Você está na página 1de 21

Guia de Participação

Cidadã para Educadores


Introdução
A ideia de que meninas e meninos devem participar ativamente da construção de caminhos
para melhorarem suas vidas e suas comunidades, vem ganhando força no Brasil. Esse esforço,
claro, converge com a ação dos próprios adolescentes, que reivindicam espaços de fala e
manifestam, de diversas formas, suas demandas e juízos sobre as decisões que os cercam.
Apesar disso, a efetivação da participação de adolescentes e jovens esbarra em desafios
cotidianos. Seja por falta de estrutura, de metodologia, seja pela ausência de abertura
para o diálogo. Superar esses desafios é uma tarefa tão árdua quanto fundamental para o
fortalecimento da nossa democracia e para a superação de vulnerabilidades que afetam a
vida dos adolescentes.
Sabendo desses desafios, educadores buscam cada vez mais meios de trabalhar a temática de
participação cidadã com adolescentes e jovens, de forma a garantir espaços de participação
real desses sujeitos, seja em suas escolas, cidades, ou em suas comunidades.
Mas como trabalhar e desenvolver a participação
cidadã em sala de aula?
Como abordar temas como as jornadas de junho, que levaram milhões de adolescentes
e jovens às ruas em 2013, ou o movimento secundarista, que em 2016 ganhou força e
mobilizou estudantes na ocupação de mais de 1.000 escolas pelo Brasil? Além disso, como
abordar o cenário político tão complexo que tem vivido o Brasil nos últimos anos?
Neste guia*, você vai encontrar as informações que precisa para iniciar a discussão
sobre participação cidadã com seus alunos, e também acessar uma atividade pensada
exclusivamente para educadores que, assim como você, desejam transformar a realidade
de forma crítica e criativa, participativa e democrática.

Boa leitura!

Equipe Viração Educomunicação

* Este material foi produzido a partir de um guia voltado para adolescentes, realizado pela Viração em parceria com o UNICEF.
“É preciso que o mundo adulto tenha sensibilidade para
escutar e aprender com essas jovens gerações, mas que
também assuma a sua responsabilidade na construção
de um presente e de um futuro mais justo e mais
democrático para todos nós.”
Maria Carla Corrochano
participação é uma questão de

DIREITO
Antes de mais nada, é preciso lembrar que a participação é um direito constitucional
de todo cidadão brasileiro! Mais que isso, ela é a própria essência da democracia,
pois é através dela que o povo manifesta suas ideias e vontades a respeito das coisas
públicas. Certo?
Bom, se até hoje há muito que se avançar na promoção da participação de adultos,
imagina na participação de adolescentes? Mas calma, a boa notícia é que apenas o
fato de você estar acessando este guia, mostra que a ideia de participação de meninas A partir desse olhar, o
e meninos vem ganhando corpo nas últimas décadas. adolescente é considerado
apenas como um não-
Essa ideia, passa pela desconstrução do olhar adultocêntrico em relação às novas adulto e não é percebido
gerações e pelo reconhecimento de meninas e meninos como sujeitos de direitos, enquanto um ser humano
completo, com diferentes
com condições de opinar e ajudar a construir presente e futuro no nosso País. formas de pensar e
conceber o mundo.
Um dos grandes desafios, no entanto, é que apesar da participação de adolescentes ser
garantida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e até pela Constituição, ela não é assim
tão óbvia.Não está inscrita culturalmente no Brasil, de tal forma que para provocá-la entre
os adolescentes e jovens são necessários encontros, formações, debates.

E é aí mesmo que você entra em cena!

Mas calma, o seu papel é mais de coadjuvante do que de ator principal.

Afinal, é da participação de adolescentes


que estamos falando, certo?
Por isso, é muito importante que você não apenas realize atividades com seus alunos em
sala de aula, mas também sensibilize todo o coletivo escolar para o reconhecimento e
consolidação de uma cultura que valorize a escuta de adolescentes e jovens, dentro e fora
da escola.
Antes de chegarmos na proposta de atividade, vale lembrar algo bem importante

Existem diferentes formas de participação,


incluindo desde

Modelos mais tradicionais, como participar de


manifestações e protestos, atuar em plebiscitos, ou apresentar
um projeto de lei a Câmara dos Deputados, ocupando espaços
institucionais como conselhos, partidos e fóruns.

