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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE TURISMO E HOTELARIA

DEPARTAMENTO DE TURISMO

CURSO DE TURISMO

APOENA DIAS MANO

TURISMO E DESENVOLVIMENTO SOCIAL EM FAVELAS:


PERSPECTIVAS E REFLEXÕES A PARTIR DAS PERCEPÇÕES
DE TURISTAS E MORADORES

NITERÓI

2015
APOENA DIAS MANO

TURISMO E DESENVOLVIMENTO SOCIAL EM FAVELAS:


PESPECTIVAS E REFLEXÕES A PARTIR DAS PERCEPÇÕES
DE TURISTAS E MORADORES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


curso de Graduação em turismo da Universidade
Federal Fluminense, como requisito parcial para
obtenção de grau de Bacharel em Turismo

Orientadora: Profa. Drª. Verônica Feder Mayer

NITERÓI

2015
AGRADECIMENTOS

Agradeço imensamente a todas as pessoas que, de alguma forma, compartilharam


experiências e conhecimento comigo, me levando a produzir este estudo.

A Universidade Federal Fluminense e todos os professores, funcionários e alunos que


conviveram comigo nestes últimos quatro anos. Agradeço principalmente aos companheiros
da turma 2011.2 pelos momentos engraçados e à minha orientadora, professora Verônica
Mayer, pela gentileza e confiança de me apoiar nesta produção.

Os companheiros que fiz e muito me ensinaram na favela Santa Marta durante a produção
deste trabalho: Thiago Firmino, Sheila Souza, Roberta Souza, Salete Martins, Gilson Fumaça,
Zé Mário, Sonia e Dylan.

Acredito que família seja um termo que não contemple somente os que compartilham o
mesmo sangue, mas os que compartilham ideais, experiências e sonhos. Agradeço às famílias
que tenho ao meu redor:

Os profissionais e amigos do Sesc Rio, que tanto me ensinaram sobre a sensibilidade do


Turismo Social e os impactos positivos e percepção de valores que podemos proporcionar
através de uma atividade turística.

Os companheiros de neofanfarra, carnavais de rua e pernas de pau. Sem dúvida, a arte de rua
foi determinante em momentos de tensão durante esta produção. Viva a ocupação cultural do
espaço público!!

Os amigos e pesquisadores voluntários que contribuíram no trabalho de campo: Patrícia


Araújo, Beatriz Vidal, Igor Mattos, Carolina Mara e Guilherme Irigon. Obrigado mesmo!

Os dois parceiros que dividiram comigo a experiência de produzir o TCC no oitavo período e,
com muita emoção, se formarão junto comigo. Flávio Andrew e João Lourenço.

A amiga que mais me ajudou com o desenvolvimento desta temática complicada e tão
importante e, além disso, se revelou alguém que espero ter próxima a mim por muito tempo.
Obrigado, Carolina Braun!

E por último e mais importante, meu irmão e meus pais. Agradeço a estes por tudo que tenho
e tudo que sou. Dedico este trabalho a vocês!
Santa Marta: “Favela modelo” de que?

Repper Fiell
RESUMO

Este estudo examina a percepção de moradores e visitantes de uma favela turística no Rio de
Janeiro sobre os controversos motivos que levam ao interesse por estas áreas, e como este
turismo pode contribuir para o desenvolvimento local e interpessoal. As atividades turísticas
em favelas costumam ser associadas a tours realizados em jipes, conhecidos pelo afastamento
gerado entre as pessoas. No entanto, novos perfis de comportamento do consumidor em
turismo surgem pelo desejo de experimentar e compreender diferentes culturas como
contributo para a própria existência. É cada vez maior o número de empreendedores locais
que percebem nas favelas uma oportunidade de inclusão social e econômica. Desta forma, a
partir de políticas públicas de “ocupação” e “pacificação” dessas áreas, que trouxeram
impactos positivos e negativos, esse tipo de turismo tornou-se uma realidade que pode
possibilitar a integração desses locais historicamente desfavorecidos ao restante da cidade.
Esta pesquisa analisa as percepções de visitantes e visitados sobre motivações e impressões
relacionadas ao turismo em favela. Além de analisar e comparar as opiniões sobre o que leva
as pessoas a visitarem favelas, também se buscou compreender quais aspectos estes atores
consideram mais importante para o desenvolvimento local e interpessoal a partir do turismo.
Para isso, foram idealizadas três alternativas: a evolução das políticas de segurança pública
em investimentos socioeconômicos; o protagonismo da comunidade local de acordo com as
premissas do Turismo de Base Comunitária; e o encontro autêntico entre turista e morador
local, a fim de desconstruir preconceitos e estereótipos. Foram investigadas e comparadas as
opiniões de residentes e visitantes da favela Santa Marta, aplicando-se questionários por meio
de uma técnica de free elicitation sobre o termo “Turismo em Favelas”, escalas de medição de
concordância sobre as motivações que levam ao interesse nestes lugares e a percepção das
alternativas de desenvolvimento apontadas e, por último, a aceitação em relação a
determinados serviços turísticos em favelas. A análise dos resultados aponta que, embora
todos os respondentes notem o contraste social presente na cidade do Rio de Janeiro, a
pobreza não é motivo de grande interesse para o turismo, contudo há grande curiosidade a
respeito das expressões culturais existentes nestas partes da cidade. Além disto, os moradores
não percebem a inclinação dos visitantes em contribuir para o bem-estar e em interagir com os
que lá vivem. Chega-se também à conclusão que existem opiniões controversas sobre as
vantagens e desvantagens econômicas que ocorrem por conta das atividades turísticas.

Palavras-chave: Turismo; Favela; Santa Marta; Comportamento do Consumidor;


Desenvolvimento Social;
ABSTACT

This study examines the perception of residents and visitors of a touristic slum in Rio de
Janeiro about controversial reasons that brings the interest of these areas, and how this
tourism can contribute to local and interpersonal development of those involved. Tourism
activities in slums are often associated with conducted tours in jeeps, in order to cause the
distance between people. However, new consumer behavior profiles in tourism arise a desire
to experience and understand different cultures as a contribution to the very existence. The
number of local entrepreneurs who realize the slums as an opportunity for social and
economic inclusion is rising year by year. Thus, from public policies of "occupation" and
"pacification" of these regions, which have brought positive and negative impacts, this type of
tourism has become a reality, favoring the integration of local, historically disadvantaged the
rest of the city. This research analyzes the impressions of visitors and visited on the
motivations that lead to tourism in slums and are caused by the encounter with each other,
which allows these players to experience the tourist activity as a time of transformation for
both parties. For this, there were three development alternatives idealized: the evolution of
public security policies in socio-economic investments; the role of the local community in
accordance with the premises of the Community Based Tourism; and the authentic meeting
between tourists and local residents in order to deconstruct prejudices and stereotypes. They
were investigated and compared the opinions of residents and visitors to the favela Santa
Marta, applying questionnaires through a free elicitation technique on the term "slum tourism"
concordance measurement scales on the motivations that lead to interest in these places and
the perception of the indicated development of alternative and, finally, acceptance for certain
tourist services in slums. Analysis of the results indicates that although all respondents note
the social contrast present in the city of Rio de Janeiro, poverty is not a matter of great interest
for tourism, yet there is great curiosity about the existing cultural expressions in these parts of
the city. In addition, residents do not realize the intention of the visitors to contribute to the
welfare and interact with those who live there. It also comes to the conclusion that there are
controversial opinions on the advantages and economic disadvantages that occur due to tourist
activities.

Keywords: Tourism; Favela; Santa Marta; Consumer behavior; Social development.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................... 9
1 TURISMO EM FAVELAS - DA ORIGEM DO TERMO À REALIDADE NO RIO DE JANEIRO....... 15
1.1 DO SLUMMING AO SLUM TOURISM – IMPRESSÕES SOBRE O INTERESSE DE VISITAR LOCAIS
DESFAVORECIDOS ........................................................................................................................................... 15
1.2 O TURISMO EM FAVELAS NO RIO DE JANEIRO – DA PROIBIÇÃO À TURISTIFICAÇÃO ............. 20
1.3 PACIFICAÇÃO E TURISMO – A INFLUÊNCIA DAS UPPS NA TURISTIFICAÇÃO DAS FAVELAS E
SEUS IMPACTOS NA COMUNIDADE LOCAL. .............................................................................................. 26
2 O ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR E A EVOLUÇÃO DOS PERFIS
MOTIVACIONAIS DO TURISMO .................................................................................................................. 33
2.1 O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR E AS CATEGORIAS MOTIVACIONAIS PARA O
TURISMO ............................................................................................................................................................. 33
2.2 O SLUM TOURISM E OS DEBATES A RESPEITO DE SUAS CONTROVERSAS MOTIVAÇÕES ........ 37
2.3 O COMPORTAMENTO CONSCIENTE QUE DIFERENCIA NOVOS PERFIS DE TURISTAS............... 42
3 TURISMO EM FAVELAS – DISCUSSÕES DE ALTERNATIVAS PARA O DESENVOLVIMENTO
LOCAL E INTERPESSOAL ............................................................................................................................. 49
3.1 EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SEGURANÇA EM INVESTIMENTOS
SOCIOECONÔMICOS ......................................................................................................................................... 50
3.1.1 A importância das políticas de desenvolvimento sociocultural e econômico nas favelas ............................ 55
3.2 O PROTAGONISMO DA COMUNIDADE LOCAL SOB AS PREMISSAS DO TURISMO DE BASE
COMUNITÁRIA................................................................................................................................................... 59
3.2.1 Turismo de base comunitária em favelas do rio de janeiro .......................................................................... 64
3.3 O ENCONTRO AUTÊNTICO E A INTERAÇÃO ENTRE VISITANTE E VISITADO .............................. 70
3.3.1 Encontro e desenvolvimento interpessoal no turismo em favela .................................................................. 73
4 METODOLOGIA ............................................................................................................................................ 83
5 RESULTADOS ................................................................................................................................................. 89
5.1 RESULTADOS DEMOGRÁFICOS ............................................................................................................... 89
5.2 FREE ELICITATION DE ‘TURISMO EM FAVELAS’ ................................................................................. 95
5.3 ANÁLISE CATEGORIAS MOTIVACIONAIS - MA (2010) ....................................................................... 97
5.4 ANÁLISE COMPARATIVA DE SIGNIFICÂNCIA – PERCEPÇÕES ...................................................... 102
5.5 ANÁLISE COMPARATIVA DE SIGNIFICÂNCIA – MOTIVAÇÕES ..................................................... 106
5.6 ANÁLISE DA ATRATIVIDADE DE SERVIÇOS ...................................................................................... 111
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................................ 115
REFERÊNCIAS: ............................................................................................................................................... 119
APÊNDICE A .................................................................................................................................................... 123
9

INTRODUÇÃO

A vontade de viver experiências diferentes enquanto descobre novos lugares define o


perfil motivacional do turista que está se desenvolvendo no início do século XXI. Este desejo
de experimentar novas culturas e a partir do turismo transformar sua própria essência pessoal
transforma-se em motivação para viajar e as pessoas começam a se movimentar em busca de
situações e paisagens que não podem ser encontradas em seu local de origem.

Este novo comportamento do turista pode ser definido por outro importante aspecto:
a consciência de seu papel como ator protagonista nos processos turísticos. O visitante tem
esclarecimento em relação ao impacto ocasionado por sua viagem e o tipo de produto turístico
que ele consome, e por isto busca estimular atividades sustentáveis que sejam enriquecedoras
tanto para si quanto para a comunidade receptora. (SPAMPINATO, 2009)

A busca pela autenticidade nas experiências turísticas é uma característica


determinante deste novo comportamento dos viajantes. (SPAMPINATO, 2009) E esta
autenticidade só se torna possível quando estabelecido um relacionamento positivo e
respeitoso entre visitante e visitado. Caso contrário, ocorre uma relação encenada e artificial
devido a diversos interesses individuais.

Esta busca por formas diferentes de consumo turístico levou à popularização do


turismo em regiões caracterizadas pelo desfavorecimento econômico e sociocultural em todo
o mundo. Conhecido como slum tourism, este fenômeno que vêm aumentando de forma
contínua ocorre em diversos países em desenvolvimento, como Índia, África do Sul e Brasil.
(FREIRE-MEDEIROS, 2009) Pode-se afirmar que, embora existam diversas controvérsias e
debates sobre o que desperta o interesse e a curiosidade a seu respeito, estes locais reúnem as
características necessárias para suprir as necessidades dos turistas que estão em busca de
lugares que consideram exóticos.

No caso do Brasil, este crescente interesse culmina nos locais conhecidos como
favelas, sendo as mais populares localizadas nos morros da cidade do Rio de Janeiro. Embora
já ocorresse tradicionalmente o movimento de subida dos morros por turistas curiosos, o
início das atividades turísticas em favelas ocorreu de forma marcante a partir da década de
1990, quando a favela da Rocinha passou a receber grupos de visitantes durante a ECO-92.
(RODRIGUES, 2014)
10

A gênese das favelas cariocas decorre da histórica segregação socioeconômica e


socioespacial de camadas mais pobres da cidade do Rio de Janeiro em território
caracterizados pelo abandono do poder público. Ocorre que nos países em desenvolvimento,
como é o caso do Brasil, estes ambientes segregados de diversas maneiras são marcados pela
violência urbana:

Apesar de o Rio de Janeiro ser muito visitado por turistas do mundo todo, dados
apontam a cidade como uma das mais violentas do mundo, com uma alta taxa de
mortalidade causada pela violência urbana, atingindo principalmente homens jovens
e a população residente em comunidades informais de baixa renda, as favelas. A
cidade tem a particularidade da proximidade entre estas comunidades e os
tradicionais bairros de classe média e alta, o que torna os conflitos urbanos mais
destacados. (CARVALHO; SILVA, 2012, p. 259)

Neste contexto, embora as favelas turísticas cumpram a função de serem exóticas sob
o olhar dos turistas e, por isto, caracterizem um tipo de destino que atende à preferência dos
novos perfis de consumo do turismo, a presença marcante da violência se torna um motivo
que influencia negativamente a decisão dos visitantes.

Entretanto, frente à preparação para os megaeventos planejados para acontecer na


cidade do Rio de Janeiro – Copa do Mundo de Futebol em 2014 e Olimpíadas em 2016 – foi
implementado um projeto de segurança pública – Unidades de Polícia Pacificadora - que
aumentou a sensação de segurança nestes locais. A instalação dos postos da UPP
acompanhados de uma mudança de tratamento da mídia a estes locais, trocando a violência
por notícias positivas, facilitou o fluxo de turistas.

O cenário atual é o de desenvolvimento do turismo nas favelas do Rio de Janeiro,


que leva a acontecer cada vez mais o encontro entre moradores e turistas nestes locais. Este
desenvolvimento turístico merece um olhar crítico, constante e cuidadoso, pois ao passo que o
turismo é capaz de transformar positivamente uma região, ele também é capaz de trazer danos
irreversíveis para a vida da comunidade onde ele se desenvolve. (CARVALHO E SILVA,
2012)

A interação entre visitante e visitado nas favelas cariocas é marcada por diversas
críticas éticas e morais que dizem respeito ao slum tourism em geral, onde os críticos apontam
que os visitantes que procuram este tipo de experiência estão interessados em um
relacionamento “vouyerista” que ao invés de reduzir as diferenças socioeconômicas, as
reforça.
11

No Rio de Janeiro são contínuos os debates em relação a diversos aspectos do


turismo em favelas como a visitação feita por intermédio de jipes, onde muitas pessoas
apontam acontecer um “safári urbano”, ou “zoológico de pobres”. Além disto, o
relacionamento entre morador e turista que ocorre através de lentes de câmeras também gera
discussões e já chegou ao ponto do uso de câmeras ter sido proibido em algumas ocasiões.
Esta proibição já aconteceu em iniciativas não somente no Brasil, mas outros lugares do
mundo. (FREIRE-MEDEIROS, 2009)

Recentemente foi apresentado na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro pelo


vereador Prof. Célio Lupparelli, do partido Democratas (DEM), o projeto de lei nº 1196/2015,
de 15 de Abril de 2015, que “dispõe sobre a proibição de realização de turismo degradante nas
comunidades carentes da cidade do Rio de Janeiro”. (CAMARA, 2015) O projeto entende por
“turismo degradante” visitas guiadas que tornem espetáculo situações de miséria e de
ausência de serviços públicos, e implica punições que vão desde advertência à cassação do
alvará de funcionamento das empresas turísticas que promoverem este tipo de serviço. A
justificativa do projeto aponta que, embora o que o turismo traga renda e trabalho para
moradores que viviam o “ostracismo financeiro imposto pelo tráfico de drogas” (CAMARA,
2015 s. p.), também ocorre o reverso deste movimento por meio de visitas que pretendem
explorar a miséria nestes locais. O objetivo da proibição seria “provir a dignidade dos
moradores da cidade que sofrem com as ausências do poder público”. (CAMARA, 2015 s. p.)

Embora realmente existam roteiros turísticos onde os moradores sejam exibidos para
o compadecimento do visitante, num roteiro rápido e superficial que não permite conhecer de
fato o lugar e subestimava quem ali vivia, Rodrigues (2014) entende que há várias
experiências em favelas do Rio de Janeiro provando que há uma nova forma de fazer turismo
que depende também do que o turista estrangeiro quer encontrar e não apenas do que o local
tem a oferecer. (RODRIGUES, 2014)

Os moradores de diversas favelas entenderam que o turismo nestes locais pode se


tornar uma oportunidade para o desenvolvimento destes territórios por meio da geração de
renda no local, da organização social dos moradores ou da valorização cultural. Um dos
reflexos deste entendimento foi a mobilização de um movimento que afastou o turismo que
ocorria dentro de jipes da favela Santa Marta. (RODRIGUES, 2014)

É neste contexto que se torna adequado associar o novo comportamento crítico e


consciente do consumidor de turismo à postura de protagonismo adotada pelos moradores das
favelas. Surge a oportunidade de acontecerem encontros autênticos nestes locais.
12

Tendo em vista esse crescente encontro entre moradores e turistas, se faz relevante
realizar pesquisas no sentido de discutir quais são suas percepções em relação ao turismo.
Assim, o objetivo principal deste estudo é investigar a opinião dos moradores e visitantes da
favela Santa Marta sobre aspectos motivacionais e perceptivos em relação ao turismo em
favela para, a partir dos resultados, se estabelecer discussões a respeito dos motivos que
proporcionam estes encontros e se buscar alternativas para garantir o desenvolvimento local e
interpessoal por meio do turismo em favelas.

A definição desta favela para a realização da pesquisa ocorre devido ao notável fluxo
de turistas que diariamente percorrem o local. Estas visitas acontecem sob intermédio de guias
de turismo, de empresas da cidade e moradores locais, ou com o turista transitando sozinho
pelo local. O fato desta ter sido uma das primeiras favelas onde foi instalado um posto da
UPP, e da organização e desenvolvimento comunitário decorrente de um projeto público de
Turismo de Base Comunitária, também foi determinante para a escolha.

O primeiro aspecto analisado são as percepções gerais em relação ao Turismo em


Favelas pelos moradores e pelos visitantes. Para isto foi utilizada a técnica free elicitation,
onde os respondentes foram orientados a apontar livremente três palavras ou expressões que
viessem à sua mente ao pensar em “Turismo em Favela”.

Estudos de marketing da área de Analise do Comportamento do Consumidor feitos


por Bob Ma (2010) inspiraram a pesquisa dos aspectos motivacionais conduzida neste
projeto. Em seu trabalho, o autor elencou diversas categorias motivacionais que podem
explicar o que motiva os visitantes a se interessarem por visitas turísticas a locais
caracterizados pela segregação socioeconômica. Entre as categorias estão Curiosidade
Cultural; Interesse próprio, Outras Curiosidades, Escapismo, Conexões com experiências não-
turísticas e Pré-concepções do turismo em favelas.

Com a finalidade de se comparar os resultados e analisar as diferenças de percepção


entre o que realmente motiva os visitantes e o que os moradores consideram que motiva estas
visitas, o mesmo questionário foi aplicado a turistas e moradores.

A pesquisa dos aspectos perceptivos foi elaborada em torno do entendimento de


alternativas que podem proporcionar maior qualidade ao turismo e ao encontro entre morador
e turista. Como alternativas foram desenvolvidas três propostas: a evolução das políticas de
segurança pública em investimentos socioeconômicos; o protagonismo da comunidade de
acordo com as premissas do Turismo de Base Comunitária; e o encontro entre turista e
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morador local proporcionando o desenvolvimento interpessoal, voltado para a desconstrução


de preconceitos e estereótipos.

O objetivo comum destas alternativas é proporcionar ao visitante e ao visitado um


encontro que não ocorra baseado essencialmente em aspectos financeiros. Que assim como o
turista não enxergue o morador como um símbolo da pobreza, o morador não enxergue o
visitante como um símbolo da oportunidade de se ganhar dinheiro. Os indivíduos envolvidos
na atividade turística devem se enxergar como pessoas de forma a desenvolver sua cidadania.

Por último, foram analisadas as diferenças de opinião a respeito dos serviços


turísticos oferecidos em favelas. Os respondentes foram orientados a apontar os três serviços
mais atrativos entre opções como “Almoço em um restaurante local”, “Visita a ONGs e
projetos sociais locais” e “Visita à casa de uma família local”. O objetivo é discutir as
percepções sobre estes serviços e encontrar as opções que estejam de acordo com a
preferência de todos os envolvidos.

O mesmo questionário foi aplicado a moradores e visitantes da favela Santa Marta. A


escolha ocorreu por diversos fatores, como o fato de ter sido uma das primeiras favelas da
zona sul, principal região turística da cidade, a receber uma UPP, o grande fluxo de visitantes
devido ao avançado estágio de turistificação da favela, o desenvolvimento de um projeto
piloto de turismo de base comunitária no local e a própria organização e mobilização dos
moradores locais.

O total da amostra da pesquisa realizada é de 160 questionários válidos, por meio de


survey in loco, sendo 80 moradores e 80 turistas da favela. A amostra de visitantes e
moradores obtida nesta pesquisa é não probabilística por conveniência, pois foi feita com
participantes de roteiros operados por empresas aleatórias e além de turistas que visitavam o
local por conta própria.

No primeiro capítulo deste trabalho são apresentados diversos fatos que justificam as
opiniões controversas sobre o Turismo em Favelas, considerando as motivações dos turistas e
profissionais envolvidos, a opinião dos moradores e de que forma a turistificação é
incentivada pelo poder público e os impactos positivos e negativos que as atividades turísticas
trazem consigo.

Em seguida, são apresentados resultados com base em estudos de marketing sobre a


análise e compreensão de motivações turísticas. A partir da pesquisa sobre o comportamento
do consumidor se pode compreender se são plausíveis as críticas que apontam a exploração e
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o distanciamento como principais motivos de explicação do Turismo em Favela, ou se estas


visitas fazem parte de uma nova postura do turista do século XXI, mais consciente de seu
papel social durante suas viagens.

No último capítulo de revisão bibliográfica são contextualizadas as discussões feitas


anteriormente com a finalidade de se buscar maneiras de alcançar o desenvolvimento do local
e da cidadania por meio do turismo em favelas. As alternativas apresentadas neste estudo são
a evolução das políticas de segurança pública nas favelas para investimentos
socioeconômicos; o protagonismo da comunidade no processo decisório do turismo de acordo
com as premissas do Turismo de Base Comunitária; e o encontro entre turista e morador local
de acordo com objetivos que levem ao desenvolvimento cultural e interpessoal.

Por último são apresentados os instrumentos e as ferramentas utilizadas para a


realização da pesquisa, os resultados obtidos e as considerações finais sobre a realização deste
estudo.
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1 TURISMO EM FAVELAS - DA ORIGEM DO TERMO À REALIDADE NO RIO DE


JANEIRO

Para proporcionar a compreensão adequada dos diversos aspectos ligados ao turismo


em favelas que são apresentados neste trabalho, é importante se analisar quando e onde surgiu
a curiosidade em realizar visitas a lugares desfavorecidos por aspectos econômicos e
socioculturais, de que forma este interesse se desenvolveu no mundo ao passar do tempo e
como se caracterizou ao ocorrer no Brasil, mais popularmente por meio do Turismo em
Favelas no Rio de Janeiro. Da mesma forma, é fundamental se discutir quais são os interesses
envolvidos na pacificação e turistificação das favelas cariocas e quais são os efeitos deste
fenômeno na comunidade local.

Por isto, no primeiro capítulo deste trabalho são apresentados diversos fatos e
discussões a respeito de controversas éticas e morais desde o surgimento do slumming, hábito
de visitas das elites a locais desfavorecidos na Europa, ao slum tourism, fenômeno moderno
baseado na mesma motivação. Agora ligadas ao turismo e com destino a diversos locais do
mundo reconhecidos pelo desfavorecimento econômico e social, estas visitas são tema de
diversos debates e pesquisas.

Em seguida são estudados o processo de turistificação das favelas cariocas. É


discutido o desenvolvimento turístico destes territórios, desde as tentativas de afastamento
pelo poder público até o atual interesse turístico, ocasionado por eventos de relevância
internacional que levou empresas externas e a comunidade local a se interessarem pela
oportunidade que é a evolução do turismo nestes locais.

Por último são debatidos os principais impactos da principal política pública


direcionada a estes territórios, as Unidades Polícia Pacificadora – UPPs, que trazem diversos
impactos positivos e negativos para a comunidade local, como a diminuição da violência, o
movimento de subida de empresas e a gentrificação.

1.1 DO SLUMMING AO SLUM TOURISM – IMPRESSÕES SOBRE O INTERESSE DE


VISITAR LOCAIS DESFAVORECIDOS

A curiosidade e o interesse de ver e compreender como vivem camadas com menor


poder aquisitivo e com escasso bem-estar social não é um fenômeno moderno. A este respeito
Freire-Medeiros (2009) comenta que por volta de 1880 a elite vitoriana praticava visitas aos
16

indigentes das cidades mais pobres, pois considerava estas atividades algo essencial aos que
aspiravam falar com propriedade as questões sociais da época.

Assim, todos os cidadãos que simpatizavam com causas sociais e procuravam algum
tipo de ocupação altruísta ou de caridades e sentiam de certa forma obrigados a visitar, ou
mesmo viver e trabalhar, em bairros degradados de Londres, como Whitechapel e Shooredich.
Este hábito era conhecido pelos teóricos e jornalistas da época como slumming.

Freire-Medeiros (2009) ilustra que, por serem pensamentos e ações que podem ser
encarados como contraditórios, as pessoas que buscavam vivenciar e compreender outros
modos de vida recebiam uma série de críticas.

As pessoas contrárias à ideia das visitas a estes locais defendiam que a prática de
slumming não passava de um entretenimento egoísta que trivializava a pobreza, mas
disfarçado de engajamento social. Alguns jornalistas chegavam a se referir a esta prática
como um “passatempo filantrópico”. (FREIRE-MEDEIROS, 2009)

O fato é que, se a prática do slumming esteve na moda na virada do século XIX, com o
passar do tempo, mais especificamente duas décadas adiante, já não era mais tão popular. Em
1928, o sociólogo Nels Anderson (apud FREIRE-MEDEIROS, 2009) publica artigo
observando que o modismo do interesse por esses locais produziu poucos impactos positivos,
apesar de toda a popularidade que teve:

A palavra slum perdeu seu prestígio. Depois de estar na moda, graça à onda de
humanitarismo que varreu o país nos anos 1880 e 1890, de repente, com o declínio
do slumming como um passatempo filantrópico, a palavra tornou-se um tabu, mas o
fato é que a slum perdura. (ANDERSON, 1928 apud FREIRE-MEDEIROS, 2009, p.
31).

Portanto, a curiosidade por se conhecer o modo de vida de camadas sociais pouco


abastadas foi temporária, e essas camadas sociais desfavorecidas socioeconomicamente
continuaram sob as mesmas condições de vida.

No entanto, no século XX, a curiosidade sobre o modo de vida de camadas mais


desfavorecidas da sociedade volta a ser motivo de interesse e as pessoas voltam a buscar este
tipo de experiência. Este fenômeno passa a acontecer associado a atividades ligadas ao
turismo e torna-se popular por meio do termo slum tourism, ou no caso brasileiro, o turismo
em favelas.
17

Klepsch (2010) aponta que o slum tourism é um assunto polêmico por natureza, pois
tal como acontece com a maioria dos tipos de turismo, as diferentes perspectivas dos
envolvidos, como anfitriões, turistas, profissionais de turismo, meios de comunicação e
acadêmicos levam a distintos argumentos e visões sobre o tema.

