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RELATÓRIO FINAL
(2014– 2015)
TÍTULO DO PROJETO DE PESQUISA:
ROTEIRO DE CHARME E DESENVOLVIMENTO DE BASE LOCAL NO
LITORAL NORTE DE ALAGOAS
Sendo uma das atividades socioeconômicas mais complexas da atualidade, o turismo pode
se desenvolver com produtos diferenciados em diferentes destinações, como é o caso da
Rota Ecológica, que se estende por três municípios do litoral norte de Alagoas, onde vem se
desenvolvendo uma oferta turística que destoa do turismo de massa tradicionalmente
presente ao longo do Pólo Turístico Costa dos Corais (PTCC). O presente estudo tem por
objetivo analisar as diferenças conceituais e empíricas por trás das ofertas turísticas do
turismo de massa do PTCC e da Rota Ecológica (RE). Para isso, foi revisada a literatura
acerca do turismo de massa e turismo alternativo, para compreender de que forma estas
duas ofertas se aproximam destas noções. Foi realizada visita a campo, levantamento de
dados socioeconômicos e de informações disponíveis nos sites de hotéis, resorts e
pousadas, sites especializados e na base de dados do Laboratório de Território, Turismo e
Desenvolvimento (LTTD). Já amplamente inserida no circuito turístico nacional e focada
na exploração do ‘turismo de sol e mar’, a oferta turística em Maragogi tem entre seus
principais atrativos suas praias movimentadas e suas famosas piscinas naturais, contando
com dois grandes resorts e uma série de hotéis e pousadas associados a esse tipo de oferta,
e um surgimento recente de algumas pousadas alternativas. Já na Rota Ecológica observou-
se uma oferta focada em pousadas semelhantes às de charme, que seguem conceitos como
bucolismo e exclusividade; destaca-se também o turismo de observação ao peixe-boi
marinho. Constatou-se neste estudo que a oferta turística da Rota Ecológica se diferencia
efetivamente da oferta presente em Maragogi, podendo-se encontrar na segunda uma
atividade turística que se alinha ao tradicional ‘turismo de sol e mar’, enquanto ao longo da
Rota Ecológica vem se desenvolvendo uma oferta personalizada, que se adéqua a critérios
pessoais do turista, distanciando-se do processo verticalizado de territorialização
empreendido pelos enclaves turísticos. Observou-se também uma diversificação da oferta
ainda incipiente em ambas as regiões, entendida como uma busca por competitividade.
O PTCC em sua maior parte encontra-se inserido na área de influência da Área de Proteção
Ambiental (APA) Costa dos Corais. Sendo uma das mais extensas e belas áreas de
conservação ambiental em todo o país, a APA Costa dos Corais abriga significativo
potencial turístico, abrangendo oito municípios do litoral norte de Alagoas, a saber:
Paripueira, Barra de Santo Antônio, Passo de Camaragibe, São Miguel dos Milagres, Porto
de Pedras, Japaratinga, Porto Calvo e Maragogi e parte do litoral sul de Pernambuco
(Figura 1), Microrregião do Litoral Norte Alagoano. Ao longo de seus mais de 130
quilômetros de extensão, a Costa dos Corais é contemplada com paisagens atrativas, com
destaque para seus recifes de corais, praias, manguezais e piscinas naturais, além de sua
gastronomia, que a tornam potencialmente interessante ao desenvolvimento turístico no
GERAL:
Analisar as diferenças conceituais e empíricas por trás das ofertas turísticas do turismo de
massa e do turismo das pousadas de charme no Litoral Norte de Alagoas.
ESPECÍFICOS:
1. Entender as diferenças entre turismo de massa e turismo alternativo;
2. Compreender a natureza da oferta turística de Maragogi e da Rota Ecológica;
3. Compreender as diferenças conceituais e empíricas entre esses dois tipos de oferta
turística.
Foi realizada uma revisão da literatura com base em periódicos científicos em língua
portuguesa relacionados a turismo mais bem avaliados pela Capes, bem como de livros
disponíveis no LTTD.
