreo, o mesmo passou a
competir com os modos rodoviário e ferroviário em determinadas ligações que tiveram de
passar por momentos de reflexão sobre as suas tarifas e serviços prestados aos passageiros.
É o caso do trecho Rio de Janeiro–São Paulo, por exemplo. Com as companhias aéreas
fazendo constantes promoções, as empresas de transporte rodoviário que operam o mesmo
trecho tiveram de se adaptar para convencer o cliente a passar 6 horas dentro do ônibus em
vez de 50 minutos dentro do avião. Sendo assim, atualmente elas fazem promoções para os
seus clientes com opções de financiamento e têm investido constantemente na renovação da
sua frota e na implantação de diferenciais bastante competitivos. Os ônibus hoje são muito
mais confortáveis e oferecem até mesmo serviço de entretenimento. Na Expresso Brasileiro,
o passageiro que opta pela primeira classe tem à sua disposição sistema de vídeo individual
e fones de ouvido, canais de filmes, shows e músicas, como nas aeronaves.
Sabe-se que o transporte ferroviário não apresenta grande expressividade no panorama
brasileiro, mas são imprescindíveis para o deslocamento de pessoas entre cidades e
países em outros lugares, como na Europa (ver Capítulo 7). Com o desenvolvimento da
tecnologia dos trens de alta velocidade, o modo ferroviário passou a concorrer fortemente
com o aéreo, uma vez que o tempo de viagem diminuiu consideravelmente. Uma das
grandes vantagens dos trens é o embarque e desembarque em estações localizadas em
áreas centrais das cidades, ao contrário dos aeroportos, que usualmente estão mais afas-
tados. Por isso, os trens acabam sendo a preferência de muitos passageiros, ainda mais
para aqueles que sofrem do pânico de voar. A Tabela 8.2 traz um comparativo entre os
modos aéreo e rodoviário no trecho Paris – Londres.
Tabela 8.2 — Comparativo entre os modos aéreo e rodoviário no trecho Paris – Londres
com dados de 2013
MODO AÉREO
Origem Distância Destino Distância Tempo de Voo Tarifa Média
do Centro do centro
de Paris de Londres
Paris – Charles 28 km Londres – 55 km 1 h15 min 40 euros
de Gaulle Luton (EasyJet)
MODO FERROVIÁRIO
Origem Distância Destino Distância Tempo Tarifa Média
do Centro do centro de Viagem
de Paris de Londres
Paris – Gare 3,5 km Londres – 3,7 km 2h25min 70 euros
du Nord St. Pancras (Eurostar)
Fonte: EasyJet (2013); Eurostar (2013)
o fato de que para voos internacionais o passageiro deve chegar ao aeroporto com no
mínimo 2 horas de antecedência para embarcar e nos trens basta chegar 1 hora antes
da partida. Essa análise pode obter resultados diferentes de acordo com o público pes-
quisado, entretanto é essencial perceber que a competitividade de fato existe.
Para o desenvolvimento e a consolidação dos destinos turísticos essa concorrência
entre os modos é essencial. O destino atendido por vários modos de transportes oferece
aos turistas maiores possibilidades de escolha que poderão levar em conta inúmeras
variáveis como a tarifa, o conforto, o tempo de viagem, etc., aumentando ainda a sua
acessibilidade.
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Capítulo 8 [Tendências para os transportes e destinos turísticos]
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[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
Figura 8.3 — O Prof. Guilherme Lohmann, no centro, juntamente com alunos da TIM/UHM
(foto acima) e da STHM/SCU (foto abaixo) (Fonte: fotos cortesia de Guilherme
Lohmann)
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Capítulo 8 [Tendências para os transportes e destinos turísticos]
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Capítulo 8 [Tendências para os transportes e destinos turísticos]
Figura 8.4 — Exemplos de telas do AIRLINE Online (Fonte: fotos cortesia de Guilherme
Lohmann)
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ambiente da simulação a cada nova semana, como por exemplo o aumento da querosene
de aviação ou o fechamento/diminuição da demanda de um aeroporto em particular.
