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A violência contra a mulher em Irati nos atendimentos da Assistência

Social de 2018, 2019 e 2020. Um estudo realizado no CRAS – Canesianas.

Alana Carolina Kopczynski

Universidade Estadual do Centro Oeste

Resumo: A presente pesquisa visa contribuir para a construção de um banco


de dados sobre Violência contra a mulher em Irati e faz parte de um projeto
maior que tem como objetivo realizar pesquisas para obtenção de dados para
mapeamento das incidências de violência em Irati e região. Por meio da coleta
de dados quantitativos e qualitativos, busca mapear as incidências de denúncia
de violência doméstica com enfoque na violência contra a mulher, a coleta foi
realizada através de prontuários disponibilizados formalmente pela unidade da
Assistência Social, Centro de Referência (CRAS) Canesianas em Irati. Nos
documentos foram identificados a formas e característica das violências, as
características das vítimas e o parentesco da mesma com o agressor. Além
dos dados coletados, a pesquisadora fez perguntas aos técnicos de referência
do CRAS que buscaram esclarecer a rede de enfrentamento e os
encaminhamentos adotados nos casos de denúncias de violência contra a
mulher. Consideramos que esta violência deve ser compreendida a partir das
relações de gênero e suas representações que são historicamente construídas.
Nossos resultados indicaram que a violência doméstica contra a mulher é um
fenômeno presente na sociedade Iratiense e a rede de enfrentamento ainda
encontra dificuldades de articulação em suas ações.

Palavras-chave: Violência contra a mulher; CRAS; Irati; Assistência Social.

Introdução

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios


(PNAD/IBGE, 2009), cerca de 1,3 milhão de mulheres são agredidas no
Brasil a cada ano, violência estas que em sua maioria ocorre dentro da
própria residência da vítima e possuem uma relação afetiva com o agressor
ou seja maridos, ex-maridos, namorados, podendo até ser irmãos, pais. Isso
significa que o perigo se apresenta para as mulheres em um lugar onde
deveria ser a representação da sua segurança.
Também em uma pesquisa realizada em 2016 pela Secretaria Nacional
de Política Para as Mulheres (MJC – BR, 2016, p. 9), através da utilização dos
dados de denúncias realizadas à Central de Atendimento à Mulher, o Ligue
180, aponta que no primeiro semestre foram registrados atendimentos de
aproximadamente 556 mil mulheres em situação de violência. Os dados
registravam que 39% das mulheres sofriam violências diárias e 32% dos
relatos a violência ocorria semanalmente, isto significa que essas mulheres
conviviam diariamente com uma rotina de abusos e agressões. Tendo em vista
as estatísticas colocadas, trazer o debate sobre a violência doméstica contra a
mulher para o campo social se faz imprescindível, tanto para servir como base
em pesquisas que visam contribuir teoricamente com o assunto, quanto para a
criação de políticas públicas efetivas, tendo em vista a redução do índice de
violência, como também viabilizar informações sobre as caracterizações da
violência para que as mulheres que são vítimas possam identificar se de fato a
situação que se encontra se enquadra como violência e assim encontrar mais
facilmente uma saída para a situação, como o acolhimento necessário.

A questão social da violência contra a mulher deve ser analisada a


partir de um contexto de construção histórica e cultural dos papéis
hierarquizados entre homens e mulheres. O fato de que o crescimento desse
tipo de violência vem ocorrendo, nos mostra que a igualdade de gênero em
nossa sociedade está longe de ser algo concretizado. (LOURENÇO, 2018)

A violência de gênero pode sofrer um estímulo maior quando envolve


vulnerabilidades sociais, dependências emocionais e financeiras, nas quais o
papel da dominação masculina pode exercer uma significativa influência.
Com o desenvolvimento dos estudos de gênero “alguns autores passaram a
utilizar a violência de gênero como um conceito mais amplo que violência
contra a mulher” (SAFFIOTI; ALMEIDA, 1995). Dessa forma, esse conceito
não abrange apenas questões relacionadas à violência contra as mulheres,
mesmo que em um sentido geral a violência de gênero está relacionada a
violência praticada contra a mulher, visto que gênero como categoria de
análise busca compreender os papeis sociais construídos historicamente ao
longo dos anos.

Sendo assim, violência contra a mulher pode ser caracterizada como a


principal manifestação da violência de gênero, pois são elas as grandes
vítimas dessas ocorrências. Além disso, para compreender as manifestações
dessa violência é necessário analisar o contexto social em que a vítima e o
agressor estão envolvidos, símbolos, representações, conceitos normativos e
a singularidade dos sujeitos envolvidos (SCOTT, 1995). Tornando a análise
de gênero longe de ser generalizante, mas com um papel amplo dentro das
pesquisas que buscam compreender as construções históricas e sociais que
permeiam as relações entre homens e mulheres.

