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DEPARTAMENTO DE TURISMO
CURSO DE TURISMO
NITERÓI
2015
APOENA DIAS MANO
NITERÓI
2015
AGRADECIMENTOS
Os companheiros que fiz e muito me ensinaram na favela Santa Marta durante a produção
deste trabalho: Thiago Firmino, Sheila Souza, Roberta Souza, Salete Martins, Gilson Fumaça,
Zé Mário, Sonia e Dylan.
Acredito que família seja um termo que não contemple somente os que compartilham o
mesmo sangue, mas os que compartilham ideais, experiências e sonhos. Agradeço às famílias
que tenho ao meu redor:
Os companheiros de neofanfarra, carnavais de rua e pernas de pau. Sem dúvida, a arte de rua
foi determinante em momentos de tensão durante esta produção. Viva a ocupação cultural do
espaço público!!
Os dois parceiros que dividiram comigo a experiência de produzir o TCC no oitavo período e,
com muita emoção, se formarão junto comigo. Flávio Andrew e João Lourenço.
A amiga que mais me ajudou com o desenvolvimento desta temática complicada e tão
importante e, além disso, se revelou alguém que espero ter próxima a mim por muito tempo.
Obrigado, Carolina Braun!
E por último e mais importante, meu irmão e meus pais. Agradeço a estes por tudo que tenho
e tudo que sou. Dedico este trabalho a vocês!
Santa Marta: “Favela modelo” de que?
Repper Fiell
RESUMO
Este estudo examina a percepção de moradores e visitantes de uma favela turística no Rio de
Janeiro sobre os controversos motivos que levam ao interesse por estas áreas, e como este
turismo pode contribuir para o desenvolvimento local e interpessoal. As atividades turísticas
em favelas costumam ser associadas a tours realizados em jipes, conhecidos pelo afastamento
gerado entre as pessoas. No entanto, novos perfis de comportamento do consumidor em
turismo surgem pelo desejo de experimentar e compreender diferentes culturas como
contributo para a própria existência. É cada vez maior o número de empreendedores locais
que percebem nas favelas uma oportunidade de inclusão social e econômica. Desta forma, a
partir de políticas públicas de “ocupação” e “pacificação” dessas áreas, que trouxeram
impactos positivos e negativos, esse tipo de turismo tornou-se uma realidade que pode
possibilitar a integração desses locais historicamente desfavorecidos ao restante da cidade.
Esta pesquisa analisa as percepções de visitantes e visitados sobre motivações e impressões
relacionadas ao turismo em favela. Além de analisar e comparar as opiniões sobre o que leva
as pessoas a visitarem favelas, também se buscou compreender quais aspectos estes atores
consideram mais importante para o desenvolvimento local e interpessoal a partir do turismo.
Para isso, foram idealizadas três alternativas: a evolução das políticas de segurança pública
em investimentos socioeconômicos; o protagonismo da comunidade local de acordo com as
premissas do Turismo de Base Comunitária; e o encontro autêntico entre turista e morador
local, a fim de desconstruir preconceitos e estereótipos. Foram investigadas e comparadas as
opiniões de residentes e visitantes da favela Santa Marta, aplicando-se questionários por meio
de uma técnica de free elicitation sobre o termo “Turismo em Favelas”, escalas de medição de
concordância sobre as motivações que levam ao interesse nestes lugares e a percepção das
alternativas de desenvolvimento apontadas e, por último, a aceitação em relação a
determinados serviços turísticos em favelas. A análise dos resultados aponta que, embora
todos os respondentes notem o contraste social presente na cidade do Rio de Janeiro, a
pobreza não é motivo de grande interesse para o turismo, contudo há grande curiosidade a
respeito das expressões culturais existentes nestas partes da cidade. Além disto, os moradores
não percebem a inclinação dos visitantes em contribuir para o bem-estar e em interagir com os
que lá vivem. Chega-se também à conclusão que existem opiniões controversas sobre as
vantagens e desvantagens econômicas que ocorrem por conta das atividades turísticas.
This study examines the perception of residents and visitors of a touristic slum in Rio de
Janeiro about controversial reasons that brings the interest of these areas, and how this
tourism can contribute to local and interpersonal development of those involved. Tourism
activities in slums are often associated with conducted tours in jeeps, in order to cause the
distance between people. However, new consumer behavior profiles in tourism arise a desire
to experience and understand different cultures as a contribution to the very existence. The
number of local entrepreneurs who realize the slums as an opportunity for social and
economic inclusion is rising year by year. Thus, from public policies of "occupation" and
"pacification" of these regions, which have brought positive and negative impacts, this type of
tourism has become a reality, favoring the integration of local, historically disadvantaged the
rest of the city. This research analyzes the impressions of visitors and visited on the
motivations that lead to tourism in slums and are caused by the encounter with each other,
which allows these players to experience the tourist activity as a time of transformation for
both parties. For this, there were three development alternatives idealized: the evolution of
public security policies in socio-economic investments; the role of the local community in
accordance with the premises of the Community Based Tourism; and the authentic meeting
between tourists and local residents in order to deconstruct prejudices and stereotypes. They
were investigated and compared the opinions of residents and visitors to the favela Santa
Marta, applying questionnaires through a free elicitation technique on the term "slum tourism"
concordance measurement scales on the motivations that lead to interest in these places and
the perception of the indicated development of alternative and, finally, acceptance for certain
tourist services in slums. Analysis of the results indicates that although all respondents note
the social contrast present in the city of Rio de Janeiro, poverty is not a matter of great interest
for tourism, yet there is great curiosity about the existing cultural expressions in these parts of
the city. In addition, residents do not realize the intention of the visitors to contribute to the
welfare and interact with those who live there. It also comes to the conclusion that there are
controversial opinions on the advantages and economic disadvantages that occur due to tourist
activities.
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................... 9
1 TURISMO EM FAVELAS - DA ORIGEM DO TERMO À REALIDADE NO RIO DE JANEIRO....... 15
1.1 DO SLUMMING AO SLUM TOURISM – IMPRESSÕES SOBRE O INTERESSE DE VISITAR LOCAIS
DESFAVORECIDOS ........................................................................................................................................... 15
1.2 O TURISMO EM FAVELAS NO RIO DE JANEIRO – DA PROIBIÇÃO À TURISTIFICAÇÃO ............. 20
1.3 PACIFICAÇÃO E TURISMO – A INFLUÊNCIA DAS UPPS NA TURISTIFICAÇÃO DAS FAVELAS E
SEUS IMPACTOS NA COMUNIDADE LOCAL. .............................................................................................. 26
2 O ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR E A EVOLUÇÃO DOS PERFIS
MOTIVACIONAIS DO TURISMO .................................................................................................................. 33
2.1 O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR E AS CATEGORIAS MOTIVACIONAIS PARA O
TURISMO ............................................................................................................................................................. 33
2.2 O SLUM TOURISM E OS DEBATES A RESPEITO DE SUAS CONTROVERSAS MOTIVAÇÕES ........ 37
2.3 O COMPORTAMENTO CONSCIENTE QUE DIFERENCIA NOVOS PERFIS DE TURISTAS............... 42
3 TURISMO EM FAVELAS – DISCUSSÕES DE ALTERNATIVAS PARA O DESENVOLVIMENTO
LOCAL E INTERPESSOAL ............................................................................................................................. 49
3.1 EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SEGURANÇA EM INVESTIMENTOS
SOCIOECONÔMICOS ......................................................................................................................................... 50
3.1.1 A importância das políticas de desenvolvimento sociocultural e econômico nas favelas ............................ 55
3.2 O PROTAGONISMO DA COMUNIDADE LOCAL SOB AS PREMISSAS DO TURISMO DE BASE
COMUNITÁRIA................................................................................................................................................... 59
3.2.1 Turismo de base comunitária em favelas do rio de janeiro .......................................................................... 64
3.3 O ENCONTRO AUTÊNTICO E A INTERAÇÃO ENTRE VISITANTE E VISITADO .............................. 70
3.3.1 Encontro e desenvolvimento interpessoal no turismo em favela .................................................................. 73
4 METODOLOGIA ............................................................................................................................................ 83
5 RESULTADOS ................................................................................................................................................. 89
5.1 RESULTADOS DEMOGRÁFICOS ............................................................................................................... 89
5.2 FREE ELICITATION DE ‘TURISMO EM FAVELAS’ ................................................................................. 95
5.3 ANÁLISE CATEGORIAS MOTIVACIONAIS - MA (2010) ....................................................................... 97
5.4 ANÁLISE COMPARATIVA DE SIGNIFICÂNCIA – PERCEPÇÕES ...................................................... 102
5.5 ANÁLISE COMPARATIVA DE SIGNIFICÂNCIA – MOTIVAÇÕES ..................................................... 106
5.6 ANÁLISE DA ATRATIVIDADE DE SERVIÇOS ...................................................................................... 111
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................................ 115
REFERÊNCIAS: ............................................................................................................................................... 119
APÊNDICE A .................................................................................................................................................... 123
9
INTRODUÇÃO
Este novo comportamento do turista pode ser definido por outro importante aspecto:
a consciência de seu papel como ator protagonista nos processos turísticos. O visitante tem
esclarecimento em relação ao impacto ocasionado por sua viagem e o tipo de produto turístico
que ele consome, e por isto busca estimular atividades sustentáveis que sejam enriquecedoras
tanto para si quanto para a comunidade receptora. (SPAMPINATO, 2009)
No caso do Brasil, este crescente interesse culmina nos locais conhecidos como
favelas, sendo as mais populares localizadas nos morros da cidade do Rio de Janeiro. Embora
já ocorresse tradicionalmente o movimento de subida dos morros por turistas curiosos, o
início das atividades turísticas em favelas ocorreu de forma marcante a partir da década de
1990, quando a favela da Rocinha passou a receber grupos de visitantes durante a ECO-92.
(RODRIGUES, 2014)
10
Apesar de o Rio de Janeiro ser muito visitado por turistas do mundo todo, dados
apontam a cidade como uma das mais violentas do mundo, com uma alta taxa de
mortalidade causada pela violência urbana, atingindo principalmente homens jovens
e a população residente em comunidades informais de baixa renda, as favelas. A
cidade tem a particularidade da proximidade entre estas comunidades e os
tradicionais bairros de classe média e alta, o que torna os conflitos urbanos mais
destacados. (CARVALHO; SILVA, 2012, p. 259)
Neste contexto, embora as favelas turísticas cumpram a função de serem exóticas sob
o olhar dos turistas e, por isto, caracterizem um tipo de destino que atende à preferência dos
novos perfis de consumo do turismo, a presença marcante da violência se torna um motivo
que influencia negativamente a decisão dos visitantes.
A interação entre visitante e visitado nas favelas cariocas é marcada por diversas
críticas éticas e morais que dizem respeito ao slum tourism em geral, onde os críticos apontam
que os visitantes que procuram este tipo de experiência estão interessados em um
relacionamento “vouyerista” que ao invés de reduzir as diferenças socioeconômicas, as
reforça.
11
Embora realmente existam roteiros turísticos onde os moradores sejam exibidos para
o compadecimento do visitante, num roteiro rápido e superficial que não permite conhecer de
fato o lugar e subestimava quem ali vivia, Rodrigues (2014) entende que há várias
experiências em favelas do Rio de Janeiro provando que há uma nova forma de fazer turismo
que depende também do que o turista estrangeiro quer encontrar e não apenas do que o local
tem a oferecer. (RODRIGUES, 2014)
Tendo em vista esse crescente encontro entre moradores e turistas, se faz relevante
realizar pesquisas no sentido de discutir quais são suas percepções em relação ao turismo.
Assim, o objetivo principal deste estudo é investigar a opinião dos moradores e visitantes da
favela Santa Marta sobre aspectos motivacionais e perceptivos em relação ao turismo em
favela para, a partir dos resultados, se estabelecer discussões a respeito dos motivos que
proporcionam estes encontros e se buscar alternativas para garantir o desenvolvimento local e
interpessoal por meio do turismo em favelas.
A definição desta favela para a realização da pesquisa ocorre devido ao notável fluxo
de turistas que diariamente percorrem o local. Estas visitas acontecem sob intermédio de guias
de turismo, de empresas da cidade e moradores locais, ou com o turista transitando sozinho
pelo local. O fato desta ter sido uma das primeiras favelas onde foi instalado um posto da
UPP, e da organização e desenvolvimento comunitário decorrente de um projeto público de
Turismo de Base Comunitária, também foi determinante para a escolha.
