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OLHARES SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS E A REDE DE PROTEÇÃO DE

SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL


Autoras:
Bárbara Oliveira Souza
Edileuza Penha de Souza

INTRODUÇÃO

O módulo Olhares sobre políticas públicas e a rede de proteção de saúde do Distrito Federal
tem como objetivo refletir a respeito dos direitos e do histórico das políticas públicas no Brasil,
com abordagem sobre as lutas sociais e as dimensões voltadas às relações raciais. Essa análise visa
contribuir com o olhar sobre as políticas de saúde e a rede de proteção à saúde para a população
em situação de rua, a partir da leitura de aspectos sociais fundamentais para a compreensão da
diversidade brasileira, assim como visa contribuir com a análise de dimensões vinculadas à
desigualdade social.
Serão abordados temas como políticas públicas, direitos humanos, direitos sociais e coletivos,
racismo, misoginia, discriminação e diversidade. O objetivo central consiste em pensar as
desigualdades raciais no Brasil, como o racismo institucional, e refletir acerca da atuação dos
movimentos sociais pela luta em prol da igualdade de direitos e do cumprimento da Constituição
brasileira, bem como acerca dos reflexos desse amplo contexto sobre a população em situação de
rua.
Pelo fato de o presente curso ter como público servidores do Sistema Único de Saúde (SUS),
estudantes, conselheiros de saúde e lideranças de movimentos sociais, torna-se relevante, em seu
conteúdo, conceder espaço a análises de aspectos centrais da sociedade brasileira, especialmente
1
em um país onde o sistema escravista perdurou por quase quatrocentos anos e no qual o racismo
está presente na sociedade como um todo, de forma estrutural. É também um país que apresenta
uma estrutura desigual de acesso aos espaços de poder para homens e mulheres, negros e
brancos. Além disso, convive com dados alarmantes de violência contra a mulher e com taxas de
homicídio que atingem, de forma central, a população negra.
Cabe destacar, nesse debate, a significativa presença de negras e negros entre o contingente de
população em situação de rua no Brasil. Os dados sobre essa população ainda são muito escassos.
As informações disponíveis, porém, já nos apontam a relevância do quesito raça/cor nessa análise,
assim como a maior presença masculina. Destacamos, aqui, algumas das pesquisas realizadas.
De acordo com a Pesquisa Censitária Nacional sobre Crianças e Adolescentes em Situação de Rua1,
realizada em 75 cidades brasileiras, incluindo capitais e cidades de médio a grande porte, com
mais de 300 mil habitantes, foram identificadas 23.973 crianças e adolescentes em situação de rua
no país. Desse total, a maior parte é de crianças e adolescentes do sexo masculino, 71,8%,
enquanto 28,2% é composto de meninas crianças ou adolescentes. A maioria (72,8%) das crianças
e adolescentes em situação de rua é negra (49,2% pardos e 23,6% pretos), enquanto 23,8% são
brancos. De acordo com o Censo do IBGE de 2010, a população negra no Brasil é de 50,7% (7,6%
pretos e 43,1% pardos), o que indica uma sobrerrepresentação de negros e negras entre a
população em situação de rua. Esse é mais um indicador da estrutura racista de nossa sociedade.
A outra pesquisa que citamos aqui foi feita a partir de dados do Cadastro Único de Programas
Sociais e de outras bases da assistência social. A partir de cruzamentos desses dados, o Ipea chegou
à estimativa de pouco mais de 100 mil pessoas em situação de rua no Brasil. O levantamento
também indica uma grande fragilidade de acesso a políticas públicas para esse segmento, que
apresenta significativa vulnerabilidade, com ênfase no levantamento para a falta de acesso às
políticas de assistência social.

1
Pesquisa realizada em 2010 pela Secretaria de Direitos Humanos e o Instituto de Desenvolvimento Sustentável.
2
No eixo 1, será enfocado o debate sobre direitos humanos, direitos sociais, instrumentos
internacionais vinculados aos direitos, marcos nacionais, com ênfase na Constituição de 1988, a
mobilização social e a luta por direitos. Na parte final desse eixo, será abordada a reflexão sobre
diversidade e desigualdade e os reflexos dessa questão em nossa sociedade. Um olhar sobre a
questão racial estará presente nesse olhar, especialmente para enriquecer a análise sobre a
população em situação de rua a partir dessas questões tão centrais para a sociedade brasileira.
O eixo 2, por sua vez, dará maior ênfase à análise das políticas públicas de forma mais ampla e ao
olhar sobre a dimensão racial. O eixo é concluído com reflexões acerca da política de saúde, do
histórico de luta para acessar esses direitos sociais e de como a população em situação de rua está
inserida nessa questão.

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EIXO 2 | OLHARES SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS E RELAÇÕES RACIAIS A PARTIR DA
POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA

SEÇÃO 1 – POLÍTICAS PÚBLICAS, POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA E A DIMENSÃO RACIAL

Introdução
A luta por direitos não se encerra quando há a conquista de marcos legais, como o Artigo 5º e 6º
da Constituição Federal ou como o Decreto 7053, que institui a Política Nacional para a População
em Situação de Rua. A efetivação dos direitos se materializa, no cotidiano da população, a partir
da formulação e implementação das políticas públicas. É nesse momento que os efeitos da base
legal que assegura direitos começam a se materializar. Contudo, também há muitos desafios no
ciclo que permeia as políticas públicas.
A seguir, apresentamos uma síntese das fases que envolvem as políticas públicas2.

2
Fonte: quadro disponível em <https://www.politize.com.br/ciclo-politicas-publicas/>. Acesso em 02/08/2019.
4
Um vez que os recursos da administração pública são escassos, é fundamental haver um
planejamento, bem como definir as prioridades a serem implementadas. A fase de formação da
agenda é aquela na qual se faz a avaliação e o diagnóstico da situação, além de se definirem as
prioridades, a partir de uma lógica balizada em critérios que, em geral, devem ser voltados para o
atendimento a áreas mais demandadas.
Alguns critérios podem nortear essa definição de agenda, como as condições locais de onde vai
ser implementada a política, os recursos orçamentários e humanos disponíveis, a necessidade
política, dentre outros. No caso da Política Nacional para População em Situação de Rua, as
pesquisas que abordam o segmento e norteiam quantos são, onde vivem e como vivem as pessoas
em situação de rua, apesar de escassas, são fundamentais para essa fase de planejamento das
políticas públicas.
A outra fase consiste na formulação da política a ser desenvolvida. Isso permeia um desenho das
estratégias, das formas possíveis de como essa política será formatada para se tornar mais efetiva
quando executada, parceiros necessários, recurso orçamentário necessário.
A partir da formulação, entra a etapa de definição de qual estratégia será efetivada na
implementação da política pública. É a chamada fase da tomada de decisão. Em geral, essa tomada
de decisão envolve o corpo diretivo do órgão envolvido na execução da política pública em
questão.
A implementação é a concretização desse processo prévio de planejamento e de decisão, para
possibilitar que os direitos assegurados à população ou a determinado segmento populacional
sejam efetivados na ponta. É a fase na qual a política pública é executada e tem os recursos
orçamentários direcionados para a ação, iniciando-se a execução do que foi planejado para se
alcançar as metas pensadas.
Contudo, nem sempre a execução ocorre da melhor forma. Muitas vezes, os resultados são muito
aquém das metas previstas. Outras vezes, há um erro na própria formulação da política, que pode
ser identificado a partir de um processo de análise. Essa é a fase de avaliação e monitoramento.