Nosso objetivo é compreender a importância dos sexos,


isto é, dos grupos de gênero no passo histórico. Nosso
objetivo é descobrir o leque de papeis e de simbolismos
sexuais nas diferentes sociedades e períodos, é encontrar
qual era seu sentido e como eles funcionavam para manter
a ordem social ou para mudá-la (SCOTT, 1995, p. 72)

Para contribuir com a pesquisa foram coletados dados dos prontuários


disponibilizados pelo Centro de Referência em Assistência Social (CRAS)
que está localizado na comarca de Irati, que abrange moradores e
moradoras do bairro Canisianas. CRAS é mais um dos equipamentos da
Assistência Social que visa garantir direitos básicos para toda a população,
excepcionalmente, mas não somente, para os que estão em vulnerabilidade
social, ou seja, quando pelo menos uns de seus direitos básicos sejam
violados.

O CRAS tem papel fundamental para acesso, garantia, ampliação


e materialização dos direitos socioassistenciais preconizados
pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS). Objetiva
principalmente a prevenção e fortalecimento de vínculos
familiares no sentido de evitar a ruptura, ou seja, a violação de
direitos. (MUSIAL; et al, 2019, p. 43)

No caso do CRAS, o equipamento conta com psicólogos, assistentes


sociais, pedagogos e educadores sociais. Esse equipamento em específico
trabalha com questões de proteção social básica. Em Irati existem 4 espaços
destinados ao atendimento da população, cada qual localiza-se em um bairro
que abrange o máximo de moradores próximos e moradores rurais, são eles
CRAS Rio Bonito, Lagoa, Vila São João e Canisianas, nessa pesquisa foi
utilizado prontuários dos anos de 2018, 2019 e 2020 disponibilizados pelo
CRAS Canisianas e referente ao ano de 2018 prontuários do CRAS Rio
Bonito. Dos 10 relatos obtidos 8 pertenciam ao CRAS Canisianas e 2 eram
prontuários do Rio Bonito. A partir dos dados obtidos o trabalho irá discutir a
incidência da violência doméstica praticada contra a mulher em Irati, visto
que nesta comarca não há delegacia especializada nos direitos das
mulheres, o CRAS e CREAS são os principais órgãos de representação de
defesa das mulheres em Irati, além dos dados serão postos também, através
das perguntas realizadas pela pesquisadora ao psicólogo do CRAS
Canisianas e o Pedagogo do CRAS Rio Bonito, sobre a rede de
enfrentamento adotada pelos equipamentos no momento em que a denúncia
é realizada.

Objetivos

Essa pesquisa teve como objetivo contribuir de forma qualitativa e


quantitativa para atualização dos dados para o Mapa da Violência das
incidências de violência doméstica em Irati 1 – Paraná nos anos de 2018, 2019
e 2020, utilizando para análise dados que fornecem informações sobre as
vítimas e relatos sobre denúncias descritas nos prontuários do Centro de
Referência em Assistência Social (CRAS) que oferece serviço de proteção
básica aos moradores e moradoras do bairro Canisianas, como também a rede
de enfrentamento adotada pelo equipamento. Os dados foram analisados de
forma anônima para a não exposição, principalmente das vítimas, serão
números que retratam casos. Também foram analisados os prontuários do

1
O município de Irati se localiza na região sudoeste do estado do Paraná, sua população
segundo IBGE de 2019, era de 60.727 habitantes.
CRAS que abrange o bairro Rio Bonito em Irati – Paraná, referente ao ano de
2018.

Além de analisar os dados, outro objetivo desta pesquisa foi estudar


as relações de gênero e como essa questão se torna determinante na
violência contra a mulher especificamente, levando em consideração que os
papeis de gênero são construídos e agem conforme o contexto em que a
vítima e o agressor estão envolvidos e como essa construção se manifesta
nas representações de suas ações.

Contexto esse que sofre influência das questões políticas,


econômicas, dos conceitos normativos evidenciados em discursos religiosos,
regras sociais e também relacionar esse contexto às atividades
educacionais, familiares e etc. Pois a violência contra a mulher não se dá
apenas por um fator generalizante, apenas pela relação hierárquica entre
gêneros, mas a partir de símbolos que contém representações e são
repassadas hereditariamente seja por relações de parentesco, como outras
relações mencionadas acima. Além disso, buscou-se analisar também as
características dessas violências, das vítimas e dos agressores. Afinal,

Em lugar de procurar as origens únicas, temos que


conceber processos tão ligados entre si que não poderiam
ser separados. É evidente que escolhemos problemas
concretos para estudar, e esses problemas constituem
começos ou tomadas sobre processos complexos, mas
são processos que temos que ter sempre presentes em
mente. Temos que nos perguntar mais freqüentemente
como as coisas aconteceram para descobrir como elas
aconteceram. (ROSALDO, 1979, p. 57)

Com o objetivo de analisar e compreender os fatores e as relações


que cercam a violência contra a mulher, diversos trabalhos vêm sendo
desenvolvidos no Brasil e no mundo. Compreender os mecanismos que
envolvem o fenômeno é de suma importância para o desenvolvimento e a
criação de políticas públicas que busquem soluções para esse problema
social, portanto essa pesquisa, além de contribuir com a atualização dos
dados do Mapa da violência, tem como objetivo contribuir para a socialização
dos resultados para subsidiar a solicitação de políticas públicas efetivas.
O debate acerca de gênero também se faz presente e fundamental
para a historiografia, pois por muito tempo o tema não era tratado como
essencial dentro das pesquisas históricas. Por isso, é fundamental aprimorar
a discussão teórica e conceitual sobre o tema, assim como realizar
mapeamentos e analisar a possível causa desses fenômenos.