No primeiro capítulo deste trabalho são apresentados diversos fatos que justificam as
opiniões controversas sobre o Turismo em Favelas, considerando as motivações dos turistas e
profissionais envolvidos, a opinião dos moradores e de que forma a turistificação é
incentivada pelo poder público e os impactos positivos e negativos que as atividades turísticas
trazem consigo.
Por isto, no primeiro capítulo deste trabalho são apresentados diversos fatos e
discussões a respeito de controversas éticas e morais desde o surgimento do slumming, hábito
de visitas das elites a locais desfavorecidos na Europa, ao slum tourism, fenômeno moderno
baseado na mesma motivação. Agora ligadas ao turismo e com destino a diversos locais do
mundo reconhecidos pelo desfavorecimento econômico e social, estas visitas são tema de
diversos debates e pesquisas.
indigentes das cidades mais pobres, pois considerava estas atividades algo essencial aos que
aspiravam falar com propriedade as questões sociais da época.
Assim, todos os cidadãos que simpatizavam com causas sociais e procuravam algum
tipo de ocupação altruísta ou de caridades e sentiam de certa forma obrigados a visitar, ou
mesmo viver e trabalhar, em bairros degradados de Londres, como Whitechapel e Shooredich.
Este hábito era conhecido pelos teóricos e jornalistas da época como slumming.
Freire-Medeiros (2009) ilustra que, por serem pensamentos e ações que podem ser
encarados como contraditórios, as pessoas que buscavam vivenciar e compreender outros
modos de vida recebiam uma série de críticas.
As pessoas contrárias à ideia das visitas a estes locais defendiam que a prática de
slumming não passava de um entretenimento egoísta que trivializava a pobreza, mas
disfarçado de engajamento social. Alguns jornalistas chegavam a se referir a esta prática
como um “passatempo filantrópico”. (FREIRE-MEDEIROS, 2009)
O fato é que, se a prática do slumming esteve na moda na virada do século XIX, com o
passar do tempo, mais especificamente duas décadas adiante, já não era mais tão popular. Em
1928, o sociólogo Nels Anderson (apud FREIRE-MEDEIROS, 2009) publica artigo
observando que o modismo do interesse por esses locais produziu poucos impactos positivos,
apesar de toda a popularidade que teve:
A palavra slum perdeu seu prestígio. Depois de estar na moda, graça à onda de
humanitarismo que varreu o país nos anos 1880 e 1890, de repente, com o declínio
do slumming como um passatempo filantrópico, a palavra tornou-se um tabu, mas o
fato é que a slum perdura. (ANDERSON, 1928 apud FREIRE-MEDEIROS, 2009, p.
31).
Klepsch (2010) aponta que o slum tourism é um assunto polêmico por natureza, pois
tal como acontece com a maioria dos tipos de turismo, as diferentes perspectivas dos
envolvidos, como anfitriões, turistas, profissionais de turismo, meios de comunicação e
acadêmicos levam a distintos argumentos e visões sobre o tema.
Cejas (2006) aponta que, diferentemente de 1880 com o slumming, desta vez o slum
tourism tem seu poder de alcance potencializado pela globalização. Por isto o interesse por
locais reconhecidos por serem desfavorecidos deixa de ter escala local e alcança a escala
mundial através das atividades turísticas.
A autora se posiciona de forma crítica ao apontar que “habitantes pobres das cidades
do Terceiro Mundo e seus ambientes tornaram-se novos produtos a ser consumidos pelos
visitantes vindos do hemisfério Norte”(CEJAS, 2006 p. 255).
Portanto, neste processo de busca por trocas de diversos tipos, os locais segregados
socioeconomicamente são incorporados à economia mundial como um novo horizonte de
exploração, um destino exótico com uma série de subprodutos para ser consumido como a
chamada “pobreza mercantilizada da moda”.
Apesar dos diversos debates éticos que marcam as controversas do slum tourism, o
fato é que os roteiros turísticos em locais reconhecidos pelo desfavorecimento no mundo
tornaram-se um fenômeno global e o número de turistas que procura este tipo de atividade
está atingindo grandes proporções.
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Klepsch (2010) observa que as principais justificativas das pessoas que praticam e
defendem o turismo nas favelas apontam que estas atividades desafiam a percepção das
pessoas e ajudam a visualizar um problema social muitas vezes ignorado: a pobreza. Em
diversos casos, como o brasileiro, a ausência de políticas públicas nestes locais também se
evidencia através das visitas.
Por outro lado, os críticos afirmam que, por mais que exista a intenção por parte dos
visitantes de contribuir com estes locais, os benefícios econômicos para as áreas necessitadas
ainda não são visíveis. (KLEPSCH, 2010)
Portanto, o consumo deste tipo de atrativo é bastante complexo, pois ao mesmo tempo
em que o turismo pode produzir impactos positivos beneficiando-se dos fluxos de capital e
pessoas, ele também pode criar estereótipos e, ao invés de apagar as distâncias sociais, as
reforçar. (FREIRE-MEDEIROS 2009)
Não surpreende, portanto, que o turismo em favelas provoque debates tão acalorados
sobre contradições éticas e morais a respeito desta forma de consumo.
Por outro lado, baseando-se em alguns exemplos práticos se pode dizer que estão
ocorrendo resultados positivos a partir dos debates e reflexões mundiais sobre estas
contradições, que são relevantes por levar à busca pela valorização dos impactos positivos
nestes locais por meio do turismo.
Existe uma minoria de projetos no mundo que não são incentivadas por políticas
públicas ou conselhos de turismo, e ainda assim adotam uma postura crítica em relação à
atividade turística, se opõem a uma poderosa indústria do turismo de massa e tentam produzir
impactos positivos nos atores envolvidos.
Este é o caso de um projeto na África do Sul chamado Western Cape Actions Tours,
que adota outro ponto de vista sobre estes locais, discutindo o contexto do país pós-apartheid:
Estes processos onde se busca a peculiaridade dos locais e um discurso crítico sobre
seu contexto atual incentivam a valorização do local e a promoção dos destinos turísticos.
Desta forma, o turismo torna-se cada vez mais dependente de variáveis de distinção, o que
valoriza cada localidade, que por sua vez busca descobrir sua vocação e sua identidade, ou
seja, busca atributos que a diferenciem diante do visitante em potencial e a destaquem em
meio a um mercado turístico cada vez mais plural.
estima das populações receptoras. Lideranças locais são forjadas, conhecimento e recursos são
compartilhados entre pessoas que dificilmente se encontrariam se não fosse pelo turismo.
(FREIRE-MEDEIROS, 2009)
Portanto, pode-se observar que, ao passo que algumas empresas buscam promover
atividades turísticas nestes locais somente com o objetivo de buscar o lucro, algumas
iniciativas traçaram objetivos ligados ao desenvolvimento do local e dos visitantes que
procuram o slum tourism.
Naquela época a Rocinha, uma das maiores favelas do mundo (Figura 1) e um destino
turístico reconhecido até hoje, começou a receber grupos de visitantes em excursões
organizadas pelos operadores de viagens profissionais. É comum ouvir comentários irônicos
que durante todo referido evento, as autoridades governamentais investiram esforços
específicos no sentido de isolar as favelas de olhares estrangeiros, inclusive contando com a
ajuda do exército para fazê-lo. (FREIRE-MEDEIROS; VILAROUCA; MENEZES, 2013)
De certa forma, pode-se dizer que esta tentativa de esconder as favelas estimulou
curiosidade dos turistas.
Klepsch (2010) descreve sua percepção sobre estes roteiros em favelas no Rio de
Janeiro ressaltando que o tipo de locomoção varia de acordo somente com o tamanho do
grupo, sem nenhuma preocupação com o impacto que causa na localidade:
Os roteiros são quase sempre a pé, embora passeios de jipe e motos também sejam
possíveis, e, dependendo do tamanho do grupo, os operadores turísticos também
utilizem vans. Durante o deslocamento aos locais, explicações sobre a infraestrutura
local, a segurança, a arquitetura e sobre o Programa Favela Bairro, que ajudou a
melhorar a infraestrutura de algumas favelas, são dadas para os turistas. (KLEPSCH,
2010 , p. 70)
Ainda, aponta que os operadores turísticos defendem este tipo de turismo como uma
tentativa de mudar a imagem negativa da favela do Rio de Janeiro atraindo turistas a fim de
quebrar os estereótipos de violência, crime e drogas. Seu discurso é o de oferecer aos turistas
a oportunidade de ver o Rio real, distante de atrações turísticas e praias. (KLEPSCH, 2010)
O objetivo principal desta forma de turismo reside em que as populações locais sejam
beneficiadas pelas oportunidades geradas pelo turismo. Essa forma de pensamento
compreende o turismo não apenas como objeto de lucro nas mãos de poucas agências, mas
como algo que pode ser possível para muitos, gerando renda para a localidade, como ressalta
a Organização Mundial do Trabalho. (RODRIGUES, 2014)
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Ainda que o projeto tenha sido interrompido pelo poder público, pode-se dizer que
houve um impacto positivo e um legado devido ao seu acontecimento. O desenvolvimento de
atrativos e profissionais de turismo, além da formação de opiniões de moradores, estas
negativas e positivas, sobre o turismo na favela. O fato é que as atividades turísticas são uma
realidade cotidiana neste território. (RODRIGUES, 2014)
Rodrigues (2014) aponta que devido a esta mudança de discurso da imprensa surge a
oportunidade do turismo em favelas ser feito de forma que os territórios ganhem e não sejam
tratados como se fossem locais exóticos, onde se pratica um safári de pobres, como é
comumente conhecido.
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Talvez uma das favelas turísticas mais famosas seja a Santa Marta, no bairro de
Botafogo. A laje do ambulatório do líder comunitário Dedé foi escolhida em 1996 pelo
cineasta Spike Lee para ser o lugar da gravação do clipe de Michael Jackson “They don’t care
about us”.
A partir da morte de Michael que houve uma reforma bancada pelo Governo do
Estado que tornou o lugar Espaço Michael Jackson. Na laje foi instalada uma estátua
e um mural em sua homenagem. A laje ganhou um reforço na estrutura: instalou-se
um mural com a imagem de Michael Jackson criada para um selo comemorativo
pelo artista pernambucano Romero Britto, e foi produzida uma estátua em bronze
pelo artista Ique, com a pose que imortalizou a estrela do pop no clipe.
(RODRIGUES, 2014 , p. 26)
Por conta disto esta favela passou a ser mais frequentada por turistas, artistas e pelos
próprios moradores da cidade do Rio de Janeiro. Rodrigues (2014) aponta que ocorre uma
média de dois mil visitantes mensais na alta temporada. É importante ressaltar que o
desenvolvimento do turismo, além dos benefícios econômicos que podem atingir a localidade,
também produz benefícios sociais. Antes da instalação da UPP a laje era uma temida boca de
fumo, que foi afastada definitivamente por conta da turistificação do local.
Tendo em vista que em 1996, a associação entre favela e turismo era considerada
absolutamente maléfica pelos representantes públicos do setor e em 2006, um projeto de lei
fez da Rocinha um dos pontos turísticos oficiais da cidade do Rio de Janeiro, pode-se dizer
que um local anteriormente proibido agora abre as portas para a comunidade turística.
(FREIRE-MEDEIROS, 2009)
O surgimento das favelas na cidade do Rio de Janeiro pode ser explicado por
diferentes justificativas que, por conta da proximidade cronológica, podem ser interpretadas
como complementares. Seja devido à formação de comunidades quilombolas na cidade após a
Guerra do Paraguai; aos soldados que se instalaram no Rio de Janeiro para fazer cobranças ao
Estado após os conflitos na região de Canudos, na Bahia; ou à ideologia higienista que
norteou as políticas públicas de reforma urbana tomadas por Rodrigues Alves e Pereira Passos
no final do século XIX. (CAMPOS, 2010) (VALLADARES, 2005)
É razoável apontar que o surgimento das favelas cariocas tem profunda ligação com
a crise habitacional que assolou a cidade do Rio de Janeiro por várias décadas e tem
conseqüências até os dias atuais, promovendo a segregação da população mais pobre. Até os
dias atuais pode-se dizer que a cidade encontra-se partida. (SANTOS, 2002)
A conseqüência do abandono das políticas públicas que tem como reflexo histórico a
segregação das favelas deu origem a organizações alternativas que possuem como atividade
principal o narcotráfico e são alimentadas por um contexto de grande corrupção das
instituições que deveriam ser responsáveis pela segurança pública - como a Polícia Militar.
