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20º Congresso Brasileiro de Sociologia

12 a 17 de Julho de 2021
UFPA – Belém, PA

CP15 - Gênero e sexualidade

Quais corpos importam? Sentidos da participação social da população


LGBT na mobilização de políticas afirmativas para o segmento no Brasil
(2008 -2016)

Libni Milhomem Sousa


Olívia Cristina Perez

Teresina (PI)
Julho de 2021

1
Quais corpos importam? Sentidos da participação social da população
LGBT na mobilização de políticas afirmativas para o segmento no Brasil
(2008 -2016)

Libni Milhomem Sousa1


Olívia Cristina Perez2

RESUMO

O presente artigo discute a participação social da população LGBT no Brasil,


entre 2008 a 2016 na 1ª, 2ª e 3ª Conferências Nacionais de Políticas Públicas
de Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais-
LGBT. A intenção foi estudar as demandas discutidas durante as três edições da
Conferência pelos movimentos sociais em defesa dos direitos da população
LGBT, como garantia de um processo político participativo mais extensivo. Trate-
se de uma pesquisa documental, de cunho exploratório e abordagem qualitativa,
em que foram analisados os debates em torno da formulação de políticas
públicas que promovam o exercício dos direitos humanos e da Democracia nas
Conferências. Os resultados mostram que os diálogos provocados nas
Conferências contribuem para ampliar as oportunidades quanto à garantia dos
direitos humanos e de cidadania da população LGBT.

Palavras – chave: Direitos Humanos, Movimentos Sociais, Políticas Públicas,


Democracia.

______________________

1
Doutorando em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) e professor do
Instituto Federal do Piauí (IFPI), campus Campo Maior; E-mail: libnimilhomem@ifpi.edu.br
2
Doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Professora Adjunta
na Universidade Federal do Piauí (UFPI), vinculada aos cursos de bacharelado e mestrado em
Ciência Política e ao programa de pós-graduação (mestrado e doutorado) em Políticas Públicas.
E-mail: 889oliviaperez@gmail.com

2
1.INTRODUÇÃO
Embora não tenha sido o pioneiro na implementação de experiências de
participação social, a gestão petista no governo federal a ampliou em pelo menos
dois sentidos. Em primeiro lugar, a chegada do Partido dos Trabalhadores (PT)
no governo federal resultou em diversas experiências de trânsito de militantes
de diversos movimentos sociais para a burocracia federal, contribuindo para a
formulação de políticas públicas mais sintonizadas com as demandas dos
movimentos sociais (PIRES; VAZ, 2014). Em segundo lugar, nos governos do
PT, cresceram em número e importâncias as chamadas Instituições de
Participação (IPs), a exemplo das Conferências Nacionais de Políticas Públicas
(GOMES; PEREZ & SZWAKO, 2017).
As conferências são um instrumento de participação social, ao propor
debater políticas públicas. Em especial, neste artigo, concentramos nos ganhos
obtidos para a população aqui designada como LGBT (Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis e Transexuais) nas Conferências, a saber: 1ª, 2ª e 3ª
Conferência Nacional de Políticas Públicas de Direitos Humanos de Lésbicas,
Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais-LGBT (2008, 2011, 2016).
A literatura aponta para pesquisas sobre a participação do Movimento
LGBT, nas Conferências Nacionais do segmento (ZANOLI &FALCÃO, 2015;
AGUIÃO, 2016; ALVES, 2016) assim como, revelam as conferências, como um
relevante canal na condução da participação social (RODRIGUES, 2014;
PEREIRA & SANTOS, 2016; PEREIRA, 2017), o que examinam em alguma
proporção, a trajetória do Movimento LGBT na busca por participação dos
processos decisoriais do Estado.
O artigo se distingue dos demais estudos apresentados ao centralizar a
pesquisa em torno do mapeamento das propostas, aprovações e deliberações
nas conferências o que fornece um panorama das ações gerais discutidas, assim
como, apurou especificamente as demandas de participação social. Também,
em menor proporção, estudou as aprovações no campo da Assistência Social
específicas da 2ª Conferência.
A análise particular nesse campo, justifica-se pela contribuição das
diretrizes aprovadas, seja no reconhecimento de outras camadas da população
LGBT, como também, ao incluir o segmento no CAD Único e capacitar os
trabalhadores/as dos SUAS para um atendimento livre de discriminação.

