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Apontamentos sobre uma prática de mediação comunitária coletiva

Antônio Eduardo Silva Nicácio1

Sumário: 1. Um pouco da história; 2. Aspectos da metodologia; 2.1 Discussão de casos; 2.2


Coletivização de demandas; 2.3 Organização e mobilização social; 2.3.1 Levantamento de
reivindicações, demandas e propostas da comunidade; 2.3.2 Mapeamento e articulação das
lideranças comunitárias; 2.3.3 Realização de mutirões e eventos; 2.4 Assessoria aos
movimentos sociais e comunitários; 2.4.1 Orientação sociojurídica e encaminhamento de casos;
2.4.2 Produção de conteúdo e de instrumentos de reivindicação popular; 2.4.3 Divulgação das
ações da comunidade; 2.5 Fortalecimento e criação de redes de proteção; 2.5.1 Identificação e
realização de parcerias e apoiadores; 2.5.2 Articulação das entidades comunitárias e instituições
parceiras apoiadoras; 2.5.3 Participações em comissões e instâncias de participação popular; 3.
Conclusão; 4. Bibliografia.

Muito se tem discutido sobre as diversas teorias que norteiam as múltiplas práticas
de mediação em nossa sociedade. Pode-se dizer que já se avançou bastante na descrição
e teorização das ações de mediação numa perspectiva individual. Aliás, a grande
maioria das experiências consolidadas no país diz respeito a esse tipo de mediação. No
entanto, ainda são muito escassas tanto as experiências quanto as teorizações sobre a
perspectiva coletiva da mediação. Neste contexto, a experiência de extensão, ensino e
pesquisa do Programa Polos de Cidadania da Faculdade de Direito da UFMG mostra-se
riquíssima.

1. Um pouco da história

Desde 1998, o Polos vem se destacando no desenvolvimento de ações permanentes


de mediações individuais e coletivas. Tal experiência surge da junção de duas
atividades. Uma realizada dentro da Coordenadoria de Direitos Humanos e Cidadania
da Prefeitura de Belo Horizonte (CDHC-BH) e outra nas ruas, becos e associações do
Morro do Papagaio em BH.

1
Mestre em Filosofia do Direito pela Faculdade de Direito da UFMG. Atualmente, coordenador de
Projetos do Programa Polos de Cidadania da UFMG.
1
A partir de uma parceria institucional do Programa Polos de Cidadania, nos idos de
1998, com a CDHC-BH, um intercâmbio e uma cooperação mútua entre os integrantes
desses dois projetos foram estabelecidos, o que viabilizou uma melhor estruturação da
referida coordenadoria e uma maior institucionalização e expansão das atividades desse
programa de pesquisa e extensão.

No âmbito da CDHC-BH, vários grupos de estudos e atendimentos foram realizados


visando ao desenvolvimento de um modo diferenciado de abordar e cuidar dos conflitos
apresentados por moradores diversos da cidade. Muitos casos, inclusive, eram violações
severas de direitos humanos. Essa coordenadoria era sediada no hipercentro de Belo
Horizonte, Rua Tamoios, 666. Como brincavam os estagiários polossauros2 da época:
“o número da besta!”. Diante da dificuldade dos usuários em acessar o prédio da
coordenadoria e também da percepção de uma descontextualização do trabalho na
própria cidade, criou-se a ideia da descentralização dos serviços realizados nesse
espaço.

Esse seria o gérmen do primeiro Núcleo de Mediação e Cidadania (NMC)3 entre


inúmeros que se espalharam com o passar dos anos por Belo Horizonte, Região
Metropolitana e interior de Minas Gerais.

A região escolhida para receber o projeto piloto dessa ação foi a Zona Norte de Belo
Horizonte. Nesse momento, todas as frentes de trabalho do então “Projeto Polos
Reprodutores de Cidadania”4 foram mobilizadas para realizar um diagnóstico sócio-
organizacional na referida região.

Ressalte-se que neste momento, o Polos era subdividido nas seguintes Frentes de
Trabalho: “População de Rua e Construção da Identidade Coletiva”; “Saúde Mental e

2
Expressão utilizada pelos integrantes do programa para carinhosamente designar os egressos do Polos.
3
O primeiro nome dado a essa ação de descentralização das atividades do Polos e da CDHC-BH foi
“Núcleo sociojurídico”, porém num curto prazo a nomenclatura foi modificada para “Núcleo de
Mediação e Cidadania”.
4
Há uma anedota de que a palavra “Reprodutores”, apesar de já contestada por muitos membros do
projeto, só foi oficialmente retirada do seu nome quando da realização de um trabalho de prevenção e
combate à exploração sexual infanto-juvenil no Vale do Jequitinhonha em Minas Gerais. Na região, o
Polos era recorrentemente confundido com um projeto de extensão da Faculdade de Veterinária da
UFMG que trabalhava com reprodução de cavalos garanhões (sic). Diante do constrangimento da
confusão, muitos relatam que essa teria sido a gota d’água da palavra “Reprodutores” no nome do projeto.
Antes disso, porém, teoricamente a expressão já era discutida, uma vez que apontava para uma prática
mecanicista de mera reprodução, diferente do que o projeto ideologicamente sempre concebeu.
2
Cidadania”; “Mulher e Direitos Humanos”; “Violência Policial e Direitos Humanos”;
“Trupe a Torto e a Direito5”; e “Organização Popular em Vilas e Favelas”.

O trabalho iniciado na Zona Norte de Belo Horizonte seria abarcado nessa última
frente, “Organização Popular em Vilas e Favelas”, que já desenvolvia atividades na
região Centro Sul de Belo Horizonte, mais especificamente no Morro do Papagaio.
Nesse aglomerado de favelas de BH, o atendimento individual, até então, não era
realizado, o foco do trabalho era a perspectiva de mediação comunitária coletiva, que
seria incorporada nas atividades do Núcleo em construção.

Após a realização do referido diagnóstico, inicialmente, a sede do Núcleo foi


implantada no Centro de Apoio Comunitário Providência (CAC Providência). Em
pouco tempo, esse Núcleo seria transferido para o Conjunto Felicidade, também na
Zona Norte da cidade, a convite de lideranças comunitárias da região.

Logo após a inauguração do Núcleo e início das atividades, a parceria do Programa


Polos com a CDHC-BH foi interrompida em decorrência de uma mudança política na
gestão do município de BH.

A partir daí, o Programa Polos de Cidadania passou a gerir o referido Núcleo de


maneira autônoma e independente, porém sem recursos. Durante mais de um ano,
profissionais e estagiários trabalharam voluntariamente para manter a iniciativa viva.
Tal esforço não foi em vão, afinal, como veremos, até hoje esse Núcleo encontra-se em
atividade atendendo a comunidade da região.

Durante o período em que o Núcleo de Mediação do Conjunto Felicidade foi


desenvolvido sem financiamento, várias tentativas de novas parcerias foram propostas.
Finalmente, em 2002, um convênio foi estabelecido entre o Programa Polos de
Cidadania, por intermédio da Fundação Guimarães Rosa, e a Secretaria Adjunta de
Direitos Humanos da, então, Secretaria de Justiça do Estado de Minas Gerais (hoje,
Secretaria de Defesa Social).