Por se sentirem ignorados pelo poder estatal, alguns moradores destas áreas viram-se
obrigados criar suas próprias regras. Por conta disto estes territórios passaram a ser ocupados
por poderes paralelos, onde o poder público não conseguia intervir, portanto não investia em
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políticas públicas, o que contribuía com o aumento da informalidade local e aumentava ainda
mais a violência e a segregação. (CARVALHO E SILVA, 2012)
Em novembro de 2008, a Polícia Militar ocupou a favela Santa Marta, na Zona Sul
da cidade do Rio de Janeiro, e a favela Cidade de Deus, localizada na Zona Oeste. Essas
ocupações foram compunham uma seqüência de ações que culminou na criação de um projeto
que recebeu, posteriormente, o nome de UPP - Unidade de Polícia Pacificadora.
Esse projeto ganhou centralidade no debate sobre segurança pública no Brasil e virou
destaque de inúmeras reportagens, sendo apresentado nos meios de comunicação nacionais e
internacionais como uma das ações mais significativas em termos de políticas públicas
produzidas no Rio de Janeiro nas últimas décadas. (MENEZES, 2014)
De acordo com Carvalho e Silva (2011), o discurso que sustenta a política das UPPs
expõe claramente sua preocupação em dar condições para que a cidade do Rio de Janeiro se
prepare para receber os futuros megaeventos previstos, tendo começado sua atuação na Zona
Sul.
[...] permitir que o Estado realize a reocupação dos territórios dominados por facções
de tráfico de drogas. Durante as últimas décadas, esses grupos [os policiais e as
facções] entraram numa corrida armamentista, a guerra particular em que o rifle
automático era determinante. No Rio, essa disputa é única. Ela ocorre em áreas
densamente povoadas, não faz distinção entre pobres ou ricos, e a favela é o seu
principal palco. E a polícia se inclui no meio dela [...]. Apesar dessa rotina
complicada, a cidade continua atraindo um número crescente de turistas ano após
ano [...]. Temos [inicialmente] ocupado quatro comunidades, cada uma em um
bairro diferente, com a intenção de permanecerem. É o fim dos rifles automáticos, o
fim de experiências traumáticas no entorno destes locais. (FREIRE-MEDEIROS,
VILAROUCA ; MENEZES, 2013, p. 149)
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Nos primeiros anos após a ocupação policial, havia um grande clima de incerteza em
relação ao futuro das favelas. Circulavam muitos rumores indicando que a UPP poderia
acabar logo após as Olimpíadas e que quem se aproximasse de policiais dentro favelas pacifi-
cadas poderia sofrer represálias tanto imediatamente quanto futuramente, quando os
traficantes voltassem a dominar as favelas (MENEZES, 2014)
Em relação aos resultados obtidos nos estudos mais recentes sobre o tema, a única
certeza encontrada é a mesma de antes: a existência de uma forte indeterminação quanto ao
futuro do projeto. Uma indeterminação que, em certo sentido, sempre acompanhou o projeto,
sobretudo em suas fases iniciais. (MENEZES, 2014)
A ocupação policial nas favelas que agora tem uma UPP foi apoiada pelo Batalhão
de Operações Especiais - BOPE e pelos batalhões de choque que prepararam o terreno para a
entrada das novas unidades policiais. Após as UPPs terem sido instaladas, um grande
contingente de policiais foi alocado permanentemente nesses territórios para combater os
responsáveis pelo narcotráfico e pela violência.
Pode-se dizer que ocupação policial certamente foi efetiva no sentido de diminuição
da violência, ou aumento da sensação de segurança. (MENEZES, 2013)
O estudo também aponta que os moradores avaliam que com a presença da UPPs,
aumentaram o respeito e a liberdade para falar de assuntos como a violência e o tráfico, além
de destacarem o fim dos tiroteios e da exposição de armas. No entanto, os dados apontam o
aumento da violência doméstica e alguns moradores ainda guardam receio dos últimos anos e
temem que o projeto seja temporário (PESQUISA, 2012).
Entre estas mudanças, Ost e Fleury (2013) elencam como principais medidas que
convergiram para o espaço e populações localizadas nas favelas as políticas sociais de
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Além destas políticas socioeconômicas, a implantação das UPP nas favelas cariocas
também trouxe benefícios diretos para o desenvolvimento urbano, como diversos
investimentos em infraestrutura, moradias e melhorias de acessos e espaços públicos. A
retomada do território pelo estado levou à formalização de serviços públicos essenciais para a
população. (OST; FLEURY, 2013)
As favelas cariocas tradicionalmente são visitadas por turistas que desejam conhecer
outro ponto de vista da cidade, seguindo a tendência mundial do slum tourism. Porém, por
serem áreas marcadas pela violência, não faziam parte dos roteiros comerciais dos turistas.
Neste contexto a atividade turística passa a convergir com o principal objetivo das
UPPs, que é o controle do território. Apesar disto, ainda há muitas controvérsias sobre o
acontecimento e o impacto econômico destas atividades nas favelas, principalmente por conta
dos detentores dos arranjos produtivos do turismo.
Gaffney (2013) enxerga uma lógica diferente do que é comumente apontado para o
programa das UPPs: o Estado precisa intervir militarmente em áreas específicas da cidade
para estabelecer o controle sobre o espaço urbano em preparação para os megaeventos do Rio.
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A diretiva para proteger o PIB do Rio de Janeiro tem sido explícita tanto na localização como
no funcionamento do projeto das UPPs. (GAFFNEY, 2013)
Porém, ao passo que a instalação das UPPs têm tido importante impacto na redução
dos índices de violência, como apontado, elas também abriram novos mercados para o
comércio e a especulação imobiliária.
Além das UPPs, o contexto das Olimpíadas também é uma justificativa para este
fenômeno. Gaffney (2013) aponta que tradicionalmente as Cidades Olímpicas passam por
uma onda de especulação imobiliária. Para o autor, a atenção midiática junto a uma demanda
estimulada pelo evento faz com que os valores dos imóveis sejam desligados do contexto
local. (GAFFNEY, 2013)
De acordo com seus estudos, Gaffney (2013) indica que diversas evidências, como o
aumento do custo de vida e a mudança de grupos sociais vivendo nestes territórios, apontam
que as UPPs têm atraído outras camadas sociais a ocupar as favelas da Zona Sul. Portanto, o
autor entende que existe evidência suficiente para sugerir que as UPPs iniciaram processos de
gentrificação nas favelas do Rio de Janeiro.
Ost e Fleury (2013) afirmam que a integração da favela não ocorre se não acontecer
nos dois sentidos: asfalto-morro, morro-asfalto. Portanto, concluem que o que tem ocorrido
nestes locais é mais uma invasão da classe média e uma mercantilização dos seus espaços
sociais, ou seja, um movimento de expansão do mercado com restrições para os moradores
locais. (OST e FLEURY, 2013)
De acordo com Ma (2010), a compreensão das motivações dos turistas é crucial para
se avaliar a relevância das críticas morais a respeito do significado do turismo em favelas.
Pondo em debate as intenções éticas dos turistas, por um lado se têm críticas que incluem
reclamações sobre exploração e voyeurismo, e por outro o interesse e curiosidade de se
compreender e tentar contribuir com o bem estar e qualidade de vida das comunidades
desfavorecidas.
O desejo das pessoas por viajar pode ser analisado através de estudos da área de
marketing, sendo mais especificamente na área de comportamento do consumidor. Podem-se
produzir pesquisas e estudos utilizando os perfis motivacionais para interpretar a vontade e a
preferência das pessoas de viajar e conhecer lugares.
discussão sobre as motivações para esclarecer o porquê e como estes consumidores fazem
suas escolhas.
As pesquisas sobre o turismo que tendem a se concentrar não nos tipos de turismo,
mas nos tipos de turistas e seus diversos traços, características, motivações e necessidades
individuais possibilitaram aos pesquisadores e profissionais do ramo entender melhor o
comportamento dos turistas com base no tipo de experiências buscadas, como indivíduos e
como grupos. (FENNELL, 2002 apud SPAMPINATO, 2009)
Os fatores push são aqueles que levam as pessoas a decidir viajar, ou seja,
condicionantes que empurram o turista. Estes fatores são relacionados às necessidades e
desejos do viajante como, por exemplo escapismo, descanso, relaxamento, aventura,
status, dentre outros. Simplificando, são os fatores internos, que trazem as motivações
pessoais e desejos que influenciam uma pessoa a tomar decisões a respeito do destino da
viagem e das atividades da programação. (MA, 2010)
Os fatores pull são os fatores presentes nos destinos turísticos e que atraem o
consumidor. Estes fatores estão relacionados às características específicas dos destinos –
35
Dann (1981 apud MA, 2010) apontou a existência de sete elementos dentro da
abordagem geral para a motivação. Algumas delas se destacam em relação ao assunto
estudado neste trabalho:
Cohen (1974) utiliza uma tipologia bastante adequada para os perfis de turistas que
são avaliados futuramente neste trabalho. Em seu trabalho, o autor distingue os turistas em
quatro categorias: “de massa organizados”; “de massa desorganizados”; “exploradores”; e
“alternativos” (Figura 6):
36
De acordo com esta reflexão, homens e mulheres passam a procurar, cada vez mais,
experiências inusitadas, interativas, aventureiras e autênticas em destinos cujo apelo reside na
antítese daquilo que se costumava classificar como turístico. (FREIRE-MEDEIROS, 2009)
Assim sendo, a busca por este tipo de experiência em favelas pode ser mais uma
tentativa dos turistas de buscar alternativas autênticas e interativas para obter emoções reais e
se distinguir das atividades do turismo de massa. Porém, debates acalorados estão em curso
sobre o lado ético e moral do turismo em favelas, onde a miséria e a pobreza muitas vezes são
exibidas e admiradas. (KLEPSCH, 2010)
Desta forma se pode produzir pesquisas com a intenção de formular hipóteses sobre
o interesse ser apenas contemplativo ou se o turista realmente tem interesse de compreender
sobre as condições de vida das pessoas que vivem nestes lugares.
Uma pesquisa referente aos principais motivos de interesse e desinteresse para visitar
uma favela foi realizada recentemente (FREIRE-MEDEIROS; COELHO; MONTEIRO,
2012) e, diferenciando turistas nacionais e internacionais, o resultado obtido demonstra que
no caso dos brasileiros, a maior motivação é “conhecer a cultura, a realidade local e as
pessoas da favela” e no vaso dos estrangeiros, buscar “uma perspectiva diferente sobre a
cidade” (Figura 8).
De acordo com Spampinato (2009), esta busca por autenticidade pode ser
reconhecida como traço comum a todas as viagens, enquanto, na pós-modernidade se
apresente com características típicas e únicas.
Freire-Medeiros (2009) sugere que cada vez mais cresce o número dos chamados
pós-turistas que buscam adotar uma postura de consciência política e ecológica. São os
viajantes que evitam a todo custo “o lazer de ir e ver o que se tornou banal”. (FREIRE-
MEDEIROS, 2009 , p. 35)
41
O turismo em favelas pode ser enxergado como um exemplo da busca por destinos
inusitados e anti-turísticos. Nestes casos diversos homens e mulheres que escolhem pagar por
uma visita a um território associado à pobreza e à violência, em geral temido e evitado pelas
elites locais. (FREIRE-MEDEIROS, 2009)
Urry (2001) elenca três características que desenham melhor essa figura típica da
contemporaneidade/pós-modernidade:
Em primeiro lugar, ele não precisa deixar sua casa para ver muitos dos objetos
típicos do olhar do turista, e revê-los infinitas vezes simplesmente apertando um
botão. É por isso que “existe muito menos noção do autêntico, de um olhar único e
muito mais de uma infindável disponibilidade de olhares através de uma moldura”.
Em segundo lugar, o pós-turista tem consciência da multiplicidadede escolhas e
deleita-se com elas, ele pode deslocar-se facilmente entre os constrangimentos
impostos pela “alta cultura” e a busca desenfreada do “principio de prazer” obtendo
prazer dos contrastes existentes entre ambos.
