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27/05/2023, 22:22 O povo brasileiro e a questão do negro e do indígena

O povo brasileiro e a
questão do negro e
do indígena
Prof.ª Renata Luzia Feital de Oliveira

Prof.ª Maria Carolina Figueiredo do Nascimento Silva

Descrição

O povo brasileiro; a questão do negro; a questão do indígena; o desafio da diversidade e das relações étnico-
raciais.

Propósito

Compreender a formação social do povo brasileiro diante dos desafios da diversidade cultural resultante da
convivência entre brancos, negros, indígena e miscigenados.

Objetivos
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Módulo 1

A sociedade brasileira e as influências na sua


formação
Reconhecer a influência da diversidade étnica na formação da sociedade brasileira.

Módulo 2

A parte indígena no desenvolvimento da sociedade


brasileira
Identificar a participação do indígena na construção e desenvolvimento da sociedade brasileira.

Módulo 3

A parte negra no desenvolvimento da sociedade


brasileira
Identificar a participação do negro na construção e desenvolvimento da sociedade brasileira.

Módulo 4

As relações étnico-raciais no Brasil e suas distinções


Distinguir criticamente as relações étnico-raciais no Brasil.

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Introdução
Este tema propõe apresentar um panorama da formação social brasileira a partir dos estudos históricos e
conceituais sobre a participação de brancos, negros e indígenas, assim como a diversidade de culturas e de
povos presentes na sociedade brasileira.

Um ponto importante: os termos questão indígena e questão do negro são adotados por tradição, mas a
diversidade de povos, organizações, heranças e vozes não geram questões. Levam à luta por direitos, a
reconhecimento, a respeito e cidadania. O Brasil não é um ícone de paz em sua miscigenação, mas sua
composição multiétnica, as disputas, imposições e resistências entre diversas culturas dizem muito sobre
nossa sociedade.

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1 - A sociedade brasileira e as influências


na sua formação
Ao final deste tema, você será capaz de reconhecer a influência da
diversidade étnica na formação da sociedade brasileira.

O povo brasileiro

video_library
O povo brasileiro e a questão dos negros e
dos indígenas
Neste vídeo, o especialista apresenta o processo de formação do Brasil através da colonização e da
miscigenação dos povos.

Quantas vezes ouvimos alguém dizer: “O brasileiro é muito simpático, sempre alegre, disposto a ajudar”;
“Cordial, festeiro como ninguém, adora praia, futebol e samba”; “No Brasil, preconceito não há, todos os
povos convivem muito bem, é uma comunhão de cores e classes sociais”. Ou ainda: “Terra escolhida por
Deus, aqui não há desastres naturais e todo mundo convive bem e feliz”.

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Diversidade étnica em um grupo de pessoas.

Mas será esta a realidade brasileira?

Talvez geograficamente estejamos livres de alguns acidentes naturais comuns em outros países, mas as
características citadas acima não retratam nossa identidade nacional. Vale salientar que tais características
fazem parte de uma construção social reducionista a respeito da identidade brasileira.

É comum percebermos uma convivência harmônica dessa diversidade étnica em confraternizações


populares, porém esses momentos não representam a realidade cotidiana, que, verdadeiramente, está repleta
de preconceitos e valores que reproduzem as práticas do racismo estrutural.

Saiba mais

Em 2009, o site da revista Forbes publicou o ranking das cidades mais felizes do mundo, de acordo com
estudos elaborados pelo GFK Custom Research North America. Adivinhe quem ocupou o primeiro lugar? O
Rio de Janeiro. Esse mesmo resultado se repetiu em 2013.

O problema quando os estrangeiros passam a nos qualificar dessa forma e a incluir a festa, a alegria como
DNA da nossa identidade é que escondemos o que toda organização social possui, aquilo que é salutar até
mesmo para a nossa existência: a noção de conflito.

No senso comum, foi normal acompanharmos notícias dizendo que o Brasil é um modelo de democracia
racial, onde negros, brancos, indígenas e miscigenados convivem pacificamente. No entanto, basta
observarmos as demandas dos mais diversos movimentos sociais, ou os dados sobre o acesso a bens
materiais, culturais, à educação e ao emprego por negros e brancos para constatar que tal ideia é um mito.

O mito da democracia racial, que é uma ideia recente em nossa história e que ganhou força em nosso meio,
esconde conflitos desde a época anterior à abolição dos escravos. Como dizia o sociólogo Florestan
Fernandes:

[...] o brasileiro tem o preconceito de não ter preconceito.

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(1972 apud ORTIZ, 2005, p. 35)

A afirmação de Florestan ganha ainda mais importância com a resistência em reconhecer a questão do
racismo por parte de uma parcela da sociedade, ou que não convive com pessoas em situação de violência
relacionada ao racismo. Acontece que a condição de um racismo político, estrutural, velado e recorrente
nubla os olhos e a capacidade de debater.

Há ainda aqueles que não se reconhecem e tampouco se identificam com as lutas históricas e a riqueza
cultural desses povos.

Além da falta de conhecimento histórico, a percepção de mundo não os permite enxergar a


desproporcionalidade que há na diferença entre essas raças, principalmente no que diz respeito às
oportunidades profissionais.

Mãos unidas representando a diversidade do povo brasileiro.

Raça
O conceito nasce como biológico, e nesta categoria foi superado, pois todos os seres humanos são de uma
mesma raça. A raça utilizada hoje é antropológica, um conceito que une identificação e construções étnicas de
grupos diversos.

Vamos estudar sobre este país tão rico, tão cheio de peculiaridades com pessoas tão diferentes. O que faz o
Brasil, Brasil? Já se perguntava o antropólogo Roberto DaMatta, ao tentar entender esta confluência de
culturas e gentes que povoam nosso território.

As primeiras interpretações vão começar lá no século XIX, em um contexto de declínio da velha sociedade
monárquica e aristocrática e da ascensão de uma nova sociedade capitalista, aumento da população
urbana, das classes médias, dos militares e dos burocratas, além dos cafeicultores que ascendiam no oeste
paulista. O século XIX vai ser o início de tudo, pois o positivismo se transformava em uma ideologia a ser
seguida e a noção de nação começava a ser importante. Era preciso definir que nação brasileira era essa que
estava se formando.

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As matrizes culturais do Brasil

Os povos indígenas

Os mitos pululam a narrativa histórica brasileira desde os tempos de Ilha de Vera Cruz. Até Pedro Álvares
Cabral pressupunha que carregava consigo as lascas da cruz em que Cristo foi crucificado. É possível, a
partir daí, imaginar que os primeiros contatos com os nativos brasileiros serviram para contribuir com a
construção do mito da democracia racial.

A imagem de um povo – índio – e de uma cultura foi uma forma de reduzir sociedades diversas e complexas,
com suas tecnologias e formas próprias de desenvolvimento que aqui viviam. Os grupos locais se
estabeleceram em todo o território e o predomínio do tronco tupi-guarani no litoral indica uma forma de
expansionismo.

Dança dos Tapuias. Albert Eckhout, s.d.

Os indígenas foram subjugados desde então e passaram a ser entendidos como incapazes para o trabalho.
Mais do que isto, eles ganharam a alcunha de preguiçosos pela forma como se relacionavam com a labuta.
Para conhecer melhor como se deu este processo é preciso entendê-lo antes mesmo da chegada dos
portugueses ao Brasil:

Relação com a natureza

Os indígenas viviam em tribos, cada uma com sua organização social, crenças, costumes e tradições.
Independentemente das diferenças entre eles, os nativos brasileiros mantinham uma relação muito
íntima com a natureza. Tudo que lhes serviam para a sobrevivência era extraído dela.

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Incompreensão do comércio

Não havia, portanto, nenhum tipo de comercialização, mais do que isto, todas as atividades
desenvolvidas nas aldeias estavam diretamente relacionadas à manutenção da vida. O que explica,
inclusive, a falta de compreensão sobre as relações baseadas em produção, comercialização e
consumo.

A mudança aconteceu com a chegada dos portugueses. Enganam-se aqueles que, ludibriados por contos
populares, acreditam em uma relação amistosa entre eles, conduzida pela troca de espelhos por riquezas.
Houve luta durante o processo de colonização e muitas comunidades foram extintas tanto pela luta armada
quanto pelo contágio de doenças trazidas pelos europeus.

Os indígenas foram escravizados e seguiram assim até o decreto de libertação assinado por Marquês de
Pombal em 1757.

Durante este período, os nativos brasileiros precisaram abandonar muitos de seus hábitos e, por conta
dessas mudanças, trouxeram para a própria cultura novos costumes. A religiosidade de acordo com a visão
do colonizador, por exemplo, passou a fazer parte da vida indígena. Desde então, consequência de um
doloroso processo de colonização, os povos indígenas sofrem com a falta de reconhecimento dos próprios
direitos.

Retrato do Marques de Pombal. Anônimo s.d.

Atenção!

Sempre que houver a tentativa de olhar os grupos locais sobre o olhar dos outros, não seremos capazes de
compreender sua diversidade e importância. São grupos diversos, com culturas e formas de interpretar o
mundo diferentes, que não pararam no tempo e nem por isso deixam de ser menos importantes ou
necessários.

Até hoje entendido como primitivo e exótico, o indígena é visto pela sociedade de forma estereotipada, nu,
corpo pintado, cocar na cabeça e “não civilizado”. Pior ainda do que esta visão retrógrada é a dificuldade em

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aceitá-lo como indivíduo social. Grande parte da população não entende que o indígena pode manter viva
sua cultura ao mesmo tempo em que vive em sociedade, uma questão não invalida a outra.

Cacique Raoni Metuktire, líder do povo indígena Kayapó, Rio de Janeiro, 2012, Brasil.

Os povos brancos

Os portugueses orientaram parte da nossa sociedade e cultura no início de um tempo em que a denominação
brasileiro ainda nem podia ser considerada referência de quem aqui vivia. Muito se discute sobre como os
portugueses chegaram ao território que hoje entendemos como Brasil. Alguns ainda tratam como um desvio
de rota, outros entendem que Duarte Pacheco, que havia participado de uma expedição secreta a essas terras
e era integrante da esquadra de Cabral, tinha levado informações sobre esta porção de mundo aos
portugueses que, a partir dali, iniciaram uma empresa de reconhecimento e posse do território que lhe cabia
como afirmava o acordo firmado no Tratado de Tordesilhas.

Muito se discute a respeito do termo correto a ser utilizado sobre a chegada dos portugueses às terras
brasileiras. Há algum tempo trabalhávamos com a ideia de descobrimento, mas hoje já podemos entender
que não é possível descobrir algo que já está habitado, não é mesmo? Centenas de grupos indígenas viviam
neste território, com sua organização social, costumes, hierarquias e tradições antes da chegada dos
portugueses e, para respeitarmos essa herança que também faz parte da formação cultural brasileira é
preciso reconhecer que a chegada portuguesa se tratou de um processo de conquista de território, onde lutas
foram travadas e que resultou na dominação do mais fraco pelo mais desenvolvido tecnologicamente. Dessa
forma, estamos lidando com uma invasão e conquista portuguesa.

Inicialmente, o contato dos portugueses com o Brasil limitava-se a expedições para coletas de pau-brasil,
expedição sobre o nosso território, além do tráfico de nativos para a corte portuguesa. Até 1530, foram
muitas as tentativas de invasão em nosso território e, por isso, o Rei D. João III designava militares para que
vigiassem toda a costa.

A colonização propriamente dita começa a partir de 1534, quando o território


brasileiro é dividido em capitanias hereditárias doadas a donatários que poderiam

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explorar e proteger o espaço, além de iniciar o plantio da cana-de-açúcar.

Com a descoberta por parte dos bandeirantes, no século XVII, de ouro e diamantes, o Brasil é ampliado e
povoado. As primeiras minas de ouro foram descobertas nas regiões dos atuais estados de Minas Gerais,
Goiás e Mato Grosso. E haja organização para a extração das nossas riquezas.

Todavia, foi muito tempo depois, em 1808, com a chegada da família real, que as nossas cidades ganharam
mais desenvolvimento, visto que a Corte Portuguesa escolhe o Rio de Janeiro para morar.

Comentário

Quem nascia no Brasil nessa época era português. Eles se diferenciavam dos ameríndios e dos negros
escravizados que não eram considerados cidadãos. Só depois da Independência do Brasil que foi possível
diferenciar brasileiros de portugueses.

Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500, Oscar Pereira da Silva, 1900.

Com uma cultura riquíssima e fruto da miscigenação de inúmeros grupos étnicos, a cultura brasileira conta
com influências de origem indígena, portuguesa e africana, além de outros grupos imigrantes que aqui
estiveram. A terra de Camões é, sem dúvida, o país europeu que mais influenciou nossa cultura, tanto nas
tradições, como nos costumes e simbolismos. A formalização da língua portuguesa como oficial do território
e a tradição do credo católico são heranças dessa cultura portuguesa.

Em parte, os portugueses são responsáveis pela miscigenação do povo e também por muitas referências do
nosso cotidiano.

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Desfile da Mangueira, carnaval de 2019, Rio de Janeiro, Brasil.

Muitas de nossas festas populares, parte de nosso folclore e culinária são heranças portuguesas, estamos
citando apenas alguns exemplos. O Carnaval, as festas de São João, o bicho-papão, cuca, lobisomem,
maracatu, fandango e também, muitos pratos típicos da nossa culinária são adaptações de iguarias
portuguesas, como: a feijoada, o quindim e, é claro, a bacalhoada.

Também não podemos esquecer que os portugueses dominaram, colonizaram e escravizaram os primeiros
povos brasileiros — os indígenas — além de se utilizarem da mão de obra de negros escravizados, traficados
de diversos pontos do continente africano para sustentar um padrão de vida elevado e a economia brasileira.

