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SERVIÇO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA


DO PARÁ COORDENAÇÃO DO CURSO DE LICENCIATURA PLENA
EM QUÍMICA

A QUESTÃO RACIAL NO BRASIL

(A questão racial no Brasil, em 5 pontos.


Matheus Gato, José Maurício Arruti e Marta Machado
29 Jun 2020 (atualizado 08 dez 2020 às 14h24))

Trabalho escrito (de seminário)


apresentado na disciplina de
Educação Étnico-Racial, aplicado a
turma C861TE do Curso de
Licenciatura em Química como
requisito para obtenção de nota
parcial na 1ª avaliação bimestral.
Docente: Profª Laurenir Santos Peniche

DISCENTES

Joely Cristina Brito Baia Matrícula: 20220867898


Hanna Vanessa da Silva Santana Matrícula: 20220866595
Rayssa dos Santos Cardoso Matrícula: 20220866613
Rita de Cássia Pereira Alves Matrícula: 20220866600

BELÉM – PARÁ

2022

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SUMÁRIO

Resumo ..................................................................... 3
1. O que é raça? ........................................................... 4
2. Qual a diferença entre raça, cor e etnia? ...............5
3. O que é Racismo?.................................................... 6
4. Existe racismo no Brasil? ....................................... 7
5. Como se manifesta o Racismo no Brasil? ............. 8
6. REFERÊNCIAS .........................................................9

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Resumo

O racismo pode ser entendido como uma estratégia de determinados grupos


na disputa por recursos e, de fato, no Brasil, tem definido ganhadores e
perdedores em quase todos os campos da vida social. Para entender como
esse fenômeno se reproduz, explicamos aqui a persistência do uso da raça —
não mais como característica biológica, mas como persistência política —, sua
relação com a cor da pele e com a ideia de etnia, além do uso dessas
categorias pelo censo e a sua importância política. Tratamos do racismo como
ideologia e como prática, das características específicas do racismo à brasileira
e dos possíveis deslocamentos que a aparição de grupos de extrema direita
provoca nesse cenário.

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1. O QUE É RAÇA?

A principal resposta, e hoje a mais popular, que a ciência forneceu sobre esse tema é
que “raças” não existem. Os traumas advindos do fascismo e do nazismo no pós-
Segunda Guerra Mundial ensejaram a formação desse consenso entre biólogos,
antropólogos e sociólogos. Os conflitos raciais que culminaram na luta contra a
segregação racial nos Estados Unidos nos anos 1960 e os efeitos nefastos do
sangrento regime do apartheid na África do Sul, findo no início dos anos 1990,
fortaleceram ainda mais a sensação de que as pesquisas conduzidas sobre esse
tema eram tanto mais científicas quanto mais banissem a linguagem da raça de suas
abordagens. A popularização do termo “étnico” tem muito a dizer a esse respeito.

Entretanto, a realidade de países como o Brasil ficava mal enquadrada sob esse
aspecto. O país jamais teve leis de segregação racial, nem antes nem depois do fim
da escravidão. Sua ideologia nacional oficial, o mito das três raças fundadoras
(brancos, negros e indígenas), inspirava uma sociabilidade fraterna e isenta de
preconceitos. Ainda assim, os cientistas sociais flagravam uma desigualdade racial
entre os chamados grupos de cor. Era um país em que não bastava ser antirracialista
para ser antirracista. Por outro lado, as dificuldades enfrentadas por “pretos” e
“pardos” não eram “étnicas”, pois sua inferiorização não se fundamentava num
discurso da diferença dos valores e da cultura. Ao contrário, as práticas culturais
associadas aos negros (samba, feijoada, capoeira) estavam simbolicamente
integradas à identidade nacional. Problemas dessa natureza, enfrentados aqui e
alhures, levaram os cientistas sociais a notar que o racismo tinha o poder simbólico
de fabricar e delinear fronteiras de grupos, à revelia do sentimento de pertença
coletiva manifestado pelas pessoas alocadas naquela coletividade. O dado autorizou
a ciência social contemporânea a reconstruir um conceito nominal de “raça” para
capturar o modo como discursos que atribuem essências e subordinam pessoas – em
geral, vinculando qualidades morais e intelectuais, entendidas como negativas, a
fatores considerados naturais – são capazes de fabricar “raças sociais”.