Metodologia

Trata-se de uma pesquisa qualitativa e quantitativa que busca realizar


de forma descritiva um mapeamento dos casos de violência contra a mulher
em Irati-PR usando como base os prontuários referentes aos anos de 2018,
2019 e 2020 do CRAS Canisianas e referente ao ano de 2018 do CRAS Rio
Bonito (a escolha de mapear as incidências de violência doméstica no CRAS
Rio Bonito foi opcional para a pesquisadora para servir como parâmetro
quantitativo dentro das discussões).

Os prontuários são os registros dos atendimentos realizados no CRAS,


onde há o relato da situação, o parecer do técnico responsável, o
encaminhamento necessário para determinada demanda, como também
informações pessoais dos/das envolvidos/as no atendimento. É a partir dos
relatos recolhidos dos prontuários que serão levantadas a informação
trabalhada neste artigo.

Visto que as denúncias feitas nos equipamentos são de caráter


sigilosos, para o acesso aos prontuários, foi solicitado formalmente à gestão
da Assistência Social que concedeu somente para fins de pesquisa, desta
forma informações pessoais (nome, idade, endereço) da vítima e do agressor
não serão divulgados.

Nos documentos foram identificadas as características das vítimas, da


família, da própria violência e o nível de parentesco com os agressores. Uma
vez que, a violência acontece em múltiplas formas de manifestações e pode
estar relacionada tanto com o perfil da vítima quanto do agressor, foram
coletados dados sobre o parentesco que havia na relação que ocorria a
violência, se tinham filhos, a escolaridade de ambos, bem como a ocupação,
o estado civil, a caracterização da violência e o principal motivo indicado nos
relatos e nos prontuários.

Além dos dados coletados formalmente, os/as técnicos/as de referência


dos equipamentos do CRAS foram submetidos/as a perguntas sobre a rede
de enfrentamento e a funcionalidade e efetividade do trabalho realizado pelo
CRAS quando há denúncias de violência contra a mulher.

Resultados e discussão
A preocupação com essa questão vem sendo discutida pelos números
crescentes das incidências de violência doméstica, especificamente a
violência praticada contra a mulher. De acordo com a pesquisa realizada pelo
Mapa da Violência em 2018, o Paraná ocupa a 1º posição, dentre os estados
do Sul do Brasil, com maior número de denúncias, contabilizando 1.426,
seguido por Rio Grande do Sul com 665 denúncias (MARQUES, 2018, p.27).

A partir de uma pesquisa realizada no ano de 2016, a violência contra


a mulher atinge de formas diferentes as mulheres brancas, pretas e pardas
(DATASENADO, 2016). Em 10 anos a violência contra as mulheres negras
aumentou 54% enquanto das mulheres brancas abaixou 9,8% (SANGARI,
2015).

No Paraná, excepcionalmente, a taxa de violência letal atinge mais as


mulheres brancas, mas em estados como Amapá, Pará e Espírito Santo as
mulheres negras são as mais atingidas, podendo registrar as incidências de
violência três vezes a mais do que a que atinge as mulheres brancas.
Analisar as violências praticadas contra as mulheres com o recorte de gênero
e raça é imprescindível para reconhecer a causa desses fenômenos.

Segundo a filósofa Sueli Carneiro (2017, s/p) gênero e raça se


interseccionam na vida das mulheres, entendendo que as desigualdades são
decorrentes de um processo histórico, porém a questão racial se faz ainda
mais pertinente, quando analisamos as estatísticas e vemos que o índice de
violência doméstica praticada contra mulheres negras é significativamente
maior do que as praticadas contra as mulheres brancas, e isso explicaria a
situação de vulnerabilidade social em que as mulheres negras vítima de
violência doméstica se encontram.

Muitos estudos têm sido desenvolvidos na intenção de compreender


quais são os fatores que contribuem para esse contexto de aumento da
violência, letal ou não, contra a mulher. E nesses estudos se faz importante
interseccionalizar raça e gênero nas análises, visto que a mulher negra tem
sido as maiores vítimas registradas nas estatísticas, sendo assim teremos
um resultado mais amplo e significativo sobre como essas violências
motivadas pelo gênero se manifestam.

