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Doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo/Brasil. Tem estágio pós-doutoral no Programa de
Investigación en Ciencias Sociales, Niñez y Juventud (Cinde/Clacso). Professora Adjunta na Universidade Federal
do Piauí vinculada aos cursos de bacharelado e mestrado em Ciência Política e ao programa de pós-graduação
(mestrado e doutorado) em Políticas Públicas. E-mail: oliviaperez@ufpi.edu.br
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Resumo: Este paper aborda certos aspectos da relação dos jovens com a política institucional.
Primeiramente apresentamos dados sobre o interesse de jovens de 16 a 17 pelas eleições.
Depois levantamos algumas hipóteses que ajudam a entender o desinteresse dos jovens pela
política institucional, a saber: o fato deles não estarem representados e a crítica às arenas
parlamentares pela sua excessiva hierarquia, formalidade e exclusão. Também
problematizamos o desinteresse pela política atribuído aos jovens, mostrando que ele é geral
entre as faixas etárias. Em que pese esse desinteresse pela política institucional, mostramos que
os jovens continuam participando politicamente, a exemplo da presença de coletivos em
grandes protestos. Por fim, ressaltamos a diversidade das juventudes, que inclusive tem se
posicionado à direita no espectro político e ideológico. A reflexão contribui então com o campo
das pesquisas sobre juventudes e eleições, levantando outras explicações sobre a relação dos
jovens com a política.
Palavras-chaves: Jovens. Política. Coletivos. Participação.
Abstract: This paper addresses certain aspects of the relationship between young people and
institutional politics. First, we present data on the interest of young people aged 16 to 17 in
elections. Then we raise some hypotheses that help to understand the lack of interest of young
people in institutional politics, namely: the fact that they are not represented and the criticism
of parliamentary arenas for their excessive hierarchy, formality and exclusion. We also
problematize the lack of interest in politics attributed to young people, showing that it is general
among age groups. Despite this lack of interest in institutional politics, we show that young
people continue to participate politically, such as the presence of collectives in large protests.
Finally, we emphasize the diversity of youth, who have even positioned themselves on the right
in the political and ideological spectrum. The reflection then contributes to the field of research
on youth and elections, raising other explanations about the relationship between young people
and politics.
Keywords: Young people. Policy. Collectives. Participation.
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Introdução
Isso gerou muita preocupação em pelo menos dois sentidos: primeiro pelo desinteresse
entre os futuros adultos pela política. Ademais, como o voto dos jovens carrega a esperança de
mudança por conta de uma certa associação das juventudes com bandeiras progressistas, houve
uma grande preocupação para que os jovens votassem este ano, especialmente entre aqueles
que se opõem à reeleição do atual presidente Jair Bolsonaro.
Para atrair mais eleitores jovens o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), junto com os
Tribunais Regionais Eleitorais (TREs), desenvolveu campanhas como a Semana do Jovem
Eleitor, que pediam para que os jovens de 16 a 18 anos incompletos tirassem seu título e
comparecessem às urnas em outubro de 2022 (TSE, 2022).
Um dos pontos altos dessa mobilização foi o tuitaço do dia 16 de março, que contou
com a participação dos perfis no Twitter do TSE, dos TREs, de organizações da sociedade civil
e de instituições públicas e privadas. Foram publicados durante a mobilização cerca de 6,8 mil
tuítes com esse tema, que chegaram às telas de mais de 88 milhões de pessoas (TSE, 2022).
Esses dados mostram sinais positivos em relação ao interesse dos jovens pela política,
embora paire uma certa percepção no senso comum de que os jovens não se interessam pelo
tema existindo entre eles uma apatia generalizada.
Contribuindo com essa reflexão, este paper aborda certos aspectos da relação dos
jovens com a política institucional. Primeiramente, lançamos algumas hipóteses que ajudam a
entender o desinteresse dos jovens pela política institucional, a saber: o fato deles não estarem
representados e a crítica às arenas parlamentares pela sua excessiva hierarquia, formalidade e
exclusão. Também problematizamos essas afirmações mostrando que o desinteresse pela
política é geral entre as faixas etárias. Em que pese esse desinteresse, mostramos que os jovens
continuam participando politicamente, a exemplo da multiplicação de coletivos em grandes
protestos. Por fim, ressaltamos a diversidade das juventudes, que inclusive tem se posicionado
à direita no espectro político e ideológico.
coletamos dados já sistematizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE, 2022) a respeito do
voto dos jovens.
