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CENTRO UNIVERSITÁRIO CAMPO REAL

CURSO PSICOLOGIA

Pedro Rodrigues da Luz


Derek Renato
Marlon Moreira Anhaia
Ivan Saplak
Ygor João Boatchuck

Resumo sobre o capítulo "Raça e Racismo"


do livro "Racismo estrutural"

Guarapuava
2023
Pedro Rodrigues da Luz
Derek Renato
Marlon Moreira Anhaia
Ivan Saplak
Ygor João Boatchuck

Resumo sobre o capítulo "Raça e Racismo"


do livro "Racismo estrutural"

Trabalho apresentado na Universidade Campo Real em cumprimento das


exigências da disciplina Antropologia/Sociologia do curso de Psicologia da
Universidade Campo Real
Orientador: Professor Luiz Eduardo Horst

Guarapuava
2023
Introdução

A raça e o racismo são temas complexos e debatidos, com raízes históricas


profundas. A visão antropológica oferece uma perspectiva valiosa para analisar
essas questões. A antropologia destaca a natureza social da raça, evidenciando que
não é uma categoria biológica, mas uma construção social moldada por fatores
culturais e históricos. Além disso, essa disciplina ajuda a examinar as origens
históricas do racismo e suas implicações contemporâneas, incluindo desigualdades
sociais e discriminação. A antropologia desempenha um papel importante na
desconstrução de estereótipos e na promoção da igualdade, contribuindo para uma
compreensão mais profunda da diversidade humana.

Neste estudo, aprofundaremos esses temas da perspectiva antropológica, visando


uma sociedade mais justa e inclusiva.

A raça na história

Se tem uma grande controvérsia sobre a etimologia do termo raça, mas se pode
dizer que seu significado sempre esteve atrelado com o ao ato se estabelecer
classificações, ele não é um termo estático pois é relacionado com cada
circunstância histórica. Desse modo a partir do século XVI esse termo ganhou um
sentido específico que foi ditado pelo ideal europeu que estava sendo formado
durante essa época o qual separava culturas não condizentes aos aspectos
culturais da Europa como menos evoluídas.

O século XVIII e o projeto iluminista de transformação social fez com que houvesse
um impulso na construção de um saber filosófico sobre o homem, mostrando o
sujeito como um objeto de conhecimento. Desse modo trouxe uma ferramenta que
seria usada para comparação e em seguida classificação dos diferentes grupos
humanos com base em suas características físicas e culturais, assim, surgindo uma
distinção filosófica-antropológica de “civilizado e selvagem”, que posteriormente
seria trocado pelo “civilizado e primitivo”.

O iluminismo se tornou um fundamento usado como meio para se iniciar guerras em


nome de levar a “luz” para aqueles que estivessem nas “trevas”. Todas as
revoluções ocorridas as quais tiveram como base o iluminismo iniciou um processo
de reorganização do mundo, levando a transformação do sistema feudal para o
capitalismo que era dito como necessária para a vitória da civilização. Tendo como
base isso, se iniciou um processo de tomada de territórios que tinha como objetivo
civilizar aqueles que eram ditos como primitivos, levando todos os seus supostos
benefícios descobertos, fazendo com que diversas destruições ocorressem em
nome da razão, isso foi denominado como colonialismo.
O processo de colonialismo se mostrou contraditório ao que era proposto pela
igualdade do sistema liberalista, pois foi feito de modo brutal. Durante este mesmo
século ocorreu a revolução Haitiana que se rebelaram contra os colonizadores
franceses e isso mostrou como todo esse processo não tornava os povos iguais,
fazia com que nem fossem reconhecidos como humanos. Tudo isso mostra como
aqueles que colonizavam viam os habitantes como pessoas sem história, sendo até
mesmo bestializados e comparados a animais tendo um grande aspecto de
desumanização dos povos.

Durante o século XIX começou a tratar o homem como objeto científico, assim,
colocando um sistema que classificava o homem com base na biologia, nascendo a
ideia de determinismo biológico e determinismo geográfico que supostamente seria
capaz de explicar as diferenças morais, psicológicas e intelectuais entre as raças,
assim, é trazido então a visão “de que a pele não branca e o clima tropical iriam
trazer comportamentos imorais, lascivos e violentos, além de indicarem pouca
inteligência”. Isso faria com que surgissem ideias de não miscigenação para que
seus povos continuassem “puros”, tendo grandes características eugênicas usando
como base essas teorias pseudocientíficas.