E em terceiro, o pós-turista sabe que ele é um turista, que o turismo é um jogo, ou
melhor, uma série de jogos, com múltiplos textos, e não uma experiência turística
singular, e nisso representa, em parte sua superação. (URRY, 2001, p.139)
observar vários tipos de turistas, e os mesmos indivíduos podem adotar diversas posturas e
comportamentos em diferentes momentos da própria vida. (SPAMPINATO, 2009)
Por isso, ao passo que ocorre o debate sobre a ética e a moral dos viajantes que
procuram conhecer estes lugares desfavorecidos, deve-se compreender que diversos tipos de
comportamentos e interesses podem caracterizar o viajantes que busca estas experiências.
Deve-se compreender que cresce cada vez mais o número dos chamados pós-turistas
que, política e ecologicamente corretos, evitam a todo custo viagens motivadas somente pela
ótica banalizada do consumo sem motivações éticas e substanciais. E ao invés de se debater
sobre o tipo de turista que visita as favelas, deve-se produzir estudos que dêem subsídios para
a formulação de estratégias que atraiam estes consumidores a estes locais caracterizados pela
necessidade de desenvolvimento.
Para proporcionar melhor compreensão deste novo perfil de visitante que possui
consciência de seu papel e busca formas de turismo com características diferentes do turismo
de massa, pode-se fazer uma comparação entre os fatores motivacionais do viajante que se
adéqua às formas tradicionais de turismo e quais são as motivações que caracterizam as
modalidades de turismo que se adéquam ao comportamento pós-moderno.
Este tipo de turismo é feito sob a proteção da chamada bolha turística, que são as
estruturas que isolam o turista da estranheza do ambiente que o cerca e o hospeda
(SPAMPINATO, 2009). Esta forma passiva de buscar atividades turísticas onde se condiciona
o conforto ao isolamento das diferenças culturais entre visitante e visitado afasta o turista da
43
Este tipo de turista abre mão da autenticidade e do inesperado para resguardar suas
viagens e prevenir imprevistos. De acordo com Butler (1990), muitas pessoas parecem gostar
de ser turistas de massa por preferirem não precisar fazer seus próprios planos de viagem:
O problema é que ao adotarem este comportamento, os turistas que não tem como
ponto de interesse estabelecer relações com os indivíduos locais produzem um sentimento de
inferioridade e hostilidade na comunidade local. (SPAMPINATO, 2009)
Entretanto, existem outras formas de turismo que não acontecem dentro da bolha
turística. Um aspecto essencial das experiências de turismo alternativo é a valorização da
cultura e do meio ambiente local. Desta forma, “as particularidades, o típico, o característico,
o tradicional e o histórico são elementos importantes nessas formas de turismo”.
(SPAMPINATO, 2009 , p. 33)
Estas formas de turismo são baseadas no diálogo, que conforme aponta Spampinato
(2009) deve ser construído conjuntamente entre o anfitrião e o turista. Estas formas de turismo
são dependentes do relacionamento saudável entre o visitante e o visitado:
44
É essencial para estas formas de turismo que o diálogo seja autentico. Buber (1982)
ilustra de que forma o diálogo deve ocorrer para ser benéfico para ambas as partes:
É aquele onde cada um dos participantes tem, de fato, em mente o outro ou os outros
na sua presença e no seu modo de ser e a eles se volta com a intenção de estabelecer
entre eles e si próprio uma reciprocidade viva. (BUBER, 1982 apud
SPAMPINATO, 2009 , p. 31)
É por estes motivos que o diálogo propriamente dito se realiza entre particularmente
entre pessoas, e não entre indivíduos. (BUBER, 1982 apud SPAMPINATO, 2009) Neste
processo o turista não enxerga o morador como figura representativa da pobreza, assim como
o morador também não enxerga o turista como fonte de renda.
Receita Riqueza
A autora registra que atualmente há por parte dos viajantes uma maior sensibilidade
para os aspectos sociais e culturais do turismo e, particularmente, se fazem evidentes o
interesse e a procura por contatos e relações que vão além da simples proximidade física, mas
que demonstram uma vontade de compartilhar, trocar e de colaborar não apenas pela própria
diversão, mas, de uma forma que seja útil para a comunidade receptora. (SPAMPINATO,
2009)
Nas palavras de Somoza (2008), esta vertente não deve ser caracterizada como um
tipo de turismo, mas uma filosofia de turismo onde o visitante deixa de ser um visitante sem
nenhuma responsabilidade no local, para assumir que as próprias ações podem ter
conseqüências no local, no meio ambiental e social. Ocorre um posicionamento ativo de todos
os atores do processo, incluindo o próprio turista.
Burstzyn e Bartholo (2012) apontam que o turismo responsável pode ser ilustrado
pelas viagens feitas “segundo os princípios de justiça social e econômica e no pleno respeito
ao meio ambiente e as culturas” (BURSTYN; BARTHOLO, 2012 , p. 106). Ainda, apontam
que o turismo responsável reconhece a centralidade da comunidade local e o seu direito em
ser protagonista no desenvolvimento turístico sustentável e socialmente responsável de seu
território.
Estes três agentes devem ser igualmente responsáveis e encarregados dos impactos
do turismo. É uma forma de turismo que possui consciência e respeita as três dimensões da
sustentabilidade. Portanto trata-se de um aspecto conceitual relacionado ao turismo de fato
46
O que parece ter mudado não é, portanto, apenas o tipo de produto demandado pelos
turistas, mas a consciência de poder mudar seu próprio papel. (SPAMPINATO, 2009)
Podemos identificar hoje duas grandes tendências com relação às ações de turismo
responsável:
Ainda tratando desta nova característica de demanda turística, está havendo uma
mudança gradual no interesse dos viajantes, que passam a valorizar aspectos gerais da cultura
em detrimento dos ícones culturais, e isso sugere que cada vez mais ocorre a necessidade de
47
Benatti e Souza (2011) apontam que estes turistas desejam que a interação entre
visitantes e visitados seja positiva tanto por conta do enriquecimento cultural quanto do
econômico.
Pode-se dizer que o engajamento ativo por parte dos turistas deu origem ao
movimento do turismo responsável. O turista responsável é aquele que não se esquece, em
seus momentos de lazer e diversão, dos inúmeros impactos negativos decorrentes de suas
opções de viagem. (BURSTZYN E BARTHOLO, 2012)
Essa modalidade alternativa de fazer turismo está ganhando espaço nos interesses
dos turistas, sobretudo europeus. Porém, turistas de todas as partes do mundo já adotam
comportamentos e características que os insere neste cenário. (SPAMPINATO, 2009)
Como enfoque são apresentadas três propostas: a evolução das políticas de segurança
pública em investimentos socioeconômicos; o protagonismo da comunidade de acordo com as
premissas do Turismo de Base Comunitária; e o encontro entre turista e morador local de
acordo com Turismo Responsável, trocando jipes por encontros autênticos para se
desconstruir preconceitos e estereótipos.
A ação do poder público no que se refere à evolução das políticas que envolvem a
pacificação e turistificação em diversas favelas também desencadeou processos de
gentrificação, o que leva muitas pessoas a se questionarem sobre o objetivo principal das
UPPs.
Soma-se a isto o fato de os moradores também terem que arcar com a formalização
dos serviços citados, o que compromete boa parte do orçamento, resultando numa
disponibilidade financeira prejudicada em relação ao cenário anterior às UPPs. (OST;
FLEURY, 2013)
Estes fatos trazem questões importantes a debate, como a percepção dos moradores e
dos visitantes em relação a estas políticas públicas e o desenvolvimento turístico.
Rodrigues (2014) concorda ao entender que o projeto das UPPs foi um primeiro
passo, mas existem outras ações que podem efetivamente transformar as favelas em áreas
integradas da cidade.
Nada sobrevive só com segurança. Não será um policial com um fuzil na entrada de
uma favela que vai segurar a violência, se lá dentro das comunidades as coisas não
funcionarem. É hora de investimentos sociais. (BOTTARI; GONALVES, 2011, s.p.)
Carvalho e Silva (2012) tomam a favela Santa Marta como exemplo para observar
que são notórias as transformações socioculturais e econômicas positivas trazidas pela
implantação da UPP, como as intervenções urbanísticas visando melhorias de infraestrutura,
acesso e moradia, além do fortalecimento de projetos sociais e culturais que buscam a
inclusão social de seus moradores.
Entretanto, não se pode negar que parte dos incentivos a estas melhorias tem como
pano de fundo a intenção de promover o turismo nas favelas cariocas, de forma a
complementar o que tem sido feito em toda a cidade do Rio de Janeiro, que vislumbra o
52
Amarildo de Souza era morador da Rocinha e desapareceu depois de ser levado por
policiais da UPP para prestar depoimento em julho de 2013. Apesar de o corpo de
Amarildo não ter sido encontrado, há fortes indícios de que ele foi torturado e assas-
sinado por policiais. Esse caso gerou uma grande comoção nacional. O
questionamento “Cadê o Amarildo?” virou uma das principais bandeiras das
manifestações que tomaram conta das ruas da cidade desde o segundo semestre de
2013. (MENEZES, 2014 , p. 676)
Segundo reportagem do site G1, uma agência de turismo local que guiava
estrangeiros e cariocas pela favela foi obrigada a encerrar os passeios já durante a Copa do
Mundo de 2014 devido à retomada da violência gerada por confrontos entre policiais e
traficantes. (TORRES; ROCHA; SERRA, 2015 s. p.)
Mariluce Maria de Souza, idealizadora do projeto Rio Favela Tour, estima que
durante o período de paz no local havia fluxo de cerca de sete mil visitantes por dia. No
entanto, o aumento da violência prejudicou suas atividades:
A gente praticamente desativou [a agência]. Até hoje, tem pedido [de passeios] mas não
tem como. A gente faliu por causa da violência e tantos outros empreendedores que
acreditaram no turismo estão como nós. (TORRES; ROCHA; SERRA, 2015 s.p)
Este desinteresse dos policiais leva muitos moradores a questionar quais são os
motivos que promovem a presença das UPP na favela. Questiona-se se a ocupação policial
tem o objetivo de prover segurança para quem mora no morro ou para vigiar e controlar a
população favelada. (MENEZES, 2014 p.675)
Carvalho e Silva (2012) entendem que se faz notória a necessidade de uma polícia
menos violenta e mais educada a prestar serviços aos cidadãos das favelas:
Entre as políticas de melhorias que estão previstas para a PMERJ, estão incluídas a
implantação de um sistema de informações mais eficiente, treinamento educativo.
Resta ver se somente essas medidas serão suficientes para modificar uma instituição
estruturada em bases tão opostas. (CARVALHO; SILVA, 2012 , p. 259)
De acordo com reportagem do jornal O Globo (LO BIANCO, 2015, s.p.), os PMs
que trabalharão nas UPPs futuramente vão estudar a história de cada favela para ter um
conhecimento maior sobre suas características sociais e culturais. A idéia é proporcionar um
melhor relacionamento com os moradores.
Depois de cobrar reiteradas vezes o apoio de outras áreas do poder publico, foi
decidido pela Secretaria de Segurança que os próprios policiais passarão a
desempenhar ações sociais nas comunidades que estão presentes. (LO BIANCO,
2015, s.p.)
Considerando o histórico dos policiais nestes locais como agentes preparados para
lidar com a violência e provir a segurança pública, vale o questionamento a respeito da
aceitação da comunidade local em relação a este novo papel, além da própria qualidade e
sensibilidade destes profissionais neste tipo de atuação.
55
De acordo com seu site institucional (RIO MAIS SOCIAL, 2015) o Rio + Social é
um programa realizado pela Prefeitura do Rio de Janeiro desde 2001 com a coordenação do
Instituto Pereira Passos – IPP em parceria com a ONU-Habitat – o Programa das Nações
Unidas para Assentamentos Humanos para promover a melhora na qualidade de vida de
populações que moram em territórios pacificados.
Das 208 favelas mapeadas na cidade do Rio de Janeiro, o Rio + Social existe em 30
das 37 comunidades que possuem postos da UPP (Figura 12).
A Prefeitura do Rio de Janeiro, entre 2009 e 2014, investiu mais de R$ 1,8 bilhão em
208 comunidades. Entre as conquistas apontadas pelos responsáveis pelo programa estão a
criação de unidades escolares, clínicas da família e obras do programa “Morar Carioca”
(Figura 13).