A perspectiva teórica aqui adotada considera a juventude como uma noção dinâmica,
pautada sob condições sociais e culturais historicamente construídas de modo situado e
relacional (Vommaro, 2015). Nesse sentido, a juventude não pode ser definida a partir da faixa
etária tampouco como um bloco homogêneo. Defendemos que a compreensão das juventudes
passa pela análise dos diferentes marcadores sociais que incidem no modo como elas
experienciam e se situam na sociedade. Dentre esses marcadores sociais, a renda e a classe
social são os mais analisados. No entanto, fatores como gênero, raça, sexualidade e região
interferem no modo como as subjetividades dos jovens são construídas, assim como o acesso
que eles têm ao campo dos direitos. Por isso, optamos por nos referir sempre às juventudes,
cientes e demarcando as diferenças entre esse segmento que, em última instância, é uma
construção política e social.
Esses dados mostram então que, apesar da juventude ser 1/3 do eleitorado, ela está sub
representada nas arenas parlamentares. Por um lado, há uma resistência à renovação nos
quadros dos partidos, ainda que haja movimentos de mudanças na política nacional nos últimos
anos que mudaram nomes de partidos, criaram siglas e lançaram novos candidatos. Por outro
lado, a própria juventude não teria tanto interesse na política institucional. Mas essa é uma
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leitura simplista pois o que merece exame é o porquê as juventudes não se interessam pela
política partidária.
Os jovens que participam de coletivos apontam em geral que são necessários mais
espaços de formação política, inclusive na escola. Essa informação é extremamente relevante
na atualidade já que a violência política - física e simbólica - tem se disseminado nos últimos
anos. Falar sobre política e participar da política – especialmente a partidária – tornou-se
perigoso para as juventudes.
Isso quando a discussão sobre política acontece, porque ela vem sendo cerceada no
ambiente escolar. Parte dessa responsabilidade deve-se ao avanço do Movimento Escola sem
Partido, reconhecido nacionalmente como a mais importante e consistente iniciativa contra o
uso das escolas e universidades para fins de propaganda ideológica, política e partidária e que
tem cerceado a discussão sobre o tema. Ainda que projetos dentro desse Movimento não sejam
aprovados pelas instâncias parlamentares, já há um cerceamento da discussão sobre política no
ambiente escolar e essa proibição atinge principalmente os jovens.
Outro fator bastante mencionado nas pesquisas com membros de coletivos que pode
ajudar a explicar o desinteresse do jovem pela política institucional é o fato de que as
instituições parlamentares são associadas com corrupção e ineficiência. Essa percepção cresceu
nos últimos anos com as denúncias de corrupção contra o Partidos dos Trabalhadores,
representante da esquerda e de quem se esperava avanços significativos na política
institucional. A despeito de existir mais ou menos corrupção na política institucional, fato é
que essas constantes denúncias corroboram para a percepção de que a política não é o lócus da
transformação social, mas sim da reprodução das desigualdades.
mas está presente em todas as faixas etárias. E não se trata apenas de uma desconfiança nas
instituições, mas sim no próprio regime democrático.
Há uma percepção entre todos de que o regime democrático não foi capaz de garantir
minimamente o que se espera dos governos. Mas isso não é só uma percepção, considerando
as profundas desigualdades sociais no Brasil. Ainda assim, tal desconfiança não significa que
os jovens estão apáticos ou que não estão participando politicamente como uma avaliação
apressada pode indicar.
Um primeiro exemplo que demonstra a rica participação política das juventudes é a sua
disposição em participarem de protestos. A década de 2010 marcou a história do Brasil por
conta de um intenso ciclo de protestos, iniciado com as Jornadas de Junho de 2013, em que
milhares de pessoas foram às ruas inicialmente pedindo a redução da passagem de ônibus e
depois denunciando principalmente a forma como a política é conduzida no país (Perez, 2021).
Há entre os coletivos uma crítica à forma como a política é exercida nas instituições
consideradas tradicionais, como os partidos políticos, pelo fato dessas instituições serem
consideradas hierárquicas e com excesso de normas (Perez e Souza, 2020). Tais organizações
seriam ocupadas pelos mesmos políticos de sempre: homens, brancos, velhos, ricos e de regiões
mais privilegiadas. Essa organização política excludente não estaria incluindo as juventudes e
suas diversidades no campo dos direitos, assim como outros grupos com mais dificuldade de
acesso a eles.
Os coletivos conectam então a ideia de que os grupos mais sujeitos a opressões sociais
têm dificuldade de alcançar os direitos porque eles não estão presentes nas decisões políticas.