Violência doméstica é caracterizada por toda agressão que ocorre em


ambiente familiar praticado contra crianças, adolescentes, mulheres ou
idosos como também nas relações formalizadas (marido e esposa, namorado
e namorada). Violência esta que se trata de abusos praticados contra a
integridade do indivíduo, seja ela de ordem psicológica, física, sexual,
patrimonial e/ou moral e podendo acontecer em qualquer idade,
independente do nível de escolaridade e do status social, como também das
classes sociais. Violando a liberdade e o exercício dos direitos.

Violência doméstica com enfoque na violência praticada contra a


mulher pode ser analisada como violência de gênero, uma vez que está
relacionada à fatores culturais e no exercício da função patriarcal que
estrutura historicamente a dominação de força e potência sobre as mulheres
que, dentro desse contexto das construções dos papéis de gênero, são
consideradas frágeis, “a naturalização do feminino como pertencente a uma
suposta fragilidade do corpo da mulher e a naturalização da masculinidade
como estando inscrita no corpo forte do homem fazem parte das tecnologias
de gênero” (LAURETIS; apud SAFIOTTI, 1999, p. 85), sendo assim a
violência de gênero se estrutura pela relação de poder estabelecida na
dominação do homem sobre a mulher e a passividade exigida da mesma.

Dessa forma inicia-se o ciclo da violência doméstica contra a mulher,


baseado no esteriótipo dos papéis de gênero e o exercício do mesmo, com a
passividade exigida para o papel da mulher e a relação de dominação do
homem. Neste ciclo a relação inicia com conflitos recorrentes, seguidos por
humilhações, inferiorização da mulher e ameaças pelo não cumprimento das
exigências desse papel de gênero até se concretizar as violências físicas,
seguidas por promessas mútuas de mudança até o ciclo se renovar e chegar
no ápice da situação, que seria o feminicídio (LUCENA et al. 2016, p 4).

As diferentes formas das manifestações das violências ocorrem


quando a mulher não age conforme os limites colocados para a feminilidade,
quando a ideologia da hierarquia de gênero não é suficiente. A violência é
usada como reeducação da mulher para seguir parâmetros impostos sobre
os conceitos de masculinidade e feminilidade dentro dos papéis de gêneros
historicamente construídos. A partir desse pressuposto, entende-se que as
manifestações da violência não ocorrem de forma única e generalizante, mas
precedida por números abusos e violações de direitos até chegar à violência
física e até mesmo o feminicídio.

Na maioria dos casos a violência é cometida dentro da própria


residência da vítima. Em uma pesquisa realizada pela pesquisadora Cíntia
Liara Engel em parceria com o IPEA, consta os índices nacionais das
denúncias de violência contra a mulher feitas em 2009, indica que 43% das
mulheres sofreram violência em sua residência, de maneira que 36%
indicaram ser nas vias públicas, enquanto a porcentagem de homens que
são agredidos na própria residência é 12,3% (ENGEL, 2019, p. 15). “Tem
sido necessário mostrar que a violência familiar não é a expressão unilateral
do temperamento violento de uma pessoa, mas é tramada conjuntamente –
embora não igualmente – por vários indivíduos no caldeirão da família. Não
há objetos, apenas sujeitos” (GORDON; apud SAFIOTTI, 1999, p. 86).
Ao longo dos últimos 20 anos a legislação sofreu algumas mudanças,
ou melhor, melhorias nas políticas públicas de defesa da mulher.

1. A lei 11.340/2006
A luta contra as violências sofridas pelas mulheres teve grandes
contribuições no Brasil após a sanção da Lei Maria da Penha (nº
11.340/2006), sendo o principal mecanismo legislativo de combate a essa
violência e atentou para a necessidade de trazer esse debate para o campo
social e para a contribuição na efetivação de políticas públicas que visam
defender vítimas dessa violência. A implementação da Lei Maria da Penha,
em 2016, completou 10 anos. Desde que entrou em vigor causou um
impacto positivo, imputando os agressores com medidas mais gravosas e
encorajando mulheres vítimas dessa violência a denunciarem, como
também, se tornou mais conhecida as múltiplas formas de como essa
violência se manifesta e a partir da definição também possibilitou o
reconhecimento das violências sofridas, viabilizando as denúncias,
encorajando as mulheres a reconhecerem os abusos sofridos e fazer a
denúncia. Segundo dados do IPEA em março de 2015 a lei causou uma
redução de 10% na taxa de feminicídio, dessa forma a lei trouxe a violência
contra a mulher para um debate social e contribuiu para a redução dos
casos, mas ainda não caminhamos para a tão desejada igualdade de
gênero.