Com a simulação funcionando por seis semanas do semestre letivo, as empresas têm a
chance de operar no que seria o equivalente a um ano e meio. Cinco avaliações estavam
relacionadas com a simulação: (1) apresentação em PowerPoint do plano de negócios da
empresa aérea; (2) relatório anual no final da simulação; (3) elaboração de uma resenha
individual de 200 palavras a cada semana descrevendo as principais tomadas de decisão;
(4) avaliação individual de cada aluno sobre o grupo e sobre a sua própria participação;
e (5) o lucro operacional final da empresa.
Em relação ao feedback dos alunos com relação ao uso da simulação, os seguintes
testemunhos foram obtidos em uma pesquisa junto aos alunos. Na sequência faço alguns
comentários:
Se, por um lado, os alunos parecem concordar com o que foi descrito pela literatura
sobre o uso de simulação, é indubitável que eles tiveram de dedicar à simulação muito
mais horas por semana do que estavam acostumados a fazer em outras disciplinas. Outros
alunos tiveram dificuldade em compreender o funcionamento da simulação, notadamente
aqueles de origem asiática que estão mais acostumados com formas tradicionais de
avaliação. Para minha surpresa, três alunos trancaram a disciplina logo no começo do
semestre por não quererem se expor a um tipo de avaliação fora do que estavam acos-
tumados. Outra surpresa que tive, considerando que quase todos os alunos eram jovens
e que cresceram com acesso a internet, foi a dificuldade que tiveram de trabalhar em
equipe de forma à distância.
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Capítulo 8 [Tendências para os transportes e destinos turísticos]
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Figura 8.5 — Alunos da SCU com a Sra. Martina Lamonte, gerente de receitas da P&O
após uma das palestras (foto acima); visita à cozinha do navio guiada pelo chef Marc
Dumas (foto abaixo), novembro de 2012 (Fonte: fotos cortesia de Guilherme Lohmann)
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Capítulo 8 [Tendências para os transportes e destinos turísticos]
No que diz respeito à avaliação dos alunos em relação à visita de campo, obtivemos
os seguintes testemunhos. Na sequencia faço alguns comentários.
A minha reflexão sobre a visita de campo foi que ela obteve vários resultados, confir-
mando alguns obtidos por pesquisas efetuadas com alunos de turismo que participaram
de visitas de campo (WONG e WONG, 2009):
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[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
CECIERJ/Consórcio CEDERJ/UNIRIO).
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Capítulo 8 [Tendências para os transportes e destinos turísticos]
Figura 8.6 — Alunos da SCU no píer da piscina participando de uma das festas a bordo
do Pacific Dawn (foto acima); grupo de alunos do campus Coffs Harbour (foto abaixo),
novembro de 2012 (Fonte: fotos cortesia de Guilherme Lohmann)
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[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
escritos à mão, e por isso caríssimos, se tornassem mais acessíveis e populares. Assim era
possível ler o conteúdo da aula em casa (ver ALVES, 1994).
Existe um consenso entre os pesquisadores de EAD que as fases históricas desta se
relacionam não só com as demandas educativas da sociedade, mas também com os
recursos técnológicos disponíveis. Por exemplo, o uso de textos escritos enviados por
correios; o posterior uso de recursos como rádio e televisão (décadas de 1960/1970)
antecedem o uso e a popularização do computador e marcam fases importantes do
desenvolvimento da EAD. Assim, é possível afirmar que a popularização do computador
e da rede mundial de computadores, através da Internet, foi um avanço significativo para
a educação a distância. A seguir, Peña (2010) demostra as mídias e suportes que são
incorporados à EAD (Tabela 8.3):
MÍDIAS SUPORTES
impressa telefone
e-learning professor presencial
CD-room professor on line
vídeo e-mail
TV fax
rádio carta
outros reunião presencial ou virtual
Fonte: elaborado pela autora com base em Peña (2010).
