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Resumo:
Palavras chave
Racismo. Estrutura Social. Interseccionalidade. Pluriversalidade.
Abstract
The prospect of this work is to look at the different sides of structural violence, giving
visibility to the impact it has when cutting out race, class, gender and analyzing the
ways in which the theme is approached and observed in professional environments,
enabling deconstruction and denaturalization of violence. It is possible to observe the
impacts of structural violence when history is broken up. From that, it is possible to
recognize structural and economic factors that bring us to social inequality.
Intersectionality will be the centralizing factor for dialogue, since it brings in its
concept the axes considered to be the potentializers of everyday violence. It will be
highlighted the ways in which some discriminatory systems create basic inequalities
and how trivialized the problematization around these violences are. To this end, we
will be coping with strategies based on the pluriversality concept and other dialogues.
Keywords
Racism. Social Structure. Intersectionality. Pluriversality.
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Assistente Social. Universidade Luterana do Brasil – ULBRA.
Pós graduanda em Trabalho Social com Famílias e Comunidades. DOMUS/FAMAQUI
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Introdução
Entender a estrutura social não é tarefa tão fácil quanto parece. Considerar
fatores históricos e entender os impactos que isso tem no mundo é mais difícil na teoria
do que na prática. Ainda mais quando estamos falando de uma estrutura racista,
sexista e patriarcal, que assola a humanidade desde muito antes de você, que está
lendo este artigo, nascer. É possível afirmar que o que é histórico é processual, uma
vez que todo fato estrutural advém de uma organização e construção histórica.
Pensando nas práticas profissionais, quando naturalizados e desconsiderados esses
fatores, os mesmos reverberam como forma de violência principalmente nos espaços
institucionais onde por exemplo, ao desconsiderar o racismo, o profissional reproduz,
naturaliza e perpetua violências históricas.
Esta escrita propõe refletir a estrutura por trás dos rótulos. O objetivo é
analisarmos juntos os impactos dessa estrutura que nos leva ao caminho das diversas
formas de violar direitos. Falar sobre isto é uma forma de resistir à naturalização
destes fatores e participar ativamente da luta contra o desatentamento a tais
expressões.
Uma conceituação acerca do problema que busca capturar as consequências
estruturais e dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos da subordinação, é a
interseccionalidade. A teoria trata especificamente da forma pela qual o racismo, o
patriarcalismo, a opressão de classe e outros sistemas discriminatórios criam
desigualdades básicas.
Como metodologia de coleta das informações, serão considerados fatores
históricos e apresentação de dados no formato qualitativo, numa perspectiva de
elucidar as reflexões baseando-nos em números e vivências cotidianas. Ser mulher,
negra e moradora da periferia me coloca diretamente neste estudo, que traz a
interseccionalidade como sendo uma condição à parte do que somente vivenciar essas
categorias e as violências atreladas a elas de formas isoladas.
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“Sulear” aparece aqui numa direta contraposição ao termo “nortear”. Na esteira das leituras de
Boaventura Santos, concordamos que as conotações ideológicas articulam as ideias de Sul e Norte
como em desenvolvimento versus desenvolvido, bárbaro versus civilizado, periferia versus centro.
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ou imaterial, e à exposição individual por conta disso. De acordo com Silva (2007), a
vulnerabilidade social pode se manifestar em dois planos: estrutural e subjetivo. No
plano estrutural, pode ser dada por uma mobilidade descendente e, no plano subjetivo,
pelo desenvolvimento de sentimentos de incerteza, insegurança, de não-pertencimento
a determinado grupo, de fragilidade destes.
Partiremos de dois lugares nesta reflexão para retratar as formas como são
vistas as violências raciais no ambiente acadêmico/profissional. Primeiro falaremos
sobre a pluriversalidade como sendo o reconhecimento de que todas as perspectivas
devem ser válidas, tendo como sul o privilégio como equívoco de um ponto de vista
(NOGUEIRA, 2018). Após isso, discutiremos as formas de viabilização da educação
antirracista nos espaços acadêmicos e profissionais.
Plurificar o conhecimento é romper a ideia de que o saber ocidental deve ser
hegemônico. Quando idealizamos algo como universal, generalizamos a ideia de que
tudo parte de um padrão, que historicamente fará referência à branquitude. Podemos
utilizar como exemplo desta reflexão os métodos de ensino nas escolas, academias ou
qualquer instituição de aprendizagem, onde a metodologia, base e instrumentalidade
de ensino, serão suleados pelo saber branco, sendo utilizados autores brancos e
outras referências não-negras de forma predominante.