Outros povos brancos aqui participaram, como franceses e holandeses, em tentativas de invasão, e ingleses
e espanhois por convivência com as metrópoles portuguesas. Migrantes vieram mais tarde com alemães,
suiços, italianos, poloneses entre outros, já com o objetivo de trabalhar e fugindo das dificuldades e pobreza
na Europa no fim do século XIX e início do século XX.

Os povos negros

A partir da segunda metade do século XVI grupos africanos foram trazidos para trabalhar como escravos no
Brasil, com hábitos, costumes, cultura e tradições que fazem parte do nosso cotidiano até os dias de hoje.
Música, culinária, artes marciais e religião são apenas alguns exemplos de como a cultura africana
enriqueceu a identidade brasileira. Graças a essa infinidade de grupos étnicos que foram trazidos para cá,
temos hoje o samba, o atabaque, o azeite de dendê, o acarajé e, no campo da fé, temos o candomblé e a
umbanda, duas religiões de matriz africana criadas no Brasil.

Salvador, 2015, Brasil.

Não podemos romantizar o tráfico negreiro e nem a chegada e escravização dos africanos. É preciso
entender como o processo de escravização ajudou na formação do racismo estrutural que está entranhando
na sociedade até os dias de hoje. A coisificação de seres humanos foi prática comum em nosso país por três
séculos. É necessário que o coletivo busque superar os vícios que esse processo trouxe para a formação da
sociedade brasileira.

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É muito comum ouvirmos o discurso de exaltação a negros bem-sucedidos que se destacam na sociedade.
Casos assim são utilizados como referência e apresentados à população como o resultado de uma escolha
de cunho pessoal do indivíduo no investimento da própria força de vontade e desejo, como se toda a
comunidade pudesse fazer o mesmo se assim o quisesse e se esforçasse para tal. Desconsidera-se, nesse
sentido, a estrutura social que não lhes permite competir em condições igualitárias ou mesmo, na contramão
destes poucos privilegiados, os casos isolados que provêm da miséria.

A diáspora foi cruel e seus descendentes pagam um preço alto e por isso os movimentos de organização e
lutam precisam ser reconhecidos e exaltados como parte de nossa cultura, e não reduzidos ou
desqualificados como vemos quando tratamos por exemplo das religiões.

Atenção!

De acordo com matéria publicada pela revista Capital Econômico em 20 de novembro de 2019, o curso de
Medicina no Estado do Rio de Janeiro tem a menor proporção de negros no Ensino Superior presencial, com
apenas 20,51% dos alunos. As informações são do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira.

Se por um lado a presença do negro no Ensino Superior no Rio de Janeiro aumentou na última década (entre
2010 e 2018), segundo este mesmo estudo — que registrou um salto de 39 mil para 239 mil estudantes em
instituições de Ensino Superior do estado —, no país, os negros, maioria da população brasileira, representam
apenas 35,8% dos universitários. Os números podem parecer surpreendentemente alarmantes e reveladores,
mas de fato, eles apenas atestam a realidade do dia a dia.

Basta que, para isto, realize-se, sem muito esforço, um mero exercício de observação e levante-se alguns
questionamentos:

Por quantos médicos negros você já foi atendido? Quantos dentistas negros você
conhece? Engenheiros civis? E de computação? Quantos advogados ou juízes
negros circulam pelos tribunais brasileiros?

Como o último país a abolir a escravidão no ocidente, tais constatações apenas colocam o Brasil perto das
sociedades campeãs em desigualdade social, praticando um racismo nem mais tão silencioso assim, já que
agora, com as redes sociais, as pessoas vão ganhando rostos e os resultados tornam-se mais perversos
ainda. A naturalização de frases como: “Isso só pode ser coisa de preto”, “preto de alma branca”, “você está
denegrindo a minha imagem”, entre outras, corrobora com a perversidade do racismo à moda brasileira, que
remete o negro a um espaço de indignidade e subserviência. Há, dessa forma, a manutenção do modelo
escravocrata de submissão e subordinação.

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Se faz necessário que parte da sociedade se torne consciente de seus privilégios e que faça um esforço
coletivo para encerrar definitivamente esse capítulo tenebroso da nossa História. Não devemos buscar
esquecer ou apagar o passado, mas baseados na experiência pregressa, precisamos trabalhar para um
futuro diferente e com condições de garantir as mesmas oportunidades para todos os cidadãos.

Miscigenação e a explicação do Brasil


E pensar que o território brasileiro de tão rico e diverso deveria passar tão longe de todas essas práticas
excludentes que ainda perduram até hoje.

Estação da Luz, São Paulo, Brasil, 2021.

O país possui regiões que são formadas por grupos sociais bem distintos. Nossa população é formada por
diferentes tipos humanos, originários de várias partes do mundo, e organizados em grupos que diferem entre
si, sendo esta mistura uma das características mais marcantes do povo brasileiro. Uma rápida observação de
uma estação de trem ou metrô de qualquer uma das grandes cidades pode comprovar isso: são crianças,
mulheres, homens, idosos, adolescentes, negros, brancos, orientais, outros com aparência indiana; pessoas
das mais variadas classes sociais. Uma importante diversidade cultural.

A convivência com a diversidade de pessoas, de ideias e de atuar na vida social contribui em grande escala,
por exemplo, para a eliminação de preconceitos e perseguições de determinados grupos e categorias de
pessoas.

Importantes pesquisadoras no contexto da discussão sobre diversidade étnica no Brasil, Schwarcz e Starling
(2015) mostram como a mestiçagem se transformou numa questão de representação nacional.

É inegável que a miscigenação gerou uma sociedade definida por uniões, ritmos, artes, esportes, escritas,
aromas, culinárias e religiosidades mistas.

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Talvez por isso que a alma do Brasil seja crivada de cores.

(SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 15)

Durante um tempo, a miscigenação se apresentou aos intelectuais da época como um sério dilema: um
elemento fundamental da nação brasileira, mas que estava atrelado aos defeitos transmitidos pela herança
biológica. Em outras palavras, diante de teorias raciais extremamente preconceituosas, que elevavam o
branco em relação às demais raças, “[...] a apatia, a imprevidência, o desequilíbrio moral e intelectual, a
inconsistência seria dessa forma qualidades naturais do mestiço, do elemento brasileiro”. (ORTIZ, 2005, p.
21).

Desde o fim do século XIX e início do século XX existe um movimento por parte dos intelectuais brasileiros
para tentar explicar o que afinal de contas é o Brasil e quem é o povo brasileiro.

Isto se deu porque era importante que o Brasil tivesse uma identidade e que tivesse a possibilidade de se
constituir enquanto um povo, ou seja, uma nação.

Neste momento da nossa história era importante consolidar a imagem da nação que emergia diante de uma
hegemonia europeia no mundo ocidental.

Obra A redenção de cam. Modesto Brocos Gómez, 1895.

Aos estudiosos brasileiros cabia a tarefa de explicar o porquê do nosso “atraso” em relação a estes países e,
para isto, o modelo explicativo também era fornecido pelas teorias que se desenvolviam na Europa. O
positivismo de Comte, o darwinismo social e o evolucionismo de Spencer foram as teorias que mais
influenciaram o pensamento brasileiro na época. Constatado o atraso social, qual seria a solução para
colocar o país na rota da civilização?

Foi considerado simples branquear a sociedade brasileira. Mas você deve concordar que embranquecer uma
sociedade inteira é provavelmente impossível. Ou seja, para se eliminar todos os estigmas das “raças

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inferiores”, seguindo a teoria da evolução social, somente em um futuro muito distante, como também
somente nesse futuro poderíamos ter um Estado nacional da forma como era imaginado.

Positivismo
Surge como reação ao idealismo, opondo o primado da experiência sensível (e dos dados positivos) ao primado
da razão. Propõe a ideia de uma ciência sem teologia ou metafísica, baseada apenas no mundo físico/material.

Darwinismo social
Sugere que existiriam comportamentos e características biológicas que determinariam que uma pessoa é
superior a outra e aptas ao desenvolvimento social. Geralmente, o padrão determinado como o mais apto seria o
de uma pessoa do sexo masculino, pele branca e que vivesse em meios urbanos.

Evolucionismo social
Tornou-se referência às teorias antropológicas de desenvolvimento social que acreditavam que as sociedades
tiveram início em um estado primitivo e gradualmente tornaram-se mais civilizadas com o passar do tempo.
Nem é preciso dizer que a civilização mais evoluída estava associada à cultura europeia do século XIX.

Diante da demanda pela criação de uma identidade nacional foi adotado o


branqueamento. Para que isso fosse possível era necessário implementar um
processo em que aos poucos teríamos um amálgama clareado e moderno. A
miscigenação, ainda que exaltada, tem por base uma política de apagamento físico
do passado brasileiro.

O colorismo é um processo que separa indivíduos com base no tom de sua pele, por exemplo: quanto mais
clara sua tez, mais aceitação social certo indivíduo tem por ter mais semelhança com a raça branca. Vemos
exemplos desse processo quando, numa tentativa de anular identidades, usamos termos como café com
leite, marrom bombom, cor de jambo etc. A miscigenação criou uma variedade infinita de tons de pele
espalhadas pelo país, muitos indivíduos têm dificuldade em criar identificação com essa ou aquela definição
e, por isso, essa discussão ganha cada vez mais espaço. Nos atuais movimentos sociais afrodescendentes, é
preciso que cada pessoa tenha seu lugar de fala, com demandas específicas seguindo a afirmação e as
demandas de sua identidade para que haja diálogo e melhoria das condições de vida em sociedade.

Saiba mais

No século XIX até os ventos alísios, aqueles que sopram todo o ano sobre extensas regiões do globo, foram
considerados justificativas para o nosso atraso cultural em relação à Europa? O argumento “meio”(ambiente)

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foi encarado como discurso científico durante um bom tempo. Para saber mais, consulte o livro de Renato
Ortiz que está indicado no final da bibliografia.

Cultura e cultura nacional

Para começar a discutir sobre esses temas, temos, antes, de dominar o conceito de cultura. Podemos definir
cultura como um conjunto de ideias, valores e costumes transmitidos, trocados por essas pessoas tão
diferentes que vivem em uma sociedade. E como vivemos em um mundo globalizado, as sociedades
diferentes que fazem parte desse mundo trocam cultura entre si. Há algo de comum que nos une.

A sociedade brasileira possui uma cultura geral que se relaciona com todos os brasileiros, indistintamente,
determinada em grande parte pela unicidade do idioma português.

Crianças jogando bola.

Contudo, mantém estreita relação com outras culturas que se originam de outras regiões. Manifestações
culturais como o carnaval ou futebol ainda hoje são expressões imbatíveis da brasilidade reconhecidas
internacionalmente. Vale dizer que cultura diz respeito a uma esfera, a um domínio da vida social. Nesse
sentido, é preciso estudá-la nas suas mais diversas manifestações.

Cultura é a maneira de como a realidade que se conhece é codificada por uma sociedade. São as palavras,
ideias, doutrinas, teorias, práticas costumeiras e rituais. O estudo da cultura é importante para compreender o
sentido que fazem essas concepções e práticas para a sociedade que as vive. (SANTOS, 2005).

Observe as diferenças sobre a ideia de cultura nacional ao longo do tempo:

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1822

A partir da Independência, em 1822, e, principalmente, a partir da Proclamação da República,


em 1889, a ideia de uma cultura nacional começava a se tornar uma preocupação, uma vez
que era preciso criar um Estado nacional legítimo e reconhecido interna e externamente.

1901

Na virada para o século XX, a maioria das pessoas que tinha condições para refletir e para
interferir diretamente neste assunto (ou seja, os intelectuais e os homens políticos) ainda
mantinham como principal referência o modelo europeu de constituição social. A ideia de uma
cultura nacional não era debatida como hoje, ou seja, não se buscava dentro da própria nação
o conteúdo de uma cultura nacional, para delinear suas características, para definir os
aspectos que a fizessem única. O modelo provinha das sociedades que se consideravam
superiores em termos de civilização. Daí a ideia eurocêntrica de “atraso”.

1920

A urgência em se desenvolver uma cultura brasileira que nos identificasse, que nos desse uma
identidade de fato nacional, inicia-se, de forma organizada e coletiva, apenas nos anos 1920,
com o surgimento da geração modernista. Um dos grandes exemplos desse processo durante
o modernismo no Brasil é o Movimento Antropofágico, que buscava promover pensamentos
para “engolir” uma cultura estrangeira e, a partir dela, promover uma nova cultura com a cara
do país, excluindo o eurocentrismo.

1930

Em seguida, nos anos 1930, o nacionalismo vai ganhar força com a emergência, no plano
político, de um Estado nacional forte: era o início da era Vargas, que apesar de suas

t í ti t itá i t li
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características autoritárias e centralizadores, dá fôlego e subsídios para a primeira grande
tentativa de estabelecimento e valoração de uma cultura genuinamente nacional.

1950

A ideia de uma modernização acaba por levar o Brasil a uma intensificação da cultura
americana, aproximando nossos ideais de brasilidade aos ideais trabalhados lá.

1964

Diante de um governo militar marcado pelo nacionalismo a valorização e defesa de uma


cultura comum que representasse o Brasil ganha força, inclusive nas escolas tornando-se uma
imposição ser e identificar um mesmo conjunto nacional como o brasileiro.

2000

Diante dos processos e a consolidação da redemocratização, percebe-se um aumento da


pluralidade e na defesa da pluralidade cultural brasileira.