Logo, a falta de interesse nas urnas não se trata apenas de uma apatia das juventudes, mas de
uma certeza de que essas instituições políticas excludentes não os representam. Nesse sentido,
para que os jovens confiem nas instituições, elas devem primeiro incluir os grupos alijados das
decisões públicas.
E para que isso aconteça é necessário que as organizações políticas se abram de fato à
participação desses grupos. Somente com a inclusão de todxs (jovens, mulheres, negros,
moradores de periferia e população LGBTQIA+) nas principais decisões públicas, eles
adentrarão no campo dos direitos.
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Embora os jovens utilizem o termo política para se referirem tanto à política partidária
quanto à construção de acordos coletivos, essas distintas concepções não devem ser tratadas
como sinônimos. Ao simplificar as nuances da política, corre-se o risco de afirmar que os
jovens estão distantes dela. Na realidade, ao exercer a atividade política, os jovens reafirmam
que determinadas práticas da política - especialmente no âmbito dos partidos - não são
eficientes na vocalização e atenção às suas demandas.
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Isso também não significa o abandono dos partidos, dado fenômenos como as
candidaturas coletivas que intencionalmente têm incluído na disputa institucional jovens e
outros grupos com mais dificuldade de acesso a direitos, como mulheres e negros.
Um aspecto pouco explorado pela literatura e que tem se manifestado com muita força
nos últimos anos é a expressão de uma juventude assumidamente de direita. Conforme a
pesquisa de Araújo, Barros e Perez (2022, no prelo) com base nas 323 respostas dos jovens ao
survey do Latinobarômetro, há um certo equilíbrio na distribuição de jovens à esquerda e à
direita (ambos em torno dos 20%). Chama a atenção nos dados um expressivo percentual de
jovens que se colocam numa posição mais ao centro, chegando a quase metade da amostra. São
dados importantes para não tratarmos as juventudes como um bloco homogêneo, já que muitas
delas estão se posicionando à direita.
Muitas dessas juventudes à direita estavam presentes nos grandes protestos que
ocorreram recentemente no Brasil desde Junho de 2013 (Perez, 2021). Alguns desses jovens
formaram grandes organizações, como o Movimento Brasil Livre, protagonista nos protestos
que de alguma forma tiveram relação com o impeachment da ex presidenta Dilma Rousseff
(PT) em 2016.
rapaz branco, heterossexual e morador de uma região privilegiada. No entanto, as análises não
conseguem captar essas diferenças se remetendo, em geral, ao jovem branco mais rico.
Considerações finais
Os jovens em geral rechaçam certas práticas exercidas nas arenas parlamentares. Eles
se contrapõem a uma forma de organização extremamente hierarquizada e formal que exclui
das decisões coletivas os próprios jovens, além de mulheres, negros, população LGBTQIA+ e
moradores de periferias.
Para incluir esses grupos, parte das juventudes se organizam em forma de coletivos,
organizações ao menos intencionalmente mais horizontais e inclusivas. Logo, os jovens estão
exercendo e ensinando sobre política. E essa política nem sempre está longe da política
parlamentar, já que as juventudes vêm forçando a discussão sobre a inclusão desses grupos
também nos partidos.
O que as juventudes vêm nos ensinando é que não basta direitos para grupos com mais
dificuldade de acesso a eles e mais sujeitos a violências simbólicas e físicas. É preciso que
esses grupos sejam incluídos em todas as decisões coletivas para que elas sejam mais afinadas
com a realidade deles. Com o feliz argumento do “lugar de fala” parte das juventudes está
mostrando que para alargar a democracia é necessário a inclusão de todxs.
Nesse sentido não basta críticas ao desinteresse dos jovens pela política. São necessárias
ações que incluam as diversidades em todas as arenas. A crítica deve se dirigir à política
institucional, feita por adultos que, de alguma forma, não estão incluindo a diversidade nos
centros das decisões. E elas estão clamando por essa presença.
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Referências
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semelhanças e diferenças entre as juventudes de direita e de esquerda no Brasil. Studia.
Politicae.
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<http://www.latinobarometro.org> Acesso em 10 de abril de 2020.
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TSE. Eleições 2022: crescem números de jovens e idosos aptos a votar. Notícia publicada em
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2022-crescem-numeros-de-jovens-e-idosos-aptos-a-votar. Acesso em 20/09/2022.
Vommaro, Pablo. (2015). Juventudes y políticas en la Argentina y en América Latina:
tendencias, conflictos y desafíos . Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Grupo Editor
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