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14/02/23, 07:48 Mudar o sentido das coisas - Revista Select

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Da Parte pelo Todo (2014-22), de Cinthia Marcelle (Foto: Isabella Matheus


/ Divulgação)

POSTADO EM 13/02/2023 - 2:54

MUDAR O SENTIDO
DAS COISAS
Cinthia Marcelle joga com as estruturas de poder em Por Via das
Dúvidas, no Masp

FERNANDA MORSE < HTTPS://SELECT.ART.BR/AUTOR/FERNANDA-MORSE>

Nada grita, tudo chama: em Por Via das Dúvidas, primeira retrospectiva da artista
Cinthia Marcelle em grande instituição brasileira, pode-se vislumbrar o que é isso
que vibra em sua obra, ainda que a exposição nem sempre se coloque a favor do
caráter sincrônico e insurgente do seu trabalho. Descendo a rampa que leva ao

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segundo subsolo do Masp, os eixos da mostra se anunciam a partir da grande


parede diagonal instalada no salão. Diferentes linguagens (fotografia, vídeo,
colagem, instalação, performance, entre outras) e materiais (desde papel fotográfico
até objetos do repertório da construção civil) articulam-se em uma produção
calcada em procedimentos conceituais finos e forte inquietação política.

Variando entre a economia e o excesso, a sutileza e o burburinho, Cinthia Marcelle


se interessa em mudar o sentido das coisas (“I can change the meaning of things”,
afirma em vídeo para a exposição com-contra-de-desde, em 2011) rearranjando, no
âmbito da arte, a ordem do que está dado no mundo. É nesse caminho que a
produção artística se constitui como um poderoso exercício de imaginação política.
Problemas como o tempo e o trabalho, o previsível e a contingência, a norma e o
desvio são abordados de modo a trazer para o campo simbólico aspectos
mundanos, por vezes considerados “apoéticos”, que facilmente fogem à nossa
atenção.

Bem, o estranhamento que esse tipo de procedimento causa não é novidade, e o


esforço de unir a arte à tal “práxis vital”, como diria Peter Burger, já se conhece
desde as vanguardas do início do século passado. Apostando mais no exercício
reflexivo do público do que em seu estado contemplativo, Marcelle nos lembra a
todo instante que arte é trabalho e é tempo – e o que ela quer é fazer entrar aquilo
que está do lado de fora do museu –, daí o jogo com os tapumes brancos apoiados
no vidro que dá para o jardim, explicitando a tensão entre o fora e o dentro.

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Ainda que busque criar uma desidentificação no público, um distanciamento à la


Brecht – isso é uma montagem, isso é uma cena –, a obra de Cinthia Marcelle não
afasta, e, nesse sentido, é coerente com o seu processo, que se desenrola a partir
do contato, da troca, da interação com o outro, como defende a artista. “Ao escrever
isso, penso no garotinho que cruzei em minha visita, 5 anos no máximo, vidrado na
TV que exibe o vídeo Confronto, da série Unus Mundus (2005), seguindo a dança do
fogo e dançando junto.”

O título da série, aliás, dá o ensejo para que se pense o caráter sincrônico da sua
produção. O termo latino unus mundus – literalmente, “um só mundo” – remonta
aos alquimistas medievais e à sua recuperação por Carl Gustav Jung, que elabora o
conceito de sincronicidade. Marcelle se apropria desse princípio explorando a
orquestração dos eventos – como eles podem ser coordenados incidindo ao mesmo
tempo, de diversos pontos, sobre o real. O trabalho da mesma série intitulado
Refrão (2004/15), que aparece na mostra como registro, explora tal princípio ao

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reunir casais que se beijam no mesmo horário, na mesma praça, com as mesmas
cores de roupa. Já em Confronto, um grupo de pessoas fazendo malabares no
semáforo é algo corriqueiro – mas basta que fiquem mais um pouco, quando o sinal
vermelho fica verde, para que se altere a ordem das coisas.

Destacando-se em três eixos, estão: a instalação que dialoga com o espaço do


museu, Da Parte pelo Todo (2014-22); as obras ligadas ao universo da educação,
como R=0 [Homenagem aos Secundaristas] (2022) e Educação pela Pedra (2022); e a
série Calendário (2018-20), que explora a correlação entre tempo e trabalho. Embora
abordem temas e se utilizem de materiais diferentes, os assuntos se interpenetram
– as ferramentas de trabalho trazidas em um, a meditação sobre o seu exercício
trazida em outro; os limites impostos pelas instâncias de poder em um, os limites
traçados pelos espaços institucionais em outro etc.

