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27/04/2022 11:54 Notas sobre a participação política dos jovens - Boletim Lua Nova - CEDEC

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Notas sobre a participação política dos jovens

Olívia Cristina Perez[1]


Revista Lua Nova nº 114 - 2022
Bruno Mello Souza[2]

Os jovens de 16 a 18 anos incompletos devem tirar seu título de eleitor até o


A Segurança
início de maio e aqueles que já têm o título devem comparecer às urnas em
em Mutação
outubro de 2022.  Esse tem sido o mote de campanhas entre artistas, mídia,
partidos políticos e do próprio Tribunal Superior Eleitoral para estimular a
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participação das juventudes nas eleições[3]. Há nessas campanhas uma


certa percepção de que a juventude tem pouco interesse pela política e que
deveria participar mais. 

O presente texto problematiza essa percepção e levanta hipóteses que


ajudam a entender o baixo interesse dos jovens pelas eleições. Primeiro
argumentamos que essa falta de interesse tem relação com uma forte
desconfiança nas instituições. Contudo, tal desconfiança não é exclusiva
das juventudes: ela está presente em todas as faixas etárias. E não se trata
apenas de uma desconfiança nas instituições, mas sim no próprio regime
democrático. Ainda assim os jovens estão ativos politicamente,
protagonizando grandes protestos e se organizando em coletivos, que
possibilitariam a inclusão de grupos alijados das instituições políticas
tradicionais.

Baseamos parte dos nossos argumentos em dados coletados pela


pesquisa Latinobarômetro (2020) que reúne um amplo estudo sobre opinião
pública na América Latina. A referida pesquisa é aplicada desde 1995,
Leia em PDF Outras edições
produzindo dados de forma praticamente anual, mensurando atitudes e (https://boletimluanova.org/wp-
(https://boletimluanova.org/periodi
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comportamentos acerca de temas de natureza sociopolítica por parte dos NOVA-114.pdf)
cidadãos destes países. A onda mais recente da pesquisa totalizou 20.204
entrevistas, sendo aplicada em 18 países, entre 26 de outubro e 15 de
dezembro de 2020, com margem de erro de 3% para as amostras
nacionais[4]. Apresentamos neste texto apenas os dados dos 1204
brasileiros que em 2020 responderam a respeito da democracia e suas
instituições. Separamos os dados conforme suas faixas etárias,
considerando os jovens como aqueles que têm entre 16 e 29 anos de idade
e adultos aqueles com mais de 30 anos. 

Com base nesses dados, um primeiro ponto a se ponderar é que a situação


de afastamento e desalento acerca da política no país não é uma
especificidade da parcela jovem da população. O Gráfico 1, por exemplo,
demonstra precisamente que um percentual muito significativo, tanto dos
jovens quanto dos brasileiros com 30 anos ou mais, desconfiam da
instituição eleitoral brasileira, materializada no Tribunal Superior Eleitoral.
Enquanto entre os jovens temos 58% respondendo que confiam pouco ou
nada nessa instituição, os entrevistados acima dos 30 anos de idade

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apresentam um percentual ainda mais elevado de desconfiança (65%).


Considerando tal desconfiança, não poderíamos esperar nada muito
diferente do que uma falta de interesse em comparecer às urnas – tanto por
parte dos jovens, quanto da população em geral.

Gráfico 1– Confiança na instituição eleitoral do país (%)

Fonte: Os autores, com base nos dados do Latinobarômetro (2020).

Uma das instituições que mais gera desconfiança entre os brasileiros são
os partidos políticos. Conforme os dados apresentados no Gráfico 2, em
ambas as faixas encontramos números bastante semelhantes: 86% dos
jovens confiam pouco ou nada nos partidos, enquanto entre os
respondentes com mais de 30 anos esse percentual é de 87%. 