5
São ações que perpassam todos os ciclos da política pública e que consistem em práticas
fundamentais para assegurar a qualidade e efetividade das ações.
As formas de monitoramento e avaliação das políticas públicas são variadas. Contudo, um modelo
para essa fase das políticas públicas que cabe destacar é o contínuo monitoramento e avaliação
desempenhados por conselhos, comissões ou comitês que possuem relação com determinada
política. Dessa forma, é possível fazer uma avaliação a partir de múltiplos olhares, com a
perspectiva de representantes da sociedade civil e de distintos órgãos de governo.
Cabe citar alguns exemplos. No caso da Política Nacional para a População em Situação de Rua,
esse processo é realizado pelo Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da
Política Nacional para a População em Situação de Rua (CIAMP Rua). Ele foi criado pelo Decreto
7053/2009. Sua principal função envolve exatamente essa etapa mencionada acima, de avaliação
e monitoramento.
O Comitê é composto por oito membros titulares da sociedade civil e oito do governo e seus
respectivos suplentes. São representantes da sociedade civil: Movimento Nacional da População
de Rua, Fórum do Povo da Rua de Fortaleza, Fórum Permanente da população de Rua do Rio de
Janeiro e Fórum Permanente de Acompanhamento da Política da População em Situação de Rua
de São Paulo e Pastoral Nacional da População em Situação de Rua.
No âmbito do governo federal, os órgãos que têm assento são os que têm por missão a execução
de políticas fundamentais para a população em situação de rua. São eles: Ministério do Trabalho e
Emprego, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Ministério da Justiça,
Ministério da Cultura, Ministério do Esporte, Ministério da Saúde, Ministério da Educação e
Ministério de Direitos Humanos, Mulher e Família.
Contudo, com a promulgação do Decreto 9.759, de 11 de abril de 2019, foram extintos diversos
conselhos, comissões e comitês que tinham também como função o monitoramento e avaliação
de políticas setoriais. Entre os comitês extintos, está o voltado à população em situação de rua.
Nesse sentido, cabe ainda avaliar como se dará essa etapa tão fundamental da implementação
dessa política pública no futuro.
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Outro exemplo que destacamos, que contribui também para a avaliação e monitoramento das
políticas de saúde, é o Conselho Nacional de Saúde (CNS), que possui longa trajetória, tendo sido
criado pela Lei nº 378, de 13 de janeiro de 1937. Desde 1954, o CNS passou a dar assistência,
também, ao Ministro de Estado, determinando as bases gerais dos programas de proteção à saúde.
O Conselho está entre os que não serão impactados pela extinção que atinge diversos conselhos
e comitês federais, determinada pelo Decreto 9.759/2019.
Passamos por um resumo do ciclo de políticas públicas, a partir do exemplo, em alguns casos, de
como isso ocorre na Política Nacional para Pessoas em Situação de Rua e na Política de Saúde.
Contudo, outras políticas também são fundamentais para esse segmento, dentre as quais destaco:
a política de igualdade racial, dada a grande presença de pessoas negras entre os que estão em
situação de rua; políticas voltadas a crianças e adolescentes; a pessoas idosas; a pessoas com
deficiência; a mulheres.
A seguir, detalharemos um pouco mais a Política Nacional para População em Situação de Rua e o
Sistema Único de Saúde, por serem referências fundamentais para pensarmos o tema desta seção.
Contudo, antes, compartilhamos com a turma um vídeo sobre o que são políticas públicas,
produzido pela Câmara dos Deputados.
Política Nacional para População em Situação de Rua
A Política Nacional para População em Situação de Rua foi criada, oficialmente, pelo Decreto 7.053
de 23 de dezembro de 2009. Alguns antecedentes, porém, são importantes para a Política
Nacional. Um deles é o Artigo 6º da Constituição Federal, que enfoca os direitos coletivos.
Outro marco é que, em 1993, o Congresso Nacional aprovou a Lei Orgânica da Assistência Social
(LOAS). Essa lei regulamentou os artigos 203 e 204. A seguir, a LOAS também recebeu alteração
para a inclusão da obrigatoriedade da formulação de programas voltados à população em
situação de rua. Isso ocorreu a partir da Lei nº 11.258/2005, que estabeleceu que o poder público
municipal tem o dever de manter serviços e programas de atenção à população em situação de
rua, com a garantia de padrões básicos de dignidade e de garantia de direitos, além de assegurar
ações de combate à violência, sempre tão marcada contra esse segmento social.
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Portanto, o Pacto Federativo, que permeia a obrigação das esferas de governo, está presente para
o alcance dos objetivos dessa política. De acordo com o Artigo 7º da Política Nacional, são seus
objetivos:
I. Assegurar o acesso amplo, simplificado e seguro aos serviços e programas que integram
as políticas públicas de saúde, educação, previdência, assistência social, moradia,
segurança, cultura, esporte, lazer, trabalho e renda;
II. Garantir a formação e capacitação permanente de profissionais e gestores para atuação
no desenvolvimento de políticas públicas intersetoriais, transversais e
intergovernamentais direcionadas às pessoas em situação de rua;
III. Instituir a contagem oficial da população em situação de rua;
IV. Produzir, sistematizar e disseminar dados e indicadores sociais, econômicos e culturais
sobre a rede existente de cobertura de serviços públicos à população em situação de rua;
V. Desenvolver ações educativas permanentes que contribuam para a formação de cultura
de respeito, ética e solidariedade entre a população em situação de rua e os demais
grupos sociais, de modo a resguardar a observância aos direitos humanos;
VI. Incentivar a pesquisa, produção e divulgação de conhecimentos sobre a população em
situação de rua, contemplando a diversidade humana em toda a sua amplitude étnico-
racial, sexual, de gênero e geracional, nas diversas áreas do conhecimento;
VII. Implantar centros de defesa dos direitos humanos para a população em situação de rua;
VIII. Incentivar a criação, divulgação e disponibilização de canais de comunicação para o
recebimento de denúncias de violência contra a população em situação de rua, bem
como de sugestões para o aperfeiçoamento e melhoria das políticas públicas voltadas
para este segmento;
IX. Proporcionar o acesso das pessoas em situação de rua aos benefícios previdenciários e
assistenciais e aos programas de transferência de renda, na forma da legislação
específica;
X. Criar meios de articulação entre o Sistema Único de Assistência Social e o Sistema Único
de Saúde para qualificar a oferta de serviços;

