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As interfaces entre a violência contra a mulher no Maranhão e a efetividade

das políticas públicas estaduais de serviços de saúde e segurança no interior


do Maranhão.

ÀREA DE CONCENTRAÇÃO: Políticas sociais e Políticas Públicas.


LINHA DE PESQUISA: Violência, Família, Criança, Idoso e Gênero.

1. JUSTIFICATIVA:

A problemática da violência contra a mulher emerge como um desafio


significativo para a saúde pública, configurando-se como uma manifestação de ação
ou negligência fundamentada no gênero, culminando em consequências que
abrangem desde morte e lesões até sofrimento físico, sexual ou psicológico, além de
danos morais ou patrimoniais (Brasil, 2006).

Conforme estabelecido pela Plataforma de Beijing, documento que assevera


os direitos das mulheres como direitos humanos, para superar as desigualdades de
gênero, uma das áreas prioritárias consiste na abordagem da violência contra as
mulheres. A violência, seja ela manifestada no âmbito familiar ou comunitário,
perpetrada ou tolerada pelo Estado, é reconhecida como um dos principais entraves
para garantir os direitos humanos e as liberdades fundamentais de mulheres e
meninas (Engel, 2020).
De acordo com a 10º Pesquisa Nacional de Violência Contra a Mulher, cerca
de 30% das mulheres em território nacional já foram vítimas de alguma forma de
violência doméstica ou familiar perpetrada por homens. Neste contingente,
destacam-se 76% que experimentaram agressões físicas, sendo este índice
suscetível a variações conforme a faixa de renda. Enquanto 64% das mulheres
submetidas à violência doméstica ou familiar, com um rendimento superior a seis
salários mínimos, afirmam ter sofrido violência física, esse percentual ascende a
79% entre as vítimas que percebem uma renda de até dois salários mínimos
(DataSenado, 2023).
A história das políticas sociais destinadas às mulheres vítimas de violência é
marcada por uma evolução progressiva. Nas últimas décadas, observou-se um
movimento global impulsionado pelo ativismo feminista, que desafiou as normas
sociais e demandou respostas mais eficazes diante da violência de gênero (Lisboa;
Pinheiro, 2005).
As políticas sociais desempenham um papel crucial na abordagem da
violência contra a mulher, atuando como instrumentos fundamentais para a
promoção da igualdade de gênero e a salvaguarda dos direitos humanos. Ao
estabelecer diretrizes e estratégias específicas, essas políticas têm o potencial de
criar um ambiente propício à prevenção, proteção e reparação diante de casos de
violência.
Adotou-se a linha de pesquisa em Violência, Família, Criança, Idoso e
Gênero, da área de concentração de Políticas sociais e Programas sociais para a
realização deste estudo. A importância das políticas sociais e programas sociais na
mitigação da violência contra a mulher é indiscutível, pois essas iniciativas
desempenham um papel fundamental na abordagem dos fatores sociais que
alimentam essa problemática. A interação entre elementos sociais, como
desigualdade de gênero, normas culturais discriminatórias e falta de acesso a
recursos econômicos, frequentemente contribui para a perpetuação da violência.
Desta forma, ao explorar as interfaces entre a violência de gênero e as políticas de
saúde e segurança, o estudo pode proporcionar uma compreensão mais profunda
das dinâmicas que contribuem para a violência contra a mulher na região, assim
como fornecer insights valiosos que podem orientar a formulação de estratégias
mais eficazes e adequadas às necessidades específicas das mulheres
maranhenses, que poderão servir como uma base sólida para o desenvolvimento de
intervenções específicas no interior do Maranhão, considerando as particularidades
regionais e apoiar a formulação de políticas públicas mais eficientes, garantindo uma
resposta mais efetiva diante dos desafios associados à violência contra a mulher.

2. OBJETIVOS:
2.1 Objetivo geral:
 Analisar as dinâmicas da violência contra a mulher e a efetividade das
políticas públicas estaduais de serviços de saúde e segurança no interior do
Maranhão.

2.2 Objetivos específicos:


 Investigar os padrões e tipos de violência contra a mulher no interior do
Maranhão, identificando fatores de risco e grupos mais vulneráveis;
 Examinar a eficácia dos mecanismos de segurança pública no interior do
estado;
 Identificar lacunas e desafios na integração entre os serviços de
saúde e segurança.