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2. Qual a diferença entre Raça, Cor e Etnia?

Raça. Categoria do senso comum europeu medieval, originalmente usada para descrever as
diferenças entre povos de linhagens e comportamentos distintos, como os germânicos e os
gauleses. A partir do século 18, e em especial do século 19, ela foi associada ao vocabulário
científico da biologia para descrever as diferenças entre as supostas subespécies da espécie
humana. Neste momento, as diferenças relevantes já não eram aquelas entre povos
europeus, mas entre estes e os povos do resto do mundo.

Cor. O conceito de cor tem origem na classificação proposta por Carl Linnaeus, que no século
18 afirmou que a espécie Homo sapiens estaria dividida em quatro subespécies, cada uma
com origem em um continente e caracterizada por qualidades, temperamentos e cores
próprias. Assim, os Americanus, Europeanus, Asiaticus e Africanus foram descritos,
respectivamente, como vermelhos, brancos, amarelos e negros. Nascia desse modo, uma
associação muito popular entre a ideia de raça e as categorias de cor, que tornaria-se
fundamental na organização do mundo colonial. Mas esta associação ganhará maior
complexidade quando usada para pensar e organizar internamente as novas sociedades
coloniais, ao ser adaptada, de formas variadas, ao fenômeno da mestiçagem, o que deu
origem ao que hoje chamamos de colorismo.

Etnia. Em meados do século 19, o termo etnia é proposto como uma terceira forma de
classificar os povos, ao lado da raça e da nação (pertencimento a uma entidade política e
sócio-histórica), para descrever grupos humanos a partir do compartilhamento de uma língua
e de uma cultura. A partir de meados do século 20, o sentido de etnia seria estendido para
substituir o de raça, na medida em que este perdia sua legitimidade científica e social. A partir
de então, o uso do termo etnia deslocou a percepção e a definição da diferença entre os
povos da biologia para a cultura.

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3. O QUE É RACISMO?

O termo racismo apareceu no início do século 20. De lá para cá, esse termo tem sido usado
para nomear representações, ideologias, atitudes, comportamentos e ações que resultem em
hierarquizações de grupos humanos a partir de suas características físicas e culturais. O
racismo refere-se a qualquer forma de explicação e justificativa para estabelecer diferenças,
preferências, privilégios e desigualdades entre seres humanos, baseadas na ideia de raça,
cultura ou etnia.

A palavra racismo refere-se tanto à doutrina ou à ideologia que sustenta desigualdades


quanto a preferências, atitudes, políticas públicas ou sistemas de governo baseados em
critérios raciais. Trata-se, portanto, de um conjunto de mecanismos que operam no plano
individual, coletivo e organizacional para manter determinados grupos em situação
desvantajosa do ponto de vista econômico, político, social, cultural e até subjetivo. Em sua
dimensão individual, refere-se a condutas que discriminam pessoas com base na raça, na
cultura ou na etnia e que, nas mesmas bases, hierarquizam gostos e valores estéticos de
modo a inferiorizar sistematicamente características de certos grupos. No plano social,
observamos o racismo por meio de mecanismos que se reproduzem cotidianamente e atuam
pela sistemática inferiorização de certas características dos indivíduos, pela manutenção da
baixa autoestima destes e pela reprodução de preconceitos em relação a eles.

Ao longo da história contemporânea, encontramos diversos modelos de sociedades racistas,


a exemplo do Holocausto na Alemanha nazista, o Apartheid na África do Sul, o sistema de
Jim Crow nos EUA ou mesmo o caso brasileiro, com sua política de embranquecimento no
contexto de imigração. No século 21, o racismo tem se manifestado mais abertamente em
modelos de políticas migratórias dos EUA e Europa, por exemplo, mas também em formas de
seletividade penal do sistema Judiciário, a exemplo do caso brasileiro.