5
Na monografia “A torto e a direito – um ensaio para uma realidade” tive a oportunidade de escrever o
processo de criação, institucionalização e ampliação dessa importante frente do Polos (ou “vertente
teatral” como era chamada na época). Parte desse estudo pode ser consultada no capítulo “A torto e a
Direito: uma experiência teatral emancipadora”, publicado no livro “Cidadania e inclusão social: estudos
em homenagem à Professora Miracy Barbosa de Sousa Gustin”. Belo Horizonte: Fórum, 2008.

3
Tal convênio visava ao desenvolvimento dos Centros de Referência do Cidadão
(CRCs) nos Aglomerados Serra e Santa Lúcia (Morro do Papagaio). Os CRCs, a
princípio, foram pensados para agregar vários serviços no mesmo espaço (Defensorias,
Promotorias, Polícia Comunitária e o Núcleo de Mediação e Cidadania do Programa
Polos.). No entanto, de todas as instituições previstas apenas o Programa Polos e a
Polícia Militar efetivamente “subiram o Morro” nessa ocasião.

Novamente o Núcleo precursor já existente no Conjunto Felicidade ficou sem


financiamento, sendo que o Programa Polos de Cidadania e todos os seus integrantes
deram continuidade ao trabalho, de maneira autônoma e independente, mantendo o
trabalho ativo naquela região.

Em 2002, as equipes do Programa Polos de Cidadania voltaram a se mobilizar para


realizar um grande diagnóstico no Aglomerado Serra e para atualizar o diagnóstico feito
no Morro do Papagaio, uma vez que desde 1998 o Programa já atuava nessa região
junto à sociedade civil organizada.

Nos dois aglomerados, o Polos desenvolveu parcerias duradouras com instituições


locais. No Aglomerado Serra, a parceria foi feita com a Associação de Moradores da
Vila Santana do Cafezal, e, no Morro do Papagaio, a parceria foi estabelecida com a
Paróquia Nossa Senhora do Morro. Ambas as instituições têm cedido, desde então,
espaço físico para a realização das atividades dos Núcleos de Mediação e Cidadania do
Programa Polos.

Em 2005, um acordo entre o Programa Polos e a Secretaria de Defesa Social


(SEDS) do Estado de Minas Gerais viabilizou a ampliação dos Núcleos de Mediação e
Cidadania. Além dos três Núcleos já existentes, outros onze Núcleos foram criados em
várias regiões do Estado de Minas Gerais. Principalmente, na região metropolitana de
Minas Gerais.

Durante um ano e meio, a equipe técnica do Programa Polos de Cidadania ficou


responsável pela implementação, orientação, supervisão e acompanhamento dos
trabalhos desses 14 Núcleos. Na sequência, o Estado de Minas Gerais passou, por meio
do Instituto Elo, a gerir 12 desses Núcleos, inclusive, o precursor de todos eles, o
Núcleo do Conjunto Felicidade. Assim, a partir de 2007, esse Núcleo, mantido sem
financiamento próprio pelo Programa Polos durante vários anos, passou a ser financiado
4
e gerido pelo Estado de MG. Ao Polos coube a coordenação direta dos Núcleos de
Mediação e Cidadania dos Aglomerados Serra e Santa Lúcia (Morro do Papagaio).

De lá pra cá, a prática de mediação se consolidou como uma política de prevenção à


criminalidade do Estado de Minas Gerais, sendo que vários outros Núcleos de Mediação
de Conflitos (terminologia adotada pelo Estado a partir de então) foram criados.6 Por
outro lado, nesse período, o Programa Polos de Cidadania da UFMG pôde aprimorar e
desenvolver a sua metodologia de mediação comunitária, individual e coletiva.

Neste pequeno artigo, pretendo dar especial ênfase à perspectiva coletiva da


mediação realizada pelo Programa, uma vez que essa ainda carece de grande
sistematização teórica, apesar da importante e fundamental prática.

2. Aspectos da metodologia

O Polos de Cidadania é um programa que tem um compromisso histórico com a


efetivação dos direitos humanos, com o desenvolvimento da cidadania, com a realização
de práticas emancipadoras e com a “construção de conhecimento a partir do diálogo
entre os diferentes saberes7”. Isso certamente traz uma marca indelével para a
metodologia específica de mediação desenvolvida pelo Programa, especialmente, para a
perspectiva coletiva dessa ação.

Não estamos aqui diante de uma metodologia que se acredita neutra, ou até mesmo
imparcial. O trabalho do Polos, inclusive as suas mediações, é talhado por sua
orientação ideológica, pelo objetivo que motivou a sua fundação e ainda justifica a sua
existência.

Quando o Polos começou a desenvolver a sua metodologia de mediação, o que


norteava essa procura (e continua ainda norteando) não eram tão somente a exigência e
a possibilidade de resolver um determinado conflito. A mediação sempre foi um
instrumento pedagógico para o Polos. Nos dizeres da professora Miracy Gustin, pedra
fundamental do Programa, uma “pedagogia da emancipação” (GUSTIN, 2010). Ou seja,

6
Segundo site do Instituto Elo, responsável pela gestão dos Núcleos diretamente ligados ao Estado de
Minas Gerais, atualmente, os Núcleos estão instalados em 39 regiões de MG.
7
Objetivo literalmente retirado de apresentação institucional do Programa Polos de Cidadania (2014).
5
visa à emancipação dos participantes a partir de uma determinada situação, conflituosa
ou não. Uma estratégia para despertar em todos os envolvidos com a ação, dos
integrantes do Polos (estudantes, professores e técnicos) às pessoas diretamente
interessadas nos casos trabalhados, o aprendizado de uma maneira complexa e sensível
do ato de reconhecer o outro, com suas trajetórias, necessidades, anseios e limitações, e
nesse processo aprender a reconhecer as suas próprias potencialidades, fragilidades,
desejos, angústias e direitos. Nessa esteira, a mediação é entendida como um
instrumento para o desenvolvimento de intersubjetividades, intercompreensões e
autonomias.

Nos debates sobre a teoria do reconhecimento, é muito comum a constatação de que


não basta estudar o reconhecimento, mas ser preciso reconhecer. Do mesmo modo,
pode-se afirmar que a mediação deve ser uma prática cotidiana de reconhecimento.
Mais que uma teoria, a mediação é uma ética de reconhecimento para o cotidiano da
vida das pessoas, uma vez que o reconhecimento é de extrema importância para a
realização plena e satisfatória das pessoas e grupos sociais inteiros na sociedade.

A metodologia de mediação comunitária coletiva do Programa Polos sempre foi


pensada de maneira abrangente e multidimensional. Uma prática que favorece aos
participantes e as suas comunidades vivenciarem instantes de problematização,
conscientização, organização, mobilização, reivindicação e conquista de direitos.

Ela concerne, especialmente, aos interesses gerais, à coisa pública. Proporciona,


com frequência, o questionamento dos processos políticos, dos modos de governança
das questões sociais, dos monopólios institucionais, eleitorais e profissionais
(NICÁCIO, 2012).

Esse tipo de mediação põe em cheque a concepção de “interesse geral” como


monopólio do Estado, que passa agora a ser entendida como resultado de negociação
entre um conjunto de atores em deliberação.