Em uma parceria com a Rio + Social, que neste período ainda era conhecida como
UPP Social, o programa Favela Criativa trabalhou na divulgação do Edital de Bailes e Criação
Artística no Funk, além de participar de outras ações de apoio para articulação com ONGs nos
territórios e o fornecimento de dados sobre as comunidades pacificadas. (RIO MAIS
SOCIAL, 2015)
desenvolveu um guia turístico com diversas informações sobre serviços turísticos em favelas
– o “Guia de Bolso – Comunidades Rio” (Figura 14).
Estão incluídos serviços como locais de lanche, meios de hospedagem, guias locais e
mapas dos locais. Além de estimular os moradores desenvolverem empreendimentos
turísticos, o objetivo é incentivar a busca por atrativos ligados ao turismo de experiência,
como a gastronomia e pontos que remetem a fatos da história local. Desta forma ocorrerá o
amadurecimento da demanda turística nas favelas. (SEBRAE SETORIAL, 2015)
Esta estratégia pode trazer benefícios econômicos para a comunidade local gerando
empregos e renda por meio do turismo, além de benefícios a projetos sociais e ONGs locais
em função das visitas turísticas e o desenvolvimento social local devido à organização dos
moradores para lidar com o turismo.
Fabrino (2013) aponta que a analise dos estudos feitos neste campo e dos exemplos
práticos levam a crer que no turismo comunitário as relações econômicas são enriquecidas por
outros elementos que transcendem a racionalidade do lucro imediato. Considera-se como
objetivo principal o desenvolvimento local a longo prazo.
60
Fabrino (2013) também cita que a geração de benefícios para a comunidade local
também ocorre por meio do estabelecimento de que parteda receita proveniente do turismo
seja revertida em investimentos em projetos sociais que beneficiem a comunidade local a
longo prazo.
VII - Parceria social Mais do que visitar atrações turísticas, a idéia é dar aos
com agências de visitantes a oportunidade de experimentarem a vida nas
turismo - Busca por comunidades como ela realmente é, em um processo de
envolver todos os elos aprendizagem e intercâmbio cultural, onde participantes e
da cadeia do turismo membros das comunidades saem ganhando. A viagem é
no benefício das também uma oportunidade de conhecer o trabalho da
comunidades ONG parceira e fonte de renda para as comunidades
Com base nestes apontamentos, pode-se interpretar que a relação entre o turismo e o
desenvolvimento local é parte essencial da conceituação do TBC.Os benefícios econômicos,
culturais e sociais são interpretados como caminhos possíveis para alavancar o
desenvolvimento de uma dada localidade. (FABRINO, 2013)
Ainda que ocorra a preocupação com a divisão dos lucros da iniciativa com a
comunidade local, seja através de projetos sociais ou ONGs locais, essa centralidade decisória
da comunidade deve ir além do aspecto financeiro.
Spampinato (2009) aponta que é essencial que a iniciativa local assuma-se como
agente ativo a partir da participação nas várias fases do processo de criação, implementação e
gestão do projeto turístico.
Benatti e Souza (2011) apontam que a atividade turística promove relações sociais
das quais geram interações e transmissão de tradições culturais, possibilitando a globalização
da cultura. Para as autoras, o fenômeno turístico passou a servir como ferramenta de
desenvolvimento econômico e preservação do legado cultural de muitos países e localidades,
“pois ao mesmo tempo em que oferece empregos e gera renda para a comunidade receptora,
ele também possibilita a conservação do seu patrimônio e a valorização da identidade
local”.(BENATTI; SOUZA 2011 , p.45 )
Além disto, 80% das iniciativas ocorrem nas proximidades, no interior ou contêm
áreas protegidas, seja em Unidades de Conservação de Proteção Integral ou de Uso
Sustentável e Áreas de Preservação Permanente. (BURSTYN; BARTHOLO, 2012)
Segundo a autora, para alcançar este objetivo se deve “pensar de outra forma o
turismo” buscando entendê-lo como meio de se alcançar determinados objetivos e não apenas
com finalidade de lucro. De acordo com seu trabalho, o fato de uma favela ser um destino
turístico não representa necessariamente degradação ambiental, cultural e identitária do local:
Pelo contrário, alguns dos casos apresentados nos mostram exatamente o contrário,
ou seja, que o turismo, se “pensado” de uma determinada forma, pode servir de
estímulo para a valorização socioeconômica, e também cultural, de um território.
(SPAMPINATO, 2009 , p. 141)
65
Os dois casos estudados na Rocinha podem ser utilizados para uma análise sobre a
relação entre o entendimento do turismo e seus impactos no local.
Em relação aos favela tours, a autora aponta que o turismo na Rocinha não é
satisfatório para sua comunidade, nem para suas lideranças e tampouco para seus moradores.
Esta situação ocorre porque as atividades são planejadas principalmente pelas agências
externas, deixando a comunidade local fora do processo.
Justamente por ser um agente externo, as agências não têm nenhum interesse especial
em proporcionar o encontro e desta forma contribuir para a construção de uma visão positiva
da favela. Segundo seu trabalho, estas agências ocupam um espaço predominante,
monopolizando a atividade na comunidade de uma forma duplamente insatisfatória:
econômica e socialmente. (SPAMPINATO, 2009)
No ocasião, o projeto foi apresentado como uma iniciativa do poder público para
criar oportunidades de desenvolvimento socioeconômico por meio do turismo.
67
Segundo Rodrigues (2014), o objetivo deste projeto era criar uma alternativa que
gerasse renda com o turismo dando mais qualidade às iniciativas locais, trabalhando nos
moldes do mercado do turismo e envolvendo os moradores no processo (Figura 19).
68
Porém, a demanda dos moradores locais pelo projeto foi baixa. De acordo com
Rodrigues (2014), a falta de interesse dos moradores se justifica pela falta de uma ajuda de
custo para os participantes do projeto:
As pessoas só fazem alguma coisa se ganham algo. Só faz algum tipo de curso se ele
ganhar algo, não entende que aquilo ali está sendo bom para ele mesmo. Ele está se
capacitando, talvez pro futuro, como muitos fizeram. (RODRIGUES, 2014 , p. 63).
Porém, vale apontar que outros motivos podem justificar esta falta de interesse, como
a baixa escolaridade dos moradores, algo comum nas favelas cariocas. “Este fator pode ser
identificado como um dos grandes complicadores do sucesso desse projeto, pois ele visava
“alavancar o turismo pelas mãos dos próprios moradores [...]” (RODRIGUES, 2014, p.60),
69
E como este objetivo seria alcançado se a população local não está minimamente
preparada para ser introduzida neste novo cenário?
A partir destas capacitações, alguns guias criaram suas próprias empresas, como a
Favela Santa Marta Tour, a SoulBrasileiro e a Brazilidade uma iniciativa que se intitula uma
iniciativa de turismo de base comunitária na favela, trabalhando a inclusão de diversos
serviços locais e a quebra de estereótipos:
Portanto, embora o projeto tenha passado por dificuldades, foi uma experiência
válida por ter produzido impactos expressivos na comunidade.
Esta experiência nos mostra que para ser realmente benéfico e construtivo para um
território, o turismo não pode ser um projeto desenhado fora e apenas automaticamente
aplicado dentro de uma comunidade.
Por outro lado, através do resultado do projeto, pode-se observar como o sentido
comunitário e identitário pode ser estimulado e impulsionado por uma atividade turística onde
o morador local encontra seu espaço livre de expressão. (SPAMPINATO, 2009)
O contato entre estes dois atores pode variar bastante de acordo com o intermediário
turístico, e tanto pode produzir impacto positivo através das trocas culturais e interpessoais e a
71
descoberta de novas expressões culturais no local, quanto negativo por meio do afastamento
sociocultural e o discurso baseado estereótipos, generalizações e até mesmo preconceito.
Benatti e Souza (2011) apontam que esta interação entre visitantes e visitados deve
ser positiva tanto por conta do enriquecimento cultural quanto do econômico. Para as autoras,
é essencial compreender que a integração amiga e respeitável entre visitantes e residentes
precisa ser elevada, proporcionando “novos conhecimentos, apreensão de novas culturas e paz
de diferentes povos”. (BENATTI; SOUZA, 2011 , p. 33)
Fabrino (2013) afirma em seus estudos sobre o TBC que um dos grandes diferenciais
desta forma de se pensar o turismo recai justamente na possibilidade do turista conhecer e
interagir com as dinâmicas comunitárias a partir do estabelecimento de uma relação diagonal
entre visitantes e visitados, sendo o diálogo, a troca e o compartilhamento de vivências a base
deste encontro:
Irving (2009) também trata deste encontro diagonal como uma essencial
característica do TBC ao apontar que “a condição para o turismo de base comunitária é o
encontro entre identidades, no sentido de compartilhamento e aprendizagem mútua”.
Para Spampinato (2009) a busca por vivenciar novas experiências, e não apenas
usufruir de novos produtos/serviços, ou observar coisas novas, nos leva a registrar a presença
de uma nova característica da demanda turística. Neste perfil moderno de turismo há no
visitante a vontade de ser protagonista no processo.
Está havendo uma mudança gradual no interesse dos viajantes, que passam a
valorizar aspectos gerais da cultura em detrimento dos ícones culturais, e isso sugere que cada
vez mais ocorre a necessidade de se combinar cultura, lazer, conforto e produtos de
entretenimento. (SNV, 2009 apud BURSTZYN E BARTHOLO, 2012)
Barreto (2004) observa que desde 1970 ocorre uma mudança de paradigma no
fenômeno turístico a partir da percepção e possibilidade de um turismo onde é reduzido o
interesse pelo consumo de atrativos em troca da convivência com a comunidade local dos
lugares visitados. Porém, a autora ressalta que neste caso específico, trata-se de uma
pseudoconvivência, pois o morador local torna-se o atrativo e “não pode haver verdadeiro
72
intercâmbio quando um observa o outro como se fosse uma "curiosidade" exposta numa
vitrine”. (BARRETO, 2004 , p. 145)
Apesar desta tendência em que cada vez mais turistas buscam a autenticidade no
encontro, alguns tipos de turistas não tem como prioridade estabelecer relações com os
indivíduos locais, como exemplificado na diferenciação do turismo de massa e outras formas
de vivenciar a atividade. O ponto crítico é que este tipo de atitude pode produzir o sentimento
de inferioridade e hostilidade na comunidade local.
Vale apontar que em muitos casos de turismo de massa os costumes locais são
produtificados e reproduzidos de forma espetacularizada para os turistas, o que acaba por
produzir um processo de vulgarização dos costumes locais.
Barreto (2004) aponta que as pesquisas realizadas até o momento de seu estudo não
indicavam que objetivos relacionados ao entendimento e aproximação entre turista e morador
tenham sido atingidos a partir turismo tradicional.
73
Entretanto, cabe ressaltar que a melhor vista não se trata apenas de um acesso à uma
vista natural ou arquitetônica, da cidade do Rio de Janeiro, visto que há outros locais
74
turísticos na cidade com visuais parecidos. “Estar na “laje” é ter acesso ao “visual” do
conjunto da comunidade, de um ponto de vista que mescla os sentimentos de “inserção” e
“controle” característicos da “laje”“ (Figura 22). (MACHADO, 2007 , p. 81)
Depois isso foi mudando, foram vindo outros tipos de pessoas. Diversificou muito!