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Assim, a análise não fica limitada a mostrar a contribuição das
conferências pela lente da participação social, ao contrário, dialoga igualmente,
sobre a dinâmica do evento e suas conquistas em números.
Nesse sentido, temos como problema de pesquisa a pergunta: Quais as
propostas, diretrizes e moções aprovadas nas Conferências e quais são
especificamente as demandas de participação social?. Baseado na questão
norteadora exposta, o objetivo do artigo está em estudar as demandas discutidas
durante as três edições do evento. Os objetivos específicos são a) mapear a
totalidade das propostas, diretrizes e moções aprovadas e b) analisar as
demandas por participação social, c) verificar as diretrizes no campo da
Assistência Social na 2ª Conferência Nacional LGBT.
Argumentamos que, por meio da 1ª, 2ª e 3ª Conferências Nacionais de
Políticas Públicas de Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis, Transexuais-LGBT (2008, 2011, 2016), foi estabelecido uma espécie
de plataforma autêntica de demandas. Entretanto, o real ganho das conferências
foi a aproximação dos pares, conexões entre os movimentos sociais, criação de
vínculos, fortalecendo as relações estabelecidas, que atuam na reivindicação
dos direitos LGBT.
A pesquisa qualitativa, adotou como técnica de trabalho, a análise
documental, onde os dados foram obtidos, através dos: a) Anais da Conferência
Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais – GLBT, b)
Anais da 2ª Conferência Nacional de Políticas Públicas e Direitos Humanos para
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – LGBT, c) Relatório Final
– 3ª Conferência Nacional de Políticas Públicas de Direitos Humanos de
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais.
Os eixos, aprovações e moções foram apresentados através de tabelas,
divididos em 4 colunas: a) eixos, b) aprovações, c) moções, d) aprovações.
Inicialmente, o artigo foi pensado como uma pesquisa qualitativa. Os dados
foram relevantes para estudar a totalidade das propostas aprovadas por eixos,
como também, foram analisados levando em considerações, sobretudo, os
ganhos em torno participação social.
Após o mapeamento inicial, os documentos foram lidos na íntegra, onde
separamos as propostas de participação social, distribuídas em cada eixo e

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especificamente, três propostas da 2ª Conferência Nacional LGBT relacionada a
Assistência Social.
Ao propor estudar a participação social LGBT nas três edições da
Conferência Nacional LGBT, o artigo contribuiu para a compreensão da
participação social, ao apresentar as conferências como um instrumento de
diálogo entre Estado e Movimentos Sociais.
Dessa maneira, o artigo está sistematizado em três seções. Estas tratam
de apresentar informações sobre os objetivos e as dinâmicas de trabalho, tal
como, realiza um levantamento das propostas, diretrizes e deliberações
aprovadas durante a 1ª, 2ª e 3ª Conferências Nacionais LGBT. Nessa
perspectiva, as conferências se mostraram como um espaço de aproximação
com o Governo e a Sociedade Civil. Apesar de não investigarmos as Moções
neste artigo, optamos por contabiliza-las na tabela, para fins de registro.

2. 1ª Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e


Transexuais (2008)

A 1ª Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e


Transexuais GBLT (nomenclatura oficial do Movimento à época) foi realizada
entre os dias 5 e 8 de junho de 2008, em Brasília – DF, convocada pelo Decreto
de 28 de novembro de 2007 da Presidência da República, ficando sob
responsabilidade da então Secretaria Especial de Direitos Humanos.
O Regimento Interno da 1ª Conferência Nacional foi aprovado pela
Comissão Organizadora em 10 de janeiro de 2008. Esta foi elaborada como
consequência da Portaria nº 260, de 21 de dezembro de 2007, publicado no
Diário Oficial da União em 24 de dezembro de 2007.
Apresentou como tema “Direitos Humanos e Políticas Públicas: o
caminho para garantir a cidadania de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e
Transexuais”, e os objetivos propostos foram: a) construir as orientações para a
implementação de políticas públicas e do Plano Nacional de Promoção da
Cidadania e Direitos Humanos para Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e
Transexuais – GLBT; e b) examinar e sugerir estratégias para consolidar o
Programa Brasil Sem Homofobia (BRASIL, 2008).
Para além dos objetivos apresentados, a ideia da 1ª Conferência, foi
também nomear ou designar uma delegação de representantes, no decorrer das