A violência contra a mulher não pode ser visto como fenômeno único,
visto que ela nem sempre ocorre da mesma forma, pois deve ser analisada
levando em consideração o contexto em que ocorre, podendo ser
caracterizada em múltiplas formas de manifestações. O artigo 7º da Lei
11.340 busca categorizar a violência domestica em cinco tópicos que facilita
na identificação da violência sofrida, são elas: a violência física caracterizada
pela conduta que visa atingir a saúde corporal da vítima; a violência
psicológica é caracterizada pela conduta que visa desmoralizar a vítima,
causando danos emocionais e a sua auto-estima, nesse caso o agressor age
ameaçando, constrangendo, humilhando, manipulando, insultando,
controlando seu direito de ir e vir, seu comportamento e influenciando nas
suas crenças e decisões; a terceira categoriza-se por violência sexual que
pode ser caracterizada por qualquer conduta que coíbe a vítima a participar
de uma relação sexual sem o seu consentimento, seja para fins lucrativos
(prostituição pela coação), que use de chantagem, inclusive em relações
matrimoniais, coagir a mulher para o não uso dos contraceptivos também é
caracterizado violência sexual, visto que ainda ocorrem casos em que o
agressor constrange a vítima para o não uso (como por exemplo) dos
preservativos, bem como, em alguns casos ocorre a remoção do mesmo
durante o ato e sem o consentimento da parceira, essa ação tornou-se objeto
de pesquisa da pesquisadora e advogada Alexandra Brodsky que afirmou,
através de entrevistas, que casos como esse indicam uma prática comum
entre pessoas jovens sexualmente ativas (BRODSKY, 2017, p. 185), mas que
constitui um crime de violência sexual; a quarta categoria é a violência
patrimonial , acontece quando há a subtração, retenção sem o
consentimento ou destruição parcial de bens pessoais da vítima, dentre as
outras manifestações de violência.

A última categorização de violência doméstica prevista na Lei Maria da


Penha se configura como violência moral, que ocorre quando o agressor visa
constranger e/ou humilhar a vítima através de calúnias, difamação e injúria.
Na pesquisa realizada em 2017 pelo DataSenado 36% das mulheres
relataram já ter sofrido violências com essa característica (SENADO
FEDERAL, 2017, p. 3).

2. A Lei 13.194/15
No Brasil a taxa de homicídios contra as mulheres é de 4,8 por 100 mil
mulheres, ou seja, 2,4 vezes maior do que a taxa da média internacional
(WAISELFISZ, 2015, p. 72). A lei do feminicídio garante penas mais severas
aos autores do crime, mas essa lei nem sempre existiu, em 2015 a ex-
presidenta Dilma Rousself sancionou a lei 13.194/15 que previa mudanças
no Código Penal, mais especificamente no Decreto-Lei 8.072/90 (que
dispõem sobre crimes hediondos), que incluiu o feminicídio na lista como
qualificação para homicídios ou crimes hediondos, prevendo uma pena mais
rigorosa aos agressores. Enquanto a penalidade do homicídio simples é
prisão em regime fechado de seis meses a 20 anos, o crime de feminicídio
tem pena de 12 a 30 anos de prisão, podendo ser elevada em 50% se
acontecerem em casos específicos, como: na presença dos filhos, quando
ocorre no período de gestação e lactação, contra menor de 14 anos e maior
que 60 anos ou com deficiência.

A sanção da lei foi vitoriosa, pois contribui para a caracterização da


violência e as penas mais severas, mas somente a sanção da lei não foi
suficiente para que o número de casos diminua. O Balanço 2019 do Ligue
180 – Central de Atendimento a Mulher (MDFDH- BR, 2019, p. 13) aponta
que no ano de 2018 e 2019 a Central de Atendimento, o Ligue 180, recebeu
quase 4 milhões de denúncias de violência doméstica, segundo essa
pesquisa em geral os agressores são do sexo masculino e possui relação
afetiva com a vítima, somando 42% das denúncias realizadas (MFDH-BR,
2019, p. 25).

Para a socióloga Wania Pasinato (2011, p. 230) o femincídio pode ser


considerado como o ápice dos atos de violência, sendo a conseqüência de
um padrão cultural construído historicamente acerca dos papeis
hierarquizados nas relações de homens e mulheres. “Segundo Russel e
Radford (1992), a primeira característica desta definição considera o
feminicídio como mortes intencionais e violentas de mulheres em decorrência
de seu sexo, ou seja, pelo fato de serem mulheres.” (RUSSEL, RADFORD
apud PASINATO, 2011, p. 229). O feminicídio acontece quando o homem
percebe que o sistema da hierarquia patriarcal, que se baseia na relação de
dominação estabelecida do homem sobre a mulher, não está sendo
respeitada, quando essa ideologia não se sustenta com o uso da violência
física, moral, patrimonial, sexual ou psicológica.
Na intenção de praticar e impor sua dominação ele acaba pondo um
fim na vida da vítima. Geralmente as violências não iniciam pela morte da
vítima, mas por uma série de manifestações e representações da
intencionalidade do homem em obter controle total e posse sobre o corpo e a
vida da mulher, exercendo esse poder através de relações violentas e até
fatais.