Gráfico 2– Confiança nos partidos (%)

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Fonte: Os autores, com base nos dados do Latinobarômetro (2020)

Os resultados mostram então que as instituições políticas do Brasil se


encontram em xeque, tanto na faixa de idade entre 16 e 29 anos quanto
entre aqueles que têm 30 anos ou mais.  Logo, a preocupação dos
governantes deve ser muito maior do que apenas o voto entre as
juventudes.

Indo mais além, a desconfiança é em relação ao próprio regime


democrático. Como se percebe no Gráfico 3, há um forte sentimento de
insatisfação em relação ao real funcionamento da democracia no Brasil
entre as duas faixas etárias analisadas. Ainda que do ponto de vista difuso
os brasileiros manifestem preferência pelo regime democrático[5] em
comparação com a hipótese de um governo autoritário, na prática acaba por
preponderar a sensação de frustração em relação aos resultados do regime
democrático no país. A este respeito, 82% dos respondentes jovens
afirmaram estar pouco ou nada satisfeitos, enquanto na faixa de 30 anos ou
mais, 76% dos entrevistados responderam o mesmo.

Gráfico 3- Satisfação com a democracia (%)

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Fonte: Os autores com base nos dados do Latinobarômetro (2020)

Há uma percepção entre todos de que o regime democrático não foi capaz
de garantir minimamente o que se espera dos governos. Mas isso não é só
uma percepção, considerando as profundas desigualdades sociais no
Brasil. Ainda assim, tal desconfiança não significa que os jovens estão
apáticos ou não estão participando politicamente, como pode parecer em
uma      avaliação apressada.

Um primeiro exemplo que demonstra a rica participação política das


juventudes é a sua disposição para participarem de protestos. Conforme
dados do Gráfico 4, 58% dos jovens estão dispostos a participar de
protestos em prol de melhorias na saúde e na educação, enquanto entre a
população com mais de 30 anos esse índice cai um pouco, para 54%.

Gráfico 4– Disposição para sair e protestar por melhorias na


saúde e na educação (%)

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Fonte: Os autores com base nos dados do Latinobarômetro (2020)

De fato, a década de 2010 marcou a história do Brasil por conta de um


intenso ciclo de protestos, iniciado com as Jornadas de Junho de 2013, em
que milhares de pessoas foram às ruas inicialmente pedindo a redução da
passagem de ônibus e depois denunciando principalmente a forma como a
política é conduzida no país (Perez, 2021). Nem a pandemia foi capaz de
impedir ou alterar substantivamente o ciclo de protestos que estava
acontecendo no Brasil. De modo geral os protestos durante a pandemia
expressaram bandeiras e embates presentes no período anterior, a saber: de
um lado a defesa da democracia, das pautas mais à esquerda e contra o
presidente Bolsonaro; de outro, defensores do Bolsonaro e do projeto
autoritário que ele representa (Perez, 2022).

Os protestos contaram com forte presença de organizações de juventude,


chamadas de coletivos, que atuam na defesa dos direitos de grupos com
menos acesso a eles como mulheres, negros, moradores de periferia e
população LGBTQIA+ (sigla para lésbicas, gays, bissexuais, transexuais,
travestis, transgêneros, queer, intersexuais, assexuais e o mais, que serve
para abranger a pluralidade de orientações sexuais e variações de gênero).

Há entre os coletivos uma crítica à forma como a política é exercida nas


instituições consideradas tradicionais, como os partidos políticos, pelo fato
dessas instituições serem consideradas hierárquicas e com excesso de

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normas (Perez e Souza, 2020). Tais organizações seriam ocupadas pelos


mesmos políticos de sempre: homens, brancos, velhos, ricos e de regiões
mais privilegiadas.

Para contornar esse problema, os jovens se organizam em coletivos,


organizações mais horizontais e autônomas, possibilitando assim que
todos possam decidir, sem a necessidade de lideranças ou dependência de
outras instituições (Perez e Souza, 2020). Embora a autonomia e a
horizontalidade possam não ser concretizadas, há uma intenção de que
essas organizações sejam mais inclusivas. Ou seja, para os jovens
organizados em coletivos, seria preciso incluir em todas as decisões de
uma organização as mulheres, os negros, a população LGBTQIA+ e os
moradores de periferia; somente eles poderiam e deveriam falar sobre seus
problemas. Com base nas experiências desses grupos, seriam construídas
políticas públicas mais afinadas com a realidade social. 