Durante o século XX a antropologia buscou mostrar como cada cultura tinha sua
autonomia e como não se pode existir tais determinações que eram impostas
fazendo com que se tornassem inferiorizadas, desse modo, não há nada no meio
natural que corresponda a esse conceito de raça, é algo político que existe apenas
no âmbito socioantropológico.

Desenvolvimento

O conceito de raça é um termo dinâmico que sofre diversas alterações com o


passar do tempo, o que mostra que o mesmo está intrinsicamente ligado ao
contexto em que estamos inseridos, seja político, cultural ou econômico. A
classificação da raça humana surge com a expansão comercial da burguesia e da
cultura renascentista europeia que irá transformar o homem europeu, no homem
universal, a versão ideal da humanidade, e todos aqueles que não são condizentes
a essa raça, são variações menos evoluídas. Surge então a distinção
filosófico-antropológica entre civilizado e selvagem, que no século seguinte daria
lugar para o dístico civilizado e primitivo.
Com as grandes navegações e o choque cultural do encontro do “homem
ideal” com os primitivos, em um processo, denominado colonialismo, onde o homem
europeu busca levar a civilização para onde ela não existia para apresentar todos os
benefícios da liberdade, da igualdade, do Estado de direito e do mercado irá
despontar um processo de destruição, morte, desvalorização em nome da
civilização dos povos “sem cultura”. Os atos de destruição tornam visíveis que por
trás da busca da civilização, o projeto liberal-iluminista não tornava de fato todos os
homens iguais, e nem sequer reconheciam os mesmo como seres humanos, já que
muitos foram escravizados ou sofreram diversos tipos de humilhações.
Para justificar os acontecimentos, o europeu se apoia a biologia e a física,
buscando na ciência respostas para a diversidade humana, dando origem a ideia de
que características biológicas (determinismo biológico) e condições ambientais
(determinismo geográfico), seriam capazes de explicar as diferenças morais,
psicológicas, culturais e intelectuais, bem como toda a diferença entre as raças. A
pele não branca, clima tropical eram justificativas de comportamentos imorais,
violentos, além de indicarem pouca inteligência, justificando assim os atos do
homem europeu, contra as outras raças, já que essas eram menos desenvolvidas e
até perigosas ao homem ideal, e por isso, deveriam “servir” e “aprender” com o
homem europeu, isso seria racismo?
O racismo é uma forma de discriminação, que tem a raça como fundamento,
podendo se manifestar por meio de práticas conscientes e inconscientes que irão
trazer a determinados grupos de pessoas desvantagens, ou privilégios para
indivíduos, dependendo do grupo racial ao qual pertencem, no entanto, racismo,
discriminação racial, e o preconceito racial, embora haja relação, são conceitos que
trazem diferentes entendimentos, sendo de suma importância entender os mesmos,
para então combater eles.
O preconceito racial são os estereótipos acerca dos indivíduos que
pertencem a determinados grupos, que pode ou não resultar em práticas
discriminatórias.
Já a discriminação racial é a atribuição de um tratamento diferenciado a indivíduos
de determinados grupos racialmente identificados, então essa, exige
necessariamente que haja poder na relação, ou seja, há a possiblidade efetiva do
uso da força, pois sem ela, não seria possível atribuir vantagens ou desvantagens.
A Discriminação pode ser ainda, direta ou indireta.
Na primeira, a discriminação direta, requer que haja a intenção de discriminar
através da imposição de um tratamento desvantajoso, é o repúdio ostensivo aos
sujeitos, sem nenhuma máscara, como países que proíbem a entrada de
determinados imigrantes. Todos são discriminados a partir de um único vetor. Por
isso, para Adilson José Moreira, é um conceito “incompleto” para definir a
complexidade desse fenômeno, a discriminação.
Já a discriminação indireta, é marcada pela ausência explícita da intenção de
discriminar, ou seja, a situação de grupos específicos é ignorada, ou enfrentada
sobre a visão da neutralidade racial, não levando em conta as diferenças sociais
significativas que diversos grupos enfrentam dentro de um espaço geográfico. O
fato é que há consequências da discriminação, seja direta ou indireta, e a principal
delas, é a estratificação social. Um fenômeno que afeta todas as gerações de um
grupo discriminado, o qual terá suas chances de ascensão social, e a construção do
materialismo histórico prejudicados devido a um processo de discriminação. Além
da segregação racial, que se torna ainda mais visível, pois há a divisão geográfica
dos grupos discriminados, seja as periferias, guetos e bairros afastados, e o
reconhecimento e definição de determinados estabelecimento comerciários, ou
serviços públicos (hospitais ou escolas), para determinados grupos.
