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Beira
2023
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Docente:
Beira
2023
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Índice
Introdução..............................................................................................................................2
Bibliografias.........................................................................................................................13
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Introdução
Ambos os autores afirmavam que “os judeus são hoje o grupo que, tanto prática, como
teoricamente, atraem sobre si a vontade de destruição que uma falsa ordem social gerou
dentro de si mesma”, asseverando ainda que “eles são estigmatizados pelo mal absoluto
como o mal absoluto”. Assim, cabe demarcar que o racismo e a discriminação são assuntos
bastante antigos e repisados, mas que, infelizmente, ainda hoje, merecem ser discutidos
porque não superados; muito pelo contrário: quanto maior o grau de desenvolvimento da
sociedade contemporânea, mais eles parecem se exacerbar.
O presente estudo buscou identificar concepções teóricas a respeito das diversas vertentes
de racismo e da discriminação e suas várias facetas com bases em pesquisas bibliográficas
que traziam a historicidade dos processos de desagregação social e suas relações. Para
esse trabalho foi feita uma pesquisa com a abordagem qualitativa através de revisão de
artigos relacionadas ao tema.
Segundo vários autores, o conceito de “raça” não existia nas chamadas sociedades antigas
(nomeadamente a grega, romana e egípcia) (Goldberg, 2002; Winant, 2000; Wieviorka,
2002), apesar de ser geralmente aceite que a maioria das sociedades do passado tenha
demonstrado várias formas de etnocentrismo5. Segundo Wieviorka (2002), o racismo,
enquanto a crença em que “existem ‘raças’ cujas características biológicas ou físicas
corresponderiam a capacidades psicológicas e intelectuais, ao mesmo tempo colectivas e
válidas para cada indivíduo” (p. 25), que estas são imutáveis e que as diferenças “raciais”
conduzem à superioridade inerente de uma “raça” em particular, é relativamente recente.
A maioria dos historiadores sugere que o conceito de “raça” começou a circular no campo
político, social e científico a partir de meados do século XVIII. Assim, as teorias raciais
são geralmente vistas como tendo resultado dos projectos de expansão ocidental, tendo
vindo a ser particularmente relevantes nos debates políticos e sociais do século XIX, ao
apoiar-se nas teses evolucionistas de Darwin para aplicar no campo social a ideia da
sobrevivência dos mais aptos, o darwinismo social (Solomos & Black, 1996). Uma vez
formadas e difundidas amplamente, as teorias raciais vieram a constituir um meio poderoso
de justificação da hegemonia política e do controlo económico.
Enquanto as teoria raciais se começaram a difundir no século XVIII, foi apenas na década
de 30 do século XX que o conceito foi formulado e compreendido como uma ideologia.
Surgiu, assim, intimamente ligado ao fascismo e à mobilização política anti-semita no
período que culminaria na Segunda Grande Guerra. Porém, o anti-semitismo alemão não
foi de modo nenhum caso único na história. Basta pensar na perseguição que sofreram os
judeus na história da Península Ibérica.
É geralmente aceite que foi a revelação das experiências conduzidas pelo regime Nazi nos
campos de concentração no espaço europeu, numa era dominada pela ciência e a razão, que
o tornou particularmente relevante. Assim, nos anos ‘50, após o Holocausto, aumentou
substancialmente a produção científica sobre o racismo. Dominada pela Psicologia Social e
incidindo sobre teorias do preconceito centradas no indivíduo, a produção académica ajuda
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Foi também neste período que a comunidade científica internacional se uniu para
deslegitimar o conceito de “raça”, tendo as Nações Unidas divulgado várias declarações
sobre esta matéria, apelando a que se abandonasse o conceito de “raça”, substituindo-o por
“etnia”. Separa-se então a ideia de “raça”da de racismo (Wieviorka, 2002). Tal foi
fundamental para o surgimento do conceito de racismo cultural de Franz Fanon e a
formulação do “novo racismo” (Barker, 1981). O racismo cultural distancia-se das ideias
de inferioridade ou superioridade biológica; a lógica subjacente é a de diferenciação e
segregação (Wieviorka, 2002).
