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VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES NEGRAS: UM ENFOQUE DO

SERVIÇO SOCIAL

Bruna Aline Padilha 1


Tayna Fernanda Donel 2

Eixo Temático: Relações de Exploração/Opressão de Gênero, Sexualidades e Raça/Etnia.

RESUMO

Este artigo traz elementos e reflexões a partir de contextos atinentes ao sistema patriarcal-
racista como resultado da caracterização “modus operandi” da sociedade brasileira e que
atinge exponencialmente, mulheres negras. Neste sentido, baseia-se em um recorte de gênero
e racial, cuja intenção é provocar análises da violência contra a mulher negra, com enfoque na
perspectiva do Serviço Social. Para melhor compreensão desta dimensão, utiliza-se de uma
abordagem qualitativa, a partir de pesquisa bibliográfica e documental. Ressalta-se que a
violência de gênero está intrinsecamente ligada às relações de poder, no qual a figura
masculina sobrepõe a feminina e, no caso da mulher negra, a violência de gênero também
perpassa a questão racial, na qual a identidade dessas, se constroem através de estereótipos
discriminatórios. Salienta-se que a violência contra a mulher é uma das expressões da questão
social e a profissão intervém sobre essa realidade. Dessa forma, a sociedade se institui nessas
relações de poder, cabendo ao Serviço Social defender a justiça social, analisar e compreender
essas relações para que suas ações sejam de fato na direção da materialidade de uma nova
sociabilidade.

PALAVRAS-CHAVE: Violência contra a mulher negra. Sistema patriarcal-racista. Serviço


Social.

1 INTRODUÇÃO

As mulheres negras são historicamente alvo de violências nesta


sociedade patriarcal e racista, além de não contarem com efetivo apoio do
Estado (MARTINS, CARRIJO, 2020, p. 02 apud CARNEIRO, 2017). O presente
trabalho baseou-se em um recorte de gênero e racial, fundamentando-se no
patriarcado e no sistema capitalista que se interdependem para a estruturação
da sociedade desigual brasileira, utilizando e reproduzindo-se por meio da
exploração e da violação dos direitos, especificamente das mulheres negras. A
violência contra as mulheres negras é uma das expressões da questão social e
1
Acadêmica do 3ºAno do curso Serviço Social da Unioeste campus Francisco Beltrão. E-mail:
padilhabruna210@gmail.com
2
Acadêmica do 3ºAno do curso Serviço Social da Unioeste campus Francisco Beltrão. E-mail:
tayna4donel@gmail.com

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essas reflexões perpassam pela perspectiva dos fundamentos do Serviço
Social, a partir de sua dimensão teórico metodológica, ético-política e técnico
operativa.

2 METODOLOGIA

A metodologia adotada foi de abordagem qualitativa, a partir de


pesquisa bibliográfica e documental, bem como, análise e interpretação de
materiais e conteúdos em direção a este objeto para melhor compreender a
violência contra a mulher negra na sociedade brasileira, bem como, a
perspectiva do Serviço Social frente a este temário.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 RELAÇÃO DO PATRIARCADO-RACISMO COM A VIOLÊNCIA CONTRA


AS MULHERES NEGRAS

A sociedade brasileira é estruturada historicamente com base no


patriarcado, em que estabelece a supremacia do homem sobre a mulher, tanto
na esfera familiar, como nos espaços socialmente compartilhados (CISNE,
IANAEL, 2022, pg. 194). Pode-se citar as relações de poder, que ocorrem do
patriarcado, que impõe papéis sociais, onde devem ser seguidos para assim
ser aceito nas relações sociais.
É de relevância trazer a relação da escravidão para entender a violência,
especificamente, contra a mulher negra, que sofria diversas violência - racismo,
machismo, violência sexual, em que desenvolviam serviços iguais ao homens
escravizados, conviviam experiências distintas, em que o fator sexual
intensificava a exploração e as expressões de violência (CISNE, IANAEL,
2022, pg. 194).

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Além disso, ressalta-se a diferenciação da violência contra a mulher branca e a
mulher negra, em que o principal diferencial é a raça, pois as mulheres negras
sofrem duplamente, contando pelo machismo e/ou patriarcado a partir do
gênero e pelo racismo por meio da cor da pele, que de acordo com dados do
SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) de 2019, no Estado
do Rio de Janeiro, 57% das vítimas de estupro são mulheres negras
(INSTITUTO PATRÍCIA GALVÃO, 2020). Vale destacar que as mulheres
brancas costumam ser mais bem atendidas, que em relação às negras, de
modo que identifica-se uma estrutura de segregação e seletividade da violência
(MARTINS, CARRIJO, 2020, p, 02 apud PINA, 2016).
Assim sendo, a violência de gênero está intrinsecamente ligada com as
relações de poder que se instituem na formação desta sociedade, no qual a
figura masculina sobrepõe a feminina, transformando a mulher em um objeto
sexualizado e submisso, no caso da mulher negra, a violência de gênero
perpassa também sobre a questão racial, na qual a identidade da mulher negra
se constrói através de estereótipos discriminatórios.
[...] feminilidade, também podem articular o racismo, a exemplo, o
modo como foi constituída a identidade da mulher negra a partir do
olhar ocidental que a definiu como selvagem perigosa, amoral e
detentora de uma raça distinta, permitindo a submeter a todo tipo de
violência. (CORREIA, 2013, p. 4).