Da Parte pelo Todo (2014-22), em sua montagem pensada para a exposição, parece
ter o interesse de salientar as fronteiras, as interdições, a luz e a sombra que
constituem o espaço do museu. E ali onde o preto vira branco e vice-versa, lê-se o
aviso, que se integra, inevitavelmente, à obra: favor não ultrapassar. Penso em
Marcel Broodthaers e seu fictício Musée d’Art Moderne – Département des Aigles.
Instituição sem espaço próprio, o seu museu se materializava nas placas e peças de
sinalização irreverentes criadas pelo artista – ou seja, existia em seus mecanismos
de delimitação de espaços e seções que, fisicamente, nem existiam – setas que não
levam a lugar algum, regras que não serão cumpridas. Dentro dessa problemática,
vale lembrar do relato da própria Marcelle, em vídeo para a sua exposição
individual de 2022 no Macba < https://www.youtube.com/watch?
v=pi07C4qZ9f0&ab_channel=MACBABarcelonaOficial> : “O meu trabalho começa
no espaço urbano, fora de galerias e instituições” e, ao visitar uma exposição sua, “o
público vai ver o que ele já viu, mas de uma outra forma”.

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Em R=0 [Homenagem aos Secundaristas] (2022), Marcelle homenageia e ativa a


memória de uma das mais relevantes ações políticas contestatórias das últimas
décadas no Brasil. O movimento dos secundaristas, que em 2015 ocuparam suas
escolas em uma luta ativa, propositiva e organizada contra medidas do Estado que
previam o fechamento de diversas unidades, atesta o poder da mobilização coletiva.
E a artista, ao pegar um elemento que fez parte dessa história – a cadeira escolar –
intervindo sutilmente sobre ele em um jogo de equilíbrio com o giz – que já havia
realizado na primeira versão da obra, intitulada R=0 [Homenagem a M.A.] (2009) –
sugere em um esquema físico e visual como é tênue o equilíbrio de uma estrutura
uma vez que se intervém na sua base.

Giz e lousa são material e suporte recorrentes na produção da artista. Mas,


diferente das lousas de Joseph Beuys, saturadas de discursos e rabiscos, das
lousas de Cinthia Marcelle ficam o rastro do giz e o pó – a sua produção não é
ideológica. A mensagem não vem pronta, direta, não está ali para simplesmente ser
transmitida. O sentido está a ser feito, a ser completado, não foi capturado. O ímpeto
é contestatório, não sendo tarefa do artista dar a resposta, mas fazer circular a
pergunta – penso em Cildo Meireles carimbando as notas.

Já na série Calendário, a interdependência entre tempo e trabalho é demonstrada


através de um esquema montado entre tecido, ripas de madeira, tinta e barbante. O
tecido é industrialmente tingido com seu fundo branco e listras pretas, e a artista
cobre manualmente a superfície com tinta branca. Quanto mais a tinta branca
avança sobre as listras pretas do tecido, somam-se as ripas de madeira acima do
painel envolvidas com um cadarço preto que também se estende gradualmente
sobre elas. O título de cada peça é composto por um sinal de menos e um número,
como 12 e seus múltiplos: -12, -24, -36, -48… (se pensarmos em anos, temos 1, 2, 3,
4 e assim por diante). A peça número 0 é aquela em que só vemos os materiais
reunidos, sem intervenção. A materialização do trabalho demonstrada aqui é
referenciada através de números negativos, como se, ao contrário das noções de

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construção, ganho e avanço embutidas na ética do trabalho, aqui ele fosse encarado
como sinônimo de perda de alguma coisa – perda de tempo.

Quando digo que nem sempre a exposição dá conta do caráter sincrônico e


insurgente da obra de Marcelle penso, sobretudo, na escolha por trazer algumas
produções que, exibidas enquanto registro, perdem parte de sua força e razão de
ser, já que são fenômenos vinculados ao presente em que se dão. Entre elas, estão
a performance Na Batalha de Maria (2003/22), a ação Refrão (2004/15), a Raspadinha
(2000-16) que fez circular o (termo) Poder, ou mesmo a adaptação de Educação pela
Pedra (2016), obra inicialmente realizada em diálogo com o espaço da Duplex Gallery
do MoMA PS1, que antes abrigava uma escola. Por outro lado, não é desinteressante
ter notícia desses trabalhos, afinal nos permite vislumbrar o percurso da artista até
aqui, ainda que se dê como experiência incompleta – e não teria como ser de outro
jeito.

Nada grita, tudo chama na produção de Cinthia Marcelle, porque é sutil e, ao


mesmo tempo, mobiliza. Os temas são pontudos, os problemas são complexos, o
posicionamento é político, mas nada é indiscriminadamente jogado pra cima de nós.
É como se o objetivo fosse mexer com a gente assim como aquele giz mexe com
aquela cadeira. Experimentar com o que desmonta, abre, expõe a estrutura – até a
parede da expografia mostra o seu dentro, as ripas que a mantêm de pé. Em 2017,
ao receber menção honrosa pela instalação Chão de Caça no pavilhão brasileiro da
57ª Bienal de Veneza, Marcelle termina seu discurso citando a célebre frase do
crítico de arte Mário Pedrosa: “Arte é o exercício experimental da liberdade”.

Fernanda Morse é escritora, tradutora e pesquisadora. Atua no campo da poesia e


das artes visuais. Atualmente, finaliza seu mestrado no Departamento de Teoria
Literária e Literatura Comparada da USP.

TAGS  CINTHIA MARCELLE, MASP 

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POSTADO EM 13/12/2012 - 20:18 - CRÍTICA

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