Já que falamos em cultura nacional, precisamos situar o debate em torno da questão da identidade cultural.

SALVADOR, BAHIA/BRASIL - 15 de janeiro de 2015: Baianas lavam as escadas da Igreja do Bonfim, durante festa tradicional para católicos e
candomblecistas.

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27/05/2023, 22:22 O povo brasileiro e a questão do negro e do indígena

Quando falamos em identidade, queremos saber sobre as características fundamentais que identificam uma
pessoa, uma comunidade, um país.

A identidade cultural moderna é formada por meio do pertencimento a uma cultura


nacional, ela faz alusão à construção identitária de cada indivíduo em seu contexto
cultural.

Em outras palavras, a identidade cultural está relacionada à forma como vemos o mundo exterior e como
nos posicionamos em relação a ele. Muitas são as transformações que acompanham o ritmo do mundo
globalizado. A distância entre os países diminuiu, a indústria cultural produz em escala planetária e as
culturas locais são submetidas a um intenso bombardeio de outros elementos culturais externos. O indivíduo
está sujeito a alterações radicais — fruto do dinamismo da realidade. Modismos, padrões de conduta e
comportamentos se sucedem com uma rapidez jamais vista. A identidade em tempos de globalização é
maleável, flexível, fluida.

Atenção!

A grande questão não é mais se há ou não a capacidade de mudança. O desafio agora é garantir que a
pessoa possa dar continuidade à sua história individual, compreendendo como se desenvolve o processo de
(re)construção constante da sua identidade.

A identidade do povo brasileiro é marcada pela questão da diversidade. Nossa brasilidade é sobre como nos
relacionamos com outros indivíduos deste mesmo território, é muito mais uma questão de pertencimento,
afinidade e afeto do que uma construção social imposta e criada sobre critérios únicos. A identidade
nacional brasileira está relacionada à diversidade cultural, étnica e social.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

A ideia de uma cultura nacional começava a se tornar uma preocupação, principalmente com a
Independência, em 1822, e a partir do momento da Proclamação da República, em 1889, uma vez que se
fazia necessária a criação de um Estado nacional legítimo, reconhecido interna e externamente. Isso
porque

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a ideia de uma cultura nacional nessa época não era debatida como hoje, ou seja, não se
A buscava dentro da própria nação, o conteúdo de uma cultura nacional para delinear suas
características, para definir seus aspectos que a fizessem única.

o positivismo de Comte, o darwinismo social e o evolucionismo de Spencer não


B
permitiam essa criação do Estado nacional.

C Nessa época, cultura e raça foram afastados e, consequentemente, o negro valorizado.

D A ideia de uma civilização atrasada não nos atingia.

Corria-se o risco de divisão do território o que causaria perdas irreversíveis para o


E
desenvolvimento econômico da nova nação.

Parabéns! A alternativa A está correta.

A cultura nacional, na época, não se baseava em uma identidade nacional, mas era sempre uma
orientação que vinha de fora, sobretudo da Europa. A preocupação com uma identidade nacional vai
começar a ganhar corpo apenas no início do século XX com o Movimento Modernista.

Questão 2

O Brasil se constituiu sobre o mito da democracia racial. Difundiu-se a partir daí o ideal de miscigenação
como mecanismo de absorção do mestiço. Entretanto este dispositivo não fora criado para a ascensão
social do negro. Pelo contrário. A proposta sempre foi manter a hegemonia da classe dominante. Sobre
esta questão é correto afirmar que:

A miscigenação serviu para enaltecer o mulato que não se sentia parte da sociedade
A
brasileira desde a época da escravidão.

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B A miscigenação possibilitou o desenvolvimento dos atuais movimentos afro-brasileiros


que reivindicam suas identidades e lugares de fala específicos.

A miscigenação, apesar de ser vista como fundamental para se constituir a identidade


C brasileira, tinha de lidar com os problemas impostos pelas teorias raciais que
dominavam o mundo no século XIX e que colocavam o negro em posição inferior.

A miscigenação atingiu o objetivo de embranquecer a sociedade brasileira eliminando


D
todos os problemas transmitidos pela herança biológica dos negros.

A democracia racial é um conceito trabalhado a partir da obra de Gilberto Freyre que


E revela a convivência harmônica entre escravizados e senhores anunciando que, ao
contrário do que se imaginava, o processo de escravidão no Brasil foi brando e pacífico.

Parabéns! A alternativa C está correta.

Durante um tempo, a miscigenação se apresentou aos intelectuais da época como um sério dilema: um
elemento fundamental da nação brasileira, mas que estava atrelado aos defeitos transmitidos pela
herança biológica. Ou seja, diante de teorias raciais extremamente preconceituosas, que elevavam o
branco em relação às demais raças.

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2 - A parte indígena no desenvolvimento


da sociedade brasileira
Ao final deste tema, você será capaz de identificar a participação do
indígena na construção e desenvolvimento da sociedade brasileira.

Um novo Mundo

video_library
A participação do índigena na construção e
desenvolvimento da sociedade brasileira
Neste vídeo, a especialista reflete como os indígenas contribuíram para a formação do povo brasileiro.

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Imagine-se desembarcando de um navio em um mundo relativamente novo. Um lugar conhecido apenas


pelos relatos de navegantes que já haviam passado por aqui, com uma floresta tropical exuberante,
parcialmente ausente dos mapas e do conhecimento dos europeus, com animais e plantas desconhecidas da
maioria e povoado por indivíduos de aparência exótica para aqueles olhos, que andavam nus, não
conheciam o Deus cristão e falavam uma língua ininteligível.

Os antropólogos (pesquisadores que estudam os diferentes povos e as diferentes culturas) sabem que o
estranhamento diante de algo que se nunca viu é normal. Afinal de contas, há uma tendência em considerar
o que se vive, o que se come, o tipo de roupa que se veste, a sua religião e crenças como corretas e
universais. O que escapa disso não seria o certo. Porém para absorver a riqueza dessa diversidade é preciso
enxergar as diferenças do ponto de vista da alteridade, entendendo que o diferente pode contribuir com muito
conhecimento para nossas vidas.

Não foi o que aconteceu na relação entre portugueses e os nativos que viviam aqui no Brasil na época de
1500. A colonização portuguesa levou à exploração do trabalho indígena e foi responsável pela morte de
milhares de nativos. A história foi testemunha do massacre dos povos indígenas ocasionado pelos
colonizadores através do trabalho compulsório, guerras, doenças e genocídio. Tratou-se de um projeto
político e civilizatório de dominação total do povo indígena.

Família de chefe camacã se preparando para um festejo. João Batista Debret, s. d.

É preciso deixar registrado que houve relações diversas entre os grupos de povos originários e os navegantes.
A imagem equivocada de que trocaram a terra não existe, assim como um domínio rápido. Os processos
foram regionais e lentos, exploraram as disputas entre os grupos, mas principalmente sua fragilização diante
das doenças trazidas. A época das correrias, das movimentações e disputas no século XVI e XVII
demonstram esse processo, assim como a construção de um outro grupo, filhos principalmente de brancos e
mulheres de diversas tradições indígenas que entre dois mundos, acabam por fazerem essa ponte. A

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negação ao seu estilo de vida e a pregação missionária foram os principais motivos da dissipação da
imagem que poderia haver convivência. Acompanhe:

Negação ao seu estilo de vida

Os indígenas foram submetidos à negação de todos os seus valores, ao cativeiro, à subtração de suas
terras, à violência contra suas mulheres, à destruição e à subserviência.

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Pregação missionária

A pregação missionária que cai como uma bomba e culpa os indígenas de sua vida, antes natural.

Agora, tudo passa a ser pecado diante dos olhos de um deus que eles nem sequer tinham ouvido falar, mas
precisavam expurgar o pecado de ser quem eles eram. O antropólogo Darcy Ribeiro publicou um livro muito
interessante que seria a sua obra capital, a interpretação sobre a nação e a cultura brasileira, intitulada: O
Povo Brasileiro. De acordo com esse estudo, os grupos indígenas encontrados no litoral pelos portugueses
eram principalmente das tribos tupi e guarani.

Esses indígenas, habitantes há séculos antes dos portugueses chegarem, viviam da plantação de mandioca,
milho, batata-doce, feijão, amendoim, tabaco, algodão, pimenta, abacaxi, mamão, erva-mate e muitas outras
coisas. Nesse sentido, Ribeiro (2006) nos conta que os indígenas abriam grandes roçados na mata,
derrubando árvores e limpando os terrenos com queimadas.

Uma das mais antigas representações europeias dos indígenas brasileiros, incluída no Atlas Miller, de 1519.

A agricultura lhes assegurava o sustento. Neste sentido, eles possuíam uma organização social capaz de
mantê-los nos aldeamentos e não apenas viver dependentes da natureza, mudando de lugar o tempo todo.

Saiba mais
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Além dos tupi-guarani, muitos outros povos indígenas tiveram papel importante na formação do povo
brasileiro. É o caso dos bororo, dos xavante, dos kayapó, dos kaingang, dos tapuia, dos aimoré, carijó, tamoio
e muitas outras etnias espalhadas pelo Brasil.

O território era deles. Acreditar que os indígenas se renderam facilmente é um grande erro, muitas guerras
foram travadas. Por meio da leitura de Ribeiro (2006), ficamos sabendo que os tamoios venceram diversas
batalhas contra os europeus, apoderaram-se inclusive da capitania do Espírito Santo e quase tomaram a de
São Paulo. Muitos indígenas morreram, mas outros resistiram até a consolidação da conquista portuguesa.

Antropofagia

Os portugueses, quando chegaram em terras brasileiras, ouviram muitas histórias sobre os indígenas; a
questão da antropofagia era uma delas. Os portugueses se reuniam em tabernas e depois de muito beberem
contavam e ouviam histórias sobre os nativos tupinambás que comiam uns aos outros.

Mais uma vez, Darcy Ribeiro é quem nos esclarece se isso foi verdade ou um mito que se originou do
encontro de culturas: Algumas etnias indígenas praticavam a antropofagia porque os prisioneiros capturados
constituíam de mais bocas a serem alimentadas e sem serventia posterior na aldeia, já que eram inimigos e
de outras matrizes étnicas.

Exemplo disso é o relato de Hans Staden, um aventureiro mercenário alemão, que no Brasil, ao participar de
combates entre os europeus e indígenas, foi capturado e levado por três vezes a cerimonias de antropofagia
entre os tupinambás para ser devorado, mas os nativos se recusaram a comê-lo, porque chorava e se sujava,
pedindo clemência. Os indígenas não comiam covardes.

A História vai mostrar que a civilização será implacável com o povo indígena. O europeu trouxe doenças
como a varíola, a tuberculose, a coqueluche, o sarampo inicialmente e, logo em seguida, a dizimação pelas
guerras de extermínio e escravização.

Hans Staden (de barba, ao fundo) observando os indígenas tupinambás praticando antropofagia, em uma aldeia entre Bertioga e Rio de
Janeiro.

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Os povos originários se defenderam da invasão europeia como puderam. Muitos se embrenharam pelas
matas que muito bem conheciam para fugir da submissão ao branco.

Santa Cruz Cabrália, Bahia/Brasil - 17 de abril de 2010: indígenas pataxós são vistos durante jogos indígenas na aldeia Coroa Vermelha, no
município de Santa Cruz Cabrália.

Os portugueses mandaram para a metrópole além de papagaios, macacos, uma madeira usada para extrair
um pigmento de tingir, conhecida no Oriente como uma especiaria.

Árvores de pau-brasil.

Batizada pelos povos tupi como Ibirapitanga, a madeira se transformou em um grande negócio. Assim,
renomeada posteriormente pelos portugueses de pau-brasil, a árvore que alcançava 15 metros e possuía um
interior de onde se extraia uma resina avermelhada, foi inteiramente dizimada de nossas terras por meio do
escambo e a partir do trabalho forçado da população nativa.

A Coroa Portuguesa logo declarou exploração de monopólio real e todos tiveram de pagar impostos se
quisessem explorá-lo economicamente. Um pouco depois, os indígenas passaram a ser explorados e
mandados para várias partes da Europa para serem exibidos em feiras como animais exóticos, muitos
ficaram pelo meio do caminho por não suportarem as viagens longas e insalubres. Quem conseguiu chegar,
vivia de forma sub-humana, aviltados e humilhados apenas por não atenderem ao padrão etnocêntrico
europeu.

Com o início do cultivo do açúcar no Brasil, em 1532, e um pouco depois com a implantação das capitanias
hereditárias, 1534, por parte de D. João VI, o relacionamento entre europeus e indígenas piorou ainda mais.
Muitos ataques indígenas e a imposição ao trabalho forçado dos nativos que já tinham sido colonizados

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para os engenhos dão a tônica do momento, mas a igreja vai firmar uma briga com os colonos, no sentido de
protegê-los do trabalho escravo, já que politicamente, eles eram mais úteis nas igrejas como novos cristãos
da fé católica.

Apesar disso, a proibição de escravizar os nativos, decretada pelo ato de 1757 (o "Diretório dos Índios")
raramente foi respeitada, e, além disso, o tipo de cativeiro imposto nestas terras foi se modificando.

Ao destituir povos inteiros de seus valores, de suas línguas, de suas tradições,


os missionários haviam gerado outro povo, que ainda dependia dos seus
saberes ancestrais para sobreviver na floresta, mas já não sabia mais levar a
vida tribal.

(RIBEIRO, 1995)

O processo de construção da identidade


cultural indígena no Brasil
Houve um momento da história em que o indígena foi considerado como alguém importante para a
construção da identidade no Brasil. Mas isso aconteceu muito tempo depois do início conflituoso entre
brancos, indígenas e negros.