Percebe-se que a imagem da mulher negra se constitui sobre a violência racial,


perpetuando-se através dos estereótipos construídos para sua feminilidade, na
qual a questão da raça se torna um fator fundamental para o agravamento da
questão de gênero, oprimindo ainda mais a mulher negra.

3.2 SERVIÇO SOCIAL E VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: UM DEBATE


NECESSÁRIO

A violência contra a mulher ao passar dos anos tornou-se mais discutida


publicamente e o Serviço Social avançando para a superação da influência
conservadora, com um redimensionamento político da categoria profissional
comprometida com a construção de uma sociedade mais justa, pode-se

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evidenciar que a violência contra a mulher tornou-se objeto de intervenção
profissional do Serviço Social.
A questão social é consequência da desigualdade social originada pelo
sistema capitalista (LISBOA, PINHEIRO, 2005, p. 203) e, nesse aspecto
conjuntural, Iamamoto(1999) lembra
que o momento presente desafia os assistentes sociais a se
qualificarem para acompanhar, atualizar e explicar as mudanças da
realidade social. Entre as novas competências exigidas está,
sobretudo, a produção de conhecimento sobre a realidade social em
que cada profissional atua, para dar suporte ao processo de
intervenção (apud LISBOA, PINHEIRO, 2005, p. 203).

A discussão de gênero e raça para o Serviço Social tem sido uma importante
ferramenta para a compreensão das relações sociais-patriarcais-capitalistas, e
na forma de analisar e intervir sobre a realidade social.
[...] respaldada pelo Código de Ética que tem em um de seus
princípios a eliminação de todas as formas de preconceitos e
discriminação, o posicionamento a favor da equidade e justiça como
formas de que assegurar a universalidade de acesso aos bens e
serviços, necessita de uma leitura da totalidade em que gênero e raça
sejam analisados como eixos fundantes da Questão Social e não
somente como recortes. (DA SILVA, 2017 p. 10)

Dessa forma, o Serviço Social se insere na discussão dessa temática


com o objetivo de superar as desigualdades e opressões, e na defesa dos
direitos sociais e justiça social. Analisando de forma crítica a violência racial e
de gênero como uma expressão da questão racial, objeto de intervenção da
profissão.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho buscou analisar e compreender a dupla opressão sofrida pela


mulher negra na sociedade capitalista, de como o machismo, o racismo e o
patriarcalismo se constituem como forma de violência e discriminação, se
reproduzindo de forma naturalizada nas relações sociais.
A sociedade se institui nessas relações de poder, e, partindo da relação projeto
profissional e projetos societários, compete aos profissionais de Serviço Social
defender seus princípios éticos fundamentais, na direção da eliminação dessas

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desigualdades e injustiças sociais.
O Serviço Social inserido nessa lógica da sociedade capitalista, com sua leitura
crítica sobre a produção e reprodução dessas relações inerentes à sociedade
capitalista, visa corroborar para a superação da ordem societária burguesa de
acordo com seu projeto ético político, rompendo assim com os ideário
conservadores, opressores e discriminatórios das relações sociais.

REFERÊNCIAS

CISNE Mirla, IANAEL, Fernanda. Vozes de resistência no Brasil colonial: o


protagonismo de mulheres negras. Revista Katálysis,v. 25 n. 2 (2022): Serviço
Social, Racismo e Classes Sociais. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/1982-0259.2022.e84661> . Acesso em 20 jul. 2022.

CORREIA, Ana Paula de Santana. O Estudo da Violência de Gênero e sua


Intersecção Com Raça e Classe Social. Seminário Internacional Fazendo
Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2012. Disponível em:
http://www.fg2013.wwc2017.eventos.dype.com.br/resources/anais/20/1372806
721_ARQUIVO_CorreiaAPSII.pdf. Acesso em: 25 de julho de 2022.

DA SILVA, Jarlene Mariano, SERVIÇO SOCIAL, GÊNERO E RAÇA: a


interseccionalidade desses temas nas Revistas Ser Social e Serviço
Social & Sociedade. Disponível
em:https://bdm.unb.br/bitstream/10483/27309/1/2017_JarleneMarianoDaSilva_t
cc.pdf . Acesso em: 25 de julho de 2022.

INSTITUTO PATRÍCIA GALVÃO. Dossiê Mulheres Negras e Justiça


Reprodutiva (Criola, 2020/2021). Disponível em:
<https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/dados-e-fontes/pesquisa/dossie-
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2022.

LISBOA, Teresa Kleba; PINHEIRO, Eliane Aparecida. A intervenção do Serviço


Social junto à questão da violência contra a mulher. Revista Katálysis, v. 8, n.
2, p. 199-210, 2005.Disponível em: <https://doi.org/10.1590/%25x> Acesso em:
20 jul. 2022.

MARTINS, Paloma Afonso; CARRIJO, Christiane. “A Violência Doméstica e


Racismo Contra Mulheres Negras”. Revista Estudos Feministas,
Florianópolis, v. 28, n. 2, e60721, 2020, Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/1806-9584-2020v28n260721>. Acesso em: 20 jul.
2022.

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