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Relato de Pesquisa

CT.01 - Interseccionalidades e desigualdades na Saúde

ETNOCENTRISMO E PRECONCEITO:
Pilares de sustentação das atuais conjecturas sociais

Igor Coelho Rodrigues da Motta

Palavras-chave: Etnocentrismo; Preconceito; Estudos pós coloniais; Interseccionalidade; Diferença


entre grupos.
Introdução:

De onde surge o "Nós" e o "Eles", se somos todos humanos? O etnocentrismo pode ser visto como a
tendência de sempre apontar para outro grupo a causa de algum mal ocorrido.
Logo, o etnocentrismo e o preconceito, se demonstraram no cotidiano como prática cultural em
aspectos de nossa sociedade e suas formas de pensamento. A questão da diferença entre determinados
grupos fora agenciadora da gestão social ao longo da história e como estes grupos se reuniram desta
maneira e vieram a se constituir sob esta concepção (Rocha 1986; Ribeiro, 2011).

Objetivos:

Esta pesquisa foi objeto de estudo para elaboração da minha monografia de graduação em Psicologia,
com título “Etnocentrismo e Preconceito: Pilares de sustentação das atuais conjecturas sociais “.
Busquei enfocar em como as influências que as práticas etnocêntricas podem ter na vida dos sujeitos,
em suas realidades culturais, obtendo função normatizadora dos modos corretos de se viver em
sociedade.

Organização e Realização: Coletivo de Estudantes do IMS


Metodologia:

Esta pesquisa foi elaborada como uma revisão bibliográfica e histórica do conceito de Etnocentrismo,
junto com uma crítica social, histórica e política das relações entre grupos sociais diferentes que
estabelecem relações hierárquicas e de desigualdade social.
Discuti como a herança de dominação política, e consequente imperialismo, sustentou diversas bases
de pensamento etnocêntrico e a desvalorização da sociedade nativa ameríndia e sua quase extinção.
Analisei alguns tipos de preconceitos observados na sociedade, enfatizando-se o histórico preconceito
religioso e racial, bem como, outros relacionados ao gênero e sexualidade.

Resultados e Discussão:

A história do Brasil começa com um choque cultural, onde os colonizadores usaram a sua sociedade
como referencial para julgar os demais. Aliás, esta foi à lógica que norteou as ações de estratégia
geopolítica das nações, dentre as quais nasceu o capitalismo como modo de produção. Esses países
consideravam a adoção do modo de vida do europeu como “homem civilizado”, fatores necessários e
urgentes. Logo, caberia à função de civilizar o mundo (Levi-Strauss, 1976; Telles, 1987; Laplantine,
2003).
Logo, isso gera uma imposição de valores pertencentes a um grupo hegemônico sobre outros, visando
o favorecimento daqueles que dominam, a velha lógica da sobreposição da versão dos vencedores
sobre os derrotados, quer seja no campo ideológico, político, social ou econômico (Lima, 1999).
Os negros africanos escravizados e seus descendentes foram excluídos durante séculos. Aqueles que
não se adequaram ao modo capitalista foram excluídos, taxados como vagabundos, bandidos,
marginais, malandros e preguiçosos. E os que não seguiram a tradição cristã foram chamados de
demoníacos, devassos, imorais, sem alma e destruidores da família. Assim, o Etnocentrismo marcou
as relações sociais no Brasil (Telles, 1987).
Apesar dos indígenas serem o povo nativo desta região eram apontados pelos estrangeiros como os
errados. Assim se retrata o fato de a intolerância ser fator presente na história, principalmente as de
origem étnica e religiosa como foco de opressões e injustiças (Magnabosco, 2002).
Sendo assim percebemos que as nuances dos preconceitos históricos permeiam diversas esferas da
vida. As diversas formas estigmatizadas de ver o sujeito têm lugar nas justificativas apresentadas
pelos envolvidos, seja em espaços individuais ou coletivos, público ou privado. Essa justificação de
aspectos ditos superados se mostra em várias linguagens, seja nas artes, na forma de se comunicar, nas
formas corporais e psicológicas de se expressar. Estes conteúdos sutis, que fundam o que é “natural”,
formam toda uma estrutura que dita identidades, hierarquias e poderes diferenciadores, que geram
entre outras coisas, lógicas de inclusão-exclusão dentro dos grupos sociais (Bandeira, 2002).