Os coletivos conectam então a ideia de que os grupos mais sujeitos a


opressões sociais têm dificuldade de alcançar os direitos porque eles não
estão presentes nas decisões políticas. Logo, a falta de interesse nas urnas
não se trata apenas de uma apatia das juventudes, mas de uma certeza que
essas instituições políticas excludentes não os representam. Nesse sentido,
para que os jovens confiem nas instituições, elas devem primeiro incluir os
grupos alijados das decisões públicas.

Fica então o convite para que as análises sobre as juventudes não


acentuem apenas o baixo comparecimento eleitoral, mas atentem para os
importantes recados que suas mobilizações têm expressado.  Há uma
percepção entre os jovens de que as instituições políticas não estão
conseguindo incluir as juventudes no campo dos direitos, assim como
outros grupos com mais dificuldade de acesso a eles.  E para que isso
aconteça é necessário que as organizações políticas se abram de fato à
participação desses grupos. Somente com a inclusão de todxs (jovens,
mulheres, negros, moradores de periferia e população LGBTQIA+) nas
principais decisões públicas, eles adentrarão no campo dos direitos. 

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Boletim Lua Nova ou


do Cedec.

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Referências

LATINOBARÔMETRO. Banco de dados: Latinobarómetro, 2020. Disponível


em: <http://www.latinobarometro.org> Acesso em 10 de abril de 2020.

PEREZ, O. C. Brazilian street protests during the covid-19 pandemic.


OnePager, v. 1, p. 1, 2022.

PEREZ, O. C. Sistematização crítica das interpretações acadêmicas


brasileiras sobre as Jornadas de Junho de 2013. Izquierdas, v. 1, p. 1-16,
2021.

PEREZ, O. C.; SOUZA, B. M. Coletivos universitários e o discurso de


afastamento da política parlamentar. Educação e Pesquisa, v. 1, p. 1-19,
2020.

[1]
Professora de Ciência Política da Universidade Federal do Piauí. Pós-
doutorado em Ciencias Sociales, Niñez y Juventud (CLACSO, Univ.
Manizales/CINDE). Doutora em Ciência Política pela Universidade de São
Paulo (USP). E-mail: oliviaperez@ufpi.edu.br
[2]
Professor de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Piauí. Doutor e
Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS). E-mail: brunosouza@cchl.uespi.br

[3]
Ver:
https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2022/noticia/2022/03/25/com-
baixa-adesao-tse-mobiliza-redes-para-estimular-voto-dos-jovens-nas-
eleicoes.ghtml
(https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2022/noticia/2022/03/25/com-
baixa-adesao-tse-mobiliza-redes-para-estimular-voto-dos-jovens-nas-
eleicoes.ghtml)
[4]
Para mais informações a respeito da pesquisa do Latinobarômetro, ver os
documentos disponíveis em: www.latinobarometro.org

[5]
Os dados de 2020 do Latinobarômetro indicam que 42% dos jovens entre
16 e 29 anos consideram a democracia o melhor regime de governo,
enquanto entre aqueles com 30 anos ou mais 47% manifestam essa

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preferência. Ainda nessa variável 18% dos jovens e 11% dos indivíduos
acima de 30 anos manifestaram que em algumas circunstâncias um
governo autoritário pode ser preferível, enquanto 40 e 42%, respectivamente,
afirmaram não fazer diferença o regime de governo.    

Fonte Imagética: Feriado da Independência do Brasil é marcado por


protestos em Teresina. Foto: Arquivo/ J. Paiva. Disponível em:
<https://piauihoje.com/noticias/geral/feriado-da-independencia-do-brasil-e-
marcado-por-protestos-em-teresina-375109.html>. Acesso em: 11 abr. 2022.

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