Gráfico 8.1 — Número de vagas ofertadas em cursos de turismo e áreas afins ao turismo
(a distância) no ano de 2009
(Fonte: elaborado pela autora a partir de MATIAS (2012), com base na Sinopse Estatística
e Microdados do Censo da Educação Superior/MEC/INEP/DEED/IF CEFET de 1995 a 2009.
trabalho e pesquisa científica sobre transportes e turismo. Nesses materiais didáticos foi
possível criar uma estrutura repleta de ligações com outros materiais, como por exemplo
indicação de livro, artigo científico, outra aula dessa disciplina ou de outras disciplinas
do Curso, vídeos disponíveis na internet etc. Outro destaque é que as atividades propos-
tas e as respostas comentadas levam o aluno a se colocar frente a frente com desafios
teóricos e práticos de maneira divertida. Nessas atividades são sugeridas simulações,
como: “Vamos considerar uma situação hipotética, mas com base em dados reais para
resolução do desafio proposto: Você foi convidado para ministrar uma aula (...)/para atuar
como consultor (...) etc. envolvendo os temas relacionados aos transportes turísticos”.
Tutoria: O professor tutor é um educador que deve estar imerso no processo de
acompanhamento, avaliação das relações de ensino-aprendizagem e gestão educacional.
Assim, ele é um elo fundamental entre os alunos e a instituição. A capacidade para atuar
como mediador utilizando as mídias e suportes da EAD (ver Tabela 8.3) é fundamental.
Assim, o primeiro tutor à distância, também coautor deste livro, Rafael Castro, buscou
empreender uma série de atividades que facilitou a quebra das barreiras temporais e es-
paciais junto aos alunos. Dentre elas, destacam-se:
(a) A criação de um ambiente virtual de aprendizagem agradável e didático, no qual
o tutor à distância criou uma série de teasers (do verbo “provocar” em inglês) para atrair
a atenção dos alunos sobre a importância da leitura do material didático. Por exemplo,
foram disponibilizados links com vídeos sobre assuntos relacionados aos transportes e
turismo que remetiam a temas abordados nas aulas, instigando, assim, o aluno a procurar
o que estava sendo dito no vídeo na aula e vice-versa.
(b) A visitação aos variados polos para conhecer os alunos e a realidade destes foi
um grande diferencial para o avanço do processo de tutoria, pois foi possível discutir
como os transportes influenciavam o turismo a partir de exemplos cotidianos dos alunos.
Nessas ocasiões foram coletados dados sobre o que de fato estava dando certo e o que
deveria ser melhorado, o que foi essencial para o aperfeiçoamento do trabalho de tutoria
e coordenação da disciplina.
Plataforma: O ambiente virtual de aprendizagem depende muito do tipo de plataforma
utilizada. Assim, algumas tecnologias da informação e comunicação (TICs) podem ser
exploradas em maior ou menor grau. Um grande destaque da plataforma utilizada nessa
experiência é a possibilidade de diálogo constante entre tutor, coordenador e os alunos.
Assim, dentre todas as ferramentas disponíveis, uma apresenta grande destaque: os fóruns
de discussão. O avanço na interatividade e na produção de conhecimento de maneira
coletiva dependem decisivamente da abordagem que é feita no fórum pelo tutor e o
coordenador. Sendo assim, buscou-se criar fóruns dialogados com o material didático
e com a sala de aula virtual. Os teasers propostos pelo tutor ora eram colocados na sala
de aula virtual e ora nos fóruns. Logo, o acompanhamento diário da plataforma se mostrou
essencial para se alcançarem os resultados desejados, ou seja, o ensino-aprendizagem
de alta performance.
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Capítulo 8 [Tendências para os transportes e destinos turísticos]
8.5. CONCLUSÕES
Este capítulo final se propôs a fazer uma abordagem relacionada às tendências dos
transportes para o turismo no que diz respeito a pesquisa, mercado e educação. Ficou
claro que todo o conteúdo abordado nos demais capítulos deste livro é essencial para a
formação de futuros pesquisadores que tenham interesse em tratar problemas de pesquisa
que envolvem essa fascinante relação entre transportes e turismo.
Do ponto de vista mercadológico, verificou-se a importância de as empresas de trans-
portes estarem sempre atentas às mudanças que ocorrem na sociedade por conta de
diversos fatores que acabam alterando o comportamento do consumidor, mas, sobretudo,
devem se preocupar com as transformações do sujeito enquanto turista e do mercado
turístico em si. A empresa que investir em constantes pesquisas a fim de conhecer os
mercados consumidores real e potencial e entender as suas necessidades terá grandes
vantagens competitivas frente às demais.