Cejas (2006) aponta que, diferentemente de 1880 com o slumming, desta vez o slum
tourism tem seu poder de alcance potencializado pela globalização. Por isto o interesse por
locais reconhecidos por serem desfavorecidos deixa de ter escala local e alcança a escala
mundial através das atividades turísticas.

A autora se posiciona de forma crítica ao apontar que “habitantes pobres das cidades
do Terceiro Mundo e seus ambientes tornaram-se novos produtos a ser consumidos pelos
visitantes vindos do hemisfério Norte”(CEJAS, 2006 p. 255).

Freire-Medeiros (2009) também aponta a globalização como um fator determinante


para o crescimento mundial do slum tourism, principalmente no que se refere às trocas
sociais, culturais e econômicas que ocorrem por conta das atividades:

Se por globalização entendemos um processo crescente de integração dos sistemas


econômico, social e cultural, então o turismo pode ser tomado, a um só tempo, como
causa e efeito dos processos de globalização. Dito de outro modo, o turismo torna-se
um dos fluxos através dos quais trocas econômicas, sociais e culturais acontecem, e
o crescente escopo dessas trocas, por sua vez, torna-se um estímulo ao turismo.
(FREIRE-MEDEIROS, 2009, p.34)

Portanto, neste processo de busca por trocas de diversos tipos, os locais segregados
socioeconomicamente são incorporados à economia mundial como um novo horizonte de
exploração, um destino exótico com uma série de subprodutos para ser consumido como a
chamada “pobreza mercantilizada da moda”.

A curiosidade voyeurista de estrangeiros do Norte sobre as favelas foi transformada


em "capital turístico" pelas agências de viagens que começaram a adicionar esses
itinerários em suas campanhas para promover os destinos do Terceiro Mundo.
(CEJAS, 2006, p.256)

Apesar dos diversos debates éticos que marcam as controversas do slum tourism, o
fato é que os roteiros turísticos em locais reconhecidos pelo desfavorecimento no mundo
tornaram-se um fenômeno global e o número de turistas que procura este tipo de atividade
está atingindo grandes proporções.
18

Klepsch (2010) observa que as principais justificativas das pessoas que praticam e
defendem o turismo nas favelas apontam que estas atividades desafiam a percepção das
pessoas e ajudam a visualizar um problema social muitas vezes ignorado: a pobreza. Em
diversos casos, como o brasileiro, a ausência de políticas públicas nestes locais também se
evidencia através das visitas.

Por outro lado, os críticos afirmam que, por mais que exista a intenção por parte dos
visitantes de contribuir com estes locais, os benefícios econômicos para as áreas necessitadas
ainda não são visíveis. (KLEPSCH, 2010)

Vale apontar que o lazer e observação da pobreza são elementos contraditórios e a


criação de uma mercadoria a partir da pobreza pode provocar conflitos morais nas pessoas,
que por mais que estejam tentando contribuir, não sabem exatamente qual é o impacto destas
atividades no local.

Cejas (2006) critica a mercantilização e produtificação da pobreza por conta do


intermediário, que muitas vezes produz a experiência de forma a melhor atender seus
interesses. A autora entende que o chamado “turismo de realidade” na verdade é um recorte
do local feito pelas operadoras e agências de viagens para tornar-se uma mercadoria e manter
sua atratividade.

Portanto, o consumo deste tipo de atrativo é bastante complexo, pois ao mesmo tempo
em que o turismo pode produzir impactos positivos beneficiando-se dos fluxos de capital e
pessoas, ele também pode criar estereótipos e, ao invés de apagar as distâncias sociais, as
reforçar. (FREIRE-MEDEIROS 2009)

Não surpreende, portanto, que o turismo em favelas provoque debates tão acalorados
sobre contradições éticas e morais a respeito desta forma de consumo.

Para Freire-Medeiros (2009), estas são experiências que realizam complicadas


articulações “entre dinheiro e emoções, entre interesses e sentimentos, entre lazer e miséria –
domínios cuja sobreposição a moralidade ocidental define como “incongruente e
agramatical”. (FREIRE-MEDEIROS, 2009 pg. 33)

Os críticos desta modalidade de turismo, apesar de reconhecerem o impacto positivo


de alguns projetos específicos, apontam pelo menos duas falhas estruturais: em nenhum caso
os moradores das localidades visitadas usufruem em pé de igualdade dos benefícios gerados; e
menos do que conscientização política ou social, o que as visitas motivam são atitudes
voyeuristas diante da pobreza e do sofrimento. (FREIRE-MEDEIROS, 2009)
19

Por outro lado, baseando-se em alguns exemplos práticos se pode dizer que estão
ocorrendo resultados positivos a partir dos debates e reflexões mundiais sobre estas
contradições, que são relevantes por levar à busca pela valorização dos impactos positivos
nestes locais por meio do turismo.

Países em desenvolvimento estão começando a descobrir outras formas de desenvolver


este turismo, seja através de uma mudança pragmática dos arranjos produtivos ou da
mentalidade dos turistas, tais como o turismo de base comunitária e o turismo responsável,
que são vistos com mais profundidade ao decorrer deste estudo.

É possível encontrar em alguns lugares do mundo, inclusive no Brasil, tentativas de se


reinventar a atividade de roteiros em favelas, baseando-se em premissas que tornem a
atividade crítica e reflexiva, levando os visitantes a compreender através do turismo que a
pobreza no mundo em desenvolvimento é uma realidade e locais urbanos de extrema pobreza
realmente existem, e algo deve ser feito em relação a isso. (KLEPSCH, 2010)

Existe uma minoria de projetos no mundo que não são incentivadas por políticas
públicas ou conselhos de turismo, e ainda assim adotam uma postura crítica em relação à
atividade turística, se opõem a uma poderosa indústria do turismo de massa e tentam produzir
impactos positivos nos atores envolvidos.

Este é o caso de um projeto na África do Sul chamado Western Cape Actions Tours,
que adota outro ponto de vista sobre estes locais, discutindo o contexto do país pós-apartheid:

WECAT é uma organização sem fins lucrativos dirigida por ex-soldados do


UmkhontoweSizweou MK, o braço armado do Congresso Nacional Africano
(ANC), que lutou contra o antigo regime do apartheid da África do Sul. Durante o
passeio pelas ruas eles dão um relato da história da cidade fundindo narrativas
locais, nacionais e pessoais num exercício de abordar e interrogar narrativas oficiais
do apartheid e pós-apartheid. (CEJAS, 2006, p.228)

Estes processos onde se busca a peculiaridade dos locais e um discurso crítico sobre
seu contexto atual incentivam a valorização do local e a promoção dos destinos turísticos.
Desta forma, o turismo torna-se cada vez mais dependente de variáveis de distinção, o que
valoriza cada localidade, que por sua vez busca descobrir sua vocação e sua identidade, ou
seja, busca atributos que a diferenciem diante do visitante em potencial e a destaquem em
meio a um mercado turístico cada vez mais plural.

De acordo com seus defensores, a prática do turismo em áreas desfavorecidas


incrementa o desenvolvimento econômico da região, a consciência social dos turistas e a auto-
20

estima das populações receptoras. Lideranças locais são forjadas, conhecimento e recursos são
compartilhados entre pessoas que dificilmente se encontrariam se não fosse pelo turismo.
(FREIRE-MEDEIROS, 2009)

Em Dharavi, na Índia, um elemento importante diferencia a proposta indiana de slum


tourism: o veto à fotografia. Enquanto diversas agências que atuam nas favelas e townships
incentivam o uso das câmeras fotográficas, a empresa indiana adverte a proibição em seu
material publicitário, “não por uma questão de segurança, mas por respeito”. (FREIRE-
MEDEIROS, 2009 pg. 41) Nesta iniciativa, 80% dos lucros obtidos com as atividades são
empregados em investimentos de desenvolvimento da localidade e seu objetivo central é
dissolver preconceitos e aproximar pessoas que, de outra maneira, não teriam como se
encontrar. O idealizador do projeto, Christopher Way,

A nossa intenção é promover um encontro que seja o menos turístico e o mais


autêntico possível. Não queremos que os moradores sejam vistos como animais em
um zoológico e também não queremos que os turistas sejam vistos como máquinas
de dinheiro (...). As pessoas estão cheias de tantas relações falsas, de falsos políticos,
de falsas promessas, de mercadorias falsas. Quem faz o nosso tour fica satisfeito
porque sabe que não houve maquiagem nenhuma (...). O sofrimento e alegria
daquelas pessoas em Dharavi são verdadeiros, não tem nada encenado. A
solidariedade dos visitantes também é verdadeira. Ali se produz uma emoção que
não dá pra explicar, tem que viver. (FREIRE-MEDEIROS, 2009 , p.43)

Portanto, pode-se observar que, ao passo que algumas empresas buscam promover
atividades turísticas nestes locais somente com o objetivo de buscar o lucro, algumas
iniciativas traçaram objetivos ligados ao desenvolvimento do local e dos visitantes que
procuram o slum tourism.

1.2 O TURISMO EM FAVELAS NO RIO DE JANEIRO – DA PROIBIÇÃO À


TURISTIFICAÇÃO

Embora o turismo no Brasil e principalmente no Rio de Janeiro, cidade turística por


essência, seja frequentemente relacionado às praias tropicais, ao carnaval e ao samba, uma
imagem negativa do país tem sido acelerada pela crescente criminalidade e o
desenvolvimento do tráfico internacional de drogas no Rio de Janeiro, especialmente
relacionado às favelas.
21

No entanto, a contraditória atração turística por favelas se tornou um fenômeno em


todo o Rio de Janeiro. Freire-Medeiros (2009) afirma que não há nenhum documento que
comprove a data em que os roteiros turísticos em favelas começaram na cidade. Na memória
coletiva, entretanto, a Cúpula da Terra de 1992, comumente conhecida como ECO-92, onde
um grande número de visitantes internacionais estava reunido na cidade, é geralmente
apontada como um marco importante. (FREIRE-MEDEIROS; VILAROUCA; MENEZES,
2013)

Naquela época a Rocinha, uma das maiores favelas do mundo (Figura 1) e um destino
turístico reconhecido até hoje, começou a receber grupos de visitantes em excursões
organizadas pelos operadores de viagens profissionais. É comum ouvir comentários irônicos
que durante todo referido evento, as autoridades governamentais investiram esforços
específicos no sentido de isolar as favelas de olhares estrangeiros, inclusive contando com a
ajuda do exército para fazê-lo. (FREIRE-MEDEIROS; VILAROUCA; MENEZES, 2013)

De certa forma, pode-se dizer que esta tentativa de esconder as favelas estimulou
curiosidade dos turistas.

Figura 1 – Vista da Favela Rocinha


Fonte: Acervo Pessoal

Após a conferência, as favelas revelaram-se como uma grande oportunidade aos


profissionais do turismo, pois se tratavam de destinos turísticos que podiam ser promovidos,
vendidos e consumidos de diversas maneiras: como paisagem física e/ou social, como destino
ecoturístico, como turismo de aventura e/ou cultural. (FREIRE-MEDEIROS, 2009) Isto levou
22

à popularização e desenvolvimento turístico de diversas favelas como Complexo do Alemão,


Chapéu Mangueira, Babilônia e Santa Marta (Figura 2). (RODRIGUES, 2014)

Figura 2 – Vista da favela Santa Marta


Fonte: Acervo Pessoal

Klepsch (2010) descreve sua percepção sobre estes roteiros em favelas no Rio de
Janeiro ressaltando que o tipo de locomoção varia de acordo somente com o tamanho do
grupo, sem nenhuma preocupação com o impacto que causa na localidade:

Os roteiros são quase sempre a pé, embora passeios de jipe e motos também sejam
possíveis, e, dependendo do tamanho do grupo, os operadores turísticos também
utilizem vans. Durante o deslocamento aos locais, explicações sobre a infraestrutura
local, a segurança, a arquitetura e sobre o Programa Favela Bairro, que ajudou a
melhorar a infraestrutura de algumas favelas, são dadas para os turistas. (KLEPSCH,
2010 , p. 70)

Ainda, aponta que os operadores turísticos defendem este tipo de turismo como uma
tentativa de mudar a imagem negativa da favela do Rio de Janeiro atraindo turistas a fim de
quebrar os estereótipos de violência, crime e drogas. Seu discurso é o de oferecer aos turistas
a oportunidade de ver o Rio real, distante de atrações turísticas e praias. (KLEPSCH, 2010)

Visto que poucos são os estímulos ao desenvolvimento de atrações turísticas


históricas e culturais na favela, o que os turistas vêem nestes roteiros é a vida e o trabalho
cotidiano das pessoas, escolas e outras empresas. (KLEPSCH, 2010)

Um dos principais impactos relacionados à visitação nas favelas é a renda adquirida


por meio da venda de souvenirs (Figuras 3 – A e B), ou lembranças em geral com a temática
das favelas do Rio de Janeiro. Em muitos casos, podem ser encontrados à venda nestas lojas
23

produtos artesanais feitos pelos próprios moradores das favelas. (FREIRE-MEDEIROS,


2009)

Entretanto, apesar do importante impacto positivo que a venda de artesanato local


pode oferecer à comunidade local, a autora aponta em pesquisa que apenas 36,6% dos turistas
realizaram algum tipo de compra durante a visita. E nestes casos, em 61,4% o gasto foi de no
máximo R$5,00. E nos casos de turistas consumindo produtos nas favelas, menos de 10%
consumiram algum produto de artesanato local. Em geral, os turistas apontam que não
compraram nenhum produto porque não tiveram tempo ou nenhum local de venda foi
indicado. Este problema pode ser essencialmente relacionado à maneira como os roteiros são
organizados. (FREIRE-MEDEIROS; VILAROUCA; MENEZES, 2013)

Figura 3 A e B – Lojas de souvenir nas Favelas Santa Marta e Rocinha


Fonte: Acervo Pessoal

Em 2010, através do apoio direto do governo estadual, foi implantada a primeira


etapa do projeto piloto Rio Top Tour na Favela Santa Marta. Esta seria uma forma de o estado
apoiar, pela primeira vez, práticas comunitárias nas favelas com potencial turístico,
incorporando um modelo alternativo de desenvolvimento do turismo no modo de vida da
comunidade local, o Turismo de Base Comunitária. (RODRIGUES, 2014)

O objetivo principal desta forma de turismo reside em que as populações locais sejam
beneficiadas pelas oportunidades geradas pelo turismo. Essa forma de pensamento
compreende o turismo não apenas como objeto de lucro nas mãos de poucas agências, mas
como algo que pode ser possível para muitos, gerando renda para a localidade, como ressalta
a Organização Mundial do Trabalho. (RODRIGUES, 2014)
24

Ainda que o projeto tenha sido interrompido pelo poder público, pode-se dizer que
houve um impacto positivo e um legado devido ao seu acontecimento. O desenvolvimento de
atrativos e profissionais de turismo, além da formação de opiniões de moradores, estas
negativas e positivas, sobre o turismo na favela. O fato é que as atividades turísticas são uma
realidade cotidiana neste território. (RODRIGUES, 2014)

O crescimento do turismo em favelas no Rio de Janeiro como um dos locais de slum


tourism no mundo se dá por resultado de dois fenômenos complementares: a expansão dos
chamados reality tours e a circulação, mundo afora, da favela como uma marca, um signo a
que estão associados significados ambivalentes que a colocam, a um só tempo, como território
violento e local de autenticidade preservada. (FREIRE-MEDEIROS, 2009)

Em sua obra “O Olhar do Turista”, John Urry apresenta que a escolha de um


determinado destino por parte do turista está baseada em uma antecipação da experiência, que
se constrói através do consumo de produtos midiáticos. Neste caso, a crescente circulação de
filmes e documentários sobre as favelas do Rio de Janeiro deu a estes locais uma enorme
atratividade. Os filmes antecipam a experiências dos turistas. (URRY, 2001)

Freire-Medeiros (2009) entende que o filme Cidade de Deus é determinante neste


processo, pois sua popularidade internacional seduziu diversos países com uma imagem ao
mesmo tempo realista e estilizada de uma favela violenta. Aclamado pela crítica
internacional, o filme foi promovido como um testemunho sobre a vida nos “guetos” cariocas.
(FREIRE-MEDEIROS, 2009)

Somada a esta diferença de abordagem midiática, um fato determinante para o


desenvolvimento do turismo em favelas é a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora
– UPPs.

Projeto de ocupação policial nas favelas e situação que ocasionou a diminuição da


violência, ou aumento da sensação de segurança, nas favelas. Esta mudança de cenário
ocasionou também uma notável alteração na cobertura da mídia, que passou da visão negativa
que mostrava a violência do tráfico na favela para a cobertura do “espetáculo da pacificação.
(RODRIGUES, 2014)

Rodrigues (2014) aponta que devido a esta mudança de discurso da imprensa surge a
oportunidade do turismo em favelas ser feito de forma que os territórios ganhem e não sejam
tratados como se fossem locais exóticos, onde se pratica um safári de pobres, como é
comumente conhecido.
25

Atualmente a atividade turística vem se desenvolvendo em diversas favelas do Rio


de Janeiro, além do Complexo do Alemão e outras favelas da Zona Norte, as favelas da Zona
Sul se destacam principalmente por estarem próximas ao principal circuito turístico da cidade.
(RODRIGUES, 2014)

Talvez uma das favelas turísticas mais famosas seja a Santa Marta, no bairro de
Botafogo. A laje do ambulatório do líder comunitário Dedé foi escolhida em 1996 pelo
cineasta Spike Lee para ser o lugar da gravação do clipe de Michael Jackson “They don’t care
about us”.

Este clipe trata principalmente da questão da desigualdade social no mundo. A partir


daí, o local foi planejado para ser um lugar de visitação com a temática do artista americano
(Figuras 4 A e B):

A partir da morte de Michael que houve uma reforma bancada pelo Governo do
Estado que tornou o lugar Espaço Michael Jackson. Na laje foi instalada uma estátua
e um mural em sua homenagem. A laje ganhou um reforço na estrutura: instalou-se
um mural com a imagem de Michael Jackson criada para um selo comemorativo
pelo artista pernambucano Romero Britto, e foi produzida uma estátua em bronze
pelo artista Ique, com a pose que imortalizou a estrela do pop no clipe.
(RODRIGUES, 2014 , p. 26)

Figuras 4 A e B – Estátua e mosaico do Espaço Michael Jackson


Fonte: Acervo Pessoal
26

Por conta disto esta favela passou a ser mais frequentada por turistas, artistas e pelos
próprios moradores da cidade do Rio de Janeiro. Rodrigues (2014) aponta que ocorre uma
média de dois mil visitantes mensais na alta temporada. É importante ressaltar que o
desenvolvimento do turismo, além dos benefícios econômicos que podem atingir a localidade,
também produz benefícios sociais. Antes da instalação da UPP a laje era uma temida boca de
fumo, que foi afastada definitivamente por conta da turistificação do local.

Tendo em vista que em 1996, a associação entre favela e turismo era considerada
absolutamente maléfica pelos representantes públicos do setor e em 2006, um projeto de lei
fez da Rocinha um dos pontos turísticos oficiais da cidade do Rio de Janeiro, pode-se dizer
que um local anteriormente proibido agora abre as portas para a comunidade turística.
(FREIRE-MEDEIROS, 2009)

1.3 PACIFICAÇÃO E TURISMO – A INFLUÊNCIA DAS UPPS NA TURISTIFICAÇÃO


DAS FAVELAS E SEUS IMPACTOS NA COMUNIDADE LOCAL.

O surgimento das favelas na cidade do Rio de Janeiro pode ser explicado por
diferentes justificativas que, por conta da proximidade cronológica, podem ser interpretadas
como complementares. Seja devido à formação de comunidades quilombolas na cidade após a
Guerra do Paraguai; aos soldados que se instalaram no Rio de Janeiro para fazer cobranças ao
Estado após os conflitos na região de Canudos, na Bahia; ou à ideologia higienista que
norteou as políticas públicas de reforma urbana tomadas por Rodrigues Alves e Pereira Passos
no final do século XIX. (CAMPOS, 2010) (VALLADARES, 2005)

É razoável apontar que o surgimento das favelas cariocas tem profunda ligação com
a crise habitacional que assolou a cidade do Rio de Janeiro por várias décadas e tem
conseqüências até os dias atuais, promovendo a segregação da população mais pobre. Até os
dias atuais pode-se dizer que a cidade encontra-se partida. (SANTOS, 2002)

A conseqüência do abandono das políticas públicas que tem como reflexo histórico a
segregação das favelas deu origem a organizações alternativas que possuem como atividade
principal o narcotráfico e são alimentadas por um contexto de grande corrupção das
instituições que deveriam ser responsáveis pela segurança pública - como a Polícia Militar.
Por se sentirem ignorados pelo poder estatal, alguns moradores destas áreas viram-se
obrigados criar suas próprias regras. Por conta disto estes territórios passaram a ser ocupados
por poderes paralelos, onde o poder público não conseguia intervir, portanto não investia em
27

políticas públicas, o que contribuía com o aumento da informalidade local e aumentava ainda
mais a violência e a segregação. (CARVALHO E SILVA, 2012)

A violência ultrapassou a favela e começou a incomodar diversos atores da


sociedade, o que fez com que a favela voltasse a ser foco das atenções tanto nacionais quanto
internacionais. (CARVALHO E SILVA, 2012)

Em novembro de 2008, a Polícia Militar ocupou a favela Santa Marta, na Zona Sul
da cidade do Rio de Janeiro, e a favela Cidade de Deus, localizada na Zona Oeste. Essas
ocupações foram compunham uma seqüência de ações que culminou na criação de um projeto
que recebeu, posteriormente, o nome de UPP - Unidade de Polícia Pacificadora.

A partir de 2009 diversas políticas de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro


passaram a ter como eixo principal de suas ações a implementação de um policiamento
específico em diversas favelas dominadas pelo narcotráfico no Rio de Janeiro. Menezes
(2014) indica que estas ações como têm em vista o planejamento para dois grandes eventos
internacionais – a Copa de Mundo de Futebol em 2014 e as Olimpíadas em 2016.

Esse projeto ganhou centralidade no debate sobre segurança pública no Brasil e virou
destaque de inúmeras reportagens, sendo apresentado nos meios de comunicação nacionais e
internacionais como uma das ações mais significativas em termos de políticas públicas
produzidas no Rio de Janeiro nas últimas décadas. (MENEZES, 2014)

De acordo com Carvalho e Silva (2011), o discurso que sustenta a política das UPPs
expõe claramente sua preocupação em dar condições para que a cidade do Rio de Janeiro se
prepare para receber os futuros megaeventos previstos, tendo começado sua atuação na Zona
Sul.

José Mariano Beltrame, secretário de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro,


em evento de lançamento do projeto, apontou o principal objetivo das UPPs:

[...] permitir que o Estado realize a reocupação dos territórios dominados por facções
de tráfico de drogas. Durante as últimas décadas, esses grupos [os policiais e as
facções] entraram numa corrida armamentista, a guerra particular em que o rifle
automático era determinante. No Rio, essa disputa é única. Ela ocorre em áreas
densamente povoadas, não faz distinção entre pobres ou ricos, e a favela é o seu
principal palco. E a polícia se inclui no meio dela [...]. Apesar dessa rotina
complicada, a cidade continua atraindo um número crescente de turistas ano após
ano [...]. Temos [inicialmente] ocupado quatro comunidades, cada uma em um
bairro diferente, com a intenção de permanecerem. É o fim dos rifles automáticos, o
fim de experiências traumáticas no entorno destes locais. (FREIRE-MEDEIROS,
VILAROUCA ; MENEZES, 2013, p. 149)
28

Nos primeiros anos após a ocupação policial, havia um grande clima de incerteza em
relação ao futuro das favelas. Circulavam muitos rumores indicando que a UPP poderia
acabar logo após as Olimpíadas e que quem se aproximasse de policiais dentro favelas pacifi-
cadas poderia sofrer represálias tanto imediatamente quanto futuramente, quando os
traficantes voltassem a dominar as favelas (MENEZES, 2014)

Em relação aos resultados obtidos nos estudos mais recentes sobre o tema, a única
certeza encontrada é a mesma de antes: a existência de uma forte indeterminação quanto ao
futuro do projeto. Uma indeterminação que, em certo sentido, sempre acompanhou o projeto,
sobretudo em suas fases iniciais. (MENEZES, 2014)

A ocupação policial nas favelas que agora tem uma UPP foi apoiada pelo Batalhão
de Operações Especiais - BOPE e pelos batalhões de choque que prepararam o terreno para a
entrada das novas unidades policiais. Após as UPPs terem sido instaladas, um grande
contingente de policiais foi alocado permanentemente nesses territórios para combater os
responsáveis pelo narcotráfico e pela violência.

Pode-se dizer que ocupação policial certamente foi efetiva no sentido de diminuição
da violência, ou aumento da sensação de segurança. (MENEZES, 2013)

De acordo com uma pesquisa feita pelo Laboratório de Análise de Violência da


UERJ (PESQUISA, 2012) a presença das UPPs está diretamente ligada à redução de crimes
violentos. Segundo o estudo, os homicídios dolosos foram reduzidos, numa média mensal, de
0,36 para 0,15. Baseado neste dado, se pode dizer que cada UPP salva pelo menos seis vidas
por ano. Além disto, um dado que chama a atenção é a diminuição dos autos de violência –
mortes em confronto com a polícia – de 0,50 para 0,01.

O estudo também aponta que os moradores avaliam que com a presença da UPPs,
aumentaram o respeito e a liberdade para falar de assuntos como a violência e o tráfico, além
de destacarem o fim dos tiroteios e da exposição de armas. No entanto, os dados apontam o
aumento da violência doméstica e alguns moradores ainda guardam receio dos últimos anos e
temem que o projeto seja temporário (PESQUISA, 2012).

Além da diminuição da violência, as UPPs também tiveram impacto no cenário


socioeconômico das favelas. Algumas mudanças nos programas políticos urbanos e de
segurança indicaram uma nova perspectiva voltada para a integração das favelas à cidade.

Entre estas mudanças, Ost e Fleury (2013) elencam como principais medidas que
convergiram para o espaço e populações localizadas nas favelas as políticas sociais de
29

recuperação do valor do salário mínimo com forte impacto redistributivo combinadas a


transferências condicionadas de renda para combate à pobreza e políticas assistenciais de
saúde da família e de assistência social.

Além destas políticas socioeconômicas, a implantação das UPP nas favelas cariocas
também trouxe benefícios diretos para o desenvolvimento urbano, como diversos
investimentos em infraestrutura, moradias e melhorias de acessos e espaços públicos. A
retomada do território pelo estado levou à formalização de serviços públicos essenciais para a
população. (OST; FLEURY, 2013)

Estas medidas de desenvolvimento socioeconômico e de desenvolvimento urbano


ocasionaram o aumento do poder aquisitivo das populações nas favelas, favorecendo o
aumento do consumo e o interesse mercadológico em relação a estes locais. Os profissionais
do mercado turístico observaram neste contexto uma enorme oportunidade para apropriação
deste território para o desenvolvimento de suas atividades.

As favelas cariocas tradicionalmente são visitadas por turistas que desejam conhecer
outro ponto de vista da cidade, seguindo a tendência mundial do slum tourism. Porém, por
serem áreas marcadas pela violência, não faziam parte dos roteiros comerciais dos turistas.

A sensação de segurança que a presença permanente da polícia gera despertou a


confiança para que pessoas do asfalto – geralmente de alto poder aquisitivo - frequentem o
morro e, consequentemente, possibilita ao comerciante local investir por acreditar que tal
movimento da freguesia se sustentará. (OST; FLEURY, 2013)

Neste contexto a atividade turística passa a convergir com o principal objetivo das
UPPs, que é o controle do território. Apesar disto, ainda há muitas controvérsias sobre o
acontecimento e o impacto econômico destas atividades nas favelas, principalmente por conta
dos detentores dos arranjos produtivos do turismo.

Uma das características particulares do Rio de Janeiro em relação a outras grandes


cidades do mundo é que alguns ambientes ocupados por classes sociais desfavorecidas
ocupam o que normalmente seriam os territórios mais valorizados, como as favelas da Zona
Sul.