Grosso modo, pode se afirmar que há dois momentos ligados à teoria racialista: o primeiro
– entre os séculos XVIII e XX – oferecia uma explicação para as desigualdades entre os
povos humanos através da natureza. Era o “racismo científico”, que justificava a
escravidão via legitimação da hierarquia racial. No segundo momento, ocorrido após a
segunda guerra mundial, as desigualdades entre os povos humanos foram explicadas
através da cultura: a ênfase nas diferenças culturais era ofertada como justificativa para
exclusão (Fredrickson, 2004).
Dessa forma, os grupos humanos que até então eram categorizados racialmente, passaram a
formar grupos étnicos, para incluir as características culturais na compreensão global do
termo e não mais as apenas hereditárias como no racismo biológico (Cabecinhas, 2007).
Historicamente, o fenómeno do racismo está relacionado à ideia de poder, uma vez que se
manifesta quando um grupo dominante busca excluir ou eliminar outro grupo considerado
minoritário com base nas diferenças baseadas na raça que acredita serem hereditárias e
inalteráveis. Daqui, surge a seguinte questão: o racismo existe quando são invocadas
características físicas visíveis (cor da pele, formato do nariz, lábios etc.) ou pode ser
considerada como racista uma discriminação que invoca aspectos culturais? Um dado
importante é que o conceito de racismo, com o tempo, passa a contribuir na compreensão
da formação dos grupos humanos.
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De maneira que, a noção de raça utilizada pelas teorias da raciologia clássica não somente
contribuirá com o surgimento de um dos primeiros sistemas de classificação usados pelo
homem, no século XIX, para definir os grupos humanos, como terá papel central no
discurso científico acerca do racismo nos séculos XVIII e XIX (Cabecinhas, 2007).
O racismo, nesse sentido, vai além das diferenças raciais que categorizam as pessoas pela
aparência física, gerando conflitos sociais como os que ocorreram na história entre judeus e
alemães (anti-semitismo) e brancos e afro-americanos (segregação racial) (Fredrickson,
2004). Isto porque, tal conceito tem uma trajectória histórica associada aos conflitos sociais
ocorridos na África, Europa e América nos séculos XVIII, XIX e XX, que ainda o lançou a
uma série de mudanças nos últimos anos (Fredrickson, 2004).
Isso faz com que o termo “racismo” se torne um instrumento de análise para historiadores
e cientistas sociais das relações intergrupais. O termo racismo surge na década de 1920
como um produto do ocidente, destronando “raça” como conceito dominante no referido
debate.
Para Fredrickson (2004) a palavra racismo manifesta-se associada às ideologias que faziam
distinções ofensivas entre divisões da raça “branca” ou caucasiana, para mostrar que os
arianos ou nórdicos eram superiores a outras pessoas normalmente consideradas “brancas”
ou “caucasianas”.
No caso dos países americanos, por exemplo, um dos meios encontrados por aqueles que
buscam analisar a manifestação do racismo nestes espaços, consiste em entender o conceito
de raça adoptado pelos Estados Unidos e o Brasil e sua influência sobre as diversas formas
de expressão que o racismo adquiriu nestes países e as ideologias raciais por eles
adoptadas, tais como: a ideologia da democracia racial no Brasil e a ideologia da
segregação racial nos Estados Unidos.
Neste sentido, a relação entre negros e brancos nos Estados Unidos e Brasil equivale a algo
paradigmático para o entendimento sociológico do conceito de raça. Se a noção de raça é
importante para a definição de racismo no século XIX e para compreensão da forma como
se deram as relações raciais em países como os Estados Unidos e o Brasil, a definição de
racismo passa também a ser preponderante durante certo tempo para se entender a noção
mesma de raça. Isso pode ser compreendido da seguinte forma: para países como o Brasil e
Estados Unidos, as ideologias raciais e suas diversas formas de racismo estão atreladas à
noção de raça adoptada nesses diferentes espaços sociais.
“Artigo II
1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades
estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça,
cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional
ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.
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2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou
internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um
território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer
outra limitação de soberania. ”
A Discriminação, por sua vez, é um termo frequentemente usado para descrever actos que
podem ser efectuados por indivíduos, instituições ou pela sociedade como um todo,
comprometendo a identidade social de uma pessoa e até afectando-a psicologicamente, de
forma marcante.
É denominada discriminação toda a atitude que exclui, separa e inferioriza pessoas tendo
como base ideias preconceituosas. Esse tipo de violência geralmente é praticado contra as
classes sociais baixas, população negra, população LGBT, obesos, nordestinos, pessoas de
outras etnias e religiões, além de demais grupos sociais.