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etapas locais e ou regionais (AGUIÃO, 2016). Marcada como um momento
histórico no país, o evento abriu espaço para o debate de pautas em torno das
políticas públicas voltadas para a população LGBT.
Destacamos que, para a convocação da 1ª Conferência foi utilizado a sigla
GLBT. Contudo, após deliberação da plenária final, a sigla foi modificada para
“LGBT”, para ao que tudo indica, considerar maior visibilidade as lésbicas, o que
reflete o cenário de conflito entre as identidades abarcadas pela sigla GLBT.
Na verdade, o Brasil foi pioneiro, ao ser o primeiro país, no Governo do
então Presidente, Luís Inácio Lula da Silva, a realizar uma conferência de âmbito
nacional para discutir e decidir demandas de políticas públicas, como forma de
fazer garantir os Direitos Humanos e cidadania para o segmento (BRASIL, 2008).
Sobre esse aspecto, cabe ressaltar que a homossexualidade em alguns
países ainda é considerada crime. Assumir uma condição sexual distinta da
convencional estabelecida por uma ótica heteronormativa, incorre no
recebimento de punições severas, a exemplo das prisões e em países
específicos, até a pena de morte (PEREIRA, 2017).
Assim, propor uma Conferência Nacional, que abarque em seu bojo um
conjunto de esforços com ampla participação popular para discutir sobre
políticas públicas LGBT, é sem dúvida, algo inédito e inovador.
O evento foi realizado no Centro de Convenções Brasil 21 em Brasília. Na
ocasião, foram contabilizados 1.118 participantes, sendo estes divididos entre a)
delegados (569); b) observadores (441); c) convidados (108) (BRASIL, 2008).
Para se fazer cumprir os objetivos da 1ª Conferência, a sistemática de
desenvolvimento foi organizada em 10 Grupos de Trabalho.
Os participantes receberam de antemão o texto – base, além de um
caderno de propostas, fruto da compilação dos relatórios resultantes das
conferências estaduais (RODRIGUES, 2014). O texto – base apresentado foi
dividido em eixos e a dinâmica trabalho seguiu um rito previamente estabelecido,
com solenidade de abertura, plenária de aprovação do regulamento da
conferência, painéis expositivos e divisão dos grupos de discussão para
estruturação das propostas (BRASIL, 2008).
Estruturalmente, a 1ª Conferência, foi formada por painéis, 10 eixos de
trabalho e grupos de apresentações, com vistas a abarcar os componentes que
compreendem as questões de uma política LGBT. Envolveu mais de 10.000

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pessoas e 1.200 delegados de todo o país. Após a leitura do relatório da 1ª
Conferência, foi possível sintetizar as aprovações realizadas no evento na
Tabela 1:
Tabela 1 - Eixos, Moções e Aprovações na 1ª Conferência Nacional GLBT

1ª CONFERÊNCIA
EIXOS APROVAÇÕES MOÇÕES APROVAÇÕES
Direitos Humanos 73 Repúdio 14
Saúde 167 Apoio 11
Educação 60 Louvor 09
Justiça e Segura 86
Pública Reivindicação 02
Cultura 35 - -
Trabalho e 37 - -
Emprego
Previdência Social 15 - -
Turismo 23 - -
Cidades 51 - -
Comunicação 12 - -
Total 10 559 04 36
Fonte: adaptado de Brasil (2008)

Conforme a tabela 1, a maior quantidade de aprovações, foi no eixo da


Saúde, onde percebemos que das 559 propostas aprovadas, 167 eram
referentes ao assunto da saúde LGBT, correspondendo a 30% do total de
propostas, seguido de Justiça e Segurança (86) e Direitos Humanos (73),
ocupando o segundo e terceiro lugar, respectivamente em termos de
aprovações.
Em menor, proporção, porém, não menos relevantes, ficaram o Turismo
(23), Previdência Social (15) e Comunicação (12). Particularmente, sobre o Eixo
Previdência Social, é válido citar que ao longo da conferência, foi destacado a
emergência de um debate entre Previdência Social e movimento LGBT.
Em outras palavras, seria preciso construir uma aproximação entre
ambos, para que naquele momento fossem captadas as informações
necessárias que garantissem a expansão dos direitos sociais da população
LGBT. As Moções seguiram o mesmo rito de aprovação, e foram construídas,
em concordância com o art. 27 do Regimento Interno.
Os índices de aprovações, em primeiro momento, podem parecer estar
ligados a quantidade de participantes em cada um dos eixos, onde podemos
observar que, no eixo Saúde, por exemplo, haviam 101 participantes, enquanto
no eixo Comunicação, participaram apenas 46. Contudo, ao analisarmos os