Gaffney (2013) enxerga uma lógica diferente do que é comumente apontado para o
programa das UPPs: o Estado precisa intervir militarmente em áreas específicas da cidade
para estabelecer o controle sobre o espaço urbano em preparação para os megaeventos do Rio.
30

A diretiva para proteger o PIB do Rio de Janeiro tem sido explícita tanto na localização como
no funcionamento do projeto das UPPs. (GAFFNEY, 2013)

Porém, ao passo que a instalação das UPPs têm tido importante impacto na redução
dos índices de violência, como apontado, elas também abriram novos mercados para o
comércio e a especulação imobiliária.

O autor aponta que a presença do Estado nas favelas ocasionou o interesse de


diversas forças de mercado, ocasionando no aumento dos preços de forma rápida não somente
nestes locais, mas também em seu entorno. (GAFFNEY, 2013)

Além das UPPs, o contexto das Olimpíadas também é uma justificativa para este
fenômeno. Gaffney (2013) aponta que tradicionalmente as Cidades Olímpicas passam por
uma onda de especulação imobiliária. Para o autor, a atenção midiática junto a uma demanda
estimulada pelo evento faz com que os valores dos imóveis sejam desligados do contexto
local. (GAFFNEY, 2013)

De acordo com seus estudos, Gaffney (2013) indica que diversas evidências, como o
aumento do custo de vida e a mudança de grupos sociais vivendo nestes territórios, apontam
que as UPPs têm atraído outras camadas sociais a ocupar as favelas da Zona Sul. Portanto, o
autor entende que existe evidência suficiente para sugerir que as UPPs iniciaram processos de
gentrificação nas favelas do Rio de Janeiro.

Um consenso na literatura sobre a gentrificação é que esta envolve o deslocamento


de um grupo social por outro grupo em melhores condições econômicas, com diferentes
padrões culturais, ou seja, um território sofre alteração do principal grupo social ocupante.
(MENDES, 2011)

Mendes (2011) caracteriza a gentrificação por quatro principais indicadores:

1) Reorganização da geografia urbana com a substituição de um grupo por outro;


2) Reorganização espacial de indivíduos com determinados estilos de vida e
características culturais;
3) Transformação do ambiente construído com a criação de novos serviços e
requalificação residencial que pressupõe melhoramentos;
4) Alteração de leis de zoneamento que permita um aumento no valor dos imóveis,
aumento da densidade populacional e uma mudança no perfil socioeconômico.
(MENDES, 2011 , p. 33)
31

Ainda, estes processos são potencializados pelo desenvolvimento de Parcerias


Público-Privadas que beneficiam grupos sociais em melhor situação econômica, que passam a
exercer controle, poder e dominação do espaço urbano. (Mendes, 2011)

Com a sensação de segurança trazida pela política de segurança pública, a favela se


mostrou um local lucrativo ao atrair pessoas de fora da comunidade que buscam nos eventos
que ali ocorrem algo diferente.

Ocorre que o maior fluxo e a presença de novos grupos sociais leva a


questionamentos por parte dos moradores, que sentem que perderam espaço em sua própria
comunidade para estes novos atores que agora aproveitam para lá circularem e para os que
lucram com a mudança de público. (OST; FLEURY, 2013)

Alguns moradores já baseiam críticas às UPPs justificadas pela chamada remoção


branca da população de áreas pacificadas. Em alguns locais, como o pico da favela Santa
Marta não foram implementadas políticas públicas de habitação e infraestrutura (Figura 5). A
comunidade local teme por não ter mais condições de sobreviver nestes locais e ser
economicamente forçada a vender suas residências e estabelecimentos comerciais para
empresários e turistas:

Muitos moradores, especialmente do Santa Marta, se queixam que depois de a favela


ser ocupada pela polícia houve uma “invasão” de “gringos”, “playboys” (cariocas de
classe média que frequentam festas na favela) e empresários dos mais variados
ramos. Circula pelo morro a especulação de que os moradores e comerciantes do
morro em breve não conseguirão mais resistir à especulação imobiliária e ao
aumento do custo de vida. (OST; FLEURY, 2013, p. 657)
32

Figura 5 – Pico da favela Santa Marta


Fonte: Acervo Pessoal

Ost e Fleury (2013) afirmam que a integração da favela não ocorre se não acontecer
nos dois sentidos: asfalto-morro, morro-asfalto. Portanto, concluem que o que tem ocorrido
nestes locais é mais uma invasão da classe média e uma mercantilização dos seus espaços
sociais, ou seja, um movimento de expansão do mercado com restrições para os moradores
locais. (OST e FLEURY, 2013)

A cidade comemora a retirada do domínio armado do tráfico na favela, possibilitando


a inserção mais efetiva do Estado e da ordem. Contudo, ignoram-se os problemas causados
aos moradores da favela pela exploração econômica que acompanha a nova ordem, como as
inseguranças e o medo da remoção branca.Ao contrário, tal exploração é socialmente
aceitável e até estimulada ao ser percebida como um processo natural. (OST; FLEURY, 2013)

Favelas não são geograficamente, sociologicamente ou economicamente


homogêneas, portanto a substituição de grupos sociais implica na perda da identidade e do
patrimônio cultural da região, observada em expressões culturais e hábitos cotidianos
peculiares de cada local. (GAFFNEY, 2013)
33

2 O ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR E A EVOLUÇÃO DOS


PERFIS MOTIVACIONAIS DO TURISMO

De acordo com Ma (2010), a compreensão das motivações dos turistas é crucial para
se avaliar a relevância das críticas morais a respeito do significado do turismo em favelas.
Pondo em debate as intenções éticas dos turistas, por um lado se têm críticas que incluem
reclamações sobre exploração e voyeurismo, e por outro o interesse e curiosidade de se
compreender e tentar contribuir com o bem estar e qualidade de vida das comunidades
desfavorecidas.

Dado este fato, o enfoque de estudos deste capítulo é o comportamento do


consumidor do turismo e a evolução dos fatores motivacionais que contribuem no processo da
decisão por viajar. São apresentadas categorias motivacionais que classificam os turistas de
acordo com suas preferências e de que forma ocorreu a evolução destes estudos.

Em seguida são apresentados alguns estudos feitos especificamente em relação ao


comportamento do consumidor do turismo em favelas buscando compreender as motivações
dos turistas que buscam este tipo de experiências.

Por último é abordado o tema do comportamento pós-moderno do turista. Em


contraponto ao turista de massa, esta nova categoria de viajante possui ciência dos impactos
causados pela atividade turística e consciência da sua responsabilidade como ator envolvido
no processo turístico. Este perfil é apresentado neste estudo como Turismo Responsável.

2.1 O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR E AS CATEGORIAS MOTIVACIONAIS


PARA O TURISMO

O desejo das pessoas por viajar pode ser analisado através de estudos da área de
marketing, sendo mais especificamente na área de comportamento do consumidor. Podem-se
produzir pesquisas e estudos utilizando os perfis motivacionais para interpretar a vontade e a
preferência das pessoas de viajar e conhecer lugares.

Segundo Middleton (2002) as propensões para participar de viagens determinam o


nível geral da demanda gerado em diferentes países, mas não explicam as escolhas de
produtos individuais feitas por diferentes tipos de pessoas. Por isto, é necessário haver uma
34

discussão sobre as motivações para esclarecer o porquê e como estes consumidores fazem
suas escolhas.

Para Cooper (2007), os fatores que influenciam a demanda turística estão


intimamente relacionados a modelos de comportamento do consumidor, pois não existem dois
indivíduos iguais, e as diferenças em termos de atitudes, de percepções, de imagens ede
motivação têm uma importante influência sobre as decisões relativas a viagens.

As pesquisas sobre o turismo que tendem a se concentrar não nos tipos de turismo,
mas nos tipos de turistas e seus diversos traços, características, motivações e necessidades
individuais possibilitaram aos pesquisadores e profissionais do ramo entender melhor o
comportamento dos turistas com base no tipo de experiências buscadas, como indivíduos e
como grupos. (FENNELL, 2002 apud SPAMPINATO, 2009)

Para aqueles que administram o turismo, é importante pesquisar e compreender o


modo pelo qual os consumidores dessa área agem e tomam decisões em relação ao consumo
dos produtos turísticos. (COOPER, 2007)

Entender a motivação é a chave para compreender o comportamento do turista


(COOPER, 2007), e esses padrões sofrem mudanças com base nos diferentes produtos
disponíveis,na maneira pela qual os indivíduos aprenderam a adquirir produtos turísticos
e na sua consciência a respeito do consumo em geral. Para Middleton (2002) uma discussão
mais precisa da motivação individual deve ser relacionada às necessidades e aos objetivos
pessoais.

O estudo das motivações de viagens busca compreender os fatores internos e


externos que ajudam o turista na decisão de escolha de um roteiro a ser consumido. De acordo
com essa abordagem, os aspectos que influenciam o desejo de uma pessoa por viajar são
divididos em dois fatores: push e pull. (MA, 2010)

Os fatores push são aqueles que levam as pessoas a decidir viajar, ou seja,
condicionantes que empurram o turista. Estes fatores são relacionados às necessidades e
desejos do viajante como, por exemplo escapismo, descanso, relaxamento, aventura,
status, dentre outros. Simplificando, são os fatores internos, que trazem as motivações
pessoais e desejos que influenciam uma pessoa a tomar decisões a respeito do destino da
viagem e das atividades da programação. (MA, 2010)

Os fatores pull são os fatores presentes nos destinos turísticos e que atraem o
consumidor. Estes fatores estão relacionados às características específicas dos destinos –
35

atrativos, infra-estrutura (acesso, transporte, etc.), equipamentos turísticos e de apoio (bares,


hotéis, restaurantes, etc.). (MA, 2010)

De acordo com esta interpretação pode-se identificar dois momentos distintos no


processo de decisão de viajar: primeiro a necessidade e o desejo de viajar – manifestação dos
fatores push – e em seguida a escolha do destino, sob a influência dos fatores pull.

Portanto a interação entre atributos da personalidade, tais como a atitude, a


percepção e as motivações permitem a identificação de diferentes tipos de
comportamento dos turistas.

Cooper (2007) entende que os turistas podem ser caracterizados em diferentes


tipologias ou papéis de acordo com a motivação que tem papel de força energizante ligada às
necessidades pessoais. Para o autor, é possível estudar os papéis em relação às formas de
comportamento voltadas para os objetivos ou as decisões de férias. (COOPER, 2007)

Dann (1981 apud MA, 2010) apontou a existência de sete elementos dentro da
abordagem geral para a motivação. Algumas delas se destacam em relação ao assunto
estudado neste trabalho:

A motivação e as experiências turísticas: Essa abordagem caracteriza-se pelo


debate quanto à autenticidade das experiências turísticas e depende das crenças
sobre os tipos de experiência turística.
A motivação como autodefinição e significado: Esse elemento sugere que a
maneira pela qual os turistas definem suas situações proporcionará uma maior
compreensão da motivação turística do que a simples observação do seu
comportamento. (DANN, 1981 apud MA, 2010 , p. 9)

Cohen (1974) utiliza uma tipologia bastante adequada para os perfis de turistas que
são avaliados futuramente neste trabalho. Em seu trabalho, o autor distingue os turistas em
quatro categorias: “de massa organizados”; “de massa desorganizados”; “exploradores”; e
“alternativos” (Figura 6):
36

Altamente dependentes de uma “bolha


ambiental” criada, suprida e mantida pela
indústria internacional do turismo. Seu
Turistas de massa organizados consumo é caracterizado por feriados com
pacotes completos e recheados de
atrações. A familiaridade domina; a
novidade inexiste ou é altamente
controlada.

Esses usarão as facilidades institucionais


dosistema turístico (vôos marcados,
reservas centralizadas, transfers) para
Turistas de massa individuais antecipar o máximo possível de suas
necessidades antes de saírem de casa;
talvez visitem os mesmos locais que os
turistas de massa, mas seguem seus
próprios interesses.

A expressão mais importante, aqui, é “ir


aonde ninguém vai”. Costumam guiar-se
apenas por um artigo sobre viagens em
Exploradores vez de escolherem seu destino através de
uma brochura turística. Este tipo entrará
na bolha de conforto se a situação
mostrar-se difícil demais.

Este tipo de turista busca o ineditismo a


todo custo, e até mesmo o desconforto e o
perigo. Eles tentam evitar qualquer
Alternativos contato com os “turistas”. A novidade é
seu objetivo total; seus padrões de gasto
tentem a beneficiar os estabelecimentos
periféricos, em vez de grandes
companhias.

Figura 6 – Categorias Motivacionais de Cohen


Fonte: Elaboração própria a partir de Cohen (1974 apud SPAMPINATO 2009 , p. 26)

As categorias de motivação utilizadas em cada estudo ou projeto variam de acordo


com os tipos de perfil que se deseja identificar e com a maneira pela qual se pretende
37

analisar o comportamento do consumidor. Esta decisão fica a critério do autor e do tipo


de pesquisa a ser desenvolvido.

2.2 O SLUM TOURISM E OS DEBATES A RESPEITO DE SUAS CONTROVERSAS


MOTIVAÇÕES

Em relação ao slum tourism e os diversos locais que estão se destacando pela


atratividade justamente por serem locais desfavorecidos, como as favelas cariocas, Freire-
Medeiros (2009) entende que esta forma de consumo pela via do turismo se caracteriza como
um elemento de distinção social que cria novas e complexas hierarquias.

A autora entende que é preciso observar que os turistas, ao consumirem os objetos e


práticas associados a pessoas desfavorecidas, não querem necessariamente ser como eles, mas
consumir a própria diferença socioeconômica através dos símbolos associados à pobreza.
(FREIRE-MEDEIROS, 2009)

De acordo com esta reflexão, homens e mulheres passam a procurar, cada vez mais,
experiências inusitadas, interativas, aventureiras e autênticas em destinos cujo apelo reside na
antítese daquilo que se costumava classificar como turístico. (FREIRE-MEDEIROS, 2009)

No âmbito do turismo, reproduz-se aquilo que ocorre em tantos outros campos de


consumo: uma vez que os grupos de mais baixo status se apoderam da viagem de lazer como
um bem, resta aos demais segmentos investirem em novos bens a fim de restabelecer a
distância social original. (FREIRE-MEDEIROS, 2009)

Assim sendo, a busca por este tipo de experiência em favelas pode ser mais uma
tentativa dos turistas de buscar alternativas autênticas e interativas para obter emoções reais e
se distinguir das atividades do turismo de massa. Porém, debates acalorados estão em curso
sobre o lado ético e moral do turismo em favelas, onde a miséria e a pobreza muitas vezes são
exibidas e admiradas. (KLEPSCH, 2010)

Por isto, a pesquisa e compreensão das motivações turísticas em relação a favelas ou


locais com características parecidas contribuem no sentido de esclarecer quais são as reais
motivações destas visitas e qual é o perfil geral do turista que busca estas experiências.

Em seu trabalho, Ma (2010) elencou algumas categorias motivacionais do turismo de


massa para avaliar o comportamento dos turistas que tinham acabado de realizar um roteiro a
pé em Dharavi, região reconhecida pela pobreza na cidade de Mumbai, Índia (Figura 7).
38

Categorizando motivações de destinos de massa para buscar compreender as


motivações do praticante de slum tourism, o pesquisador busca compreender se os motivos
que levam os turistas a ter interesse por estes locais são os mesmos do turismo tradicional, ou
se há alterações no perfil comportamental e motivacional.

Desta forma se pode produzir pesquisas com a intenção de formular hipóteses sobre
o interesse ser apenas contemplativo ou se o turista realmente tem interesse de compreender
sobre as condições de vida das pessoas que vivem nestes lugares.

Motivações Slum Tourism - Ma (2010)


Categoria 1: Curiosidade Cultural Categoria 4: Escapismo
Curiosidade em ver um modo de vida diferente. Pensar que o passeio é divertido e emocionante.
Ver o cenário, as vielas e a vista da cidade que se tem em
Fugir um pouco da vida na cidade.
uma favela.
Pensar que a visita retrata a vida na favela de forma
Categoria 5: Conexão com experiências não-turísticas
autêntica.
Vontade de compartilhar a experiência com sua família e seus
Fugir um pouco dos passeios mais tradicionais da cidade.
amigos depois.
Experimentar a vida em um ambiente de extrema
Ver a favela que somente conhecia através de filmes e livros.
pobreza.
Categoria 2: Interesse próprio Categoria 6: Pré-concepções do turismo em favela
Pensar que um passeio pelas favelas é uma experiência Mudar a imagem negativa das favelas que as pessoas têm em
única e inesquecível. mente.
Ver o contraste entre o lado rico e o lado pobre do Rio de A vida na favela parecer mais autêntica e genuína do que a vida
Janeiro. na cidade.
Curiosidade para saber como é sua própria vida em
Ver um tipo diferente de pobreza.
comparação com a de moradores da favela.

Vontade de valorizar mais a própria vida após a visita.

Categoria 3: Outras Curiosidades


Vontade de contribuir para o bem-estar dos moradores
das favelas.

Ver de perto as controvérsias do turismo em favela.

Vontade de interagir com os moradores das favelas.


Figura 7 – Categorias Motivacionais Ma (2010)
Fonte: Ma (2010)

Alguns aspectos relevantes do resultado de sua pesquisa é que as afirmativas


relacionadas à Categoria 1 “Curiosidade Cultural” foram as com maior índice de
concordância em sua pesquisa. Desta maneira, pode-se concluir que o interesse por conhecer
outra cultura foi o mais relevante fator os turistas que visitaram Dharavi.
39

Um importante dado em relação à percepção da pobreza e o esclarecimento sobre o


impacto do turismo destes visitantes é a observação de que enquanto muitos turistas
mencionaram que parte de suas motivações para participar destas atividades de turismo em
Dharavi era contribuir com o bem-estar dos moradores locais, a grande maioria também
apontou que não costuma praticar ações deste tipo nos seus países de origem.

Além disto, duas motivações tradicionalmente associadas ao turismo de massa,


“diversão e escapismo”, foram muito correlacionadas, mas receberam duas das mais baixas
médias. Isto sugere que apesar de entenderem que se trata de uma atividade turística, os
visitantes não percebem o slum tourism como entretenimento, mas como uma experiência
mais direcionada à autenticidade e realidade.

Uma pesquisa referente aos principais motivos de interesse e desinteresse para visitar
uma favela foi realizada recentemente (FREIRE-MEDEIROS; COELHO; MONTEIRO,
2012) e, diferenciando turistas nacionais e internacionais, o resultado obtido demonstra que
no caso dos brasileiros, a maior motivação é “conhecer a cultura, a realidade local e as
pessoas da favela” e no vaso dos estrangeiros, buscar “uma perspectiva diferente sobre a
cidade” (Figura 8).

Figura 8 - Motivos para visitar a favela por tipo de turista.


Fonte: Elaboração FGV Projetos (apud FREIRE-MEDEIROS; COELHO; MONTEIRO, 2012)
40

Em relação aos motivos de desinteresse, as afirmativas mais apontadas tanto pelos


visitantes nacionais, quanto internacionais, foram “Não tem curiosidade” e “Não parece um
lugar interessante”. Os entrevistados também mostraram que a segurança é um fator
determinante em relação a escolha deste tipo de roteiro, pois a afirmativa “É perigoso,
arriscado” também teve um alto índice de apontamentos (Figura 9).

Figura 9 - Motivos do desinteresse em visitar uma favela.


Fonte: Elaboração FGV Projetos (FREIRE-MEDEIROS; COELHO; MONTEIRO, 2012)

Alguns estudos mais recentes sobre o comportamento do consumidor tratam


especificamente sobre a busca por novas formas de atividades turísticas. Nestes estudos pode-
se encontrar um fator em comum a todas elas: a procura pela autenticidade.

De acordo com Spampinato (2009), esta busca por autenticidade pode ser
reconhecida como traço comum a todas as viagens, enquanto, na pós-modernidade se
apresente com características típicas e únicas.

Freire-Medeiros (2009) sugere que cada vez mais cresce o número dos chamados
pós-turistas que buscam adotar uma postura de consciência política e ecológica. São os
viajantes que evitam a todo custo “o lazer de ir e ver o que se tornou banal”. (FREIRE-
MEDEIROS, 2009 , p. 35)
41

Estes novos viajantes buscam experiências fora do comum porque compreendem o


ambiente turístico tradicional como um espaço de encenação onde o turista assume papel de
ator e espectador ao mesmo tempo em um jogo de representações.

Mesmo não entendendo o pós-turista como uma representação de um suposto


desaparecimento do turista tradicional, Spampinato (2009) reconhece que esse conceito nos
ajuda a enfrentar de uma forma mais ampla essa questão.

O turismo em favelas pode ser enxergado como um exemplo da busca por destinos
inusitados e anti-turísticos. Nestes casos diversos homens e mulheres que escolhem pagar por
uma visita a um território associado à pobreza e à violência, em geral temido e evitado pelas
elites locais. (FREIRE-MEDEIROS, 2009)

Urry (2001) elenca três características que desenham melhor essa figura típica da
contemporaneidade/pós-modernidade:

Em primeiro lugar, ele não precisa deixar sua casa para ver muitos dos objetos
típicos do olhar do turista, e revê-los infinitas vezes simplesmente apertando um
botão. É por isso que “existe muito menos noção do autêntico, de um olhar único e
muito mais de uma infindável disponibilidade de olhares através de uma moldura”.
Em segundo lugar, o pós-turista tem consciência da multiplicidadede escolhas e
deleita-se com elas, ele pode deslocar-se facilmente entre os constrangimentos
impostos pela “alta cultura” e a busca desenfreada do “principio de prazer” obtendo
prazer dos contrastes existentes entre ambos.
E em terceiro, o pós-turista sabe que ele é um turista, que o turismo é um jogo, ou
melhor, uma série de jogos, com múltiplos textos, e não uma experiência turística
singular, e nisso representa, em parte sua superação. (URRY, 2001, p.139)

Logo, pode-se apontar como uma característica desse grupo a ansiedade em


diferenciar-se. Uma diferenciação ainda mais complexa do que aquela que opõe simplesmente
os nativos a turistas. Para estes turistas a popularização de um local é o suficiente para este
destino deixe de ser interessante:

Potencializa-se uma irremediável ansiedade na experiência de consumo: afinal, se


todos passarem a visitar, por exemplo, praias desertas, logo elas deixarão de ser
desertas, perdendo assim a característica que lhes permitia ser comercializadas como
um bem exclusivo. (FREIRE-MEDEIROS, 2009 , p. 92)

Uma característica determinante do cidadão pós-moderno é a variação de suas


preferências ao longo do tempo. Por isso, na mesma época e na mesma sociedade podemos
42

observar vários tipos de turistas, e os mesmos indivíduos podem adotar diversas posturas e
comportamentos em diferentes momentos da própria vida. (SPAMPINATO, 2009)

Por isso, ao passo que ocorre o debate sobre a ética e a moral dos viajantes que
procuram conhecer estes lugares desfavorecidos, deve-se compreender que diversos tipos de
comportamentos e interesses podem caracterizar o viajantes que busca estas experiências.

Deve-se compreender que cresce cada vez mais o número dos chamados pós-turistas
que, política e ecologicamente corretos, evitam a todo custo viagens motivadas somente pela
ótica banalizada do consumo sem motivações éticas e substanciais. E ao invés de se debater
sobre o tipo de turista que visita as favelas, deve-se produzir estudos que dêem subsídios para
a formulação de estratégias que atraiam estes consumidores a estes locais caracterizados pela
necessidade de desenvolvimento.

2.3 O COMPORTAMENTO CONSCIENTE QUE DIFERENCIA NOVOS PERFIS DE


TURISTAS

Para proporcionar melhor compreensão deste novo perfil de visitante que possui
consciência de seu papel e busca formas de turismo com características diferentes do turismo
de massa, pode-se fazer uma comparação entre os fatores motivacionais do viajante que se
adéqua às formas tradicionais de turismo e quais são as motivações que caracterizam as
modalidades de turismo que se adéquam ao comportamento pós-moderno.

O turismo de massa é caracterizado por Spampinato (2009) pela contínua tendência


da indústria do turismo à homogeneização da experiência turística em todas as partes do
mundo por meio da implementação de equipamentos e serviços de lazer artificiais em diversas
modalidades, como resort, parques temáticos, restaurantes, shopping centers e grandes
cadeias hoteleiras.

Em geral as relações de consumo são padronizadas e os turistas viajam conscientes


do tipo de serviços e estrutura de atrativos que encontrarão. Toda esta homogeneização dos
arranjos produtivos leva à padronização e vulgarização da cultura dos destinos turísticos.

Este tipo de turismo é feito sob a proteção da chamada bolha turística, que são as
estruturas que isolam o turista da estranheza do ambiente que o cerca e o hospeda
(SPAMPINATO, 2009). Esta forma passiva de buscar atividades turísticas onde se condiciona
o conforto ao isolamento das diferenças culturais entre visitante e visitado afasta o turista da
43

autenticidade dos encontros, que é o que ocasiona o enriquecimento cultural e subjetivo


durante as viagens.

Este tipo de turista abre mão da autenticidade e do inesperado para resguardar suas
viagens e prevenir imprevistos. De acordo com Butler (1990), muitas pessoas parecem gostar
de ser turistas de massa por preferirem não precisar fazer seus próprios planos de viagem:

[preferem] não precisarem procurar por hospedagem ao chegarem ao destino,


poderem adquirir bens e serviços sem ter de aprender uma língua estrangeira,
usufruírem de um certo conforto –em alguns casos até considerável-, poderem
ingerir comidas razoavelmente conhecidas e familiares, e não serem obrigados a
gastar muito dinheiro ou tempo para alcançar esses objetivos. (BUTLER, 1990)

Spampinato (2009) descreve as experiências de turismo de massa como


“experiências de descanso, conforto, mas ao mesmo tempo isolamento, distância e
homogeneização cultural”. (SPAMPINATO, 2009 , p. 30)Portanto, assume-se que o que
caracteriza, de fato, o turismo de massa é a distância entre o turista e o entorno.

O problema é que ao adotarem este comportamento, os turistas que não tem como
ponto de interesse estabelecer relações com os indivíduos locais produzem um sentimento de
inferioridade e hostilidade na comunidade local. (SPAMPINATO, 2009)

É bastante crítico observar visitantes que se incluem de forma intrusa na vida


cotidiana de outra cultura e evitam qualquer forma de interação. Esse modo de ação deve ser
evitado, para que a atividade turística se desenvolva de forma harmoniosa entre visitantes e
residentes. (BENATTI; SOUZA, 2011)

Entretanto, existem outras formas de turismo que não acontecem dentro da bolha
turística. Um aspecto essencial das experiências de turismo alternativo é a valorização da
cultura e do meio ambiente local. Desta forma, “as particularidades, o típico, o característico,
o tradicional e o histórico são elementos importantes nessas formas de turismo”.
(SPAMPINATO, 2009 , p. 33)

Estas formas de turismo são baseadas no diálogo, que conforme aponta Spampinato
(2009) deve ser construído conjuntamente entre o anfitrião e o turista. Estas formas de turismo
são dependentes do relacionamento saudável entre o visitante e o visitado:
44

O turismo também se converte num gesto de paz quando se organiza conjuntamente


com as comunidades de acolhimento, acordando datas, modalidades, serviços e
benefícios equitativos. Este é o principal objetivo do denominado “turismo
responsável”. (SOMOZA, 2008 , p. 67)

É essencial para estas formas de turismo que o diálogo seja autentico. Buber (1982)
ilustra de que forma o diálogo deve ocorrer para ser benéfico para ambas as partes:

É aquele onde cada um dos participantes tem, de fato, em mente o outro ou os outros
na sua presença e no seu modo de ser e a eles se volta com a intenção de estabelecer
entre eles e si próprio uma reciprocidade viva. (BUBER, 1982 apud
SPAMPINATO, 2009 , p. 31)

É por estes motivos que o diálogo propriamente dito se realiza entre particularmente
entre pessoas, e não entre indivíduos. (BUBER, 1982 apud SPAMPINATO, 2009) Neste
processo o turista não enxerga o morador como figura representativa da pobreza, assim como
o morador também não enxerga o turista como fonte de renda.

Falcão (2006) identifica diferenças substanciais entre o turismo tradicional e o


chamado ‘turismo de desenvolvimento’. Entre elas, o isolamento do turista dá lugar à sua
integração, assim como o consumo dá lugar ao aprendizado, a concentração de benefícios dá
lugar à sua distribuição, e o turismo ocorre a serviço da comunidade, e não o contrário (Figura
10).