Guilherme de Souza Nucci explica que discriminar significa estabelecer diferença entre
seres e coisas, com prejudicialidade para a parte inferiorizada, ressaltando inclusive que o
termo tem forte carga negativa, inclusive emocional.
O racismo, com sua prepotência ideológica, que pretende tornar alguns superiores a outros;
e a discriminação, conduta injusta por excelência, dão vazão a determinadas atitudes que
conduzem ao desequilíbrio das relações humanas. Assim sendo racismo e discriminação
exigem mais do que uma legislação que coíba sua prática e avanço. É necessário,
sobretudo, que haja uma mudança de comportamento por parte da sociedade. O racismo,
na actualidade, se assenta principalmente na ideia de que as desigualdades entre os seres
humanos estariam fundadas na diferença biológica, na natureza e na constituição mesma
do ser humano.
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O racismo, razão de preconceito e discriminação, nasce em plena era clássica, por volta do
século XV, pelas mãos de povos europeus desejosos de extirpar judeus e árabes de suas
terras. Neste contexto, a discriminação passa a ter um novo conceito aceitável, que não
mais a submissão por conquista geográfica, mas pela pecha de serem homens inferiores;
toda a dignidade da pessoa humana passa, então, a ser usurpada.
Desta forma, têm-se a discriminação perdurando por gerações, no entanto, de forma mais
implícita, pois nunca houve um confronto directo entre brancos e negros, como ocorreu em
outros países, tal qual na África, com o Apartheid.
Neste caso, cabe à vítima o dever de comprovar o acto discriminatório praticado contra si.
Um exemplo de ato discriminatório directo seria negar um posto de trabalho a uma pessoa
gay, por força única de sua opção sexual.
Assim, a oposição à discriminação não se restringe a não legitimar acções que conferem
tratamento ou políticas arbitrárias (discriminação directa). É preciso ir além, identificando
práticas indutoras de efeitos discriminatórios, prejudiciais a um grupo específico, embora
aparentemente neutras, tornando vulnerável, consequentemente, a isonomia (discriminação
indirecta).
O conceito de discriminação social diz respeito a relações sociais caracterizadas por uma
representação estigmatizadora do outro e de si mesmo que constrói identidades
polarizadas com valores positivo e negativo, justificando no nível simbólico os
preconceitos sociais de género, raça, classe social ou outros. Intimamente ligada ao
conceito de desigualdade social, a discriminação é pensada aqui como um dos
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Conclusão
Além disso, presencia-se situações nas quais as pessoas são discriminadas não só pela cor
da pele, mas pela roupa que vestem, pelo modo que falam,pelo biotipo.pela crença adotada
ou pela casa onde moram. Nem todo preconceito gera uma discriminação. Mas toda
discriminação parte de um preconceito. É necessário que se contextualize os preconceitos
a fim de que eles não se transformem em discriminação. A discriminação quando não auto-
criticada ou bem resolvida pela vítima, pode desencadear fobias e situações problemas de
diferentes ordens. A não aceitação das diferenças é problema tanto patológico como baixa
inteligência e falta de caráter. Ou uma combinação das três coisas.
Diante de tantas indagações é importante salientar que deve-se tomar como primordial a
tarefa de sempre deixar claro numa prática rotineira, o abandono a qualquer forma de
racismo e descriminação e actuar com actividades interdisciplinares, sempre na primazia
de combater o bom combate, na luta por uma sociedade mais fraterna, igualitária e aberta
ao diálogo na procura interminável pela paz social, do contrário a discriminação e os males
decorrentes desta prática se perpetuarão e os principais grupos da sociedade alcançados por
eles jamais terão real igualdade social. Ao analisarmos as informações que tratam o
racismo e discriminações, pode-se considerar a importância de tratar temas transversais na
formação universitária, pois esse processo pode ampliar a consciência sobre uma formação
não apenas técnica, mas também sob o viés da cidadania e fortalecimento da consciência
social, locos de nossas intervenções.
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Bibliografias
Fredrickson, G. M. (2004). Racismo: Uma breve história. Porto: Campo das Letras.
Solomos, J. & Back, L. (1996). Sociedade e racismo. Nova Iorque: Palgrave McMillan.