A mediação comunitária coletiva cria canais para as iniciativas populares em face de


poderes públicos e empresas privadas. Muitas vezes leva ao aperfeiçoamento, revisão e
ou até mesmo veto na execução de determinado projeto. Ela evidencia um tipo de
inteligência coletiva, que não só deseja como necessita participar do processo de

6
construção das grandes decisões públicas, para, inclusive, atribuir maior confiança,
equidade e a aceitação a esses processos.

Algumas técnicas dessa metodologia merecem destaque especial, como: discussão


de casos, coletivização de demandas, organização e mobilização social, assessoria aos
movimentos sociais e comunitários, fortalecimento e criação de redes de proteção.

A seguir, analisarei alguns desses instrumentos utilizados pelo Programa Polos de


Cidadania.

2.1 Discussão de casos

Estratégia antiga e consolidada no Programa Polos, a “discussão de casos” é o


espaço de reflexão máxima, de entrega vertical ao trabalho e de construção e
desconstrução de teorias e planos de ação. É um momento mágico da ação em que toda
a equipe se orienta e se dedica, de maneira comprometida e cuidadosa, aos temas
comunitários.

Nessas reuniões, são discutidos tanto casos individuais quanto coletivos, e,


frequentemente, uma linha teórica sobre a questão posta pelos interessados é esboçada.
Ou seja, a prática é teorizada e o compromisso com as pessoas e comunidades
envolvidas é reafirmado. Independente da questão tratada, entende-se que há sempre
uma legitimidade em sua postulação. O pressuposto é que todos os envolvidos estão de
alguma forma sentidos com a questão, restando para equipe o desafio de orquestrar os
diversos interesses de maneira a implicar os envolvidos no processo de resolução do
conflito.

Nesse momento, as equipes de trabalho do Polos são guiadas basicamente por duas
perguntas. Primeiramente, questiona-se sobre o que seria melhor para a pessoa e a
comunidade que se apresentam. Segundo, questiona-se se a equipe de trabalho é
capacitada para auxiliar.

Deste modo, uma análise aprofundada do contexto em que a situação problemática


se insere é realizada, bem como é feita uma identificação dos grupos comunitários e
entes públicos e privados que estão envolvidos na questão.

7
A história do conflito é desenhada e diferentes perspectivas sobre o problema são
levantadas. Todas as informações já disponíveis e as expectativas de solução são
trazidas à tona.

A disposição para o diálogo com os demais interessados é também avaliada, bem


como a viabilidade do programa atuar como mediador. Se há, por exemplo,
aceitabilidade dessa participação por parte dos envolvidos e também se a equipe é
suficientemente preparada para atuar no caso específico. Aliás, o acompanhamento e a
orientação das equipes ocorrem de maneira suave, sutil e próxima nesse momento, onde
também as pessoas de referência para representar os grupos são identificadas.

Trata-se da primeira avaliação contingencial da demanda. Nesse ponto, todo o


esforço é para coletivamente se compreender o caso, num processo dialético de
desconstrução e reconstrução das narrativas. As equipes que tiveram contato direto com
a demanda expõem suas primeiras impressões e, a partir de amplo debate com toda a
equipe, os dados pertinentes ao caso são complementados e opções adequadas à
satisfação da demanda são levantadas.

Muitas vezes para o perfeito entendimento do caso é essencial a realização de


pesquisas variadas (documental, judicial, doutrinária, etc.). Desde uma simples
conferência de dados ou esclarecimentos com os envolvidos a aprofundamentos de
estudos sobre o tema, passando pela análise de documentos e processos.

É o momento das equipes discutirem as entrelinhas dos relatos, isto é, problematizar


as falas, levantar dúvidas e, até mesmo, fazer provocações sobre a questão.
Normalmente, após a discussão do caso há uma definição conjunta sobre o tratamento a
ser dado.

Como se trata de um espaço semanal permanente, todos os andamentos e novidades


dos casos trabalhados são informados e / ou problematizados, bem como é feita a
definição sobre os próximos passos do processo.

Trata-se a “discussão de casos” de um espaço nobre do trabalho do Polos. Por


excelência é o lugar da realização da interdisciplinaridade no cotidiano do programa.
Em volta da mesa de trabalho, estagiários e profissionais de diversas áreas do
conhecimento se confundem, fundem seus discursos, embaralham seus pontos de vistas

8
teóricos e, consequentemente, atuam para a geração de um conhecimento novo sobre o
caso atendido.

2.2 Coletivização de demandas

A técnica de coletivização de demandas é uma ferramenta importantíssima para a


criação e manutenção de laços permanentes e vivos entre as perspectivas individual e
coletiva da mediação.

Durante as reuniões semanais de “discussão de caso”, espaço nobre para o


desenvolvimento da mediação relatado logo acima, muitos casos novos que chegam até
o Polos, a princípio com enfoque individual, são problematizados pela equipe e
compreendidos como causas coletivas.

Uma senhora procura o Programa para reclamar que a rede de esgoto na sua casa
não está funcionando. No dito popular, sua “privada está amarrada”. Um senhor
reivindica iluminação para o seu beco, uma vez que a escuridão tem aumentado os atos
de violência e também causado acidentes. Um pai recorre ao Polos, pois não está
conseguindo vaga para o seu filho nas escolas da região. Um morador de rua relata aos
integrantes do programa que fiscais da prefeitura têm lhe assediado frequentemente
tomando-lhe seus pertencentes. Uma moradora de vilas e favelas indignada demanda
acompanhamento do Polos, pois recebeu uma notificação da prefeitura de que sua casa
será incluída em programa de reurbanização e será demolida.

Todos esses relatos têm em comum o altíssimo potencial de coletivização das


demandas apresentadas. Por mais que as situações elencadas afetem diretamente cada
uma das pessoas que procuram o programa, certamente, em todos esses casos, outras
tantas pessoas também são diretamente atingidas pela questão e podem ter interesse
genuíno em participar do processo de resolução desse problema coletivo.

Lembro-me, como se fosse hoje, de participar do atendimento de um caso no


primeiro núcleo descentralizado do Polos, ainda no CAC Providência do Bairro
Minaslândia em Belo Horizonte, que talvez tenha sido a primeira coletivização de
demandas realizada pelo programa.

9
Na época, entre 1999 e 2000, um senhor procurou o programa Polos com uma
notificação que acabara de receber da empresa Gasmig, informando que ele deveria sair
do seu barraco – e demoli-lo – em 48 horas. Segundo o comunicado, o barraco teria sido
construído numa faixa de servidão da Gasmig, sendo que embaixo da casa passava um
gasoduto. A situação ainda era mais grave, pois o barraco estava localizado literalmente
na beirada da MG-20, rodovia importante que liga Belo Horizonte a algumas cidades da
região metropolitana.

De maneira muito espontânea, algum dos técnicos que acompanhavam o


atendimento fez a pergunta chave que desde então é sempre repetida quando se está de
frente de um caso com esse potencial: “você conhece mais alguém que recebeu essa
notificação?”. De imediato o senhor respondeu que todos os moradores da vila
construída nas margens da referida MG-20 haviam recebido a notificação.