Turismo tradicional Turismo do desenvolvimento

O turista se isola O turista se integra

Concentração de benefícios Distribuição de benefícios

Receita Riqueza

Objetivo de desenvolvimento macroeconômico Objetivo de desenvolvimento integral

Comunidade a serviço do Turismo Turismo a serviço da comunidade

O turista consome O turista aprende

Expansionismo científico Ordenamento programático

Crescimento sem limites Limites em prol do bem-estar


Figura 10 – Comparação entre Turismo tradicional e Turismo do desenvolvimento
Fonte: Falcão (2006, p. 133)
45

O turismo responsável é um perfil motivacional diferenciado que vem se


caracterizando nos turistas ao longo do século XXI, composto por turistas que compreendem
seu papel como atores protagonistas no fenômeno turístico, responsáveis por impactos sociais,
culturais, econômicos e ambientais, sejam estes positivos ou negativos, de acordo com o tipo
de atividade com as quase estão envolvidos.

Estes turistas compreendem seu papel e sua responsabilidade em colaborar não


somente com seu próprio bem-estar, mas com a comunidade receptora. Por isto, este
movimento de turismo alternativo foi chamado de turismo responsável.

Spampinato (2009) afirma que o turismo responsável nasceu como alternativa ao


turismo de massa.

A autora registra que atualmente há por parte dos viajantes uma maior sensibilidade
para os aspectos sociais e culturais do turismo e, particularmente, se fazem evidentes o
interesse e a procura por contatos e relações que vão além da simples proximidade física, mas
que demonstram uma vontade de compartilhar, trocar e de colaborar não apenas pela própria
diversão, mas, de uma forma que seja útil para a comunidade receptora. (SPAMPINATO,
2009)

Nas palavras de Somoza (2008), esta vertente não deve ser caracterizada como um
tipo de turismo, mas uma filosofia de turismo onde o visitante deixa de ser um visitante sem
nenhuma responsabilidade no local, para assumir que as próprias ações podem ter
conseqüências no local, no meio ambiental e social. Ocorre um posicionamento ativo de todos
os atores do processo, incluindo o próprio turista.

Burstzyn e Bartholo (2012) apontam que o turismo responsável pode ser ilustrado
pelas viagens feitas “segundo os princípios de justiça social e econômica e no pleno respeito
ao meio ambiente e as culturas” (BURSTYN; BARTHOLO, 2012 , p. 106). Ainda, apontam
que o turismo responsável reconhece a centralidade da comunidade local e o seu direito em
ser protagonista no desenvolvimento turístico sustentável e socialmente responsável de seu
território.

Também se referem aos principais atores do processo ao defender uma interação


positiva entre indústria do turismo, comunidades locais e viajantes.

Estes três agentes devem ser igualmente responsáveis e encarregados dos impactos
do turismo. É uma forma de turismo que possui consciência e respeita as três dimensões da
sustentabilidade. Portanto trata-se de um aspecto conceitual relacionado ao turismo de fato
46

considerando a interação entre o organizador de viagem, o viajante e a comunidade local.


(SOMOZA, 2008)

Portanto o turismo responsável se alicerça “num forte sentido de solidariedade aliado


a uma clara consciência das potencialidades que o próprio papel de turista pode desenvolver
no local.” (SPAMPINATO, 2009 , p. 14)

O que parece ter mudado não é, portanto, apenas o tipo de produto demandado pelos
turistas, mas a consciência de poder mudar seu próprio papel. (SPAMPINATO, 2009)

Estes turistas se caracterizam não somente pela existência de uma preocupação e de


um interesse em receber uma série de informações operacionais sobre a transparência no
preço e, particularmente, sobre o uso e o destino do dinheiro gasto na viagem, mas também
sobre a possibilidade e a preocupação em participarem de um efetivo encontro e interação
como a comunidade receptora:

Emergiu, entre outras coisas, um anseio de se sentir úteis à comunidade,


expressando a vontade de desenvolver trabalho voluntário e colaborações pessoais
nas áreas da educação e da saúde. (SPAMPINATO, 2009 , p. 14)

Podemos identificar hoje duas grandes tendências com relação às ações de turismo
responsável:

A primeira se refere à adoção de praticas baseadas na responsabilidade social e


ambiental por parte das empresas, como a redução do consumo de energia, redução
da emissão de gases poluentes, melhora do relacionamento com os funcionários e
fornecedores e o combate à prostituição infantil”.
A segunda tendência é a de promover práticas de turismo que promovam a interação
autêntica e positiva entre visitantes e visitados, estimulando os encontros
interculturais e a geração de maiores benefícios no âmbito local. Esta tendência se
caracteriza por viagens que incluem experiências como a participação em programas
de voluntariado, a visitação a projetos de cunho socioambiental e o apoio a
iniciativas de TBC. (BURSTZYN; BARTHOLO, 2012 , p. 111)

Ainda tratando desta nova característica de demanda turística, está havendo uma
mudança gradual no interesse dos viajantes, que passam a valorizar aspectos gerais da cultura
em detrimento dos ícones culturais, e isso sugere que cada vez mais ocorre a necessidade de
47

se combinar cultura, lazer, conforto e produtos de entretenimento. (SNV, 2009 apud


BURSTZYN E BARTHOLO, 2012)

Benatti e Souza (2011) apontam que estes turistas desejam que a interação entre
visitantes e visitados seja positiva tanto por conta do enriquecimento cultural quanto do
econômico.

Para as autoras, é essencial compreender que a integração, amiga e respeitável, entre


visitantes e residentes, precisa ser elevada, proporcionando novos conhecimentos, apreensão
de novas culturas e paz de diferentes povos, bem como a valorização do artesanato local e a
geração de empregos. (BENATTI; SOUZA, 2011)

Silva e Martins (2012) apontam que no contexto contemporâneo de preocupação com


a sustentabilidade e de avanços das tecnologias da informação e comunicação, emerge cada
vez mais a ideia de difusão e compartilhamento do conhecimento na sociedade, que implica
na abertura para concepções e propostas interdisciplinares.

Como já apontado, os elementos culturais são responsáveis por atrair visitantes e


recursos para o desenvolvimento econômico de uma localidade. Para tanto, a atividade
turística deve ser realizada de modo sustentável, buscando a preservação do meio ambiente, o
crescimento econômico e harmonia entre visitantes e residentes. (BENATTI; SOUZA, 2011)

A forma como o tipo de turismo é organizado, pensado e estruturado é um fator


chave na análise da relação entre visitante e visitado, porque pode favorecer ou obstaculizar,
concretamente, a possibilidade do encontro. (SPAMPINATO, 2009)

Baseando-nos nessas reflexões, Spampinato (2009) entende o chamado Turismo de


Base Comunitária - TBC como um laboratório onde é possível experimentar novas realidades
relacionais, sendo propiciada a interação, o intercâmbio intercultural e a troca de valores.

Burstzyn e Bartholo (2012) apontam que a interação entre o TBC e o Turismo


Responsável é positiva para ambas as partes:

Não resta dúvida quanto à proximidade conceitual existente entre os princípios do


turismo responsável e do TBC. Promover mais articulação entre o mercado
consumidor, responsável e solidário, e as iniciativas de TBC pode representar um
fértil caminho rumo à sustentabilidade de ambos os movimentos. (BURSTZYN E
BARTHOLO, 2012 , p. 110 )
48

Ainda, os autores ilustram que o turismo responsável agrega viajantes interessados


em conhecer novos lugares e pessoas de um modo mais ativo e participativo e, para tal,
precisa de localidades dispostas a abrir suas portas para a convivência com o que vem de fora.
(BURSTZYN E BARTHOLO, 2012)

Spampinato (2009) também evidencia que o turismo responsável se caracteriza pelo


surgimento de uma nova maneira da comunidade local se tornar protagonista no processo,
estimulado de um lado pela nova demanda por outros formatos de turismos, e de outro, pela
ação de movimentos sociais e culturais, ONGs e associações que estimulam uma mobilização
ativa das populações locais em prol da própria defesa do meio ambiente e, em particular, da
própria cultura. (SPAMPINATO, 2009)

Pode-se dizer que o engajamento ativo por parte dos turistas deu origem ao
movimento do turismo responsável. O turista responsável é aquele que não se esquece, em
seus momentos de lazer e diversão, dos inúmeros impactos negativos decorrentes de suas
opções de viagem. (BURSTZYN E BARTHOLO, 2012)

Essa modalidade alternativa de fazer turismo está ganhando espaço nos interesses
dos turistas, sobretudo europeus. Porém, turistas de todas as partes do mundo já adotam
comportamentos e características que os insere neste cenário. (SPAMPINATO, 2009)

Portanto, a busca pelo afastamento da bolha turística se faz evidente em visitantes


que buscam se afastar das práticas relacionadas ao comportamento do viajante do turismo de
massa. Este novo perfil pretende tornar-se protagonista e peça essencial da experiência
turística para vivenciar sua viagem de forma mais lúdica e, desta forma, compreender de
forma mais aprofundada a cultura do local visitado e a troca de valores que é oportunizada
durante suas viagens. Este comportamento é uma ótima alternativa para a busca de atividades
turística baseadas na sustentabilidade.
49

3 TURISMO EM FAVELAS – DISCUSSÕES DE ALTERNATIVAS PARA O


DESENVOLVIMENTO LOCAL E INTERPESSOAL

O objetivo deste capítulo é contextualizar o que foi apresentado nos capítulos


anteriores com a finalidade de se discutir maneiras de alcançar o desenvolvimento do local e
da cidadania por meio do turismo em favelas.

Como enfoque são apresentadas três propostas: a evolução das políticas de segurança
pública em investimentos socioeconômicos; o protagonismo da comunidade de acordo com as
premissas do Turismo de Base Comunitária; e o encontro entre turista e morador local de
acordo com Turismo Responsável, trocando jipes por encontros autênticos para se
desconstruir preconceitos e estereótipos.

São analisados os impactos socioeconômicos que ocorrem em função do projeto das


UPPs e da turistificação das favelas. Como apontado, as políticas públicas de
desenvolvimento econômico das favelas que ocasionaram o crescimento do interesse turístico
não foram acompanhadas por políticas que incentivassem o desenvolvimento do morador
local. Incentivos à economia e cultura da favela podem contribuir com a o processo de
pacificação das favelas turísticas, além da evolução e do bem-estar do morador local, gerando
produtos turísticos autênticos oriundos da cultura local.

Em seguida, são indicados os benefícios que podem afetar os envolvidos nos


processos turísticos em favelas por meio da adoção de práticas alinhadas ao Turismo de Base
Comunitária. O protagonismo da comunidade local no processo decisório do turismo em
favelas pode levar à organização social local, ao benefício de projetos sociais locais, o
progresso econômico e a valorização da cultura da comunidade local.

Por último, são discutidos os benefícios do estímulo ao encontro autêntico entre


visitante e visitado. Com base na crescente busca pela autenticidade da experiência turística e
da harmonia entre visitantes e residentes, a aproximação entre o turista e o morador nas
favelas podem levar ao enriquecimento cultural e subjetivo de todos os envolvidos no
processo e ir de acordo com as tendências de turismo pós-moderno.
50

3.1 EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SEGURANÇA EM INVESTIMENTOS


SOCIOECONÔMICOS

Como indicado no primeiro capítulo deste trabalho, a pesquisa do Laboratório de


Análise de Violência da UERJ revela dados que comprovam a diminuição da violência em
índices gerais e do aumento da sensação de segurança após a implementação de UPPs em
algumas favelas cariocas. (PESQUISA, 2012)

A mudança de discurso da mídia em relação a estes locais ocasionou, além do


crescimento do turismo, avanços econômicos que produzem impactos bastante controversos
no modo de vida dos moradores. O fato é que as UPPs contribuíram de forma determinante
para a alteração de diversas dinâmicas em relação às favelas cariocas.

A ação do poder público no que se refere à evolução das políticas que envolvem a
pacificação e turistificação em diversas favelas também desencadeou processos de
gentrificação, o que leva muitas pessoas a se questionarem sobre o objetivo principal das
UPPs.

De acordo com Ost e Fleury (2013), apesar do desenvolvimento do turismo, existem


comerciantes nestas favelas que se sentem prejudicados por esta maior inserção do Estado, em
especial os que não se enquadram no comércio voltado aos visitantes. Estes profissionais em
geral foram forçados a formalizar seus serviços e também tiveram a regularização dos
serviços de luz e água, o que proporciona aumento de custos. Entretanto, o turismo não
proporcionou aumento de sua demanda.

Soma-se a isto o fato de os moradores também terem que arcar com a formalização
dos serviços citados, o que compromete boa parte do orçamento, resultando numa
disponibilidade financeira prejudicada em relação ao cenário anterior às UPPs. (OST;
FLEURY, 2013)

Estes fatos trazem questões importantes a debate, como a percepção dos moradores e
dos visitantes em relação a estas políticas públicas e o desenvolvimento turístico.

Investimentos do setor público em segurança, projetos socioculturais e de


infraestrutura, além de se relacionar com o aumento do custo de vida e da especulação
imobiliária, também podem ser relacionados com a turistificação, trazendo impactos positivos
e negativos.
51

Para ocorrer a reintegração efetiva das favelas à cidade, os moradores destes


territórios devem ser contemplados por políticas públicas de inclusão social (GAFFNEY,
2013). Portanto, as UPPs devem evoluir de projetos de segurança pública para projetos de
desenvolvimento socioeconômico, de forma a proporcionar o aumento da qualidade de vida e
bem-estar dos moradores das favelas e o desenvolvimento em geral da comunidade local.

Rodrigues (2014) concorda ao entender que o projeto das UPPs foi um primeiro
passo, mas existem outras ações que podem efetivamente transformar as favelas em áreas
integradas da cidade.

Em 2011, José Mariano Beltrame já dava sinais da necessidade desta evolução e da


carência de políticas públicas de desenvolvimento sociocultural e econômico nas favelas
cariocas. O Secretário fazia apelos ao governo do estado em relação à importância do
investimento em projetos sociais para a consolidação do processo de pacificação nas favelas:

Nada sobrevive só com segurança. Não será um policial com um fuzil na entrada de
uma favela que vai segurar a violência, se lá dentro das comunidades as coisas não
funcionarem. É hora de investimentos sociais. (BOTTARI; GONALVES, 2011, s.p.)

O desenvolvimento econômico dos moradores locais e os investimentos em


infraestrutura são importantes indicadores para sua integração socioeconômica ao restante da
cidade, além de sua inclusão nos arranjos produtivos do turismo.

O aumento da verba destinada ao investimento em projetos sociais em favelas pode


se justificar pelo aumento da presença do Estado nestes territórios para afastar o narcotráfico.
De acordo com Menezes (2014), a partir de 2011, e principalmente de 2012, especulações
começaram a apontar para um novo fortalecimento dos traficantes nestes locais.

Carvalho e Silva (2012) tomam a favela Santa Marta como exemplo para observar
que são notórias as transformações socioculturais e econômicas positivas trazidas pela
implantação da UPP, como as intervenções urbanísticas visando melhorias de infraestrutura,
acesso e moradia, além do fortalecimento de projetos sociais e culturais que buscam a
inclusão social de seus moradores.

Entretanto, não se pode negar que parte dos incentivos a estas melhorias tem como
pano de fundo a intenção de promover o turismo nas favelas cariocas, de forma a
complementar o que tem sido feito em toda a cidade do Rio de Janeiro, que vislumbra o
52

turismo como uma atrativa estratégia de captação de investimentos e recursos. (CARVALHO;


SILVA, 2012)

Tendo os objetivos de reocupação destes territórios pelo Estado em vista, pode-se


dizer que retomada da violência nas favelas é algo totalmente prejudicial ao planejamento
público.

Todavia, conforme apontou Menezes (2014), começaram a surgir notícias de que a


venda de drogas estava se intensificando novamente e de que estava ocorrendo a circulação de
pessoas armadas pelas favelas com UPP. Também se intensificou nos moradores e nos turistas
a percepção de aumento da violência nas favelas. Violência gerada tanto por traficantes
quanto pelos próprios policiais. (MENEZES, 2014)

Esta situação foi amplamente denunciada após o episódio do desaparecimento do


ajudante de pedreiro Amarildo:

Amarildo de Souza era morador da Rocinha e desapareceu depois de ser levado por
policiais da UPP para prestar depoimento em julho de 2013. Apesar de o corpo de
Amarildo não ter sido encontrado, há fortes indícios de que ele foi torturado e assas-
sinado por policiais. Esse caso gerou uma grande comoção nacional. O
questionamento “Cadê o Amarildo?” virou uma das principais bandeiras das
manifestações que tomaram conta das ruas da cidade desde o segundo semestre de
2013. (MENEZES, 2014 , p. 676)

A grande popularização deste caso abriu espaço para a fragilização da opinião


pública em relação às UPPs, quebrando o consenso que parecia haver sobre o sucesso do
projeto. (MENEZES, 2014)

Em 2015 esta fragilidade foi definitivamente evidenciada devido a uma crise de


violência no conjunto de favelas do Complexo do Alemão que levou policiais a abandonar a
base do projeto e à morte do Comandante da UPP. O aumento da violência acarretou no
afastamento de diversas empresas e serviços que estavam presentes no local (Figura 11).
(TORRES; ROCHA; SERRA, 2015 s.p)
53

Figura 11 – Empresas e serviços saem do Alemão


Fonte: (O DIA, 02/04/2015)

Segundo reportagem do site G1, uma agência de turismo local que guiava
estrangeiros e cariocas pela favela foi obrigada a encerrar os passeios já durante a Copa do
Mundo de 2014 devido à retomada da violência gerada por confrontos entre policiais e
traficantes. (TORRES; ROCHA; SERRA, 2015 s. p.)

Mariluce Maria de Souza, idealizadora do projeto Rio Favela Tour, estima que
durante o período de paz no local havia fluxo de cerca de sete mil visitantes por dia. No
entanto, o aumento da violência prejudicou suas atividades:

A gente praticamente desativou [a agência]. Até hoje, tem pedido [de passeios] mas não
tem como. A gente faliu por causa da violência e tantos outros empreendedores que
acreditaram no turismo estão como nós. (TORRES; ROCHA; SERRA, 2015 s.p)

Juntamente ao aumento dos conflitos violentos na região, aumentam as críticas dos


moradores em relação à ineficiência do policiamento implementado pela UPP na própria
favela. Menezes (2014) aponta que na favela Santa Marta ao relatar casos de furtos e
violência doméstica que estariam ocorrendo no morro, muitos moradores reclamavam de que
os policiais não estariam fazendo nada para evitar e nem mesmo investigar a ocorrência
desses crimes, que geram insegurança dentro da favela. (MENEZES, 2014 p.675)
54

Este desinteresse dos policiais leva muitos moradores a questionar quais são os
motivos que promovem a presença das UPP na favela. Questiona-se se a ocupação policial
tem o objetivo de prover segurança para quem mora no morro ou para vigiar e controlar a
população favelada. (MENEZES, 2014 p.675)

Por conta do histórico de conflitos de policiais com traficantes nestas regiões, o


desenvolvimento de políticas de segurança deve ser acompanhado por políticas públicas de
capacitação para os profissionais que estarão se deslocando para estes locais de risco - que
geralmente são policiais recém formados.

Carvalho e Silva (2012) entendem que se faz notória a necessidade de uma polícia
menos violenta e mais educada a prestar serviços aos cidadãos das favelas:

Entre as políticas de melhorias que estão previstas para a PMERJ, estão incluídas a
implantação de um sistema de informações mais eficiente, treinamento educativo.
Resta ver se somente essas medidas serão suficientes para modificar uma instituição
estruturada em bases tão opostas. (CARVALHO; SILVA, 2012 , p. 259)

De acordo com reportagem do jornal O Globo (LO BIANCO, 2015, s.p.), os PMs
que trabalharão nas UPPs futuramente vão estudar a história de cada favela para ter um
conhecimento maior sobre suas características sociais e culturais. A idéia é proporcionar um
melhor relacionamento com os moradores.

Devido a esta crise e à necessidade de investimentos em projetos sociais para garantir


a segurança, a solução encontrada pela Secretaria de Segurança foi a mobilização dos próprios
policiais para estes projetos.

Depois de cobrar reiteradas vezes o apoio de outras áreas do poder publico, foi
decidido pela Secretaria de Segurança que os próprios policiais passarão a
desempenhar ações sociais nas comunidades que estão presentes. (LO BIANCO,
2015, s.p.)

Considerando o histórico dos policiais nestes locais como agentes preparados para
lidar com a violência e provir a segurança pública, vale o questionamento a respeito da
aceitação da comunidade local em relação a este novo papel, além da própria qualidade e
sensibilidade destes profissionais neste tipo de atuação.
55

3.1.1 A importância das políticas de desenvolvimento sociocultural e econômico nas


favelas

Entretanto, existem projetos públicos voltados para o desenvolvimento sociocultural


das favelas pacificadas. Neste contexto se enquadra o programa Rio + Social - anteriormente
conhecido com UPP Social.

De acordo com seu site institucional (RIO MAIS SOCIAL, 2015) o Rio + Social é
um programa realizado pela Prefeitura do Rio de Janeiro desde 2001 com a coordenação do
Instituto Pereira Passos – IPP em parceria com a ONU-Habitat – o Programa das Nações
Unidas para Assentamentos Humanos para promover a melhora na qualidade de vida de
populações que moram em territórios pacificados.

Os objetivos principais do projeto condicionam o desenvolvimento local e a


integração das favelas ao restante da cidade à consolidação do processo de pacificação:

• contribuir para a consolidação do processo de pacificação e a promoção da


cidadania local nos territórios pacificados;
• promover o desenvolvimento urbano, social e econômico nos territórios;
• efetivar a integração plena dessas áreas ao conjunto da cidade. (RIO MAIS
SOCIAL, 2015 s. p.)

Das 208 favelas mapeadas na cidade do Rio de Janeiro, o Rio + Social existe em 30
das 37 comunidades que possuem postos da UPP (Figura 12).

Figura 12 - Localização das unidades Rio+Social


Fonte: Rio Mais Social, 2015
56

As principais áreas de atuação do programa são educação, saúde, eliminação de


risco, habitação e serviços. Entre os principais eixos de atuação do programa está o do
desenvolvimento econômico da comunidade, baseado na “formação, consultoria e auxílio em
legalização para empreendedores locais visando à geração de renda e emprego nas
comunidades” (RIO MAIS SOCIAL, 2015 s.p.).

Além do eixo de atuação de desenvolvimento econômico, também existem diretrizes


voltadas para o desenvolvimento de serviços de infraestrutura como projetos de conservação
urbana, iluminação e coleta de lixo.

As equipes do programa também buscam diálogo com moradores e lideranças das


comunidades para o mapeamento de outras demandas e prioridades. (RIO MAIS SOCIAL,
2015)

A Prefeitura do Rio de Janeiro, entre 2009 e 2014, investiu mais de R$ 1,8 bilhão em
208 comunidades. Entre as conquistas apontadas pelos responsáveis pelo programa estão a
criação de unidades escolares, clínicas da família e obras do programa “Morar Carioca”
(Figura 13).

Figura 13 – Conquistas Rio+Social


Fonte: Rio Mais Social, 2015
57

Considerando o estudo e a discussão de iniciativas que estimulam o turismo e o


desenvolvimento local nas favelas pacificadas, serão apontados projetos que além de
incentivar o aspecto sociocultural e econômico nas favelas, também podem contribuir com o
desenvolvimento das atividades turísticas.

Um exemplo destas parcerias é o programa Favela Criativa, resultado de um


planejamento conjunto da Secretaria de Cultura do Estado com o setor privado que conta com
recursos de R$ 14 milhões para serem investidos em favelas de todo o Estado do Rio de
Janeiro. O programa é formado por um conjunto de projetos que incluem principalmente a
formação artística e especialização em gestão cultural de jovens. (FAVELA CRIATIVA,
2015)

Entre os objetivos deste programa estão a capacitação de jovens para se tornarem


empreendedores culturais e a criação de uma rede permanente de agentes culturais nas favelas
e futuros parceiros e patrocinadores. O programa também condiciona o desenvolvimento
cultural, social e econômico das favelas à consolidação das pacificações. (FAVELA
CRIATIVA, 2015)

Em uma parceria com a Rio + Social, que neste período ainda era conhecida como
UPP Social, o programa Favela Criativa trabalhou na divulgação do Edital de Bailes e Criação
Artística no Funk, além de participar de outras ações de apoio para articulação com ONGs nos
territórios e o fornecimento de dados sobre as comunidades pacificadas. (RIO MAIS
SOCIAL, 2015)

O Sebrae também desenvolve projetos no sentido de desenvolver as favelas nos


âmbitos sociocultural e econômico por meio da busca pela integração produtiva das favelas
com o restante da cidade. Segundo dados da instituição, um dos maiores desafios deste
processo é a informalidade dos negócios, que chega a 92%. A entidade promove ações que
têm como foco a orientação, capacitação e formalização de atividades em favelas,
“trabalhando para facilitar o acesso ao mercado e a oferta de serviços e créditos, além de
apoiar projetos setoriais das cadeias produtivas ligadas a realidade local”. (SEBRAE, 2015
s.p.)

Com o objetivo de incentivar a formalização dos empreendedores turísticos nas


favelas, a instituição mapeou iniciativas com atratividade turística em sete favelas pacificadas
na cidade do Rio de Janeiro – Chapéu Mangueira/Babilônia, Morro dos Prazeres, Santa
Marta, Morro dos Bacritos/Tabajaras, Turano, Salgueiro e Formiga. A partir das informações
58

desenvolveu um guia turístico com diversas informações sobre serviços turísticos em favelas
– o “Guia de Bolso – Comunidades Rio” (Figura 14).

Figura 14 – Guia de Bolso Comunidades Rio – SEBRAE


Fonte: Acervo Pessoal

Estão incluídos serviços como locais de lanche, meios de hospedagem, guias locais e
mapas dos locais. Além de estimular os moradores desenvolverem empreendimentos
turísticos, o objetivo é incentivar a busca por atrativos ligados ao turismo de experiência,
como a gastronomia e pontos que remetem a fatos da história local. Desta forma ocorrerá o
amadurecimento da demanda turística nas favelas. (SEBRAE SETORIAL, 2015)

A oportunidade de se conhecer o morro através de seus próprios moradores


desencadeou um processo de inclusão social. Os moradores das favelas turísticas que
desenvolveram empreendimentos graças ao aumento do fluxo de visitantes começaram a
conquistar cada vez mais espaço na imprensa a partir da divulgação do que acontece na
favela, saindo do noticiário policial que antes dominava a cobertura das favelas para uma
cobertura mais social. (RODRIGUES, 2014 p.66)

Apesar de 2016 ser o ano das Olimpíadas e de encerramento do ciclo de


megaeventos no Rio de Janeiro, também é último ano de garantia da UPPs. O ideal seria que a
partir da evolução da política pública nas favelas do Rio, houvesse uma renovação, inclusão e
integração urbana destes locais em relação à cidade. (CARVALHO E SILVA, 2012) Como já
foi apontado, esta evolução depende de políticas de inclusão social dos moradores.
59

A inclusão social é indispensável para que os atores envolvidos nas atividades


turísticas percebam e compreendam de que forma a intervenção pública influencia a vida na
favela. Tanto os moradores, maiores impactados por estas intervenções públicas, quanto os
visitantes, grandes responsáveis por elas, devem entender o cenário atual do local onde se
desenvolve a atividade turística.

3.2 O PROTAGONISMO DA COMUNIDADE LOCAL SOB AS PREMISSAS DO


TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA

A implementação de premissas do TBC – Turismo de Base Comunitária é uma


alternativa para o desenvolvimento local da comunidade a partir do turismo, considerando
principalmente o protagonismo da comunidade local no processo decisório.

Esta estratégia pode trazer benefícios econômicos para a comunidade local gerando
empregos e renda por meio do turismo, além de benefícios a projetos sociais e ONGs locais
em função das visitas turísticas e o desenvolvimento social local devido à organização dos
moradores para lidar com o turismo.

Para se analisar e compreender de forma adequada o que é TBCdeve-se considerar


que, por partir de diversos campos teóricos, não existe uma conceituação correta deste termo.

Apesar de encontrarmos o TBC associado a alguns segmentos do turismo –


ecoturismo, turismo rural e turismo étnico. (FABRINO, 2013), o Turismo de Base
Comunitária - conhecido também como turismo comunitário ou turismo situado – não
representa apenas mais um segmento do mercado, mas a possibilidade de um novo paradigma
para o turismo, sendo uma forma mais responsável de se planejar e executar a atividade.