As primeiras grandes interpretações genuinamente nacionais sobre nosso povo, nossa cultura e nossa
realidade vão aparecer somente no século XIX, com o surgimento da chamada geração modernista. Antes,
porém, houve uma tentativa por meio da literatura com o Indigenismo, em 1836.

O indigenismo pode ser considerado uma adaptação do movimento romântico europeu à ideologia de
afirmação nacional que ganhava corpo em nossa sociedade e que precisou buscar nossos próprios
personagens e não mais na Europa, os sujeitos da nossa própria história.

Dessa forma, o indígena foi considerado um símbolo, um herói nacional.

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Monumento a Pedro I, Rio de Janeiro, Brasil.

Mas isso só aconteceu porque, no momento, celebrar o indígena já não era mais perigoso para a ordem
vigente. Veja as razões a seguir:

Ele já estava quase totalmente extinto nos espaços dominados do litoral e, por isso não
apresentava ameaça.

O sistema produtivo estava calcado no negro, não no indígena. De certo que não se poderia
enaltecer o negro.

Além disso, a ideia de que o indígena, por seu espírito livre e por sua coragem, não aceitara a
escravidão no passado, deixou o campo livre para o mito da docilidade do negro, visto como
conformado e até feliz em sua condição de escravo. (LOPEZ, 1995)

Dessa maneira, o indianismo permitiu difundir uma imagem positiva do homem brasileiro – homem que, na
origem, fora livre e até lutara pela sua liberdade contra o português. A literatura indianista brasileira teve dois
nomes importantes: José de Alencar e Gonçalves Dias.

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Retrato de José de Alencar.

Retrato de Gonçalves Dias.

Gonçalves Dias fez do indígena um herói, enquanto José de Alencar preferiu mostrar o mundo natural e
rústico do nativo, do bandeirante, do gaúcho, do sertanejo.

O indígena passou a ser visto como símbolo da pureza e da inocência. Isso foi usado
pelos teóricos que estudavam o Brasil e que buscavam um rosto para ele, uma
identidade. O indígena virou herói nacional.

Mas os nativos deixaram suas pegadas culturais por onde passaram e hoje muito do que consumimos,
vestimos, utilizamos como artesanato amplamente difundido e reconhecido como arte aqui dentro e no
exterior, compõe a identidade da nossa sociedade.

Mulher indígena da etnia dessana da Amazônia brasileira, em sua comunidade com roupas típicas de sua cultura e rosto pintado. Manaus,
Amazonas, Brasil, 23 de julho de 2022.

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O contato com a natureza, a alimentação baseada no consumo de frutas, legumes, verduras, raízes, caules,
peixes são legados dessa população tão importante para o nosso país. Veja três exemplos a seguir:

Caju

Frutos como o caju e o açaí eram comuns na alimentação de povos do Norte e Nordeste brasileiros. O
guaraná é uma bebida tipicamente brasileira, conhecida mundialmente e utilizada comumente para as
atividades diárias dos indígenas, além de ser considerado um fortificante para os guerreiros.

Mandioca

A mandioca era a principal fonte de carboidrato da refeição dos indígenas. Uma forma de estocar a
mandioca para uma posterior utilização se transformou na tapioca e na farinha de mandioca, amplamente
consumida por todos nós.

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Trançados de palha

A cultura do trançamento de fíbras vegetais foi fundamental na organização e na construção de


instrumentos que serviam para armazenamento, instrumentos de pesca, e na habitação. A construção de
casas com as estruturas de fibras são instrumentos que passam a ser adotados hoje na moda, em áreas de
lazer e ainda considerados sustentáveis.

Muitos pesquisadores defendem a teoria de que as comunidades indígenas tinham sua organização política,
diferentemente dos europeus e, por isso, essa estrutura fora ignorada e esses grupos passaram a ser
percebidos como primitivos e selvagens. O processo de conquista sofrido pelos indígenas resultou no
genocídio de milhares de indivíduos causando, inclusive, o desaparecimento de tribos inteiras. Além disso,
houve a violência cultural com as tentativas de apagamento de seus costumes e tradições, violência que
perdura até os dias de hoje.

Concluímos que o ideal português de civilização retirou do indígena sua identidade, resultado de um

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processo histórico marcado pela violência física, cultural, religiosa e econômica. Esse novo sujeito, de raízes
indígenas, possui um modo de vida híbrido, cujos costumes das sociedades tribais ainda permanecem
vigentes, embora adaptados à economia capitalista. De acordo com Azevedo:

Desde o início da colonização brasileira até a década de 1970 os povos


indígenas eram considerados como uma categoria social transitória, ou seja,
todas as políticas públicas direcionadas aos povos indígenas tinham como
objetivos sua "integração à comunhão nacional", seja através da catequização,
colonização, ou até mesmo da escravização.

(AZEVEDO, 2008, p. 19)

Números divulgados pela Fundação Nacional do indígena (FUNAI) mostram que a população indígena do
Brasil contava com aproximadamente 2 milhões de habitantes à época da conquista. Esse número foi
reduzindo vertiginosamente até alcançar a proporção estimada de 70 mil habitantes pelos idos de 1957. Dali
em diante houve certo crescimento, mas nada que chegasse próximo aos números do período colonial.

A implantação de medidas afirmativas e a luta indígena por reconhecimento de seus direitos sociais foram
decisivos para que a população indígena, parte essencial da identidade brasileira, fosse enxergada e
percebida como cidadã, fazendo valer suas especificidades, reforçando as diferenças étnicas de cada povo.
Foram reconhecidos como povos de Direito adquirido com a Constituição de 1988. Apesar de muito ainda
precisar ser feito, um acontecimento legal e histórico marcou a trajetória de luta e reconhecimento do povo
indígena.

Joênia Wapichana.

Em dezembro de 2008, cinco povos indígenas (Macuxi, Wapixana, Ingaricó, Patamona e Taurepang), há 30
anos em disputa pela demarcação de suas terras nessa reserva, tiveram seus direitos defendidos pela
advogada indígena Joênia Batista de Carvalho. índia Wapixana. Joênia foi a primeira indígena a defender
uma causa no Supremo Tribunal Federal. (ALMEIDA, 2010.)

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Os povos indígenas no Brasil de hoje

Atualmente, existem em torno de 896 mil indígenas em todo o território nacional, segundo o Censo 2010, do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Entre as regiões do Brasil, a maior parte está
concentrada na região Norte, com 342,8 mil indígenas, e a menor no Sul, com 78,8 mil. Entre as principais
etnias indígenas brasileiras na atualidade estão a ticuna (35.000), guarani (30.000), kaingang (25.000),
macuxi (20.000), terena (16.000), guajajara (14.000), xavante (12.000), ianomâmi (12.000), pataxó (9.700) e
potiguara (7.700).

Gráfico: Divisão da população indígena brasileira por etnia.

Os indígenas estão mais do que nunca vivos: para não deixar morrer uma memória histórica e para resgatar
e dar continuidade aos seus projetos coletivos de vida, orientados pelos conhecimentos e pelos valores
herdados dos seus ancestrais, expressos e vividos por meio de rituais e crenças. São projetos de vida de
povos que resistiram a toda essa história de opressão e repressão.

ndígenas
A recuperação do termo aparece como forma de luta e não como redutor a uma identidade única.

Viver a memória dos ancestrais significa projetar o futuro a partir das riquezas,
dos valores, dos conhecimentos e das experiências do passado e do presente,
para garantir uma vida melhor e mais abundante para todos os povos.

(LUCIANO, 2006)

Cada vez mais presentes em setores importantes da sociedade, o povo indígena entrega advogados,
professores, historiadores, médicos e roteiristas capazes de representar seus povos e garantir que seus

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direitos sejam preservados.

Os povos indígenas não são sociedades arcaicas, mas representam uma parcela significativa da população
brasileira e que por sua diversidade cultural, territórios e conhecimentos ajudaram a constituir nossa nação.

Ao participarem ativamente da vida social e política do Brasil, o indígena conseguiu


recuperar a sua autoestima e ter um lugar de fala na sociedade.

Dessa forma, foi sendo recobrada a identidade étnica, como uma realização individual e coletiva, mas
também como cidadania reconhecida pela sociedade e pelo Estado. A questão indígena passou a ter uma
maior visibilidade e relevância na vida nacional e ganhou autonomia e liberdade para que se decida como
viver com sua prática cotidiana.

Luciano (2006) nos mostra que os indígenas aldeados vivem dos recursos oferecidos pela natureza,
enquanto os indígenas que moram em centros urbanos vivem geralmente de prestações de serviços e como
mão de obra do mercado de trabalho. Da presença desses dois grupos distintos, podemos concluir que os
indígenas que ainda se encontram distantes em suas aldeias reforçam a valorização de seus conhecimentos
tradicionais, das religiões ancestrais, do processo de consumo e distribuição de bens, enquanto os indígenas
presentes nas grandes cidades já estão imersos nos processos contemporâneos do mundo do trabalho,
apostando na qualificação profissional e na imersão do mercado. O que seus representantes pleiteiam, no
entanto, é o desenvolvimento de projetos sociais que abarquem as duas realidades propostas.

Reflexão

Muito ainda precisa ser feito para que a identidade indígena seja plenamente reconhecida e com isso ele se
torne um sujeito de direito como expresso na Constituição Cidadã. O indígena ainda é visto como um
obstáculo ao governo federal, latifundiários, grileiros, fazendeiros e empresários. Esses indivíduos veem no
indígena a imagem de um homem sem interesses e sem direitos, como se ele não existisse.

A FUNAI foi criada com o objetivo de intensificar a proteção de direitos e respeito aos interesses dos povos
indígenas, buscando garantir as especificidades de suas várias etnias presentes no território brasileiro.
Garantir o respeito à cultura indígena é uma obrigação, contudo, é preciso mais ainda fazer valer a
demarcação das terras indígenas, o usufruto exclusivo dos recursos naturais e a preservação do equilíbrio
biológico do indígena no seu contato com a sociedade.

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Salvador, Bahia, Brasil - 26 de abril de 2022: indígenas de diferentes tribos da Bahia durante protestos na cidade de Salvador. O grupo busca
melhorias em suas aldeias.

Na pandemia do novo coronavírus (COVID 19) que assolou o mundo nos últimos anos, os indígenas mais
distantes acabaram sendo afetados. Houve certa tentativa de mapear a evolução do vírus, porém os números
não conseguiram dar conta da totalidade. Os indígenas que vivem fora das terras homologadas não
entraram na contagem. De acordo com a Apib (Articulação dos Povos Indígenas no Brasil), em 14/06/2020
eram 20.947 casos confirmados com 283 mortos confirmados e 96 povos afetados. São os brancos que
depois de séculos continuam adoecendo os indígenas.

Toda essa destruição não é nossa marca, é a pegada dos brancos, o rastro de
vocês na terra.

(DAVI KOPENAWA YANOMAMI, RICARDO E RICARDO, 2011, p. 22)

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Um ganho imenso para os direitos dos povos indígenas é o fato de o Estado brasileiro, a partir da
Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, também considerada Constituição Cidadã, criar
normas, a fim de proteger os direitos e interesses dos povos indígenas.

Os Direitos Constitucionais dos indígenas encontram-se definidos mais especificamente no título VII, “Da
Ordem Social”, dividido em oito capítulos, sendo um deles o “Dos Índios”, destacando-se os artigos 231 e
232, além de outros dispositivos dispersos ao longo do texto e de um artigo do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias.

Contituição de 1988, autor desconhecido.

Artigo 231
caput: “São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos
originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer
respeitar todos os seus bens.

Artigo 232
Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus
direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo.

A Constituição foi importante por ter reconhecido a capacidade civil dos indígenas. Vale lembrar que os
recursos hídricos e riquezas minerais do solo pertencem à União (Art.176). Mas aos indígenas é assegurada
participação na exploração. Especificamente em relação ao garimpo, a Constituição prevê que os
dispositivos em seu texto não se aplicam às terras indígenas (Art. 231, § 7°), proibindo, sob qualquer
hipótese, que a atividade seja realizada por não indígenas nessas terras. O problema está em fazer valer essa
lei.

Uma outra questão que veio somar à inclusão dos Direitos e reconhecimento das terras indígenas foi a Lei
n.11.645, de 2008, que tornou obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena nos ensinos
fundamental e médio de escolas públicas e privadas, para ressaltar a importância dessas culturas na
formação da sociedade brasileira.

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Atenção!

Discutir tais assuntos no espaço escolar é importante pois insere a História e cultura africana, afro-brasileira
e indígena na formação de crianças e jovens brasileiros. A lei foi importante por reconhecer negros e
indígenas como sujeitos históricos e relevantes na formação da sociedade brasileira.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

“São esses canibais que conhecerão com Montaigne uma consagração duradoura. Tornam-se a má-
consciência da civilização, seus juízes morais, a prova de que existe uma sociedade igualitária, fraterna,
em que o Meu não se distingue do Teu, ignorante do lucro e do entesouramento, em suma, a da Idade de
Ouro. Suas guerras incessantes, não movidas pelo lucro ou pela conquista territorial, são nobres e
generosas.”. (CUNHA, Manuela Carneiro da. Imagens de índios do Brasil: o século XVI. Estud. av., São
Paulo, v. 4, n. 10, Dec. 1990, p. 100.)

O trecho acima mostra o impacto provocado por certos indígenas canibais brasileiros sobre os europeus
no século XVI e, em especial, sobre o pensador francês Michel de Montaigne. Os indígenas canibais de
que Montaigne teve notícia à época eram:

A Os indígenas da tribo tupinambá.

B Os indígenas do Alto do Xingu.