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4. EXISTE RACISMO NO BRASIL?

Essa foi uma das perguntas que tomaram conta da agenda das ciências sociais brasileiras
desde meados do século 20. A resposta foi afirmativa e polêmica na medida em que teve que
enfrentar reflexões teóricas, pesquisas empíricas e o senso comum de que o Brasil consiste
numa democracia racial, isto é, onde o preconceito racial não existe ou seus efeitos são
superficiais, sem grandes implicações para a cidadania dos negros. Daí a célebre formulação
de Florestan Fernandes de que a existência do racismo no Brasil pode ser amplamente
comprovada, desde que abandonemos o “preconceito de ter preconceito”.

Hoje existem pesquisas que comprovam como o racismo incide em todas as dimensões de
nossa vida social, nas diferenças de tratamento entre filhos “claros” e “escuros” da mesma
família, no modo como os negros são retratados nos meios de comunicação, no audiovisual,
como em programas de humor, séries, filmes e novelas. Há também um importante campo de
estudos sobre desigualdades raciais que revelam assimetrias de longa duração entre brancos
e negros no que tange às oportunidades educacionais, ao acesso à saúde e ao mercado de
trabalho. Mais recentemente, os estudos também têm mostrado os efeitos do racismo no
território brasileiro, especialmente no que diz respeito à segregação residencial.

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5. COMO SE MANIFESTA O RACISMO NO BRASIL?

Um fenômeno social estrutural como o racismo, persistente, duradouro e mutável, tem várias formas de
manifestação. Uma das mais flagrantes é sua manifestação ideológica: o conjunto de representações
simbólicas e discursos sobre as “cores” no Brasil. Como notou Clóvis Moura em seu pioneiro estudo sobre o
preconceito de cor na literatura de cordel1, as associações entre o branco e o belo, o bom e o divino e entre o
negro enquanto mau, feio e diabólico estão arraigadas no nosso senso comum.

Estudos mais recentes na área educacional têm mostrado que esses estereótipos persistem nas escolas,
afetando profundamente a subjetividade das crianças negras. A prática da discriminação racial, de restrição
dos direitos civis, como é rotineiramente noticiado nos jornais nos casos de tortura e mesmo de assassinato
de jovens negros em supermercados, lojas e shopping centers, é outra manifestação flagrante do racismo. O
racismo velado se manifesta em anúncios de emprego que pedem "boa aparência", na existência de
elevadores de serviço para uso de trabalhadores domésticos em sua maioria negros e negras e restrições de
circulação com avisos de propriedade privada.

Talvez a mais imperceptível forma de manifestação de racismo no Brasil seja a segregação residencial nas
nossas grandes cidades, desigualdade invisível a olho nu e difícil de capturar com métodos etnográficos. O
racismo também pode se manifestar nos meios organizacionais, quando negros são preteridos em processos
de contratação ou de promoção em suas carreiras, seja no setor público, seja no setor privado. Talvez o mais
notável nas mídias seja a manifestação verbal do racismo, por exemplo, nos campos de futebol, ou mesmo
nos espaços mais elitizados do mercado consumidor, a exemplo de shopping centers, supermercados, etc. O
insulto racista — que pode se manifestar em piadas ou xingamentos — é uma prática frequente no Brasil e
associa a imagem de negros e negras a animais, a condutas marginais, à falta de higiene ou à preguiça. O
insulto racista serve, dessa forma, para legitimar as hierarquias sociais com base na raça.

Práticas abertamente segregacionistas foram esporádicas no Brasil desde a redemocratização, mas passaram
a ser mais frequentes com a ascensão de um movimento de extrema direita, que ganharam representação no
governo federal a partir de 2018.

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6. Referencias

https://pp.nexojornal.com.br/perguntas-que-a-ciencia-ja-respondeu/2020/A-quest%C3%A3o-racial-
no-Brasil-em-5-pontos

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