3 . A violência de gênero no CRAS Irati


Para compreender a problemática trazida no presente artigo, faz-se
necessário a análise da construção histórica e social dos papeis de gênero
na sociedade, que hierarquizados, produzem uma relação de dominação da
força e potência nas relações entre homens e mulheres. As estatísticas
apontam que, mesmo que a Lei Maria da Penha tenha contribuído para o
conhecimento da lei e das penalidades e também para a redução dos casos
de violência doméstica, o número de mulheres que sofrem dessa violência
ainda é significativo.

A historiadora Joan Scott (1995, p. 86) cita que gênero é um elemento


constitutivo das relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os
sexos, e o gênero é uma forma primeira de significar as relações de poder. E
o homem exerce essa opressão e a relação de poder através da violência.

Mas se a mulher se sente oprimida diante dos atos do parceiro, por


que ela não consegue se desvencilhar dessa relação? Heleieth apresenta um
fator importante para a resposta dessa pergunta:

Para que pudessem ser cúmplices, dar seu consentimento


às agressões masculinas, precisariam desfrutar de igual
poder que os homens. Sendo detentoras de parcelas
infinitamente menores de poder que os homens, as
mulheres só podem ceder, não consentir. (MATHIEU, apud
SAFIOTTI, 1999, p. 86)

São muitos os fatores que contribuem para que a mulher não se sinta
encorajada para fazer a denúncia. Nos dados obtidos percebe-se que as
mulheres mais afetadas por essa violência são as mulheres que trabalham
nas suas casas, no cuidado da família, onde essas violências são mais
recorrentes.

4. A Assistência Social e o trabalho do CRAS


A assistência social no Brasil teve seu reconhecimento legal a partir da
Constituição Federal de 1988, sendo tratada como política pública de direito,
onde atuou ao lado da Saúde e da Previdência Social na garantia de direito à
população, formando a tríade chamada Seguridade Social (MARTINS;
MAZUR, 2009, p. 3). Continuando no pensamento de Martins e Mazur (2009)
no ano de 1993, com base na Constituição Federal, foi aprovada a Lei
Orgânica da Assistência Social (LOAS) que buscava romper com o caráter
assistêncialista que por muito tempo no Brasil estava em vigência, facilmente
confundido com o ato da caridade.

Em 2003 na IV Conferência Nacional de Assistência Social foi


implementado o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) sendo um
sistema público, participativo e descentralizado, na intenção de promover e
garantir direitos a população através de ações que visam estabelecer o
fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, programas
socioassistenciais, benefícios, projetos que garantam a proteção social da
população e que auxiliem a comunidade no enfrentamento das dificuldades,
ou seja, um campo de proteção social que seria um conjunto de ações que
cobre, reduz e/ou previne violações dos direitos e situações de
vulnerabilidade social (COSTA, 2015, p.2).

Nesse mesmo contexto surgem os CRAS’s, para operacionalizar o


modelo de gestão utilizado pelo SUAS em espaços físicos, para que possa
se desenvolver ações que visam garantir a proteção básica, pois “o CRAS
tem o papel fundamental para acesso, garantia, ampliação e materialização
dos direitos socioassistênciais” (MUSIAL, 2019, p. 43), atuando na prevenção
da violação de direitos, como também no fortalecimento de vínculos
familiares e sociais.
A construção histórica da política de Assistência Social apresenta
grandes avanços, mesmo com as limitações advindas de uma cultura de
políticas assistencialistas que não incluiam direitos à seguridade social, mas
que baseava-se em caridade e solidaridade, principalmente religiosa, pois a
vulnerabilidade social não era vista como uma questão social, mas como
uma disfunção individual (CÁCERES, 2016, s/p). Dessa forma, os avanços
na área da Assistência social são importantes para que o indice da
desigualdade social no Brasil reduza e para ações de políticas públicas
efetivas no combate à violação dos direitos garantidos em lei. Por isso se faz
tão importante conhecer e reconhecer a história da política de Assistência
Social no Brasil e os mecanismos estabelecidos que atuam na proteção
social da população.

5. Resultados obtidos
Dos relatos obtidos através dos prontuários disponibilizados pelo
CRAS Canisianas e o CRAS Rio Bonito que foram recolhidos e analisados,
havia dez denúncias diretas e indiretas das mulheres em que a situação que
se encontravam correspondia como violência doméstica.

Quadro 1: Ocupação das vítimas

Ocupação Quantidade %
Do lar 4 50,0
Pensionista 1 12,5
Profissional Liberal 2 25,0
Trabalhadora Rural 1 12,5
Fonte: organizado pela pesquisadora a partir dos prontuários do CRAS Canisianas

Através dos dados obtidos percebe-se que 50% dessas mulheres que
relataram sofrer violências não possuem renda própria, o que dificulta para a
mesma sair desse ciclo da violência. Uma vez que pode ser um critério
adotado pelo agressor para manipular e controlar ainda mais os direitos das
vítimas. Inclusive em um dos relatos a vítima afirma que o companheiro não
a deixa sair de casa, essa vítima em específico trabalha na informalidade,
nesse caso, os trabalhos que ela consegue são somente para
complementação da renda, o companheiro ainda é responsável por manter
financeiramente a família. Observamos que dos 10 registros coletados dos
prontuários, dois não haviam essa informação. Mas a dependência financeira
não é determinante na prática da dominação, pois 50% das mulheres
possuem alguma renda e em outro relato, no caso o ex-companheiro é
desempregado.