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XI. Adotar padrão básico de qualidade, segurança e conforto na estruturação e
reestruturação dos serviços de acolhimento temporários, de acordo com o disposto no
art. 8o;
XII. Implementar centros de referência especializados para atendimento da população em
situação de rua, no âmbito da proteção social especial do Sistema Único de Assistência
Social;
XIII. Implementar ações de segurança alimentar e nutricional suficientes para proporcionar
acesso permanente à alimentação pela população em situação de rua à alimentação,
com qualidade;
XIV. Disponibilizar programas de qualificação profissional para as pessoas em situação de rua,
com o objetivo de propiciar o seu acesso ao mercado de trabalho.
A partir dessa articulação federativa, a Política Nacional para Pessoas em Situação de Rua deve ser
executada. A adesão de estados ainda é frágil, além de serem enormes os desafios para a qualidade
na sua implementação. Contudo, os marcos legais são importantes e os direitos para esse
segmento tão presente nas cidades brasileiras devem ser assegurados. Essa garantia se faz possível
a partir do fortalecimento da rede de atendimento à população em situação de rua.
O SUS e as Políticas Públicas de Saúde
A Constituição Federal, nos artigos 196 a 200, estabeleceu o novo marco para a saúde no Brasil e
previu a formação do Sistema Único de Saúde (SUS). A partir da Constituição de 1988, o Brasil
entrou, de vez, na era dos direitos, fazendo ecoar o grito dos trabalhadores que afirmam que a
saúde é um direito de todos e é dever do Estado. Em 1990, foi editada a Lei nº 8.080/90, que ficou
conhecida como Lei Orgânica da Saúde e, um pouco depois, foi promulgada a Lei nº8.142/90 que
estabeleceu o cofinanciamento da saúde pela União, estados e municípios, e especificou como se
daria a participação da sociedade no SUS. A partir desse marco regulatório, pode-se destacar que
o SUS está organizado com base em princípios políticos e organizacionais:

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Princípios Políticos
Universalidade O acesso ao SUS é universal, ou seja, toda a população residente no
território nacional deve estar na referência das ações do SUS. É por
isso que o público do SUS é o rico, o pobre, a mulher, a negra, o
indígena, e mesmo o estrangeiro que veio morar no Brasil ou está
de passagem. Somente cuidando de todos podemos garantir nossa
segurança sanitária e qualidade de vida.

Equidade Apesar de ser para todos, o SUS se dá em contextos onde as


desigualdades são bastante acentuadas. Por isso, o sistema busca
o tratamento equitativo, atentando para as especificidades de cada
grupo — mulheres, crianças, jovens, moradores de bairros da
periferia, população em situação de rua — ao passo que busca
sempre atender a todos, superando preconceitos e dificuldades de
acesso ao sistema por grupos mais vulneráveis. É pela equidade
que garantimos a universalidade considerando as diferenças..

Integralidade O SUS compreende os indivíduos, coletivos e territórios de forma


integral. Por um lado, a integralidade garante atenção às
dimensões biológicas, psicológicas, culturais e mesmo espirituais
no processo saúde e doença. Por outro lado, é pela integralidade
que se conecta os diferentes níveis de complexidade nas ações de
saúde. Ou seja, a saúde integral demanda ações de atenção
primária, secundária e terciária (ou baixa, média e alta
complexidade), conforme a complexidade de cada situação.
Também é pela integralidade que se somam ações de competência
federal, estadual e municipal, bem como o sistema de saúde se
conecta com políticas nacionais e ações específicas para
segmentos da sociedade civil.

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Princípios organizacionais
Descentralização a saúde deve ser executada na ponta, ou seja, atendendo diretamente
a população. Por isso, o SUS é descentralizado, com competências
compartilhadas entre as três esferas do poder: União, estados e
municípios. Mesmo que haja a integração de ações, o principal ator é o
município, sendo este o responsável pelo provimento da atenção
básica e pela conexão dos usuários com outros níveis de complexidade.
É também para o município que está assegurada, por lei, a transferência
fundo a fundo de recursos financeiros do executivo para custear as
ações de saúde dos municípios.

Regionalização A atenção em saúde deve ser territorial e atentar para as características


regionais e locais dos grupos sociais, bem como construir estratégias de
atuação do poder público que resulte na soma de esforços entre
municípios e estados vizinhos e a União. É também sob a lógica da
regionalização que são dispostos os equipamentos de saúde, buscando
integrar o atendimento próximo à moradia (por equipe de saúde ou
mesmo unidade de saúde) com equipamentos públicos e estratégias
regionais conforme vai aumentando o contingente populacional em
questão.

Hierarquização esse princípio remete à já citada organização do serviços de saúde


em atenção primária, segunda e terciária. Hoje em dia, é mais
preciso separar a atenção básica, que envolve uma série de
estratégias de vigilância e atenção direta e continuada à
população, e a média e alta complexidade, que congrega o
complexo ambulatorial e hospitalar.

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O controle social e a participação da sociedade civil organizada é entendida como método de
gestão. É intrínseco ao SUS que haja espaços que garantam a gestão compartilhada dos serviços
de saúde. De um lado, temos as Conferências Nacionais em Saúde — que ocorrem periodicamente
e contam com etapas estaduais e municipais — e os Conselhos de Saúde — Conselho Nacional,
Estaduais, Municipais e locais/regionais. Por outro lado, o SUS conta também coma as Comissões
Intergestores Bipartite e Tripartite, que congrega o Ministério da Saúde com Secretários Estaduais
de Saúde na primeira, e com na segunda contando também com a participação de secretários
municipais.
Conceitos
Para trabalharmos os temas de políticas públicas, relações raciais, diversidade étnico-racial e
desigualdade, alguns conceitos são fundamentais. Abordaremos, a seguir, alguns desses
conceitos.
Etnia
O conceito de etnia vincula-se ao sentimento de pertencer a determinado grupo social com o qual
o indivíduo compartilha língua, costumes, tradições e território. São características fundantes na
identidade, que se reflete em diversos aspectos da convivência social do grupo que se constitui
como grupo étnico.
Importante destacar que o conceito de “raça” é distinto de ”etnia”, mas, em uma análise, possuem
uma relação, como destaca Wade (1997)3. Os dois termos não podem ser separados radicalmente,
porque ambos se referem a identidades estabelecidas na interação entre o identificar-se a si
mesmo e o identificar o outro, em nível individual e coletivo. Ambos se referem à origem de uma
pessoa e a uma coletividade, e a como essa origem traz influências para a convivência social. Mas
raça e etnia têm significados muito diferentes. As identificações raciais utilizam diferenças físicas