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demais eixos, essa hipótese não se sustenta. O mais correto a dizer é que, a
quantidade de aprovações tem relação com o conjunto de discussões
apresentadas, como também, pela dinâmica particular de cada eixo, além das
próprias especificidades de cada tema discutido.
Sobre a participação social da população LGBT, verificamos 08 propostas
diluídas nos eixos: a) Direitos Humanos, b) Saúde, c) Justiça e Segurança
Pública, d) Cultura, e) Trabalho e Emprego, f) Cidades. O interesse nas
propostas sobre o tema, pode ser explicado, a partir dos avanços provocados
pelo Programa Brasil Sem Homofobia (2004), que encorajou a participação
social da população LGBT.
As análises do conteúdo contidas na 1ª Conferência deixam claro os
esforços realizados pelos participantes. O objetivo seria o de propor políticas
públicas que abarcassem a totalidade dos eixos definidos durante o evento,
assim como, construir o Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos
Humanos de GLBT. Também, foi um espaço de avaliação coletiva do Programa
Brasil Sem Homofobia citado anteriormente.
Encerrando as considerações sobre a 1ª Conferência, os Anais
apontaram como ganhos: lançamento do I Plano Nacional de Promoção da
Cidadania e Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais (2009), com 51 diretrizes e 180 ações, Coordenação Geral de
Promoção dos Direitos LGBT (2009), Conselho Nacional de Combate à
Discriminação e Promoção dos Direitos LGBT (2010), a celebração do Dia
Nacional de Combate à Homofobia (2010), entre outros interesses.
Após o fim dos trabalhos, as propostas que foram aprovadas eram
direcionadas para apresentação na plenária final para validação, recusa ou
alteração, onde posteriormente seriam incorporadas ao relatório final da
Conferência (RODRIGUES, 2014). Os 10 grupos temáticos analisaram 510
propostas oriundas das conferências estaduais (BRASIL, 2008).

3. 2ª Conferência Nacional de Políticas Públicas e Direitos Humanos de


Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (2011)

Com o tema “ Por um país livre da pobreza e da discriminação,


promovendo a cidadania de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e

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Transexuais”, a 2ª Conferência Nacional de Políticas Públicas e Direitos
Humanos LGBT, foi realizada em Brasília – DF, entre os dias 15 a 18 de
dezembro de 2011, pouco mais de 3 anos após a 1ª Conferência (BRASIL,
2011).
A proposição da 2ª Conferência tinha um forte direcionamento com as
propostas de trabalho do primeiro mandato do Governo Dilma Rousseff (2011 –
2014) que tinha como tema “País rico é país sem pobreza” (PEREIRA, 2017).
Por esse ângulo, o objetivo principal da 2ª Conferência foi debater a condução
das políticas públicas, como também, avaliar os marcos legislativos para a
população LGBT, com evidência no acompanhamento do Plano Nacional de
Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT (BARBOSA; SILVA;
RIBEIRO, 2018).
Em síntese, enquanto a 1ª Conferência planejava conceber as bases do
Plano, a proposta da 2ª Conferência estava centrada em torno da avaliação
efetivas das ações propostas no documento, assim como, a partir das
conquistadas levantadas, construir novos e significativos pontos de ações para
as políticas LGBT na esfera do governo federal (BRASIL, 2011).
Ocorre que, as ações propostas no Plano, não foram relacionadas a uma
rubrica orçamentária o que fez com que o documento se tornasse em uma
espécie de “carta de boas intenções” (PEREIRA, 2017). A abertura da 2ª
Conferência foi bem distinta da recepção da primeira edição. O auditório foi
marcado por gritos, protestos dirigidas a então presidenta Dilma Rousseff.
A 2ª Conferência Nacional LGBT, reuniu um número expressivo de
militantes na área de Direitos Humanos, como também, da sociedade, tanto nos
municípios como nos estados do Brasil. Uma das questões discutidas, foi por
exemplo, à decisão do Supremo Tribunal Federal, ao deliberar sobre a união
estável de casais homossexuais.
O ganho é fruto da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4277
somada a Arguição de Descumprimento de Preconceito Fundamental (ADPF)
132. As ações foram votadas e ambas aprovadas. A conferência contou com
painéis temáticos, palestras e diretrizes relacionadas a miséria e violência
LGBTfóbica. A proposta foi dialogar não apenas sobre o desenvolvimento das
políticas públicas para o segmento, mas também, sobre os marcos legislativos

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sobre o tema. Como contextualização, apresentamos as aprovações do evento
na Tabela 2.
Tabela 2 - Quantidade de Eixos, Moções e Aprovações na 2ª Conferência Nacional
LGBT

2ª CONFERÊNCIA
EIXOS APROVAÇÕES MOÇÕES APROVAÇÕES

Educação 05 Congratulações 06
Enfrentamento ao Sexismo e
ao Machismo 05 Apoio 11
Enfrentamento ao Racismo e
a Promoção da Igualdade
Racial 05 Repúdio 04
Poder Legislativo e Direito da
População LGBT 05 Recomendação 14
Saúde 05 - -
Políticas de Juventude e de 05 -
Recorte Integracional -
Sistema de Justiça, 05 -
Segurança Pública e
Combate à Violência
-
Direitos Humanos e 05 -
Participação Social -
Trabalho, Geração de Renda 05 -
e Previdência Social
-
Cultura 05 -

Turismo 05 -
-
Desenvolvimento Social e 05 -
Combate à Miséria
-
Comunicação Social 05 -
-
Pacto Federativo e 05 -
Articulação Orçamentária

Esporte 04 - -
Total 15 71 04 35
Fonte: adaptado de Brasil (2011)

Com 15 eixos para discussão, identificamos que, diferentemente das


aprovações da 1ª Conferência, encontramos na segunda edição, um equilíbrio
entre a quantidade de propostas. Nesta, foram aprovados 5 diretrizes em cada
Eixo, exceto “Articulação Orçamentária e Esporte”, com 4 diretrizes aprovadas.