Quando somos parte dessa realidade, onde reproduzimos somente o que nos é
ensinado sob ponto de vista colonial numa perspectiva eurocêntrica, é natural que o
diálogo apresentado na vida social seja reflexo de atitudes excludentes e
discriminatórias que vão reafirmar, mesmo que de forma inconsciente, a perpetuação
das violências. Como exemplo disso podemos citar os termos: ‘‘a coisa vai encrespar’’,
‘’bolo nega maluca’’, ‘’denegrir’’, como forma de negativação do negro; ‘’pobrezinh@’’,
‘’marginais’’, reforçando a hierarquização de classes; ‘’coisa de mulher’’, ‘’postura de
menina’’, padronizando e limitando o ser humano pelo gênero; entre outras inúmeras
terminologias inseridas e reproduzidas cotidianamente.
Você já se perguntou por que não aprendeu na escola a real importância dos
lanceiros negros na revolução farroupilha (1935-1945), sendo eles as maiores
potências da guerra? Você sabia que eles só participaram da revolução sob promessa
de liberdade e como forma de negação a isso foram desarmados, traídos e
massacrados após acordo dos farrapos com o império? Provavelmente você, assim
como eu, aprendeu em primeira instância outra versão da história e não o massacre
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dos porongos3 como fator central do acontecimento. Mais uma vez fomos induzidos
pelo olhar eurocêntrico dos registros históricos. A partir disso, enaltecemos em muitas
ocasiões a figura mítica do gaúcho tradicionalista como sendo este o verdadeiro herói
da revolução.
Este exemplo aparece neste argumento para sulear e contemplar o conceito de
pluralidade, onde desconsidera-se o saber africano para validar-se o saber ocidental. A
ciência é uma ferramenta importante na construção e perpetuação do racismo, sobre
isso Sueli Carneiro (2020) afirma: “Nós produzimos uma forma de ciência que não foi
capaz de coexistir harmonicamente.”
Relacionar a hierarquização das relações dentro e fora do ambiente acadêmico,
diz muito sobre epistemicídio, conceito que pode ser entendido como mecanismo de
manutenção do poder, uma vez que ‘’se realiza através de ações que se articulam e se
retroalimentam, relacionando-se tanto com o acesso e permanência no sistema
educacional, como com o rebaixamento da capacidade cognitiva do aluno negro’’
(Martins, Moita apud C
arneiro, 2005).
O racismo epistêmico ocorre dentro do campo da educação, onde além da não
apresentação de autores negros compondo os instrumentos teórico-metodológicos das
academias, invalida, coíbe e coage qualquer manifestação adversa ao ponto de vista
eurocêntrico, dando espaço para a reprodução dos dispositivos de dominação e
hierarquia racial.
A imagem a seguir elucida figurativamente a anulação da voz, a indução ao
silenciamento negro como processos ideológicos, simbólicos e históricos desde a
escravização de seres humanos até a atualidade.
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Com a derrota dos rebelados em vista, o Império não aceitava a prometida libertação. Ao mesmo
tempo, os farrapos anistiados não sabiam o que fazer com aqueles homens que deveriam ser devolvidos
aos seus antigos patrões. A solução foi costurada no Massacre de Porongos, o último conflito da guerra,
uma emboscada aos Lanceiros e Infantes Negros combinada entre David Canabarro e Duque de
Caxias. No dia 14 de novembro de 1844, mais de 100 negros foram assassinados e os que
sobreviveram foram enviados à corte brasileira. FERREIRA, Marcelo. 2018.
<https://www.brasildefato.com.br/2018/09/20/porongos-a-traicao-aos-negros-farroupilhas>
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‘’Descrita como uma das mais importantes figuras femininas da história negra, Escrava Anastácia é
venerada como santa e heroína em várias regiões do Brasil.’’
<https://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-do-brasil/escrava-anastacia>
Oficialmente, a máscara era usada pelos senhores brancos para evitar que africanos/as escravizados/as
comessem cana-de-açúcar, cacau ou café, enquanto trabalhavam nas plantações, mas sua principal
função era implementar um senso de mudez e de medo. (KILOMBA, 2010. p.1)
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Considerações Finais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Natália Kelle Dias. COELHO Maria Thereza Ávila Dantas. A VIOLÊNCIA
ESTRUTURAL.2008.
DAVIS, Angela. Women, Race and Class. Nova Iorque: Random House. 1981.
PAULA, Maria Alice Silva de. Violência doméstica e familiar contra mulher no município
de Rio Branco/Acre: Acolhimento na Casa Rosa Mulher, no período de 2008 a 2010.
Ouro Preto. 2012.
SANTOS, Boaventura de Souza. Das linhas globais a uma ecologia de saberes. 2007.
https://www.sociologia.com.br/o-conceito-de-interseccionalidade/
https://www.geledes.org.br/entenda-o-que-e-racismo-estrutural/