3
WADE, Peter. Gente negra, nación mestiza: las dinámicas de las identidades raciales en Colombia.
Ediciones Uniandes. Bogotá, Ediciones de la Universidad de Antioquia-Siglo del Hombre Editores-Instituto
Colombiano de Antropología, 1997.
12
marcadas como objeto de manipulação da lógica colonial como sinais. As identificações étnicas,
por sua vez, se baseiam nos signos de diferença cultural, de território específico. O autor chama
esse processo de categorização étnica de geografia da cultura.
Raça
Como destaca Quijano (2000) 4 , a ideia de raça e cor tem sido o instrumento mais eficaz de
dominação social concebido nos últimos cinco séculos. Em sua caracterização moderna, foi
construída na formação das Américas e do sistema capitalista, entre os séculos XV e XVI, e nos
séculos seguintes, imposto a toda a população do planeta, como parte da dominação colonial
europeia.
Quijano (2000) argumenta, ainda, que com base nesse critério básico de classificação da
população, as identidades sociais foram compartimentadas, de um lado, como "índio", "negro",
"asiático" (ou “amarelo”), "branco" e "mestiço"; de outro lado, "América", "África", "Europa", "Ásia",
e "Oceania". Sobre essa classificação, segundo o autor, fundamenta-se o eurocentrismo do modelo
capitalista e a consequente distribuição mundial de trabalho, além de ser estruturante para a
configuração de poder.
O esforço colonial de pasteurizar identidades diversas em categorias como “branco”, “negro” ou
“índio” não dá conta dos múltiplos processos de afirmação de identidades e mobilizações que
deslocam, rompem ou contestam o conjunto de significados vinculados a termos como "negro",
por exemplo, ou "raça".
Frequentemente, a luta ideológica consiste na tentativa de obter um novo
conjunto de significados para um termo ou categoria já existente, de desarticulá-
lo de seu lugar na estrutura significativa. Por exemplo, é justamente por conotar
aquilo que é mais desprezado, despossuído, ignorante, incivilizado, inculto,

4
QUIJANO, Aníbal. “¡Qué tal Raza!” In: ALAI – América Latina en Movimiento. N. 320, 2000. Disponível
em <http://alainet.org/publica/320.phtml>.
13
maquinador e incompetente que o termo "negro" pode ser contestado,
transformado e investido de um valor ideológico positivo. (HALL, 2006, p. 193)5

São muitos os estudos sobre raça no contexto da América Latina (HASENBALG, 20056; GONZALEZ
et al., 2011; WADE, 1997). Essas análises e estudos concluem que, apesar de não haver um vínculo
biológico em sua significação, "raça" é uma dimensão socialmente construída, que traz impactos
para a vivência social de forma diferenciada entre os grupos racializados.
O debate sobre o conceito de "raça" é amplo nas Ciências Sociais. É apontado como um constructo
social e político, situacional e relacional. Sua conformação depende, necessariamente, de uma
análise do contexto social ao qual diz respeito. Não se refere a uma dimensão intrinsecamente
presente nos indivíduos, naturalmente dada.
Genocídio
Esse conceito está incluso nesta seção pois, no histórico da relação entre o Estado brasileiro e sua
população, diversas ações foram consideradas como genocídio por pesquisadores e movimentos
sociais, como o caso ocorrido na ditadura militar contra o povo Waimiri-Atroari7 ou as alarmantes
taxas de homicídio da juventude negra 8 . Nesse sentido, trazemos, a seguir, a definição de
genocídio e como ela está presente nos marcos de direito internacional, de forma a enriquecer o
debate.
De acordo com Ellis Cashmore9, o termo genocídio etimologicamente combina o genos (grupo,
tribo), oriundo do grego, com o latim cide (matar). Em referência à Convenção das Nações Unidas

5
HALL, S. Da Diáspora: Identidades e Mediações Culturais. Belo Horizonte, Editora UFMG, 2006.
6
HASENBALG, Carlos. Discriminação e Desigualdades Raciais no Brasil. Belo Horizonte, Editora UFMG;
Rio de Janeiro, IUPERJ, 2005.
7
Disponível em <https://tinyurl.com/y4nhpqus > e BAINES, Stephen G. Imagens de liderança indígena e o
Programa Waimiri-Atroari: índios e usinas hidrelétricas na Amazônia. São Paulo: Revista de Antropologia
- USP, 2000, V. 43 nº 2.
8
Disponível em <https://tinyurl.com/y5ugwlf2 >. Acessado em 02/08/2019.
9
CASHMORE, Ellis. Dicionário de Relações Étnicas e Raciais. São Paulo, Selo Negro, 2000.
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sobre o Genocídio, de 1948, genocídio significa qualquer um dos atos listados abaixo, cometidos
com a intenção de destruir total ou parcialmente um grupo nacional, étnico, racial ou religioso
como tal:
a. Matar membros do grupo;
b. Causar sérios danos físicos ou mentais a membros do grupo;
c. Intervir de maneira deliberada nas condições de vida do grupo para calculadamente
produzir sua destruição física, parcial ou total;
d. Impor medidas com a intenção de evitar nascimentos dentro do grupo;
e. Transferir, à força, crianças de um grupo para outro.

Nota
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal tem uma gerência
voltada às políticas para as populações consideradas como
“vulneráveis”. A gerência se chama “Gerência de Atenção à
Saúde de Populações em Situação Vulnerável e Programas
Especiais – GASPVP”. Entre as políticas existentes, estão a
voltada para pessoas em situação de rua, para a população
negra, para mulheres e para pessoas com deficiência. Essas
políticas dialogam com o estabelecido nas políticas para
esses segmentos populacionais no Ministério da Saúde.
Conheça mais as políticas de saúde voltadas às populações
vulneráveis do Distrito Federal. O site com essas políticas é
<https://tinyurl.com/yxzkjblx >.

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SEÇÃO 2 | POLÍTICAS PÚBLICAS COM FOCO EM POLÍTICAS DE SAÚDE E POPULAÇÃO DE RUA, A
PARTIR DO OLHAR PARA A DIVERSIDADE