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As Monções foram distribuídas em 4 temas, totalizando em 35 aprovações
(BRASIL, 2011).
A contribuição da 2ª Conferência foi a de verificar se as propostas
discutidas na primeira edição foram executadas e se estas surtiram efeito. Entre
as diretrizes discutidas na segunda edição, frisamos no primeiro momento, as
aprovações em torno da Política de Assistência Social e posteriormente
analisamos as aprovações em participação social.
No campo da Assistência Social, destacamos o eixo “Desenvolvimento
Social e Combate à Miséria”, que ao propor como primeira diretriz
“reconhecimento e a inclusão de novas configurações familiares no CAD Único
da Assistência Social” (BRASIL, 2011), passa a inclui as designações
“orientação sexual”, “identidade de gênero”. A diretriz, também contemplou a
inserção do nome social no cadastro, onde tornou visíveis as pluralidades
sexuais, permitindo reconhecer uma outra camada, até então desconhecida da
realidade do país.
Dessa forma, é importante acentuar a pertinência da diretriz. O CAD Único
é uma ferramenta para coleta de dados que mapeia as famílias de baixa renda
presentes no Brasil, para então, incluí-las em políticas públicas e programas do
governo federal. Os efeitos positivos do reconhecimento da população LGBT, dá
espaço a construção de um ambiente propício para a efetiva construção de
políticas públicas direcionadas ao segmento.
Outro ganho no campo da Assistência Social foi o de assegurar o
reconhecimento das demandas pertencentes à orientação sexual e identidade
de gênero com delimitações “étnico-raciais, geracionais, pessoas em situação
de rua, pessoas com deficiência” (BRASIL, 2011) e mais ainda com “pessoas
vivendo com HIV/AIDS e povos e comunidades tradicionais no processo de
concessão do Benefício de Prestação Continuada – BPC” (BRASIL, 2011), o que
amplia a área de atuação das políticas públicas.
A inclusão de outros sujeitos pertencentes à sigla LGBT é um enorme
desafio, não só pelas especificidades da questão, mas também, pelo
direcionamento que a política pública deveria ter. Reconhecer as várias camadas
e vulnerabilidades que compõe a sigla LGBT é direcionar esforços na construção
de políticas públicas que abarquem efetivamente a todos.

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Destacamos também, a diretriz 3, que em sintonia com as demais propôs
“Implantar e efetivar a Política Nacional de sensibilização e formação continuada
dos/das trabalhadores/as do SUAS das esferas Municipal, Estadual e Federal
para inclusão e atendimento da população LGBT” (BRASIL, 2011).
A diretriz propunha capacitar trabalhadores/as do SUAS para que estes
estivessem aptos a atender uma parcela da população LGBT em situação de
vulnerabilidade, contribuindo com um atendimento mais humano e antenado
com as vivências do segmento.
Em síntese, a contribuição das três diretrizes analisadas, se dá não só no
reconhecimento das particularidades dos sujeitos e enfrentamento das
realidades distintas, mas também, pretendia deslocar a estrutura de trabalho já
existente, ampliando-a para o atendimento da população LGBT.
Quanto à participação social, identificamos 4 diretrizes em 3 eixos: a)
Poder Legislativo e Direito da População LGBT; b) Saúde; c) Direitos Humanos
e Participação Social. Especificamente, ressaltamos a diretriz 4 do último eixo
citado. A diretriz, pretendia garantir o protagonismo e participação LGBT quanto
a “deliberar, implementar, avaliar, fiscalizar, gerir e monitorar as políticas
públicas” (BRASIL, 2011).
Ocorre que, na construção do texto, é incluso enquanto parte integrante
da população LGBT “negras e negros, indígenas, pessoas em situação de rua,
povos tradicionais e de terreiro, população e comunidade sem teto e sem-terra
e ocupações, ciganas e pessoas com deficiência” (BRASIL, 2011). O recorte,
possibilita incluir outras camadas do segmento, garantindo o direito de
participação de todos.
Nas diretrizes mapeadas, alusivas a participação social, notamos a
preocupação dos eixos em abrir caminhos para que efetivamente a população
LGBT tenha direito a participação na condução das políticas públicas, o que
coincide que o contexto favorável da época na Era Lula.
Como consequência da 1ª Conferência Nacional GLBT, foi difundido o
Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT em
2009. Nessa Lógica, a 2ª Conferência se colocou como um espaço oportuno
para dialogar sobre o desenvolvimento do Plano, tal como, melhorar as
propostas vigentes.