Formas menos tradicionais, trazendo novas


estratégias e linguagens. Essas são marcadas pela recusa
das formas hierárquicas de mobilização, como é o caso
das ocupações.
Além disso, muitos adolescentes e jovens usam a internet para praticar a
participação. Mas cuidado, isso não quer dizer que temos uma geração de “militantes de
sofá”!

Uma pesquisa chamada Sonho Brasileiro, de 2011, realizada pela Box


1824, revelou que 71% dos jovens brasileiros preferem promover
ações políticas pela internet. Debater os temas de interesse público,
promover mobilizações e abaixo-assinados, reclamar e propor são
ações que agora fazemos também pela internet.

Os jovens têm combinado ações nas redes sociais e nas ruas, usando a internet para lutar
por seus direitos. As Jornadas de Junho de 2013, por exemplo, provam isso.

Milhares de jovens foram às ruas contra o aumento das


tarifas do transporte público. Enquanto se mobilizavam
pelas redes sociWais, também tomaram as ruas do país
em protestos gigantescos.
Bom, agora que falamos sobre participação
de meninos e meninas como

Um direito assegurado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente

Intimamente ligada ao fortalecimento da Democracia

Que pode se manifestar de diversas formas

E em diferentes espaços

Essencial para a afirmação de adolescentes e jovens como sujeitos de direitos

Vamos levar isso para dentro


da sala de aula?
proposta de

ATIVIDADE
Participação popular cidadã
Antes de começar, é importante lembrar que a atividade, as etapas e formas de
aplicação propostas neste guia podem ser adaptadas à realidade da sua escola e até
às diferentes disciplinas do currículo. Afinal, a participação é transversal e diversa.
O objetivo da atividade é fazer
com que os alunos
Entendam a participação como um direito em si e como um processo fundamental
na conquista dos demais direitos. A participação é mesmo uma ferramenta muito
poderosa!

Saibam identificar as formas e espaços de participação e representação


presentes em suas comunidades, assim como os equipamentos e/ou serviços -
públicos ou não - de promoção, garantia e defesa de direitos.
Como por exemplo um Centro
para Crianças e Adolescentes,
escolas, CRAs, CREAS e
Saibam como participar de espaços formais de tomada de decisão política e Conselhos Tutelares.

na criação de estratégias e espaços de participação não institucionalizadas.


Para isso, dividimos a atividade em três momentos

O tempo das atividades depende da profundidade com que


serão trabalhadas, do tempo disponível e da quantidade
de alunos. Você pode optar por realizar cada uma em
um dia diferente e incrementá-las de acordo com a sua
criatividade e objetivos!
1º momento: O que temos
e o que queremos

Divida os estudantes em dois grupos. A ideia é refletir e conversar sobre a sociedade e


a comunidade que temos. Um dos grupos, deve focar no que há de bom e como foram
conquistadas todas essas coisas boas. E o segundo, no que há de ruim e como surgiram
esses problemas.
Cada grupo deve registrar a discussão em uma folha e depois apresentar uns aos outros,
fomentando uma discussão.
2º momento: Participação
para transformação

Neste segundo momento, deve-se conversar coletivamente com todos sobre o que podemos
fazer para transformar o que temos no que queremos, refletindo sobre o histórico de
transformações da humanidade, lutas sociais, conquista de direitos, revoluções populares e
movimentos sociais. Essa reflexão pode ser feita a partir das leis e acontecimentos históricos
importantes para a garantia dos direitos de crianças e adolescentes.

Essas conquistas, ajudaram a construir


a ideia de que meninos e meninas têm
direito à participação cidadã.
Depois da discussão, convide a escreverem em tarjetas um momento importante
da vida deles. Assim, eles vão internalizar a ideia de “marco”. Depois, convide-os a colocarem as
tarjetas numa linha do tempo, indicando o momento histórico em que aconteceu, e conversem
sobre isso.
Por último, motive os alunos a incluírem na linha do tempo momentos importantes para a
história do país, da cidade e/ou da comunidade.
Ao longo dessa conversa, você pode ir compondo a linha do tempo com os marcos legais e
acontecimentos históricos importantes para a conquista de direitos de adolescentes e jovens,
explicando cada um! Não esqueça que você pode usar a linha do tempo que construímos pra
realização da atividade.
3º momento: Mãos ao mapa

Agora, os alunos devem identificar quais equipamentos de participação e representação


existem em suas comunidades. Essa atividade pode ser feita tanto a partir da observação e
mapeamento das comunidades onde eles vivem, ou a partir da observação da comunidade
no entorno da escola.
Por último, depois da observação todos devem desenhar, em uma cartolina grande, um
mapa da “cidade/sociedade que queremos”, desenhando os prédios, espaços de convivência,
espaços de utilidade pública, espaços privados, praças públicas, etc.
O mapeamento deve ser feito de acordo com a ideia do grupo sobre a cidade/sociedade
ideal, representando também o que deve ser feito para a concretização dessa cidade/
sociedade ideal.

