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PASSANDO PELOS 19 ANOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS À

POPULAÇÃO LGBTQIAPN+

Lavine Marques Rodrigues

INTRODUÇÃO

Este ensaio tem como objetivo interpretar as políticas públicas voltadas à população
LGBTQIAPN+ no Brasil, apresentando contribuições teóricas de extrema relevância que são
primordiais para apresentar uma abordagem que vai ao encontro de perspectivas críticas que
buscam discutir acerca das configurações de políticas públicas que regem e influenciam as
decisões relacionadas a esses indivíduos discriminados sócio-político-economicamente nos
contextos atuais.
Nesta continuidade, será pautado também as relações das políticas que são
direcionadas aos indivíduos LGBTQIAPN+ e seu enlace com a saúde dessa comunidade, suas
relações que são marcadas pela divergência entre necessidade de atendimento e precarização
do mesmo.
Este texto é formado por três partes: A primeira de título “Um olhar nas políticas
públicas do Governo Lula” apresentará medidas realizadas com o objetivo sancionar os
problemas relacionados a homofobia; a segunda parte, de nome “Inclusão e foco na saúde
pública” abordará especificamente as políticas públicas presentes na área da saúde; por fim, a
última parte nomeada “Conclusão e apontamentos” encerrará este ensaio.
A metodologia que irá conduzir este ensaio será pautada nos textos oficiais
direcionados à essas políticas: Brasil sem homofobia; Anais das Conferências; Plano
Nacional; Política de Saúde Integral, entre outros. Outrossim, como extensão desses
conhecimentos previamente ditados, será utilizado materiais fundamentais para o curso de
Serviço Social, que desenvolvem a formação crítica e fornecem embasamento teórico para
elaboração de análises importantes no contexto educacional, que irá engrandecer também a
atuação profissional crítica pautada nos direitos humanos.

UM OLHAR NAS POLÍTICAS PÚBLICAS DO GOVERNO LULA COM O PASSAR


DOS ANOS

A questão da realização de políticas voltadas à comunidade LGBTQIAPN+ é marcada


por resistência do próprio movimento, que almejava conquistar esse direito por meio de
atuação no Poder Legislativo:

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Àquela época, também se deve registrar a frente prioritária de atuação do
movimento LGBT estava no Poder Legislativo, ainda que já fossem visíveis as
resistências às demandas relativas a direitos sexuais e reprodutivos, especialmente
em função da atuação de parlamentares vinculadas a grupos religiosos.
(MELLO,2012)

Com essa resistência, a atuação passou a ser voltada para o Poder Executivo no
Governo Lula, onde passou a ter maior visibilidade e consequentemente houve a criação de
iniciativas para o combate a Homofobia, sendo elas: Brasil Sem Homofobia (BSH);I
Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais; Plano Nacional
de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais ;Programa Nacional de Direitos Humanos 3; Criação da Coordenadoria Nacional
de Promoção dos Direitos de LGBT ;Implantação do Conselho Nacional LGBT. (Pg 07, do
bom uso do mau gênero)
Essas medidas foram implementadas com o objetivo de reduzir as questões da
homofobia no País, progressos tão importantes foram fruto de uma liderança de movimentos
sociais que tiveram papel decisivo no enfrentamento das desigualdades, que também narraram
com a colaboração de atores governamentais de diversos departamentos que confirmaram
com ações voltadas para a prevenção e tratamento de doenças, sempre levando em
consideração as realidades e particularidades enfrentadas pelas pessoas LGBTQIAPN+.
É importante comentar sobre essas iniciativas de combate à homofobia, pois elas são
fundamentais para promoção do bem estar dessa comunidade. Sendo assim, o programa Brasil
sem Homofobia (BSH), lançado em 2004, tem como princípio:

A inclusão da perspectiva da não-discriminação por orientação sexual ede promoção


dos direitos humanos de gays, lésbicas, transgêneros e bissexuais, nas políticas
públicas e estratégias do Governo Federal, a serem implantadas (parcial ou
integralmente) por seus diferentes Ministérios e Secretarias. (Brasil sem
Homofobia,2004,p.11)