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No entanto, esse processo não foi realizado como deveria. A proposta
sugerida foi construir uma metodologia participativa através dos grupos de
trabalho, com foco elaboração de diretrizes norteadoras. As principais
conquistas da 2ª Conferência foram: criação do Comitê Técnico de Cultura LGBT
(2012), produção dos Relatórios de Violência Homofóbica (2012; 2013),
lançamento do Sistema Nacional de Proteção de Direitos e Enfrentamento à
Violência contra Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (2013),
Comitê Nacional de Políticas Públicas LGBT (2014).
Após analisadas e aprovadas, essas diretrizes teriam o papel de servir
de apoio para que o Conselho Nacional LGBT construísse “um novo plano ou
uma nova versão do Plano Nacional de Promoção de Direitos LGBT”
(RODRIGUES, 2014), o que ocorreu posteriormente.
Na prática, a 2ª Conferência Nacional diferentemente da primeira, foi
marcada pelo descontentamento com o direcionamento do governo voltado para
a população LGBT. Não se mostrou um local propício para o adensamento dos
debates em torno das propostas. Ao contrário, serviu para a construção e
deliberação de diretrizes realizáveis de acordo com os critérios estabelecidos
pelo governo.
4. 3ª Conferência Nacional de Políticas Públicas e Direitos Humanos de
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (2016)

A 3ª Conferência Nacional de Políticas Públicas e Direitos Humanos


LGBT, aconteceu na cidade de Brasília em abril de 2016. Foi responsável pela
extensão dos trabalhos realizados até então, fortalecendo um ambiente
participativo e propício para discutir os efeitos das edições passadas. Também,
colocou em pauta, debater novas perspectivas de atuação social, pretendendo
continuar os debates em torno da promoção de políticas públicas e assegurar a
garantia da cidadania a população LGBT no país (BRASIL, 2016).
A conferência apresentou como tema “ Por um Brasil que Criminalize a
Violência contra Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais”. A
proposta de trabalho daquele ano, pretendeu discutir quais as estratégias
deveriam ser empregadas para refrear o constante descumprimento de direitos
humanos, conhecido como lesbohomotransfobia. (BRASIL, 2016).

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As atividades da 3ª Conferência Nacional LGBT, foram divididas em
quatro eixos temáticos a saber: a) Eixo I – “Políticas Intersetoriais, Pacto
Federativo, Participação Social e Sistema Nacional de Promoção da Cidadania
e Enfrentamento da Violência Contra a População LGBT”; b) Eixo II – “Educação,
Cultura e Comunicação em Direitos Humanos”; c) Eixo III – “Segurança Pública
e Sistema de Justiça na Promoção e Defesa dos Direitos Humanos da População
LGBT”; iv) Eixo IV – “Marcos Jurídicos e Normativos para o Enfrentamento à
Violência Contra a População LGBT” (BRASIL, 2016).
Inaugurando um novo modelo de trabalho, a 3º Conferência Nacional
LGBT foi realizada, dentro do que foi chamado de Conferências Nacionais
Conjuntas de Direitos Humanos, que congregou o cumprimento de cinco
Conferências de âmbito nacional ao mesmo tempo: a) III Conferência Nacional
LGBT; b) IV Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa; c) IV
Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência; d) X Conferência
Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente; v) XII Conferência Nacional
de Direitos Humanos (BRASIL, 2016).
A 3ª Conferência Nacional LGBT deu continuidade a um processo
participativo de fortalecimento das políticas públicas LGBT em todo o país. Os
debates em torno dos eixos temáticos foram direcionados para pensar propostas
que atuem na luta conta à violência, ao discutir sobre a criminalização da
lesbohomotranfobia.
Na ocasião, também foram discutidas pautas em torno de investimentos
nas áreas da educação, comunicação e cultura em direitos humanos
fundamentado nas experiências não só individuais, mas também, coletivas
(BRASIL, 2016). O balanço do evento aponta para o aprimoramento do debate
relacionado a violência. Propor discutir o tema foi um grande passo para mitigar
os efeitos da violência sofrida constantemente pelo segmento.
Não à toa, verifica-se os altos índices de LGBTfobia no Brasil, como
apontam dados recentes do Relatório de Mortes LGBTQI+, idealizado pelo
Grupo Gay da Bahia (GGB), onde mostram que só em 2019, foram
contabilizadas 329 mortes, distribuídas nas 27 Unidades da Federação (GGB,
2019). Em paralelo, autores do campo social, investigam os indicadores de
homofobia experimentados na escola (BRASIL, 2009; CASTRO; ABRAMOWAY;
SILVA, 2004; VENTURI; BOKANI, 2011), o que pode revelar, mesmo que

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parcialmente, uma estreita relação entre a homofobia e a epidemia de mortes a
LGBTs no país.
Assim, findada a leitura do Relatório da 3ª Conferência Nacional de
Políticas Públicas e Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis
e Transexuais – LGBT, apresentamos as aprovações do evento na Tabela 3.

