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Protagonismo juvenil e cidadania

Mapeamento de experiências com


adolescentes na região metropolitana de BH

Manuel Alfonso Díaz Muñoz

Resumo
A presente pesquisa pretende mapear experiências e metodologias de protagonismo
juvenil com adolescentes de 12 a 18 anos desenvolvidos por organizações e projetos
sociais no município de Belo Horizonte. É um estudo observacional, descritivo e
transversal que envolve: o levantamento de dados qualitativos e quantitativos através
da análise de fontes teóricas e conceituais sobre o chamado protagonismo juvenil e a
visita dos projetos governamentais ou não visando a recolhida das informações
necessárias. A análise dos dados vai permitir identificar e replicar posteriormente as
experiências que permitam o fortalecimento dos trabalhos de protagonismo juvenil das
entidades, frente/fóruns regionais e projetos sociais de Minas Gerais e a ampliação do
número de adolescentes protagonistas em defesa de seus próprios direitos.

Introdução
Esta pesquisa nasce de uma demanda externa ao Centro Universitário Metodista
Izabela Hendrix: da solicitação da Frente de Defesa dos Direitos da Criança e do
Adolescente de Minas Gerais – FDDCA/MG para lhe ajudar no mapeamento das
experiências de protagonismo juvenil em Minas Gerais. O Centro Universitário Metodista
Izabela Hendrix, sensível a este apelo, se dispôs a realizar esta tarefa na cidade
mineira onde está inserido e onde desenvolve seu labor educativo, em Belo Horizonte.
Assim, pretende contribuir com seu desenvolvimento político, social, ambiental e
economicamente sustentável. Busca-se conhecer e estudar as experiências e
metodologias de protagonismo juvenil com adolescentes de 12 a 18 anos
desenvolvidas na cidade para apoiar outras organizações e projetos sociais no
fortalecimento de suas iniciativas de protagonismo juvenil e, deste modo, ampliar o
número de adolescentes protagonistas em defesa de seus próprios direitos.

Problematização
O reconhecimento dos direitos da criança e do adolescente teve sua origem e
embasamento nos pressupostos e tratados de todo o processo histórico de


Psicólogo e teólogo. Mestre e doutorando em Teologia pela Escola Superior de Teologia de São Leopoldo
(RS) e mestre em Psicologia Social pela Universidad del País Vasco (Espanha). Professor do Centro
Universitário Metodista Izabela Hendrix (MG). Pesquisador na área de Direitos Humanos e Cidadania.
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sensibilização e implementação dos Direitos Humanos no mundo. No Brasil, a
aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (1990) foi precedida de
uma ampla influência e principalmente da mobilização dos diferentes atores da
sociedade civil, propondo uma nova visão de atenção acerca da infância, tendo,
sobretudo como base de seus pressupostos, as diretrizes preconizadas pela
Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança (1989).
Com o ECA foi possível conferir às crianças e adolescentes como indivíduos em
condição peculiar de desenvolvimento convocando a família, a sociedade e o estado
para a participação e divisão de responsabilidades na promoção de condições
adequadas ao desenvolvimento destes. Propôs uma mudança de práticas
assistencialistas, estigmatizantes e segregadoras, rompendo a doutrina de situação
irregular do Código de Menores numa visão de objeto, passando então a situar a
criança e o adolescente como pessoas em desenvolvimento, e, portanto, de direitos.
Este amplo movimento mundial com a Convenção das Nações Unidas sobre os
Direitos da Criança e, no Brasil, com o Estatuto da Criança e do Adolescente
possibilitou a incorporação de direitos individuais e de cidadania à criança e ao
adolescente. Conforme relata a UNICEF na pesquisa realizada em 2007 sobre os
jovens brasileiros, “o Brasil tem 17,9 milhões de habitantes entre 15 e 19 anos. São
adolescentes e jovens com alto potencial de participação na vida produtiva, cultural,
social e política do país” (UNICEF, 2007:4). No entanto, com a comemoração dos 20
anos do Estatuto dos Direitos da Criança e do Adolescente, podemos observar que
mesmo diante deste marco legal trazendo inovações no que tange aos direitos destes,
ainda esbarramos com práticas e ideias que persistem inviabilizando e dificultando a
legitimação de crianças e adolescentes como sujeitos de direitos e principalmente de
terem direito à voz e de serem ouvidos.
A pesar do reconhecimento crescente entre as organizações e projetos sociais que
trabalham com crianças e adolescentes da necessidade de repensar, ampliar e/ou
fortalecer suas práticas para de fato sensibilizar, formar e mobilizar adolescentes para
o exercício protagonístico na defesa e garantia de seus próprios direitos (SOUZA,
2006), ainda há muito que se repensar e fazer. De fato, uma característica dessas
organizações é que os sujeitos que atuam na área da promoção dos direitos das
crianças e dos adolescentes são, majoritariamente, adultos. De forma diferente do que
acontece em outros movimentos sociais nos quais são os próprios grupos socialmente
excluídos os que lutam por seus direitos. Além do mais, devemos concordar com a
educadora e pesquisadora Marília Spósito quando afirma que “é preciso admitir a
existência de significativa diversidade de práticas coletivas entre os jovens, ainda
pouco visíveis e escassamente investigadas.” (SPÓSITO, 2000:80).