C Os indígenas tupi-guarani, do litoral paulista.

D Os indígenas da fronteira entre Brasil e Bolívia.

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E Os indígenas tamoios, do Rio de Janeiro.

Parabéns! A alternativa A está correta.

Os tupinambás praticavam rituais antropofágicos. Isso fica claro quando o aventureiro alemão Hans
Staden se torna prisioneiro dos tupinambás e ele mesmo fora oferecido em ritual antropofágico, mas os
indígenas decidem não comê-lo, pois ele não era corajoso o suficiente, o que deixa explícito que os
indígenas faziam tais rituais com seus adversários, mas reconheciam a bravura e a coragem deles, por
isso o canibalismo nessas tribos.

Questão 2

(MAKENZIE) Enquanto os portugueses escutavam a missa com muito “prazer e devoção”, a praia
encheu-se de nativos. Eles sentavam-se lá surpresos com a complexidade do ritual que observavam de
longe. Quando D. Henrique acabou a pregação, os indígenas se ergueram e começaram a soprar
conchas e buzinas, saltando e dançando (...)"(Eduardo Bueno)

Este contato amistoso entre brancos e indígenas preservado:

A Pela igreja, que sempre respeitou a cultura indígena no discurso da catequese.

Até o Início da colonização quando o indígena, vitimado por doenças, escravidão e


B
extermínio, passou a ser descrito como sendo selvagem, indolente e canibal.

C Pelos colonos que escravizam somente o africano na atividade produtiva de exportação.

Em todos os períodos da História Colonial Brasileira, passando a figura do indígena para


D
o imaginário social como o “bom selvagem e forte colaborador da colonização”.

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Até os dias de hoje, onde vivemos numa sociedade que respeita e reconhece plenamente
E
os direitos indígenas.

Parabéns! A alternativa B está correta.

O encontro de portugueses com indígenas foi mágico para esses últimos. Considerados como Deuses,
os brancos foram enaltecidos pelos indígenas. O contrário já não se pode afirmar. Quando os
portugueses tentam escravizar os indígenas, esses já não aceitam mais pacificamente a convivência e
reagem, resistindo aos maus-tratos.

3 - A parte negra no desenvolvimento da


sociedade brasileira
Ao final deste tema, você será capaz de identificar a participação do
negro na construção e desenvolvimento da sociedade brasileira.

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Aspectos históricos da participação dos


negros na sociedade brasileira

video_library
Africanos no Brasil
Neste vídeo, os especialistas falam sobre as contribuições culturais dos negros na formação da sociedade
brasileira.

Lima Barreto, em sua obra O Traidor, cita:

Era bom saber que a alegria que trouxe à cidade a Lei da abolição de 1881 foi
geral pelo país. Havia de ser, porque já tinha entrado na convivência de todos a
sua (da escravidão) injustiça originária. Quando eu fui para o colégio, um
colégio público, à rua do Rezende, a alegria entre a criançada era grande. Nós
não sabíamos o alcance da lei, mas a alegria ambiente nos tinha tomado. A
professora, D. Tereza Pimentel do Amaral, uma senhora muito inteligente, creio
que nos explicou a significação da coisa; mas com aquele feitio mental de
crianças, só uma coisa me ficou: livre! Livre! Julgava que podíamos fazer tudo
o que quiséssemos; que dali em diante não havia mais limitação aos
progressistas da nossa fantasia. Mas como estamos ainda longe disso! Como
ainda não enleamos nas teias dos preceitos, das regras e das leis! [...] São boas
essas recordações; elas têm um perfume de saudade e fazem com que

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sintamos a eternidade do tempo. O tempo inflexível, o tempo que, como o


moço é irmão da Morte, vai matando aspirações, tirando perempções, trazendo
desalento, e só nos deixa na alma essa saudade do passado, às vezes
composto de fúteis acontecimentos, mas que é bom sempre relembrar.

(BARRETO apud SCHWARZ E STARLING, 2015, p.21)

As palavras de Lima Barreto soam atuais apesar de terem sido proferidas no século passado. Ele foi um
jornalista, ensaísta, cronista da cidade do Rio de Janeiro e um dos poucos escritores brasileiros a se definir
como negro. A partir desse relato, que mais se parece com um desabafo, é possível perceber que pouca coisa
progrediu nos dias de hoje, que percebemos também que o racismo faz parte da nossa cultura de forma
estrutural.

Desde a abolição da escravatura, em 1888, a comunidade negra ainda não pode


usufruir de uma “liberdade” legítima, pois para que isso aconteça se faz necessário
que todas as esferas de poder a enxergue, não apenas como seres humanos com
direitos, mas também entendendo toda complexidade de suas demandas.

Os africanos e seus descendentes tiveram uma participação essencial no desenvolvimento do país e é


imprescindível reconhecer que a trágica história brasileira com a escravidão marcou negativamente toda a
sociedade. Os estudos sobre as etnias africanas no Brasil, hoje, reivindicam que ele não foi apenas
escravizado, foi também desumanizado. Buscaram de todas as formas retirar do indivíduo escravizado sua
condição de ser humano e reduzi-lo à categoria de coisa, bem, posse. É preciso enxergar o negro na história
como um agente ativo e não mais um personagem passivo, que aceitou a submissão sem lutar.

Muito tempo se passou desde que Lima Barreto fez esse comentário e ainda nos dias atuais a comunidade
negra não consegue celebrar sua liberdade, identidade e cultura de forma plena. É certo que vários
movimentos afro-brasileiros colocaram suas demandas e outras mais no debate social, mas para que
possamos entender o contexto da atual situação dos negros no Brasil, vamos retornar ao passado e perceber
como tudo começou.

A Diáspora

Quando os portugueses se estabeleceram no Brasil Colonial, eles perceberam a necessidade de pessoas que
pudessem trabalhar nas grandes fazendas produtoras de cana-de-açúcar. Tudo girava em torno desta
monocultura.

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A diáspora é um termo que fala de um ou mais grupos retirados de suas terras e se dispersando por outros
lugares do mundo. Africanos durante a expansão do mercantilismo, diante de um fortalecimento e
enriquecimento que o comércio de pessoas se expandiu e sofisticou nos séculos XVII e XVIII tornando-se um
produto tão lucrativo quanto outras mercadorias como o açúcar.

A exploração de mão de obra escravizada foi uma das características das grandes plantações das Américas.
Empresas como algodão e açúcar, depois mais tarde exploração de metais preciosos fez parte da estrutura
colonial brasileira.

Para que os engenhos funcionassem a pleno vapor, os portugueses se valeram dos negros africanos, que
nesse momento estavam sendo traficados da África para essas novas terras.

Navio negreiro.

O comércio de escravizados era altamente lucrativo para a Coroa Portuguesa. Os primeiros grupos chegaram
no Brasil por volta de 1554. Tal prática atravessou séculos, interrompeu o desenvolvimento de vários espaços
geográficos e causou o esvaziamento de outros. Retirou gerações de seus locais de origem e os transformou
em mão de obra escravizada.

Se os jesuítas, de certo modo, ajudaram os indígenas a se manterem longe dos


trabalhos forçados, eles justificaram, por outro, a experiência escravocrata, por meio
de “um castigo divino” capaz de aproximar os negros do cristianismo.

Assim, a escravidão africana e a produção do açúcar se tornaram indissociáveis. Os nobres não


trabalhavam, apenas viviam de renda, enquanto os escravizados, separados por sua cor, estavam
associados aos trabalhos manuais e, por isso, considerados inferiores. Na arquitetura da cana, os engenhos
se destacavam.

No Brasil, os grupos de africanos mantinham relações diversas, mas o foco de fragilizar e proibir o uso de
língua, cultos e outros elementos de suas origens foi um projeto cuidadosamente articulado. Já nas cidades,
as possibilidades de trocas e ganhos criaram outros mecanismos, com a recuperação de traços de
ancestralidade e geraram mecanismos de resistência, ora vinculados às próprias estruturas coloniais, como
nas irmandades religiosas cristãs, ou em associações de grupos e compra de alforrias. A imagem de que os
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descendentes aceitaram a escravidão até sua liberdade é parte de nossa estrutura de preconceito estrutural.

As casas-grandes, onde os senhores de terras donos dos engenhos e de escravizados viviam, eram luxuosas.

Saiba mais

Algumas novelas de época como Escrava Isaura (1976), Sinhá Moça (1986) e Novo Mundo (2017)
mostraram o luxo que era viver nesses solares erguidos em pontos mais altos do engenho para que tudo
pudesse ser visto e controlado. Continham numerosos quartos que abrigavam a família e os agregados, sala
de visitas e de jantar, quarto de oratório, escritório, copa e cozinha. Era muito comum ainda uma capela bem
ornamentada, inteiramente branca para serem realizados batizados, casamentos e velórios.

Mas não há casa-grande sem senzala. Ter muitos escravizados significava um sinal de status para os
senhores de engenho, que não mediam esforços para adquiri-los, assim que os navios de tráfico negreiro
aportavam. Nas senzalas dos engenhos, os indivíduos eram alojados coletivamente.

Neles residiam dezenas, centenas de pessoas que se amontoavam exaustos, cansados da lida de muitas
horas, mal alimentados, presos a ferros que feriam seus corpos, e sem higiene nenhuma. As senzalas eram
trancadas à noite pelos feitores para que não escapassem. O repouso era breve. Historiadores mostram que
as senzalas eram construídas com barro e telhado de sapé, sem janelas, escuras e sem ar.

Nesse momento da nossa história, a diversidade cultural, composta por indivíduos vindos de diversas partes
da África, portugueses, holandeses e indígenas, era considerada não como algo bom, mas entendido como
uma ferramenta para exclusão. Assim, as culturas eram reconhecidas e classificadas a partir da cor, o que se
transformou em um poderoso marcador social.

Habitação de negros.

Por isso, é muito comum encontrarmos nos livros de História as seguintes classificaçôes:

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Mamelucos Cafuzos Mulatos

Mistura do branco com o Mistura do negro com o Mistura do branco com o


indígena. indígena. negro.

Toda essa nomenclatura foi utilizada por muito tempo para categorizar pessoas com base no tom de sua
pele, mas até hoje temos resquícios desse hábito. Quantos de nós não têm na sua certidão de nascimento o
termo “pardo” para definir sua cor de pele?

À hierarquia das cores se juntava o desprezo pela população escravizada. Vendidos como objetos,
maltratados pelos seus senhores, vivendo em condições desumanas, apanhando e morrendo, facilmente
substituídos no lucrativo negócio do tráfico humano, aos escravizados não restava nada mais do que
sobreviver, sendo esta também a sua resistência. A estimativa de vida útil, em trabalho forçado, de um ser
humano escravizado ficava entre 10 e 15 anos.

Pintura representando comunidade quilombola.

Esses indivíduos, apesar de toda subjugação e violência, não aceitavam a escravidão de forma passiva.
Relatos de negros que fugiam, matavam seus donos, refugiavam-se em lugares que os senhores com seus
capatazes e capitães do mato não chegavam, nos mostram que os negros resistiram e lutaram muito para
reconquistar suas liberdades. A luta da comunidade negra se faz presente e necessária até os dias de hoje.

A resistência quilombola

O negro foi escravizado, mas não se curvou. As lutas contra a dominação e a resistência geraram muitas
vozes que foram se erguendo. A injustiça e a incompreensão formaram homens e guerreiros capazes de lutar
contra tudo de indigno que havia na escravidão.

De acordo com Furtado, Sucupira e Alves (2014), as manifestações da luta e resistência dos negros foram os
quilombos. Vários indivíduos que se insubordinavam e se rebelavam contra a escravidão, organizaram-se em
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lugares distantes e de difícil acesso, a fim de resistirem contra a opressão dos senhores. Os quilombos eram
o refúgio desses indivíduos, que podiam manter viva a sua cultura.

Comunidade quilombola em Presidente Kennedy, Brasil.

Zumbi, juntamente com outros representantes da coletividade negra, durante o período escravista brasileiro,
empenhou-se na luta contra a opressão do sistema que impunha o trabalho compulsório aos africanos e
seus descendentes.

A Lei Áurea, de 13 de maio de 1888, conseguiu proibir formalmente a escravidão,


mas, “não conseguiu garantir o acesso de negros e negras a direitos ou ao fim da
segregação desses sujeitos na sociedade”, como nos mostraram Furtado, Sucupira
e Alves (2014). Sem ter para onde ir, onde se fixarem, sem uma renda para se
manterem e sem acesso à educação, restava ficar nas periferias urbanas ou
refugiar-se nas comunidades quilombolas.

A crueldade não se resumia à violência física ou ainda ao linchamento moral a que foram submetidos. A
privação de uma identidade, combatida com o derramamento de sangue, foi e continua sendo a maior das
agressões. De acordo com um levantamento realizado pela Fundação Cultural Palmares, são 3.524 grupos
de quilombolas remanescentes. Veja alguns dados sobre o processo de reconhecimento:

Reconhecimento

Destes, apenas 154 foram titulados, ou seja, se encontram em fase final de reconhecimento e proteção de
quilombolas no Brasil.

Laudos

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Segundo a ÉPOCA, os dados da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais
Quilombolas (Conaq), outros 1.700 grupos aguardam a conclusão dos estudos e a emissão de laudos que
atestam a conquista do título.

As comunidades remanescentes são agrupamentos semelhantes aos espaços formados por netos e bisnetos
de escravos. E se na época, os inimigos vinham da casa-grande, eram escravocratas ou caçadores de mão de
obra, hoje, a perseguição vem de grandes corporações da construção civil que, interessados nestes espaços,
esbarram na proteção legal definida no Decreto 4887/2003.

