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DO ACESSO À POLÍTICA MUNICIPAL DE HABITAÇÃO: UM

CAMINHO PARA A VIABILIZAÇÃO DE COTAS À POPULAÇÃO


LGBTQIAP+ EM FOZ DO IGUAÇU

Ana Laura Coelho da Silva Heck 1


Mayara Cristina Colombo 2 Monica
Antonia Molinas Bogado 3
Pamela Ellen de Oliveira Pecegueiro 4

Eixo Temático: Política Social e "Questão Social"

RESUMO

O presente resumo tem como objetivo apresentar como se deu o processo de seleção à comunidade trans
ao Trabalho Social do Conjunto Habitacional Jardim Primavera executado pelo Setor de Serviço Social
do Instituto de Habitação de Foz do Iguaçu - FOZHABITA, expondo os meios utilizados e resultados
obtidos.

PALAVRAS-CHAVE: Políticas Públicas. Política Municipal de Habitação. LGBTQIAP+,


População Trans.

1 INTRODUÇÃO

O processo de seleção para o empreendimento Habitacional Jardim Primavera


Lote “C”, executado pelo Setor de Serviço Social do Instituto de Habitação de Foz do
Iguaçu - FOZHABITA, deu-se em um projeto efetivado pelo município de Foz do
Iguaçu, no âmbito do Programa de Atendimento Habitacional através do Poder Público
(Pró-Moradia), que tinha como demanda

1
Assistente Social no Instituto de Habitação de Foz do Iguaçu - FOZHABITA. Especialização em
Serviço Social na Sociedade Contemporânea: Direção Social, Instrumentais e Política Social -
FACDOMBOSCO. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social - PPGSS pela -
UNIOESTE.servicosocial.fozhabita@gmail.com
2
Graduanda de Serviço Social na Universidade Federal da Integração Latino Americana - UNILA e
estagiária de Serviço Social no Instituto de Habitação de Foz do Iguaçu - FOZHABITA.
mayacristinac@gmail.com
3
Graduanda de Serviço Social na Universidade Federal da Integração Latino Americana - UNILA e
estagiária de Serviço Social no Instituto de Habitação de Foz do Iguaçu - FOZHABITA.
monicabogadomolinas@gmail.com
4
Assistente Social no Instituto de Habitação de Foz do Iguaçu - FOZHABITA. Graduada em Serviço
Social pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE. servicosocial.fozhabita@gmail.com

1
originária o reassentamento de famílias oriundas da Favela do Jardim Primavera. Nesse
sentido, o presente resumo expandido tem como objetivo apresentar como foi o
processo de seleção de famílias para as novas unidades habitacionais acrescentadas ao
projeto de implantação, e assim, evidenciar a metodologia adotada para viabilizar
políticas de moradia que contemplassem a população LGBTQIAP+5, por meio da
garantia de 3% da reserva de vagas para atendimento à população Trans. Ainda, para a
seleção de beneficiários levou-se em consideração a Instrução Normativa nº 1 de 20 de
janeiro de 2022 que regulamenta o Pró-Moradia.
A trajetória da comunidade LGBTQIAP+ no Brasil é repleta de lutas, que
reivindicam premissas básicas sobre o direito de existir, de ter seu nome e sua
identidade de gênero reconhecida e respeitada, no direito de exercício da cidadania, e na
criação de políticas públicas para a garantia de direitos básicos, como o que será
pautado em questão, o direito ao acesso à moradia.
A escassez de ações afirmativas no âmbito das políticas públicas muitas vezes
denuncia o recorte de uma população abandonada ou invisível para o Estado. Políticas
estas que requerem reivindicações coletivas, ações de movimentos sociais, articulação e
atuação da própria população por meio da participação social dentro de espaços
públicos, como Conselhos de Direitos, Conferências, Fóruns, Audiências Públicas, entre
outros, que fomentam debates e visibilidade. Tais movimentos feitos pela sociedade
civil visam agir como um coletivo, apresentando demandas reais que contribuem na
formulação de dados e teorias na perspectiva de alcançar transformações sociais. E
assim, mediante a promoção do exercício da cidadania, a descentralização estatal e a
participação democrática nas tomadas de decisões, poderemos modificar os ditames
legais pré-estabelecidos pelo Estado.
Importa ressaltar que a criação de tais políticas públicas voltadas para a
população Trans, como instituições especializadas no acolhimento de
5
O uso da sigla procura contemplar as diversas identidades, de forma inclusiva, levando em conta as
constantes construções, expressões e a pluralidade dos sujeitos na contemporaneidade, onde o símbolo de
“+”, contribui para adicionar pessoas que sintam-se representadas e acolhidas por demais nomenclaturas.