O principal diferencial desta mudança de paradigma é que o potencial da atividade


turística não se restrinja aos benefícios econômicos, como ocorre de forma tradicional no
turismo, mas que também ocorra a contribuição para o processo de revalorização da
identidade cultural assim como para a manutenção do modo de vida das populações locais.
(SANSOLO; BURSTYN, 2009)

Fabrino (2013) aponta que a analise dos estudos feitos neste campo e dos exemplos
práticos levam a crer que no turismo comunitário as relações econômicas são enriquecidas por
outros elementos que transcendem a racionalidade do lucro imediato. Considera-se como
objetivo principal o desenvolvimento local a longo prazo.
60

Segundo Sansolo e Bursztyn (2009), a conservação ambiental, a valorização da


identidade cultural e a geração de benefícios diretos para as comunidades receptoras são os
componentes sustentadores desta proposta de turismo.

Pode-se compreender que o desenvolvimento local e a sustentabilidade são os


principais campos teóricos que fundamentam a proposta do TBC:

Se comparado ao modelo hegemônico - caracterizado pelo turismo massificado e


comprometedor das condições sociais, do meio ambiente e da herança cultural de
comunidades tradicionais - o TBC representa a promoção de atividades turísticas
enraizadas em um modelo de desenvolvimento socialmente mais justo e
ambientalmente responsável. (FABRINO, 2013 , p. 26)

Para a Organização Mundial do Turismo (OMT, 2003) o turismo comunitário é


sinônimo de turismo local ou turismo sustentável, apoiado em projetos existentes que
fortalecem a identidade local e geram renda para as comunidades (SILVA; MARTINS, 2012)

Por se tratar de uma forma de planejamento da atividade, a principio o turismo de


base comunitária se confunde com o turismo tradicional, pois integra atividades econômicas
de serviços de hospedagem, alimentação e lazer que, a priori, não o diferencia dos demais
segmentos turísticos.

Seu diferencial recai justamente no entendimento de que a atividade turística está


intimamente ligada a outras áreas como educação, saúde e meio ambiente. Neste sentido, o
turismo comunitário não se centra somente na atividade turística, representando uma proposta
de desenvolvimento territorial sustentável que abrange diversas dimensões - política, cultural,
econômica, humana - da vida em sociedade (SAMPAIO; CORIOLANO, 2009)

Fabrino (2013) também cita que a geração de benefícios para a comunidade local
também ocorre por meio do estabelecimento de que parteda receita proveniente do turismo
seja revertida em investimentos em projetos sociais que beneficiem a comunidade local a
longo prazo.

Estas iniciativas se apresentam de inúmeras formas, considerando a diversidade e a


complexidade das realidades locais. No entanto, percebe-se, como um elemento comum, a
interpretação da comunidade como sujeito de seu próprio avanço, participando da concepção,
desenvolvimento e gestão do turismo. (LTDS, 2011 apud Fabrino, 2013 , p. 17)
61

Silva e Martins (2012) fazem apontamentos em relação ao o processo de organização


do TBC:

TBC - Fatores motivacionais para a Comunidade


identificação, pelas comunidades do potencial cultural,
I ambiental, social, tecnológico, político e econômico dos
contextos onde habitam;
desejo de perpetuação das heranças e legados dos seus
II antepassados como hospitalidade, crenças, valores, saberes,
sabores e fazeres;
III valorização de suas práticas;

IV ampliação de suas rendas por meio de produção associada;

participação popular por meio de colegiados a fim de e


participar das discsussões sobre as necessidades das
comunidades (nos temas de saúde, educação, saneamento,
V
transporte), por exemplo, sobre a atividade turística e as
necessidades de infraestrutura, serviços, legislação, etc

VI busca de melhoria de condições de vida.


Figura 15 – TBC – Fatores Motivacionais para a Comunidade
Fonte: Silva e Martins (2012)

A ONG Bagagem (BAGAGEM, 2015), referência na área por centralizar e articular


diversas iniciativas de TBC no Brasil também traça suas referências:
62

TBC - Referências ONG Bagagem


I - Turismo da A comunidade deve ser proprietária dos
comunidade – empreendimentos turísticos e gerenciar coletivamente a
Participação atividade

Comunidade deve ser a principal beneficiária da atividade


II - Turismo para a
turística, que existe para o desenvolvimento e
comunidade
fortalecimento da Associação Comunitária

A principal atração turística é o modo de vida da


III - Atração principal comunidade, ou seja, sua forma de organização, os
= Modo de vida projetos sociais que faz parte, formas de mobilização
comunitária, tradição cultural e atividades econômicas

As atividades são criadas para proporcionar intercâmbio


IV - Partilha Cultural
cultural e aprendizagem aos visitantes e aos anfitriões

Os roteiros respeitam as normas de conservação da região


V - Conservação e procuram gerar o menor impacto possível no meio
ambiental ambiente, contribuindo para o fortalecimento de projetos
e ações de conservação ambiental na comunidade

VI - Transparência no Comunidades e visitantes participam da distribuição justa


uso dos recursos dos recursos financeiros

VII - Parceria social Mais do que visitar atrações turísticas, a idéia é dar aos
com agências de visitantes a oportunidade de experimentarem a vida nas
turismo - Busca por comunidades como ela realmente é, em um processo de
envolver todos os elos aprendizagem e intercâmbio cultural, onde participantes e
da cadeia do turismo membros das comunidades saem ganhando. A viagem é
no benefício das também uma oportunidade de conhecer o trabalho da
comunidades ONG parceira e fonte de renda para as comunidades

Figura 16 – TBC – Referências ONG Bagagem


Fonte: (BAGAGEM, 2015, s.p.)

Com base nestes apontamentos, pode-se interpretar que a relação entre o turismo e o
desenvolvimento local é parte essencial da conceituação do TBC.Os benefícios econômicos,
culturais e sociais são interpretados como caminhos possíveis para alavancar o
desenvolvimento de uma dada localidade. (FABRINO, 2013)

A mudança de paradigmas defendida pelo TBC é acompanhada pela mudança de


comportamento do consumidor do turismo,que passa a ter esclarecimento crítico sobre seu
impacto através das atividades turísticas. O visitante deixa de lado a passividade vivida no
turismo de massa e segue em busca de iniciativas de turismo que sejam enriquecedoras nos
âmbitos sociocultural, econômico e ambiental para os atores envolvidos.

Para Fabrino (2013) o protagonismo e poder decisório da comunidade receptora do


turismo é uma característica importante e positiva para o desenvolvimento adequado do TBC.
63

Em busca de maior autenticidade na experiência, muitas iniciativas de dependem da


organização social da comunidade para incluí-la nos arranjos produtivos do turismo.

Uma experiência comum é incluir a hospedagem familiar como parte da experiência


cultural. Através da hospedagem em casas de moradores locais, os viajantes passam pela
experiência de uma imersão na língua, costumes, artesanato, culinária e outros aspectos
culturais da região visitada. (SNV, 2009 apud BURSTZYN E BARTHOLO, 2012)

Para Fabrino (2013) a mudança de mentalidade nas comunidades receptoras é uma


característica importante e essencial para o desenvolvimento adequado do TBC.

Ainda que ocorra a preocupação com a divisão dos lucros da iniciativa com a
comunidade local, seja através de projetos sociais ou ONGs locais, essa centralidade decisória
da comunidade deve ir além do aspecto financeiro.

Spampinato (2009) aponta que é essencial que a iniciativa local assuma-se como
agente ativo a partir da participação nas várias fases do processo de criação, implementação e
gestão do projeto turístico.

Fabrino (2013) aponta que em muitas experiências, apesar de haver preocupação


com a distribuição dos benefícios do turismo para a comunidade, não ocorre o envolvimento
dos moradores locais na gestão, posse ou controle do projeto. Isto ocorre porque a
possibilidade de se pensara atividade turística sem o envolvimento direto da comunidade
propicia aos governos, empresas privadas e ONGs a abertura para projetar e fornecer
benefícios para uma localidade sem a bagagem inerente ao envolvimento direto da população
no processo de tomada de decisão.

Este modelo de desenvolvimento baseado no resultado final objetivando somente


alcançar o lucro ignora muitos aspectos relevantes. No modelo de desenvolvimento ideal do
TBC a participação da comunidade local é essencial e determinante para aspectos
determinantes para o sucesso a longo prazo do projeto, como a influência da identidade local
no resultado final dos produtos oferecidos pelo projeto.

A aceitação da atividade turística em sua localidade pode trazer benefícios, seguida


da vontade de participar e planejamento adequado, ocasionando em um relacionamento
saudável entre morador e turista, de forma harmoniosa, paciente e respeitável à sua criação,
costumes e modos de vida. Havendo esta compreensão, a atividade turística pode prosseguir
de forma menos impactante, favorecendo a todos. (BENATTI; SOUZA, 2011)
64

Benatti e Souza (2011) apontam que a atividade turística promove relações sociais
das quais geram interações e transmissão de tradições culturais, possibilitando a globalização
da cultura. Para as autoras, o fenômeno turístico passou a servir como ferramenta de
desenvolvimento econômico e preservação do legado cultural de muitos países e localidades,
“pois ao mesmo tempo em que oferece empregos e gera renda para a comunidade receptora,
ele também possibilita a conservação do seu patrimônio e a valorização da identidade
local”.(BENATTI; SOUZA 2011 , p.45 )

Baseado nisto, o TBC surge como uma alternativa de desenvolvimento local no


Turismo em Favelas.

3.2.1 Turismo de base comunitária em favelas do Rio de Janeiro

A primeira dificuldade de implantação de uma iniciativa de TBC em uma favela é a


peculiaridade do território. De acordo com Burstzyn e Bartholo (2012), o TBC ocorre em
pequenas comunidades, assentadas em povoados, aldeias e vilas. Não há referência, nos casos
analisados, de experiências envolvendo uma iniciativa em ambiente urbano.

Além disto, 80% das iniciativas ocorrem nas proximidades, no interior ou contêm
áreas protegidas, seja em Unidades de Conservação de Proteção Integral ou de Uso
Sustentável e Áreas de Preservação Permanente. (BURSTYN; BARTHOLO, 2012)

Entretanto, Spampinato (2009) produziu um estudo sobre potenciais casos de TBC


em favelas cariocas e, baseando-se em reflexões sobre o aspecto econômico do turismo
entendido como projeto de desenvolvimento local, concluiu que é possível pensar a atividade
turística de forma integrada ao território, incluindo e beneficiando a comunidade local nos
arranjos produtivos.

Segundo a autora, para alcançar este objetivo se deve “pensar de outra forma o
turismo” buscando entendê-lo como meio de se alcançar determinados objetivos e não apenas
com finalidade de lucro. De acordo com seu trabalho, o fato de uma favela ser um destino
turístico não representa necessariamente degradação ambiental, cultural e identitária do local:

Pelo contrário, alguns dos casos apresentados nos mostram exatamente o contrário,
ou seja, que o turismo, se “pensado” de uma determinada forma, pode servir de
estímulo para a valorização socioeconômica, e também cultural, de um território.
(SPAMPINATO, 2009 , p. 141)
65

Em sua pesquisa, a autora utilizou como objeto de estudo as seguintes iniciativas: os


favela tour na Rocinha; os passeios ecológicos no morro da Babilônia; Vila Canoas e a favela
receptiva; The Maze Inn e Jazz na Favela; o MUF – Museu de Favela; e o Fórum de Turismo
da Rocinha (SPAMPINATO, 2009)

Os dois casos estudados na Rocinha podem ser utilizados para uma análise sobre a
relação entre o entendimento do turismo e seus impactos no local.

Em relação aos favela tours, a autora aponta que o turismo na Rocinha não é
satisfatório para sua comunidade, nem para suas lideranças e tampouco para seus moradores.
Esta situação ocorre porque as atividades são planejadas principalmente pelas agências
externas, deixando a comunidade local fora do processo.

Justamente por ser um agente externo, as agências não têm nenhum interesse especial
em proporcionar o encontro e desta forma contribuir para a construção de uma visão positiva
da favela. Segundo seu trabalho, estas agências ocupam um espaço predominante,
monopolizando a atividade na comunidade de uma forma duplamente insatisfatória:
econômica e socialmente. (SPAMPINATO, 2009)

Do ponto de vista social e cultural, como já analisamos anteriormente, a forma como


os roteiros são organizados inibe o encontro, limitando-o apenas a rápidas fotos e
compras de souvenir se evidenciam apenas os aspectos negativos, presentes na vida
da comunidade. (SPAMPINATO, 2009 , p. 125)

Neste caso as vielas da favela tornam-se cenário de exploração externa, onde os


visitantes caminham pelas favelas sem compreender o real significado daquelas ruas e com
praticamente nenhuma interação com as pessoas que ali vivem.

Por outro lado, no Fórum de Turismo da Rocinha foram discutidos caminhos


sustentáveis para a atividade, de forma a contribuir com o desenvolvimento local nos moldes
do TBC. Os participantes deste grupo entendem que o problema não é o turismo em si, mas a
forma como ele se desenvolve. Portanto refletem sobre as potencialidades do turismo em
favelas em termos de desenvolvimento material de uma comunidade. (SPAMPINATO, 2009)

A autora aponta que o Fórum de Turismo da Rocinha surgiu com a intenção de


modificar situação do turismo no local, mostrando a necessidade de se levar em conta,
sobretudo, os interesses da comunidade, ao lado dos tradicionais interesses das agências de
turismo. (SPAMPINATO, 2009)
66

Em 2014 surge a Rocinha Original Tour, uma agência e operadora de turismo


receptivo para desenvolver o potencial turístico da Rocinha e gerar emprego e renda para
moradores e empreendedores da comunidade. Este empreendimento ocorre devido a diversos
esforços e articulações do Fórum de Turismo da Rocinha. (SPAMPINATO, 2009)

O slogan da iniciativa, “Conhecer a Rocinha com quem a conhece” é uma crítica à


forma de condução considerada superficial e predatória das empresas externas que
monopolizam as atividades na favela (Figura 17). (BRITO, 2014)

Figura 17 – Logomarca Rocinha Original Tour


Fonte: Brito, 2014

Outro exemplo de incentivo ao protagonismo da comunidade, buscando benefícios e


organização local, é o programa Rio Top Tour (Figura 18), lançado na favela Santa Marta em
2010 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva junto ao Ministério do Turismo.

No ocasião, o projeto foi apresentado como uma iniciativa do poder público para
criar oportunidades de desenvolvimento socioeconômico por meio do turismo.
67

Figura 18 - Logomarca Rio Top Tour


Fonte: Rodrigues, 2014

Rodrigues (2014), coordenadora do projeto, apresenta que o objetivo da iniciativa era


a capacitação da mão de obra local para que os moradores pudessem guiar os turistas dentro
da comunidade. Essa autonomia promoveria melhorias no turismo local, pois as atividades
passariam a ser literalmente conduzido pela comunidade local.

Segundo o pronunciamento de lançamento, esta iniciativa compunha mais uma ação


do objetivo de oferecer à comunidade local os arranjos produtivos do turismo, referindo-se às
ações integradas de segurança, abertura de linha de financiamento para o comércio local e o
projeto para o turismo que terá a comunidade como protagonista.

Portanto, a comunidade já era tida como potencial protagonista dos processos


turísticos, um indicativo em comunhão com o TBC. De acordo com a coordenadora do
projeto, havia a intenção de procurar entender o local e respeitar as singularidades e a vocação
que a comunidade já possuía. (RODRIGUES, 2014).

Segundo Rodrigues (2014), o objetivo deste projeto era criar uma alternativa que
gerasse renda com o turismo dando mais qualidade às iniciativas locais, trabalhando nos
moldes do mercado do turismo e envolvendo os moradores no processo (Figura 19).
68

Figura 19 – Material informativo Rio Top Tour


Fonte: Rodrigues, 2014

Porém, a demanda dos moradores locais pelo projeto foi baixa. De acordo com
Rodrigues (2014), a falta de interesse dos moradores se justifica pela falta de uma ajuda de
custo para os participantes do projeto:

As pessoas só fazem alguma coisa se ganham algo. Só faz algum tipo de curso se ele
ganhar algo, não entende que aquilo ali está sendo bom para ele mesmo. Ele está se
capacitando, talvez pro futuro, como muitos fizeram. (RODRIGUES, 2014 , p. 63).

Porém, vale apontar que outros motivos podem justificar esta falta de interesse, como
a baixa escolaridade dos moradores, algo comum nas favelas cariocas. “Este fator pode ser
identificado como um dos grandes complicadores do sucesso desse projeto, pois ele visava
“alavancar o turismo pelas mãos dos próprios moradores [...]” (RODRIGUES, 2014, p.60),
69

E como este objetivo seria alcançado se a população local não está minimamente
preparada para ser introduzida neste novo cenário?

Alguns poucos moradores tiveram interesse em se capacitar por meio do projeto e


atualmente cerca de 20 guias compõem o Comitê de Guias de Turismo do Santa Marta. Esta
mobilização conseguiu romper o monopólio e afastar empresas externas da favela.

A partir destas capacitações, alguns guias criaram suas próprias empresas, como a
Favela Santa Marta Tour, a SoulBrasileiro e a Brazilidade uma iniciativa que se intitula uma
iniciativa de turismo de base comunitária na favela, trabalhando a inclusão de diversos
serviços locais e a quebra de estereótipos:

Além de oferecer serviços de turismo, nos preocupamos em movimentar a rede de


trabalho local, oferecendo para os turistas uma experiência completa e uma
possibilidade de crescimento para os empreendedores do Santa Marta. Trabalhamos
para mudar o estereótipo cultivado em relação aos moradores do morro e, através
dos nossos serviços de turismo de base, gerar identificação e
respeito. (BRAZILIDADE, 2015 s. p.)

Portanto, embora o projeto tenha passado por dificuldades, foi uma experiência
válida por ter produzido impactos expressivos na comunidade.

Esta experiência nos mostra que para ser realmente benéfico e construtivo para um
território, o turismo não pode ser um projeto desenhado fora e apenas automaticamente
aplicado dentro de uma comunidade.

Por outro lado, através do resultado do projeto, pode-se observar como o sentido
comunitário e identitário pode ser estimulado e impulsionado por uma atividade turística onde
o morador local encontra seu espaço livre de expressão. (SPAMPINATO, 2009)

Existem outras iniciativas que incluem a comunidade local como protagonista do


processo turístico, como o canal de vendas “Fica aqui no Morro” (Figura 20).

Segundo sua página oficial, os gestores do projeto têm consciência do potencial


turístico das favelas pacificadas, do novo tipo de turista que surge, preocupado com
experiências e autenticidade, e com a inclusão da comunidade local no turismo:

O FicAquiNoMorro busca conciliar o latente potencial turístico das favelas do Rio


de Janeiro com a crescente demanda por produtos e serviços destes territórios ,
acessíveis a um público diferenciado de turistas desde o início de processo de
pacificação. Aumentando/criando uma maior geração de trabalho, emprego e renda
para famílias e empreendedores residentes nestas favelas do Rio de Janeiro.”
(FICAQUINOMORRO, 2015)
70

Figura 20 - Logomarca FicAquiNoMorro


Fonte: Ficaquinomorro, 2015

Em particular, nota-se que existem movimentações favoráveis à mudança da


dinâmica do turismo em favela, onde podem ser observadas respostas a novas demandas e
novos protagonistas. Os moradores locais estão tomando consciência da oportunidade que é o
turismo e do impacto que as empresas externas estão causando, e por conta da importância
disto buscam cada vez mais o papel de protagonistas dos arranjos turísticos nas favelas.
(RODRIGUES, 2014)

Alguns moradores do morro, ao perceberem um nítido aumento das visitações


turísticas em seu espaço, realizado por diversas agências voltadas principalmente ao público
estrangeiro, resolveram se organizar e também oferecer o serviço, de forma mais autêntica e
compatível com suas expectativas. (RODRIGUES, 2014)

É importante que a comunidade busque empreender a atividade turística em seu


território de acordo com seus desejos e expectativas, buscando seu empoderamento político,
evitando assim estes efeitos negativos gerados pela prática do turismo. (RODRIGUES, 2014)

3.3 O ENCONTRO AUTÊNTICO E A INTERAÇÃO ENTRE VISITANTE E VISITADO

A interação entre visitante e visitado é um aspecto fundamental em relação aos novos


aspectos do turismo e pode ser visto como uma oportunidade para o desenvolvimento da
cidadania entre visitante e morador.

O contato entre estes dois atores pode variar bastante de acordo com o intermediário
turístico, e tanto pode produzir impacto positivo através das trocas culturais e interpessoais e a
71

descoberta de novas expressões culturais no local, quanto negativo por meio do afastamento
sociocultural e o discurso baseado estereótipos, generalizações e até mesmo preconceito.

Benatti e Souza (2011) apontam que esta interação entre visitantes e visitados deve
ser positiva tanto por conta do enriquecimento cultural quanto do econômico. Para as autoras,
é essencial compreender que a integração amiga e respeitável entre visitantes e residentes
precisa ser elevada, proporcionando “novos conhecimentos, apreensão de novas culturas e paz
de diferentes povos”. (BENATTI; SOUZA, 2011 , p. 33)

Fabrino (2013) afirma em seus estudos sobre o TBC que um dos grandes diferenciais
desta forma de se pensar o turismo recai justamente na possibilidade do turista conhecer e
interagir com as dinâmicas comunitárias a partir do estabelecimento de uma relação diagonal
entre visitantes e visitados, sendo o diálogo, a troca e o compartilhamento de vivências a base
deste encontro:

Ao contrário do turismo convencional, e sua produção de espaços segregados para o


turista e para os moradores, a essência do TBC se expressa no território. No turismo
comunitário não há sobreposição de territorialidades, turista e comunidade dividem
o mesmo lugar, e este representa um espaço de encontro e convivencialidade.
(FABRINO, 2013 , p. 61)

Irving (2009) também trata deste encontro diagonal como uma essencial
característica do TBC ao apontar que “a condição para o turismo de base comunitária é o
encontro entre identidades, no sentido de compartilhamento e aprendizagem mútua”.

Para Spampinato (2009) a busca por vivenciar novas experiências, e não apenas
usufruir de novos produtos/serviços, ou observar coisas novas, nos leva a registrar a presença
de uma nova característica da demanda turística. Neste perfil moderno de turismo há no
visitante a vontade de ser protagonista no processo.

Está havendo uma mudança gradual no interesse dos viajantes, que passam a
valorizar aspectos gerais da cultura em detrimento dos ícones culturais, e isso sugere que cada
vez mais ocorre a necessidade de se combinar cultura, lazer, conforto e produtos de
entretenimento. (SNV, 2009 apud BURSTZYN E BARTHOLO, 2012)

Barreto (2004) observa que desde 1970 ocorre uma mudança de paradigma no
fenômeno turístico a partir da percepção e possibilidade de um turismo onde é reduzido o
interesse pelo consumo de atrativos em troca da convivência com a comunidade local dos
lugares visitados. Porém, a autora ressalta que neste caso específico, trata-se de uma
pseudoconvivência, pois o morador local torna-se o atrativo e “não pode haver verdadeiro
72

intercâmbio quando um observa o outro como se fosse uma "curiosidade" exposta numa
vitrine”. (BARRETO, 2004 , p. 145)

Como já apontado, os elementos culturais são responsáveis por atrair visitantes e


recursos para o desenvolvimento econômico de uma localidade. Para tanto, a atividade
turística deve ser realizada de modo sustentável, buscando a preservação do meio ambiente, o
crescimento econômico e harmonia entre visitantes e residentes. (BENATTI; SOUZA, 2011)

A forma como o tipo de turismo é organizado, pensado e estruturado é um fator


chave na análise da relação entre visitante e visitado, porque pode favorecer ou prejudicar a
possibilidade do encontro. (SPAMPINATO, 2009)

Em busca de encontrar alternativas que tragam maior autenticidade na experiência


turística, além da harmonia entre visitantes e residentes, muitas iniciativas de turismo
passaram a incluir a hospedagem familiar como parte da experiência cultural. Por meio da
hospedagem em casas de moradores locais, os viajantes passam pela experiência de uma
imersão na língua, costumes, artesanato, culinária e outros aspectos culturais da região
visitada. (SNV, 2009 apud BURSTZYN E BARTHOLO, 2012)

Apesar desta tendência em que cada vez mais turistas buscam a autenticidade no
encontro, alguns tipos de turistas não tem como prioridade estabelecer relações com os
indivíduos locais, como exemplificado na diferenciação do turismo de massa e outras formas
de vivenciar a atividade. O ponto crítico é que este tipo de atitude pode produzir o sentimento
de inferioridade e hostilidade na comunidade local.

É bastante crítico observar visitantes que se incluem de forma intrusa na vida


cotidiana de outra cultura e evitam qualquer forma de interação. Este tipo de atitude deve ser
evitado para que a atividade turística se desenvolva de forma harmoniosa entre visitantes e
residentes. (BENATTI; SOUZA, 2011)

Vale apontar que em muitos casos de turismo de massa os costumes locais são
produtificados e reproduzidos de forma espetacularizada para os turistas, o que acaba por
produzir um processo de vulgarização dos costumes locais.

Barreto (2004) aponta que as pesquisas realizadas até o momento de seu estudo não
indicavam que objetivos relacionados ao entendimento e aproximação entre turista e morador
tenham sido atingidos a partir turismo tradicional.
73

A autora indica que se repetem, no turismo, velhos problemas que acompanham a


história social da humanidade, tais como “o colonialismo cultural e a xenofobia, e que as
relações interpessoais acabam seguindo a lógica mercantil, ou seja, se comercializam como
bem de consumo”. (BARRETO, 2004 , p. 134).

3.3.1 Encontro e desenvolvimento interpessoal no turismo em favela

Considerando a importância de se estimular o contato entre visitante e visitado, é


necessário compreender que os três atores envolvidos neste processo devem concordar com
esta interação. A operadora turística e o visitante precisam ter consciência da importância
deste aspecto para a quebra de estereótipos por meio do turismo. O entendimento do morador
local é fundamental, pois é o ator que mais sofre impactos em função do turismo.

No que se refere ao Turismo em Favelas no Rio de Janeiro, Machado (2007) se


refere ao local de encontro entre visitante e visitado na favela como a laje turística. A autora
toma a laje como modelo para exemplificar a relação entre turistas e moradores na favela
porque este local vem ganhando destaque entre os visitantes devido à sua localização, que
oferece a possibilidade de apreciar a melhor vista entre todos os outros pontos da comunidade
(Figura 21).

Figura 21 - Contraste entre Favela e Asfalto


Fonte: Acervo Pessoal

Entretanto, cabe ressaltar que a melhor vista não se trata apenas de um acesso à uma
vista natural ou arquitetônica, da cidade do Rio de Janeiro, visto que há outros locais
74

turísticos na cidade com visuais parecidos. “Estar na “laje” é ter acesso ao “visual” do
conjunto da comunidade, de um ponto de vista que mescla os sentimentos de “inserção” e
“controle” característicos da “laje”“ (Figura 22). (MACHADO, 2007 , p. 81)

Figura 22 - Vista da Laje na Rocinha


Fonte: Acervo Pessoal

O viajante que se interessa pelo turismo em favelas é um visitante que busca se


diferenciar. (FREIRE-MEDEIROS, 2009)

Durante a pesquisa para a produção de seu trabalho, Freire-Medeiros (2009)


desvendou que quando o turismo na Rocinha começou, os turistas em sua maioria eram
antropólogos, psicólogos, sociólogos e arquitetos. Em suas entrevistas a autora obteve um
relato a respeito da mudança do público:

Depois isso foi mudando, foram vindo outros tipos de pessoas. Diversificou muito!
E hoje em dia vocês não tem mais um critério certo.. Vai do “mochileiro” ao grande
executivo do Meriott e do Copacabana Palace. Esse é o perfil do turista hoje, é
diversificado. (FREIRE-MEDEIROS, 2009 , p. 83)

Freire-Medeiros (2009) aponta que o comportamento do turista que procura


experiências autênticas na favelas se diferencia justamente por conta da busca por envolver-se
com o local:
75

Em primeiro lugar, eles pretendem distinguir-se dos turistas convencionais, cuja


vivência do Rio de Janeiro estaria limitada ao circuito praia, Corcovado e Pão de
Açúcar. Vale notar, porém, que o turista que vai à favela não deixa de visitar essas
atrações turísticas convencionais, mas faz questão de não se restringir a elas.
Além disto, contrapõem aos turistas que visitariam a favela sem com ela interagir, e
por último, contrapõem-se à elite carioca, cujo temor preconceituoso a impediria de
conhecer sua própria cidade, fazendo da favela um território segregado. (Freire-
Medeiros, 2009 , p. 84)

Por conta destes aspectos, primeiramente são apontados os motivos de tensão e


afastamento entre turista e morador local em estudos sobre diversas favelas turísticas e em
seguida são demonstradas soluções que aproximem os dois atores.