Rio de Janeiro/Rio de Janeiro/Brasil-24 de maio de 2020: Jovens negros fazendo o símbolo da luta antirracista durante a manifestação vidas
negras importam.

A realidade violenta segue atual e muitos são os casos que descambam para violência em uma escalada de
atrocidades marcadas por ameaças, agressões e homicídios. Para se ter ideia do tamanho da disputa, o ano
de 2017 foi considerado o período mais violento da última década com 113 ocorrências.

Saiba mais
De acordo com os índices da Conaq entre o início de 2008 e o fim de 2017 registram-se 32 homens e 6
mulheres quilombolas assassinados. A Bahia e o Pará lideram estes números seguidos por Minas Gerais, Rio
de Janeiro e Piauí. As marcas da violência são ainda mais estarrecedoras se observadas as formas usadas
para ceifar vidas. Em 68,4% dos casos foram usadas armas de fogo. Em 13,2%, objetos perfurocortantes.
66% das mulheres quilombolas foram assassinadas com o uso de arma branca ou foram torturadas antes
de chegar a óbito.

Tratores, escavadeiras seguem derrubando árvores e abrindo valas para drenar os córregos. É comum ainda
homens armados serem vistos circulando pelos territórios. Um dos casos mais emblemáticos destes
conflitos e de grande repercussão aconteceu no Quilombo de Santa Justina no dia 21 de julho de 2016.
Simone, em trabalho de parto, não recebeu a assistência médica correta por causa dos seguranças que
impediram a chegada da ambulância ao local. Ela precisou caminhar até o veículo e seguiu para o hospital
onde enfrentou mais dificuldades. Depois de muita luta ela conseguiu dar à luz. A criança nasceu com
complicações, mas conseguiu se recuperar. O caso é reincidente. Simone perdeu uma filha porque foi

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impedida de instalar luz na própria residência. A menina necessitava de um medicamento que precisava ser
armazenado na geladeira. Sem autorização, a criança foi impossibilitada de seguir o tratamento.

O processo de construção da identidade


cultural negra no Brasil

Capoeira

“Paranauê, paranauê. Paraná. Paranauê, Paranauê, Paraná”. Abre a roda e entra na ginga. A associação é
imediata e automaticamente vem a memória o som do berimbau. A musicalidade contagia. Com ela,
também imaginamos um grupo de pessoas reunido em um círculo.

Capoeira de rua, Rio de Janeiro, Brasil.

Mesmo relacionada a um contexto histórico marcado pelo sofrimento durante o período da escravidão, a
capoeira sobreviveu às perseguições e transformou-se em um símbolo nacional que representa a luta de
resistência. Trazida por africanos no fim do século XVI, a prática da capoeira mantinha viva as tradições
daquele povo, entre elas, a preservação do idioma natal. Pouco se sabe, porém, da sua origem.

A capoeira é, na verdade, a mistura de passos de dança e movimentos de luta. Foi desenvolvida assim para
disfarçar diante de seus senhores uma vez que escravizados eram proibidos de praticar qualquer tipo de luta.
As manifestações artísticas promovidas pelos escravos, embora tivessem características relacionadas à
socialização, não contavam com a simpatia da elite dominante. Mais do que isso, a intolerância da casa-
grande era traduzida em intensa repressão contra a senzala.

Saiba mais

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Além da capoeira, o lundu também despertava a ira dos senhores e senhoras da alta classe e, apesar de ter
sido dançado pela corte portuguesa em Lisboa, era considerada uma dança indecente quando expressada
popularmente. O batuque, por sua vez, também não ficava atrás das demais manifestações e sofria
perseguição igualmente.

Dessa forma, é possível perceber que a musicalidade africana tem grande influência na construção da
identidade cultural negra no Brasil. Dos lamentos em forma de canto até os instrumentos musicais usados,
tais como tambores, atabaques, chocalhos, pandeiros, entre outros, as contribuições são gigantescas e
permanecem vivas até os dias de hoje. Entretanto, a partir do fim do século XIX e início do século XX, a
preocupação em definir a identidade do indivíduo e as próprias manifestações culturais e esportivas
brasileiras passou a incomodar a elite brasileira.

A imagem do Brasil, aos olhos do mundo, principalmente Europa e Estados Unidos,


não desfrutava de boa credibilidade desde o tortuoso caminho até ali marcado pelo
período de escravidão.

Assim sendo, se por um lado não existia a possibilidade de negar a miscigenação étnica evidente, já que a
população era composta por negros, mamelucos, crioulos, cafuzos e indígenas, por outro se fez necessário
mascarar o preconceito racial com o discurso evolucionista da mestiçagem.

Black is power

Pode-se afirmar que o corpo é uma construção social de estrutura biológica e que simbolicamente expressa
culturalmente a história na qual o indivíduo está inserido. Muitas são as formas de usá-lo. Entre elas, desde
os tempos antigos, estão os cabelos. Eles ganham destaque por ser um elemento representativo da
personalidade do indivíduo e, nos dias atuais, tem ainda mais significado.

Conserva-se com ele um profundo valor simbólico de resistência e preservação cultural. O corte e o penteado
podem expressar diversos sentimentos.

As mulheres nos anos 1950, por exemplo, inspiraram-se nos cortes masculinos para aumentar o
engajamento social e político feminino. Os homens apresentaram o black power que ganhou o mundo e se
tratava de uma referência ao movimento negro americano.

O dreadlock também “fez a cabeça” de homens e mulheres por conta do movimento rastafári. No Brasil, o
cabelo crespo e a cor da pele são símbolos indissociáveis da construção identitária brasileira. Eles estão
diretamente relacionados à consolidação da cultura negra.

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Mulher negra com black power.

Entretanto, a sociedade, que normatiza e cria padrões estéticos afinados ao ideal branco europeu, classifica o
cabelo do negro como algo inferior.

Mulheres negras com tranças.

É comum, inclusive, que muitos tentem ressignificar a sua estética por meio de alisamentos a base de
produtos químicos.

É, na verdade, uma tentativa de sair de um lugar de inferioridade provocado pelo estereótipo pré-determinado
e que não representa os traços biológicos da própria raça.

Nos anos 1960 e 1970, o corpo, as cores e o ritmo musical negro influenciado pelas lutas pelos direitos civis
negros nos Estados Unidos ascenderam os movimentos Black Power, Funk e Soul de tal forma que
despertam significativamente as manifestações de orgulho e restauração das heranças africanas. O reflexo
de toda esta mobilização faz surgir nas principais capitais do Brasil os Bailes Black. Artistas como Toni
Tornado e Wilson Simonal, entre outros, que passam a se destacar como os principais nomes do movimento.

Os jovens negros brasileiros apropriaram-se, mesmo com todas as diferenças culturais, das questões
políticas e sociais dos negros americanos e criaram uma conexão importante nas narrativas brasileiras de
luta contra a desigualdade.

Atenção!
Para se ter uma ideia da importância desta apropriação, Toni Tornado, em 1965, entrou nos Estados Unidos
como imigrante clandestino e lá sentiu na pele o racismo e o menosprezo dos brancos. O artista brasileiro

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entendeu o sentido da luta dos negros por direitos civis e fez contato com os Panteras Negras, um grupo
revolucionário que reivindicava o controle de instituições políticas e econômicas.

Por isso é tão importante que se criem ações que facilitem o acesso de pessoas negras a lugares de
destaque na sociedade, para incentivar outras a buscarem as mesmas oportunidades. Isso é o que temos
chamado de representatividade, quando você vê que pessoas iguais a você começam a ocupar espaços que
pareciam inacessíveis.

Novo Partido dos Panteras Negras organizaram uma manifestação em nome de Eric Garner, que morreu após uma briga com oficiais da
polícia de Nova York.

Maracatu

Os africanos escravizados e os seus descendentes brasileiros protagonizavam a dança em configuração de


cortejo que representa as antigas coroações de Reis do Congo. O cortejo ao som de batuque, com cânticos e
dança também era seguido pela realeza.

Jongo

O processo de construção da identidade cultural negra no Brasil também passa pela ressignificação do
jongo. Destaca-se neste processo o retorno das crianças e dos jovens para as rodas. Isto porque, no passado,
elas eram proibidas de participar por conta do caráter mágico vinculado a dança. Esta, inclusive, sempre foi
uma das principais razões que justificavam tamanha perseguição.

A prática corporal afro-brasileira tem, na sua composição, a percussão de tambores,


o exercício da dança coletiva e o canto. É importante dizer que hoje, o jongo, mesmo
sendo reconhecido nas comunidades jongueiras, segue sofrendo com a
desaprovação da sociedade de maneira geral.

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Vale ressaltar que o jongo possui o registro como patrimônio cultural material do Brasil constituído pelo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) desde 2005. Para isto, especialistas e
antropólogos do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP) iniciaram um minucioso trabalho de
pesquisa em 2001 e graças a ele o jongo tornou-se a primeira manifestação de canto, dança e percussão de
comunidades do Sudeste brasileiro de origem afro-brasileira.

Encontro de Maracatus de Baque Solto, música e dança típicas de Pernambuco.

O jongo ou caxambu, ou ainda tambu, chegou ao Brasil pela costa do Sudeste na primeira metade do século
XIX. Destacam-se nesta prática o uso de tambores em acompanhamento ao canto. O estilo vocal tem como
principal característica a entoação de frases curtas por uma pessoa e repetida pelo restante do grupo. Os
participantes, dançarinos, encostam o ventre um no outro. O passo da dança é popularmente conhecido
como umbigada. O jongo foi uma forma de comunicação entre os negros durantes o período da escravidão
que traduzia de forma poética as dificuldades pelas quais eram submetidos.

Saiba mais
Há estudiosos que descrevem o jongo e o caxambu como práticas diferentes. Os pesquisadores salientaram
que o jongo estaria prestes a desaparecer por causa das restrições às participações de crianças e jovens.

Tendo em vista que apenas os “cumbas”, (mestres detentores dos poderes mágicos) poderiam participar
desta prática cultural, o fim seria uma questão de tempo. Contudo, novas pesquisas realizadas já década de
1980 confirmaram que o jongo estava presente nas favelas do Rio de Janeiro e que ele tinha papel
fundamental na origem do samba. O que sugere a capacidade de ressignificação da atividade. Pode-se dizer
que as práticas e manifestações culturais, no caso das comunidades quilombolas, continuam sendo
ressignificadas para atender ao processo de reafirmação étnica.

Ações afirmativas no Brasil – as cotas

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raciais
Os debates sobre cotas raciais desde sempre existiram. Antes mesmo da abolição da escravatura discutiam-
se medidas sobre a questão. As atrocidades cometidas pelo Estado suscitaram em vários setores da
sociedade e principalmente no Parlamento, a necessidade de ações reparadoras pelos danos causados aos
negros africanos e aos seus descendentes.

Em 1823, José Bonifácio tentou, junto à Assembleia Constituinte, uma mudança que
buscava amenizar o sofrimento dos indivíduos impostos pelo sistema escravista. A
proposta tinha como principal objetivo engendrar condições mais humanas para a
transição do antigo regime de escravidão para o sistema de trabalho livre.

Bonifácio preocupava-se com a convivência entre as elites escravocratas e a multidão de “negros brutais”
recém libertados de um regime extremamente opressor. Enganam-se, porém, os que enxergam a preocupação
de José Bonifácio apenas pelo viés humanitário. O peso da culpa por ir de encontro aos princípios ortodoxos
cristãos também cabe na interpretação sobre seus atos.

As consequências do Brasil escravocrata são percebidas, ainda hoje, dentro da sociedade brasileira e
principalmente pelo povo negro. A aceitação da cor de pele, o orgulho da sua identidade e o reconhecimento
da própria história são condições valiosas para uma incessante busca pela igualdade de direitos.

Protesto em nome de George Floyd, que foi assassinado pela polícia em Minneapolis.

Diante disso, todas as medidas tomadas para reparação e todas as conquistas até então alcançadas pelo
movimento afrodescendente, embora busquem uma redução do abismo que o separa da elite, ainda são
insuficientes para conduzi-lo a um espaço de destaque mínimo.

Por outro lado, os movimentos sociais são organizados a fim de expressar suas demandas com propostas
de transformação, bem como estimular e coordenar ações coletivas pela inclusão. Seja por meio de
discursos ou ações práticas, as lutas pedem inclusão social e reconhecimento da diversidade cultural.

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A complexa formação destes movimentos reúne um conjunto de entidades, organizações e indivíduos que
lutam contra o racismo e pleiteiam condições mais dignas de sobrevivência para a população negra.
Observam-se para isto os aspectos culturais, políticos e educacionais. Um importante acontecimento na luta
pelas ações afirmativas aconteceu em 20 de novembro de 1995. A Marcha Zumbi dos Palmares contra o
racismo, pela cidadania e pela vida marcou um momento importante na luta do povo negro contra a
discriminação.

Marcha Zumbi dos Palmares contra o Racismo e a Discriminação, Campinas, Brasil, 2017.

Durante a Marcha, foi entregue um documento ao então presidente Fernando Henrique Cardoso. Neste
registro constava o desenvolvimento de ações afirmativas para acesso dos negros a cursos
profissionalizantes, a universidade e as áreas de tecnologia de ponta. Um ano depois, durante a realização do
seminário internacional Multiculturalismo e Racismo: o papel da ação afirmativa dos Estados democráticos
contemporâneos, Fernando Henrique reconhece a existência do racismo, o que trouxe para o centro da
discussão a necessidade de criar políticas de combate às discriminações.