Quadro 2: Estado civil das vítimas


Estado civil no momento da agressão Quantidade %
Solteira 2 20,0
Casada 8 80,0
Fonte: organizado pela pesquisadora a partir dos prontuários do CRAS Canisianas

No quadro 2 é possível perceber que 80% das vítimas que sofrem


violência doméstica são casadas, em todos os relatos essa informação estava
presente, uma vez que nos relatos que são recolhidos através da plataforma
GSUAS (utilizado como plataforma organizativa dos atendimentos realizado
nos CRAS’s e CREAS da cidade), há prontuários individuais que indicam e
mapeiam informações pessoais de toda a família. Em alguns casos a violência
foi relatada aos/às trabalhadores/as da Assistência Social após a separação da
vítima e do agressor, são casos como esses que as vítimas se apresentam
como solteiras.

Quadro 3: Nível de parentesco com o agressor


Nível de parentesco com o agressor Quantidade %
Marido 7 70,0
Ex-marido 2 20,0
Familiar (irmão) 1 10,0
Fonte: organizado pela pesquisadora a partir dos prontuários do CRAS Canisianas

O quadro 3 aponta que os agressores são predominantemente


companheiros das vítimas. O que indica que o lar, pra essas mulheres, é o
local que apresenta maiores perigos e o mínimo de segurança.

Quadro 4: Nível Educacional da vítima


Nível Educacional Quantidade %
Sem escolaridade 1 14,2
Ensino fundamental 4 57,1
Ensino médio 1 14,2
Ensino Superior 1 14,2
Fonte: organizado pela pesquisadora a partir dos prontuários do CRAS Canisianas

Pelas informações percebe-se que a maioria das mulheres


estudaram até o ensino fundamental, completo ou não, o que indica uma
baixa escolaridade por parte das vítimas. A vítima que possuía ensino
superior não exercia a profissão em que se formou, mas se dedicava aos
cuidados da casa. Dois casos não havia informações sobre a escolaridade.

Quadro 5: Principais motivos indicados nos registros

Principais motivos indicados nos registros Quantidade %


Álcool 2 33
Ciúmes 4 66
Fonte: organizado pela pesquisadora a partir dos prontuários do CRAS Canisianas

A ingestão de bebidas alcoólicas está associada ao prolongamento da


violência contra a mulher, nos relatos obtidos 33% das mulheres afirmaram
que a ingestão da substância alcoólica favorece para que as violências
ocorram,

De acordo com o modelo farmacológico, o álcool provoca


desinibição e reduz a capacidade de julgamento, o que
pode em algumas situações facilitar ou servir como
justificativa para a ocorrência de determinados
comportamentos mais agressivos. (FONSECA;
TONDOWSKI et al. 2009, p.746)

Se usar o álcool como justificativa do problema da violência


doméstica, neste caso, a solução estaria em resolver os vícios com o álcool,
mas após análises é perceptível que essa justificativa é controversa e
conjuntamente com o vício do álcool, pode haver indícios de problemas
biológicos, sociais e psicológicos, visto que a dominação masculina nem
sempre é motivada após o abuso do álcool, mas nos próprios relatos é
perceptível que o sentimento de posse e necessidade do controle do corpo
feminino se manifesta através dos ciúmes, que neste caso é o maior índice
analisados nos principais motivos indicados nos registros.
Quadro 6 – Caracterização da Violência
1 – Violência psicológica, ameaças de morte, sofria também violência
física por não aceitar ter relações sexuais sem o uso de preservativos.
Com medida protetiva.
2 – Ameaças, violência psicológica e moral.
3 - Violência psicológica e sexual, forçada a ter relações sexuais sem o seu
consentimento –
estupro
4 – Violência moral
5 – Violência física e psicológica.
6 – Violência física e psicológica.
7 – Violência psicológica e moral, a vítima e os filhos sofrem ameaças do
agressor.
8 – Violência moral e física.
9 – Cárcere privado
10 – Violência física e psicológica.
Fonte: organizado pela pesquisadora a partir dos prontuários do CRAS Canisianas

De acordo com as informações dispostas nos prontuários, o quadro 6


apresenta as caracterizações da violência, percebe-se (como já foi citado)
que a violência não acontece de forma isolada e universal. Nos relatos
recolhidos em quase todos os relatos havia duas ou mais caracterizações da
violência, seja psicológica seguida pela física e etc.

Para se pensar a violência doméstica, não é pensar em justificativas,


mas a partir de onde e quando ela se estruturou em nossa sociedade,
tornando-se um problema de saúde pública.

