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INTRODUÇÃO
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1- RACISMO NO BRASIL.
Diante do exposto, fica claro que a população do nosso país é uma população
miscigenada, mas na hierarquia social os negros são a base, pois os próprios habitantes não
consideram as diferenças físicas, comportamental, social, entre outras, como diversidade
cultural e étnica, ou seja, como algo positivo e que possa incrementar algo para a sociedade
brasileira. Assim, constitui-se um impedimento de diálogo, de conhecimento, de maneiras de
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vidas e aceitação do outro, que ocorre quando o ser humano não aceita as qualidades e
diferenças do nosso oposto, denominando-se assim, o preconceito.
Desta forma, fica evidente que os afrodescendentes possuem uma presença
demográfica muito significativa em nosso país, mas as dificuldades de construir a identidade
negra em uma sociedade que vive o mito da democracia racial ainda são implícitas, já que
uma população que desde o princípio ensina seus habitantes a se afugentar de suas
ascendências para serem aceitos no coletivo, não pode ser intitulada com esses aspectos de
uma sociedade democrática racial.
Como todos nós sabemos, o racismo é uma forma sistêmica de discriminação, a qual,
tendo a raça como fundamento, decorre da própria estrutura social, se manifestando por meio
de práticas conscientes ou inconscientes, trazendo desvantagens ou privilégios para àqueles
que o comete, a depender do grupo racial ao qual pertencem, ocorrendo pelas costas dos
indivíduos e parecendo legado pela tradição (ALMEIDA, 2018. p. 32 e 50).
O que queremos dizer é que pessoas negras experimentam o racismo, sendo o objeto
da opressão, o qual restringe oportunidades por conta do sistema de opressão, enquanto as
pessoas brancas presenciam essa prática, se beneficiando dessa mesma opressão (RIBEIRO,
2017. p.88).
O racismo é uma forma sistêmica de discriminação que deveria ter tido um fim com
a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel, no dia 13 de maio de 1888, extinguindo-se a
escravidão no Brasil. Porém, mesmo diante dessa assinatura, podemos dizer que quase nada
(ou nada) foi feito para que a vida dos escravos (agora libertos), bem como suas familias
sofresse uma reparação aos danos causados por tantos anos de sofrimento.
Na verdade, o racismo continuava sendo praticado, refletindo no dia a dia da
sociedade, e uma das formas de entendermos muitas das características do Brasil pós-abolição
é estudando o futebol e o seu desenvolvimento ao longo dos anos até os dias atuais, já que o
futebol em seu início era um esporte praticado exclusivamente pela elite.
O futebol surge no Brasil num contexto específico de nossa sociedade, cada vez
mais urbana e com o encontro de culturas diferentes, com o fim do trabalho escravo,
o aumento da imigração e uma série de mudanças que favoreceram a ampliação de
ações no sentido de um redirecionamento ao estilo europeu de vida. (LUCENA,
2002, p. 35).
p.39) relatam que “há pouco mais de um século, quando o futebol nascia no Brasil, jogadores
negros não só eram xingados impunemente em campo, como mal eram admitidos no
gramado”. Os resquícios da escravidão no Brasil e das teorias raciais do século XIX eram
empecilhos, mas, não impediram esta inserção:
(...) sublimando tanto do que é mais primitivo, mais jovem, mais elementar, em
nossa cultura, era natural que o futebol, no Brasil, ao engrandecer-se em instituição
nacional, engrandecesse também o negro, o descendente de negro, o mulato, o
cafuzo, o mestiço. E entre os meios mais recentes - isto é, dos últimos vinte ou trinta
anos - de ascensão social do negro ou do mulato ou do cafuso no Brasil, nenhum
excede, em importância, ao futebol. (FREYRE, 1947).
Notavelmente o futebol começa ao longo dos anos que sucedem sua chegada a ganhar
espaços em todos os âmbitos sociais, sendo notório que no início do século XX, o mesmo já
era febre nas ruas de São Paulo e Rio de Janeiro. Isso tudo começou a refletir, pois novos
jogadores e clubes começaram a aparecer, porém existiam clubes que eram exclusivos de
brancos e outros que começavam a incorporar jogadores negros. Assim, entendemos que o
racismo era escancarado e esse surgimento mostra como foi um processo difícil e de muito
preconceito.