Em 9 de janeiro de 2003, foi assinada pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva a lei que obriga os
estabelecimentos de ensino fundamental e ensino médio do país a inserir o estudo da História e Cultura Afro-
Brasileira e Indígena na grade curricular. O movimento negro passa a intervir na esfera educacional. Os seus
representantes iniciam um trabalho de revisão dos conteúdos dos livros didáticos com objetivo de reavaliar o
papel do afrodescendente na história do Brasil e retificar o material existente.

Homem negro em sua formatura, Nairobi, Kenya.

Essa nova condição e posicionamento na sociedade moderna facilitou sua inserção no mercado e criou
novas expectativas. O acesso ao ensino de nível superior foi um passo importante para este cenário

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diretamente relacionado ao poder de consumo.

Com mais participação acadêmica, os negros passam a atuar na produção do conhecimento e o branco,
antes à frente da condução dos estudos e propostas na luta antirracista, veem os próprios afrodescendentes
pesquisarem sobre a temática racial com um olhar muito mais crítico e analítico. Tais mudanças provocam
tensões e descontentamentos.

Tanto em relação aos novos elementos para análise, assim como as disputas de poder no espaço
acadêmico.

Ações afirmativas têm servido a alguns Estados, sobretudo após a Segunda Guerra, para reverter
emergencialmente um quadro de desigualdades extremas e duradouras. Alguns países como a Índia,
Malásia, entre outros, têm investido em medidas compensatórias. Sejam elas direcionadas às castas, aos
grupos de cor, grupos étnicos ou outros menos favorecidos.

O fenômeno do multiculturalismo surgiu no fim dos anos 1970 como projeto educacional de Pedagogia tanto
para escolas quanto para universidades. Além destes dois setores, a contribuição voltou-se para o emprego
público e a vida associativa. Os países com um Estado social desenvolvido e uma escola pública com
funcionamento em condição de quase monopólio foram os primeiros a lidar com a diversidade cultural
trazida, principalmente, pelos alunos filhos de imigrantes.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Em uma entrevista, o diretor, escritor, político e militante do movimento negro, Abdias do Nascimento,
disse ao Instituto Portal Afro:

“Os cultos afro-brasileiros eram uma questão de polícia. Dava cadeia. Até hoje, nos museus da polícia do
Rio de Janeiro ou da Bahia, podemos encontrar artefatos cultuais retidos. São peças que provavam a
suposta delinquência ou anormalidade mental da comunidade negra. Na Bahia, o Instituto Nina
Rodrigues mostra exatamente isso: que o negro era um camarada doente da cabeça por ter sua própria
crença, seus próprios valores, sua liturgia e seu culto. Eles não podiam aceitar isso.” (Portal Afro.
Adaptado).

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A partir do trecho acima citado, é possível afirmar que:

Apesar da escravidão a que estavam sujeitos, os africanos puderam para praticar seus
A
cultos religiosos em qualquer momento enquanto cativos.

Ao chegarem ao Brasil e passarem a conviver com os europeus, os africanos


B escravizados perderam seus traços culturais originais, adotando integralmente a cultura
europeia.

Mesmo com todo o tipo de repressão a que estavam sujeitos, os africanos escravizados
C
ainda buscaram manter vivas suas tradições culturais religiosas.

Nina Rodrigues e seus seguidores estavam certos ao afirmarem que os africanos eram
D
degenerados por não aceitarem a cultura europeia como superior às suas.

Numa adaptação pacífica, negros, indígenas e portugueses trocaram experiências e


E
desenvolveram uma identidade nacional desde os tempos coloniais.

Parabéns! A alternativa C está correta.

A resistência cultural africana se manteve durante todo o período da escravidão e também depois, sendo
possível ainda hoje haver espaços criados pelos afrodescendentes para se expressarem culturalmente.

Questão 2

(FUVEST) Os indígenas foram também utilizados em determinados momentos, e sobretudo na fase


inicial [da colonização do Brasil]; nem se podia colocar problema nenhum de maior ou melhor “aptidão”
ao trabalho escravo (...). O que talvez tenha importado é a rarefação demográfica dos aborígines, e as
dificuldades de seu apresamento, transporte, etc. Mas na “preferência” pelo africano revela-se, mais uma
vez, a engrenagem do sistema mercantilista de colonização; esta se processa em um sistema de
relações tendentes a promover a acumulação primitiva de capitais na metrópole; ora, o tráfico negreiro,
isto é, o abastecimento das colônias com escravos, abria um novo e importante setor do comércio

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colonial, enquanto o apresamento dos indígenas era um negócio interno da colônia. Assim, os ganhos
comerciais resultantes da preação dos aborígines mantinham-se na colônia, com os colonos
empenhados nesse “gênero de vida”; a acumulação gerada no comércio de africanos, entretanto, fluía
para a metrópole; realizavam-na os mercadores metropolitanos, engajados no abastecimento dessa
“mercadoria”. Esse talvez seja o segredo da melhor “adaptação” do negro à lavoura... escravista.
Paradoxalmente, é a partir do tráfico negreiro que se pode entender a escravidão africana colonial, e não
o contrário. (Adaptado de NOVAIS, 1979, p. 105).

Nesse trecho, o autor afirma que, na América portuguesa:

Os escravos indígenas eram de mais fácil obtenção do que os de origem africana. Por
A isso, a metrópole optou pelo uso dos primeiros, já que eram mais produtivos e mais
rentáveis.

O comércio negreiro só pôde prosperar porque alguns mercadores metropolitanos


B preocupavam-se com as condições de vida dos trabalhadores africanos, enquanto outros
os consideravam uma “mercadoria”.

A rentabilidade propiciada pelo emprego da mão de obra indígena contribuiu


C decisivamente para que, a partir de certo momento, também escravos africanos fossem
empregados na lavoura, o que resultou em um lucrativo comércio de pessoas.

O principal motivo da adoção da mão de obra de origem africana era o fato de que esta
precisava ser transportada de outro continente, o que implicava a abertura de um
D
rentável comércio para a metrópole, que se articulava perfeitamente às estruturas do
sistema de colonização.

A escravidão indígena foi utilizada em um primeiro momento e, logo em seguida,


E descartada uma vez que os nativos conseguiram conquistar sua liberdade através de
muitas revoltas locais.

Parabéns! A alternativa D está correta.

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A lucratividade do tráfico negreiro foi a principal motivação para que houvesse a substituição da mão de
obra escrava indígena pela negra.

4 - As relações étnico-raciais no Brasil e


suas distinções
Ao final deste tema, você será capaz de distinguir criticamente as
relações étnico-raciais no Brasil.

A educação para as relações étnico-raciais


no Brasil - Lei nº 10.639/2003

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A distinção crítica das relações étnico-


raciais no Brasil
Neste vídeo, a especialista expõe o fundamento da lei 10.639/2003, bem como as questões relacionadas a
definição de racismo e antirracismo.

Muitas são as discordâncias entre autores, intelectuais e militantes dos movimentos sociais com
posicionamentos e perspectivas ideológicas distintas diante desta matéria. A falta de consenso pode, em
algumas circunstâncias, provocar desentendimentos. Tendo em vista a diversidade de termos e conceitos
dentro da temática étnica-racial, a questão ganha várias interpretações da sociedade brasileira por parte dos
seus atores. Destacam-se nesta controvérsia os movimentos sociais.

O movimento negro cria relevância no cenário por exercer e cumprir uma tarefa
fundamental nesta discussão ao redefinir e redimensionar a questão social e racial
na sociedade. Além de denunciar os crimes cometidos e reinterpretar a realidade, o
movimento contribui no processo de reeducação do cidadão tanto no aspecto
político quanto acadêmico da população brasileira.

A identidade negra segue um processo de construção social gradativo, estendido, além do seio familiar e dos
seus desdobramentos, como construção histórica, cultural e plural. No entanto, o grande desafio durante este
exercício sempre foi e permanece sendo a prática de trabalhar a promoção da identidade negra em um
universo social que, ao longo de todos os tempos, foi conduzido para que eles, os negros, deveriam, para
alcançar espaços, negar sua identidade assumindo características padrões socialmente aceitas.

Desta forma, compreende-se que o período escolar em toda a trajetória percorrida durante a formação do
indivíduo tem função essencial na construção da identidade. A escola tem responsabilidade social e
educativa não apenas para lidar positivamente com o tema, mas também e principalmente para
compreender e respeitar a complexidade do processo.

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Diversidade étnica em grupo de amigos.

Qual a sua “raça”? A pergunta sugere o debate. O termo “raça” sempre suscitou discussões nos campos das
Ciências Sociais. O questionamento carrega um peso que pode soar desconfortável e a reação não costuma
ser positiva com a indagação.

A razão está na dificuldade de compreensão que existe na problemática relação entre negros e brancos
construída ao longo do tempo. O termo, embora remeta ao que há de mais tenebroso na história da
humanidade, o nazismo, se colocado fora da temática biológica, pode propor uma interpretação com base na
dimensão social e política.

No Brasil, a discussão sobre racismo perpassa na maioria dos casos pela cor da pele. A aparência física é a
base para uma classificação maniqueísta em que a avaliação passa pela competência e capacidade. Tem-se
acesso a este tipo de percepção na família, na escola, no círculo de amizades, relacionamentos afetivos, área
profissional, entre outros.

Este tipo de comportamento denota a afirmação do racismo por sua negação.

O racismo é negado sistematicamente pela sociedade brasileira, entretanto, com o surgimento das redes
sociais e com a equivocada crença de que as telas garantem um anonimato, temos percebido inúmeros
casos de racismo e preconceito disfarçados de liberdade de expressão.

Vista frontal de diversos alunos lendo livro enquanto estão sentados na parede de tijolos no corredor da escola.

Os militantes e intelectuais que adotaram o termo “raça”, como dito anteriormente, não o fazem no sentido
biológico e, a partir deste contexto, é possível compreender que o termo “raça” também pode ser entendido
como uma construção social, política e cultural produzida nas relações sociais e de poder. Culturalmente

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falando, compreendemos que negros e brancos podem ter percepções de mundo diferentes a partir da forma
como foram educados e, também da maneira em que se dá seu exercício de socialização, estas diferenças
podem nos levar a enxergar o outro conforme as nossas subjetividades, o que sucinta a hierarquização das
classificações sociais, raciais, de gênero, entre outras, de forma desigual.

Comentário

Na contramão desta linha de pensamento, os militantes e intelectuais que fazem uso do termo “etnia”
consideram que o seu uso reduza a percepção determinista biológica provocado pela expressão “raça”.

Por outro lado, os nazistas consideravam-se diferentes dos demais povos tanto no aspecto cultural quanto
nas características físicas e religiosas. Consideravam-se seres superiores por serem brancos e arianos. Com
todo o horror provocado pelo nazismo durante a Segunda Guerra, houve uma reorganização das nações do
mundo e, nesta nova ordem, o racismo e a ideia de raça no sentido biológico, considerado inaceitável,
associou o termo “etnia” as diferenças dos povos judeus, indígenas, negros, entre outros.

A escola tem papel importante na transformação do pensamento sobre as relações étnico-raciais no Brasil.
Atualmente, além da lei 10.639/03 e das diretrizes estabelecidas para a educação, existe uma produção
acadêmica mais consistente com o conteúdo elaborado incorporado como fonte de pesquisa. Veja a seguir
como a relação entre os segmentos e a ação dos agentes educadores influencia na transformação:

Segmentos

O diálogo entre as escolas, as secretarias de educação e os grupos culturais, juvenis, as entidades do


Movimento Negro, ONGs e os núcleos de Estudos Afro-Brasileiros facilitam os processos de construção e
implementação de práticas pedagógicas voltadas para a diversidade étnico-racial, sobretudo para reforçar a
questão da identidade de cada membro da comunidade escolar. Este cenário de entendimento de forma
respeitosa e digna entre os segmentos, também é pensado como uma forma de superação do racismo.

Educadores

Os professores na condição de educadores têm a função de construir práticas e estratégias pedagógicas que
estimulem a igualdade racial nas salas de aula. O acesso à cultura indígena, africana e afro-brasileira
oferecem a eles o suporte necessário para o combate à discriminação racial e para se colocar em prática as
ações afirmativas voltadas para o negro e o indígena com o objetivo de superar e romper com o mito da
democracia racial.

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Ainda que tenhamos trazido como temas: as sociedades indígenas, as relações sociais, a sociedade
escravocrata e as religiões africanas, aliás, assuntos relevantes para a fundação das Ciências Sociais,
somente nos últimos anos é que a questão ético-política alcançou mais visibilidade para a sociedade e
associações científicas.

O racismo e o antirracismo
No Brasil, jovens negros e pardos são as maiores vítimas de mortes causadas por violência ou
enfrentamento policial. A maioria é oriunda de favelas e periferias.

Protesto na cidade de Kansas, EUA.

As reportagens nos jornais são unânimes em apontar que a falta de políticas públicas com foco nessa
geração, somada às operações policiais com base na repressão e não na preservação da vida, acabam
sendo as grandes causadoras desse número alto. Estudos apontam que 77% das mortes de jovens na faixa
etária de 15 a 29 anos no Brasil sejam de negros.

Se você chegou até o fim desse texto, já sabe que é praticamente impossível não associar esses fatos a
questão do racismo. Como foi possível observar até aqui, o racismo não é um fato recente.

Desde o Brasil Colônia que indígenas e negros foram vistos como seres inferiores.
Os negros sequer ganharam o status de humanos.

Eles eram coisas, bens de seus senhores que podiam ser negociados. Ambas etnias nunca tiveram suas
culturas e identidades reconhecidas, e quando não aniquiladas totalmente, foram obrigados a aceitar um
novo deus, uma nova língua e a viverem dominados.