Conclusões

É interessante salientar que a partir dos relatos coletados todas as


vítimas possuíam filhos e parte delas não possuíam uma renda própria,
pensar que as motivações da violência indicadas nos prontuários são
justificativas constitui um fato errôneo. Visto que o ciúme e o álcool não são
fatores determinantes, mas que estimulam ainda mais a violência.
É primordial compreender que a dominação masculina está
relacionada com papeis sociais construídos historicamente acerca do
“masculino ideal”, no qual busca-se a imagem da virilidade, enquanto a
imagem da feminilidade é retratada como frágil e com o dever da submissão
e sujeição, papeis esses que devem ser desempenhados na família patriarcal
que predomina sobre a cultura brasileira. Nesse contexto percebemos que a
igualdade de gênero não é algo concreto e muito próximo da nossa
realidade, dessa forma as mulheres que vivem dentro dessas relações e
sofrem as reincidências da violência são coagidas a permanecer, seja pela
dependência econômica que está modelada a esses papeis de gênero, seja
por questões emocionais.

Os dados obtidos atualmente sobre as estatísticas da violência contra


a mulher, infelizmente, não refletem a realidade total, visto que ainda há
casos em que a mulher retira a denúncia ou de fato nunca chegou finalizar
esse processo. Algumas denúncias que chegaram até o CRAS evidenciaram
a violência doméstica de forma indireta, o atendimento não era específico
sobre a violência sofrida pela mulher, mas sobre evasão escolar ou pedido
de benefício eventual, etc.

Através dos prontuários analisados dos atendimentos, foi evidente que


em algumas situações acontecia de as mulheres relatarem o porquê da
evasão e do pedido de benefício eventual e nessa conversa aparecer
evidências da violência doméstica. Em um dos casos, em específico, a vítima
foi chamada para prestar contas sobre as faltas frequentes do seu filho mais
velho na escola e de seu comportamento agressivo, essas situações
estavam relacionadas à violência que a mulher sofria por parte do marido e
era presenciado pelos filhos. Ou seja, neste relato a mulher foi estimulada a
contar sobre a violência que sofria e que motivava os comportamentos
agressivos do filho que estava relacionado com a violência doméstica
presenciada por ele. Além desses casos, havia denuncias reincidentes
(mesmo com medida protetiva) de que o, já, ex-companheiro ameaçava a
vítima e os filhos se caso ela se relacionasse afetivamente com outro
homem. O que faz pensar que a dominação masculina e consequentemente
a posse sobre as mulheres é algo visto com naturalidade pelo agressor, se
não a lógica estruturante e histórica que permeia as relações entre homens e
mulheres? Deste modo, a relação de poder estabelecida e construída em
processos históricos que permeiam as relações de gênero é o que tem
favorecido as altas estatísticas sobre violência contra a mulher.

Para compreender a rede de enfrentamento adotada pelo CRAS em


casos de denúncia sobre violência doméstica, faz-se necessário
compreender a complexidade casos nos atendimentos realizados, o CRAS é
um serviço de proteção básica, que busca prevenir situações de violação dos
direitos dos usuários, seja concedendo benefícios eventuais, seja
trabalhando com o fortalecimento de vínculos para ampliar ideais de
autonomia e conhecimento dos direitos que dependemos. Quando chega
algum caso de violência doméstica é automaticamente encaminhado para o
Centro de Referência Especializada da Assistência Social, o CREAS, que
estão preparados para receber situações de alta complexidade, como nesses
casos. Atualmente em Irati – PR, não existe uma delegacia especializada nos
direitos das mulheres, sendo assim o CREAS e a Polícia Civil são órgãos
máximos na atuação frente à essas denúncias.

O Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, é um serviço


ofertado pelo CRAS, que se baseia na formação de grupos para discussão e
interação sobre temas importantes em determinadas idades, esse serviço
caracteriza-se como uma rede de enfrentamento, uma vez que, na formação de
vínculos com mulheres, ao trazer a violência contra a mulher para o debate é
possível que as situações de risco, da violação dos direitos, sejam identificadas
e a partir desses relatos o caso seja encaminhado aos órgãos competentes
para realizar o acompanhamento dessa família em vulnerabilidade social. Além
das campanhas realizadas anualmente que são baseadas em uma política de
prevenção contra a violência doméstica. Vale salientar que as informações
sobre a rede de enfrentamento adotada são relatos do psicólogo e do
pedagogo que atuam como técnicos de referencia do CRAS.
Diversos estudos realizados contribuem para a estruturação de
políticas públicas mais efetivas e acessíveis a toda a classe das mulheres.
Segundo Wânia Pasinato “Falta avançar em maior engajamento e
comprometimento das instituições, governos e da sociedade para que essas
sejam um compromisso de todos e todas, e que o lema”Nenhuma a menos”
finalmente se torne realidade” (2018, s/p)

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