Ao escrever seu livro O Negro no Futebol Brasileiro, Mário Filho, mostra em suas
páginas, grandes jogadores negros que foram se destacando, buscando seu espaço em um
mundo elitista e branco. Dentre eles podemos citar: Francisco Carregal, Marcos Mendonça,
Carlos Alberto, Friendenriech, Grandin, Leônidas da Silva, Domingos da Guia, Pelé,
Garrincha e muitos outros. Nesse clássico livro, Mário Filho conta como o jogador negro foi
buscando seu espaço em um ambiente totalmente branco, e assim, relata algumas histórias de
clubes e pessoas que ele denomina “mulato” e que tomaram algumas atitudes para participar
desse ambiente racista e serem aceitos.
Assim, o autor mostra em sua fala um dos primeiros jogadores que se foi registrado no
início do futebol em um time, que se chama Francisco Carregal. Mário Filho o caracteriza da
seguinte forma:
Brasileiro com cinquenta por cento de sangue preto. O pai, branco, português, a
mãe, preta, brasileiro. Francisco Carregal, talvez por ser brasileiro e mulato, o único
brasileiro, o único mulato do time, caprichou na maneira de vestir. Era o mais bem
vestido dos jogadores do Bangu. Um verdadeiro dândi em campo. (FILHO, 2003,
p.32).
Assim percebemos que Mário Filho procura destacar que o jogador negro em seu
início tinha que buscar alguns meios para facilitar ser aceito nesse meio etilizado e branco, ou
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seja, para adentrar necessitava se parecer mais com os “brancos”. O autor destaca que na
época o Bangu, nascido em 1904, começou a dar seus primeiros passos tendo apenas
jogadores imigrantes brancos, onde o único brasileiro e negro era Francisco Carregal. Mário
Filho diz que: “William Procter podia descuidar-se, Francisco Carregal, não. No meio de
ingleses, de portugueses, de italianos, sentia-se mais mulato, queria parecer menos, quase
branco. Passava perfeitamente. Pelo menos não escandalizava ninguém” (FILHO, 2003,
p.33).
Cabe destacar que alguns clubes foram importantes para a aceitação do negro no
futebol, como o Bangu e o Vasco da Gama, este último que surgiu no futebol por
comerciantes portugueses, os quais começaram a colocar jogadores negros em seu time. O
crusmaltino, assim intitulado, por possuir uma cruz de malta em sua camisa, no ano de 1923,
primeiro ano em que estava jogando a principal liga, foi campeão jogando contra times que só
aceitavam brancos em seu elenco.
Como poderia um time formado por jogadores pobres, negros e oriundos da periferia
ter tanto sucesso dentro das quatro linhas? O título conquistado pelo Vasco e o bicampeonato
estadual no ano seguinte incomodaram os clubes cariocas q não aceitavam negros no elenco, o
que fez com que estes, a fim de boicotar o Vasco e assim excluir os jogadores “indesejados”,
criassem regras como a obrigatoriedade que os jogadores assinassem a súmula, na tentativa de
assim excluir os negros que não pudessem assinar (VEIGA, 2015, p. 91).
Não satisfeitos os clubes da elite, decidiram por criar uma nova liga (Amea), e para
este campeonato o Vasco teve o acesso negado com a justificativa de que o clube não teria um
estádio próprio. Mas o real motivo da exclusão se deu quando os demais clubes enviaram uma
carta ao Vasco, onde diziam que o cruzmaltino poderia participar do campeonato caso
exclusive 12 jogadores, todos estes negros.