2
transgêneres e travestis, tem como intuito para além da garantia dos seus direitos, o
zelo pela segurança dos corpos trans, no país que mais consome pornografia6 e mata
travestis e transsexuais no mundo7, e ainda, garantir-lhes livre expressão da sua
sexualidade, orientação sexual e respeito à identidade de gênero.
Nessa direção, buscou-se ir no caminho oposto à segregação social, restrições,
guetizações ou marginalidade, e sim, trazer autonomia cidadã e a liberdade de ser e
existir nos espaços socioassistenciais e em sociedade, visando:
“VI. Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito,
incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos
socialmente discriminados e à discussão das diferenças;” (CFESS,
1993)

Tão logo, a medida de reserva de vagas foi pensada como forma de acesso, e
comprometimento diante desta demanda, na rede onde atuam assistentes sociais
empenhadas com o projeto ético-político do Serviço Social que amparam-se nos
princípios fundamentais do código de ética profissional.

2 METODOLOGIA

A pesquisa aborda métodos mistos, qualitativa e quantitativa, visto que


utilizou-se de pesquisa bibliográfica e levantamento de dados para quantificar as
pessoas atendidas. Enquanto procedimentos metodológicos, os recursos adotados como
instrumento para a coleta de dados foram, levantamento de informações sociais e estudo
socioeconômico por meio de um roteiro com perguntas fechadas e abertas. Como
técnica foi utilizada a entrevista. Os resultados foram obtidos como o impacto das
reservas de vagas na política municipal de habitação e no contexto de vida das/dos
beneficiárias/os.

6
KACHANI, Morris. “Está em marcha uma revolução de mudança das vivências trans” In: Estadão -
Portal do Estado de São Paulo. Publicado em: 01 de julho de 2021. Disponível em:
<https://brasil.estadao.com.br/blogs/inconsciente-coletivo/esta-em-marcha-uma-revolucao-de-m udanca-
das-vivencias-trans/>. Acesso em: 22 de agosto de 2022.
7
Dossiê dos assassinatos e da violência contra travestis e transexuais brasileiras em 2020 / Bruna G.
Benevides, Sayonara Naider Bonfim Nogueira (Orgs). – São Paulo: Expressão Popular, ANTRA, IBTE,
2021 136p.

3
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a garantia dos 3% das reservas de vagas destinadas à população Trans no


empreendimento habitacional em tela, aprovada pela Resolução Nº 0028 do Conselho
Gestor do Fundo Municipal de Habitação de Interesse Social
– CGFMHIS, observamos as normativas atuais que tratam da seleção no âmbito do
Programa Casa Verde e Amarela, especificamente Lei nº 14.118 de 12 de janeiro de
2021 e Portaria nº 2.081 de 30 de junho de 2020, pois tais normativas também
estabelecem parâmetros para formulação de políticas públicas em âmbito municipal.
Considerou-se também, o Relatório Geral e Final da XIV Conferência Municipal
de Assistência Social de Foz do Iguaçu, publicado pela Resolução nº 52/2021 - CMAS,
em 02 de setembro de 2021, que apontou a necessidade de se viabilizar políticas de
moradia que contemplem a população LGBTQIAP+. Ainda relacionado a este grupo
populacional, levou-se em conta compromissos de gestão firmados em audiência
pública realizada na Câmara de Vereadores do município em outubro de 2021, bem
como legislações municipais que tratam da não discriminação por orientação sexual
(Lei 2.718/2002 e Decreto 26.522/2018).
Para a divulgação e chamamento do público alvo, foi elaborado e
disponibilizado pelo Setor de Serviço Social, uma arte visual informativa, à rede
socioassistencial, órgãos públicos e organizações da sociedade civil via plataformas
online, fomentando para que a população interessada comparecesse para inscrever-se
ou realizar a atualização cadastral na autarquia.