O programa Brasil sem Homofobia, foi uma das primeiras medidas relacionadas ao
combate a homofobia do Governo Lula. Entretanto, apenas uma medida não é suficiente para
sanar essa problemática, sendo assim, em 2008 houve a I Conferência Nacional GLBT, que
contou com a presença do Presidente Lula e teve como tema: "Direitos Humanos e Políticas
Públicas: O caminho para garantir a cidadania de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e
Transexuais".(Clam,2007)
Após um ano, lançou o Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos
Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, que foi resultado da I
Conferência Nacional GLBT (decreto planalto), esse projeto teve como missão desenvolver
políticas públicas para enfrentar o preconceito e a discriminação contra LGBTQIA+ (Brasil,
Governo Federal,2008)
No mesmo ano, em 2009, foi criado O Programa Nacional de Direitos Humanos 3 e
tem como objetivo promover e proteger os direitos humanos no Brasil, em diversas áreas,
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como saúde, educação, segurança pública, meio ambiente, entre outras. (BRASIL. DECRETO
Nº 7388,2010)
Em 2010, foi criada a Coordenadoria Nacional de Promoção dos Direitos de LGBT,
que realiza capacitações para profissionais que atuam na área da saúde e da segurança pública,
e a promoção de debates e seminários sobre temas relacionados aos direitos LGBT. Luiz
Mello, et al (2012)
Ainda no mesmo ano, foi criado o Conselho Nacional LGBT por meio do Decreto
Presidencial n°7388, com a finalidade de defender os direitos LGBT, além de contribuir com
a mobilização e elaboração de políticas públicas.
Ou seja, apesar de não conter neste tópico todas as políticas que contribuem para o
combate à homofobia, as que foram apresentadas contemplam uma gama de informação
acerca de suas funções sociais e os papéis que desempenham nessa função. Sendo assim, deve
levar-se em consideração a relação desses projetos com a interseccionalidade, que deve ser
levada em conta quando se trata de políticas públicas, pois não há homogeneidade nas pessoas
e suas características e realidades devem ser mencionadas nesses processos de alcance da
promoção dos direitos dessa comunidade.

INCLUSÃO E FOCO NA SAÚDE PÚBLICA


Partindo do ponto das providências tomadas no Governo Lula, é notório as medidas
voltadas ao combate da homofobia, por meio de realizações de projetos e legislações.
Contudo, outra parte importante para sancionar esses impasses é melhorar o tópico entre
saúde e a comunidade, visando torna-la mais abrangente aos indivíduos.
Tratando-se das relações desses indivíduos e a saúde pública, quando se trata do SUS
(Sistema único de Saúde) nota-se que medidas foram criadas para fortalecer a interação entre
usuários LGBTQIAPN+ e o SUS, como a inclusão do nome social no cartão de identificação:

No ano de 2012 foi incluído o nome social no Cartão SUS, garantindo o respeito à
Portaria nº 1.820, de 13 de agosto de 2009, que dispõe sobre os direitos e deveres de
usuários de saúde, entre eles o direito ao uso do nome social no SUS.
(SENA e SOUTO, 2017)

Ainda trabalhando nessa perspectiva, é fundamental mencionar acerca das ações


realizadas para integração, especificamente, de pessoas transexuais e travestis no Sistema
Único de Saúde, para concretizar essa iniciativa foi necessário iniciar um processo de revisão
da Portaria nº 457, de 19 de agosto de 2008, que regulamentava o Processo Transexualizador
no SUS. (pg 06 avanços e desafios). Esta pauta gerou um seminário dedicado as discussões
acerca de como melhorar o sistema para que possa atender as demandas desses indivíduos e a
partir desse ponto passar essas reivindicações para prática:

A Portaria nº 2.803/13 estabeleceu novas diretrizes, linha de cuidado e ampliação da


atenção à saúde considerando a integralidade, desde a atenção primária até a alta
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complexidade; garantia da integralidade da atenção, não restringindo ou
centralizando a meta terapêutica às cirurgias de redesignação sexual e demais
intervenções somáticas; garantia da humanização da atenção, promovendo um
atendimento livre de discriminação (SENA e SOUTO,2017)

A nova portaria abrange questões maiores no que tange a comunidade transexual e


travesti, pois considera a integralidade e mantém a atenção na humanização olhando além da
redesignação sexual, sendo uma abordagem mais humanizada para garantia da estabilidade e
conforto dos usuários, além de fornecer também a capacitação e formação das equipes de
saúde que integram esse processo. (BRASIL, Portaria Nº2.803,2013)
Nesta sequência, em 2013 foi elaborada a cartilha voltada à mulheres lésbicas e
bissexuais, intitulada "Mulheres Lésbicas e Bissexuais-Direitos, Saúde e Participação Social"
que tinha como objetivo ressaltar a relação entre a luta das mulheres sáficas na construção das
políticas públicas, principalmente, da saúde. ( SENA e SOUTO,2017,p.17)
Ainda no ano de 2013, foi criada a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas,
Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, que seguiu as diretrizes do Programa Brasil sem
Homofobia e visava inserir mecanismos de gestão para atingir maior equidade no SUS, para
dar maior atenção as necessidades relacionadas à saúde da população LGBT, para ampliar o
acesso aos serviços e reduzir danos à saúde dessa comunidade.(BRASIL,2013)
Ademais, com o avanço dessas políticas voltadas à população LGBTQIAPN+ foi
necessário capacitar as equipes que trabalham diretamente com esses indivíduos. Então, foi
desenvolvido o Módulo de Educação à Distância (EAD)s sobre Política Nacional de Saúde
Integral LGBT (SENA e SOUTO,2017,p.20) que tinha como propósito justamente melhorar o
atendimento aos usuários por meio da mão de obra qualificada e humanizada.
Partindo dos fundamentos apresentados, vê-se a importância da criação de políticas
públicas direcionadas à comunidade LGBTQIAPN+, já que esse grupo social foi
marginalizado durante séculos, principalmente em relação à saúde, considerando que a
questão do bem-estar dessa população foi negligenciada desde os primórdios e também
generalizada, o que contraria os fundamentos da interseccionalidade pois as necessidades da
população LGBT não são as mesmas de indivíduos que não fazem parte desse grupo social.