Introdução
Nesta seção, abordaremos a temática da saúde e como ela se relaciona à diversidade e às pessoas
em situação de rua. A humanidade, ao longo de sua caminhada, buscou formas de promover a
vida e prevenir ou tratar as diferentes formas de sofrimento. A vida humana, assim como os
ecossistemas em que vivemos, é tecida como uma complexa teia que conecta nossa existência a
uma multiplicidade de espaços, tempos e experiências.
É por isso que a saúde está relacionada à nossa história de vida, ao que comemos, como dormimos,
ao quanto trabalhamos, a como curtimos o tempo livre, a como acessamos lazer e cultura, a como
a cor da nossa pele influencia na nossa identidade e nas relações sociais estabelecidas e a como
estamos vinculados às nossas raízes familiares. Saúde conecta nossa existência em um compasso
no qual o mais importante é a busca pelo bem-estar e por uma vida digna, em que se tenha o
necessário para sobreviver e as dificuldades e adoecimentos possam ser tratados e superados.
Iniciaremos a abordagem da história da luta pela saúde. Com a emergência da modernidade, a
saúde passou a ser tratada como um campo específico do conhecimento, da divisão social do
trabalho e, sobretudo, de grandes polêmicas e contradições. Veremos como a saúde foi se
configurando como um dever do Estado e um direito da população, mas, por outro lado, sofreu
constantes ofensivas do capitalismo que resultaram, no mais das vezes, na mercantilização da
própria saúde.
Em seguida, será proposta a divisão da história da luta pela saúde no Brasil de forma a ilustrar como
a saúde pública foi se constituído como campo específico por aqui. Será discutida a íntima
associação entre a chegada das políticas sanitárias e higienistas no país e as teses racistas e
eugenistas que estiveram presentes na formação de parte do nosso ideário nacional. Após a
consolidação das leis do trabalho, o setor saúde passou a se estruturar em torno das categoriais
profissionais e trabalhistas, permitindo o aumento das práticas de prevenção em saúde e
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aumentando o nível de seguridade social dos trabalhadores. A Constituição Federal de 1988
reservou à saúde um de seus mais belos capítulos e estabeleceu, no país, um novo e radical
princípio organizador do setor saúde.
A partir do marco estabelecido pela Constituição Federal de 1988, iniciaremos a discussão sobre o
conceito de saúde. Como será visto, o conceito de saúde proposto está vinculado a uma discussão
mais ampla sobre a seguridade social como um direito humano e uma garantia constitucional. No
contexto de garantia da seguridade social ao cidadão, as políticas públicas de saúde têm um papel
fundamental. O Sistema Único de Saúde (SUS) se tornou a mais densa experiência de política social
do país e uma das principais utopias dos setores comprometidos com o combate às
desigualdades. Em complementação, será discutido o papel da Educação Popular em Saúde e
como é fundamental que o povo e os diferentes grupos sociais sejam, por si mesmos,
protagonistas de sua luta por saúde.
Ao final, o debate será conectado ao tema de população em situação de rua. Tanto as políticas
públicas de saúde como as práticas de educação popular em saúde possuem desafios específicos
quando o trabalho a ser realizado é com População em Situação de Rua. As vulnerabilidades a que
esse segmento da população está exposto resulta em determinações específicas para o processo
de saúde e doença. Questões econômicas, culturais, étnicas e raciais da população em situação de
rua se misturam e colocam um grande desafio para profissionais de saúde e educadores populares
que se desafiam a trabalhar com esse público.
Por fim, cabe destacar que as reflexões sobre racismo e saúde são estruturais para pensarmos os
temas tratados nessa seção. Há uma relação histórica entre o nascimento das discussões sanitárias
no Brasil e a questão racial. Além disso, o racismo é estruturante do processo de formação e
organização dos profissionais de saúde e, igualmente, impacta de maneira transversal os usuários
e suas comunidades. Por tanto, de forma geral, essa também é uma questão elementar para se
pensar as políticas de saúde.

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A luta pela saúde em tempos modernos
Por volta dos anos 1.500 d.C., a humanidade experimentou uma guinada radical na organização
do mundo e na distribuição de poder entre as nações. Com a invasão das Américas — que, por
muitos anos, foi erroneamente chamada de descoberta —, algumas nações europeias criaram
colônias além-mar que permitiram um enriquecimento nunca antes visto na história da
humanidade. A apropriação de matérias primas de grande valor (madeira, tintura, cana e café,
minérios) e a exploração de mão de obra escravizada negra e indígena permitiram a uma pequena
elite mundial enriquecer-se imensamente a se colocar diante do mundo como controladoras do
poderio bélico e militar e a instaurar uma nova ordem mundial.
A exploração dos territórios latino-americanos e da mão de obra africana foram as bases de
sustentação da modernidade e do processo sempre constante de colonialidade. A colonialidade
pode ser entendida como o projeto de poder iniciado com a colonização de nossos territórios e
que permitiu à Europa manter uma centralidade econômica, militar e simbólica no novo sistema
mundial. Até hoje, tantos anos após as guerras de independência e nascimento das novas
repúblicas, muita coisa ainda lembra essa antiga relação de colônia e colonizador. Quando
ouvimos o discurso de muitos políticos, da mídia e mesmo da universidade, é comum escutarmos
sempre a mesma história de tomar o que vem de fora, o que vem do dito primeiro mundo, como
referência do que é melhor, do que é mais bonito, mais correto, mais saudável, e assim por diante.
É a partir dessa perspectiva eurocêntrica que as ciências médicas e biológicas vão se formar, tendo
como ideal o corpo adulto masculino e branco como padrão de saúde e de normalidade.
O capitalismo, o Estado e a saúde têm tudo a ver com essa perspectiva. Quando os primeiros
impérios europeus passaram à economia capitalista, houve um aumento significativo de
aglomerados humanos em área urbana e de trabalhadores que passavam 10, 12, às vezes 20 horas
seguidas em fábricas, com condições sanitárias muito degradantes. Destaca-se, ainda, que o
trabalho escravo foi ficando cada vez mais repetitivo. Tanto o território de moradia dos
trabalhadores — bairros operários e irregulares — quanto o próprio corpo dos trabalhadores
passaram a estar expostos a muitos agravos à saúde.

18
Foi nesse contexto que surgiram, na Alemanha, as tecnologias de Polícia Médica e Medicina
Urbana, ou das Cidades na França, e Medicina da Força de Trabalho na Grã--Bretanha. Respeitadas
as variações em cada contexto nacional, todas indicavam uma tendência de criação de um campo
específico para cuidar das medidas de prevenção de doenças e manutenção da saúde e
capacidade de produção da força de trabalho. Como campo específico de conhecimento e de
prática social, o setor da saúde foi se estruturando pela criação de carreiras médicas, de
equipamentos públicos de atendimento e controle da população e por medidas sanitárias
adotadas pelos governantes.
O Estado foi o ator principal nesse jogo. Como responsável pela edição de normas, pela vigília da
lei e da ordem e pelo uso legítimo da força, o aparelho estatal, em qualquer das nações modernas
conhecidas, encontrou nas políticas sanitárias e de controle dos corpos uma das etapas centrais
de sua consolidação. Tudo isso não ocorreu por acaso, ou somente por iniciativa dos governantes.
Só houve ganhos para os trabalhadores e o reconhecimento de direitos após muita luta, além de
gerações de trabalhadores que morreram ou ficaram seriamente lesionados em decorrência do
trabalho.
Essa é uma das contradições mais estruturantes do setor saúde em nossas sociedades: ao mesmo
tempo que as políticas de saúde são o exemplo mais cabal do controle dos corpos e das estratégias
de manutenção da saúde da mão de obra para atender a demanda de exploração nas sociedade
capitalistas, ela também vem sendo um campo de disputa por reconhecimento de direitos dos
trabalhadores e de alívio da exploração.