Nesse momento, talvez, era criada espontaneamente uma das principais técnicas de
coletivização de demandas do programa. A partir da percepção dos mediadores de que
aquele caso dizia respeito a toda uma coletividade, bastou uma pergunta – e ainda basta
quando da recorrência de casos com esse potencial – para que tal perspectiva coletiva se
evidenciasse.

A ação seguinte para efetivamente tornar a coletivização possível, foi perguntar ao


senhor que trouxe o caso até o Polos se ele julgava viável envolver os demais moradores
no procedimento de mediação que ali se iniciava. Diante da concordância do senhor, o
próprio se encarregou de marcar uma assembleia comunitária na região e convidar os
seus vizinhos. O agendamento do local – um bar de beira da estrada - também ficou por
conta desse senhor. É certo que o lugar não era o dos mais adequado 8, mas a iniciativa
já fazia do senhor uma das referências naturais daquele processo.

8
Representando o Programa Polos de Cidadania, fomos eu e o colega Onésio Amaral, “polossauro”
emblemático, hoje procurador regional da república. Essa certamente foi uma das experiências mais
marcantes e exóticas que vivi no Polos. Como muitos moradores compareceram à reunião e o bar era
extremamente pequeno, o encontro ocorreu entre o bar e a rodovia que o contornava. Quando passava
algum caminhão ou carro mais apressado, tínhamos que suspender rapidamente a conversa para todos
correrem para junto das paredes do bar. Ali a gente se espremia como dava. Não sei se o meu espanto era
maior pelo perigo que todos estavam submetidos, ou pela naturalidade que aquelas pessoas lidavam com
aquele alto risco já suplantado em suas vidas. Era o farol de o caminhão apontar na curva da estrada,
alguém gritar “caminhão”, e todos se juntarem em silêncio. Logo o fio da meada era retomado com
naturalidade me deixando meio assustado e mais ainda realizado de participar daquele momento.
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Essa estratégia também é utilizada até os dias de hoje pelo Programa. Sempre que a
equipe e os mediandos chegam à constatação de que determinado caso é de interesse de
todo um coletivo (beco, bairro, rua, vila, escola, etc.), os mediadores já estimulam,
desde o primeiro contato, o envolvimento das pessoas responsáveis por apresentar a
demanda em coletivizá-las.

O desdobrar do caso dos moradores da MG-20, como ele foi chamado durante
algum tempo, contarei aos poucos no decorrer desse pequeno texto, porém cabe
salientar que essas duas ações narradas (constatação da perspectiva coletiva e
envolvimento dos demais interessados) já foram suficientes para se criar uma
consciência coletiva do conflito, antes entendido e tratado como um problema
específico de cada família, e abrir caminhos para o início de um processo de cooperação
e de diálogo.

Uma das marcas principais da mediação é a simplicidade, tanto dos procedimentos


quanto da linguagem. Alguns podem ser levados por isso a pensar que se trata de uma
não-técnica, ou de uma técnica primária, menor. O que temos visto, porém, nesses 15
anos de trabalho com essa metodologia é que a mediação é uma arte minimalista, onde
pequenos gestos são capazes de revelar inúmeras possibilidades.

2.3 Organização e mobilização social

A mediação comunitária coletiva é compreendida pelo Polos como um instrumento


de transformação social, que estimula as pessoas e comunidades a se envolverem e se
responsabilizarem na construção de uma solução adequada para os conflitos sociais.
Nesse contexto, a mediação comunitária coletiva tem como ferramenta fundamental a
organização e a mobilização social, entendidas como instrumentos de emancipação
social, de fortalecimento dos laços comunitários e de criação e restauração de redes de
comunicação e cooperação entre a diversidade de atores sociais.

Ao estimular o diálogo, a criatividade e a intercompreensão, a mediação comunitária


coletiva credita bastante importância à organização e mobilização social no intuito de a
própria comunidade criar condições para, com o apoio de entidades e apoiadores,
realizar uma busca efetiva da satisfação dos seus interesses e necessidades.

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Desse modo, procura-se estimular ao máximo a participação voluntária e coletiva
dos membros de determinada comunidade, para que esta seja fortalecida em possíveis
relações com o Estado e empresas privadas que tenham interesse em sua região.

O processo de organização e mobilização social deve estimular a formação de


consciências cívicas e a educação para uma vida pública saudável. A mediação deve
fomentar a confiança, a solidariedade e a reciprocidade entre os membros de uma
comunidade e propiciar o percurso de um caminho que vá do interesse próprio a um
interesse mais genérico. A organização e a mobilização social propiciam a uma
comunidade encarar determinados desafios que, dificilmente, uma pessoa isolada
conseguiria atingir.

A seguir, veremos algumas atividades que o Programa Polos utiliza para realização
de organização e de mobilização social.

2.3.1 Levantamento de reivindicações, demandas e propostas da comunidade

Vimos que a “discussão de casos” é um espaço importante para a coletivização de


demandas, porém outras ferramentas são utilizadas também para viabilizar que as
reivindicações, demandas e propostas da comunidade sejam feitas e, principalmente,
ganhem ressonância pública e despertem o interesse das pessoas.
O Polos, por ser também um programa de pesquisa, realiza com habitualidade
levantamentos formais e informais de questões pertinentes às comunidades trabalhadas.
Essas atividades com frequência são realizadas a partir da provocação de moradores e
entidades apoiadoras, e tentam, sempre que viável, seguir a perspectiva da metodologia
da pesquisa-ação. Isto é, os moradores e demais envolvidos devem ser convidados a
participar em todos os processos de realização da ação. Desde a sua concepção,
passando pela construção e aplicação dos instrumentos de pesquisa, a análise dos dados
obtidos.
O resultado desses estudos é importantíssimo para balizar outros momentos da
mediação comunitária coletiva, como a sensibilização dos demais moradores
interessados e ainda não envolvidos com a mediação, e também para fundamentar a
reivindicação formal de determinadas demandas.

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Desse modo, pode-se concluir que o processo de escuta dos anseios comunitários se
dá de três modos: a partir dos atendimentos individuais e, principalmente, de sua
coletivização; por meio da prática desses instrumentos de pesquisa; e, ainda, de maneira
informal no dia a dia de uma comunidade.
Essa última forma de coleta informal de demandas é muito praticada pelas equipes
do Polos. Nas diversas reuniões comunitárias, no ponto de ônibus, tomando um café na
padaria, conversando com algum morador do aglomerado, realizando uma visita para
auxiliar num caso específico ou participando de algum evento da comunidade. Sempre é
possível surgir em um desses momentos uma nova demanda crucial para determinada
comunidade.
O Programa Polos considera que essa estratégia faz parte de um processo amplo de
mediação comunitária coletiva, pois possibilita que as equipes auxiliem os moradores
interessados a encontrar seus verdadeiros interesses e a desenvolver uma forma de
preservá-los em um possível acordo criativo. Essa escuta também é parte fundamental
para o momento de construção conjunta de uma solução mutuamente aceitável, sem
imposições de sentença ou laudos. Por fim, entende-se que os diversos aspectos de uma
determinada situação problemática (inclusive, os possíveis aspectos positivos) podem
ser conhecidos, trabalhados e valorizados durante a realização de toda a mediação
comunitária coletiva.