Turismo de massa
Diversos autores apontam para consequências negativas do turismo dito de massa. Segundo
Ruschmann (apud NASCIMENTO; SILVA, 2009, p. 106), o turismo de massa é
caracterizado pelo número elevado de pessoas que viajam em grupo ou individualmente
para os mesmos lugares, geralmente na mesma época do ano. Essa atividade de massa
acaba sendo responsável por grandes impactos ambientais, devido à elevada concentração
de turistas em uma determinada localidade, podendo causar danos como a alteração de
ecossistemas. Fennell (apud op. cit., p. 107) mostra que esta forma moderna de turismo
(turismo de massa) costuma dominar a atividade turística de uma região e, devido ao fato
de os lucros financeiros não permanecerem na região receptora, ou seja, na qual os lucros
são gerados, esta forma de turismo acaba contribuindo pouco para o desenvolvimento local.
Dessa forma
Aragão destaca que “[...] o turismo fordista é baseado em enclaves, grandes construções
completamente descoladas da paisagem e realidade local, e que, na maioria das vezes se
constituem em áreas de diferenças, onde o social local apresenta-se como um problema
inevitável [...] ” (1999, p. 39). Como exemplo desse modelo de enclave turístico, Rodrigues
(apud NEVES, 2008, p. 32) cita o resort Hyatt Regency Waikaloa, no Havaí, um enorme
Assim, este modelo de turismo encontra-se em conformidade com o que Santos (2001)
denomina verticalidades, pois esses enclaves se caracterizam como pontos estranhos à
localidade em que se inserem, estando indiferentes ao seu entorno, pois seus centros de
decisões estão em outras partes do globo, nos grupos multinacionais que os gerem, no que o
mencionado autor afirma serem pontos adequados às tarefas produtivas hegemônicas (p.
106).
Turismo alternativo
Mudanças sociais ocorridas nas últimas décadas, juntamente com novas preocupações –
como a questão ambiental –, levaram ao desenvolvimento de novas exigências direcionadas
à satisfação de necessidades que contrastam com o trabalho diário e a vida quotidiana,
alterando assim o padrão de consumo e originando novas formas e experiências turísticas
(PIRES, 2004; GRIMM; SAMPAIO, 2011). Conforme Pires,
[...] são atividades como o contato com a Natureza, com o patrimônio cultural, a
aventura, a descoberta, as relações interpessoais, o descanso, a leitura, a
gastronomia, etc. Além disso, importa referir que esses produtos passaram a ser
concebidos de forma quase personalizada, adequando-se à procura individual,
tomando a forma de “solução turística” em detrimento ao tradicional produto
turístico. Esse conceito de solução tem a finalidade de reduzir a conotação de
estandardização intrínseca ao turismo produto, adaptando-se melhor a realidade
vigente” (2004, p. 46).
Aragão (1999) aponta que, enquanto mercadoria, a atividade turística teve que criar novas
ofertas para poder adaptar-se aos novos tipos de exigências, com a qualidade e
diferenciação tornando-se elementos de competitividade. Assim,
Turismo e território
Levando em conta a noção geográfica de território, entendido como uma porção do espaço
dominado e transformado pelas relações de poder entre determinados agentes sociais, que
lhe atribuem valor simbólico (HAESBAERT; LIMONAD, 2007), podemos entender o
turismo como uma prática socioespacial que se apropria do território e produz novas
territorialidades, atribuindo a um determinado recorte espacial novos valores e significados
(FRATUCCI, 2000).
Acerca do papel de transformação territorial que o turismo tem, Coriolano afirma que o
turismo
Coriolano (op. cit.) ainda ressalta que o processo de territorialização empreendido pelos
grandes grupos econômicos ligados ao turismo é um movimento verticalizado de produção
do espaço, visto que estes grupos, como as cadeias de hotéis e restaurantes, funcionam
como empresas-rede, transferindo para seus parceiros locais – visto que utilizam o regime
de franquias – todo o peso dos investimentos em novos empreendimentos, assim como o
papel de absorver a força de trabalho com baixa remuneração; esses grandes grupos são os
macroatores, os agentes que de fora da área determinam as modalidades internas de ação
em cada ponto da rede, aos quais “[...] cabe direta ou indiretamente a tarefa de organizar o
trabalho de todos os outros, os quais de uma forma ou de outra dependem da sua regulação”
(SANTOS, 2001, p. 106). No entanto, Coriolano aponta que este processo, que busca
sempre a ampliação dos lucros, reforça conflitos e produz resistências no território por parte
de outros atores sociais, surgindo desses conflitos novas formas alternativas de turismo,
empreendidas muitas vezes pelos grupos excluídos pela dominação hegemônica das
grandes transnacionais.
