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I) Relações de coerência
O conceito de coerência é bastante abstrato porque essa é uma característica que não pode ser
atribuída apenas aos elementos linguísticos. Na verdade, a coerência é uma espécie de “lógica” do texto; é
o que dá textualidade a um determinado material escrito, ou seja, o que faz com que um conjunto de frases,
um encadeamento de ideias seja reconhecido como texto.
Didaticamente, pode-se verificar a coerência de um texto através de alguns tipos de relações que
se estabelecem entre suas partes, como: a) o reconhecimento da ideia principal e dos detalhes que dão
sustentação à ideia principal; b) o estabelecimento das relações de causa e efeito explicitadas no texto; c) a
identificação da sequência temporal; d) a identificação da sequência espacial, dentre outros fatores.
Observemos quão rica pode ser a abordagem da compreensão literal em sala de aula.
Nesse pequeno trecho, existem 10 informações: uma que é básica e as demais que explicitam
aspectos específicos da básica e lhe dão maior credibilidade. Qual seria a informação principal?
Certamente a de número 1. Vale observar que todas as outras vêm reforçar a afirmação de que este
Informe pretende divulgar o cenário epidemiológico e a distribuição espacial e temporal da COVID-19 em
Fortaleza. O autor, para assegurar a clareza da informação 1, insere as demais. Observe que todas as
informações inseridas acrescentam um detalhe que alimenta o alcance do objetivo do texto.
Atividades de redução (retirada das informações secundárias) e de encaixe (introdução das
informações secundárias) são de grande valor para desenvolver nos alunos a habilidade de distinguir o
que é essencial do que é secundário. Isso, naturalmente, ajudará os alunos na produção de resumos e
esquemas, enfim, na compreensão do texto.
Não há como negar que os textos expositivos e argumentativos se prestam melhor para esse
tipo de atividade. Geralmente os parágrafos dissertativos são formados por uma idéia básica e outras
secundárias. A escolha do texto, claro, é um ponto importante a ser observado pelo professor quando ele
pretende desenvolver habilidades leitoras específicas no seu aluno.
Vejamos outro exemplo.
Pensemos em que perguntas o professor poderá fazer, para que os alunos percebam a relação
causa/efeito:
§ Quais as causas apontadas no texto, para o crescimento do turismo no Brasil?
§ Em que medida feriados contribuem para o crescimento do turismo no Brasil?
§ O querosene usado na aviação sofre alta de preço. Qual a consequência disso para o
turismo no Brasil?
Vale destacar que as relações de causa e efeito são geralmente encontradas em textos
expositivos, argumentativos e, em alguns casos, narrativos. Estes últimos também são promissores para
que sejam trabalhadas as sequências temporal e espacial. Enfim, reforçamos: uma tarefa crucial do
professor é escolher textos que lhe permitam desenvolver as diversas habilidades leitoras de seus
alunos.
Perceber a ordem em que ocorrem os fatos e a sequência das ações nas narrativas, por
exemplo, são habilidades que demonstram compreensão, por parte do leitor. Através de atividades de
reestruturação de textos, os alunos poderão desenvolver estratégias que favoreçam a aquisição dessas
habilidades. O professor poderá recortar o texto e pedir que os alunos façam a remontagem ou, ainda,
escrevendo as partes em faixas de cartolina, que poderão ser distribuídas com a turma e organizadas em
um painel, na parede da sala.
dessa discussão, eles observarão que recursos o leitor costuma usar para perceber a organização de um
texto e passarão a monitorar a própria leitura, o que certamente os fará progredir em termos de
compreensão leitora.
Como defendemos que entre autor e leitor existe uma espécie de “pacto”, ou seja o autor
escreve e se utiliza de determinados recursos a fim de tornar o texto legível, o leitor, por sua vez, procura
apreender esses recursos, para construir de forma mais fiel o sentido do texto.
Em trechos descritivos, a sequência espacial se constitui um dos recursos importantes para a
compreensão, uma vez que ajuda o leitor a ir construindo em sua mente o “retrato” que o autor “pintou”,
através das palavras.
Vejamos exemplos de descrições com orientação espacial variada nos textos elaborados para
este material. O professor poderá criar seus textos e, claro, poderá também usar textos publicados que
tenham a orientação a ser explorada.
Questão
A história do futebol brasileiro contém, ao longo de um século, registros de episódios
racistas. Eis o paradoxo: se, de um lado a atividade futebolística era depreciada aos olhos
da “boa sociedade” como profissão destinada aos pobres, negros e marginais, de outro,
achava-se investida do poder de reapresentar e projetar a nação em escala mundial. A Copa
do Mundo no Brasil, em 1950, viria a se constituir nesse sentido, em uma rara oportunidade.
Contudo, na decisão contra o Uruguai sobreveio o inesperado revés. As crônicas esportivas
elegiam o goleiro Barbosa e o defensor Bigode como bodes expiatórios, “descarregando nas
costas” dos jogadores os “prejuízos” da derrota. Uma chibata moral, eis a sentença proferida
pelo tribunal dos brancos. Nos anos 1970, por não atender às expectativas normativas
suscitadas pelo estereótipo do “bom negro”, Paulo César Lima foi classificado como
“jogador-problema”. Ele esboçava a revolta da chibata no futebol brasileiro. Enquanto
Barbosa e Bigode, sem alternativa, suportavam o linchamento moral na derrota de 1950,
Paulo César contra-atacava os que pretendiam condená-lo pelo insucesso de 1974. O
jogador assumia as cores e as causas defendidas pela esquadra dos pretos em todas as
esferas da vida social. “Sinto na pele esse racismo subjacente”, revelou à imprensa
francesa: “Isto é, ninguém ousa pronunciar a palavra ‘racismo’. Mas posso garantir que ele
existe, mesmo na Seleção Brasileira”. Sua ousadia consistiu em pronunciar a palavra
interdita no espaço simbólico do discurso oficial para reafirmar o mito da democracia racial.
Disponível em: https://observatorioracialfutebol.com.br. Acesso em 22 jun. 2019 (adaptado)
Elabore uma atividade, questões por meio das quais você explora a compreensão literal, a
inferencial e a crítica.
REFERÊNCIAS
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Artes Médicas, 1987.
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