19
A luta por saúde no Brasil
Quando olhamos para o caso brasileiro, essas contradições parecem ainda mais latentes. Como
todos sabemos, por aqui, em nossas terras, o capitalismo e o Estado funcionam meio às avessas,
de um jeito mais perverso e ainda mais cruel. A fórmula do capitalismo e do liberalismo de
mercado nunca deu bons frutos para a nossa população e ainda somos uma sociedade muito
injusta, na qual poucos ficam muito ricos e muitos, passa ano e entra ano, seguem em situação de
pobreza. Em muitos casos, falta trabalho e emprego e o país acaba voltando a vivenciar suas crises
cíclicas de desemprego em massa.
Quando observamos nosso aparelho estatal, muitas vezes acabamos por reconhecer que o índice
de efetividade é muito baixo, no qual ou as políticas públicas não se efetivam ou, quando
efetivadas, funcionam mal. O Estado brasileiro possui um código genético genocida e carrega, ao
longo dos séculos, estatísticas altíssimas de letalidade e de morte violenta de sua população.
Tivemos curtíssimos períodos de democracia ininterrupta, sendo repetidos os casos de ditaturas
ou governos autoritários. São inúmeros os casos de insucesso do Estado brasileiro em garantir
direitos básicos à população, como saúde, educação, habitação, entre outros, assegurados na
Constituição Federal de 1988.
No caso da questão vinculada à saúde, é preciso registrar que, na maior parte de sua história, o
Brasil não contou com nenhuma ação de saúde organizada e estruturada que tivesse como
sujeitos a maioria da população. Havia algumas santas casas, mas seu espectro de atendimento
era bastante restrito e parte integrante da engrenagem escravista e colonialista. Como já foi
debatido nos tópicos anteriores, o Brasil foi o maior e mais longevo regime escravista da
modernidade e cometeu a comercialização continuada de seres humanos, causando um dano
profundo aos africanos e seus descendentes. De forma sucessiva e repetida, também perseguiu e
assassinou os povos indígenas. Entre os séculos XV e XIX, para a maioria da população, foi
reservado ou o trabalho forçado ou o extermínio.
Contudo, de resistências também é feita a história. Durante esse longo período, a saúde popular
foi praticada pelos pajés que mantiveram viva as tradições de cura e cuidado dos povos indígenas;

20
pelas mães de santo e praticantes das tradições de matriz africana, que, com sua rica culinária e
uso de ervas, mantinham vivos os fragilizados fios da tradição, acolhendo e fazendo viver os corpos
escravizados e adoecidos; nas parteiras que, em sigilo, muitas vezes sob perseguição, traziam ao
mundo as crianças.
É por isso que, para o caso brasileiro, a aldeia indígena, o quilombo, o terreiro e os espaços das
comunidades tradicionais são a origem legítima da luta pela saúde pública. São o fio histórico no
qual devemos procurar as origens do nosso patrimônio cultural de práticas de cuidado e de
atenção à saúde.
Somente na virada do século XIX pro XX, por volta dos anos 1900, tiveram início, em grandes
centros urbanos da época, sobretudo na cidade do Rio de Janeiro, ações estruturadas de saúde
pública. Essa foi a época dos primeiros sanitaristas do país, como Oswaldo Cruz e Carlos Chagas, e
de naturalistas e biólogos estrangeiros que foram atuar em Belém, Olinda, Salvador e em outras
cidades litorâneas.
A Revolta da Vacina, ocorrida em novembro 1904, é um dos eventos históricos mais emblemáticos
deste período. A população da cidade do Rio de Janeiro era formada, em sua maioria, por negros
e negras recém-libertos, que viviam em condições muito desfavoráveis à época, devido ao racismo
estrutural da sociedade e ao escasso controle de meios de produção para essa parcela da
população.
A moradia extremamente precária e a ausência de ações de saneamento resultavam, na época, na
proliferação de pestes e doenças contagiosas, com destaque para a varíola. A forma autoritária e
inábil com que o governo tornou obrigatória a vacinação da população desencadeou uma grande
revolta popular terminando com a prisão de quase 10 mil populares.
Por décadas, sucederam-se campanhas sanitárias e reformas urbanas calcadas em ideias
higienistas, que resultavam em um tratamento violento da população. Também multiplicaram as
instituições de internação compulsória de saúde mental e as ações para registro e ocasionais
restrições de liberdade de pessoas com transtornos mentais, desempregados ou outros casos que
eram enquadrados, em termos gerais, como vadios ou baderneiros. Em muitas situações, a
21
nascente política sanitária e higienista reavivou a estrutura escravocrata da sociedade brasileira,
estabelecendo novas tecnologias de controle e violação dos corpos negros, indígenas.
Após os governos de Getúlio Vargas, foi estabelecido um novo regime de regulação do trabalho
no Brasil. A Consolidação da Legislação do Trabalho (CLT) é o marco deste processo. Na área de
seguridade social foram estabelecidos os Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs) por
categoria profissional — ferroviários, industriais, etc. — que substituíram as Caixa de
Aposentadoria e Pensão e progressivamente foram assumindo a execução de políticas de
habitação (com as famosas vilas e conjuntos habitacionais IAPs) e de assistência à saúde. Os IAPs
inovaram também pelo cofinanciamento entre patrões, empregados e o Estado. Embora tenha
significado um avanço em termos de política social no contexto brasileiro, sua abrangência ainda
era limitada aos trabalhadores do marcado formal.
Somente em 1953, a saúde ganha estatura de temática específica para o Estado brasileiro e é
criado o Ministério da Saúde. Na prática, foi mantido o modelo dos IAPs e o Ministério da Saúde
passou a coordenar um protossistema de saúde para o meio rural, por intermédio do
Departamento Nacional de Endemias Rurais que veio a ser substituído pela Superintendência de
Campanha de Saúde Pública (Sucam). Ao mesmo tempo que aumentou o espectro da população
atendida, com as ações específicas para o meio rural, o nascente Ministério da Saúde passou a
investir de forma sistemática em prevenção e abriu as portas para a discussão sobre a
municipalização e a necessidade de um sistema de saúde que integrasse as diferentes dimensões
de atenção à saúde.
No contexto da Assembleia Constituinte, em 1986, foi realizada a VIII Conferência Nacional de
Saúde, um marco na história da reforma sanitária no Brasil e da luta pela saúde no mundo. Na
conferência, acadêmicos, profissionais de saúde, representantes governamentais e movimentos
sociais realizaram uma ampla e profunda revisão da concepção de saúde para o caso brasileiro. O
conceito de saúde foi ampliado significativamente e foi reconhecida a indissociabilidade da saúde
e do bem-estar individual e coletivo de questões como moradia, trabalho, educação e acesso a
bens diversos.