CONCLUSÃO E APONTAMENTOS
Compendiando o que foi apresentado neste ensaio, e analisando diferentes aspectos de
vários projetos, portarias e cartilhas, proporcionou-se uma contribuição significativa nesta
área de estudo. Cabe destacar a importância deste tema para a formação de assistentes sociais,
haja vista a atuação desses profissionais na linha de frente em todos os âmbitos
governamentais, principalmente na saúde, o que evidencia a necessidade de possuir
conhecimento acerca da comunidade LGBTQIAPN+, para estar capacitado e possuir um olhar
crítico dessa realidade vivenciada.
A política nacional LGBT brasileira surge no bojo das contradições neoliberais, o que
implicará em disputas orçamentárias e limitará a proposta governamental. (IRINEU,2019).Ou
seja, essas ações surgiram em um período em que a política de direitos humanos no Brasil
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estava começando a ter espaço em uma sociedade recém dominada pelo liberalismo e por
conseguinte pelo capitalismo.
Todos os conteúdos apresentados contemplam o avanço das medidas conquistadas
durante esses dezenove anos e expõe sua relevância e feitos na sociedade. Essas
determinações foram fundamentais para fortalecer os movimentos sociais LGBT no Brasil,
pois estavam minimamente amparados por disposições que engrandeciam a causa, trouxe uma
inclusão maior em relação ao Sistema Único de Saúde e tornou-o mais receptivo e humano
para receber e tratar indivíduos LGBT de acordo com suas necessidades e demandas.
Portanto, vale ressaltar que apesar desses avanços, é primordial continuar melhorando
e mantendo as políticas públicas que foram construídas durante esses anos, pois os direitos
LGBTQIAPN+ são incertos e podem ser retirados com mudança de poder e políticas
governamentais.

REFERÊNCIAS

CONSELHO Nacional de Combate à Discriminação. Brasil Sem Homofobia:Programa de


combate à violência e à discriminação contra GLTB e promoção da cidadania
homossexual. Brasília : Ministério da Saúde, 2004.

Clam.org.br. 1°Conferência Nacional de Gays,Lésbicas,Bissexuais,Travestis e


Transexuais(GLBT).Clam,2007. Disponível em:
http://www.clam.org.br/destaque/conteudo.asp?infoid=3541.Acesso em: 29/05/2023

www.gov.br. Conselho Nacional de Combate à Discriminação LGBT.www.gov.br.


Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-
social/conselho-nacional-de-combate-a-discriminacao-lgbt/conselho-nacional-de-combate-a-
discriminacao-lgbt. Acesso em: 29/05/2023

BRASIL. DECRETO Nº 7388, de 09 de Dezembro de 2010. DISPÕE SOBRE A


COMPOSIÇÃO, ESTRUTURAÇÃO, COMPETÊNCIAS E FUNCIONAMENTO DO
CONSELHO NACIONAL DE COMBATE À DISCRIMINAÇÃO - CNCD.
Brasília,2010. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2010/decreto/d7388.htm Acesso em: 29/05/2023

Mello, Luiz et al. Políticas públicas para a população LGBT no Brasil:notas sobre
alcances e possibilidades. cadernos pagu (39), julho-dezembro de 2012.

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SENA, Ana Gabriela Nascimento, Souto, Kátia Maria Barreto. Avanços e desafios na
implementação da Política Nacional de Saúde Integral LGBT. Tempus, actas de saúde
colet, Brasília, 2017.

BRASIL, PORTARIA Nº2.803 De 19 de Novembro de 2013. Redefine e amplia o Processo


Transexualizador no Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília, 2013. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt2803_19_11_2013.html Acesso em:
29/05/2023

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Política


Nacional de Saúde Integral de Lésbicas,Gays,Bissexuais,Travestis e Transexuais.
Brasília, 2013

Irineu, Bruna Andrade. Nas tramas da política pública LGBT: um estudo crítico acerca
da experiência brasileira (2003-2015) / Bruna Andrade Irineu. – 1. ed. –Cuiabá: EdUFMT,
2019.

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