2.3.2 Mapeamento e articulação das lideranças comunitárias

Outra técnica bastante utilizada pelo Programa Polos num processo de mediação
comunitária coletiva para propiciar a organização e mobilização social é a realização de
mapeamentos e articulações de lideranças.

Para a feitura desses mapeamentos, o Polos lança mão das metodologias especificas
de diagnósticos sócio-organizacionais ou de cartografias sociais. Independente da
metodologia eleita para determinada situação, espera-se sempre que a feitura do
trabalho siga a perspectiva da pesquisa-ação. Isto é, que a comunidade seja chamada a
participar em todas as etapas do trabalho.

Esses mapeamentos devem gerar, além da identificação das lideranças históricas e


ativas, testemunhas chaves e referências comunitárias importantes, um desenho da
política interna das comunidades, da forma como essas figuras relacionam entre si.
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Compreender o fluxo de comunicação e cooperação entre essas lideranças, identificando
os possíveis ruídos entre os diversos atores, mas também as potencialidades de
interação.

Não só o resultado desses mapeamentos, como o seu processo de realização,


poderão auxiliar na articulação dos diversos atores identificados na ação. Algumas
vezes o estudo realizado identifica já haver forte interação entre tais figuras, mas, com
muita frequência, é constatada uma total desarticulação – e até mesmo hostilidade –
entre essas referências comunitárias. Nesse ponto, um dos desafios do trabalho é
estabelecer uma comunicação inexistente ou perturbada entre essas pessoas, bem como
com as entidades apoiadoras e as demais instituições envolvidas, como veremos mais
adiante.

Desse modo, o processo de articulação se apresenta como uma possibilidade para a


criação e reconstrução de laços sociais internos na comunidade, por meio do auxílio aos
envolvidos para resgatarem o diálogo perdido no tempo. Por este motivo que a
mediação não deve ser nunca compreendida como algo estanque, limitado a pessoas
determinadas e a um tempo específico. São inúmeras as mediações. Em um processo,
por exemplo, de reivindicação do direito à moradia numa determinada favela certamente
ocorrerão várias mediações. Entre os envolvidos, as lideranças, os apoiadores, o poder
público, as possíveis empresas interessadas, etc. As equipes que se dispuserem a realizar
um trabalho dessa natureza têm que estar atentas a essa abertura e saber transformar a
fluidez desse processo numa premência concreta e pontual de intervenção.

Em última instância, os mapeamentos e as articulações comunitárias podem


contribuir para o desenvolvimento do sentimento de pertencimento ampliado a
determinada comunidade e o reconhecimento da relevância da diversidade de atores
envolvidos. O desenvolvimento do respeito do outro como um próximo, como sua
alteridade expandida e o respeito a sua própria vulnerabilidade e autonomia, como a do
próximo.

Essas atividades têm o condão de gerar ainda o desenvolvimento do sentimento de


envolvimento e solidariedade, como contraponto à lógica individualista. Entendendo a
solidariedade como um imperativo moral dos nossos tempos. Um ato de respeitar a si
mesmo e os demais integrantes de sua comunidade política e de outras comunidades

14
éticas que não a sua. Por fim, essas práticas pleiteiam a urgência de se estimular o
envolvimento sustentável de todos os membros de uma comunidade política com os
rumos e princípios da mesma, como contraponto indispensável à procura incessante
pelo desenvolvimento econômico de uma nação.

2.3.3 Realização de mutirões e eventos

Muitas vezes o sentimento de injustiça de uma comunidade não é suficiente para pôr
em prática processos de transformação social, sendo, nesses casos, primordial a
articulação política de uma comunidade.
Para potencializar a mobilização popular em torno de temas de interesse da
comunidade e incrementar a organização social de uma região, outras duas ferramentas
adotadas pelo Programa Polos são a realização de mutirões comunitários e de eventos
ligados à proteção e educação de Direitos Humanos e promoção da cidadania.
Esses mutirões são sempre produzidos de maneira colaborativa e concebidos a partir
de uma imprescindibilidade. Trata-se de uma estratégia utilizada em momentos
específicos. Diante de uma ameaça de despejo, da precisão de se fazer um levantamento
urgente para responder a algum requisito formal de processos que envolvam a
comunidade, de um conflito eminente para ocorrer, enfim de algo pontual que terá a
chama de gerar um envolvimento e um engajamento forte de toda a equipe, apoiadores e
moradores na causa.
É importante ter isso claro, para que iniciativas de mutirão não sejam lançadas sem
forte adesão popular. Quando isso ocorre acaba enfraquecendo a efetividade do
instrumento.
Observação semelhante pode ser feita com relação à realização de eventos ligados à
proteção e educação de Direitos Humanos e promoção da cidadania, como cursos,
seminários, rodas de conversa, semanas culturais, etc.
Jamais esses eventos devem ser propostos sem a ampla adesão ou, principalmente,
sem a participação direta da comunidade. Aliás, o ideal é que esses eventos sejam
sugeridos diretamente por moradores, ou depreendidos de observação direta e recorrente
de necessidades dessa comunidade.
Não há situação mais frustrante do que um evento totalmente esvaziado por falta de
interesse efetivo dos moradores. Para que isso não ocorra, é preciso pensar inúmeras
15
vezes antes de levar adiante a produção de um evento desse tipo. E envolver ao máximo
a comunidade diretamente interessada que deverá ter suscitado a realização do mesmo.

2.4 Assessoria aos movimentos comunitários e sociais.

Quando há um desequilíbrio social, econômico e cultural muito grande nas relações,


é sempre inevitável pensar na viabilidade de pôr em marcha um processo de mediação
comunitária coletiva.
Para tanto, outra ferramenta crucial utilizada pelo Programa Polos nesse processo é
a assessoria aos movimentos comunitários e sociais. Essa assessoria é levada adiante
pelo Polos, principalmente por meio da realização de três instrumentos: a orientação
sociojurídica e o encaminhamento de casos, a produção de conteúdo e de instrumentos
de reivindicação popular e a divulgação das ações da comunidade.

2.4.1 Orientação sociojurídica e encaminhamento de casos

Um instrumento valioso no contexto da mediação comunitária coletiva é a


“orientação sociojurídica”. Não raro, as equipes de trabalho do Programa Polos são
chamadas a prestar orientações aos envolvidos no processo de medição. Essas
orientações são fundamentais para auxiliar na prevenção e na resolução não adversarial,
extrajudicial e pacífica de conflitos.

Essas orientações são feitas em momentos variados da mediação, sendo que sempre
os assuntos temas das orientações são amplamente discutidos por toda a equipe na
reunião de discussão de casos. Nesse espaço, as informações mais adequadas a serem
prestadas são levantadas e, dependendo da precisão, pesquisas mais aprofundadas são
feitas para que os esclarecimentos sejam feitos de maneira adequada.