E hoje em dia vocês não tem mais um critério certo.. Vai do “mochileiro” ao grande
executivo do Meriott e do Copacabana Palace. Esse é o perfil do turista hoje, é
diversificado. (FREIRE-MEDEIROS, 2009 , p. 83)
Embora a favela seja um local onde podem ocorrer diversas trocas culturais e
interpessoais devido à diferença de vivências entre o visitante e o morador, Machado (2007)
recorre ao encontro na laje para afirmar que o tipo de contato que ocorre entre turistas e
moradores durante a visita à favela pode tratar-se de um momento onde ocorre uma troca de
interesses:
Em relação a este encontro marcado por interesses, Barreto (2004) afirma que apesar
de o turismo ser um fenômeno social, em termos restritos pode ser encarado somente como
um negócio baseado na troca de interesses. A autora entende o fenômeno como “Um negócio
que vende algo diferente, sim: prazer e lazer, mas que é conduzido pela lógica da sociedade
capitalista, pela produtividade e pela lucratividade”. (BARRETO, 2004 , p. 147)
Portanto, ao passo que o território turístico torna-se palco para uma troca de
interesses pessoais, ao mesmo tempo em que ocorre a oportunidade de enriquecimento
cultural com base em um espaço de encontro, ocorre o estranhamento entre os membros da
comunidade com os turistas visitantes. (MACHADO, 2007)
Barreto (2004) afirma em relação ao turismo em geral que habitantes dos lugares
turísticos que se beneficiam economicamente com a presença dos turistas não estão
precisamente interessados em receber os turistas como hóspedes e realizar com eles trocas
culturais, mas em receber o dinheiro trazido por eles (BARRETO, 2004)
76
Klepsch (2010) ilustra que nos passeios que acompanhou durante sua pesquisa o
contato entre os dois na favela só era permitido em centros de artesanato e projetos
comunitários. Desta forma, a relação entre turista e morador só é benéfica para as pessoas que
estão envolvidas empresa de turismo. Aqueles que não estão são excluídos e tornam-se
expectadores no processo. (KLEPSCH, 2010)
Outra forma tensa de relacionamento tenso entre morador e turista, esta mais
reconhecida pelas pessoas, é a que ocorre intermediada por câmeras fotográficas. Freire-
Medeiros (2009) entende que certos estereótipos estejam sendo reforçados a partir deste
hábito. Em sua pesquisa, a autora ilustra que a maioria das pessoas fotografadas pelos
visitantes nas favelas são negras. Na verdade, considerando os motivos de formação das
77
Desta forma, os turistas não estão fotografando o que vêem, mas o que querem
mostrar baseados em pré-concepções do local. Por conta das tensões e da invasão de
privacidade ocorrida por causa das câmeras por muitos morador, já foram colocadas placas
que impedem o uso de máquinas fotográficas no Santa Marta (Figura 24).
que “faziam comentários jocosos sobre as roupas e os cabelos dos visitantes”. (FREIRE-
MEDEIROS, 2009)
Klepsch (2010) aponta que três dos cinco operadores turísticas de roteiros em favelas
no Rio de Janeiro que estudou em sua pesquisa (Exotic Tours, Be a Local e Favela Tour)
parecem ter consciência de seu papel e afirmam claramente que gostariam de transformar a
imagem negativa da Rocinha devido a seus problemas de violência e drogas.
Além disso, Rodrigues (2014) entende que o aumento do interesse turístico fez surgir
uma nova realidade que foi ganhando espaços pontuais na mídia e levou à redescoberta da
cultura e da gastronomia das favelas.
Confrontados com uma realidade tão adversa e radicalmente diferente daquela que
vivem no próprio cotidiano, os turistas dizem que se sentem “transformados”,
capazes de “dar valor ao que realmente importa”. Ao mesmo tempo, as vantagens,
os confortos e os benefícios do lar são reforçados por meio da exposição à diferença
e à escassez. (FREIRE-MEDEIROS, 2009 , p. 88)
Rodrigues (2014) concorda com este ponto de vista ao entender que o grande ganho
da visitação é a troca de experiências, pois “o tour autêntico consegue mostrar o lado
verdadeiro dos moradores, fugindo de estereótipos da violência ou da erotização quando se
trata de favela carioca” (Figura 25). (RODRIGUES, 2014 p.96)
Rodrigues (2014) afirma que em grande parte dos roteiros feitos por agências de fora
das favelas, o que é mostrado nos pacotes vendidos no exterior pouco ou nada espelha da
cultura do morro e de quem vive nele e, muitas vezes, apenas a estereotipa.
Em muitos momentos este discurso que estereotipa acaba por gerar atitudes
preconceituosas nos visitantes. Entretanto, ocorre um olhar esperançoso pelos moradores:
Machado (2007) aponta que os moradores não se mostram ofendidos com as atitudes
preconceituosas dos turistas porque tem a idéia de que estes podem, ao concluir o passeio, ter
outra imagem da favela.
O que mais chama a atenção é que as empresas que realizam passeios em jipes nas
favelas não são especializados em adotar discursos profundos. Na verdade são especializadas
em fazer city tours passando por atrativos bastante populares, como Floresta da Tijuca,
Corcovado e Pão de Açúcar (Figura 27).
Turismo verdadeiro é aquele em que você não mexe na história da comunidade. Tem
que contar a história verdadeira; como surgiu a Rocinha, em que ano foi fundada a
primeira associação de moradores, o número de habitantes (...), mas não basta só
contar história. Tem que ter a participação da comunidade. (FREIRE-MEDEIROS,
2009 , p. 103)
82
4 METODOLOGIA
Esta pesquisa tem como objetivo principal identificar, comparar e analisar diversas
variáveis em relação à percepção e opinião de dois grupos na favela Santa Marta em relação
às atividades turísticas que ocorrem no local para buscar estratégias que aproximem e
estimulem seu desenvolvimento. São utilizadas no visitante e no morador local técnicas de
comparação como ANOVA com teste t de significância e free elicitation.
Para se fazer uma análise geral e em seguida comparar as percepções destes dois
perfis em relação a ao turismo foi elaborado e aplicado um questionário dividido em 6 setores
na favela Santa Marta entre os dias 17 e 29 de Abril de 2015 (Apêndice A).
Para a aplicação da pesquisa aos visitantes, foi montado um posto de pesquisa na laje
Michael Jackson, local de maior atratividade turística da favela. Nos dois finais de semana
deste período (17 e 18; 24 e 25) foram formadas equipes de 5 pesquisadores voluntários que
foram capacitados para aplicar as pesquisas pessoalmente aos moradores locais.
O total da amostra da pesquisa realizada foi de 160 questionários válidos, por meio
de survey in loco, sendo 80 moradores e 80 turistas da favela. A amostra de visitantes e
moradores é não probabilística por conveniência, pois foi feita com participantes de roteiros
operados por empresas aleatórias e turistas que visitavam o local por conta própria.
Santa Marta, na cidade do Rio de Janeiro?” os perfis foram classificados entre “Morador” e
“Visitante”. No caso de “Visitante”, em seguida havia uma pergunta que classificava o
entrevistado em relação ao seu local de origem, sendo as opções: Estado do Rio; América do
Sul; America do Norte/América Central; Europa; Ásia; Oceania e África.
Neste procedimento, a única restrição feita para responder a pergunta “Indique as três
primeiras palavras que vêm à sua mente quando você pensa em “Turismo em Favelas” é que o
entrevistado fosse um visitante ou morador da favela Santa Marta.
A free elicitation tem sido amplamente usada no campo da pesquisa de mercado por
fornecer dados qualitativos que ilustrem a opinião do entrevistado sobre o objeto de estudo.
(OLEARY E DEEGAN, 2005. p.449 apud FIGUEIREDO; MAYER, 2010)
Afirmativas de Motivações
Curiosidade em ver um modo de vida diferente.
Para o setor seguinte foi elaborada uma lista de serviços prestados em favelas
turísticas. Os entrevistados foram orientados a assinalar os três que consideravam mais
atrativos para o turismo (Figura 30). Também foi dada a opção de uma alternativa aberta para
que os entrevistados pudessem sugerir serviços. O objetivo desta seção é testar a aceitação dos
moradores em relação a estes serviços e analisar qual é a relação com os serviços
considerados mais atrativos pelos turistas.
87
Os dados obtidos por meio dos questionários foram transferidos do papel para a
plataforma digital Qualtrics a fim de facilitar o tratamento e análise dos resultados
obtidos. Para que a análise comparativa dos perfis estudados fosse feita com indicadores de
relevância foi utilizada a plataforma SPSS, que permite a utilização do procedimento
comparativo ANOVA com auxílio do teste t.
A pesquisa realizada não pretende apresentar resultado descritivo, uma vez que a
amostra foi selecionada por conveniência e acredita-se que novas pesquisas possam ser
realizadas com um número maior de respondentes, a fim de identificar as motivações e
percepções de grupos de indivíduos, como grupos de moradores por categorias específicas e
visitantes por grupos conhecem a favela com guias de empresas externas, guias de empresas
locais e sozinhos. Também se sugere que o perfil destes visitantes e moradores seja analisado
por favela específica, visto que cada local possui suas próprias peculiaridades e identidade
própria, como apresentado no levantamento bibliográfico.
89
5 RESULTADOS
A seguir são apresentados os resultados obtidos por meio dos dados colhidos em
campo. A análise se dará da seguinte maneira: primeiro são apresentados os resultados da
pesquisa demográfica considerando o total da amostra e em seguida cada perfil detalhado,
considerando o local de residência para distinguir moradores e visitantes da favela Santa
Marta. Em seguida são analisados os resultados da free elicitation, da análise de categorias
motivacionais influenciadas pela pesquisa de Ma (2010), da análise de divergência em cada
afirmação das escalas de percepções e motivações e da análise de atratividade de serviços.
Durante a apresentação dos resultados são contextualizadas as discussões apresentadas ao
longo da revisão bibliográfica deste trabalho.
Gênero
Total
Masculino 45,63%
Feminino 54,38%
Idade
Total
15 a 19 anos 8,75%
20 a 24 anos 13,75%
25 a 29 anos 25,63%
30 a 39 anos 21,25%
40 a 49 anos 10,63%
50 a 59 anos 7,50%
Mais que 60 anos 12,50%
Em relação ao Estado Civil, a maior parte dos investigados está na categoria solteiro
(68,13%) (Figura 33). O Grau de Escolaridade está bem distribuído entre Ensino Fundamental
(22,50%), Ensino Médio (26,88%) e Ensino Superior (26,88%). A categoria Pós-Graduação
também obteve amostra significativa (15,00%), mas um pouco abaixo dos outros valores
(Figura 34). Tratando-se da Ocupação Principal, a maior parte da amostra geral possui
emprego no setor privado (29,38%), seguido por profissionais liberais/autônomos (18,75%).
Em seguida os estudantes (13,13%), empresários (11,88%) e empregados do setor público
(11,88%) (Figura 35).
Estado Civil
Total
Solteiro 68,13%
Casado 25,63%
Divorciado / Separado 1,88%
Viúvo 4,38%
Escolaridade
Total
Principal Ocupação
Total
Empresário 11,88%
Emprego no setor privado 29,38%
Emprego no setor público 11,88%
Profissional liberal/autônomo 18,75%
Estudante 13,13%
Aposentado / Pensionista 5,00%
Desempregado 8,13%
Outros 1,88%
Assim, em relação à amostra geral, pode-se traçar o seguinte perfil: maioria do gênero
feminino, da faixa etária de 25 a 29 anos, predomínio de solteiros, do nível de escolaridade de
nível médio e superior, da ocupação no setor privado. No entanto, para compreender melhor
esse perfil, torna-se necessário desdobrar os dados entre visitantes e moradores.
Considerando o local de origem dos visitantes (Figura 36), pode-se observar que a
maior parte dos turistas respondentes pertence ao continente europeu (46%), seguido por
pessoas do Brasil (21%), América do Norte/Central (14%) e América do Sul (10%). Esta
informação comprova a maior incidência de turistas do hemisfério norte interessados pelas
favelas.
92
21%
14%
10%
6%
3%
Masculino Feminino
Figura 37 - Gênero - Morador x Visitante
Fonte: Elaboração Própria
93
35,00%
30,00%
22,50%
16,25% 16,25% 16,25%
11,25% 12,50% 11,25%
10,00%
7,50%
5,00% 3,75% 2,50%
Considerando o Estado Civil, nos moradores maior parte é solteiro (57,50%) e outra
grande parte é casado (30%). Nos visitantes a distribuição é a mesma, sendo maior a diferença
entre solteiros (78,75%) e casados (21,25%) (Figura 39).
78,75%
57,50%
30,00%
21,25%
8,75%
3,75%
0,00% 0,00%
relação à Ocupação Principal (Figura 41), ao passo que a maior parcela dos visitantes trabalha
no setor privado (36,25%), os moradores apresentam grupos significativos no setor privado
(22,50%) e no campo de autônomos (26,25%).