22
A partir da VIII Conferência, a saúde passou a ser uma das mais amplas bandeiras sociais e políticas
do país, aglutinando as mais profundas aspirações de justiça social e melhoria da qualidade de
vida da maioria da população. Pela primeira vez na história do país, a saúde passava a ser pensada
a partir da perspectivas das maiorias e se consolidava a máxima de que saúde é um direitos de
todos e dever do Estado.
A luta estava tão forte que diferentes setores da sociedade e da classe política se uniram na
Constituinte e garantiram que na Carta Magna de 1988 fosse fundada as bases legais do Sistema
Único de Saúde (SUS). O SUS é, sem dúvidas, uma das experiências mais radicais de política social,
de democracia e de atenção a população a história brasileira. Apesar da resistência de empresários
da área de saúde e outros setores retrógradas da classe política, foram muitas as conquistas,
ficando garantido no texto constitucional um conceito ampliado de saúde, um novo modelo de
saúde universal, gratuito e que trabalhe a saúde de forma integral e, não menos importante, a
participação da sociedade na elaboração e na fiscalização das ações de saúde.
O conceito ampliado de saúde
No âmago das discussões dessa seção, está o debate sobre o conceito de saúde. Mas afinal, o que
é saúde? Por muito tempo, foi comum a resposta de que saúde seria a ausência de doenças, e
ações de saúde seriam medidas para prevenir ou tratar o aparecimento destas. Essa concepção
ganhou mais força no senso comum com o processo de capitalização da saúde e a progressiva
transformação dos cuidados em saúde e acesso a insumos (em especial medicamentos) em
mercadoria. Essa lógica, por vezes, faz com que os indivíduos fiquem à mercê, exclusivamente, do
aparato biomédico, sendo o hospital e a medicalização o horizonte de enfrentamento da doença
e das práticas de saúde.
A Organização Mundial de Saúde, que integra o sistema ONU, ainda em 1947 estabeleceu um
conceito um pouco diferente de saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e
social, e não somente ausência de afecções e enfermidades. Esse conceito foi muito criticado por ser
genérico e por exagerar na ideia de completo bem-estar, mas traz uma concepção relevante na
qual movimentos sociais e sanitaristas têm se apoiado para formular um conceito ampliado de

23
saúde. Note-se que, pela assertiva da OMS, a saúde tem relação com o corpo biológico e com nossa
capacidade física, mas também tem a ver com os aspectos mentais, emocionais, relacionais, sociais
e culturais dos seres humanos.
O conceito da OMS, quando foi interpretado no contexto latino-americano e, particularmente, no
Brasil, ajudou a revelar como a saúde tem vínculo com a forma como organizamos nossa vida,
nosso cotidiano e as relações de poder na nossa sociedade. É por isso que na VIII Conferência
Nacional de Saúde, já citada acima, os delegados presentes aprovaram a redação que define saúde
como a resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio-ambiente,
trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde. é,
assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da produção, as quais podem gerar
grandes desigualdades nos níveis de vida (...) a saúde, por não ser um conceito abstrato, define-se no
contexto histórico de determinada sociedade e num dado momento de seu desenvolvimento, devendo
ser conquistada pela população em suas lutas cotidianas.
Educação em Saúde
O conceito ampliado de saúde e a implantação do SUS depende, fundamentalmente, de um
processo de educação em saúde. Essa foi e ainda é uma das principais bandeiras de luta da reforma
sanitária e de movimentos sociais e populares em saúde. A forma como pensamos e falamos sobre
saúde tem relação com a forma como vivemos nosso dia a dia e com os saberes e práticas em
saúde. Se a saúde que defendemos é universal, equânime e integral, o mesmo vale para os
conhecimentos em saúde, sejam os científicos e técnicos ou os saberes populares que as
comunidades e grupos passam de geração em geração. Dessa forma, educação em saúde pode
ser dividida, em termos gerais, em duas frentes: a educação profissional em saúde e a educação
popular em saúde.
A educação profissional em saúde no Brasil é hegemonizada pelo mercado e pelo capital. Seja nas
instituições de ensino privadas ou públicas os futuros profissionais em saúde, no mais das vezes,
são formados para serem especialistas e tecnicistas numa lógica intervencionista, onde o paciente

24
perde o protagonismo no seu processo saúde e doença e compete aos profissionais de saúde
interpretar exames, passar medicamentos ou fazerem outros tipos de intervenção.
A imensa maioria dos agravos em saúde podem ser prevenidos ou mesmo tratados na atenção
básica. Para manter e promover a saúde da nossa população seria muito importante que a
educação profissional em saúde estivesse focada na formação de profissionais que vão atuar na
atenção básica, próximo a população e ao local de vivência dos usuários.
Entretanto, o que se nota é que nossos profissionais de saúde, em sua maioria, são educados em
uma lógica hospitalocêntrica e biomédica, ou seja, o foco não está na comunidade, na prevenção
e no tratamento continuado dos agravos em saúde, mas sim no especialismo, nos procedimentos
hospitalares, no laboratório.
Na educação profissional, os conselhos profissionais e os laboratórios farmacêuticos acabam
sendo mais decisivos que as demandas da sociedade e a manutenção do SUS. A formação em
medicina explicita essas contradições. Hoje no Brasil, formar em medicina é um privilégio que
pouquíssimos tem acesso, o que reforça uma lógica na qual um profissional deve buscar se inserir
no mercado de trabalho para ganhar uma boa margem de lucro — na fala popular, para “ficar rico”
— muito mais do que para atender as demandas da nossa sociedade.
Por outro lado, também temos uma tradição democrática e plural na educação profissional
voltada para inserção no SUS e para a promoção de estratégias que têm a comunidade e os
usuários como foco, em que o/a usuário/a é tratado/a como parte fundamental das terapêuticas,
não apenas como paciente. Trata-se da educação politécnica. Tal perspectiva entende que os
processos educativos e de formação necessariamente se dão em sintonia com a produção social
da vida, ou seja, com a forma como o trabalho e a sobrevivência é organizada. Profissionais de
saúde devem ter seus olhos voltados para o contexto onde suas práticas de saúde se darão, não
somente para os treinamentos de procedimentos técnicos. A tecnologia e as técnicas em saúde
não podem ser isoladas em laboratórios ou ambientes neutros como hospitais, pois sempre são
marcadas pelo processo histórico e social do profissional de saúde e do usuário ou da comunidade.

25
A educação politécnica também prevê a integração entre as diferentes profissões e saberes em
saúde. Ou seja, não se tem mais os médicos como epicentro do processo saúde e doença. Estes,
embora fundamentais, devem atuar em conjunto com outros profissionais, numa lógica onde os
saberes se complementam, não se sobrepõem.
A educação popular em saúde complementa a educação profissional e técnica. Inspirada em Paulo
Freire, tem-se que todo educador é também um educando, e vice-versa, todo educando é também
um educador. Em saúde, isso implica numa inversão radical na lógica hegemônica dos
conhecimentos em saúde na nossa sociedade. Nessa compreensão, as práticas em saúde sempre
se dão na fronteira de contato entre conhecimentos científicos e técnicos e populares.
Pensada a partir de uma perspectiva popular, cumpre aos processo de educação em saúde adaptar
os saberes técnicos e científicos para o contexto e a linguagem da população. Sabemos que a
saúde e o campo médico hospitalar é bastante complexo e possui um léxico muito próprio: doença
é agravo ou enfermidade; bucho e barriga é região abdominal; molera de recém nascido é
fontanela; cólica são espasmos; isso sem falar dos medicamentos, siglas e protocolos diversos.
Adaptar é tornar dialógico, ou seja, uma conversa permanente, onde as pessoas falam e são
ouvidas, perguntam e constroem respostas coletivas. Adaptar ao popular não é vulgarizar ou,
necessariamente, simplificar. É tornar acessível, democratizar o saber.
Por outro lado, a educação popular em saúde valoriza sobremaneira os saberes e práticas
populares em saúde. Como vimos no início dessa sessão, muito antes de existirem políticas
públicas e ação estatal na área da saúde, nosso povo já tecia uma tradição de resistência e práticas
populares em saúde. As raizeiras, benzedeiras, curandeiras, parteiras são patrimônios da tradição
popular em saúde e cuidado do nosso país. Como tudo na vida é preciso diálogo e troca, ou seja,
os saberes tradicionais podem e devem se aprimorar no diálogo com o saber técnico e científico e
vice e versa.
A Educação Popular em Saúde também dá valor à escuta. Nessa perspectiva, ser um profissional
ou educador em saúde é ser um “escutador”, é ouvir as pessoas em suas dores e questões e