Tabela 3 - Quantidade de Eixos, Moções e Aprovações na 3ª Conferência Nacional


LGBT

3ª CONFERÊNCIA
EIXOS APROVAÇÕES MOÇÕES APROVAÇÕES
Políticas Intersetoriais, Pacto
Federativo, Participação Social
e Sistema Nacional de 73 Apoio 13
Promoção da Cidadania e
Enfrentamento da Violência
contra a população LGBT

Educação, Cultura e
Comunicação em Direitos 50 Repúdio
Humanos 32
Segurança Pública e Sistema
de Justiça na Promoção e
Defesa dos Direitos Humanos 23 Apelo
da População LGBT 03
Marcos Jurídicos e Normativos
para o Enfrentamento à
Violência Contra a População
LGBT
46 Solidariedade -
Total 04 192 04 48
Fonte: adaptado de Brasil (2011)

Com 192 propostas aprovadas em 04 eixos e 48 monções aprovadas em


04 temas, a 3ª Conferência voltou a aprovar propostas e não mais diretrizes,
como ocorreu na 2ª Conferência. Um dos grandes destaques foi a aprovação do
termo “LGBTfobia” em alteração a “homofobia”. Tal ação foi necessária, tendo
em vista, reconhecer a pluralidade LGBT, como também, das múltiplas violências
sofridas por estes.
Assim, ampliar o significado da expressão, abarcando os sujeitos que
compõe a população LGBT, permite uma maior inclusão, não só nos espaços de

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diálogo, mas também, no direcionamento de ações de políticas públicas
específicas para o segmento.
Nessa lógica, foi amplamente debatido, o canal de atendimento Disque
Direitos Humanos – Dique 100 (proposta nº 54 – Eixo I). Na ocasião, foi
constatado que o canal deveria passar por uma reformulação, através da
construção de protocolos operacionais que tratassem especificamente das
apurações e avaliações das denúncias realizadas. A sugestão proposta no
debate seria a de externar outros tipos de denúncias oriundas das delegacias e
conselhos.
Especificamente, destacamos o Disque 100, não só pela relevância no
atendimento prestado a população LGBT, como também, por ser um espaço que
visa delatar as violações de direitos humanos sofridas o que se mostra em
sintonia com o debate da 3ª Conferência, ao debater a lesbohomotransfobia.
Sobre a participação social, todas as aprovações sobre o tema foram
concentradas no Eixo I, nas propostas de nº 05, 07, 32 e 33. O desafio estaria
em promover uma maior participação da população LGBT nas ações de políticas
públicas, favorecendo o empoderamento dos conselhos, comitês, tanto em nível
estadual como município. A principal estratégia, de fato, seria o fortalecimento
desses espaços organizados de diálogo LGBT.
É interessante notar que, o eixo I, particularmente, propôs discutir a
articulação entre políticas intersetoriais, pacto federativo e participação social,
ao acreditar que é através da articulação dessas três perspectivas que se pode
combater as várias frentes de violência direcionadas a população LGBT.
O principal foco das propostas do eixo I estiveram fortemente
relacionadas a transversalização das políticas LGBT, direcionadas ao combate
da violência vivenciadas pelo segmento. Nesse contexto, inserir a participação
social é um fator decisivo para o sucesso das ações, visto que, o enfrentamento
da violência só pode ser debatido com efeito através “de engajamento e
compromisso político dos entes públicos com recursos financeiros, humanos e
sociais” (BRASIL, 2016). Os demais eixos, contemplaram as áreas de educação,
saúde, cultura, segurança pública, sistema de Justiça, além de discutir sobre os
marcos jurídicos de combate a violência.
Como resultados da 3ª Conferência Nacional LGBT apontamos dois
ganhos de grande relevância: O primeiro foi o Decreto Presidencial nº 8.727, de

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28 de abril de 2016, que dispõe sobre o uso do nome social. O segundo trata do
reconhecimento da identidade de gênero para as pessoas que se reconhecem
como travestis e transexuais no da administração federal direta, autárquica e
fundacional, corroborando no aumento das oportunidades quanto a garantia dos
direitos humanos e de cidadania da população LGBT.
Em resumo, ao observarmos o papel das Conferências como um dos
instrumentos de estímulo a participação social, cristaliza-se a contribuição do
Movimento LGBT nesse processo. Torna-se, portanto, um agente participativo
na tomada de decisão referente na construção de políticas públicas que visem
garantir a promoção da cidadania LGBT. O resultado em números das três
edições das Conferências Nacionais LGBT, apresentou 29 eixos, 12 categorias
de moções, 822 propostas e 119 moções aprovadas. Apesar dos extensos
debates provocados, acerca das temáticas propostas, boa parte das discussões
das conferências não seguiram adiante. Abaixo, na Tabela 4 segue o total de
Eixos, Moções de Aprovação realizadas nas Conferências.