Embora a favela seja um local onde podem ocorrer diversas trocas culturais e
interpessoais devido à diferença de vivências entre o visitante e o morador, Machado (2007)
recorre ao encontro na laje para afirmar que o tipo de contato que ocorre entre turistas e
moradores durante a visita à favela pode tratar-se de um momento onde ocorre uma troca de
interesses:

Além dos cumprimentos formais do momento da chegada, o proprietário da “laje”


somente é procurado pelos turistas para servir as bebidas que estes desejam
consumir. Durante as visitas, em nenhum momento é percebida a vontade de se
comunicar com proprietário de laje, a não ser para comprar água.. (MACHADO,
2007 , p. 83)

Em relação a este encontro marcado por interesses, Barreto (2004) afirma que apesar
de o turismo ser um fenômeno social, em termos restritos pode ser encarado somente como
um negócio baseado na troca de interesses. A autora entende o fenômeno como “Um negócio
que vende algo diferente, sim: prazer e lazer, mas que é conduzido pela lógica da sociedade
capitalista, pela produtividade e pela lucratividade”. (BARRETO, 2004 , p. 147)

Portanto, ao passo que o território turístico torna-se palco para uma troca de
interesses pessoais, ao mesmo tempo em que ocorre a oportunidade de enriquecimento
cultural com base em um espaço de encontro, ocorre o estranhamento entre os membros da
comunidade com os turistas visitantes. (MACHADO, 2007)

Barreto (2004) afirma em relação ao turismo em geral que habitantes dos lugares
turísticos que se beneficiam economicamente com a presença dos turistas não estão
precisamente interessados em receber os turistas como hóspedes e realizar com eles trocas
culturais, mas em receber o dinheiro trazido por eles (BARRETO, 2004)
76

As operadoras turísticas possuem papel fundamental neste contato entre os outros


dois atores sociais. De acordo com Klepsch (2010) a característica mercantilização do
encontro pode ser identificada a partir da observação da interação intermediada dos turistas
com os moradores locais.

Um dos grandes símbolos do afastamento entre visitantes e visitados ocasionados


pelas operadoras nas atividades de turismo em favela são os roteiros percorridos em jipes
(Figura 23). A empresa Jeep Tours se defende ao dizer que baseia seus princípios no respeito
com o cliente e a entrega de um produto de qualidade. (KLEPSCH, 2010)

Figura 23 - Turistas durante Jeep Tour


Fonte: Acervo Pessoal

Klepsch (2010) ilustra que nos passeios que acompanhou durante sua pesquisa o
contato entre os dois na favela só era permitido em centros de artesanato e projetos
comunitários. Desta forma, a relação entre turista e morador só é benéfica para as pessoas que
estão envolvidas empresa de turismo. Aqueles que não estão são excluídos e tornam-se
expectadores no processo. (KLEPSCH, 2010)

Outra forma tensa de relacionamento tenso entre morador e turista, esta mais
reconhecida pelas pessoas, é a que ocorre intermediada por câmeras fotográficas. Freire-
Medeiros (2009) entende que certos estereótipos estejam sendo reforçados a partir deste
hábito. Em sua pesquisa, a autora ilustra que a maioria das pessoas fotografadas pelos
visitantes nas favelas são negras. Na verdade, considerando os motivos de formação das
77

favelas pode-se observar o leque de tipos físicos e extremamente variado. (FREIRE-


MEDEIROS, 2009)

Desta forma, os turistas não estão fotografando o que vêem, mas o que querem
mostrar baseados em pré-concepções do local. Por conta das tensões e da invasão de
privacidade ocorrida por causa das câmeras por muitos morador, já foram colocadas placas
que impedem o uso de máquinas fotográficas no Santa Marta (Figura 24).

Figura 24 - Placa de 'Proibido Fotografar'


Fonte: Rodrigues, 2014

Freire-Medeiros (2009) questiona até que ponto a proximidade que o passeio


pretende promover entre turistas e favelas depende da intermediação da câmera. Que
sentimentos e emoções mobilizam os turistas que fotografam e os moradores que são
capturados por suas lentes?

A controversa relação entre turistas portando câmeras e moradores de favelas é


caracterizado por Freire-Medeiros (2009). Um turista abordado pela autora durante sua
pesquisa afirmou que se fosse pedir autorização para todos que quisesse fotografas, suas fotos
ficariam muito posadas e artificiais, não ficariam realmente autênticas. Por outro, o turista
também afirma que não queria sair fotografando sem pedir autorização desrespeitando as
pessoas e ferindo seus sentimentos. (FREIRE-MEDEIROS, 2009)

Além disto, ocorre também o estranhamento dos moradores em relação aos


visitantes. A autora aponta que em diversos roteiros que foram acompanhados durante sua
pesquisa aconteceu da vitrine se inverter e os turistas passarem a ser a atração dos moradores,
78

que “faziam comentários jocosos sobre as roupas e os cabelos dos visitantes”. (FREIRE-
MEDEIROS, 2009)

Porém, existem também aspectos positivos em relação a atuação de operadoras que


têm consciência de seu papel social em relação ao turismo em favelas e buscam alguma
maneira de produzir impactos positivos nestes locais por meio do turismo.

Klepsch (2010) aponta que três dos cinco operadores turísticas de roteiros em favelas
no Rio de Janeiro que estudou em sua pesquisa (Exotic Tours, Be a Local e Favela Tour)
parecem ter consciência de seu papel e afirmam claramente que gostariam de transformar a
imagem negativa da Rocinha devido a seus problemas de violência e drogas.

Existem alternativas que buscam aproximar as pessoas por meio de atividades


lúdicas durante as visitas. A autora afirma que duas operadoras cariocas propõem, além de
tours tradicionais nas favelas, roteiros de experiência com a participação em jogos de futebol
com a comunidade local, em festas e clubes noturnos na favela, como bailes funk e até mesmo
pernoites na favela em casas de moradores para períodos tanto de curto ou de longo prazo.
(KLEPSCH, 2010)

Além disso, Rodrigues (2014) entende que o aumento do interesse turístico fez surgir
uma nova realidade que foi ganhando espaços pontuais na mídia e levou à redescoberta da
cultura e da gastronomia das favelas.

Os operadores turísticos têm consciência da importância de tornar a interação com os


moradores locais possível, embora não concordem a respeito da intensidade desta interação.
Empregando guias locais, permitem que as atividades e os roteiros sejam interativos,
principalmente porque que estes guias sabem como a vida na favela realmente é e, devido à
barreira da língua, poucos os turistas conseguem interagir diretamente com moradores
aleatórios. (KLEPSCH, 2010)

A interação é essencial em relação à atratividade e qualidade da experiência. Freire-


Medeiros (2009) aponta que um passeio pela favela é capaz de alterar o olhar de um visitante
em relação a toda a cidade, pois em muitos relatos recebidos durante sua pesquisa foi
percebido que não somente a subjetividade do turista ou a favela emergem diferentes ao final
do passeio, “mas o próprio Rio de Janeiro revela-se em sua autenticidade plena”. (FREIRE-
MEDEIROS, 2009 , p. 88):
79

Confrontados com uma realidade tão adversa e radicalmente diferente daquela que
vivem no próprio cotidiano, os turistas dizem que se sentem “transformados”,
capazes de “dar valor ao que realmente importa”. Ao mesmo tempo, as vantagens,
os confortos e os benefícios do lar são reforçados por meio da exposição à diferença
e à escassez. (FREIRE-MEDEIROS, 2009 , p. 88)

Rodrigues (2014) concorda com este ponto de vista ao entender que o grande ganho
da visitação é a troca de experiências, pois “o tour autêntico consegue mostrar o lado
verdadeiro dos moradores, fugindo de estereótipos da violência ou da erotização quando se
trata de favela carioca” (Figura 25). (RODRIGUES, 2014 p.96)

Figura 25 - Turista interage com moradora e seu cão


Fonte: Acervo Pessoal

Klepsch (2010) caracteriza como insensíveis as abordagens que afastam o turista e o


morador, como a que ocorre a partir de passeios de jipe e sem o consentimento da
comunidade. Segundo a autora, os jipes não ajudam a dar uma boa impressão sobre os roteiros
turísticos em favelas. (KLEPSCH, 2010)
80

Figura 26 - Jeep Tour


Fonte: Acervo Pessoal

Rodrigues (2014) afirma que em grande parte dos roteiros feitos por agências de fora
das favelas, o que é mostrado nos pacotes vendidos no exterior pouco ou nada espelha da
cultura do morro e de quem vive nele e, muitas vezes, apenas a estereotipa.

Em muitos momentos este discurso que estereotipa acaba por gerar atitudes
preconceituosas nos visitantes. Entretanto, ocorre um olhar esperançoso pelos moradores:
Machado (2007) aponta que os moradores não se mostram ofendidos com as atitudes
preconceituosas dos turistas porque tem a idéia de que estes podem, ao concluir o passeio, ter
outra imagem da favela.

Freire-Medeiros (2009) traz que a questão dos moradores não é se o turismo na


favela deveria ou não existir, mas sim como os passeios poderiam ser conduzidos e que
comportamentos seriam motivados. O ideal é que ocorram de forma a contribuir com seu
bem-estar e seu desenvolvimento.

É urgente o desenvolvimento de políticas que valorizem abordagens mais sensíveis


por meio do turismo. Klepsch (2010) sugere que autoridades do turismo, tais como Riotur e
Embratur devem controlar estas abordagens mais sensíveis através da criação de certificados
ou prêmios com base em critérios objetivos. (KLEPSCH, 2010)

Segundo Machado (2007) se fossem encontrados mecanismos de aproximação e


compreensão do local pelos visitantes, esta interação pode funcionar como um instrumento
positivo par superar o estranhamento e o choque de culturas. (MACHADO, 2007)
81

O que mais chama a atenção é que as empresas que realizam passeios em jipes nas
favelas não são especializados em adotar discursos profundos. Na verdade são especializadas
em fazer city tours passando por atrativos bastante populares, como Floresta da Tijuca,
Corcovado e Pão de Açúcar (Figura 27).

Figura 27 - Placa informativa Jeep Tour


Fonte: Acervo Pessoal

Rodrigues (2014) utiliza um caso real para demonstrar que a mobilização da


comunidade pode vencer este turismo insensível. A autora comenta sobre uma luta interna
que ocorreu em favor do turismo de verdade e que ficou conhecida como a batalha do jipe,
numa referência a uma empresa que transportava os turistas em jipes abertos. Segundo seu
relato, os moradores sentem que desta forma “os turistas atuavam como se estivessem em um
zoológico de pobre (RODRIGUES, 2014 p.46).

Freire-Medeiros (2009) traz a opinião de Renê Melo, secretario de cultura da


UPMMR – União pró-Melhoramentos de Moradores da Rocinha, sobre a evolução do turismo
em favelas. Segundo o morador, a participação da comunidade e o respeito à história e
peculiaridade de cada favela é essencial para o desenvolvimento adequado das atividades:

Turismo verdadeiro é aquele em que você não mexe na história da comunidade. Tem
que contar a história verdadeira; como surgiu a Rocinha, em que ano foi fundada a
primeira associação de moradores, o número de habitantes (...), mas não basta só
contar história. Tem que ter a participação da comunidade. (FREIRE-MEDEIROS,
2009 , p. 103)
82

Para motivar a participação da comunidade de forma que a atividade evolua de forma


sustentável, deve-se estimular não o lucro, mas o empreendedorismo social e um turismo
comunitário. O turismo pode contribuir com o desenvolvimento com a mesma força de outras
políticas públicas necessárias à superação da pobreza como a educação, saúde, entre outras
coisas, e transformar o espaço da favela num espaço de cidadania. (RODRIGUES, 2014 p.61)

O desenvolvimento do local e da cidadania dos envolvidos no processo depende


fundamentalmente do encontro e da autenticidade. Por meio de estratégias que tornem cada
vez mais natural a interação que ocorre entre turista e morador, a favela se tornará cada vez
mais habitual ao cotidiano urbano, o que diminui o estranhamento e pensamentos
preconceituosos baseados em estereótipos.
83

4 METODOLOGIA

Esta pesquisa tem como objetivo principal identificar, comparar e analisar diversas
variáveis em relação à percepção e opinião de dois grupos na favela Santa Marta em relação
às atividades turísticas que ocorrem no local para buscar estratégias que aproximem e
estimulem seu desenvolvimento. São utilizadas no visitante e no morador local técnicas de
comparação como ANOVA com teste t de significância e free elicitation.

Para se fazer uma análise geral e em seguida comparar as percepções destes dois
perfis em relação a ao turismo foi elaborado e aplicado um questionário dividido em 6 setores
na favela Santa Marta entre os dias 17 e 29 de Abril de 2015 (Apêndice A).

Para a aplicação da pesquisa aos visitantes, foi montado um posto de pesquisa na laje
Michael Jackson, local de maior atratividade turística da favela. Nos dois finais de semana
deste período (17 e 18; 24 e 25) foram formadas equipes de 5 pesquisadores voluntários que
foram capacitados para aplicar as pesquisas pessoalmente aos moradores locais.

O total da amostra da pesquisa realizada foi de 160 questionários válidos, por meio
de survey in loco, sendo 80 moradores e 80 turistas da favela. A amostra de visitantes e
moradores é não probabilística por conveniência, pois foi feita com participantes de roteiros
operados por empresas aleatórias e turistas que visitavam o local por conta própria.

Tendo em vista o interesse de produzir descrições quantitativas das duas populações


para se fazer os testes comparativos de significância, a escolha do método survey se
apresentou o mais adequado:

O método de pesquisa survey pode ser descrito como a obtenção de dados ou


informações sobre características, ações ou opiniões de determinado grupo de
pessoas, indicado como representante de uma população-alvo, por meio de um
instrumento de pesquisa, normalmente um questionário. (FREITAS et al., 2000 p.
105)

A amostra estudada é não-probabilística, onde todos os elementos da população têm


a mesma chance de ser escolhido, resultando em uma amostra representativa da população.
Isso implica utilizar a seleção randômica ou aleatória de respondentes. (FREITAS et al.,
2000)

A primeira parte do questionário se destina a selecionar e classificar o entrevistado


de acordo com os perfis analisados. Através da pergunta-filtro “Você é um morador da favela
84

Santa Marta, na cidade do Rio de Janeiro?” os perfis foram classificados entre “Morador” e
“Visitante”. No caso de “Visitante”, em seguida havia uma pergunta que classificava o
entrevistado em relação ao seu local de origem, sendo as opções: Estado do Rio; América do
Sul; America do Norte/América Central; Europa; Ásia; Oceania e África.

Em seguida eram solicitadas três palavras que viessem à mente do entrevistado ao


pensar em “Turismo em Favela”. Este setor se desenvolverá em uma técnica chamada free
elicitation.

A free elicitation, um procedimento qualitativo que consiste em uma livre associação


de palavras relacionada a determinado tema. (FIGUEIREDO; MAYER, 2010) Nesta pesquisa,
a técnica de free elicitation permitiu que os participantes descrevessem suas opiniões sobre o
Turismo em Favela sem interferências predeterminadas pelo pesquisador.

Neste procedimento, a única restrição feita para responder a pergunta “Indique as três
primeiras palavras que vêm à sua mente quando você pensa em “Turismo em Favelas” é que o
entrevistado fosse um visitante ou morador da favela Santa Marta.

A free elicitation tem sido amplamente usada no campo da pesquisa de mercado por
fornecer dados qualitativos que ilustrem a opinião do entrevistado sobre o objeto de estudo.
(OLEARY E DEEGAN, 2005. p.449 apud FIGUEIREDO; MAYER, 2010)

Foi tomada a decisão de utilizar todos os resultados recebidos na free elicitation na


elaboração de uma wordcloud com as respostas fornecidas pelos moradores e outra com as
respostas fornecidas pelos visitantes. O objetivo é comparar as impressões em geral sobre as
atividades turísticas na favela Santa Marta.

A plataforma online Wordle (http://www.wordle.net) foi utilizada para a elaboração


das wordclouds.

Os dois próximos setores do instrumento de pesquisa eram compostos por quadros de


afirmações cujas respostas foram organizadas de acordo com uma escala Likert de cinco
pontos, variando de 1 (Discordo totalmente) a 5 (Concordo totalmente). O objetivo destes
setores é testar os perfis de motivação e percepção dos respondentes.

A Escala de Motivações (Figura 28) consiste em 21 afirmações que testam categorias


motivacionais como curiosidade cultural, interesse próprio, outros tipos curiosidades,
escapismo, conexão com experiências não-turísticas e pré-conceitos de turismo em
favelas. Estas categorias foram identificadas após levantamento bibliográfico feito na
85

produção de Ma (2010), que testou as categorias motivacionais do turistas da região de


Dharavi, na Índia.

Indicado pela sentença “Considerando as afirmações a seguir, responda de acordo


com suas impressões sobre o que leva os visitantes a praticar o turismo em favelas:” os
respondentes assinalaram seu índice de concordância em relação às afirmativas do quadro a
seguir:

Afirmativas de Motivações
Curiosidade em ver um modo de vida diferente.

Ver o cenário, as vielas e a vista da cidade que se tem em uma favela.

Pensar que a visita retrata a vida na favela de forma autêntica.


Vontade de compartilhar a experiência com sua família e seus amigos
depois.

Pensar que um passeio pelas favelas é uma experiência única e inesquecível.

Vontade de contribuir para o bem-estar dos moradores das favelas.

Ver o contraste entre o lado rico e o lado pobre do Rio de Janeiro.


Fugir um pouco dos passeios mais tradicionais da cidade.
Ver de perto as controvérsias do turismo em favelas.
Acredito que depois do passeio os turistas fiquem mais interessados sobre a
vida das pessoas que vivem em favelas e procurem entender melhor sobre
as condições que elas vivem.

Mudar a imagem negativa das favelas que as pessoas têm em mente.

Pensar que o passeio é divertido e emocionante.


Curiosidade para saber como é sua própria vida em comparação com a de
moradores da favela.
Vontade de interagir com os moradores das favelas.
Ver a favela que somente conhecia através de filmes e livros.

A vida na favela parecer mais autêntica e genuína do que a vida na cidade.

Vontade de valorizar mais a própria vida após a visita.


Ver um tipo diferente de pobreza.
Curiosidade depois de conhecer o turismo em favelas através de diversas
mídias.
Fugir um pouco da vida na cidade.
Experimentar a vida em um ambiente de extrema pobreza.
Figura 28 - Afirmativas de Motivações
Fonte: Elaboração Própria

Em relação às percepções, listam-se nove afirmações que coletam a opinião dos


respondentes em relação ao desenvolvimento social dos projetos de pacificação, o
86

protagonismo da comunidade no modelo do TBC e a aproximação entre morador e visitante,


questões determinantes para as alternativas de desenvolvimento local por meio do turismo que
foram levantadas ao longo da revisão bibliográfica deste trabalho (Figura 29).

Indicado pela sentença “Considerando as afirmações a seguir, responda de acordo


com suas percepções em relação ao Turismo em Favelas” os respondentes assinalaram seu
índice de concordância em relação às afirmativas do quadro a seguir:

Alternativa 1 Alternativa 2 Alternativa 3


Investimentos do setor público em O turismo traz vantagens
O turismo possibilita trocas
segurança são fundamentais econômicas para as favelas e
culturais entre os turistas e os
para o turismo em favelas no Rio empreendedores locais, como a
moradores locais.
de Janeiro. geração de empregos e renda.
Investimentos do setor público em
projetos socioculturais e de Projetos sociais e ONGs locais A interação que ocorre entre os
infraestrutura podem contribuir deveriam ser beneficiados em moradores das favelas e os turistas é
com o desenvolvimento do função das visitas turísticas. positiva.
turismo em favelas.
O turismo em favelas pode
O turismo traz desvantagens
contribuir com o Por meio do turismo em favelas
econômicas para as favelas, como
desenvolvimento social local podem ser descobertas diferentes
aumento do custo de vida e
através da organização de seus expressões culturais na cidade.
especulação imobiliária.
moradores.
Figura 29 - Afirmativas de Percepções
Fonte: Elaboração Própria

Para o setor seguinte foi elaborada uma lista de serviços prestados em favelas
turísticas. Os entrevistados foram orientados a assinalar os três que consideravam mais
atrativos para o turismo (Figura 30). Também foi dada a opção de uma alternativa aberta para
que os entrevistados pudessem sugerir serviços. O objetivo desta seção é testar a aceitação dos
moradores em relação a estes serviços e analisar qual é a relação com os serviços
considerados mais atrativos pelos turistas.
87

Opções de Serviços Turísticos


Almoço em restaurante local.

Visita a projetos sociais, como ONGs e instituições de trabalho social.

Aulas / Workshops com grupos locais (percussão, capoeira, dança).

Eventos culturais locais (fora do horário comercial dos tours).

Eventos culturais locais (dentro do horário comercial dos tours).

Visita à casa de uma família local.


Hospedagem domiciliar na favela.
Hospedagem em um hostel na favela.
Outro serviço:
Figura 30 - Opções de Serviços Turísticos
Fonte: Elaboração Própria

No último setor estavam as perguntas relacionadas ao perfil demográfico dos


respondentes. Neste setor estavam perguntas relacionadas ao gênero, idade, estado civil, grau
de escolaridade, principal ocupação e renda familiar mensal.

Os dados obtidos por meio dos questionários foram transferidos do papel para a
plataforma digital Qualtrics a fim de facilitar o tratamento e análise dos resultados
obtidos. Para que a análise comparativa dos perfis estudados fosse feita com indicadores de
relevância foi utilizada a plataforma SPSS, que permite a utilização do procedimento
comparativo ANOVA com auxílio do teste t.

As técnicas univariadas para análise de diferença de grupos são o teste t e a análise


de variância ANOVA para 2 ou mais grupos.ANOVA é chamada de procedimento univariado
pelo fato de usarmos a mesma para avaliar diferenças de grupos em uma única variável
dependente métrica. (HAIR JR, 2009)

O teste t avalia a significância estatística da diferença entre as duas médias de


amostras independentes para uma única variável dependente. Esta técnica é amplamente
usada por funcionar com grupos pequenos em tamanho e pela fácil aplicação e interpretação.
Ele enfrenta poucas limitações: (1) ele acomoda somente dois grupos; e (2) ele pode avaliar
apenas uma variável independente por vez. (HAIR JR, 2009)

Para mensurar a significância da divergência, o ponto de corte do nível de


significância utilizado é o valor (0,05). Neste caso, há alto nível de significância para
resultados abaixo deste valor. No caso de valores entre (0,05) e (0,10) há indicação da
significância, ainda que menos relevante.
88

A pesquisa realizada não pretende apresentar resultado descritivo, uma vez que a
amostra foi selecionada por conveniência e acredita-se que novas pesquisas possam ser
realizadas com um número maior de respondentes, a fim de identificar as motivações e
percepções de grupos de indivíduos, como grupos de moradores por categorias específicas e
visitantes por grupos conhecem a favela com guias de empresas externas, guias de empresas
locais e sozinhos. Também se sugere que o perfil destes visitantes e moradores seja analisado
por favela específica, visto que cada local possui suas próprias peculiaridades e identidade
própria, como apresentado no levantamento bibliográfico.
89

5 RESULTADOS

A seguir são apresentados os resultados obtidos por meio dos dados colhidos em
campo. A análise se dará da seguinte maneira: primeiro são apresentados os resultados da
pesquisa demográfica considerando o total da amostra e em seguida cada perfil detalhado,
considerando o local de residência para distinguir moradores e visitantes da favela Santa
Marta. Em seguida são analisados os resultados da free elicitation, da análise de categorias
motivacionais influenciadas pela pesquisa de Ma (2010), da análise de divergência em cada
afirmação das escalas de percepções e motivações e da análise de atratividade de serviços.
Durante a apresentação dos resultados são contextualizadas as discussões apresentadas ao
longo da revisão bibliográfica deste trabalho.

5.1 RESULTADOS DEMOGRÁFICOS

Considerando a amostra total, o resultado obtido apresenta distribuição de gêneros


bastante próxima, sendo a amostra do sexo feminino (54,38%) um pouco superior à do
masculino (45,63%) (Figura 31). Considerando a Idade, a maior parte do grupo está incluída
na faixa etária entre 20 e 40 anos, sendo a maior parte pertencente ao grupo de 25 a 29 anos
(25,63%), seguida por 30 a 39 anos (21,25%) e 20 a 24 anos (13,75%) (Figura 32).

Gênero
Total

Masculino 45,63%
Feminino 54,38%

Figura 31 - Gênero Total


Fonte: Elaboração Própria
90

Idade
Total

15 a 19 anos 8,75%
20 a 24 anos 13,75%
25 a 29 anos 25,63%
30 a 39 anos 21,25%
40 a 49 anos 10,63%
50 a 59 anos 7,50%
Mais que 60 anos 12,50%

Figura 32 - Idade Total


Fonte: Elaboração Própria

Em relação ao Estado Civil, a maior parte dos investigados está na categoria solteiro
(68,13%) (Figura 33). O Grau de Escolaridade está bem distribuído entre Ensino Fundamental
(22,50%), Ensino Médio (26,88%) e Ensino Superior (26,88%). A categoria Pós-Graduação
também obteve amostra significativa (15,00%), mas um pouco abaixo dos outros valores
(Figura 34). Tratando-se da Ocupação Principal, a maior parte da amostra geral possui
emprego no setor privado (29,38%), seguido por profissionais liberais/autônomos (18,75%).
Em seguida os estudantes (13,13%), empresários (11,88%) e empregados do setor público
(11,88%) (Figura 35).

Estado Civil
Total

Solteiro 68,13%
Casado 25,63%
Divorciado / Separado 1,88%
Viúvo 4,38%

Figura 33 - Estado Civil Total


Fonte: Elaboração Própria
91

Escolaridade
Total

Ensino Fundamental 22,50%


Ensino Médio 26,88%
Ensino Superior 26,88%
Pós-Graduação 15,00%
Mestrado 6,88%
Doutorado 1,88%

Figura 34 - Escolaridade Total


Fonte: Elaboração Própria

Principal Ocupação
Total

Empresário 11,88%
Emprego no setor privado 29,38%
Emprego no setor público 11,88%
Profissional liberal/autônomo 18,75%
Estudante 13,13%
Aposentado / Pensionista 5,00%
Desempregado 8,13%
Outros 1,88%

Figura 35 - Principal Ocupação Total


Fonte: Elaboração Própria

Assim, em relação à amostra geral, pode-se traçar o seguinte perfil: maioria do gênero
feminino, da faixa etária de 25 a 29 anos, predomínio de solteiros, do nível de escolaridade de
nível médio e superior, da ocupação no setor privado. No entanto, para compreender melhor
esse perfil, torna-se necessário desdobrar os dados entre visitantes e moradores.

Considerando o local de origem dos visitantes (Figura 36), pode-se observar que a
maior parte dos turistas respondentes pertence ao continente europeu (46%), seguido por
pessoas do Brasil (21%), América do Norte/Central (14%) e América do Sul (10%). Esta
informação comprova a maior incidência de turistas do hemisfério norte interessados pelas
favelas.
92

Visitantes - Local de Origem


46%

21%
14%
10%
6%
3%

Brasil América do América do Europa Ásia Oceania


Sul Norte /
Central

Figura 36 - Visitantes - Local de Origem


Fonte: Elaboração Própria

Analisando os dados obtidos distinguindo Moradores e Visitantes, pode-se dizer que


nos dois casos houve distribuição de gênero bastante próxima, ocorrendo número maior de
pessoas do sexo feminino, sendo 52,50% dos moradores e 56,25% dos visitantes (Figura 37).
O percentual mais elevado do gênero feminino pode ser devido ao fato de que as mulheres
aderem mais facilmente às participações voluntarias em pesquisas. Em relação à Idade, a
maior parte dos moradores possui mais de 60 anos (22,50%), seguido de 25 a 29 anos
(16,25%) e 40 a 49 anos (16,25%). Na amostra de visitantes, a maior parte é de 25 a 39 anos
(65%), sendo 35% de 25 a 29 anos e 30% de 30 a 39 anos (Figura 38).