O clube cruzmaltino não se intimidou e apresentou a seguinte resposta diante dos fatos
racistas ali presentes:
Estamos certos de que V. Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um ato pouco
digno de nossa parte sacrificar, ao desejo de filiar-se à Amea, alguns dos que luram
para que tivéssemos, entre outras vitórias, a do campeonato de futebol da cidade do
Rio de Janeiro de 1923. São 12 jogadores jovens, quase todos brasileiros, no começo
de suas carreiras. Um ato público que os maculasse nunca será praticado com a
solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que eles
com tanta galhardia cobriram de glórias. Nestes termos, sentimos ter que informar à
V. Exa. que desistimos de fazer parte da Amea (Veiga, 2015, p. 92)
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Esta pode ser considerada um marco do futebol no Brasil, pois em 1925 o Vasco foi
aceito no campeonato com todos os seus jogadores.
Outro jogador também citado na obra de Mário Filho era Carlos Alberto, que jogava
no América, porém não era tão percebido por lá. Quando foi jogar no Fluminense, Carlos
Alberto, que era negro, passou a ser mais percebido por conta do pó-de-arroz. Melhor
explicando, os jogadores quando entravam em campo, iam saudar a arquibancada e esse era o
momento em que ele mais temia, pois segundo Mário Filho:
Era o momento que Carlos Alberto mais temia. Preparava-se para ele, por isso
mesmo, cuidadosamente, enchendo a cara de pó-de-arroz, ficando quase cinzento.
Não podia enganar ninguém, chamava até mais atenção. O cabelo escadinha ficava
mais escadinha, emoldurando o rosto, cinzento de tanto pó-de-arroz. (FILHO, 2003,
p.60)
Luiz Inácio Lula da Silva, nem o presidente da Argentina, Néstor Carlos Kirchner, se manifestaram
sobre o caso (SANTOS, 2014).
Outro caso acontecido na Libertadores da América, porém em um ano diferente, mais
especificamente em 12 de fevereiro de 2014, em uma partida de futebol entre o Cruzeiro Futebol
Clube, do Brasil, e o Real Garcilaso, do Peru, na cidade de Huancayo, no país andino, o meio-
campista do time brasileiro Tinga (Paulo César Fonseca do Nascimento), um jogador negro, foi
insultado racialmente em face da sua cor escura. A torcida do time peruano, cuja maioria absoluta dos
integrantes presentes ao estádio tinha fenótipo marcadamente indígena, insistentemente fazia gestos e
sons imitando macacos, em todas as vezes que o jogador tocava na bola.
O fato vexaminoso foi divulgado amplamente pelos meios de comunicação no Brasil, a ponto
de a presidenta brasileira Dilma Rousseff se manifestar, no dia seguinte, sobre o ocorrido.
Os fatos de racismos cometidos no futebol acima citados foram referentes a jogos
internacionais, mas em jogos de campeonatos estaduais ou nacionais brasileiros, também acontecem
casos de racismo, sejam por parte das torcidas dos times, bem como, de jogadores brancos brasileiros
contra os negros, como por exemplo, o ocorrido em 05 de março de 2006, no jogo entre o Grêmio
Futebol Clube e o Juventude Futebol Clube, na cidade de Caxias do Sul, Estado do Rio Grande do Sul,
onde o zagueiro do Juventude, Antônio Carlos, atual integrante da Seleção Brasileira de Futebol
daquela época, proferiu injurias racistas contra o volante Jeovânio, do Grêmio, que se sentiu ofendido.
Esse ato foi punido pelas autoridades futebolísticas brasileiras, ou melhor, as instituições
responsáveis pelo futebol brasileiro, a qual puniu o zagueiro do Juventude, Antônio Carlos,
suspendendo-o por 120 dias (SANTOS, 2014).
Cabe destacar que não foi a primeira vez que atos criminosos como estes aconteceram no
campo do Juventude. Outro fato ocorrido nesse estádio foi o que aconteceu no dia 22 de outubro de
2005, em uma partida realizada pelo campeonato gaúcho, entre o Internacional Futebol Clube, equipe
que Tinga defendia na época, e o Juventude, onde a torcida do Juventude insultava o jogador Tinga
todas as vezes que ele tocava na bola, xingando-o de “macaco” (SANTOS, 2014).
Esse ato teve punição do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), em decisão
unânime, o qual aplicou a multa de R$ 200 mil e tirou o mando de campo de duas partidas do time do
Juventude.
