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INCLUSÃO MARGINAL?
Resumo Simples: Este artigo aborda a cultura na sua relação com o gênero e a sexualidade, tendo
como objeto o que se convencionou chamar de “culturas LGBTs”, mais especificamente as ações de
valorização e promoção dessas culturas realizadas no âmbito do Ministério da Cultura (MinC). A
pesquisa foi realizada por meio de análise documental e revisão bibliográfica. A partir de 2003, o
MinC passou a apoiar manifestações culturais historicamente excluídas e invisibilizadas, entre elas as
culturas populares, indígenas, ciganas e LGBTs. O MinC lançou editais de promoção das “culturas
LGBTs” entre os anos de 2005 e 2009, com investimentos de 4,2 milhões de reais. Foi uma importante
experiência de política afirmativa para a efetivação dos direitos da população LGBT, em diálogo com
os movimentos sociais.
Este artigo aborda a temática da cultura na sua relação com o gênero e a sexualidade,
tendo como foco o que se convencionou chamar de “culturas LGBTs”. Analisa-se, mais
especificamente, as ações de valorização e promoção dessas culturas realizadas no âmbito do
Ministério da Cultura do Brasil entre 2004 e 2014. O artigo apresenta alguns resultados
preliminares de uma pesquisa que está em andamento.
O movimento LGBT latino-americano ganhou força a partir da década de 1970,
associado à luta contra as ditaduras que governavam a região. Richard Miskolci e
Maximiliano Campana (2017) explicam que o movimento esteve ligado a uma perspectiva
predominantemente de esquerda, assim como o feminismo, muito embora essas fossem
relegadas ao status de “contradições secundárias”. Apesar disso, a pauta foi ganhando
destaque até começar a se inserir com mais intensidade na agenda governamental brasileira, a
partir da década de 2000.
A partir de 2003, com a criação da Secretaria da Identidade e Diversidade Cultural
(SID), o Ministério da Cultura (MinC) passou a apoiar manifestações culturais historicamente
excluídas e invisibilizadas. Nesse diapasão, foram criados editais específicos para concessão
de prêmios a determinadas manifestações culturais, entre elas as culturas populares, culturas
indígenas, culturas ciganas, juventude, pessoas idosas e LGBTs (CORREIA, 2013).
O artigo aborda a relação entre as “culturas LGBTs” e o Estado no Brasil entre 2004 e
2014, com foco nos editais de promoção das “culturas LGBTs” promovidos pelo MinC por
meio da SID, lançados entre os anos de 2005 e 2009. O artigo se justifica pelo crescente
interesse de estudar a interação do movimento LGBT com o circuito institucional da cultura,
tendo em vista que esse processo gerou novos arranjos sociais e desdobramentos
institucionais ainda pouco estudados no meio acadêmico. Nesse sentido, o trabalho busca
compreender os avanços e retrocessos do movimento LGBT brasileiro, em face de suas
relações com a institucionalidade no campo cultural.
Este artigo está estruturado em três partes: introdução, desenvolvimento (metodologia,
referencial teórico, resultados e discussão) e conclusões, seguido das referências
bibliográficas.
1
À época, utilizava-se o termo GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transexuais), com a letra “G” na frente.
Posteriormente, passou-se a utilizar o termo LGBT, com a letra “L” na frente, de modo a realçar o papel das
mulheres lésbicas no movimento LGBT. Além disso, a letra “T” passou a abranger não somente as pessoas
transexuais, mas também as travestis e transgêneros.
Violência e à Discriminação contra GLBT e de Promoção da Cidadania Homossexual, que
envolvia diversos órgãos públicos (BRASIL, 2005).
A questão LGBT foi lembrada também quando da elaboração do Plano Nacional de
Cultura (PNC). O capítulo 2, que trata da diversidade, tem como objetivo “reconhecer e
valorizar a diversidade, proteger e promover as artes e expressões culturais”. Ao dissertar
sobre as estratégias e ações, o plano aborda, dentre outras, a discriminação por orientação
sexual, que deveria se ser objeto de programas de reconhecimento e difusão do patrimônio e
das expressões culturais (BRASIL, 2010).
Em novembro de 2012, foi instituído o Comitê Técnico de Cultura para Lésbicas,
Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT) e demais grupos da diversidade sexual,
sob a coordenação da Secretaria de Cidadania e da Diversidade Cultural (SCDC), que
substituiu a SID. (BRASIL, 2012).
Com esse conjunto de ações, o poder público buscava combater a discriminação contra
as LGBTs, que é um fenômeno amplamente observado na sociedade brasileira. O parlamento
brasileiro, historicamente, tem dado pouca atenção para o combate a esse tipo de
discriminação. Ademais, perante a sociedade homofóbica, as “culturas LGBTs” devem ser, no
máximo, toleradas, mas jamais promovidas pelo Estado. Dessa forma, é surpreendente que o
movimento LGBT tenha conseguido romper a homofobia e a transfobia institucionais e
ingressar na institucionalidade do governo federal a ponto de assegurar a destinação de
recursos públicos para ações de promoção das “culturas LGBTs”, por meio do lançamento
dos referidos editais.
A partir da década de 2000, o tema passa a ser tratado também do ponto de vista da
“positivação cultural” desse segmento da sociedade. Ao abordar a população LGBT do ponto
de vista de sua expressividade cultural, esses segmentos institucionais rompem a visão
predominante na sociedade, segundo a qual as LGBTs são tratadas a partir de suas limitações
ou incapacidades. Nesse aspecto, as LGBTs passam a ser vistas, nessa situação específica,
enquanto força criativa, nos marcos apresentados por Foucault (2004). Ao mesmo tempo, essa
quebra de paradigma gera reação de segmentos conservadores da sociedade, que pressionam o
governo a interromper as ações de promoção das “culturas LGBTs”, cerceando o lançamento
de novos editais destinados a essa expressão cultural.
De acordo com MISKOLCI & CAMPANA (2017), houve uma ampliação da bancada
neopentecostal no Congresso Nacional a partir das eleições de 2010. Com isso, iniciativas de
combate à homofobia nas escolas foram desmontadas e houve uma sensível redução de
espaço para o diálogo entre o governo federal e os representantes dos movimentos LGBT. É
possível que esse processo tenha dificultado, também, o lançamento de novos editais de
promoção das “culturas LGBTs” por parte do Ministério da Cultura.
Conclusões
Referências Bibliográficas
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dezembro de 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
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