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Comunicação também

é instrumento político
A Educomunicação, prática presente em escolas e no terceiro setor,
aproxima crianças e jovens de seus direitos e da participação política

Rones Maciel, colaborador da Vira em Fortaleza (CE); Bruno Ferreira, da Redação

E
m espaços públicos de discussão, em especial fóruns facilita até na forma de entendimento,
e conferências, tem sido cada vez mais comum já que é uma linguagem mais
a presença de grupos de jovens com câmeras, informal. A Educomunicação une
microfones e gravadores interagindo com pessoas, o útil ao agradável, adolescentes
colhendo depoimentos e noticiando o que ouvem e fazendo algo para adolescentes. Isso é o
veem. Essa prática chama a atenção especialmente de protagonismo. É o ECA saindo do papel”, diz o
adultos para o envolvimento desses meninos e meninas adolescente que é ativista social e mobilizador
com mídias, a partir das quais marcam sua presença e do NUCA em sua cidade.
exercem seu direito à participação em espaços formais, Já no litoral oeste, cerca de 230 km da
ainda muito centrados nos adultos. capital cearense, o município de Acaraú também tem
Em muitos casos, a prática de mídia por crianças, comemorado nos últimos anos, com a redução do
adolescentes e jovens representa mais do que o trabalho infantil, com ações que envolvem convivência
empoderamento do direito à expressão. Trata-se, e fortalecimento por meio da Educomunicação nos
sobretudo, do início para uma articulação política entre Núcleos de Convivência e Comunicação do projeto
esses sujeitos, que continuarão atuantes em torno da Compromisso Vivo, desenvolvido pela ONG Instituto da
luta pela garantia de direitos. Esse foi o caso do grupo Infância – IFAN. Para a jovem Lorena Gentileza, que foi
que participou de atividades de Educomunicação, com até ano passado monitora do projeto, a Educom tem
jornal mural, jornal humano, áudios, fotos, vídeos e textos fortalecido a luta na conquista de direitos.
na 10ª Conferência Estadual dos Direitos de Crianças “A Educomunicação contribui para o processo de
e Adolescentes do Ceará. O evento aconteceu no ano empoderamento pessoal e emancipatório das pessoas,
passado, mas a articulação nos municípios continua consequentemente auxilia nas ações e mudanças nos
firme e forte. O Ceará foi um dos estados que apresentou espaços em que ocupam. Seria no mínimo uma ‘arma’
redução no número de crianças e adolescentes em bacana e criativa, na menor das hipóteses, uma técnica
situação de trabalho, cerca de 2000, de acordo com a ousada que se consolidaria entre as novas formas de fazer
última PNAD/IBGE. promoção e garantia de direitos”.
Esses bons resultados refletem bem as ações que
organizações, em parceria com a iniciativa privada e
governamental, vêm desenvolvendo em todo o Estado.
Felipe Caetano

Três delas se destacam: a primeira é a experiência dos


Núcleos de Cidadania dos/as Adolescentes – NUCAs, uma
articulação de diversas organizações municipais com
o intuito de criar processos de formação e intervenção
nos espaços onde esses adolescentes estão inseridos. Os
municípios são participantes do Selo UNICEF Município
Aprovado.
O adolescente Felipe Caetano, de 14 anos, que
mora no município de Aquiraz, região metropolitana
de Fortaleza, vivencia de perto as contribuições da
Educomunicação na promoção de direitos da meninada:
“É um conteúdo de adolescente para adolescente, que Adolescente media Seminário
Ser Adolescente no Município
de Quixeré (CE)

18 Revista Viração • Ano 13 • Edição 110


De igual pra igual
A Viração Educomunicação também tem casos
muito significativos para recordar as coberturas
realizadas por adolescentes e jovens em eventos que
vão muito além da experiência midiática em si. Há quase
quatro anos, durante a cobertura da 9ª Conferência
Nacional sobre Direitos da Infância e Adolescência, que
aconteceu em agosto de 2012, em Brasília, duas meninas
piauienses integraram o grupo de 60 adolescentes que
realizaram a cobertura do evento. O contato delas com
a então chefe da pasta de Direitos Humanos, Maria do
Rosário Nunes, durante uma entrevista coletiva com a
autoridade, fizeram a secretária de Estado rever uma Cerca de 60 adolescentes entrevistam,
em 2012, a então ministra dos Direitos Humanos,
política que estava sendo construída por autoridades e Maria do Rosário, numa prática de mídia e intervenção política
delegados da conferência sobre abrigamento de crianças
e adolescentes.
Outra experiência importante para a Viração foi a
articulação de adolescentes de 21 Estados brasileiros
durante a cobertura jovem da 3ª Conferência Global
sobre Trabalho Infantil, em outubro de 2013. Na ocasião,
além de realizar a cobertura do evento, que reuniu cinco
mil participantes de mais de cem países do mundo
e entrevistar a ministra de Desenvolvimento Social e
Combate à Fome, Tereza Campello, bem como o Prêmio
Nobel da Paz Kailash Satyarthi, os adolescentes realizaram

Coletivo Educom pelos Direitos CE


um manifesto em nome de crianças e adolescentes
brasileiros, manifestando a realidade de exploração a
que muitos estão sujeitos e cobrando as autoridades
nacionais e internacionais por comprometimento na
erradicação de todas as formas de trabalho infantil até
2020. Adolescentes produzem Mural Arretad@s
pelos Direitos durante a cobertura Educom
na IX Conferência Estadual dos Direitos de Crianças
e Adolescentes do Estado do Ceará

tá na mão
Conheça os projetos
Compromisso Vivo e Nuca
visitando suas páginas no
Facebook: @compromissovivo e
@NUCA.

Confira o link
Em 2013, adolescentes entrevistam a ministra Tereza sugerido pelo QR
Campello, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Code!
durante 3ª Conferência Global sobre Trabalho Infantil

Revista Viração • Ano 13 • Edição 110 19

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