26
colaborar, a partir de uma visão interdisciplinar, para que pessoas e comunidades vivam com mais
saúde.
Saúde e população em situação de rua
A Pesquisa Nacional sobre População em Situação de Rua10 indicou que esse grupo está exposto
a muitas vulnerabilidades, que somadas tem criado características sanitárias específicas e desafios
para o trabalho em saúde com essa população. Vamos ver alguns dados:
§ 29,7% dos entrevistados afirmaram ter algum problema de saúde;
§ Os problemas mais prevalentes foram: hipertensão (10,1%), problemas
psiquiátricos/mentais (6,1%), HIV/AIDS (5,1%), e problemas de visão/cegueira (4,6%);
§ 18,7% dos entrevistados afirmaram que fazem uso de algum medicamento, os
Postos/Centros de Saúde são os principais meios de acesso a eles;
§ 43,8% dos entrevistados afirmaram que procuram primeiramente o hospital/emergência
quando estão doentes, e 27,4% procuram o posto de saúde;
§ Os locais mais usados pelas pessoas em situação de rua para tomar banho são a rua (32,6%),
os albergues/abrigos (31,4%), os banheiros públicos (14,2%) e casas de parentes ou de
amigos (5,2%);
§ Os locais mais usados pelas pessoas em situação de rua para fazer suas necessidades
fisiológicas são a rua (32,5%), os albergues/abrigos (25,2%), os banheiros públicos (21,3%),
os estabelecimentos comerciais (9,4%) e a casa de parentes ou amigos (2,7%).

10
Fonte: Cartilha da Política Nacional de Saúde para População em Situação de Rua. Disponível em
<file:///C:/Users/boliv/Documents/NEAB/CURSO%20POP%20RUA/saude_populacao_situacao_rua_MS.pdf
>.
27
Dados do Ministério da Saúde apontam que os problemas de saúde mais recorrentes entre essa
população em situação de rua são:
§ Problemas nos pés;
§ Infestações;
§ DSTs, HIV/AIDS;
§ Gravidez de alto risco;
§ Doenças crônicas;
§ Consumo de álcool e drogas;
§ Saúde bucal;
§ Tuberculose.
Principais causas de internação:
§ Uso de substâncias psicoativas (álcool, crack e outras drogas);
§ Problemas respiratórios;
§ Causas externas (acidentes e violência).
Com vistas a dar repostas ao desafio de melhor referência a população em situação de rua no SUS,
o Ministério da Saúde liderou iniciativas que instituíram marcos normativos, conceituais e
operacionais para o trabalho com População em Situação de Rua. Pela Portaria MS nº 3.305/2009,
foi instituído o Comitê Técnico para a População em Situação de Rua, que reúne especialistas em
saúde pública, representantes do poder público (federal, estadual e municipal), instituições de
ensino e pesquisa, movimentos sociais e sociedade civil organizada, conforme vimos na seção
anterior. Após o amadurecimento das discussões, foi aprovado o Plano Operativo para
Implementação de Ações em Saúde da População em Situação de Rua, por meio da Resolução n°
2, de 27 de fevereiro de 2013. Abaixo, segue reproduzido trecho com os 5 eixos de ação definidos:
§ Eixo 1 – Inclusão da PSR no escopo das redes de atenção à saúde.
Ações pactuadas desse eixo: a implantação das equipes de Consultórios na Rua; a
garantia de acesso à atenção domiciliar em espaços de acolhimento institucional; a
28
capacitação das equipes da urgência e emergência para atendimento da PSR; e a
inclusão da PSR no escopo das politicas de atenção à saúde para grupos específicos.

§ Eixo 2 – Promoção e Vigilância em Saúde.


Ações que concretizam esse eixo: intensificar a busca ativa e os tratamentos
supervisionados para o controle de doenças infecciosas; controlar e reduzir a
incidência de tuberculose, DST/aids e outros agravos recorrentes nessa população;
e propor para pactuação na CIT estratégias que garantam o acesso dessa população
as vacinas disponíveis no SUS.
§ Eixo 3 – Educação Permanente em Saúde na abordagem da Saúde da PAR.
Ações definidas: capacitação e sensibilização de profissionais de saúde para
atendimento da PSR; inserção da temática PSR no Módulo de educação a distância
para cursos de formação voltados para profissionais de saúde; fomentar pesquisas
com foco na saúde da PSR; elaboração de material que informe a PSR sobre o SUS e
as redes de atenção à saúde.
§ Eixo 4 – Fortalecimento da Participação e do Controle Social.
Por meio das seguintes ações propostas: apoiar a formação e sensibilização de
lideranças do movimento social da PSR; articular e fomentar com gestores estaduais
e municipais a capacitação de conselheiros de saúde sobre a temática saúde da PSR,
com participação do MNPR e entidades ligadas ao tema; produzir e publicar material
sobre saúde da PSR destinado a gestores e a profissionais de saúde; apoiar
encontros regionais sobre saúde da PSR; e instituir Comitê Técnico de Saúde da PSR
ou referência técnica nas instancias estaduais e municipais.
§ Eixo 5 – Monitoramento e avaliação das ações de saúde para a PSR.

29
Esse eixo ocupa-se de monitorar e avaliar as ações que foram pactuadas,
considerando as prioridades e metas dos planos estaduais e municipais de saúde.

A principal experiência de atenção em saúde para a população em situação de rua implementada


nos últimos anos consiste nos Consultórios na Rua – CnaR. A Portaria MS nº 122/2011 disciplina o
funcionamento dos CnaR, que consistem em equipes multiprofissionais realizando a busca ativa
da população em situação de rua, atuando 1) na atenção imediata e cuidados em saúde; 2) na
referência de indivíduos e grupos nas unidades básicas de saúde; 3) na interface com os CAPs e
políticas de saúde mental e álcool & drogas.

Para Refletir
Em 2012 e em 2014, o Ministério da Saúde editou dois materiais
muito legais para quem trabalha ou quer saber mais sobre saúde
e população em situação de rua. Em 2012, foi editado o Manual
sobre o cuidado à saúde junto a população em situação de
rua. É possível acessar esse manual por meio deste link:
<https://tinyurl.com/ybmjvmfj >.
Em 2014, foi editada a cartilha Saúde da população em
situação de rua: um direito humano. Essa cartilha pode ser
acessada por meio deste link:
<https://tinyurl.com/y3emwhr6 >.
Acesse os dois materiais e dê uma olhada em cada um!

30
BIBLIOGRAFIA

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