Às vezes, somente orientar não é suficiente, sendo inevitável a realização de


encaminhamentos para outras instituições competentes para lidar com a demanda
específica. Esses encaminhamentos são feitos tanto formalmente quanto de forma
informal. De todo modo, é importante assegurar a efetividade do encaminhamento.
Não se deve esquecer que as equipes de trabalho do Polos desenvolvem trabalhos
em espaços de vulnerabilidade social e que as pessoas, inúmeras vezes, não têm
condições suficientes para a procura de órgãos/entidades que não se localizam em seu
16
próprio entorno. Assim após um período máximo de 30 dias, as equipes checam os
desdobramentos do problema seguindo as informações prestadas para eventual retorno
ou inclusão do caso em banco de dados próprio do Polos.
Em alguns casos extremos, é indispensável realizar o acompanhamento direto dos
envolvidos. São situações limites em que apenas a orientação ou o encaminhamento
são insuficientes, restando às equipes executarem esse tipo de ação direta, sob o risco de
perda total de algum direito.

2.4.2 Produção de conteúdo e de instrumentos de reivindicação popular

De relatórios de pesquisa a pareceres técnicos, passando pelo auxílio na elaboração


de estatutos, ofícios institucionais, notas públicas, cartas de repúdio, ou, até mesmo,
produção de documentários9, programas de rádio10, cartilhas, jornais, revistas, cartazes,
folders, faixas e banners, a equipe do Programa Polos se mostra incansável no ofício de
colaborar para a produção de conteúdo e de instrumentos de reivindicação popular.
Essa ação, como a maioria das atividades do Programa, surge de uma necessidade
concreta e de uma demanda certeira da comunidade. É um viés do trabalho que
demonstra muito a relação de proximidade, compromisso e de intimidade com as causas
trabalhadas que as equipes desenvolvem. Não interessa se é um advogado, um
psicólogo, ou um estudante de algum dos cursos que o Programa acolhe, diante dessas
demandas todos são chamados a participar de alguma maneira.
Essa ação é justificada num processo de mediação comunitária coletiva, pois é
frequente haver um descompasso muito grande entre as partes envolvidas numa questão
coletiva. Para que a mediação seja viável nesses casos cabe à equipe perceber essa
defasagem e tentar equilibrar um pouco a relação de forças nesse processo. Daí a
inevitabilidade dessa e de outras assessorias diretas aos movimentos, pois é certo que do

9
No canal do Programa Polos de Cidadania no Youtube vários vídeos produzidos pelo Programa
podem ser livremente acessados. Destaque para o documentário “Uma avenida em meu quintal”. Dirigido
por Frederico Triani e Samira Motta, o documentário é resultado de uma ampla pesquisa, coordenada por
Antônio Eduardo Silva Nicácio e Márcio Túlio Viana e financiada pelo CNPq, sobre o efeito do programa
Vila Viva na dimensão socioeconômica dos moradores do Aglomerado Serra de Belo Horizonte.
10
O primeiro programa de rádio desenvolvido pelo Programa Polos de Cidadania foi na extinta rádio
comunitária “União”, sediada no Morro do Papagaio, que se chamava “Morro Legal”. De lá pra cá,
inúmeros outros programas foram produzidos pelo Polos como o “Fala Comunidade!” que durante anos
foi ao ar na rádio comunitária “A voz da comunidade” sediada no Aglomerado Serra. Também no
Aglomerado Serra, o Polos desenvolveu um programa chamado “Fala Periferia!” na rádio “A voz da
periferia”. Por fim, o Polos atuou com programas de rádio junto a População de Rua, num programa da
Rádio Elo chamado “Fala Rua!”.
17
outro lado da mesa procuradores e advogados estarão muito bem preparados para
defender os seus clientes.

2.4.3 Divulgação das ações da comunidade

No intuito de auxiliar no processo de organização e mobilização social, fundamental


para a viabilidade de uma mediação comunitária coletiva, as equipes do Polos sempre
ficam atentas à exigência de ampliar a divulgação das ações comunitárias realizadas,
tanto para os próprios moradores como para toda a coletividade. São variados os tipos
de assessorias. Na internet, com a criação, manutenção e produção de conteúdo para
páginas e perfis das redes sociais, blogs e sites das causas trabalhadas na mediação. Na
imprensa em geral, com a formulação e distribuição de press kits com releases, fotos,
vídeos e breves relatórios. E também no corpo a corpo nas comunidades. Distribuindo
convites para reuniões, assembleias e eventos em geral. Indo de casa em casa para
convocar para algum mutirão. Enfim, trata-se de um trabalho de alta dedicação visando
contribuir para que determinada comunidade se articule cada vez mais e possa se
fortalecer diante do processo de mediação comunitária coletiva em curso.

2.5 Fortalecimento e criação de redes de proteção

Outra ferramenta preciosa nesse tipo de mediação é o fortalecimento e a construção


das redes de proteção aos Direitos Humanos, atividade indispensável em regiões de
vulnerabilidade social. Nessas condições, não se observa a realização dos direitos
plenos nem a atuação das instituições responsáveis por efetivá-los, além do pouco
acesso às leis e seus mecanismos. Sendo assim, a construção de redes proporciona uma
participação mais ampla dentro dessas zonas, onde é possível atender às diversas
demandas.

Essa ação é subdividida operacionalmente em três vertentes. São elas: identificação


e realização de parcerias e apoiadores, articulação das entidades comunitárias e
instituições parceiras apoiadoras e participações em comissões e instâncias de
participação popular.

18
2.5.1 Identificação e realização de parcerias e apoiadores

Para que determinadas comunidades possam participar de um processo de mediação


comunitária coletiva com chances reais de conquista de direitos, em muitos casos é
necessária a realização de parcerias e apoios. As entidades parceiras e apoiadoras de
uma comunidade normalmente são identificadas por meio de diagnósticos,
levantamentos formais e informais ou ainda em inúmeras reuniões realizadas visando ao
reconhecimento, organização e desenvolvimento das demandas comunitárias.

Esse cultivar e celebrar parcerias devem ser um fazer constante e a qualquer


momento da mediação. O pano de fundo dessa ação é a necessidade e a vontade de
convergir os interesses diversos presentes em uma comunidade em prol da proteção de
determinada causa ou coletividade.

O Programa Polos de Cidadania, por exemplo, tem, atualmente, como parceiros e


apoiadores várias instituições públicas e privadas, tais como: CRAS Vila Marçola,
CRAS Vila Fátima, Defensoria Publica do Estado, Defensoria Publica da União, Núcleo
de Pratica Jurídica da Faculdade Izabela Hendrix, Núcleo de Pratica Jurídica da
Faculdade Una, Núcleo de Pratica Jurídica da Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais, Pai PJ, Ministério Público Estadual, Ministério Público Federal,
Associação de Moradores da Vila Cafezal – Aglomerado Serra, Paróquia Nossa Senhora
do Morro – Aglomerado Santa Lúcia, Postos de Saúde da Comunidade da Serra, Morar
de Outras Maneira e Programa Cidade e Alteridade.

O grande desafio para a feitura dessas parcerias é a superação das possíveis


diferenças e, até mesmo, rusgas, entre entidades e grupos específicos de uma
determinada região. Às vezes, para que essa parceria seja efetivamente viável é preciso
realizar uma mediação própria entre esses grupos.

No processo de reivindicação popular para a revisão do projeto de urbanização de


vilas e favelas da prefeitura de Belo Horizonte no Morro do Papagaio, o chamado Vila
Viva, em muitos momentos a equipe do Polos teve que realizar mediações internas entre
as várias lideranças e entidades do Morro para tentar dirimir as diferenças existentes
entre elas e poder alcançar um caminho de acordos (mesmo que mínimos).