Conclusões ou Considerações Finais:

Organização e Realização: Coletivo de Estudantes do IMS


Os grupos historicamente subjugados têm despertado para estes fatores. Porém, este despertar não foi
passivo, e sim fruto de lutas históricas que vêm sendo travadas há séculos em busca da equidade e
justiça social (Silva, 2003; Bandeira, 2002).
O reconhecimento igual não é somente a modalidade apropriada para uma sociedade democrática
saudável. Sua recusa pode infligir danos àqueles a quem é negado. Logo ao colocar o outro como
diferente, distante, já estou lhe infligindo danos e é assim que se processa o preconceito. Assim sendo,
não há maneiras saudáveis de julgar o outro a partir de meus próprios referenciais (Sadala, 1999;
Taylor, 2000).
Uma das causas básicas da dificuldade humana é a perspectiva com a diferença. A existência da
diferença é deflagradora de uma clara não homogeneidade, que estará presente em qualquer grupo que
possa existir. Desta forma a diferença se mostra como riqueza de conteúdo, aonde as diferenças entre
os sujeitos demonstram um arsenal de variações de possibilidades do ser, reafirmação da potência do
ser humano (Souza, 2000).
Portanto, se abre um caminho que aborde estratégias que possam visar a reduzir o etnocentrismo entre
grupos, valorizando as diferenças em prol de uma sociedade mais forte e coesa.

Referências Bibliográficas:

Organização e Realização: Coletivo de Estudantes do IMS


BANDEIRA, Lourdes; BATISTA, Analía. Preconceito e discriminação como preconceito e
discriminação como expressão de violência. Rev. Estud. Fem. vol.10 no.1, Florianópolis, 2002

LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. Ed. Brasiliense. 15ª edição. S.Paulo. p. 25-37,
2003

LÉVI-STRAUSS, Claude. Raça e História. Col. Os Pensadores. 2ª edição. S.Paulo : Ed. Abril, p. 49-
56, 1976.

LIMA, Tania Stolze. Para uma teoria etnográfica da distinção natureza e cultura na cosmologia
juruna. Rev. bras. Ci. Soc, vol.14, n.40 pp.43-52, 1999

MAGNABOSCO, Maria. Identidade, alteridade e globalização: uma reflexão a partir do


testemunho de Rigoberta Menchú. Psicol. cienc. prof., Brasília , v. 22, n. 1, p. 10-17, Mar. 2002 .

RIBEIRO, Paulo Silvino. “Movimentos sociais: breve definição”. Campinas. Brasil Escola, 2011.

ROCHA, Everardo. O que é etnocentrismo. 3ª ed. São Paulo, Brasiliense, p. 1, 1986.

SADALA, Maria Lucia Araujo. A alteridade: o outro como critério. Rev. esc. enferm. USP, vol.33,
n.4, pp.355-357, 1999

SOUZA, Solange Jobim. Mosaicos – imagens do conhecimento. RJ: Rios ambiciosos, p. 110-115,
2000.

SILVA, Sérgio Gomes da. Preconceito no Brasil contemporâneo: as pequenas diferenças na


constituição das subjetividades. Psicol. cienc. prof., Brasília , v. 23, n. 2, p. 2-5, 2003

TAYLOR, Charles. Argumentos filosóficos. Sp: Ed. Loyola, p.241-275, 2000

TELLES, Norma. A imagem do índio no livro didático: equivocada, enganadora e a questão


indígena na sala de aula. São Paulo, Brasiliense, p. 75-76, 1987.

Organização e Realização: Coletivo de Estudantes do IMS

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