45,00%
41,25% 41,25%
28,75%
3,75%
0,00% 1,25% 0,00% 0,00%
Empresário 5,00%
18,75%
Emprego no setor privado 22,50%
36,25%
Emprego no setor público 13,75%
10,00%
Profissional liberal/autônomo 26,25%
11,25%
Estudante 11,25%
15,00%
Aposentado / Pensionista 8,75%
1,25%
Desempregado 11,25%
5,00%
Outros 1,25%
2,50%
Na figura com as palavras citadas pelos Visitantes (Figura 43), também sobressaem
principalmente palavras relacionadas a motivações. A palavra “Interessante” (interesting)
aparece com grande destaque, e a partir da observação de palavras como “Cultura” (culture),
“Curiosidade”, “Diferente” (different), “Esclarecedor” (eyeopening) e “Pessoas” (people)
pode-se perceber que aspectos relacionados à curiosidade sobre estes locais e a cultura deles
são determinantes no imaginário dos turistas.
97
Entretanto, vale ressaltar que um olhar mais atento permite que sejam observadas
palavras que se relacionam com o desfavorecimento social das favelas, como “Pobre” (poor),
“Pobreza” (poverty) e “Perigo” (danger).
A análise das palavras que compõem as duas figuras permite observar que, conforme
entende Rodrigues (2014), muitos moradores das favelas compreenderam que a peculiaridade
das favelas é mais atrativa do que a pobreza em si, e passaram a enxergar no fenômeno
turístico uma oportunidade para novos empreendimentos que levem À redescoberta da cultura
e gastronomia das favelas. (RODRIGUES, 2014, p. 58)
É importante notar que, ao mesmo tempo em que ambas as partes citaram palavras
que se referem ao contato positivo entre visitante e visitado, como “Diversidade”, “Interação”,
“Integração” e “Comunidade”, um olhar mais atento às wordclouds nos permite enxergar
pontos de discordância em palavras como “Abuso”, “Predatório”, “Desgaste” por parte dos
moradores e “Invasivo”, “Mal-estar” e inclusive “Não estou me sentindo bem” por parte dos
turistas. Ainda que muitos dos envolvidos tenham impressões positivas sobre o turismo de
forma geral, outras pessoas não se sentem bem em relação a estas atividades. Isto pode se
justificar pelo histórico das atividades turísticas que não geram impacto positivo nas
comunidades locais e pelos turistas que preferem ficar em “bolhas turísticas”, como entende
Spampinato (2009).
média mais alta foi a Categoria 1 “Curiosidade Cultural”, com uma média bastante próxima
(4,04).
Ver o cenário, as vielas e a vista da cidade que se tem em uma favela. 4,3
Pensar que um passeio pelas favelas é uma experiência única e inesquecível. 4,1
Ver o contraste entre o lado rico e o lado pobre do Rio de Janeiro. 4,1
Curiosidade para saber como é sua própria vida em comparação com a de
3,9 Média Total
moradores da favela.
Vontade de valorizar mais a própria vida após a visita. 3,7 3,95
Categoria 3: Outras Curiosidades
A vida na favela parecer mais autêntica e genuína do que a vida na cidade. 3,7 Média Total
A pesquisa motivacional permitiu identificar que na opinião geral das pessoas que
responderam a pesquisa, as principais motivações para o turismo em favela ocorrem
99
Um dos pontos de destaque da análise geral das respostas obtidas é que, embora os
turistas sinalizem a vontade de visitar as favelas para ver o que consideram o contraste entre o
lado rico e o lado pobre do Rio de Janeiro, nem os moradores, nem os visitantes indicaram
índices de concordância absoluta em relação à afirmativa que caracteriza as favelas como
locais de “extrema pobreza”. Dentro do campo de afirmativas relacionadas à Curiosidade
Cultural, as respostas relacionadas à ‘Experimentar a vida em um ambiente de extrema
pobreza’ não acompanharam o padrão de respostas das outras afirmativas (Figura 44). Isto
significa que na visão destas pessoas estas favelas não são locais miseráveis e em condições
extremas, e que o interesse cultural apontado por eles não está necessariamente relacionado à
percepção de pobreza.
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
1,11%
Curiosidade em ver um modo de vida diferente.2,22% 22,78% 61,67%
1,11%
4,44%
Ver o cenário, as vielas e a vista da cidade que se tem
2,22% 27,22% 50,00%
em uma favela.
5,00%
Pensar que a visita retrata a vida na favela de forma 8,33%
3,89% 10,56% 27,78% 38,33%
autêntica.
6,11%
Fugir um pouco dos passeios mais tradicionais da
3,33% 10,56% 22,78% 46,11%
cidade.
Conforme aponta Rodrigues (2014), é importante notar que as favelas turísticas do Rio de
Janeiro se encontram na Zona Sul e, de forma geral, seus moradores vivem sob condições
razoáveis de habitação. Embora efeitos da gentrificação permitam observar pessoas em ótimas
condições financeiras morando próximas a pessoas em situação prejudicada e inclusive sob
ameaça de remoções (GAFFNEY, 2013), as favelas turísticas não podem ser tidas como
exemplos generalizados das favelas da cidade. Em regiões como a Zona Norte e Baixada
Fluminense, mais afastadas do principal eixo turístico, existem moradores de favelas vivendo
sob situações bastante precárias. (RODRIGUES, 2014)
Isto permite observar que tanto os moradores quanto os visitantes da favela Santa
Marta têm em seu imaginário que questões relacionadas à peculiaridade e a cultura da favela
são os principais fatores motivacionais que impulsionam as atividades turísticas no local.
Embora os moradores estejam mais inclinados à percepção de peculiaridade e os visitantes
aos fatores culturais, os dois grupos apresentam médias de concordância bastante próximas
em relação a estes aspectos. Pode-se dizer que as práticas de turismo que relacionam aos
fatores pós-modernos apontados por Spampinato (2009) e Bartholo e Burstyn (2010) estão
corretos em relação a estes fatores.
Morador Visitante
45,00%
32,50%
28,75%
18,75%
18,75% 17,50%
12,50% 11,25%
8,75%
6,25%
Isto pode indicar que, ao passo que o turismo beneficia parte da população da favela,
algumas pessoas estão sofrendo estes impactos negativos e resistindo da forma que podem.
Alguns autores apontam que a satisfação dos moradores das favelas com as atividades
turísticas é proporcional ao seu envolvimento com as atividades relacionadas à maior
circulação de pessoas de fora das favelas. (CARVALHO; SILVA, 2012) (FLEURY; OST,
2013)
O alto índice de incerteza dos visitantes também é um fato a ser ressaltado. Este
resultado pode indicar que ocorra indiferença ou falta de informação em relação a este aspecto
do processo de pacificação.
ocorrer por causa dos métodos implementados pelo projeto Rio Top Tour que ainda são
utilizados pelos guias de turismo na favela Santa Marta. (RODRIGUES, 2014).
Em relação à afirmativa que indica que “O turismo traz vantagens econômicas para
as favelas e empreendedores locais, como a geração de empregos e renda”, observa-se
significância de 0,000 e uma diferença de quase 1,00 nas médias, sendo que os visitantes
possuem média mais elevada (4,41) que os moradores (3,64) (Figura 46).
Morador Visitante
60,00%
43,75%
28,75%
17,50%
13,75% 13,75% 11,25%
6,25%
2,50% 2,50%
locais”, e que “Por meio do turismo em favelas podem ser descobertas diferentes expressões
culturais na cidade”.
Na afirmativa que aponta que “A interação que ocorre entre os moradores das favelas
e os turistas é positiva” observa-se uma considerável diferença de opiniões, sendo a média dos
visitantes (4,21) consideravelmente mais elevada que a dos moradores (3,83) (Figura 47).
Morador Visitante
45,00%
40,00%
33,75%
33,75%
18,75%
15,00%
10,00%
0,00% 1,25%2,50%
Isto pode ser justificado pelo histórico das visitas turísticas e do imaginário geral da
cidade sobre o turismo em favelas, onde muito se fala sobre estereótipos, preconceito e
generalizações. Embora os guias locais da favela Santa Marta estejam organizados e prestem
serviços de boa qualidade, ainda existem guias de empresas externas que freqüentam a favela
sem estabelecer parcerias com as iniciativas locais. (RODRIGUES, 2014) Isto pode levar ao
considerável percentual de moradores que responderam “Discordo Totalmente” nesta
afirmativa.
3 Pensar que a visita retrata a vida na favela de forma autêntica. 4.0 4 3,99 0,005 0,946
6 Vontade de contribuir para o bem-estar dos moradores das favelas. 3.4 3,1 3,79 11,552 0,001
7 Ver o contraste entre o lado rico e o lado pobre do Rio de Janeiro. 4.1 4,16 4,07 0,226 0,635
8 Fugir um pouco dos passeios mais tradicionais da cidade. 4.2 4,2 4,1 0,322 0,571
9 Ver de perto as controvérsias de uma favela. 3.8 3,75 3,89 0,454 0,501
15 Ver a favela que somente conhecia através de filmes e livros. 4.0 4,2 3,84 5,548 0,02
21 Experimentar a vida em um ambiente de extrema pobreza. 3.1 3,15 3,08 0,111 0,739
indica que muitas respostas de moradores estiveram abaixo da linha de concordância (Figura
48).
Morador Visitante
36,25%
30,00% 28,75%
26,25%
23,75% 22,50%
13,75% 13,75%
3,75%
1,25%
Este gráfico demonstra que os turistas ficam em dúvida ou concordam com aspectos
que se referem à geração de impactos positivos para as favelas por conta das visitas turísticas.
A análise deste gráfico justifica a motivação de interesse e curiosidade dos turistas de
compreender e tentar contribuir com o bem estar e qualidade de vida das comunidades
visitadas
Morador Visitante
38,75%
35,00%
30,00%
25,00%
22,50%
20,00%
11,25% 12,50%
2,50% 2,50%
encontro ao que apontou Cejas (2006) em sua pesquisa, ao apontar que habitantes pobres e
seus ambientes se tornaram objetos de consumo. Neste caso, apesar de ser percebida, a
pobreza não é um aspecto absoluto em relação à decisão do visitante. O vouyerismo é
desconstruído e dá lugar a relações sociais baseadas em outras motivações.
Por muitos anos, o turismo em favelas foi muito criticado por representantes oficiais,
e pela maioria de classe média e alta brasileira por ser considerado uma atividade desprezível
por “denegrir a imagem do país devido à exposição da população pobre”. (FREIRE-
MEDEIROS, 2009 p. 45) De acordo com este resultado, o interesse turístico pode ensinar que
outros fatores podem justificar as visitas, e apesar do histórico desfavorecimento
sociocultural, as favelas podem ser caracterizadas como locais representantes da enorme
riqueza cultural brasileira.
Morador Visitante
30,00% 30,00%
28,75%
25,00% 26,25%
25,00%
13,75%
10,00%
5,00% 6,25%
se demonstrou em certeza em relação a esta afirmativa, enquanto boa parte dos moradores
concordou e uma parcela bastante significativa discordou totalmente.
Morador Visitante
26,25% 26,25%
23,75% 23,75%
22,50%
18,75%
16,25% 16,25%
15,00%
11,25%
Outros serviços: 10
Em relação aos eventos culturais locais, enquanto 66 pessoas indicam que preferem
que aconteçam fora do horário comercial dos tours, 43 pessoas indicaram que prefere que os
eventos aconteçam durante os passeios.
Por último são citadas as opções relacionadas a moradias. De todas as pessoas que
responderam, 42 consideram a “Visita à casa de uma família local” atrativa, 31 consideram a
hospedagem domiciliar na favela atrativa e 28 escolheram a hospedagem em um hostel na
favela.
Conforme apontado por Spampinato (2009) existe por parte dos viajantes maior
sensibilidade para os aspectos sociais e culturais do turismo. O interesse e a procura por
contatos e relações que vão além da simples proximidade física devem ser incentivados, para
que a partir do turismo os moradores e visitantes possam compartilhar, trocar e colaborar
entre si.
foi poucas vezes indicado pelos moradores, o que pode indicar que estes moradores
concordem com as críticas que apontam que o turismo em favelas é invasivo.
cuidados na rua
1
atividade turista + morador
2
UNIÃO, REUNIÃO E ASSOCIAÇÃO
3
aproximar o turista e o morador
4
moradores conhecerem a própria comunidade
5
visitar a própria comunidade - laje Michael
6 Jackson
Por último, são feitas sugestões em relação à própria comunidade local. Duas
sugestões tratam de incentivar os próprios moradores a realizarem as atividades realizadas
pelos turistas: “moradores conhecerem a própria comunidade”; “visitar a própria comunidade
– laje Michael Jackson”. E através da sugestão “geração de renda para toda a comunidade”
um dos moradores aborda a distribuição de oportunidades e renda para toda a favela por meio
do turismo.