3. PROBLEMATIZAÇÃO:

A violência contra a mulher no Maranhão representa um desafio social e


estrutural significativo, requerendo uma análise profunda das dinâmicas envolvidas e
da efetividade das políticas públicas voltadas para os serviços de saúde e
segurança, sendo relevante estudos que se propõem a analisar estas questões
especialmente no interior do estado (Silva et al., 2021).
A ausência de uma agenda local específica direcionada à violência contra as
mulheres que vivem no interior, aliada à desresponsabilização e falta de
comprometimento da gestão local diante desse fenômeno, são aspectos que nos
conduzem a questionar a eficácia protetiva da rede (Grossi; Coutinho, 2017).
O objetivo central de qualquer iniciativa nas redes de combate e assistência
às mulheres vítimas de violência é romper com os processos violentos. No entanto,
para aquelas que vivem em áreas rurais e periféricas, enfrentar essa realidade se
revela especialmente complicado (Grossi; Coutinho, 2017).
Esta pesquisa tem como objetivo geral analisar as dinâmicas da violência
contra a mulher e a efetividade das políticas públicas estaduais de serviços de
segurança no interior do Maranhão, enquanto os objetivos específicos incluem
investigar os padrões e tipos de violência contra a mulher na região, identificar
fatores de risco e grupos mais vulneráveis, examinar a eficácia dos mecanismos de
segurança pública, avaliar a percepção da comunidade em relação às políticas
públicas existentes.
A problematização deste estudo está centrada na seguinte questão de
pesquisa: "Como as políticas públicas de serviços de saúde e segurança do interior
do Maranhão têm abordado e respondido à violência contra a mulher?" Essa
questão central orientará a investigação em busca de respostas que contribuam
para a formulação de políticas públicas mais eficientes e adequadas às
necessidades das mulheres na região.
A pesquisa delimita seu foco na violência contra a mulher no contexto
específico do Maranhão e sua relação com as políticas públicas de saúde e
segurança no interior do estado. Busca-se compreender as interações entre esses
dois aspectos, explorando os contextos sociais, culturais, econômicos e políticos nos
quais ocorrem.
Espera-se que os resultados desta pesquisa auxiliem no aprimoramento das
políticas públicas, saúde, segurança e estudos de gênero, contribuindo para a
mitigação da violência contra a mulher no interior do Maranhão e para o
desenvolvimento de intervenções mais eficazes e específicas para a região.

4. PROPOSTA METODOLÓGICA:
4.1 Tipo de pesquisa:

A presente pesquisa adotará uma abordagem qualitativa, visando aprofundar


a compreensão dos fenômenos sociais relacionados à violência contra a mulher no
interior do Maranhão. A metodologia qualitativa permitirá uma análise aprofundada
das experiências, percepções e contextos das mulheres vítimas de violência, assim
como a efetividade das políticas públicas de saúde e segurança na região.
Será adotado entrevistas estruturadas, que conforme definido por Gil (2008)
envolverá uma conversa entre o pesquisador e os participantes, orientada por um
questionário padrão contendo perguntas pré-definidas, alinhadas com os objetivos
do estudo. A ordem e a redação das perguntas permanecerão invariáveis para todos
os entrevistados. Essa abordagem proporcionará um levantamento padronizado das
informações, permitindo uma análise equitativa das respostas.
Nesta pesquisa, uma abordagem qualitativa-descritiva será adotada para
analisar o discurso de mulheres que foram vítimas de violência. O objetivo é
compreender as percepções delas sobre a eficácia dos mecanismos de segurança
pública em suas cidades e a integração entre os serviços de segurança e de saúde
após a ocorrência da violência. A coleta de dados ocorrerá presencialmente, por
meio de questionários com perguntas abertas, explorando as perspectivas, crenças,
experiências e reflexões das participantes. Os dados coletados serão transcritos e
submetidos a uma análise detalhada para organizar e interpretar os relatos das
mulheres envolvidas na pesquisa.

4.2 Local da pesquisa:

O estudo será conduzido no interior do Maranhão, com foco específico na


cidade de Caxias. As entrevistas e coleta de dados serão realizadas na ONG de
mulheres e meninas de Caxias (MUC), que oferece suporte e atendimento a
mulheres vítimas de violência, proporcionando um ambiente propício para o acesso
aos participantes da pesquisa.

4.3 Participantes:

Os participantes da pesquisa serão mulheres vítimas de violência atendidas


na ONG MUC, selecionadas por critérios específicos estabelecidos para garantir a
representatividade de diferentes experiências e contextos. A amostra será
selecionada com critérios de diversidade socioeconômica e demográfica, a fim de
capturar uma gama mais ampla de experiências e percepções.