Conquistas importantes dos movimentos afro-brasileiros provocaram mudanças na sociedade.

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Criminaçização

A partir da Lei n.7.716/1989, o racismo virou crime. Como explica a lei, racismo implica conduta
discriminatória dirigida a determinado grupo ou coletividade. O Ministério Público tem legitimidade para
processar o racista.

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Autonomia

A lei tem autonomia para atuar em várias situações, como por exemplo, pessoas negras que eram
impedidas de ter acesso a estabelecimento comercial ou residencial pelas entradas sociais. Não se
pode mais “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional”.

Prevista no artigo 140, Parágrafo 3, do Código Penal, a injúria racial ofende a honra de alguém, valendo-se
para isso de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem.

São Paulo, SP / Brasil – 07 de junho de 2020.

No decorrer da história, negros têm lutado para que sua cultura e sua identidade fossem respeitadas no
mundo todo. Nos Estados Unidos, país que também carrega o fardo inglório da escravidão, a prática foi
abolida, porém o racismo segue escancarado. A segregação oficial chegou a determinar por lei quais os
assentos que brancos e negros deveriam ocupar nos transportes públicos conforme a cor da pele.

No Brasil, a questão nunca foi aparente, diferentemente do modelo americano, declarada de forma evidente.
Se os negros americanos, mesmo aqueles que fazem parte da classe média, manifestam-se quando a
própria representatividade é desqualificada ou questionada, parte dos negros brasileiros, em situação
semelhante, dificilmente se pronuncia e, quando isso acontece, aqueles que o fazem são reprimidos. Afinal,

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não há racismo no Brasil e todos são iguais. Esse, infelizmente, é o pensamento de uma imensa maioria que
não reconhece as dificuldades que a comunidade negra enfrenta todos os dias.

Escritório das Nações Unidas em Genebra, Suíça.

A Assembleia das Nações Unidas declarou a Década Internacional de Povos Afrodescendentes (2015-2024).

Nesta declaração há uma recomendação que os países previnam e punam as violações dos direitos
humanos que afetem os negros, incluindo, inclusive, os agentes do Estado.

O documento coloca como estratégico o desenvolvimento de ações que reconheçam os povos e facilitem o
acesso deles à justiça, intensificando a prática de políticas de proteção social, prevenção, acolhimento e
reparação.

Saiba mais

Em matéria publicada pela revista Exame em 13 de novembro de 2019, a população negra morre 2,7 vezes
mais do que a branca, sendo a principal vítima de homicídio no Brasil. O dado é do informativo:
Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil e foi divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).

Ainda de acordo com o Instituto, enquanto a violência contra pessoas brancas se mantém estável, o índice de
homicídios de pretos e pardos cresceu em todas as faixas etárias. O período analisado foi de 2012 a 2017 e
o aumento por 100 mil habitantes da população preta e parda chegou a 43,4 contra 37,2 anteriormente e 16
da população branca.

Foram registradas ainda, segundo o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), 255 mil mortes de
pessoas negras por assassinato no período analisado.

Os números são ainda mais impactantes se considerarmos apenas a população jovem nesta pesquisa. Entre
os brancos de 15 a 29 anos, a taxa ficou em 34 para cada 100 mil habitantes em 2017, segundo os dados da
DataSus.

Já entre pretos e pardos o número chega a 98,5 assassinatos a cada 100 mil habitantes, e na mesma faixa

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etária a taxa de homicídio sobre para 185. As jovens mulheres negras também acompanham estes índices de
mortes. Enquanto a taxa de jovens brancas é de 5,2, as pretas e pardas chegam a 10,1.

Jovem negro.

Nos anos 1970 e 1980, os núcleos jurídicos de atenção a vítimas de preconceito foram criados, instituídos e
neste mesmo período se transformaram em mecanismos contundentes no combate ao racismo. Em 2000, o
Governo do Estado do Rio de Janeiro, por meio da Secretaria de Estado de Segurança Pública e em parceria
com o Ministério da Justiça, inaugurou o Centro de Referência Nazareth Cerqueira contra o Racismo e o
Antissemitismo. Entenda:

Projeto

Consistia na criação de um canal permanente de diálogo entre as polícias, os ativistas e os


pesquisadores.

Objetivo

Visava, dentro da temática racial, a maior conscientização do sistema jurídico-policial no


combate ao racismo e à intolerância racial.

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Resultado

Surgiu o Disque-Racismo, estabelecendo a possibilidade da população vítima da


discriminação receber permanentemente atendimento jurídico, social e psicológico financiado
com recursos públicos.

Dessa forma, podemos concluir que as demandas dos movimentos negros passam por questões ligadas à
diminuição da violência, ao fim do racismo e à inserção de negros em universidades e mercado de trabalho.
Isso acionou uma política de reparação, como foi a política de cotas raciais. Ultimamente, o movimento
negro incorporou em sua agenda questões ligadas à intolerância religiosa, ao feminismo e aos direitos LGBT
para a população negra.

Mais importante do que repudiar o racismo é ser antirracista.

Essa é a tônica dos movimentos dos anos 2020. A filósofa e ativista negra Angela Davis é uma encarregada
de disseminar esses conceitos nas redes sociais.

Angela Davis.

“Eu não sou racista. Tenho até amigos negros”. Essa é a pior declaração que alguém pode ouvir ou relatar
atualmente. Ela demonstra claramente a fala racista e preconceituosa, herança, como vimos até aqui do
Período Colonial. O antirracismo vem como uma importante ideologia política de oposição ao racismo, mas
que ultrapassa apenas a simples indignação. Ela envolve uma prática. O que você tem feito em torno do
debate racial? O que você tem feito para acabar com o racismo no seu microcosmos? Aí sim você estará
sendo antirracista.

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Falta pouco para atingir seus objetivos.


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Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

A demanda da comunidade afro-brasileira por reconhecimento, valorização e afirmação de direitos, no


que diz respeito à educação, passou a ser particularmente apoiada com a promulgação da lei
10.639/2003, que alterou a lei 9.394/1996, estabelecendo a obrigatoriedade do ensino de História e
Cultura Afro-brasileiras e Africanas. (Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações
Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana. Brasília: Ministério da
Educação, 2005.)

A alteração legal no Brasil contemporâneo descrita no texto é resultado do processo de:

A Aumento na renda nacional

B Mobilização do movimento negro

C Melhoria na infraestrutura escolar

D Ampliação das disciplinas obrigatórias

E Conscientização da população e demanda da sociedade

Parabéns! A alternativa B está correta.

Foram os movimentos civis negros que conseguiram trazer para o debate todas as demandas sobre
direitos que até então não figuravam nas pautas sociais e políticas do país.

Questão 2

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(CEPERJ 2008) Prefeitura de Angra dos Reis – Adaptado.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental destacam que é preciso reverter o
quadro de discriminação e exclusão existente no interior das escolas, originado pelo racismo, sexismo e
preconceitos originados por situações socioeconômicas, regionais, culturais e étnicas.

Sendo assim, ao definir suas propostas pedagógicas, as escolas deverão explicitar, dentre outros
aspectos:

O reconhecimento da identidade pessoal de alunos e professores conforme estabelecido


A
pela Lei 10.639/2003.

B Um código de conduta para toda a comunidade escolar.

C Estratégias traçadas para minimizar as dificuldades econômicas da comunidade.

D Os limites precisos da atuação de cada profissional que atua na escola.

E As diretrizes pedagógicas adotadas por cada unidade escolar.

Parabéns! A alternativa A está correta.

Conforme vimos na leitura do módulo, a Lei n.10.639 estabeleceu que o ensino das relações étnico-
raciais deverá, a partir dos conteúdos lecionados, reforçar a identidade de cada pessoa que faça parte do
processo educativo.

Considerações finais
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A frase, transformada em meme e compartilhada nas redes sociais, normalmente em tom irônico, “o Brasil
não é para amadores” nunca fez tanto sentido como agora. Nesse passeio que fizemos sobre fatos da
história do Brasil, fica claro o quanto nosso povo sofreu e continua sofrendo para que suas identidades e
diversidades culturais fossem aceitas nesse grande caldeirão de culturas, línguas, estilos e povos, que é o
Brasil.

Desde cedo, os dirigentes desse país tentaram, na base do jeitinho, inclui-lo na rota da civilização. No
entanto, ao contrário de enaltecer as diferenças e retirar o que há de mais positivo no contato com as
diferentes culturas, branquear a sociedade brasileira acabou sendo a pior solução e a que mais problemas
trouxe para negros e indígena em nosso território.

A sorte é que o Brasil é muito mais do que isso e com jeitinho que aprendeu na cadência do samba, na
cordialidade do seu povo que recebe a todos com o coração, que ama festa, praia e futebol, vamos driblando
as diversidades, reconhecendo direitos, brigando pela Educação e inclusão para negros e indígena, os quais
vão se empoderando e lutando para fazer valer seus direitos e reconhecer suas identidades. Estamos longe
da perfeição, mas nesse caminho longo que é a luta pelos direitos fundamentais a todos os brasileiros, de
atalho em atalho, e por meio do conhecimento, vamos mudar essas ideias que um dia serão apenas história
transformada.

headset
Podcast
Neste podcast, serão discutidos os principais assuntos que você estudou.

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RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. São Paulo, Cia da Letras, 2006, p 437.

RICARDO, C. A. e RICARDO, F. P. (Ed.). Povos indígenas no Brasil. São Paulo, Instituto Socioambiental, 2011.

SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. São Paulo. Brasiliense, 2005.

SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. 1. ed. São Paulo: Companhia
das Letras, 2015.

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27/05/2023, 22:22 O povo brasileiro e a questão do negro e do indígena

WITZEL, Nicollas. Comunidades Quilombola tentam resistir ao avanço de grandes empreiteras. Revista
Época, 2019.

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Para saber mais sobre os assuntos explorados neste tema, assista a:

Carlota Joaquina — Princesa do Brasil, direção Carla Camurati, 1994. Fonte: FilmowUm painel da vida de
Carlota Joaquina, a infanta espanhola que conheceu o príncipe de Portugal com apenas dez anos e se
decepcionou com o futuro marido. Sempre mostrou disposição para seus amantes e pelo poder. Sentiu-se
contrariada quando a corte portuguesa veio para o Brasil, tendo uma grande sensação de alívio depois que
foi embora.

Macunaíma, direção Joaquim Pedro de Andrade, 1969. Fonte: FilmowMacunaíma é um herói preguiçoso,
safado e sem nenhum caráter. Ele nasceu na selva e, de preto, virou branco. Depois de adulto, ele deixa o
sertão em companhia dos irmãos. Macunaíma vive várias aventuras na cidade, conhecendo e amando
guerrilheiras e prostitutas, enfrentando vilões milionários, policiais, personagens de todos os matizes.
Depois dessa longa e tumultuada aventura urbana, ele volta à selva, onde desaparecerá como viveu –
antropofagicamente.

Guerra do Brasil.doc, direção Luiz Bolognesi, 2018. Fonte: Curta!Se você gosta de séries não pode perder os
episódios de Guerra do Brasil.doc. Série documental em episódios, disponibilizados no YouTube e Netflix,
que aborda em seu primeiro episódio as guerras travadas entre os invasores europeus e a população
indígena que habitava nossas terras. São guerras que começaram em 1500 e perduram até os dias de hoje.

Desmundo, direção Alan Fresnot, 2003. Fonte: YoutubeO filme é ambientado em 1570, época em que os
portugueses enviavam órfãs ao Brasil para que se casassem com os colonizadores. A tentativa era
minimizar o nascimento dos filhos com as índias e que os portugueses tivessem casamentos brancos e
cristãos. Oribela, uma dessas jovens, é obrigada a casar com Francisco de Albuquerque.

Quilombo, direção Carlos Diegues, 1984. Fonte: YoutubeEm torno de 1650, um grupo de escravos se rebela
num engenho de Pernambuco e ruma ao Quilombo dos Palmares, onde uma nação de ex- escravos fugidos
resiste ao cerco colonial. Entre eles está Ganga Zumba, príncipe africano e futuro líder de Palmares, durante
muitos anos, que contestará as ideias conciliatórias de Ganga Zumba, enfrentando o maior exército jamais
visto na história colonial brasileira.

O Lado Negro do Chocolate, direção Miki Mistrati, 2010. Fonte: YoutubeVocê acredita que o trabalho
escravo existe até hoje? É o que nos mostra esse documentário do jornalista dinamarquês Miki Mistrati, que

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27/05/2023, 22:22 O povo brasileiro e a questão do negro e do indígena

denuncia o trabalho escravo infantil por trás das plantações de cacau na Costa do Marfim. Com câmera
escondidas, ele mostra os pontos de tráfico de crianças na África e as plantações nas quais as crianças
são forçadas a trabalhar.

Panteras Negras – Todo poder ao povo, direção Lee Lew-Lee, 1996. Fonte: FilmowO documentário foi
concebido após as revoltas negras de Los Angeles, ocorridas em 1992, quanto a impunidade da violência
policial sobre o povo negro gerou quatro dias de levante massivo, com mais de 7 mil imóveis incendiados e
53 mortos. Enquanto a TV anunciava os estragos de mais de um bilhão de dólares, o documentarista Lee
Lew-Lee decidiu se perguntar qual foi o verdadeiro dano histórico que provocou aquela explosão. O
resultado é o resgate audiovisual de uma experiência profundamente consistente de organização e luta
negra.

Sou escrava, direção Gabriel Range, 2010. Fonte: AdorocinemaConta a trajetória de uma criança raptada e
feita de escrava, após a invasão de um grupo armado num vilarejo da África. O filme foi feito para a Tv
britânica.

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