Gênero - Morador x Visitante


Morador Visitante
56,25%
52,50%
47,50%
43,75%

Masculino Feminino
Figura 37 - Gênero - Morador x Visitante
Fonte: Elaboração Própria
93

Idade - Morador x Visitante


Morador Visitante

35,00%
30,00%

22,50%
16,25% 16,25% 16,25%
11,25% 12,50% 11,25%
10,00%
7,50%
5,00% 3,75% 2,50%

15 a 19 anos 20 a 24 anos 25 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos 50 a 59 anos Mais que 60


anos

Figura 38 - Idade - Morador x Visitante


Fonte: Elaboração Própria

Considerando o Estado Civil, nos moradores maior parte é solteiro (57,50%) e outra
grande parte é casado (30%). Nos visitantes a distribuição é a mesma, sendo maior a diferença
entre solteiros (78,75%) e casados (21,25%) (Figura 39).

Estado Civil - Morador x Visitante


Morador Visitante

78,75%

57,50%

30,00%
21,25%
8,75%
3,75%
0,00% 0,00%

Solteiro Casado Divorciado / Separado Viúvo

Figura 39 - Estado Civil - - Morador x Visitante


Fonte: Elaboração Própria

Considerando a Escolaridade (Figura 40) há diferença significativa entre os dois


perfis. Nos moradores, quase metade de amostra possui somente o Ensino Fundamental (45%)
e a outra metade somente o Ensino Médio (41,25%). Nos visitantes, quase metade possui
Ensino Superior (41,25%) e uma parcela significativa possui Pós-Graduação (28,75%). Em
94

relação à Ocupação Principal (Figura 41), ao passo que a maior parcela dos visitantes trabalha
no setor privado (36,25%), os moradores apresentam grupos significativos no setor privado
(22,50%) e no campo de autônomos (26,25%).

Escolaridade - Morador x Visitante


Morador Visitante

45,00%
41,25% 41,25%

28,75%

12,50% 12,50% 13,75%

3,75%
0,00% 1,25% 0,00% 0,00%

Ensino Ensino Médio Ensino Pós-Graduação Mestrado Doutorado


Fundamental Superior

Figura 40 - Escolaridade - Morador x Visitante


Fonte: Elaboração Própria

Ocupação Principal - Morador x Visitante


Morador Visitante

Empresário 5,00%
18,75%
Emprego no setor privado 22,50%
36,25%
Emprego no setor público 13,75%
10,00%
Profissional liberal/autônomo 26,25%
11,25%
Estudante 11,25%
15,00%
Aposentado / Pensionista 8,75%
1,25%
Desempregado 11,25%
5,00%
Outros 1,25%
2,50%

Figura 41 - Ocupação Principal - Morador x Visitante


Fonte: Elaboração Própria
95

Nesta análise, chama atenção a discrepância entre os níveis de escolaridade entre os


moradores e visitantes que forneceram informações à pesquisa. Ao passo que o nível de
escolaridade dos residentes da favela Santa Marta são predominantemente relativos ao Ensino
Fundamental e Ensino Médio, a maioria dos Visitantes possuem Ensino Superior e Pós-
Graduação. Estes dados podem ser interpretados como um reflexo da condição social destas
pessoas. Devido à condição financeira desfavorecida que leva à necessidade de trabalhar e
adquirir renda para sobreviver, muitos moradores são obrigados a abandonar os estudos de
forma precoce. Enquanto isto, turistas com condições financeiras de praticar o turismo e
visitar estes locais puderam ter acesso ao Ensino Superior.

5.2 FREE ELICITATION DE ‘TURISMO EM FAVELAS’

Em relação ao resultado da técnica de free elicitation relacionada a “Turismo em


Favelas”, pode-se analisar diversos aspectos gerais sobre as percepções destes grupos sobre o
fenômeno turístico e seus impactos nas favelas.

Figura 42 - Free Elicitation – Morador


Fonte: Elaboração Própria
96

Observando as palavras fornecidas pelos moradores (Figura 42), pode-se perceber


que as palavras repetidas com maior frequência possivelmente se relacionam ao que compõe
seu imaginário sobre os motivos que levam os turistas a se interessar por estas visitas. As
palavras “Curiosidade”, Conhecimento”, “Conhecer” e “Diversão” sobressaem na figura e
demonstram as percepções gerais destes moradores sobre o turismo em favelas. A palavra
“Oportunidade” também aparece em destaque, o que pode significar que muitos moradores
enxergam no turismo um aspecto positivo, que pode ser associado a outras palavras como
“Melhorias”, “Amizade”, “Dinheiro”, “Interação” e “Aprendizado”. Entretanto, é importante
notar que há palavras com menor destaque que se referem aspectos negativos, como
“Indiferente,”, “Desigualdade”, e “Vergonha”.

Figura 43 - Free Elicitation – Visitante


Fonte: Elaboração Própria

Na figura com as palavras citadas pelos Visitantes (Figura 43), também sobressaem
principalmente palavras relacionadas a motivações. A palavra “Interessante” (interesting)
aparece com grande destaque, e a partir da observação de palavras como “Cultura” (culture),
“Curiosidade”, “Diferente” (different), “Esclarecedor” (eyeopening) e “Pessoas” (people)
pode-se perceber que aspectos relacionados à curiosidade sobre estes locais e a cultura deles
são determinantes no imaginário dos turistas.
97

Entretanto, vale ressaltar que um olhar mais atento permite que sejam observadas
palavras que se relacionam com o desfavorecimento social das favelas, como “Pobre” (poor),
“Pobreza” (poverty) e “Perigo” (danger).

A análise das palavras que compõem as duas figuras permite observar que, conforme
entende Rodrigues (2014), muitos moradores das favelas compreenderam que a peculiaridade
das favelas é mais atrativa do que a pobreza em si, e passaram a enxergar no fenômeno
turístico uma oportunidade para novos empreendimentos que levem À redescoberta da cultura
e gastronomia das favelas. (RODRIGUES, 2014, p. 58)

Em relação aos visitantes, as palavras vão de acordo com a análise de Freire-


Medeiros (2009) no que se refere à busca de lugares diferentes dos roteiros turísticos
tradicionais. Para os turistas que responderam a pesquisa, ainda que seja “perigoso”, o local é
“interessante” devido a aspectos como a “curiosidade”, a “integração” e as “pessoas”. Ainda
que a pobreza chame a atenção, a visita é de alguma maneira esclarecedora para estes
visitantes. Ela relação entre pobreza, curiosidade e esclarecimento pode se relacionar com a
citada “possibilidade de revelação de si por meio do encontro com a comunidade, na qual
permaneceria resguardada a cultura autêntica”. (FREIRE-MEDEIROS, 2009, pg. 86)

É importante notar que, ao mesmo tempo em que ambas as partes citaram palavras
que se referem ao contato positivo entre visitante e visitado, como “Diversidade”, “Interação”,
“Integração” e “Comunidade”, um olhar mais atento às wordclouds nos permite enxergar
pontos de discordância em palavras como “Abuso”, “Predatório”, “Desgaste” por parte dos
moradores e “Invasivo”, “Mal-estar” e inclusive “Não estou me sentindo bem” por parte dos
turistas. Ainda que muitos dos envolvidos tenham impressões positivas sobre o turismo de
forma geral, outras pessoas não se sentem bem em relação a estas atividades. Isto pode se
justificar pelo histórico das atividades turísticas que não geram impacto positivo nas
comunidades locais e pelos turistas que preferem ficar em “bolhas turísticas”, como entende
Spampinato (2009).

5.3 ANÁLISE CATEGORIAS MOTIVACIONAIS - MA (2010)

A partir do resultado da Análise de Categorias Motivacionais – Total (Tabela 1) é


possível interpretar que que, dentro das categorias apresentadas, a Categoria 5 “Conexão com
experiências não-turísticas” obteve a maior média geral (4,05). A segunda categoria com
98

média mais alta foi a Categoria 1 “Curiosidade Cultural”, com uma média bastante próxima
(4,04).

Em seguida estão a Categoria 2: “Interesse Próprio (3,95); 6: “Pré-concepções do


turismo em favela” (3,77) 4: “Escapismo” (3,70); e 6 “Outras curiosidades” (3,53).

Tabela 1 - Categorias Motivacionais - Total

Análise Categorias Motivacionais – Total


Categoria 1: Curiosidade Cultural Média
Curiosidade em ver um modo de vida diferente. 4,6

Ver o cenário, as vielas e a vista da cidade que se tem em uma favela. 4,3

Pensar que a visita retrata a vida na favela de forma autêntica. 4


Fugir um pouco dos passeios mais tradicionais da cidade. 4,2 Média Total
Experimentar a vida em um ambiente de extrema pobreza. 3,1 4,04
Categoria 2: Interesse próprio

Pensar que um passeio pelas favelas é uma experiência única e inesquecível. 4,1

Ver o contraste entre o lado rico e o lado pobre do Rio de Janeiro. 4,1
Curiosidade para saber como é sua própria vida em comparação com a de
3,9 Média Total
moradores da favela.
Vontade de valorizar mais a própria vida após a visita. 3,7 3,95
Categoria 3: Outras Curiosidades

Vontade de contribuir para o bem-estar dos moradores das favelas. 3,4

Ver de perto as controvérsias do turismo em favela. 3,8 Média Total


Vontade de interagir com os moradores das favelas. 3,4 3,53
Categoria 4: Escapismo
Pensar que o passeio é divertido e emocionante. 3,8 Média Total
Fugir um pouco da vida na cidade. 3,6 3,70
Categoria 5: Conexão com experiências não-turísticas
Vontade de compartilhar a experiência com sua família e seus amigos
4,1 Média Total
depois.
Ver a favela que somente conhecia através de filmes e livros. 4 4,05
Categoria 6: Pré-concepções do turismo em favela

Mudar a imagem negativa das favelas que as pessoas têm em mente. 4

A vida na favela parecer mais autêntica e genuína do que a vida na cidade. 3,7 Média Total

Ver um tipo diferente de pobreza. 3,6 3,77


Fonte: Elaboração Própria

A pesquisa motivacional permitiu identificar que na opinião geral das pessoas que
responderam a pesquisa, as principais motivações para o turismo em favela ocorrem
99

influenciadas por categorias culturais ligadas a aspectos presentes nos perfis de


comportamento pós-moderno do turismo como a curiosidade, a busca por roteiros diferentes
na cidade do Rio de Janeiro e a vontade de compartilhar a experiência. Conforme aponta
Freire-Medeiros (2009) a divulgação internacional das favelas por reproduções como o filme
Cidade de Deus e o clipe do artista Michael Jackson também são importantes forças de
motivação.

Um dos pontos de destaque da análise geral das respostas obtidas é que, embora os
turistas sinalizem a vontade de visitar as favelas para ver o que consideram o contraste entre o
lado rico e o lado pobre do Rio de Janeiro, nem os moradores, nem os visitantes indicaram
índices de concordância absoluta em relação à afirmativa que caracteriza as favelas como
locais de “extrema pobreza”. Dentro do campo de afirmativas relacionadas à Curiosidade
Cultural, as respostas relacionadas à ‘Experimentar a vida em um ambiente de extrema
pobreza’ não acompanharam o padrão de respostas das outras afirmativas (Figura 44). Isto
significa que na visão destas pessoas estas favelas não são locais miseráveis e em condições
extremas, e que o interesse cultural apontado por eles não está necessariamente relacionado à
percepção de pobreza.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

1,11%
Curiosidade em ver um modo de vida diferente.2,22% 22,78% 61,67%
1,11%
4,44%
Ver o cenário, as vielas e a vista da cidade que se tem
2,22% 27,22% 50,00%
em uma favela.
5,00%
Pensar que a visita retrata a vida na favela de forma 8,33%
3,89% 10,56% 27,78% 38,33%
autêntica.
6,11%
Fugir um pouco dos passeios mais tradicionais da
3,33% 10,56% 22,78% 46,11%
cidade.

Experimentar a vida em um ambiente de extrema


17,78% 13,33% 16,67% 23,33% 17,78%
pobreza.

Discordo Totalmente Discordo Parcialmente Nem concordo, nem discordo


Concordo Parcialmente Concordo Totalmente

Figura 44 - Categoria Curiosidade Cultural - Morador x Visitante


Fonte: Elaboração Própria
100

Conforme aponta Rodrigues (2014), é importante notar que as favelas turísticas do Rio de
Janeiro se encontram na Zona Sul e, de forma geral, seus moradores vivem sob condições
razoáveis de habitação. Embora efeitos da gentrificação permitam observar pessoas em ótimas
condições financeiras morando próximas a pessoas em situação prejudicada e inclusive sob
ameaça de remoções (GAFFNEY, 2013), as favelas turísticas não podem ser tidas como
exemplos generalizados das favelas da cidade. Em regiões como a Zona Norte e Baixada
Fluminense, mais afastadas do principal eixo turístico, existem moradores de favelas vivendo
sob situações bastante precárias. (RODRIGUES, 2014)

A observação do resultado da Análise Categorias Motivacionais – Morador x Visitante


(Tabela 2) permite visualizar diferenças entre a percepção dos moradores e dos turistas:
101

Tabela 2 - Categorias Motivacionais - Morador x Visitante

Análise Categorias Motivacionais – Morador x Visitante Morador Visitante


Categoria 1: Curiosidade Cultural Média Média
Curiosidade em ver um modo de vida diferente. 4,49 4,68
Ver o cenário, as vielas e a vista da cidade que se tem em uma
4,35 4,31
favela.
Pensar que a visita retrata a vida na favela de forma autêntica. 4 3,99
Média
Fugir um pouco dos passeios mais tradicionais da cidade. 4,2 Média Total 4,1
Total
Experimentar a vida em um ambiente de extrema pobreza. 3,15 4,038 3,08 4,032
Categoria 2: Interesse próprio
Pensar que um passeio pelas favelas é uma experiência única e
3,89 4,36
inesquecível.
Ver o contraste entre o lado rico e o lado pobre do Rio de
4,16 4,07
Janeiro.
Curiosidade para saber como é sua própria vida em Média
3,94 Média Total 3,79
comparação com a de moradores da favela. Total
Vontade de valorizar mais a própria vida após a visita. 3,87 3,97 3,5 3,93
Categoria 3: Outras Curiosidades
Vontade de contribuir para o bem-estar dos moradores das
3,1 3,79
favelas.
Média
Ver de perto as controvérsias do turismo em favela. 3,75 Média Total 3,89
Total
Vontade de interagir com os moradores das favelas. 3,24 3,36 3,61 3,76
Categoria 4: Escapismo
Média
Pensar que o passeio é divertido e emocionante. 3,91 Média Total 3,63
Total
Fugir um pouco da vida na cidade. 3,64 3,78 3,54 3,59
Categoria 5: Conexão com experiênias não-turísticas
Vontade de compartilhar a experiência com sua família e Média
4,02 Média Total 4,2
seus amigos depois. Total
Ver a favela que somente conhecia através de filmes e livros. 4,2 4,11 3,84 4,02
Categoria 6: Pré-concepções do turismo em favela
Mudar a imagem negativa das favelas que as pessoas têm em
3,64 4,26
mente.
A vida na favela parecer mais autêntica e genuína do que a Média
3,83 Média Total 3,49
vida na cidade. Total
Ver um tipo diferente de pobreza. 3,8 3,76 3,37 3,71
Fonte: Elaboração Própria

Na visão dos moradores, a maior média motivacional apresentada foi a Categoria 5


“Conexão com experiências não-turísticas” (4,11); seguida pela 1: “Curiosidade cultural”
(4,038); 2: “Interesse próprio” (3,97); 4: “Escapismo” (3,78); 6: “Pré-concepções do turismo
em favela” (3,76); e 3: “Outras curiosidades” (3,36)

Na visão dos visitantes a maior média apresentada foi a Categoria 1: “Curiosidade


Cultural” (4,032); seguida pela 5: “Conexão com experiências não-turísticas” (4,02); 2:
102

“Interesse próprio” (3,93); 3: “Outras Curiosidades” (3,76); 6: “Pré-concepções do Turismo


em Favela” (3,71); e 4: “Escapismo” (3,59).

Isto permite observar que tanto os moradores quanto os visitantes da favela Santa
Marta têm em seu imaginário que questões relacionadas à peculiaridade e a cultura da favela
são os principais fatores motivacionais que impulsionam as atividades turísticas no local.
Embora os moradores estejam mais inclinados à percepção de peculiaridade e os visitantes
aos fatores culturais, os dois grupos apresentam médias de concordância bastante próximas
em relação a estes aspectos. Pode-se dizer que as práticas de turismo que relacionam aos
fatores pós-modernos apontados por Spampinato (2009) e Bartholo e Burstyn (2010) estão
corretos em relação a estes fatores.

Entretanto, as categorias que tratam da atenção ao bem estar e interação entre


visitantes e visitados não obtiveram médias altamente significativas, o que pode significar que
estes grupos não compreendem estas motivações como determinantes no processo de decisão
dos turistas.

Estes resultados estão de certa forma em acordo com o resultado da pesquisa de


Freire-Medeiros, Coelho e Monteiro (2012) a respeito dos motivos que levam turistas a visitar
favelas no Rio de Janeiro. Neste caso, os turistas nacionais apontaram com maior freqüência a
opção “Conhecer a cultura, a realidade local e as pessoas da favela” e os internacionais “Traz
uma perspectiva diferente sobre a cidade”. O único aspecto em dissonância pode ser o qe se
refere a conhecer as pessoas da favela.

5.4 ANÁLISE COMPARATIVA DE SIGNIFICÂNCIA – PERCEPÇÕES

Por meio do teste ANOVA, a tabela da análise comparativa de significância (Tabela


3) indica diferenças significativas nas opiniões de Turistas e Moradores em duas afirmativas.
Em geral, as médias relacionadas às alternativas para o desenvolvimento local e interpessoal
por meio do turismo indicam resultados próximos aos níveis de concordância.
103

Tabela 3 - Análise Comparativa de Significância - Percepções

Análise Comparativa de Significância – Percepções


Média Média Média
Afirmativas f sig
Total Morador Visitante

Investimentos do setor público em segurança são fundamentais


1 4.4 4,26 4,44 1,034 0,311
para o turismo em favelas no Rio de Janeiro.

O turismo traz vantagens econômicas para as favelas e


2 4.0 3,64 4,41 15,694 0,000
empreendedores locais, como a geração de empregos e renda.

O turismo possibilita trocas culturais entre os turistas e os


3 4.2 4 4,3 2,553 0,112
moradores locais.
Projetos sociais e ONGs locais deveriam ser beneficiados em
4 4.4 4,45 4,26 1,719 0,192
função das visitas turísticas.
A interação que ocorre entre os moradores das favelas e os turistas
5 4.0 3,83 4,21 4,631 0,033
é positiva.
Por meio do turismo em favelas podem ser descobertas diferentes
6 4.5 4,57 4,5 0,388 0,534
expressões culturais na cidade.

O turismo em favelas pode contribuir com o desenvolvimento


7 4.2 4,05 4,37 3,296 0,071
social local através da organização de seus moradores.

O turismo traz desvantagens econômicas para as favelas, como


8 2.9 3 2,86 0,389 0,534
aumento do custo de vida e especulação imobiliária.
Investimentos do setor público em projetos socioculturais e de
9 infraestrutura podem contribuir com o desenvolvimento do 4.3 4,42 4,2 2,493 0,116
turismo em favelas.
Fonte: Elaboração Própria

Tratando das afirmativas relacionadas às políticas públicas e sua relação com o


turismo, o desenvolvimento local e o processo pacificação, tanto os moradores quanto os
visitantes concordam em índices próximos que as políticas de segurança pública são
importantes para que ocorra o turismo em favelas, assim como investimentos em projetos
socioculturais e infraestrutura podem contribuir com o seu desenvolvimento. A afirmativa
relacionada a estes investimentos socioeconômicos teve maior índice de concordância por
parte dos moradores, que seriam os principais beneficiados.

Entretanto, a afirmativa “O turismo pode trazer desvantagens econômicas para as


favelas, como aumento do custo de vida e especulação imobiliária” teve um resultado
controverso. Os moradores demonstraram opiniões divergentes em relação a esta afirmação,
com índices de concordância e discordância bastante próximos, e os turistas indicaram um
significativo grau de incerteza sobre esta afirmação (Figura 45).
104

O turismo traz desvantagens econômicas para as favelas,


como aumento do custo de vida e especulação imobiliária.

Morador Visitante

45,00%

32,50%
28,75%

18,75%
18,75% 17,50%
12,50% 11,25%
8,75%
6,25%

Discordo Discordo Não concordo, Concordo Concordo


Totalmente Parcialmente nem discordo parcialmente Totalmente

Figura 45 – Desvantagens Econômicas - Morador x Visitante


Fonte: Elaboração Própria

Isto pode indicar que, ao passo que o turismo beneficia parte da população da favela,
algumas pessoas estão sofrendo estes impactos negativos e resistindo da forma que podem.
Alguns autores apontam que a satisfação dos moradores das favelas com as atividades
turísticas é proporcional ao seu envolvimento com as atividades relacionadas à maior
circulação de pessoas de fora das favelas. (CARVALHO; SILVA, 2012) (FLEURY; OST,
2013)

Conforme apontado por Gaffney (2013) e Fleury e Ost (2013), os processos de


pacificação trouxeram consigo a formalização de diversos serviços básicos, como a
distribuição de água, luz e telefone. A regularização destes serviços leva à maior cobrança de
taxas, impostos e aumenta o custo de vida das pessoas que moram nestes locais. Se políticas
de inclusão social e econômica não forem adotadas, os moradores que não se beneficiam do
maior fluxo de pessoas serão prejudicados e este contraste de opiniões será mantido.

O alto índice de incerteza dos visitantes também é um fato a ser ressaltado. Este
resultado pode indicar que ocorra indiferença ou falta de informação em relação a este aspecto
do processo de pacificação.

Em relação às afirmativas relacionadas ao protagonismo da comunidade de acordo


com as premissas do Turismo de Base Comunitária, as afirmativas que apontam que em
função das visitas turísticas deveriam haver benefícios a projetos sociais e ONGs locais das
favelas e que o turismo pode contribuir com a organização local dos moradores da favela
tiveram alto grau de concordância. O aspecto de organização dos moradores locais pode
105

ocorrer por causa dos métodos implementados pelo projeto Rio Top Tour que ainda são
utilizados pelos guias de turismo na favela Santa Marta. (RODRIGUES, 2014).

Em relação à afirmativa que indica que “O turismo traz vantagens econômicas para
as favelas e empreendedores locais, como a geração de empregos e renda”, observa-se
significância de 0,000 e uma diferença de quase 1,00 nas médias, sendo que os visitantes
possuem média mais elevada (4,41) que os moradores (3,64) (Figura 46).

O turismo traz vantagens econômicas para as favelas e


empreendedores locais, como a geração de empregos e
renda.

Morador Visitante

60,00%

43,75%

28,75%
17,50%
13,75% 13,75% 11,25%
6,25%
2,50% 2,50%

Discordo Discordo Não concordo, Concordo Concordo


Totalmente Parcialmente nem discordo parcialmente Totalmente

Figura 46 - Desvantagens Econômicas - Morador x Visitante


Fonte: Elaboração Própria

A alta média de concordância demonstra que os turistas entendem que as visitas


turísticas são benéficas economicamente para as favelas. Esta informação está correta no que
se refere ao aumento do número de empreendimentos que foram inaugurados com enfoque
nos tours guiados nas favelas. Por outro lado, conforme pesquisa apresentada na revisão
bibliográfica deste trabalho, além do pagamento feito ao guia de turismo, os turistas pouco
consomem durante os passeios, o que reduz a distribuição de renda que ocorre por causa do
turismo. (FREIRE-MEDEIROS, VILAROUCA, MENEZES, 2013) Isto pode explicar
porque, apesar da predominância da resposta “Concordo Totalmente”, as opiniões dos
moradores estão distribuídas entre todas as opções de resposta.

Por último, tratando das afirmativas relacionadas à interação entre morador e


visitante, os dois grupos apresentaram alto nível de concordância em relação às afirmativas
que indicam que “O turismo possibilita trocas culturais entre os turistas e os moradores
106

locais”, e que “Por meio do turismo em favelas podem ser descobertas diferentes expressões
culturais na cidade”.

Na afirmativa que aponta que “A interação que ocorre entre os moradores das favelas
e os turistas é positiva” observa-se uma considerável diferença de opiniões, sendo a média dos
visitantes (4,21) consideravelmente mais elevada que a dos moradores (3,83) (Figura 47).

A interação que ocorre entre os moradores das favelas e


os turistas é positiva.

Morador Visitante

45,00%
40,00%
33,75%
33,75%

18,75%
15,00%
10,00%

0,00% 1,25%2,50%

Discordo Discordo Não concordo, Concordo Concordo


Totalmente Parcialmente nem discordo parcialmente Totalmente

Figura 47 - Interação - Morador x Visitante


Fonte: Elaboração Própria

Isto pode ser justificado pelo histórico das visitas turísticas e do imaginário geral da
cidade sobre o turismo em favelas, onde muito se fala sobre estereótipos, preconceito e
generalizações. Embora os guias locais da favela Santa Marta estejam organizados e prestem
serviços de boa qualidade, ainda existem guias de empresas externas que freqüentam a favela
sem estabelecer parcerias com as iniciativas locais. (RODRIGUES, 2014) Isto pode levar ao
considerável percentual de moradores que responderam “Discordo Totalmente” nesta
afirmativa.

5.5 ANÁLISE COMPARATIVA DE SIGNIFICÂNCIA – MOTIVAÇÕES

No caso da Escala de Motivações, o teste ANOVA indica diversas afirmativas com


variados graus de discordância (Tabela 4). Sendo 0,05 o nível de significância escolhido,
primeiro são analisados os casos abaixo deste corte. Em seguida são analisados os casos com
significância entre 0,05 e 0,10. Nestes casos pode haver diferenças marginais de opinião entre
turistas e moradores.
107

Tabela 4 - Análise Comparativa de Significância - Motivações

Análise Comparativa de Significância - Motivações


Média Média
Afirmativas Média Total f sig
Morador Visitante
1 Curiosidade em ver um modo de vida diferente. 4.6 4,49 4,68 2,188 0,141
Ver o cenário, as vielas e a vista da cidade que se tem em uma
2 4.3 4,35 4,31 0,059 0,808
favela.

3 Pensar que a visita retrata a vida na favela de forma autêntica. 4.0 4 3,99 0,005 0,946

Vontade de compartilhar a experiência com sua família e seus


4 4.1 4,02 4,2 1,189 0,277
amigos depois.
Pensar que um passeio pelas favelas é uma experiência única e
5 4.1 3,89 4,36 8,566 0,004
inesquecível.

6 Vontade de contribuir para o bem-estar dos moradores das favelas. 3.4 3,1 3,79 11,552 0,001

7 Ver o contraste entre o lado rico e o lado pobre do Rio de Janeiro. 4.1 4,16 4,07 0,226 0,635

8 Fugir um pouco dos passeios mais tradicionais da cidade. 4.2 4,2 4,1 0,322 0,571

9 Ver de perto as controvérsias de uma favela. 3.8 3,75 3,89 0,454 0,501

Acredito que depois do passeio os turistas fiquem mais


10 interessados sobre a vida das pessoas que passam necessidade e 3.7 3,59 3,88 1,826 0,179
procurem entender melhor sobre as condições que elas vivem.

Mudar a imagem negativa das favelas que as pessoas têm em


11 4.0 3,64 4,26 9,644 0,002
mente.
12 Pensar que o passeio é divertido e emocionante. 3.8 3,91 3,63 2,341 0,128
Curiosidade para saber como é sua própria vida em comparação
13 3.9 3,94 3,79 0,564 0,454
com a de moradores da favela.
14 Vontade de interagir com os moradores das favelas. 3.4 3,24 3,61 3,113 0,08

15 Ver a favela que somente conhecia através de filmes e livros. 4.0 4,2 3,84 5,548 0,02

A vida na favela parecer mais autêntica e genuína do que a vida na


16 3.7 3,83 3,49 3,469 0,064
cidade.
17 Vontade de valorizar mais a própria vida após a visita. 3.7 3,87 3,5 3,885 0,05
18 Ver um tipo diferente de pobreza. 3.6 3,8 3,37 4,398 0,038
Curiosidade depois de conhecer o turismo em favelas através de
19 4.1 4,21 3,9 3,992 0,047
diversas mídias.
20 Fugir um pouco da vida na cidade. 3.6 3,64 3,54 0,234 0,629

21 Experimentar a vida em um ambiente de extrema pobreza. 3.1 3,15 3,08 0,111 0,739

Fonte: Elaboração Própria

A afirmativa que relaciona a motivação dos turistas em visitar favelas à “Vontade de


contribuir para o bem-estar dos moradores das favelas” apresenta diferença significativa entre
a opinião de moradores e turistas (sig=0,001). Enquanto os visitantes têm média bem próxima
à concordância parcial (3,79), os moradores estão bem próximos à incerteza (3,1), o que
108

indica que muitas respostas de moradores estiveram abaixo da linha de concordância (Figura
48).