19
Nesses momentos, diversos encontros foram feitos entre essas figuras centrais para
o processo sob a condução do Polos. Clima tenso e ameaças recíprocas marcaram as
mediações iniciais. Nesse caso, devido à alta tensão entre os participantes os encontros
foram realizados na sede Programa Polos de Cidadania na Faculdade de Direito da
UFMG e não no próprio Aglomerado. Havia certo receio entre as lideranças de que se
essa tentativa fosse feita no Morro do Papagaio o desgaste já existente entre elas poderia
ser agravado. Assim, optou-se por um lugar supostamente mais austero.

Nos encontros, após uma breve explicação do formato da reunião por um


representante do Polos, uma ampulheta foi utilizada para marcar o tempo de fala de
cada participante. Pediu-se firmemente que as manifestações dos presentes não fossem
interrompidas, uma vez que todos teriam tempo para se expressar e também para
esclarecerem possíveis dúvidas.

No decorrer das mediações ficou evidente a mágoa e o ressentimento recíprocos


entre os grupos que há algum tempo já vinham se atacando e se deslegitimando. As
falas retratavam lideranças, que dedicam seu escasso tempo para causas coletivas,
sofridas pela falta de reconhecimento dos seus pares. No entanto, o momento dramático
de realização da obra suscitava de forma imperativa um acordo mínimo entre essas
lideranças para fazer frente à pressão imposta pelo poder público.

Depois do desabafo geral entre os presentes e também da constatação de que todos


traziam em si o sentimento de desrespeito e de dor, um protocolo de tratamento foi
sugerido pelos presentes. Alguns consensos com relação à obra da prefeitura também
foram estabelecidos, como, por exemplo, a urgência de redução do número de famílias a
ser removido forçadamente e também o imperativo de que a essas famílias fossem dada
a opção de nova moradia na própria região11.

11
Após inúmeras assembleias comunitárias e audiências públicas envolvendo expressiva parcela das
lideranças e entidades da região, bem como instituições apoiadoras, como o Ministério Público Federal e
a Defensoria Pública do Estado, um acordo foi firmado com representantes da prefeitura de Belo
Horizonte assegurando a redução das remoções, a construção das unidades habitacionais antes da abertura
e construção de vias e também a retirada de uma rede de fios de transmissão de energia elétrica da Cemig.
Parte dos moradores se mostrava contrária à construção da Via do Bicão, uma obra controversa
responsável por gerar muitas remoções e também por fugir do escopo da regularização fundiária proposto
pelo projeto Vila Viva e se filiar mais a uma política de articulação urbana da cidade, porém no processo
de mediação comunitária coletiva essa via acabou sendo aprovada pela a maioria dos participantes.
20
2.5.2 Articulação das entidades comunitárias e instituições parceiras apoiadoras

O trabalho de articulação das entidades comunitárias e instituições parceiras


apoiadoras também deve ser compreendido como uma atividade constante. Para realizar
essas articulações o Programa Polos lança mão de vários meios: telefonemas, ofícios, e-
mails, grupos de trabalho, eventos, reuniões, etc.
Essa articulação permite, entre outras coisas, o reconhecimento das diferenças
específicas dos grupos sociais minoritários, compreendido como o respeito aos
diversificados valores éticos presentes numa sociedade contemporânea complexa. Esse
processo possibilita também entender as especificidades de cada grupo social presente
numa determinada comunidade, suas dificuldades e habilidades para se fazerem
reconhecidos socialmente.
Nesse contexto, o respeito à heterogeneidade social passa a ser o desafio central de
uma comunidade política e jurídica. Isto é, respeitar a característica do ser múltiplo e ter
a consciência das diferenças que colocam pessoas e grupos sociais em situações de
desigualdade. Tal fluxo pode se tornar justificativa para um tratamento diferenciado que
viabilize a propalada “igualdade de direitos”.
Essa articulação proporciona também o desenvolvimento de condições para a
construção e a fruição de estima social e ética, compreendida como obrigação intrínseca
e causa de enriquecimento ético e moral para qualquer nação. Nesse ponto, o conceito
de alteridade, enquanto o respeito e a consideração pelos outros que nos constituem,
surge de maneira crucial para o desenvolvimento de autonomia ética, que pode ser
considerada como a capacidade de uma pessoa (ou comunidade) autodeterminar sua
vida com consciência.
Sempre que possível a articulação entre as entidades comunitárias e instituições
parceiras apoiadoras deve ser fomentada e valorizada. A equipe deve ter um
pensamento permanente de trabalho conjunto e colaborativo. Diante de uma tarefa, de
uma tomada de decisão, de uma reivindicação social, de um mutirão, de uma audiência
pública, etc., deve-se ter em mente a possibilidade e a precisão de se envolver o maior
número de atores interessados no processo mantendo acessa a chama da cooperação e
da participação social.

2.5.3 Participações em comissões e instâncias de participação popular


21
Essa última ação pode ser entendida como o auge de um processo de mediação
comunitária coletiva. Todo o trabalho de mobilização, organização, assessoria,
articulação e fortalecimento de redes descrito acima tem o seu momento máximo
quando do encontro dos atores sociais envolvidos, seja numa comissão, numa
assembleia ou numa audiência pública.

Ao trabalhar em comunidades socialmente vulneráveis, com acesso precário aos


serviços básicos e por violações recorrentes aos direitos humanos, o Polos visa à
“assunção de uma nova cultura fundada na possibilidade de participação ativa da
própria comunidade na solução de grande parte de seus problemas e conflitos”12.

Acredita-se que a participação fortalecida e contundente das comunidades nesses


espaços de diálogo atua para legitimar cada vez mais a luta dos seus moradores para a
efetivação dos direitos e garantias fundamentais e para a construção de uma democracia
plena e cotidiana.

Nesses momentos coletivos de mediação, podem participar, entre outros: Ministério


Público Estadual, Ministério Público Federal, Defensorias Públicas do Estado e da
União, representantes do Poder Executivo Competente, Poder Legislativo Competente
(quando for o caso), entidades representativas que atuam na questão, grupos não
organizados afetados pelo conflito, entes privados que tenham responsabilidade e / ou
interesses envolvidos no conflito.

O diálogo entre esses atores nem sempre é tranquilo. Muitos são os entraves que
dificultam a repercussão das temáticas trabalhadas num contexto social mais
abrangente. Inúmeros são os gestos de autoritarismo e de clientelismo por parte de
esferas do poder público e também de desmobilização e individualismo de determinados
grupos sociais. Todavia é inegável que a existência desses espaços tem favorecido uma
maior possibilidade de participação social. Nesses espaços, a população tem
reivindicado demandas genuinamente comunitárias, pressionado o Poder Público para a

12
Texto de apresentação do relatório mensal produzido pelo Programa Polos e enviado para a Secretaria
do Trabalho e do Desenvolvimento Social de Minas Gerais, uma das financiadoras das atividades do
Programa.
22
abertura e manutenção permanente do diálogo e também se informando constantemente
dos assuntos pertinentes àquela determinada comunidade.