Outro caso de racismo muito comentado no nosso país foi o caso do Goleiro Aranha, que no
dia 28 de agosto, em uma partida entre Grêmio e Santos pela Copa do Brasil, os torcedores gremistas
que viam seu time perder de 2x0 para o adversário acima citado, revoltados com o placar do jogo,
começaram a insultar o então goleiro do Grêmio Márcio Lúcio Duarte Costa, mais conhecido como
Aranha, chamando-o de “macaco” e “preto fedido”. O mesmo, ao perceber os atos e insultos, virou-se
para a torcida batendo no braço em resposta a dizer que não tinha vergoha de sua cor. Assim relatou as
ofensas recebidas ao juiz da partida Wilton Pereira Sampaio, que somente aos 42 minutos do segudo
tempo, suspendeu a partida.
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Os insultos racistas foram registrados pelo cinegrafista da ESPN Brasil que gravou o momento
exato em que a torcedora gritava “macaco”. A rapidez com que as informações se multiplicaram nas
redes sociais, sites e canais de televisão proporcionaram a rápida identificação de Patrícia Moreira.
Dessa maneira, a torcedora gremista foi transformada na personagem central do caso de maior
repercussão de racismo e injúria racial no futebol brasileiro em 2014.
Um fator muito importante desse caso foi às atitudes tomadas pelo jogador, que ao denunciar
os insultos e não se prestar a participar das inúmeras tentativas de “encontros de perdão” apoiados pela
imprensa com a agressora, fez esse caso diferente dos demais. Após os insultos a profanadora dos atos
racistas, Patrícia Moreira perdeu o emprego, passou a sofrer ameaças, teve a casa queimada por outros
torcedores e por questões de segurança passou a viver com parentes. Já o Grêmio foi julgado pelo
STJD e foi excluído da Copa do Brasil; recorreu e foi penalizado com a perda de 3 pontos em multado
em R$ 54 mil reais.
É notório que a Lei Zico foi muito importante para uma nova estrutura organizacional
do Esporte, porém sua sucessora, a Lei Pelé (Lei 9.651/98), é a que constitui uma das
principais fontes normativas do Direito Desportivo atual, sobretudo em questões referentes à
Justiça Desportiva. A “Lei Pelé” regulamento o disposto no artigo 217/CF, tendo sido alterada
por 41 vezes ao longo de sua vigência – razão pela qual alguns especialistas pugnam por uma nova lei
geral do desporto (Arts. 49 a 55-C da Lei 9.615/98).
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A competência da Justiça Desportiva é delimitada pelo art. 24 do CBJD e pelo art. 50 da Lei
Pelé, restringindo-se ao processamento e julgamento de infrações disciplinares e às matérias referentes
a competições esportivas. No art. 1° do referido diploma, encontra-se o extenso rol daqueles que se
submetem aos seus órgãos judicantes.
São órgãos integrantes da Justiça Desportiva, os Tribunais de Justiça Desportiva, que
funcionam junto às entidades regionais de administração do desporto e os Superiores Tribunais de
Justiça Desportiva, que funcionam junto às entidades nacionais de administração do desporto, bem
como as respectivas Comissões Disciplinares de cada tribunal34. Por não fazerem parte do Poder
Judiciário, os tribunais e as comissões disciplinares não são compostos por juízes, mas sim por
auditores que possuem mandatos eletivos de quatro anos, permitida uma recondução (ART.54, § 2º da
Lei 9.615/98).
torcedores aos recintos esportivos. Neste novo artigo, os atos de racismo e discriminação passam a ser
proibidos:
Artigo 13-A – São condições de acesso e permanência do torcedor no recinto
esportivo, sem prejuízo de outras condições previstas em lei:
[...]
IV – não portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com
mensagens ofensivas, inclusive de caráter racista ou xenófobo;
V – não entoar cânticos discriminatórios, racistas ou xenófobos;
[...]
Parágrafo Único: O não cumprimento das condições estabelecidas neste artigo
implicará a impossibilidade de ingresso do torcedor ao recinto esportivo, ou, se for o
caso, o seu afastamento imediato do recinto, sem prejuízo de outras sanções
administrativas, civis ou penais eventualmente cabíveis.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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