Objetivos e metodologia
A partir da problemática exposta, foram elaborados os objetivos e metodologia da
pesquisa:

Objetivo geral
Mapear experiências e metodologias de protagonismo juvenil com adolescentes de 12
a 18 anos desenvolvidos por organizações e projetos sociais no município de Belo
Horizonte.

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Objetivos específicos
. Construir um espaço de diálogo e conhecimento significativo a partir dos conceitos
de protagonismo juvenil, autonomia e cidadania, delimitando-os e relacionando-os.
. Sistematizar as metodologias existentes de protagonismo juvenil (12 a 18 anos)
buscando neste processo instrumentalizar as organizações e projetos sociais no
desenvolvimento e/ou fortalecimento de seus trabalhos com e para adolescentes;
. Fomentar a participação dos adolescentes protagonistas, mapeados com a
pesquisa, para a participação ativa na Frente de Defesa dos Direitos da Criança e
do Adolescente de Minas Gerais, buscando o apoio destes na efetivação das
políticas públicas da infância e adolescência em seus respectivos municípios e no
estado.
. Fortalecer a rede de garantia de direitos de crianças e adolescentes utilizando
mecanismos de interlocução ativa e contínua entre as experiências levantadas, com
o apoio direto dos próprios adolescentes.

Metodologia
A pesquisa proposta é um estudo observacional, descritivo e transversal que envolve o
levantamento de dados qualitativos e quantitativos através de:
1. Levantamento e consolidação de referências teóricas e conceituais sobre direitos
humanos, cidadania, autonomia e sua relação com o chamado protagonismo
juvenil.
2. Revisão de pesquisas realizadas no Brasil sobre o tema desde a promulgação do
ECA.
3. Mapeamento de experiências em organizações governamentais ou não atuantes na
grande BH.

A pesquisa começou em setembro de 2010 e será concluída em junho de 2012. A


amostra é constituída pelas organizações governamentais ou não (o número será
levantado na pesquisa) que são constituídas ou trabalham com adolescentes atuantes
na grande BH, agrupadas nos quatro grupos seguintes:
a. Grupos/projetos formados por adolescentes apoiados por entidades sociais.
b. Grupos/projetos formados por adolescentes apoiados por fóruns/frentes regionais
e/ou municipais dos direitos da criança e do adolescente.
c. Grupos/projetos formados por adolescentes apoiados por escolas.
d. Grupos/projetos formados por adolescentes que desenvolvem ações protagonísticas
por iniciativa própria.
A coleta de dados será feita em visita programada ao projeto de dois pesquisadores
(um docente e um discente). Os dados referentes ao projeto serão colhidos pelo
preenchimento dos pesquisadores da planilha avaliativa em função de suas
observações in loco, acompanhados pela pessoa de referência designada pela
coordenação do mesmo. Os dados obtidos serão submetidos a uma análise qualitativa

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e a uma análise estatística simples: média aritmética, desvio padrão de média e
percentual simples.