Tabela 4 – Total de Eixos, Moções e Aprovações na 1ª, 2ª e 3ª Conferência Nacional


LGBT
1ª 2ª 3ª TOTAL
CONFERÊNCIA CONFERÊNCIA CONFERÊNCIA
QUANT. EIXOS 10 15 04 29
QUANT.APROVAÇÕES 559 71 192 822
MOÇÕES 04 04 04 12
QUAT.APROVAÇÕES 36 35 48 119

Fonte: adaptado de Brasil (2008, 2011 e 2016)

A estrutura participativa proposta pelas conferências operam como um


local de composição da conciliação das ações do governo e população LGBT.
Ao analisarmos o saldo das aprovações durante as Conferências, percebemos
a riqueza de discussões realizadas entre Movimento e Estado surtiram numa
série de aprovações. Os números da Tabela 4, totalizantes das atividades das
três edições, mostram que os extensos debates proporcionaram um número
expressivo de aprovações e deliberações em torno das questões ligadas a
população LGBT.

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Nesse sentido, as três edições das Conferências Nacionais LGBT resultou
num conjunto de propostas, diretrizes e deliberações, contemplando ações
específicas de promoção dos direitos humanos e combate as violências
direcionadas a população LGBT. Ao dar voz ao Movimento LGBT, as
Conferências Nacionais, passam a reconhecê-lo como um interlocutor político,
que ao reivindicar suas demandas, cobra do Estado medidas de promoção da
justiça social.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo pretendeu estudar a participação social da população LGBT,
articuladas as estratégias de atuação discutidas nas três edições da
Conferências Nacionais de Políticas Públicas e Direitos Humanos de Lésbicas,
Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – LGBT, ocorridas em Brasília/DF,
nos anos de 2008, 2011 e 2016.
Os resultados mostram que os debates propostos nas conferências,
contribuíram para diálogo, formulação e execução de políticas públicas para o
segmento. A 1ª Conferência Nacional GLBT se tornou um marco legal no país,
ao se colocar como um importante instrumento na defesa da cidadania e da
promoção dos direitos humanos.
Entretanto, apesar dos avanços constatados, em pontos específicos,
como por exemplo, o baixo efeito do I Plano Nacional LGBT, e da subordinação
das ações direcionadas a população LGBT, enquanto sujeitas a políticas de
Governo e não como um projeto de Estado, os resultados das conferências
deixam a desejar. Nesse viés, as três edições não foram capazes de equacionar
todas questões pretendidas.
Além do destaque voltado para as propostas em torno da participação
social, o artigo mostrou, ainda, as ações voltadas para o campo da assistência
social, pontualmente, ao tecer considerações sobre a) inclusão da população
LGBT no cadastro do CAD Único, b) reconhecimento das vulnerabilidades
presentes na sigla e c) capacitação dos trabalhadores que estão na ponta da
Assistência Social. Tal fato, favorece ao reconhecimento do segmento, como
vulneráveis e sujeitos ao risco social. Nessa lógica, incluir a população LGBT no
cadastro, foi um passo decisivo, posto que, se tornam visíveis, o que

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consequentemente, direciona a construção de políticas públicas especificadas
para o segmento.
A proposta de análise se deu em verificar não só a totalidade das
aprovações, mas também, averiguar os desdobramentos sociais provocados
pelas conferências. Em vista dos resultados apresentados no artigo, este
conseguiu atingir o objetivo proposto, ao mostrar a dinâmica de trabalho e os
ganhos conquistados durante as conferências. Assim, o artigo contribui com as
pesquisas da área, que apontam a participação social como um instrumento na
garantia de se fazer cumprir os direitos.
Em face do cenário político apresentado em 2021, diferente do contexto
apresentado no recorte da pesquisa, com a extinção de uma quantidade
significativa de canais de participação, o governo atual tem impossibilitado a
participação social no país. A afirmação pode ser comprovada pelos Decretos nº
9.759/2019 e nº 9.812/2019. Em outros termos, isso reflete nos rumos que o país
tem tomado em torno da participação social. Não houveram avanços rumo a
organização de uma 4ª Conferência, o que pode ser explicado pela situação
corrente do Brasil, o que implica na determinação de outras conjunturas de
investigação.

REFERÊNCIAS
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