Vontade de contribuir para o bem-estar dos moradores das


favelas.

Morador Visitante

36,25%
30,00% 28,75%
26,25%
23,75% 22,50%

13,75% 13,75%

3,75%
1,25%

Discordo Discordo Não concordo, Concordo Concordo


Totalmente Parcialmente nem discordo parcialmente Totalmente

Figura 48 - Contribuição para o bem estar dos moradores - Morador x Visitante


Fonte: Elaboração Própria

Este gráfico demonstra que os turistas ficam em dúvida ou concordam com aspectos
que se referem à geração de impactos positivos para as favelas por conta das visitas turísticas.
A análise deste gráfico justifica a motivação de interesse e curiosidade dos turistas de
compreender e tentar contribuir com o bem estar e qualidade de vida das comunidades
visitadas

Segundo Freire-Medeiros (2009), na opinião dos moradores o principal debate em


torno do turismo em favelas não é a respeito da sua proibição, mas sua condução de forma a
influenciar o modo de vida das pessoas que vivem nestes locais. Apesar da resposta positiva
dos visitantes, uma parcela significativa dos moradores se mostrou contrário à percepção de
que os visitantes têm vontade de contribuir com seu modo de vida.

Portanto, se justifica que sejam adotadas políticas voltadas para o desenvolvimento


de estratégias atendam a esta motivação dos visitantes, de forma a beneficiar seu
relacionamento com o morador local. Desta forma o turismo pode contribuir com o
desenvolvimento do local e transformar a favela em um espaço de cidadania. (RODRIGUES,
2014)

Este espaço de cidadania também se justifica pela análise da diferença de opiniões na


afirmativa “Mudar a imagem negativa das favelas que as pessoas tem em mente”, que também
109

apresenta diferença estatisticamente significativa (sig=0,002). Os visitantes se mostraram


bastante dispostos a visitar as favelas com olhar crítico para avaliar se as publicações
negativas a respeito destes locais realmente procedem.

Há níveis de discordância consideráveis em duas alternativas que se referem a mídias


e divulgações de imagens das favelas. Nas afirmativas “Ver a favela que somente conhecia
através de filmes e livros” (sig=0,020) observa-se que os visitantes não estão tão motivados
por este motivo (3,84) quanto pensam os moradores (4,2). Na afirmativa “Curiosidade depois
de conhecer o turismo em favelas através de diversas mídias” (sig=0,047), os moradores
também apresentam média de concordância mais elevada (4,21) do que os visitantes (3,9).
Isto demonstra que apesar da divulgação e popularização do potencial turístico das favelas,
este não é mais um dos fatores que mais motiva as visitas.

Em relação à afirmativa “Pensar que um passeio pelas favelas é uma experiência


única e inesquecível” (sig=0,004), o teste indica que os moradores não consideram o turismo
em favelas tão especial (3,89) quanto os visitantes (4,36). Entretanto, tanto na afirmativa “Ver
um tipo diferente de pobreza (sig=0,038)”, onde os moradores tem média mais alta (3,8) que
os visitantes (3,37), quanto na “Vontade de valorizar mais a própria vida após a visita”
(sig=0,05), os moradores se mostram mais favoráveis (3,87) do que os visitantes realmente
expressaram (3,5) (Figura 49).

Vontade de valorizar mais a vida após a visita.

Morador Visitante

38,75%
35,00%
30,00%
25,00%
22,50%
20,00%

11,25% 12,50%

2,50% 2,50%

Discordo Discordo Não concordo, Concordo Concordo


Totalmente Parcialmente nem discordo parcialmente Totalmente

Figura 49 - Valorização da própria vida após a visita - Morador x Visitante


Fonte: Elaboração Própria

A observação destes resultados demonstra que o afastamento social e o consumo da


pobreza é um aspecto mais valorizado pelos moradores do que pelos turistas. Isto vai em
110

encontro ao que apontou Cejas (2006) em sua pesquisa, ao apontar que habitantes pobres e
seus ambientes se tornaram objetos de consumo. Neste caso, apesar de ser percebida, a
pobreza não é um aspecto absoluto em relação à decisão do visitante. O vouyerismo é
desconstruído e dá lugar a relações sociais baseadas em outras motivações.

Por muitos anos, o turismo em favelas foi muito criticado por representantes oficiais,
e pela maioria de classe média e alta brasileira por ser considerado uma atividade desprezível
por “denegrir a imagem do país devido à exposição da população pobre”. (FREIRE-
MEDEIROS, 2009 p. 45) De acordo com este resultado, o interesse turístico pode ensinar que
outros fatores podem justificar as visitas, e apesar do histórico desfavorecimento
sociocultural, as favelas podem ser caracterizadas como locais representantes da enorme
riqueza cultural brasileira.

Em relação às afirmativas que tiveram discordância menos significativa, a motivação


“A vida na favela parecer mais autêntica e genuína do que a vida na cidade” (sig=0,064) teve
média mais alta apresentada pelos moradores (3,83) que pelos visitantes (3,49).

Já na afirmativa “Vontade de interagir com os moradores das favelas” (sig=0,08), os


visitantes se posicionaram mais próximos à concordância parcial (3,61) que os moradores
(3,24) (Figura 50).

Vontade de interagir com os moradores das favelas.

Morador Visitante

30,00% 30,00%
28,75%
25,00% 26,25%
25,00%

13,75%
10,00%
5,00% 6,25%

Discordo Discordo Não concordo, Concordo Concordo


Totalmente Parcialmente nem discordo parcialmente Totalmente
Figura 50 - Vontade de interação - Morador x Visitante
Fonte: Elaboração Própria

Como na afirmativa referente à “Vontade de contribuir com o bem estar dos


moradores locais”, a maioria dos turistas respondeu positivamente e uma parcela considerável
111

se demonstrou em certeza em relação a esta afirmativa, enquanto boa parte dos moradores
concordou e uma parcela bastante significativa discordou totalmente.

Portanto, se justifica o entendimento de Machado (2007) que argumenta a favor da


busca de mecanismos de aproximação e compreensão do local pelos visitantes para que esta
interação possa funcionar como um instrumento positivo para superar o “estranhamento” e o
choque de culturas. Conforme aponta Spampinato (2009), a forma como se planeja o turismo
é um fator chave na análise da relação entre visitante e visitado, porque pode favorecer ou
obstaculizar, concretamente, a possibilidade do encontro.

Experimentar a vida em um ambiente de extrema pobreza.

Morador Visitante

26,25% 26,25%
23,75% 23,75%
22,50%
18,75%
16,25% 16,25%
15,00%
11,25%

Discordo Discordo Não concordo, Concordo Concordo


Totalmente Parcialmente nem discordo parcialmente Totalmente
Figura 51 - Ambiente de Extrema Pobreza - Morador x Visitante
Fonte: Elaboração Própria

Por fim, a figura que representa a divergência de opiniões em relação à motivação de


visita a uma favela para ‘Experimentar a vida em um ambiente de extrema pobreza’. A análise
do gráfico aponta que tanto moradores quanto visitante possuem opiniões variadas em relação
a esta afirmativa, o que aponta que a percepção de que a pobreza é um fator determinante para
o turismo em favelas não é uma verdade absoluta (Figura 51).

5.6 ANÁLISE DA ATRATIVIDADE DE SERVIÇOS

A análise da tabela “Atratividade de Serviços – Total” (Tabela 5) ilustra que na


opinião geral das pessoas entrevistadas, duas formas de serviços foram apontadas como os
mais atrativos. “Visita a projetos sociais, como ONGs e instituições de trabalho social” e
“Aulas / Workshops com grupos locais (percussão, capoeira, dança)” foram escolhidos 89
vezes cada um.
112

Tabela 5 - Atratividade de Serviços – Total


Atratividade de Serviços – Total
Serviço N

Visita a projetos sociais, como ONGs e instituições de trabalho social. 89

Aulas / Workshops com grupos locais (percussão, capoeira, dança). 89

Almoço em restaurante local. 82

Eventos culturais locais (fora do horário comercial dos tours). 66

Eventos culturais locais (dentro do horário comercial dos tours). 43

Visita à casa de uma família local. 42

Hospedagem domiciliar na favela. 31

Hospedagem em um hostel na favela. 28

Outros serviços: 10

Fonte: Elaboração Própria

Em seguida a opção “Almoço em um restaurante local” é indicada na tabela tendo


sido apontada 82 vezes pelos respondentes.

Em relação aos eventos culturais locais, enquanto 66 pessoas indicam que preferem
que aconteçam fora do horário comercial dos tours, 43 pessoas indicaram que prefere que os
eventos aconteçam durante os passeios.

Por último são citadas as opções relacionadas a moradias. De todas as pessoas que
responderam, 42 consideram a “Visita à casa de uma família local” atrativa, 31 consideram a
hospedagem domiciliar na favela atrativa e 28 escolheram a hospedagem em um hostel na
favela.

Tratando os grupos separadamente, pode-se observar algumas diferenças em relação


à opinião sobre a atratividade dos serviços na favela.
113

Atratividade dos Serviços


Morador Visitante

Almoço em restaurante local. 61,25%


41,25%
Visita a projetos sociais, como ONGs e… 56,25%
55,00%
Aulas / Workshops com grupos locais… 55,00%
56,25%
Eventos culturais locais (fora do horário … 38,75%
43,75%
Hospedagem em um hostel na favela. 16,25%
37,50%
Hospedagem domiciliar na favela. 16,25%
36,25%
Eventos culturais locais (dentro do … 21,25%
17,50%
Visita à casa de uma família local. 22,50%
12,50%
Outros serviços: 12,50%
0,00%

Figura 52- Atratividade de Serviços - Morador x Visitante


Fonte: Elaboração Própria

Conforme observado ao longo da análise dos resultados desta pesquisa, tanto os


moradores quanto os visitantes percebem que a diversidade cultural e a curiosidade em
relação às favelas são fatores que justificam visitas a favelas. Apesar das opiniões divergirem
em relação à vontade de contribuir com o bem estar e interagir entre si, as opções de serviço
que se referem a relacionamentos baseados em encontros autênticos que envolvem o
desenvolvimento interpessoal foram apontadas por percentuais bastante significativos pelos
dois grupos. As opções que citam Aulas e Workshops com moradores das favelas e Visitas a
Projetos Sociais tiveram um grau de aceitação bastante relevante (Figura 52). Isto significa
que existe um caminho aberto para que sejam desenvolvidos projetos de turismo que
incentivem este tipo de encontro.

Conforme apontado por Spampinato (2009) existe por parte dos viajantes maior
sensibilidade para os aspectos sociais e culturais do turismo. O interesse e a procura por
contatos e relações que vão além da simples proximidade física devem ser incentivados, para
que a partir do turismo os moradores e visitantes possam compartilhar, trocar e colaborar
entre si.

Os moradores que responderam a pesquisa apontaram o ‘Almoço em restaurante


local’ como o serviço mais atrativo. Isto pode se justificar pelos diversos incentivos à
gastronomia local que ocorrem por conta do turismo. A opção “Visita a casa de uma família”
114

foi poucas vezes indicado pelos moradores, o que pode indicar que estes moradores
concordem com as críticas que apontam que o turismo em favelas é invasivo.

Em relação ao campo de sugestões de serviços (Figura 53), todas as alternativas


foram preenchidas por moradores. Ao passo que houve sugestões profissionais como Palestras
e Grupos Focais para dar profundidade ao entendimento da localidade e das características da
favela, a maior parte das sugestões se refere a outros aspectos.

Lista de outros serviços:

cuidados na rua
1
atividade turista + morador
2
UNIÃO, REUNIÃO E ASSOCIAÇÃO
3
aproximar o turista e o morador
4
moradores conhecerem a própria comunidade
5
visitar a própria comunidade - laje Michael
6 Jackson

aproximar o turista e o morador


7
Palestras / Grupos Focais
8
9 fazer o turista conhecer o morador

geração de renda para toda a comunidade


9
Figura 53 - Lista de Outros Serviços
Fonte: Elaboração Própria

Muitos respondentes enxergaram neste espaço uma oportunidade de manifestar seu


desejo de integração com os turistas que visitam a favela. Em respostas como “atividade
turista + morador”, “aproximar o turista e o morador” e “fazer o turista conhecer o morador”
pode-se enxergar este desejo. Além disto, muitos trataram de aspectos internos, como o que
trata da “UNIÃO, REUNIÃO E ASSOCIAÇÃO” e “cuidados na rua”.

Por último, são feitas sugestões em relação à própria comunidade local. Duas
sugestões tratam de incentivar os próprios moradores a realizarem as atividades realizadas
pelos turistas: “moradores conhecerem a própria comunidade”; “visitar a própria comunidade
– laje Michael Jackson”. E através da sugestão “geração de renda para toda a comunidade”
um dos moradores aborda a distribuição de oportunidades e renda para toda a favela por meio
do turismo.
115

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O crescimento do turismo em favelas no Rio de Janeiro é evidente, e apesar das


incertezas em relação ao futuro das políticas públicas de ocupação policial nestes territórios, é
evidente que o fluxo turístico permanecerá. Baseado nisso, se torna necessário realizar
estudos no sentido de buscar insumos e resultados que potencializem os impactos positivos e
o desenvolvimento social ocasionado pelo turismo nestas áreas.

Tendo em vista que é cada vez mais freqüente o encontro entre moradores das favelas
e turistas, o objetivo desta pesquisa foi analisar as opiniões desses atores para buscar
estratégias que os aproximem e estimulem o desenvolvimento de ambos. Os resultados
obtidos servem para a formulação de hipóteses que podem influenciar positivamente as
relações oportunizadas pelo turismo.

Em relação aos resultados obtidos, chama atenção a percepção dos grupos pesquisados
considerando a categorização das favelas como “ambientes de extrema pobreza”, e são
notórios os resultados que apontam que os moradores das favelas tem maior percepção de
pobreza nas favelas do que os próprios visitantes, que observam com mais atenção o contraste
social presente na cidade. Os turistas, de forma geral, parecem estar mais interessados em
conhecer e caminhar por essas partes da cidade que por anos estiveram fora do alcance de
todos devido a problemas relacionados à violência urbana, do que em consumir a distância
social existente.

Seja para alimentar seu desejo de vivenciar experiências diferentes e alterar sua
própria essência, ou somente pela vaidade de compartilhar fotos e relatos com seus amigos e
familiares, o fato é que estes turistas reconhecem que durante as visitas estão se aproximando
da diversidade cultural das favelas, que é bastante rica e representativa da cultura brasileira, e
enxergam a possibilidade de compreender e experimentar de forma lúdica alguns hábitos
vividos no Brasil.

O resultado da pesquisa de atratividade de serviços demonstra que existe a aceitação


tanto pelos visitantes quanto pelos visitados em relação à serviços que envolvem a
multiplicação da cultura brasileira a partir de aulas de dança, capoeira e outras atividades.
Embora o nível de escolaridade dos visitantes seja mais elevado do que o dos moradores, em
geral, isto não significa que os dois estejam impossibilitados de aprender neste processo. Os
turistas se mostraram abertos a aprender com os hábitos dos brasileiros das favelas.
116

Além disto, também foi ilustrado que existe aceitação em relação à integração pelos
dois grupos por meio de atividades relacionadas à contribuições a ONGs e projetos sociais
locais. Embora muitos moradores da favela Santa Marta tenham expressado uma visão
negativa radical em relação à postura dos turistas, os visitantes demonstraram inclinação em
interagir e contribuir durante suas atividades turísticas. Esta pode ser uma maneira de
relacionar a “curiosidade” expressada pelos moradores à percepção da favela ser
“interessante” mencionada pelos visitantes.

Outro resultado importante foi o que aponta as diferentes opiniões em relação às


vantagens e desvantagens econômicas relacionadas ao turismo em favelas. Os moradores se
mostraram bastante divididos se tratando deste assunto, o que pode significar que somente
uma parcela da população destes territórios está sendo beneficiado pelo fluxo turístico,
enquanto outro grupo sofre as mazelas relacionadas à especulação imobiliária e gentrificação.
Os visitantes se mostraram em dúvida em relação às desvantagens, e apontaram alta média de
concordância em relação aos impactos positivos.

A análise dos estudos de comportamento do consumidor feita neste trabalho aponta


que o turismo no século XXI pode ser muito mais comprometido socialmente do que no
século passado, podendo ter impactos mais significativos através das alternativas de consumo
turístico que se contrapõem às formas tradicionais de turismo.

Ocorre que o início das atividades turísticas nas favelas do Rio de Janeiro foram
marcadas por objetivos unicamente mercadológicos, cujo único objetivo era o lucro. Isto
ocasionou a visão negativa que gerou diversos debates sobre a oportunidade. Atualmente
muitos empreendedores buscam conciliar este objetivo com a diminuição de preconceitos
através do estímulo à percepção mais lúdica da favela. O grande ponto a ser ressaltado é que,
ao passo que muitos críticos a estas atividades consideram a possibilidade de proibir o turismo
em favelas, outras pessoas fazem críticas construtivas e enxergam a possibilidade de
transformar o turismo em uma oportunidade de desenvolvimento nas favelas.

Porém, o resultado desta pesquisa aponta que existem possibilidades de se incentivar


alternativas que fomentem o desenvolvimento social, em âmbito local e interpessoal, por meio
do turismo. O estreitamento de relações entre o visitante que possui consciência de seus
impactos sociais e o morador local que assume o protagonismo dos arranjos produtivos do
turismo é benéfico para ambas as partes em diversos aspectos.
117

Surge a oportunidade de integrar socialmente visitantes e visitados por meio de


workshops culturais e visitas a projetos sociais nas favelas, de forma que os indivíduos
possam se enxergar como pessoas, e o turismo possa servir como um instrumento que
estimule a cidadania a partir da quebra de preconceitos e estereótipos.

Os novos direcionamentos que o turismo está tomando no século XXI permite que
relações que acontecem devido às visitas sejam menos interesseiras e mais interessadas. Surge
a possibilidade do interesse por viagens aproximar as pessoas em seu âmago, e que elas não se
enxerguem como o mais rico e o mais pobre, mas como pessoas dotadas de subjetividade,
interesses em comum e idéias que podem ser compartilhadas, independente do local onde se
vive e da condição econômica que estão as pessoas estão submetidas. As favelas possuem
aspectos turísticos muito mais interessantes do que a pobreza.

O resultado desta pesquisa será apresentado em uma reunião do Comitê dos Guias de
Turismo do Santa Marta e utilizado por estes profissionais para compreender as percepções de
turistas e visitantes e desenvolver com maior eficácia suas atividades. Já existem atividades
sendo desenvolvidas aproximando turistas e moradores, de acordo com o resultado desta
pesquisa, como jogos de futebol, oficinas de grafite, oficinas de confecção de pipas e até
multirões de pintura de casas.

Este trabalho também pode ser apropriado por órgãos ou instituições, de finalidade
pública ou privada, com a finalidade de desenvolver o turismo em favelas de forma
sustentável, com o objetivo de oferecer selos, certificados ou qualquer forma de sensibilizar
os turistas e moradores em relação às oportunidades que se desvendam com o turismo nas
favelas.

Estudos futuros podem ser produzidos por pesquisadores que pretendam investigar a
mesma temática de pesquisa com base nas hipóteses de divergências e convergências de
opinião resultado deste estudo. Podem ser desenvolvidos trabalhos com maior profundidade
com enfoque nas afirmativas que tiveram divergências com considerável grau de
significância, como as que se referem à interação entre visitante e visitado, a vontade dos
turistas de contribuir com o bem estar local ou as percepções de vantagens e desvantagens
econômicas que acontecem por causa do turismo. Também podem ser produzidos estudos
com enfoque nas interações que ocorrem durante as atividades lúdicas, como oficinas,
workshops e visitas a ONGs.
118

Outros atores fundamentais nos processos turísticos podem ser levados em


consideração para pesquisas com a mesma temática. Podem ser feitos estudos sobre o papel
do guia de turismo neste processo e a diferença de percepção dos visitantes em relação ao
discurso adotado por guias que moram nas favelas e guias de agências externas. Assim como
podem ser produzidos estudos que destaquem a visão dos moradores de outras regiões da
cidade do Rio de Janeiro e se analise quais são suas percepções sobre as visitações a favelas.

Além disto, é importante ressaltar que embora existam diversas favelas turísticas no
Rio de Janeiro, cada uma possui atrativos e peculiaridades próprias. Por isto, é viável que esta
pesquisa seja replicada em outros territórios e sejam feitas comparações de resultados.
Inclusive, a abrangência da pesquisa pode ser ampliada e serem pesquisados aspectos
relevantes em outros locais do mundo que possuem atividades de slum tourism populares,
como África do Sul e Índia.

É importante dar continuidade a estudos deste gênero, pois conforme apontam Coelho,
Freire-Medeiros e Monteiro (2013), a cidade do Rio de Janeiro, turística por natureza, não
pode mais ignorar a existência do turismo em favelas, segmento do turismo que desperta
interesse concreto em seus habitantes.

Por meio do turismo a favela passa a ser reconhecida de forma mais positiva. O turista
que vem ao Rio de Janeiro, ao perceber as favelas como parte da cidade, pode entender muito
mais sobre a história do Brasil do que visitando apenas seus cartões-postais. (RODRIGUES,
2014) (COELHO; FREIRE-MEDEIROS; MONTEIRO, 2013)

Com a chegada das UPPs, as favelas se integraram ainda mais ao cotidiano da cidade
e suas vielas tornaram-se pontos de fácil acesso publico.. É importante que se preocupe em
investir no bem estar de turistas e moradores, do morro e do asfalto, permitindo a integração
dos espaços antes segregados. O turismo pode trazer oportunidade positivas para todos, desde
que sejam respeitados os impactos sociais da atividade.
119

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deixam-upp-parque-proletario-por-medo-de-tiros-15724935.html. Acesso em: 23/04/2015.
123

APÊNDICE A

Indique três palavras que vêm à sua mente quando você pensa em ‘Turismo em Favelas’:
1 - ________________________ 2 -________________________ 3 - ________________________

Perguntas Filtro

1 Você vive no Rio de Janeiro? 4 Caso não viva no Rio de Janeiro, qual é o seu
[ ] 1. Sim local de origem?
[ ] 2. Não (Vá para pergunta 4)
[ ] 1. Brasil
2 Você mora em uma favela? [ ] 2. América do Sul
[ ] 1. Sim (Vá para o próximo quadro) [ ] 3. América do Norte/América Central
[ ] 2. Não [ ] 4. Europa
[ ] 5. Ásia
3 Caso não more em uma favela, você já [ ] 6. África
realizou uma visita turística a estes locais? [ ] 7. Oceania
[ ] 1. Sim
[ ] 2. Não

Considerando as afirmações a seguir, responda de acordo com suas percepções em relação ao


Turismo em Favelas, sendo:
1 = Discordo Totalmente; 2 = Discordo Parcialmente; 3 = Não concordo, nem discordo;
4 = Concordo Parcialmente; 5 = Concordo Totalmente

1 2 3 4 5
Investimentos do setor público em segurança são fundamentais para o turismo
em favelas no Rio de Janeiro.
O turismo traz vantagens econômicas para as favelas e empreendedores locais,
como a geração de empregos e renda.
O turismo possibilita trocas culturais entre os turistas e os moradores locais.
Projetos sociais e ONGs locais deveriam ser beneficiados em função das visitas
turísticas.
A interação que ocorre entre os moradores das favelas e os turistas é positiva.
Por meio do turismo em favelas podem ser descobertas diferentes expressões
culturais na cidade.
O turismo em favelas pode contribuir com o desenvolvimento social local através
da organização de seus moradores.
O turismo traz desvantagens econômicas para as favelas, como aumento do custo
de vida e especulação imobiliária.
Investimentos do setor público em projetos socioculturais e de infraestrutura
podem contribuir com o desenvolvimento do turismo em favelas.
124

Considerando as afirmações a seguir, responda de acordo com suas impressões sobre o que leva
os visitantes a praticar o turismo em favelas, sendo:
1 = Discordo Totalmente; 2 = Discordo Parcialmente; 3 = Não concordo, nem discordo;
4 = Concordo Parcialmente; 5 = Concordo Totalmente

1 2 3 4 5
Curiosidade em ver um modo de vida diferente.
Ver o cenário, as vielas e a vista da cidade que se tem em uma favela.
Pensar que a visita retrata a vida na favela de forma autêntica.
Vontade de compartilhar a experiência com sua família e seus amigos depois.
Pensar que um passeio pelas favelas é uma experiência única e inesquecível.
Vontade de contribuir para o bem-estar dos moradores das favelas.
Ver o contraste entre o lado rico e o lado pobre do Rio de Janeiro.
Fugir um pouco dos passeios mais tradicionais da cidade.
Ver de perto as controvérsias de uma favela.
Acredito que depois do passeio os turistas fiquem mais interessados sobre a vida
das pessoas que passam necessidade e procurem entender melhor sobre as
condições que elas vivem.
Mudar a imagem negativa das favelas que as pessoas têm em mente.
Pensar que o passeio é divertido e emocionante.
Curiosidade para saber como é sua própria vida em comparação com a de
moradores da favela.
Vontade de interagir com os moradores das favelas.
Ver a favela que somente conhecia através de filmes e livros.
A vida na favela parecer mais autêntica e genuína do que a vida na cidade.
Vontade de valorizar mais a própria vida após a visita.
Ver um tipo diferente de pobreza.
Curiosidade depois de conhecer o turismo em favelas através de diversas mídias.
Fugir um pouco da vida na cidade.
Experimentar a vida em um ambiente de extrema pobreza.

Dentre as opções abaixo, identifique os três serviços que você considera mais atrativos em uma
visita à favela:

Almoço em restaurante local.


Visita a projetos sociais, como ONGs e instituições de trabalho social.
Aulas / Workshops com grupos locais (percussão, capoeira, dança).
Eventos culturais locais (fora do horário comercial dos tours).
Eventos culturais locais (dentro do horário comercial dos tours).
Visita à casa de uma família local.
Hospedagem domiciliar na favela.
Hospedagem em um hostel na favela.
Outros serviços: _______________________________________________________________
125

1. Gênero 5. Atualmente, qual é a sua principal


[ ] 1. Masculino [ ] 2. Feminino ocupação?
[ ] 1. Empresário(a)
2. Idade: [ ] 2 Emprego no setor privado
[ ] 1. 15 a 19 anos [ ] 2. 20 a 24 anos [ ] 3. Emprego no setor público
[ ] 3. 25 a 29 anos [ ] 4. 30 a 39 anos [ ] 4. Profissional liberal / autônomo
[ ] 5. 45 a 49 anos [ ] 6. 50 a 59 anos [ ] 5. Estudante
[ ] 7. Mais que 60 anos [ ] 6. Aposentado / Pensionista
[ ] 7. Desempregado(a)
3. Estado Civil: [ ] 8. Outros
[ ] 1. Solteiro [ ] 3. Casado Se “Outros”, defina: ____________________
[ ] 2. Divorciado / separado [ ] 4. Viúvo
6. Qual é a sua renda familiar mensal?
4. Qual o seu grau de instrução/ nível de [ ] 1. Até R$788,00
formação? [ ] 2. De R$788,00 a R$2.364,00
[ ] 1. Ensino Fundamental [ ] 3. De R$2.364 a R$3.940,00
[ ] 2. Ensino Médio [ ] 4. De R$3.940,00 a R$7.880,00
[ ] 3. Ensino Superior [ ] 5. Mais de R$7.880,00
[ ] 4. Pós-Graduação [ ] 6. Não declarada/Não possui renda
[ ] 5. Mestrado
[ ] 6. Doutorado

Muito Obrigado!

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