Maragogi
Contando com resorts como o Grand Oca e o Salinas do Maragogi – que possuem,
respectivamente, 236 e 229 Unidades Habitacionais (UHs) –, a oferta turística, que de
acordo com Beni (apud OLIVEIRA; SOUZA, 2012, p. 3) é constituída pelo conjunto de
bens e de serviços que são oferecidos ao consumo do turista, foca no denominado ‘turismo
de sol e mar’, que, de acordo com o Ministério do Turismo “[...] constitui-se das atividades
turísticas relacionadas à recreação, entretenimento ou descanso em praias, em função da
presença conjunta de água, sol e calor” (BRASIL, 2007). Focada na exploração das belezas
naturais do litoral, o turismo em Maragogi apresenta além dos resorts, mais de trinta hotéis
e pousadas (com um deles, o Hotel Praia Dourada, possuindo mais de 130 UHs). Os
atrativos da região, propagados pelo marketing turístico, focam nas praias mais
movimentadas do município, tendo a visitação às galés – famosos recifes de corais que
formam piscinas naturais, localizados a aproximadamente seis quilômetros da praia– como
um dos principais atrativos da região (Figura 3). As galés podem ser alcançadas por lanchas
ou catamarãs, durante a maré baixa, quando a profundidade é menor varia de meio metro a
Além dos mencionados atrativos, Maragogi possui também localidades mais afastadas e
menos povoadas ao longo do seu litoral, como as praias de Antunes e Ponta do Mangue,
localizadas ao norte da sede administrativa do município (cidade de Maragogi), e a pequena
Croa de São Bento, que aparece apenas durante a maré baixa, formando uma praia
temporária a aproximadamente dez minutos de jangada da praia (FREIRE, 2013). No litoral
sul do município, ficam algumas pousadas que se assemelham às encontradas ao longo da
RE, sendo a mais famosa a Camurim Grande, localizada em uma península entre o rio
Maragogi e o Oceano Atlântico – curiosamente localizada ao lado do maior resort da
Rota Ecológica
A oferta turística existente ao longo da Costa dos Corais em Alagoas está em expansão,
com serviços cada vez mais diversificados ao longo dos municípios que a compõem. O já
tradicional ‘turismo de sol e mar’ que se consolidou em Maragogi, e outras partes do litoral
Norte, tem dividido o espaço com formas que lhe são alternativas, formas essas que se
baseiam em visões de mundo distintas à visão estandardizada e predatória que tem sido
uma marca relativamente ubíqua do turismo de massa.
No entanto, pôde-se observar o início de uma diversificação, ainda que incipiente, da oferta
turística, tanto em Maragogi quanto na Rota Ecológica. Foi constatada pela pesquisa o
surgimento recente de atividades alternativas de turismo dentro do próprio território
dominado pelo ‘turismo de sol e mar’, dos resorts e grandes hotéis, normalmente
associadas a partes do município localizadas muito além dos limites imediatos dos resorts e
hotéis; notou-se o surgimento de pousadas semelhantes às da Rota Ecológica, com destaque
para a Camurim Grande, que ingressou recentemente na Associação de Hotéis Roteiros de
Charme. Enquanto na Rota Ecológica observou-se a abertura de um hotel com número de
UHs bem acima do que costumeiramente se encontra ao longo das pousadas de charme;
podendo-se entender ambos os casos como uma busca pela competitividade por meio da
diversificação da oferta.
Meses
ATIVIDADES 2014 2015
AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MA ABR MAI JUN JUL
R
Atividade 1 x x x x x x x x x
Atividade 2 x x x x x
Atividade 3 x x x x x
Atividade 4 x
Atividade 5 x x x x
Atividade 6 x x x
Atividade 7 x