Com a definição da diferença de discriminação, racismo e preconceito, precisamos
elencar as concepções de racismo, sendo elas, individualista, institucional e
estrutural. Essas seguem aos seguintes critérios, respectivamente:
a) relação entre racismo e subjetividade;
b) relação entre racismo e Estado;
c) relação entre racismo e economia.
Na concepção individualista, o racismo é entendido como uma patologia, ou
anormalidade no comportamento humano, seria um fenômeno ético isolado, de
caráter individual, ou coletivo, mas atribuído a pequenas porcentagens da
população, sob este ângulo, não existe uma sociedade, ou instituição racista, mas
indivíduos que não representam a sociedade, está ligado à sua educação e
formação particular, não sendo um problema do Estado, ou das instituições.
Já a concepção institucional, significa um importante avanço no entendimento
acerca do estudo das relações raciais. Nela, não se resume a um comportamento
individual e isolado, mas é tratado como um problema do Estado e também das
instituições, já que as mesmas, são atravessadas pelo primeiro. É entendido como o
resultado do funcionamento das instituições e como a estabilidade dos sistemas
sociais dependem da capacidade dessas instituições de absorver, e normalizar os
conflitos inerentes da vida social, estabelecendo normas que irão orientar as ações
dos indivíduos, moldando os mesmos como sujeitos, e também seus
comportamentos. Os conflitos raciais também são parte das instituições. E a
desigualdade social se torna uma característica da sociedade, não apenas pela
atitude de grupos isolados, mas também, porquê as instituições são hegemonizadas
por determinados grupos raciais que utilizam mecanismos institucionais para impor
seus interesses políticos e econômicos.
No racismo institucional, o domínio se dá com o estabelecimento de
parâmetros discriminatórios, os quais farão com que o grupo racial que esteja no
poder, permaneça sempre o mesmo, e ainda, que se tornem o horizonte civilizatório
da sociedade, ou seja, os padrões estéticos e culturais se tornam exemplo de ser
bem sucedido e de possuir poder. O domínio de homens brancos em cargos de
instituições públicas e privadas, não é de hoje, pois, desde sempre, existem regras
e padrões que dificultam a ascensão de negros e mulheres, sendo esse, o primeiro
motivo de porquê o mesmo grupo racial se mantém no poder, e o segundo, é a
inexistência de lugares, para a discussão sobre os padrões e a desigualdade racial,
tornando normal o domínio do grupo de homens brancos.
Na concepção estrutural compreendemos que as instituições são apenas a
materialização de uma estrutura social ou de um modo de socialização que tem o
racismo como um de seus componentes orgânicos, ou seja, as instituições são
racistas porque a sociedade é racista. O racismo é parte da ordem social, não é
algo criado pela instituição ou pelos seus grupos dominadores, mas é reproduzido
por estes, ou seja, é de opção da instituição se posicionar, ou não, contra os
conflitos de ordem social. Com isso, apresentamos o racismo como processo
político e como processo histórico, respectivamente.
O racismo é um processo político, pois como todo processo, depende de um
poder político, pois caso contrário, se não houvesse poder, não haveria a
discriminação sistemática de grupos inteiros sociais, o mesmo tem grande influência
no processo de organização da sociedade. Com isso, trazemos a ideia do racismo
reverso e como sua execução na prática seria impossível, pois, grupos minoritários
podem até ser preconceituosos ou terem atitudes discriminatórias, porém, como
apresentado anteriormente, o racismo necessita de poder para acontecer, sendo
assim, os grupos que estão no poder são sempre os mesmos, e com isso, grupos
minoritários, não possuem poder para de fato serem racistas. O próprio termo
“reverso” traz um questionamento interessante, já que, para ser reverso, algo tem
de estar fora da normalidade, tem de haver uma inversão de valores normais, sendo
assim, o racismo contra a minoria é algo tido como normal. O racismo reverso, é um
conceito criado apenas para deslegitimar as demandas por igualdade racial.
Já o racismo como processo histórico, se dá, devido ao fato de que o mesmo
também é estrutural, com isso, não podemos compreender o racismo apenas
através de uma derivação automática dos sistemas econômicos e políticos, cada
sociedade possui uma trajetória singular que dará ao econômico, ao político e ao
jurídico, particularidades que só podem ser apreendidas quando observadas as
respectivas experiências históricas. Com isso, o racismo se transforma durante sua
jornada e durante a jornada de construção de cada Estado, sendo assim, as
classificações raciais tiveram suma importância para definir as características
sociais e a legitimidade na condução do poder estatal.

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