4.4 Critério de inclusão:

 Mulheres maiores de 18 anos;


 Residentes em Caxias – MA;
 Mulheres que relataram ter sofrido violência física, psicológica, sexual,
patrimonial ou moral;
 Mulheres que frequentaram a ONG MUC em busca de suporte,
aconselhamento ou assistência relacionada a casos de violência.
 Mulheres que receberam apoio ou orientação da ONG MUC após
incidentes de violência.

4.4 Critério de exclusão:

 Menores de 18 anos
 Mulheres que sofreram violência de outras localidades que não Caxias
– MA
 Mulheres que recusem ou desistam da participação no estudo
 Expressa recusa ao Termo De Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE).

4.5 Instrumentos de coleta e Plano de análise de dados:

Para a coleta de dados, serão empregados dois principais instrumentos: um


questionário sociodemográfico para obter informações gerais sobre as participantes
e uma entrevista estruturada. O questionário fornecerá dados quantitativos para
contextualização das informações, enquanto a entrevista possibilitará uma
compreensão mais profunda das experiências, percepções e desafios enfrentados
pelas mulheres vítimas de violência.
O plano de análise de dados será conduzido de maneira qualitativa,
envolvendo a transcrição e codificação das entrevistas para identificar temas e
padrões emergentes. A análise será realizada de forma sistemática, utilizando
métodos como análise de conteúdo para interpretar e contextualizar os dados
coletados.

4.6 Aspectos éticos

Este projeto de pesquisa será encaminhado à Plataforma Brasil para


apreciação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do
MARANHÃO – UFMA. Cada participante receberá um documento, em duas vias, no
qual firma o seu TCLE, conforme as Diretrizes e Normas Reguladoras de Pesquisa
envolvendo Seres Humanos, estabelecido pela resolução nº 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde.
A qualquer momento o indivíduo poderá solicitar interromper sua participação
se assim desejar, assim como solicitar a remoção de seus dados contabilizados
pelos instrumentos de avaliação.

4.7 Cronograma
O planejamento da pesquisa foi cuidadosamente elaborado, considerando o
período limitado de 24 meses para a conclusão do programa de mestrado. Cada
etapa do estudo, da concepção à análise de dados, foi otimizada para aproveitar
eficazmente o tempo disponível. Uma margem de flexibilidade também foi
incorporada para lidar com imprevistos. Assim, o planejamento assegura uma
pesquisa abrangente e rigorosa dentro do prazo do mestrado.

Quadro 1: Cronograma

2024 2025
ATIVIDADES JAN a MAI a SET JAN a MAI a SET a
ABR AGO a ABR AGO DEZ
DEZ
Pesquisa e Revisão da x
Bibliografia
Planejamento e x
desenvolvimento do
questionário
Desenvolvimento do projeto de x x
pesquisa

Submissão ao Conselho de x
ética e pesquisa – CEP
Coleta dos dados x
Análise e interpretação dos x
resultados
Conclusão x
REFERÊNCIAS

BRASIL, Lei Maria da Penha. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Diário Oficial
da União, p. 1-1, 2006.

SILVA, Samylla Bruna de Jesus et al. Violência Perfil epidemiológico da violência


contra a mulher em um município do interior do Maranhão, Brasil: 10.15343/0104-
7809.202145056065. O Mundo da Saúde, v. 45, n. s/n, p. 056-065, 2021.

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. Ediitora Atlas
SA, 2008.

ENGEL, Cíntia Liara. A violência contra a mulher. In: FONTOURA, Natállia,


REZENDE, Marcela, QUERINO, Ana Carolina. BEIJING +20: AVANÇOS E
DESAFIOS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO. Brasília. Ipea: Instituto De Pesquisa
Econômica Aplicada. 2020

BRASIL. Instituto de Pesquisa DataSenado. Pesquisa Nacional de Violência


contra a Mulher. 2023. Disponível em: <pesquisa-nacional-de-violencia-contra-a-
mulher-datasenado-2023> Acesso em: 15 de Dezembro de 2023.

LISBOA, Teresa Kleba; PINHEIRO, Eliane Aparecida. A intervenção do Serviço


Social junto à questão da violência contra a mulher. Revista Katálysis, v. 8, n. 2, p.
199-210, 2005.

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