Que tal delimitar um espaço em volta


da escola, por onde os alunos possam
transitar e realizar a atividade?
Conclusão
Ufa, estamos chegando ao fim! Mas calma, depois da atividade é importante você se certificar
de que os alunos realmente absorveram as informações mais importantes. Uma boa maneira
de fazer isso é retomando os objetivos principais da atividade. Será que depois desses três
momentos, os alunos

Entendem a participação como um direito?


Sabem identificar as formas e espaços de participação
e representação em suas comunidades?
Sabem como participar de espaços de tomada de
decisão política?
Sabem criar estratégias e espaços de participação?
Tudo certo? Bom, não se esqueça que mesmo que eles saibam e até tenham praticado
tudo isso durante a atividade, é importante que você crie e/ou promova esses espaços de
participação como:
Grêmio estudantil
O Grêmio Estudantil é o órgão máximo de representação dos estudantes da escola!
A criação e o fortalecimento dele também garantem a participação dos estudantes em
decisões importantes da comunidade escolar.

Assembleia de classe
Como Funciona? Antes de cada discussão, os alunos escrevem em um papel sugestões,
demandas e comentários, e os depositam em envelopes. O professor lê e coordena a
discussão em sala de aula. O que é possível, resolve-se ali mesmo com uma votação, o
restante é encaminhado à direção.

“As assembleias de classe têm o papel de diálogo e de poder trabalhar e regular as


relações de convívio entre as pessoas de uma comunidade”
Ulisses Araújo, professor da Escola de Artes e Ciências
Humanas da USP.

Mídia escolar
Essa é uma estratégia de educomunicação para fomentar a participação dos estudantes no
ambiente escolar! Um jornal mural, jornal impresso, rádio ou blog escolar também podem
ser espaços de participação e reflexão sobre o universo escolar, por onde os alunos vão
poder difundir suas ideias!
A produção de diferentes formas de mídia possibilita o exercício do direito à expressão, a
publicização e valorização da perspectiva do adolescente, e o desenvolvimento de habilidades
comunicacionais
A escola é um dos espaços em que adolescentes e jovens passam um
bom tempo das suas vidas, e por isso é responsável pela formação
de cidadãos conscientes e capazes de participar e transformar
a realidade em que estão inseridos. Para que a escola seja do
jeito que a gente sonha, democrática e de qualidade, é preciso o
envolvimento de todos: alunos, pais, gestores e, claro, vocês,
educadores!

Boa sorte!
Gostou?
clique aqui e compartilhe!

Siga a gente!

Facebook

Instagram

Dúvidas ou sugestões? Entre em contato com a gente!

@ Comunicacao@viracao.org

(11) 3237-4091
A VIRAÇÃO
Somos uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua nas áreas de educo-
municação, juventudes e mobilização social. Nosso objetivo é, através da educomunicação,
mobilizar adolescentes e jovens para a promoção e defesa de seus direitos, possibilitando
a construção de uma sociedade justa, participativa e plural.
Por educomunicação, entende-se o conjunto de ações que visa, dentre outras práticas, am-
pliar a capacidade de expressão em espaços educativos e desenvolver o espírito crítico de
usuários dos meios de comunicação.
Desde 2003, impactamos a vida de milhões de jovens no Brasil, por meio dos programas
Revista Viração e Agência Jovem de Notícias, produtos de comunicação produzidos de for-
ma colaborativa por adolescentes e jovens.
Também prestamos consultoria e executamos projetos nas temáticas de direitos humanos,
saúde, meio ambiente, educação e cultura, sempre pensados transversalmente às questões
étnico-raciais e relacionadas a gênero e sexualidade.
Além da sede em São Paulo, contamos com uma rede articulada de adolescentes e jovens
em 22 estados brasileiros e Distrito Federal. Em 2015, fundamos a filial internacional Vi-
ração&Jangada, com sede em Trento, na Itália.

Você também pode gostar