Interdisciplinariedade
Trata-se, ademais, de pesquisa interdisciplinar, integradora dos campos do Direito, do
Serviço Social e da Pedagogia, permitindo a interlocução de pesquisadores de
diferentes áreas do conhecimento e a integração de diferentes perspectivas de uma
temática que é, por sua natureza, evidentemente transdisciplinar: o exercício efetivo da
cidadania dos adolescentes belorizontinos. Este fato fica ainda mais evidente ao
constatar que a presente pesquisa é uma das investigações promovidas pelo Grupo de
Pesquisa sobre Direitos Humanos e Cidadania formado por professores pertencentes
ao Núcleo de Gestão Social e Humanidades (que inclui os cursos de Direito, Serviço
Social, Ciências Contábeis, e Teologia).

Conclusão
Os benefícios previstos desta investigação derivam da possibilidade de identificação e
replicação posterior das experiências de protagonismo juvenil que favoreçam o
fortalecimento das entidades, frente/fóruns regionais e projetos sociais de Minas
Gerais e a ampliação do número de adolescentes protagonistas em defesa de seus
próprios direitos.
A palavra protagonismo, segundo o pedagogo mineiro Gomes da Costa (COSTA,
2000:20), vem de duas raízes gregas: proto = primeiro, principal e agon = luta.
Agonistes significa lutador. Isto é, protagonista quer dizer ator, personagem, lutador
principal. Sendo assim, o protagonismo infanto-juvenil não pode ser visto como algo
abstrato ou restrito, ele deve perpassar as práticas e ações de toda e qualquer
organização e projeto social que se propõe a trabalhar com crianças e adolescentes
desde o planejamento, implementação, monitoramento e avaliação de seus trabalhos.
O direito de participar deve ser um exercício contínuo de práticas implicando no dever
de participação ainda mais no que tange aos caminhos para restaurar e efetivar os
direitos exercendo assim a prática de sujeitos dos próprios direitos.
Fazemos nossas as palavras escritas no relatório da UNICEF de 2002 (p.61) sobre a
juventude brasileira ao afirmar que “a cidadania dos adolescentes, portanto, muito
mais que um conceito, é uma prática social de forte impacto na democracia do País
e na melhoria da qualidade de vida de todos”. Desde esta perspectiva, entendemos
que no protagonismo infanto-juvenil é imprescindível a participação principal de
crianças e adolescentes não somente para que possam expressar suas opiniões, mas,
sobretudo para que estas sejam levadas em conta nos processos de decisão. Isto
significa possibilitar espaços democráticos desde o seio familiar, escolas, meios de
comunicação, organizações sociais, projetos entre outros. É um exercício contínuo de
inclusão destes no planejamento, implementação, monitoramento e avaliação de suas
propostas. Na tomada de decisões. Não fazer isto significa repetir o mesmo ciclo de
exclusão e acomodação de seus pais e/ou responsáveis. Somente quando as
organizações estiverem cientes e verdadeiramente colocando em prática estratégias
que possibilitem o real e concreto empoderamento de crianças e adolescentes na
busca e efetivação de seus direitos, é que de fato, estarão desenvolvendo um
trabalho de protagonismo infanto-juvenil.

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Referências
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei Federal 8.069, de 13 de julho de
1990, Brasília: Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, Departamento da Criança e
do Adolescente, 2002.
COSTA, Antonio Carlos Gomes. Protagonismo juvenil: adolescência, educação e
participação democrática. Salvador: Fundação Odebrecht, 2000.
SOUZA, Regina Magalhães. O discurso do protagonismo juvenil. 2006. 351p. Tese para
a obtenção do Doutorado em Sociologia. Universidade de São Paulo.
SPOSITO, Marília P. Algumas hipóteses sobre as relações entre movimentos sociais,
juventude e educação. Revista Brasileira de Educação, nº 13, p.73-94, 2000.
UNICEF Brasil. Relatório da situação da adolescência brasileira. Brasília: UNICEF, 2002.
___________ Adolescentes e jovens do Brasil. Participação Social e Política. Brasília:
UNICEF/Ayrton Senna/Itaú Social, 2007.

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