115
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista que é cada vez mais freqüente o encontro entre moradores das favelas
e turistas, o objetivo desta pesquisa foi analisar as opiniões desses atores para buscar
estratégias que os aproximem e estimulem o desenvolvimento de ambos. Os resultados
obtidos servem para a formulação de hipóteses que podem influenciar positivamente as
relações oportunizadas pelo turismo.
Em relação aos resultados obtidos, chama atenção a percepção dos grupos pesquisados
considerando a categorização das favelas como “ambientes de extrema pobreza”, e são
notórios os resultados que apontam que os moradores das favelas tem maior percepção de
pobreza nas favelas do que os próprios visitantes, que observam com mais atenção o contraste
social presente na cidade. Os turistas, de forma geral, parecem estar mais interessados em
conhecer e caminhar por essas partes da cidade que por anos estiveram fora do alcance de
todos devido a problemas relacionados à violência urbana, do que em consumir a distância
social existente.
Seja para alimentar seu desejo de vivenciar experiências diferentes e alterar sua
própria essência, ou somente pela vaidade de compartilhar fotos e relatos com seus amigos e
familiares, o fato é que estes turistas reconhecem que durante as visitas estão se aproximando
da diversidade cultural das favelas, que é bastante rica e representativa da cultura brasileira, e
enxergam a possibilidade de compreender e experimentar de forma lúdica alguns hábitos
vividos no Brasil.
Além disto, também foi ilustrado que existe aceitação em relação à integração pelos
dois grupos por meio de atividades relacionadas à contribuições a ONGs e projetos sociais
locais. Embora muitos moradores da favela Santa Marta tenham expressado uma visão
negativa radical em relação à postura dos turistas, os visitantes demonstraram inclinação em
interagir e contribuir durante suas atividades turísticas. Esta pode ser uma maneira de
relacionar a “curiosidade” expressada pelos moradores à percepção da favela ser
“interessante” mencionada pelos visitantes.
Ocorre que o início das atividades turísticas nas favelas do Rio de Janeiro foram
marcadas por objetivos unicamente mercadológicos, cujo único objetivo era o lucro. Isto
ocasionou a visão negativa que gerou diversos debates sobre a oportunidade. Atualmente
muitos empreendedores buscam conciliar este objetivo com a diminuição de preconceitos
através do estímulo à percepção mais lúdica da favela. O grande ponto a ser ressaltado é que,
ao passo que muitos críticos a estas atividades consideram a possibilidade de proibir o turismo
em favelas, outras pessoas fazem críticas construtivas e enxergam a possibilidade de
transformar o turismo em uma oportunidade de desenvolvimento nas favelas.
Os novos direcionamentos que o turismo está tomando no século XXI permite que
relações que acontecem devido às visitas sejam menos interesseiras e mais interessadas. Surge
a possibilidade do interesse por viagens aproximar as pessoas em seu âmago, e que elas não se
enxerguem como o mais rico e o mais pobre, mas como pessoas dotadas de subjetividade,
interesses em comum e idéias que podem ser compartilhadas, independente do local onde se
vive e da condição econômica que estão as pessoas estão submetidas. As favelas possuem
aspectos turísticos muito mais interessantes do que a pobreza.
O resultado desta pesquisa será apresentado em uma reunião do Comitê dos Guias de
Turismo do Santa Marta e utilizado por estes profissionais para compreender as percepções de
turistas e visitantes e desenvolver com maior eficácia suas atividades. Já existem atividades
sendo desenvolvidas aproximando turistas e moradores, de acordo com o resultado desta
pesquisa, como jogos de futebol, oficinas de grafite, oficinas de confecção de pipas e até
multirões de pintura de casas.
Este trabalho também pode ser apropriado por órgãos ou instituições, de finalidade
pública ou privada, com a finalidade de desenvolver o turismo em favelas de forma
sustentável, com o objetivo de oferecer selos, certificados ou qualquer forma de sensibilizar
os turistas e moradores em relação às oportunidades que se desvendam com o turismo nas
favelas.
Estudos futuros podem ser produzidos por pesquisadores que pretendam investigar a
mesma temática de pesquisa com base nas hipóteses de divergências e convergências de
opinião resultado deste estudo. Podem ser desenvolvidos trabalhos com maior profundidade
com enfoque nas afirmativas que tiveram divergências com considerável grau de
significância, como as que se referem à interação entre visitante e visitado, a vontade dos
turistas de contribuir com o bem estar local ou as percepções de vantagens e desvantagens
econômicas que acontecem por causa do turismo. Também podem ser produzidos estudos
com enfoque nas interações que ocorrem durante as atividades lúdicas, como oficinas,
workshops e visitas a ONGs.
118
Além disto, é importante ressaltar que embora existam diversas favelas turísticas no
Rio de Janeiro, cada uma possui atrativos e peculiaridades próprias. Por isto, é viável que esta
pesquisa seja replicada em outros territórios e sejam feitas comparações de resultados.
Inclusive, a abrangência da pesquisa pode ser ampliada e serem pesquisados aspectos
relevantes em outros locais do mundo que possuem atividades de slum tourism populares,
como África do Sul e Índia.
É importante dar continuidade a estudos deste gênero, pois conforme apontam Coelho,
Freire-Medeiros e Monteiro (2013), a cidade do Rio de Janeiro, turística por natureza, não
pode mais ignorar a existência do turismo em favelas, segmento do turismo que desperta
interesse concreto em seus habitantes.
Por meio do turismo a favela passa a ser reconhecida de forma mais positiva. O turista
que vem ao Rio de Janeiro, ao perceber as favelas como parte da cidade, pode entender muito
mais sobre a história do Brasil do que visitando apenas seus cartões-postais. (RODRIGUES,
2014) (COELHO; FREIRE-MEDEIROS; MONTEIRO, 2013)
Com a chegada das UPPs, as favelas se integraram ainda mais ao cotidiano da cidade
e suas vielas tornaram-se pontos de fácil acesso publico.. É importante que se preocupe em
investir no bem estar de turistas e moradores, do morro e do asfalto, permitindo a integração
dos espaços antes segregados. O turismo pode trazer oportunidade positivas para todos, desde
que sejam respeitados os impactos sociais da atividade.
119
REFERÊNCIAS:
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Travel Research28(3), pp. 40-45..
CARVALHO, F. C.; SILVA, F. D., 2012.Turismo e favela: um estudo sobre a Favela Santa
Marta e o papel das Unidades de Polícia Pacificadora no Rio de Janeiro. Cadernos do
PROARQ , Rio de Janeiro - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de
arquitetura e Urbanismo, Programa de Pós-graduação em Arquitetura – Ano 1 (1997) n. 19,
dezembro 2012
FABRINO, N. H.: Turismo de base comunitária: dos conceitos às práticas e das práticas aos
conceitos: Dissertação de Mestrado. Centro de Desenvolvimento Sustentável. Universidade de
Brasília, Brasília 2013.
FREITAS, Henrique; Oliveira, Mirian; Saccol, Amarlinda Zanela; Moscarola, Jean. Revista
de Administração, São Paulo v.35, n.3, p. 105-112, julho/setembro 2000
HAIR JR et al., Joseph F Hair Jr ... [et al. ] ; tradução Adonai Schulp Sant”aAnna. – 6. Ed –
Porto Alegre ;Bookman, 2009
KLEPSCH, Linda. A critical analysis of slum tours: Comparing the existing offer in South
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Libre De Bruxelles - Institut De Gestion De L”Environnement Et D”Amenagement Du
Territoire - Faculte Des Sciences, 2010
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ed. São Paulo, Studio Nobel.
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CEJAS, Mónica Inés. Tourism in shantytowns and slums: a new "contact zone” in the era of
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<http://www.uri.edu/iaics/content/2006v15n2/20%20M%A8%AEnica%20In%A8%A6s%20
Cejas.pdf>. Acesso em: 20/01/2015.
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http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/rj/institucional/Empreendedorismo-em-
%C3%A1reas-pacificadas?codUf=20. Acesso em: 05/03/2015.
SEBRAE SETORIAL (2015) – Guia ajuda turista a explorar favelas cariocas. Sebrae
Inteligencia Setoria. 09/01/2015. Disponível em:
https://www.sebraeinteligenciasetorial.com.br/produtos/noticias-de-impacto/guia-ajuda-
turista-a-explorar-favelas-cariocas/54b006b7d371b27a00cdbbdb. Acesso em: 05/03/2015.
TORRES, ROCHA E SERRA (2015) - Policiais deixam UPPs Parque Proletário por medo de
tiros. Extra. 28/03/2015. Disponível em: http://extra.globo.com/casos-de-policia/policiais-
deixam-upp-parque-proletario-por-medo-de-tiros-15724935.html. Acesso em: 23/04/2015.
123
APÊNDICE A
Indique três palavras que vêm à sua mente quando você pensa em ‘Turismo em Favelas’:
1 - ________________________ 2 -________________________ 3 - ________________________
Perguntas Filtro
1 Você vive no Rio de Janeiro? 4 Caso não viva no Rio de Janeiro, qual é o seu
[ ] 1. Sim local de origem?
[ ] 2. Não (Vá para pergunta 4)
[ ] 1. Brasil
2 Você mora em uma favela? [ ] 2. América do Sul
[ ] 1. Sim (Vá para o próximo quadro) [ ] 3. América do Norte/América Central
[ ] 2. Não [ ] 4. Europa
[ ] 5. Ásia
3 Caso não more em uma favela, você já [ ] 6. África
realizou uma visita turística a estes locais? [ ] 7. Oceania
[ ] 1. Sim
[ ] 2. Não
1 2 3 4 5
Investimentos do setor público em segurança são fundamentais para o turismo
em favelas no Rio de Janeiro.
O turismo traz vantagens econômicas para as favelas e empreendedores locais,
como a geração de empregos e renda.
O turismo possibilita trocas culturais entre os turistas e os moradores locais.
Projetos sociais e ONGs locais deveriam ser beneficiados em função das visitas
turísticas.
A interação que ocorre entre os moradores das favelas e os turistas é positiva.
Por meio do turismo em favelas podem ser descobertas diferentes expressões
culturais na cidade.
O turismo em favelas pode contribuir com o desenvolvimento social local através
da organização de seus moradores.
O turismo traz desvantagens econômicas para as favelas, como aumento do custo
de vida e especulação imobiliária.
Investimentos do setor público em projetos socioculturais e de infraestrutura
podem contribuir com o desenvolvimento do turismo em favelas.
124
Considerando as afirmações a seguir, responda de acordo com suas impressões sobre o que leva
os visitantes a praticar o turismo em favelas, sendo:
1 = Discordo Totalmente; 2 = Discordo Parcialmente; 3 = Não concordo, nem discordo;
4 = Concordo Parcialmente; 5 = Concordo Totalmente
1 2 3 4 5
Curiosidade em ver um modo de vida diferente.
Ver o cenário, as vielas e a vista da cidade que se tem em uma favela.
Pensar que a visita retrata a vida na favela de forma autêntica.
Vontade de compartilhar a experiência com sua família e seus amigos depois.
Pensar que um passeio pelas favelas é uma experiência única e inesquecível.
Vontade de contribuir para o bem-estar dos moradores das favelas.
Ver o contraste entre o lado rico e o lado pobre do Rio de Janeiro.
Fugir um pouco dos passeios mais tradicionais da cidade.
Ver de perto as controvérsias de uma favela.
Acredito que depois do passeio os turistas fiquem mais interessados sobre a vida
das pessoas que passam necessidade e procurem entender melhor sobre as
condições que elas vivem.
Mudar a imagem negativa das favelas que as pessoas têm em mente.
Pensar que o passeio é divertido e emocionante.
Curiosidade para saber como é sua própria vida em comparação com a de
moradores da favela.
Vontade de interagir com os moradores das favelas.
Ver a favela que somente conhecia através de filmes e livros.
A vida na favela parecer mais autêntica e genuína do que a vida na cidade.
Vontade de valorizar mais a própria vida após a visita.
Ver um tipo diferente de pobreza.
Curiosidade depois de conhecer o turismo em favelas através de diversas mídias.
Fugir um pouco da vida na cidade.
Experimentar a vida em um ambiente de extrema pobreza.
Dentre as opções abaixo, identifique os três serviços que você considera mais atrativos em uma
visita à favela:
Muito Obrigado!