É nesses momentos de participação popular que se pode conquistar o


desenvolvimento do sentimento de responsabilidade política e jurídica, premissa para
combater toda espécie de exclusão em uma sociedade. Todos os sujeitos e instituições
sociais envolvidas têm a possibilidade de reafirmar o compromisso que o cidadão
autônomo deve ter para com os rumos de sua comunidade política, enquanto
responsável por criar as regras jurídicas que regerão essa comunidade. Trata-se da
possibilidade concreta de exercício da “ética da responsabilidade”, elaborada por Weber
no intuito de superar a “ética da convicção” (SOUZA 2009, p. 92). Tal ética invoca um
sentimento de responsabilidade do sujeito - o problema não é só do governo - e das
instituições sociais com os seus atos, suas práticas e suas omissões.

Para tanto, a mediação aponta para o desenvolvimento do princípio da democracia


radical, uma vez que uma sociedade mais ou menos democrática é uma sociedade
injusta. Ela suscita o forte respeito às pretensões dos múltiplos sujeitos e grupos sociais,
considerando todas as suas expectativas importantes de serem debatidas e legitimadas
em uma comunidade política.

Desse modo a mediação favorece a criação de medidas de participação genuína e


representação efetiva, tanto no processo legislativo democrático, quanto na construção
das políticas públicas e na fruição dos seus resultados. A sua execução deve ser sensível
às especificidades de cada grupo social, garantindo, quando necessário, formas
diferenciadas de participação popular de acordo com as peculiaridades dos mais
variados grupos sociais. Essa participação é compreendida, nesse contexto, como uma
necessidade básica do indivíduo em comunidade. Por outro lado, ela possibilita a
discussão de formas de representação que sejam capazes de proporcionar a organização
e o equilíbrio de todo este pluralismo.

3. Conclusão

A experiência de mediação comunitária, tanto individual quanto coletiva, do


Programa Polos de Cidadania sinaliza a construção de uma Universidade engajada com

23
a justiça social, na esteira da tradição latino-americana do “Movimento de Córdoba”13.
O que vai ser ensinado ou pesquisado não é definido pelos pares acadêmicos ou pelo
pragmatismo, mas sim a partir de uma relação dialógica com toda a sociedade.

Nesse contexto, o Programa Polos tem trabalhado para a formação de militantes por
uma sociedade justa, democrática e comunicativa, isto é, para a construção de sujeitos
prontos para aprender, conhecer e questionar as formas e os conteúdos do conhecimento
acumulado. Isto é, “seres emancipados e mediadores de um conhecimento que se faz de
forma intercompreensiva” (GUSTIN, 2010, p. 59). Trata-se de uma ação libertadora
geradora de “saberes que se cooperam e que são constitutivos de autocompreensão”
(GUSTIN, 2010, p. 59). Uma experiência que proporciona aos envolvidos realizar
aprendizados teóricos de um conhecimento rico, vivo e produtivo em conexão direta
com a realidade do país.

Diante da premência de desenvolver instrumentos que consigam lidar com a


complexidade dos conflitos atuais é que o Polos desencadeou o processo de construção
e prática de sua metodologia de mediação comunitária. A pergunta norteadora da
experiência sempre foi o que poderia ser feito para acelerar e qualificar o processo de
resolução de conflitos.

A mediação é apenas um meio para determinados tipos de conflitos, pois as


possibilidades de atuação dentro do que chamamos resolução e transformação são muito
amplas. Não se deve querer colocar toda a complexidade de um conflito social num
funil que ele certamente irá entupir.

A escolha do tipo de intervenção deve ser feita sempre a partir de uma análise
contingencial que foca na pessoa, nas relações e no contexto do conflito, uma vez que
os mesmos não acontecem no vazio. Tem que se levar em conta a relação que vem por
trás (demandas submersas ou subjacentes), pois o conflito, completo e diverso, se dá na
relação. E não se pode resolver um conflito sem entendê-lo. Devemos deixar que os
conflitos nos ajudem, ao invés de nos sucumbirmos diante de sua existência.

13
Uma boa leitura sobre o tema é o livro “A História da Universidade” (RUBIÃO, 2013) resultado da
tese A “Universidade Participativa”. Uma análise a partir do Programa Pólos de Cidadania por
defendida André Rubião. Com o estudo o autor foi o vencedor ex-aqueo da 7ª edição do Prêmio CES.
24
É essencial ter em mente que os problemas podem ser judiciais, mas antes de
qualquer coisa eles são comunitários. São zonas inteiras, urbanas e rurais, de confronto
e violência. Nesses contextos, todos sofrem. Duas ou mais perspectivas sinceras e
sentidas. Temos que respeitar as necessidades e interesses dos envolvidos, sendo suave
com as pessoas e duros com os problemas.

Desse modo a mediação comunitária do Programa Polos se apresenta como uma


intervenção ou postura não autoritária visando prevenir e/ou resolver conflitos e criar ou
reconstruir laços relacionais, a partir do estabelecimento de uma comunicação
inexistente ou abalada que possibilite a construção conjunta de uma solução
mutuamente aceitável. Suas características fundamentais são:

a) cuidado com o laço social e interpessoal;

b) caráter dialogal;

c) espaço de debate amplo;

d) organização de trocas entre as pessoas e instituições;

e) foco nos aspectos positivos da situação-problema e nos verdadeiros interesses e


necessidades dos envolvidos.

Diante da constatação de que a formação da identidade – individual e coletiva - é


um processo de inter-relação subjetiva de luta pelo mutuo reconhecimento, acredita-se
que a mediação comunitária coletiva desenvolvida pelo Programa Polos de Cidadania
atue para o fortalecimento de contextos de reconhecimento que aspirem à estima ética,
ao respeito moral e jurídico e à responsabilidade política.

Uma mediação comunitária coletiva que não ocorre num momento ou num local
pré-definido, mas de maneira flexível, clara, concisa e simples no cotidiano das
comunidades brasileiras, atendendo à compreensão e à exigência do contexto para o
qual se volta.

25
4. Bibliografia

GUSTIN, Miracy Barbosa de. A metodologia da mediação. Belo Horizonte: Polos


de Cidadania, 2005.
GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa; LIMA, Paula Gabriela Mendes (Coord.).
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aplicadas no século XXI. Belo Horizonte: Fórum, 2010.
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(Org.). Cidadania e inclusão social: estudos em homenagem à Professora Miracy
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PEREIRA, Flávio Henrique Unes; DIAS, Maria Tereza Fonseca (Org.). Cidadania e
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RUBIÃO, André. História da Universidade. Coimbra: Almedina, 2013.


SOUZA, Jessé. A Ralé Brasileira – quem e como vive. Belo Horizonte: Editora
UFMG; Rio de Janeiro: IUPERJ, 2009.
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Coordenação de pesquisa: Antônio Eduardo Silva Nicácio e Márcio Túlio Viana. Belo
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VIANA, Márcio Túlio et al. Os efeitos do Vila Viva Serra na condição
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VIEIRA, Christiane do Valle et al. Mediação e mobilização comunitária na
implantação de políticas públicas. In: 7º Encontro Anual da ANDHEP: Direitos
Humanos, Democracia e Diversidade, Curitiba, 2012.

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