É interessante observar que até alguns anos atrás a disciplina “Transportes” não existia na
grade curricular dos cursos de graduação em Turismo no Brasil, e seu conteúdo era ministrado
dentro da ementa de outras disciplinas como “Agenciamento”, por exemplo. Grandes avanços
já ocorreram nesse sentido, pois hoje praticamente a totalidade dos cursos possuem pelo
menos uma disciplina exclusiva de transportes com carga horária de de pelo menos 40 horas
em seu currículo. Portanto, na questão do ensino e aprendizagem em transportes e turismo,
o que se quis mostrar é que a mesma é imprescindível para a formação do profissional em
turismo. Além disso, mostrou-se que a tecnologia também se faz presente no ambiente es-
colar e deve ser utilizada de forma a maximizar o processo de aprendizagem dos alunos.
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[Transportes e Destinos Turísticos: Planejamento e Gestão]
QUESTÕES
1. Desenvolva um roteiro de pesquisa sobre um tema relacionado a transportes e turismo
traçando o problema de pesquisa, os objetivos geral e específico e a metodologia de
trabalho.
2. Caso você tenha um perfil no Facebook ou em outra rede social na internet, faça
uma busca por páginas de empresas de transportes e desenvolva uma análise sobre
os serviços oferecidos por elas na rede social.
3. Faça uma busca na internet sobre os cruzeiros temáticos oferecidos na última temporada de
cruzeiros no Brasil e faça uma dissertação abordando o tema da segmentação de mercado.
4. Vamos considerar uma situação hipotética, na qual você precisa utilizar dados reais
para propor soluções ao desafio apresentado: Você foi convidado para ministrar uma
mini-palestra sobre as tendências dos transportes no turismo para guias de turismo e
hoteleiros em sua cidade. O tempo de duração de sua mini-palestra é de aproximada-
mente 30 minutos e você deverá organizar os slides de apresentação utilizando o seguinte
roteiro: apresentação do tema, objetivos da palestra, tendências da educação sobre trans-
portes e turismo, curiosidades, conclusões. Apresente a proposição da palestra em sala
de aula e discuta com seus colegas o que poderia ser melhorado na sua proposta.
5. A relação entre transportes e destinos turísticos está no cotidiano, inclusive na hora
do lazer. Selecione um filme que aborde um tema qualquer sobre transportes e des-
tinos turísticos. Depois faça uma releitura da parte desse livro que mais tenha ligação
com o filme e escreva uma breve redação (20 linhas) associando cenas do filme e
os aspectos teóricos observados. Peça a um colega que faça a mesma coisa, depois
troquem as suas impressões individuais sobre a redação criada por vocês.
LISTA DE REFERÊNCIAS
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assumptions for sustainable tourism. Journal of Sustainable Tourism, v.14, n.2, p. 192-208. 2006.
DREDGE, D.; BENCKENDORFF, P. et al. The philosophic practitioner and the curriculum
space. Annals of Tourism Research, v.39, n.4, p. 2154-2176. 2012.
GRAZIANO DA SILVA, J. et al. Meio rural paulista: muito além do agrícola e do agrário.
São Paulo em Perspectiva, v.10, n.2, p. 60-72. 1996.
MATIAS, M. Turismo: o ensino de graduação no Brasil. Turismo & Sociedade, v.5, n.1, p.
58-81. 2012.
MING SU, M.; WALL, G. The Qinghai–Tibet railway and Tibetan tourism: travelers’ pers-
pectives. Tourism Management, v.30, p. 650-657. 2009.
O GLOBO. American Airlines e US Airways anunciam fusão que cria a maior empresa
aérea do mundo. Rio de Janeiro: Jornal O Globo. 2013.
TRIBE, J. The philosophic practitioner. Annals of Tourism Research, v.29, n.2, p. 338-357. 2002.
WONG, A.; WONG, S. Useful practices for organizing a field trip that enhances learning.
Journal of Teaching in Travel & Tourism, v.8, n.2–3, p. 241-260. 2009.
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