3.1 PERFIS SOCIOECONÔMICOS

Durante a seleção foram realizadas entrevistas para elaboração de estudo


socioeconômico da população selecionada. Diante dos dados
8
Diário Oficial Nº 4.636 de 14 de Março de 2022. Ano XXVII. Foz do Iguaçu.

4
coletados, nove (09) pessoas autodeclaradas trans e travestis compareceram, o que
permitiu traçar o seguinte perfil socioeconômico das pessoas entrevistadas:

TABELA 1 – DA FAIXA ETÁRIA (09)


FAIXA ETÁRIA 18 a 30 31 a 40 41 a 50 51 a 59
QT 5 2 1 1
FONTE: Estudo Socioeconômico, coletado através de entrevistas realizadas pelo Setor de Serviço Social
em março de 2022.

TABELA 2 – DO VÍNCULO DE TRABALHO (09)


VÍNCULO DE
TRABALHO FORMAL INFORMAL BPC
QT 4 4 1
FONTE: Estudo Socioeconômico, coletado através de entrevistas realizadas pelo Setor de Serviço
Social em março de 2022.

TABELA 3 – DA RENDA BRUTA MENSAL DA PESSOA TRANS (09)


1000 A 1500 A
RENDA (R$) 0 A 300 500 A 1000 1500 2000
QT 1 3 4 1
FONTE: Estudo Socioeconômico, coletado através de entrevistas realizadas pelo Setor de Serviço
Social em março de 2022.

TABELA 4 – DA ESCOLARIDADE (09)


FUNDAM ENSINO
ESCOLARIDADE ENTAL 2 E.M EJA SUPERIOR
QT 2 4 1 2
FONTE: Estudo Socioeconômico, coletado através de entrevistas realizadas pelo Setor de Serviço
Social em março de 2022.

TABELA 5 – DA CONDIÇÃO DE MORADIA (09)


CONDIÇÃO DE
MORADIA ALUGADA COABITAÇÃO
QT 8 1
FONTE: Estudo Socioeconômico, coletado através de entrevistas realizadas pelo Setor de Serviço
Social em março de 2022.

Diante dos dados apresentados, ressalta-se que apenas um (01) responsável


familiar possui filhos. Sobre o interesse em cursos técnicos e superiores, destaca-se que
duas (02) pessoas declararam interesse em curso de nível técnico, e cinco (05) pessoas
desejam ingressar no ensino superior.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

5
Ao final do processo seletivo, duas (02) pessoas foram consideradas
classificadas/aptas para serem beneficiárias com uma unidade habitacional, ocupando
3% da reserva de vagas.
Ressalta-se que o processo de seleção em tela foi a primeira experiência do
Setor de Serviço Social com o público alvo, porém há muito que se avançar quando se
pensado na intregração com as demais políticas públicas, bem como refletir e otimizar
as formas de acesso a população LGBTQIAP+, evitando cenas de revitimização
estrutural, preconceito e discriminação, na perspectiva de garantir autonomia e exercício
dos direitos sociais.

REFERÊNCIAS

BENEVIDES, Bruna. Assassinatos de pessoas trans voltam a subir em


2020. In: ANTRA – Associação Nacional de Travestis e Transexuais. 3 mai, 2020.
Acesso em 23 de Set. de 2021. Disponível em <
https://antrabrasil.org/category/violencia/>

BRASIL. Instrução Normativa nº 1, de 20 de janeiro de 2022. Regulamenta o


Programa de Atendimento Habitacional através do Poder Público (Pró-Moradia).
Disponível em:
<https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/instrucao-normativa-n-1-de-20-de-janeiro-d e-
2022-375553700>. Acesso em 19 de agosto de 2022.

CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL (CFESS). Código de ética


Profissional do Assistente Social. Brasília, 1993.

FOZHABITA, Instituto de Habitação de Foz do Iguaçu. PROJETO DE TRABALHO


SOCIAL: CONJUNTO HABITACIONAL JARDIM PRIMAVERA.
Foz do Iguaçu: maio de 2022.

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